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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

ENGENHARIA DE PETRÓLEO

COMPLETAÇÃO DE POÇOS – PTR 0202

PROFESSOR FLÁVIO MEDEIROS

FLUIDO DE
COMPLETAÇÃO

ALUNA: LAURA DENISE SANTIAGO DE ARAÚJO

OUTUBRO-2012
1 INTRODUÇÃO

Ao terminar a perfuração de um poço, é necessário deixá-lo em condições de operar, de


forma segura e econômica, durante toda a sua vida produtiva ou de injeção. Ao conjunto
de operações destinadas a equipar o poço para produzir óleo ou gás (ou ainda injetar
fluidos nos reservatórios) denomina-se completação.

Grande parte da literatura de engenharia de petróleo ensina que uma boa completação é
aquela onde são observados os seguintes aspectos: de segurança, técnico/operacional e
econômico.

Considerando que a completação tem reflexos em toda a vida produtiva do poço e


envolve altos custos, se faz necessário um planejamento criterioso, onde os seguintes
fatores são considerados:


 Localização do poço (mar ou terra);
 Tipo de poço (pioneiro, extensão, desenvolvimento);
 Finalidade (produção, injeção);
 Fluidos produzidos (gás seco, óleo, óleo e água, etc);
 Volumes e vazões de produção esperados;
 Número de zonas produtoras atravessadas pelo poço;
 Possível mecanismo de produção do reservatório;
 Necessidade de estimulação (aumento da produtividade);

 Possibilidade de restauração futura do poço;
 Tipo de elevação dos fluidos (natural ou artificial);
 Necessidade de recuperação secundária.

Assim como se faz necessário manter um fluido no poço durante a perfuração, na


completação, necessita-se também de um fluido, chamado fluido de completação para
possibilitar a maioria das operações de completação no poço.

O fluido de completação geralmente é uma solução salina isenta de sólidos, cuja


composição deve ser compatível com o reservatório e com os fluidos nele contidos. Este
fluido é posicionado dentro do poço na última fase da perfuração ou no início da
completação dependendo das características de cada poço. O fluido de completação
também é utilizado em operações posteriores à completação tais como, estimulação,
restauração, recompletação, limpeza e outros trabalhos que visam possibilitar a
manutenção ou recuperação da produção do poço no decorrer da sua vida útil.

O fluido de completação dever ter densidade capaz de fornecer pressão hidrostática no


fundo do poço suficiente para impedir que haja influxo de fluidos da formação para
dentro do poço, mantendo o poço amortecido. Outro aspecto importante do fluido de
completação é a sua capacidade de evitar a instabilidade dos argilominerais presentes
nas formações produtoras. Na maioria dos casos, os argilominerais são estabilizados

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através do uso de aditivos químicos com a finalidade de evitar a hidratação ou
movimentação dos argilominerais nos poros das rochas.

Todo fluido de completação que tiver contato com a formação deve ter preventor de
emulsão e inibidor de inchamento de argila. Fluidos que terão contato com superfícies
metálicas devem apresentar em sua formulação sequestrador de oxigênio ou inibidor de
corrosão.

O fluido de completação deve ainda, quando necessário, carrear sólidos, em associação


com colchões viscosos para garantir a limpeza do poço, deslocar fluidos de tratamento
para um determinado intervalo do poço e manter a estabilidade das paredes do poço,
quando tratar-se de completação a poço aberto

Nessa apostila será abordada com maior ênfase os tipos, propriedades e testes do fluido
de completação, produtos, equipamentos e serviços e as boas práticas para fabricação,
manuseio e de operações com fluido de completação.

1. FLUIDO DE COMPLETAÇÃO

O fluido de completação geralmente é uma solução salina isenta de sólidos, cuja


composição deve ser compatível com o reservatório e com os fluidos nele
contidos, para evitar a ocorrência de dano à formação.

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É utilizado durante a completação de um poço, durante operações de workover,
ou em aplicações como, packer fluid e kill fluids. Os principais requisisto do
fluido de completação são as seguintes:

 Controlar as pressões da formação


 Circular e transportar os sólidos existentes
 Proteger a zona produtiva
 Estável na superfície e fundo do poço (TCT)
 Manuseados com segurança e ao meio ambiente
 Baixo custo

Atualmente na maioria das situações, onshore e offshore a solução salina é


recebida já com a densidade ajustada, não sendo necessário fabricá-la na sonda.

