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2012 ARTIGO ARTICLE

Prevenção quaternária na atenção primária à


saúde: uma necessidade do Sistema Único de
Saúde

Quaternary prevention in primary care: a necessity


for the Brazilian Unified National Health System

Armando Henrique Norman 1


Charles Dalcanale Tesser 2

Abstract Introdução

1 Centro de Saúde Tapera,


In 2003, the World Organization of National O caráter medicalizador 1,2 e intervencionista da
Florianópolis, Brasil.
2 Centro de Ciências da Colleges, Academies, and Academic Associa- racionalidade 3 e da prática médico-científica co-
Saúde, Universidade tions of General Practitioners/Family Physicians meçou, há algum tempo, a deixar entrever várias
Federal de Santa Catarina,
(WONCA) proposed a concept (that had previous- de suas limitações e mazelas, classificadas por
Florianópolis, Brasil.
ly received relatively little discussion) aiming to Illich 1 em três tipos de iatrogenias: clínica, social
protect patients from unnecessary medical inter- e cultural. A iatrogenia clínica, relativa aos danos
Correspondência
ventions and to prevent iatrogenicity: quaternary causados pela intervenção médica no indivíduo,
C. D. Tesser
Centro de Ciências da Saúde, prevention. In times of intense social medicaliza- a mais palpável e melhor percebida pelos saberes
Universidade Federal de tion, particularly in Brazil due to the expansion e métodos científicos, cresceu tanto, que ganhou
Santa Catarina.
of health care through the Family Health Strategy, dimensão coletiva e populacional, tornando-se
Campus Universitário
Trindade, Florianópolis, SC iatrogenicity has become a highly relevant issue recentemente a terceira maior causa de morte
88040-900, Brasil. for both public health and the Unified National nos Estudos Unidos da América 4. Suscitou, as-
charlestesser@ccs.ufsc.br
Health System (SUS). This article presents the sim, o reconhecimento acadêmico e social de seu
concept of quaternary prevention and discusses potencial danoso em grande escala. Em paralelo,
and frames its relevance in light of three common dentro da própria categoria médica, um conceito
situations in medical care with potentially iatro- nascia intimamente relacionado à iatrogenia clí-
genic results: excessive screening, complementary nica e à medicalização social, cuja apresentação
tests, and medicalization of risk factors. We pro- é objetivo deste artigo: a prevenção quaternária.
pose the inclusion and discussion of this concept O nascimento e a prática deste conceito vêm
in the SUS, especially in primary care. de uma reação à iatrogenia nascida dentro da
própria categoria médica, vinculada à prática e
Primary Health Care; Single Health System; So- à ética do cuidado. Seu lugar e significado ainda
cial Medicine não estão bem estabelecidos, mas certamente
ele merece atenção e debate na saúde pública e
no Sistema Único de Saúde (SUS), dado seu po-
tencial de contribuições à área. Em tempos de
grande extensão da atenção primária à saúde no
Brasil via Estratégia Saúde da Família, é grave o
fato de quase não haver discussão na Saúde Co-
letiva e no SUS sobre a prevenção quaternária,