1.1 TIPOS DE FLUIDO DE COMPLETAÇÃO

Os fluidos de completação são divididos basicamente em dois tipos, conforme a


fase contínua que o compõe:

5.1.1. FLUIDOS À BASE DE ÁGUA

 Fluidos de Perfuração Modificados

Como o próprio nome indica, são fluidos que foram usados na perfuração da
zona de interesse, após a remoção de sólidos em suspensão e um controle mais
rígido do filtrado e da massa específica. Tem uma grande vantagem pela
disponibilidade, necessitando apenas de pequenos ajustes, assim sendo os mais
econômicos. Porém, podem causar grandes danos à formação devido à presença
de sólidos insolúveis.

 Soluções Salinas

As soluções salinas são isentas de sólidos, uma vez que o sal adicionado será
totalmente dissolvido. O controle da densidade é facilitado, pois para aumentá-la
adiciona-se sal e para baixá-la adiciona-se água. Impurezas vindas da água de
mistura ou do próprio sal usado podem ser facilmente removidas por filtração, o
que torna estas soluções “fluidos limpos”.

Causam pouco dano à formação e promovem a inibição do inchamento de argilas.


Apresentam excelente estabilidade físico-química e são fáceis de serem
recondicionadas para posterior utilização. Porém, provocam corrosão na coluna,
revestimento e outros equipamentos, mas esta corrosão pode ser reduzida com o
uso de um inibidor adequado.
Alguns sais, tais como brometo de potássio, brometo de cálcio, devido a sua alta
toxidez e custos somente são utilizados em casos de extrema necessidade.

 Soluções Poliméricas

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Quando se necessita de um fluido de completação, com controle da filtração, são
normalmente empregadas soluções poliméricas, já que as soluções salinas, não
atendem a este requisito. Essas soluções tende a não danificar a formação e são
muito eficazes na limpeza do poço.

Acima de 200º F passam a perder rapidamente suas propriedades. Custo mais


elevado em função da utilização do polímero usado: HEC, goma xantana, goma
guar, HPG. Esses polímeros ( principalmente a goma xantana) são bastante usados
para preparar tampões viscosos no momento do deslocamento do fluido de
completação.

5.1.2. FLUIDOS À BASE DE ÓLEO

 Petróleo (óleo cru)

Devido ao seu baixo peso específico é usado em reservatórios depletados ou com


baixa pressão original

Vantagens Desvantagens
Não é corrosivo Inflamável.
Apresenta elevada estabilidade térmica. Baixo poder de carreamento.
Apresenta baixo teor de sólidos. Custo elevado quando necessários um
aumento da reologia do fluido para
melhorar a sustentação de sólidos.

Menor overbalance.
Grande disponibilidade, principalmente
para poços em terra.

 Packer Fluid

O packer fluid não deve ser corrosivo, ou então deve permitir um controle de
corrosão. Deve ser livre de sólidos ou ter condições de manter os sólidos em
suspensão por longos períodos em condições estáticas.

Não deve apresentar dificuldade na reentrada do poço em operações de workover.


Pode ser utilizado como fluido de completação ou amortecimento com pequena ou
nenhuma modificação

2. PROPRIEDADES E TESTES DO FLUIDO DE COMPLETAÇÃO

2.1 TCT (TEMPERATURA DE CRISTALIZAÇÃO VERDADEIRA)

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A solubilidade de sais em água normalmente aumenta com o aumento de
temperatura e diminui nas temperaturas mais baixas. Abaixo de um certo
valor de temperatura, o sal começa a formar cristais sólidos. Este valor de
temperatura nomeia-se temperatura de cristalização verdadeira ou TCT, que
nada mais é que a temperatura à qual um sólido irá formar e precipitar para
fora da solução. Deve-se conhecer o TCT de uma solução salina para que se
possa evitar o fluido cristalizado durante as operações de completação..

Em resumo, o TCT corresponde a temperatura de um fluido que vai congelar


o sal. O “ congelamento” pode ser causado pela precipitação de cristais de
sal ou a formação de gelo na água.

Esta propriedade do fluido, juntamente com a densidade, determina o valor


e, portanto, o preço de venda do fluido. Caso tenha dois fluidos com
densidades semelhantes, aquele com o menor TCT será o mais caro. Um
fluido com uma densidade baixa e um TCT baixo será mais caro que um
fluido com uma densidade elevada e maior TCT.