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dada a sua importância para o cuidado à saúde, epidemiológicas, no geral pouco conhecidas e
intimamente ligado à missão ética e política de manejadas pelos próprios médicos, além do de-
conter ou minimizar a parte da medicalização senvolvimento extraordinário da “arte de curar”,
social decorrente da ação profissional em saúde. calcada na relação médico-paciente, em sabedo-
Sem pretender esgotar o tema da prevenção ria prática e em contextualização existencial, que
quaternária, porém contribuindo para suprir o aperfeiçoamento da prática do cuidado per-
essa lacuna, apresentamos neste artigo o signi- mite desenvolver. Este foi o motivo provável pe-
ficado e a relevância do conceito, discutindo-o lo qual o conceito de prevenção quaternária foi
em três situações típicas e altamente comuns: desenvolvido operacionalmente pelos médicos
excesso de rastreamentos e de solicitação de exa- especialistas contemporâneos que se propõem
mes complementares e abusos na medicalização a cuidar das pessoas longitudinalmente – os Mé-
de fatores de risco dicos de Família e Comunidade – ou seja, pro-
O conceito foi proposto e vem sendo desen- põe-se resgatar e desenvolver a antiga medicina
volvido por um segmento da categoria médica. geral, ou clínica generalista, que permite ao mes-
Isso é compreensível, já que esta se sobressai mo profissional a experiência de cuidar de um
dentre as demais quanto ao seu poder de inter- conjunto de pessoas com diversos tipos de pro-
venção sobre os usuários e, assim, conseqüen- blemas de saúde, ao longo de grande tempo 9.
temente, quanto ao poder de causar danos A conceituação de prevenção quaternária foi
– foco da prevenção quaternária. Discutiremos proposta no contexto clássico dos três níveis de
a prevenção quaternária conforme vem sendo prevenção de Leavel & Clark 10, que classificava
trabalhada pelos médicos, enfatizando desde já a prevenção em primária, secundária e terciá-
a propriedade e a extensão do conceito, com as ria. Jamoule 7 propôs a prevenção quaternária
devidas adaptações, aos outros profissionais de como um quarto e último tipo de prevenção,
saúde, inclusive pela necessidade incontornável não relacionada ao risco de doenças e sim ao
e saudável de trabalho interdisciplinar na Estra- risco de adoecimento iatrogênico, ao excessivo
tégia Saúde da Família, que, de forma inovadora intervencionismo diagnóstico e terapêutico e
na atenção primária brasileira, permite e facili- a medicalização desnecessária. Similarmente,
ta o descentramento do cuidado da intervenção para Gérvas 9, é prevenção quaternária a ação
médica (sabidamente medicalizante 5) por inter- que atenua ou evita as conseqüências do inter-
médio do trabalho em equipe. vencionismo médico excessivo que implica ati-
vidades médicas desnecessárias.
Dada a atual conjuntura, a prevenção qua-
O conceito de prevenção quaternária ternária deve ser destacada, pois permeia todos
os outros níveis de prevenção, particularmente a
Proposto por Jamoulle 6, Médico de Família e Co- prevenção secundária, mas também a chamada
munidade belga, o conceito de prevenção quater- prevenção primordial (evitar a emergência e o
nária almejou sintetizar de forma operacional e estabelecimento de estilos de vida que contri-
na linguagem médica vários critérios e propostas buem para um risco acrescido de doença 11), e
para o manejo do excesso de intervenção e me- a promoção da saúde, nas última duas décadas
dicalização, tanto diagnóstica quanto terapêuti- revalorizada após a Carta de Otawa 12.
ca. A proposta foi feita por Jamoulle 6 em 1999, Existem freqüentemente excessos de medi-
tendo sido oficializada pela World Organization das preventivas e diagnósticas em assintomáti-
of National Colleges (WONCA), Academies and cos e doentes, tanto em adultos como crianças.
Academic Associations of General Practitioners/ Nem todas as intervenções médicas beneficiam
Family Physicians em 2003. as pessoas da mesma forma, e, quando exces-
Prevenção quaternária foi definida de forma sivas ou desnecessárias, podem prejudicá-las.
direta e simples como a detecção de indivíduos Não se pode esquecer o potencial de dano das
em risco de tratamento excessivo para prote- intervenções: cuidados tanto curativos quanto
gê-los de novas intervenções médicas inapro- preventivos, se excessivos, comportam-se como
priadas e sugerir-lhes alternativas eticamente um fator de risco para saúde. Além disso, quando
aceitáveis 7. Posto que um dos fundamentos se está promovendo as drogas como medida de
centrais da medicina é o primum non nocere, prevenção (uma tendência recente notável) e o
a prevenção quaternária deveria primar sobre número de pacientes atingidos é muito grande,
qualquer outra opção preventiva ou curativa 8. essa expansão da exposição às drogas pode cau-
A sua amplitude e as exigências éticas, filo- sar importantes danos 13.
sóficas e técnicas da sua incorporação à prática A crescente atenção dirigida para as causas
médica desdobram-se em vários aspectos e exi- iatrogênicas da má saúde e a conseqüente adição
gem o domínio de uma série de técnicas médico- da prevenção quaternária às atividades preven-

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tivas apontam para a necessidade de explicita- síndrome de fadiga crônica, fibromialgia, cefa-
mente incluir a iatrogenia como uma influência léias inespecíficas e dor torácica não cardíaca,
sobre a saúde. Com o passar dos anos, o umbral dentre outros, de que o mais amplo exemplo é o
terapêutico para a intervenção médica está di- conceito de MUPS (Medically Unexplained Phy-
minuindo. Como a prevenção tem sido tradicio- sical Symptoms) ou sintomas físicos não explica-
nalmente focada sobre a doença e o conceito de dos pela medicina, que são situações em que há
doença vai se modificando ao longo do tempo, sintomas físicos sem causa orgânica definida 17.
com os pontos de corte para designar o que é Também são exemplos as medicalizações des-
considerado doença invadindo cada vez mais o necessárias de eventos vitais ou adoecimentos
que antes era considerado normal e, além dis- benignos autolimitados (contusões, partos, res-
so, os fatores de riscos estão sendo considerados friados, lutos etc.), que redefinem um número
como equivalentes a doenças, a diferença entre crescente de problemas da vida como problemas
prevenção e cura está se tornando cada vez mais médicos; pedidos de exames e ou tratamentos
indistinta 13. A medicalização de estados pré-do- devido ao medo dos pacientes e ou pressão de
ença e de fatores de riscos se torna cada vez mais pacientes muito medicalizados; intervenções em
comum, incluídas as metas para hipertensão, razão do medo dos médicos – a chamada medici-
colesterol, osteopenia e obesidade. A perspec- na defensiva, pouco debatida e conhecida.
tiva de comercializar medicações já existentes Além disso, a palavra tem potencial iatrogêni-
para pessoas saudáveis expande enormemente co: um diagnóstico pode agir como uma profecia
o mercado dessas drogas, enquanto aumenta os que se realiza a si própria. Referir-se a um pacien-
custos para a sociedade e para os serviços em te como “histérico” pode servir para estimular
saúde, além de potencialmente reduzir a quali- e perpetuar essas mesmas características 18. Ex-
dade de vida ao converter pessoas saudáveis em pressões comuns podem causar dano quando o
pacientes 14. profissional afirma, como um veredicto, que uma
O resultado desse processo é que há menos doença não tem cura e/ou afirma diagnósticos
tolerância para com as oscilações e variações do ou prognósticos que se fixam nos pacientes, co-
processo saúde-doença individual, fazendo com mo, por exemplo, “ferida no útero”, “tomar remé-
que os médicos intervenham mais precocemen- dio para sempre”, “sinusite crônica”.
te. A margem de “normalidade” diminui, os diag- Assim, a prevenção quaternária pode ser o
nósticos se expandem e indicam mais interven- simples e difícil bloqueio das cascatas de aten-
ções. Logo, o intervalo de segurança, a margem ção desnecessárias, o simples saber “esperar e
entre os benefícios e os riscos também diminui. ver” 19, também chamado “demora permitida” 20.
Cada vez mais se atende a mais pacientes com Pode ser colocar em seus devidos lugares me-
maior intensidade de recursos preventivos, diag- dos medicamente provocados, como o medo do
nósticos e terapêuticos. Tudo isso aumenta a pro- colesterol, acalmando pacientes de baixo ris-
babilidade de dano desnecessário por conta da co cardiovascular e orientando-os a uma vida
atividade sanitária 8. saudável sem preocupações com o colesterol 21.
Assim, a prevenção quaternária deve ser de- É também prevenção quaternária a crítica das
senvolvida continuamente e em paralelo com a campanhas de prevenção desnecessárias ou de
atividade clínica, de modo a evitar o uso desne- benefícios duvidosos, para dar aos pacientes
cessário e o risco das intervenções médicas. Além uma oportunidade de decisão informada, bem
disso, segundo Hespanhol et al. 15, em termos como advertir os pacientes contra os abusos da
populacionais, ela proporciona uma resposta ao genética, tanto do próprio diagnóstico das en-
crescimento dos gastos com cuidados de saúde fermidades genéticas como das provas de “fato-
que consiste em proporcionar a racionalidade res de risco genético” 22.
do tratamento, a utilização mais criteriosa dos Sendo a prevenção quaternária a interven-
recursos e a melhoria da qualidade da atividade ção que almeja prevenir a ocorrência ou os
profissional. efeitos dessas situações, ela se fundamenta em
Segundo Melo 16, vários são os exemplos de dois princípios fundamentais: o da proporciona-
situações em que a balança entre benefícios e lidade (ganhos devem superar os riscos) e o de
prejuízos pode se desequilibrar para o segundo precaução (versão prática do primum non noce-
lado: excesso de programas de rastreamento, re, ou seja, primeiro não lesar). Ela providencia
muitos deles não validados; medicalização de cuidados médicos que sejam cientificamente e
fatores de risco; solicitação de exames comple- medicamente aceitáveis, necessários e justifica-
mentares em demasia; excessos de diagnósticos, dos: o máximo de qualidade com o mínimo de
com rotulagem de quadros inexplicáveis ou não intervenção possível 8,11,23.
enquadráveis na nosografia biomédica, criando- A prevenção quaternária é particularmente
se os pseudo-diagnósticos como, por exemplo, importante nos idosos, atendendo à redução fi-

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siológica da sua reserva funcional e conseqüente e em termos de validade, de morbidade, de ris-


risco acrescido de iatrogenia – nomeadamente cos e de custos e para os resultados positivos
farmacológica. Nessa fase do ciclo de vida, me- devem ser assegurados métodos de confirma-
didas preventivas que seguem o modelo de do- ção diagnóstica aceitáveis que definam precisa-
ença única podem apenas estar selecionando mente quem receberá tratamento. Deve existir
uma causa concorrente de morte em vez de ter um tratamento acessível e aceitável em termos
um impacto sobre a mortalidade global, isto é, de efetividade, riscos e custos e deve resultar da
de realmente prolongar e melhorar a vida, visto aplicação de um determinado rastreamento a
que nos idosos a probabilidade de doenças com- redução da morbimortalidade e a melhoria da
postas aumenta, e isto nos força a repensar as qualidade de vida das populações.
medidas preventivas neles 14. Uma das grandes discussões sobre a pre-
A prevenção quaternária obriga a resistir aos venção quaternária gira em torno do manejo
modismos (consensos, protocolos e guias sem da incerteza inerente à prática médica. Funda-
fundamento científico), à corporação profissio- mentalmente, a incerteza deve ser tratada de
nal-tecnológico-farmacêutica e inclusive à opi- modo diferente nos casos em que o paciente
nião pública. Implica, além disso, um compro- está com problemas de saúde e procura ajuda
misso ético e profissional, a ética da negativa, que médica, sentindo-se mal ou já diagnosticado,
consiste, sucintamente, em recusar intervenção daqueles em que o paciente nada sente e é o
quando desnecessário 24,25. médico (ou o usuário) que quer prevenir ou
Na nossa prática clínica na atenção primária diagnosticar precocemente doenças ou riscos.
à saúde, a prevenção quaternária tem se conver- No primeiro caso, o sofrimento do doente e a
tido em atividade constante. Implica a resistência obrigação ética do médico autorizam razoável
firme ante os abusos a respeito da definição de grau de intervenção diagnóstica e terapêutica
saúde, fator de risco e doença; exige autonomia, com grande margem de incerteza: médico e do-
um conhecimento científico sólido, habilidades ente toleram algum grau de dano (iatrogênico)
de comunicação, flexibilidade, independência e em função do sofrimento do doente e da expec-
resolubilidade. A opção pela prevenção quater- tativa de compensação derivada do esclareci-
nária parte de um compromisso com os pacien- mento diagnóstico e do benefício suposto da
tes e com a profissão que se exerce. É parte do terapêutica. Não se cobra do médico resultado
contrato social implícito entre a profissão médi- favorável, mas seu empenho e a correção ética
ca e a sociedade: expressão do pacto pelo qual a e técnica de sua ação.
sociedade delega aos médicos grandes poderes e No segundo caso, típico do rastreamento, a
grandes responsabilidades, em troca de que fa- relação é totalmente diversa: há que ser imensa-
çam o que deve ser feito. mente mais conservador e precavido para com
as intervenções, tanto diagnósticas quanto tera-
pêuticas. Nesta situação é um imperativo ético
Excesso de rastreamento ter a certeza de que os benefícios de qualquer
intervenção são maiores do que os riscos 29,30.
O rastreamento (ou screening) é a realização de Todavia, em ambos os casos, o princípio ético do
testes ou exames diagnósticos em populações e primun non nocere impõe cuidadosa, científica e
pessoas assintomáticas, com o objetivo de diag- contextualizada avaliação de riscos e benefícios
nóstico precoce (prevenção secundária) ou de de quaisquer tipos de intervenção. Deve-se ter
identificação e controle de riscos, visando como em conta que podem surgir prejuízos em função
objetivo último reduzir a morbidade e ou morta- do fato de pessoas assintomáticas, após a reali-
lidade da doença, agravo ou risco rastreado 26. zação do rastreamento, passarem a ser catalo-
De acordo com os princípios estabelecidos gadas como doentes, com as implicações sociais
para se implementar um rastreamento já em de tais intervenções. Surgem nos rastreamentos
1968, por Wilson & Jungner 27, até hoje consi- os falso-positivos, os efeitos físicos decorrentes
derados padrão-ouro internacional (e conside- do desconforto provocado pelo procedimento
radas suas discussões e variações das últimas diagnóstico, assim como os efeitos psicológicos
quatro décadas que pouco os alteraram 28,29), nas pessoas que, muitas delas, passam a se sentir
a doença a ser seu objeto deve constituir um doentes simplesmente pela vivência dos atendi-
problema de saúde importante, a sua história mentos e exames 19. Nos casos de rastreamentos
natural deve ser bem conhecida da latência à de cânceres, em que ocorre também a identifica-
fase clínica, deve ter uma fase pré-sintomática ção de tumores sem relevância clínica, esse efei-
relativamente prolongada, deve existir infra- to psicológico é particularmente grave e danoso,
estrutura para diagnose e tratamento, deve ser por causa do imaginário letal associado à doença
aplicado de forma aceitável para a população e à palavra câncer.

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Para a realização de rastreamentos popu- Excesso de exames complementares


lacionais deve existir sustentação científica,
mediante ensaios controlados e aleatórios, de Os médicos, em geral, tendem a solicitar mais
estudos de correlação e observacionais, tais co- exames complementares do que o necessário,
mo estudos de caso-controle e de coorte, para se ação que tem sérios e previsíveis efeitos cola-
demonstrar numa análise de custo-efetividade terais 19. Como isso ocorre há muito tempo,
a sua evidência e assim avaliar as vantagens da hoje é multiplicado pela pressão dos próprios
aplicação de tal procedimento 30. pacientes.
Em contrapartida, pela divulgação desta for- As características técnicas dos testes diagnós-
ma de prevenção secundária, são criadas nas po- ticos realizados na população ou nos pacientes
pulações expectativas cada vez maiores sobre as individuais necessitam ser levados em conta, co-
intervenções na sua saúde 31. São exemplos típi- mo especificidade e sensibilidade. Além disso,
cos as situações em que mães solicitam exames abusos comuns dos médicos quanto à solicitação
de sangue, urina e fezes para seus filhos; adultos de exames complementares derivam de uma dis-
jovens sem outros fatores de risco cardiovascu- torção de seu raciocínio clínico advinda:
lar querem dosar colesterol, mulheres de todas 1) Da influência avassaladora da prática médica
as idades querem fazer mamografia, e que seus especializada (dos médicos especialistas focais
maridos façam “preventivo” de próstata. Paren- – neurologistas, cardiologistas etc.) 30. O raciocí-
tes de diabéticos, ou mesmo sem parentesco, nio clínico desses especialistas é modificado em
querem fazer glicemias ou exames de sangue função de sua peculiar situação social e institu-
periodicamente. cional: reduzida responsabilidade para com os
A prevenção quaternária impõe uma estrita problemas de saúde na globalidade dos seus pa-
necessidade de o profissional estar atualizado cientes e aumentada responsabilidade para com
sobre os estudos científicos de boa qualidade vol- as patologias de sua especialidade. Isso implica
tados para avaliar a relação risco-benefício dos algumas situações típicas da sua prática médica
rastreamentos, o que significa que precisa usar real, embora não prescritas nos livros nem fun-
a medicina baseada em evidências, inexoravel- damentadas cientificamente: (a) o especialista
mente, para bem embasar, técnica e eticamente, focal precisa garantir que o doente não tem algu-
sua decisão de rastrear. E é isso que faz com que ma doença de sua especialidade. Ao invés de se
sejam relativamente poucos os rastreamentos construir um diagnóstico do problema de saúde
recomendados 15. do paciente, na medicina especializada tende a
Kloetzel 20 fornece bom exemplo sobre os haver uma inversão do ônus da prova, que recai
cuidados a serem tomados e os perigos de um na obrigação de eliminar as doenças da especia-
rastreamento mal fundamentado: supondo uma lidade possíveis de existirem no paciente – pois
doença com prevalência de 0,5% na população não se admite que um especialista deixe passar
(na média, cinco pessoas em cada mil apresen- um diagnóstico de sua especialidade em um do-
tam a doença), admitamos que um teste para ente: isto seria uma declaração de incompetên-
seu diagnóstico possua especificidade de 80%, cia 33; (b) em havendo suspeita de uma doença
o que é um valor favorável, e a sensibilidade seja de sua especialidade, ela deve ser devidamente
100%. Se este exame for realizado num rastre- comprovada, para o que o especialista não pou-
amento em mil pessoas, encontraremos cinco pa os testes diagnósticos. A margem de incerteza
pessoas doentes misturadas com 199 pessoas da medicina especializada é menor e a busca da
sadias com testes positivos, vale dizer, 199 falso- certeza diagnóstica, por vezes, é justificada pela
positivos. Cada doente vem acompanhado de agressividade da intervenção.
aproximadamente 40 alarmes falsos; uma situa- 2) Da formação hospitalocêntrica dos médicos.
ção, convenhamos, constrangedora. Esse é o co- Essas duas características acima mencionadas
tidiano, só que pouco percebido. A maior parte (a) e (b) são imensamente multiplicadas pelo
das doenças geralmente tem prevalência abaixo ambiente hospitalar, onde se concentra a pro-
de 1/100, geralmente mais próxima de 1/1.000. dução de conhecimento médico especializado e
Assim, cada perfil bioquímico pedido sem moti- o aprendizado médico, e igualmente se concen-
vo abre as portas para uma pequena catástrofe. tram os pacientes com patologias graves e/ou
Essa pequena catástrofe reproduz-se na clí- em estado de descompensação orgânica avan-
nica cotidiana, e é também induzida pelo exces- çada, com risco de vida, carentes de ação rápida
so de solicitação de exames clínicos, que ocorre e que dão a sensação de sufi-ciência ao saber
em situações clínicas distintas do rastreamento. médico e ao intervencionismo de cunho bioló-
gico 34. O ambiente hospitalar de aprendizagem
é diferente daquele da prática médica genera-
lista e da medicina de família e comunidade na

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atenção primária à saúde, mas é nele que a qua- Este tipo de medida (estabelecimento de fa-
se totalidade dos médicos é formada. tores de risco) baseia-se em cálculos de probabi-
Além disso, no hospital ocorre um viés popu- lidades e a evidência é obtida pelos estudos com
lacional, um cenário de aprendizado com popu- grupos de indivíduos, eventualmente do somató-
lações selecionadas e referidas, fazendo com que rio de vários grupos de indivíduos (metanálises).
a prevalência de doenças seja alta neste contexto, Na sua prática clínica, cada médico acaba por
fato que aumenta o rendimento positivo dos tes- fazer uma extrapolação da evidência obtida com
tes diagnósticos. Quando formados, os médicos esses grupos de indivíduos para o seu paciente
deverão trabalhar em comunidades em que pre- individual, com as suas próprias especificida-
domina a saúde em relação à doença e, assim, des. Esta extrapolação não é linear, muito menos
o rendimento dos exames complementares será consensual e necessita de elevada perícia e arte
pobre ou eles gerarão mais danos que benefícios médica, mas pretende, especialmente, aplicar o
quando mal indicados, sobretudo pelo risco dos princípio da beneficência: agir no melhor inte-
falso-positivos. resse do paciente.
Por fim, o senso comum e leigo invade e pres- O fator de risco não é necessário nem sufi-
siona os profissionais, que solicitam exames “por ciente para que se apresente a enfermidade. O
via das dúvidas”, ou “de rotina”, ou ainda por di- fator de risco é simplesmente algo que se associa
ficuldade na definição de diagnóstico decorren- estatisticamente à doença, e cuja evitação dimi-
te de quadros clínicos inespecíficos, freqüentes nui a freqüência da doença, no entanto não a
na atenção primária à saúde. É fácil de entender exclui. Este conceito é muito diferente da idéia
que a prática médica daí derivada desemboca- predominante no imaginário coletivo da popu-
rá numa avalanche de exames complementares, lação – e inclusive dos profissionais – que associa
muitos deles pedidos desnecessariamente, que fator de risco à causa necessária e suficiente de
poderão acarretar mais prejuízos que benefícios, doença 35. Em geral, os profissionais identificam
como falsos positivos, achados casuais, situações erroneamente os fatores de risco como agentes
limítrofes, desvios do raciocínio clínico etc. Essa etiológicos de doença 36. Por isso, supõe-se que a
situação é seara precípua da prevenção quater- evitação do fator de risco elimina a possibilidade
nária, que nesse caso significará restringir os pe- da doença e se aceita que a presença dos fato-
didos de exames sempre ao estritamente neces- res de risco levará ao desenvolvimento futuro da
sário e usar a “demora permitida”, como adiante doença. A realidade se opõe tenazmente a estas
discutido 19. assertivas, todavia o leigo e o profissional se ape-
gam a uma interpretação que atribui causalidade
ao fator de risco 25.
Medicalização de fatores de risco A simples presença ou ausência dos fatores
de risco, mesmo somados (o que multiplica o ris-
Do ponto de vista histórico a prevenção migrou co) não assegura nem exclui o episódio. De fato,
da Saúde Pública para a clínica das doenças. é muito chamativo o escasso valor discriminante
Assim, a identificação de fatores de risco como dos fatores de risco, de modo que sua simples
parte da prevenção inaugurou uma nova era na presença não permite predição válida acerca do
Saúde Pública e na Medicina. Fatores de risco, futuro do indivíduo concreto considerado. Tal di-
como a hipertensão arterial, são agora conside- ficuldade em transladar os resultados de grupos
rados como “doenças” 13. e populações para os indivíduos foi assinalada
O termo “fator de risco” diz respeito a um as- por Feinstein 37 como uma “tragédia clínico-epi-
pecto do comportamento pessoal, a uma expo- demiológica”.
sição ambiental ou a uma característica pessoal, O mal-entendido se baseia na imprecisão
biológica ou social em relação à qual existe evi- provocada pela situação do conceito de fator de
dência epidemiológica de que está associada à risco, na encruzilhada entre a causalidade (teo-
determinada condição relacionada com a saúde, ria), a estatística (técnica) e a medicina (ação de
condição essa que se considera importante pre- cuidado) 35. A ambigüidade do conceito de fator
venir. Numa linguagem mais simples, usa-se o de risco não é inocente e se baseia no podero-
termo “fator de risco” para descrever característi- so efeito associativo sobre a mente humana da
cas (fatores) que estão associadas positivamente concatenação de episódios. Com tal bagagem de
ao risco de desenvolvimento de doença, mas não erros e imprecisão, o fator de risco se converte
são necessariamente fatores causais. Um fator em carro-chefe de uma atividade sanitária que
causal é aquele que ficou estabelecido com um vai da saúde pública ao tratamento do paciente,
razoável consenso científico como agente causal não sem grande dose de ideologia preventivista
de uma enfermidade. e linguagem moralizante, que se ocultam sob o
manto da estatística, em benefício das agendas

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farmacológicas e comerciais que “combatem” fa- plano terapêutico deve ser compartilhada a fim
tores de risco 38,39. A alquimia dos números des- que se possa caminhar junto com o paciente no
lumbra os pacientes e a sociedade, e prefere-se a processo do cuidar 41.
segurança de uma resposta errônea envernizada A segunda ferramenta é a medicina baseada
de estatística à incerteza da ignorância 24. em evidências, a utilização de conhecimentos
Uma vez que os fatores de risco têm pouco da biomedicina que tenham o melhor grau de
poder preditivo, o prudente é empreender pro- comprovação de sua eficácia pela ciência, alia-
gramas que interfiram nas condições básicas de dos ao contexto e anseios do paciente. Ou seja,
toda a população, que não sejam centrados nos o consciencioso uso da melhor evidência atual
fatores de risco de alguns pacientes, por muito para tomar uma decisão sobre o cuidado de um
“de risco” que sejam 40. A medicalização excessi- paciente individual. Pode-se classificar a evi-
va dos fatores de risco tem levado a uma verda- dência cientifica em dois tipos: Disease Oriented
deira transformação cultural nas populações, de Evidence – DOE e Pacient Oriented Evidence that
modo que hoje, segundo Gérvas & Pérez-Fernán- Matters – POEM 42. Os estudos do tipo DOE (evi-
dez 24, encontramos na população pessoas sãs dência orientada à doença) versam sobre desfe-
(por sê-lo e, sobretudo, por ausência de contato chos intermediários, como controle de arritmias,
com o sistema de saúde), sãs preocupadas (com redução do colesterol, controle da pressão etc.
os fatores de risco e com a probabilidade de es- Despertam mais atenção da mídia e das pessoas,
tarem enfermas), sãs estigmatizadas (marcados têm raiz numa tendência unicausal e se correla-
com algum fator de risco, tipo hipertensão, que cionam bem com a visão leiga de que “isso é bom
lhes introduz no circuito dos cuidados médico- para aquilo” – “tome chá disso que é bom para
sanitários), e enfermas, reais ou imaginárias (por abaixar o colesterol”. Esse tipo de pensamento
transformação de fatores de risco em pseudo- também ocorre na ciência: no exemplo da tera-
doenças). Transformamos os sãos em sãos pre- pia de reposição hormonal (TRH) para mulheres
ocupados e, depois, em sãos estigmatizados e menopáusicas, cujos estudos preliminares de-
em pseudo-enfermos, com o que os deixamos monstravam que o uso de estrogênio e proges-
indefesos ante os danos desnecessários, diários tágeno reduzia o colesterol total e aumentava o
e extraordinários, previsíveis e imprevisíveis. Es- colesterol-HDL (colesterol bom), logo se deduziu
se processo demanda e reitera a necessidade de que a TRH era boa para o coração.
prevenção quaternária. Porém, o que mais interessa é saber se a in-
tervenção trouxe real benefício ao paciente, a
saber: se aliviou o sofrimento, reduziu a morbi-
Arte e ciência da prevenção quaternária dade e a mortalidade e foi menos custosa para
o paciente. Esta é a evidência POEM (evidência
Talvez uma das formas mais importantes de se orientada ao paciente e a que tem importância).
evitar a medicalização excessiva das pessoas e Depois que se realizou um ensaio clínico de alta
praticar a prevenção quaternária é aliar três fer- qualidade pode-se verificar que as mulheres que
ramentas importantes para o cuidado clínico: usavam hormônio, apesar de terem um perfil
abordagem centrada na pessoa, medicina ba- lipídico melhor, morriam mais. Não interessa
seada em evidências e centramento do cuidado somente saber que o colesterol melhorou, mas
na atenção primária à saúde, com longitudinali- sim se as pessoas estavam vivendo mais e me-
dade. A primeira ferramenta diz respeito ao fato lhor. A promessa da TRH era que, ao se reduzir a
de que existe um sujeito que vive o drama da perda de massa óssea, diminuir-se-iam os riscos
existência, com seu saber próprio e suas incer- de fratura de colo de fêmur nas senhoras idosas
tezas, medos, angústias, uma bagagem cultural no futuro e ainda se teria um plus de proteger o
marcada pela vida. Para realizar sua abordagem, coração. As mulheres não estavam sofrendo no
deve-se colocar entre parênteses a idéia de diag- presente e, sim, tratava-se de medidas preven-
nosticar doenças e colocar a ciência a serviço tivas que, uma vez prescritas, só muito tempo
do ser humano, como apenas uma ferramenta depois seriam revertidas.
que poderá ser utilizada ou não. O paciente ge- A terceira ferramenta é o fortalecimento da
ralmente tem uma agenda a respeito do assunto atenção primária à saúde e da longitudinalidade
para o qual veio consultar o médico, um modelo nela, com o exercício do conceito de watchful
explanatório sobre como sofre, sua causa e os waiting (“observação assistida”), ou demora per-
medos com respeito à sua saúde que agora está mitida 21, particularmente importante para os
abalada. Portanto, mais do que fechar diagnós- médicos de família e comunidade e para a Es-
ticos, há de se ouvir as queixas e refletir conjun- tratégia Saúde da Família. Nesta última, o me-
tamente sobre as possibilidades diagnósticas, canismo de adscrição territorial dos usuários
terapêuticas e prognósticas. A construção de um às equipes de saúde da família induz e supõe a

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PREVENÇÃO QUATERNÁRIA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE 2019

longitudinalidade. Starfield 43 estima que 40% “A chave da prevenção quaternária é não iniciar a
dos pacientes que trazem um novo problema ao cascata de exames, não classificar o paciente, não
médico de família melhoram sem que seja esta- abusar do poder de definir o que é enfermidade,
belecido um diagnóstico específico. A estratégia fator de risco e saúde. Há que se resistir tanto à
usada pelos médicos generalistas ou de família pressão da corporação farmacêutica, tecnológica
é monitorar os indivíduos que apresentam sin- e profissional como também dos pacientes. Há
tomas e sinais inespecíficos por várias semanas. que se desenvolver e estruturar uma ética nega-
Como o quadro sintomático de uma parte deles, tiva, baseada no contrato social implícito que
na sua evolução, torna-se mais específico, a hipó- exige do médico o comprimento de sua obriga-
tese sobre o diagnóstico pode emergir. Durante ção, mesmo que haja uma demanda insaciável
esse período de observação assistida (ou demora para iniciar a cascata diagnóstica e preventiva
permitida), a probabilidade pré-teste de que o desnecessária”.
problema seja uma doença passível de definição O desenvolvimento e o ensino em larga esca-
diagnóstica ou de um teste diagnóstico aumenta. la da prevenção quaternária podem e devem se
Logo, a prevalência da doença no grupo a ser in- tornar um verdadeiro front estratégico da edu-
vestigado cresce e dessa forma os riscos de falso- cação permanente no SUS e na formação dos
positivo e falso-negativo do teste são reduzidos. profissionais de saúde, para que práticas de ex-
Assim, a chamada “tintura do tempo” desempe- celência em atenção primária à saúde possam
nha um papel importante em melhorar os valores ser desenvolvidas e consolidadas na Estratégia
preditivos positivos dos testes diagnósticos 42. Saúde Família, que diminuam a medicalização
Cabe, então, aos profissionais de saúde apli- e a iatrogenia do cuidado, ainda relativamente
car o que diz Gérvas & Pérez-Fernández 24 (p. 68) pouco percebidas no Brasil.

Resumo
Colaboradores
Em 2003, a Organização Mundial de Colégios Nacio-
nais, Academias e Associações Acadêmicas de Médicos Ambos os autores participaram igualmente na elabo-
gerais/Médicos de Família (WONCA) propôs um con- ração do texto.
ceito relativamente pouco discutido que visa proteger
os pacientes da intervenção médica desnecessária e
prevenir iatrogenias: a prevenção quaternária. Tal
conceito tem evidente relevância para a saúde pública
e para o Sistema Único de Saúde (SUS), em tempos de
intensa medicalização social e expansão da atenção à
saúde via Estratégia Saúde da Família. Neste artigo,
o conceito de prevenção quaternária é apresentado e
contextualizado, e sua relevância é discutida, ressal-
tando três situações comuns do cuidado médico gera-
doras de grande iatrogenia: excesso de rastreamento,
de solicitação de exames complementares e de medica-
lização de fatores de risco. Defende-se a necessidade da
adoção e discussão deste conceito no SUS e especial-
mente na atenção primária à saúde.

Atenção Primária à Saúde; Sistema Único de Saúde;


Medicina Social

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2020 Norman AH, Tesser CD

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