2.2 TURBIDEZ

A turbidez é uma propriedade que mede a clareza do fluido de completação.


Se o líquido contiver sólidos da lama de perfuração, o sal não dissolvido, o
valor do NTU será elevado.

O NTU é o valor resultante da técnica de irradiação de luz em uma amostra


de fluido. O padrão da industria de petróleo é que o valor medido não pode
ultrapassar 30 NTUs.

APARELHO DE MEDIDOR DA TURBIDEZ

2.3 HIDRÔMETRO

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Corresponde a um instrumento para medir a densidade de um líquido. É
constituído por um tubo de vidro fechado calibrado ao longo de seu caule e
soprado pra dentro de uma ampola, que tem a massa ponderada.

O densímetro flutua na posição vertical do líquido a ser testado, e na escala


é lida no nível da superfície do líquido o valor da densidade do líquido.

2.4 VISCOSIDADE FUNIL

A taxa de fluxo programado a partir de um funil de concepção especial


caindo em um copo até 1000ml . O relógio marca o tempo, resultando no
valor da viscosidade (em seg.)

CONJUNTO PARA MEDIR A VISCOSIDAE FUNIL

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A Tabela abaixo mostra a viscosidade medida para alguns sais de acordo
com a densidades dos mesmo:

Salt Seconds/Quart
10.0 ppg NaCl 28
12.6 ppg NaBr 27
11.6 ppg CaCl2 34
13.7 ppg CaCl2/CaBr2 39
14.2 ppg CaCl2/CaBr2 43
14.2 ppg CaBr2 31
15.1 ppg CaCl2/CaBr2 52
16.0 ppg CaCl2/CaBr2/ZnBr2 45
17.0 ppg CaCl2/CaBr2/ZnBr2 43
18.0 ppg CaCl2/CaBr2/ZnBr2 39
19.2 ppg CaCl2/ZnBr2 41

2.5 PH

O pH mede se o fluido está básico ou ácido e a partir daí ajustarmos a


necessidade da operação. Pode-se medir o pH por papéis de pH ou pelo
medidor de pH, conforme pode ser observado nas figuras abaixo:

A Tabela abaixo mostra a variação do pH medido para alguns sais de acordo


com a densidades dos mesmo, o que se pode observar é que quanto mais
Brometo de Zinco ao fluido menor será o pH, pois o mesmo puro é
altamente ácido

Salt Typical pH
11.6 ppg CaCl2 6.5 to 7.5
14.2 ppg CaBr2 6.5 to 7.5
15.0 ppg CaCl2/CaBr2 6.0 to 7.0
16.0 ppg CaCl2/CaBr2/ZnBr2 4.5 to 5.0
17.0 ppg CaCl2/CaBr2/ZnBr2 3.5 to 4.0
18.0 ppg CaCl2/CaBr2/ZnBr2 2.5 to 3.0
19.0 ppg CaCl2/CaBr2/ZnBr2 1.5 to 2.0

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19.2 ppg CaCl2/ZnBr2 Menor 1.5

3. PRODUTOS

São vários os produtos usados durante as operações de Completação, mas em


geral um fluido de completação ao ser deslocado para dentro do poço precisa ter
a seguinte composição:

 Salmoura
 Sequestrante de Oxigênio
 Emulsificante
 Bactericida
 Inibidor de Corrosão

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Além disso é preciso ter como contingência na sonda os produtos para perda de
circulação ( na maioria das vezes calcários em diversas granulometrias) e
Polímeros para tampões de limpeza ( A goma xantana é o polímero mais usado).

Muitas empresas relacionadas a vendas de produtos para Fluido de Completação


também acrescentam os seus produtos ou fluidos específicos para obter uma
melhor limpeza do poço, das telas de gravel, da coluna de produção e da
remoção do reboco. Abaixo segue algumas ilustrações da atuação desses
produtos:

# Limpeza de uma tela de Gravel

ANTES DEPOIS

# Remoção do Reboco

4. FILTRAÇÃO

A filtração corresponde à separação de um componente disperso a partir de um


meio de dispersão. Tem como objetivo retirar as partículas relativamente
pequenas da matéria.

A filtração de salmouras é necessário para garantir que o fluido seja isento de


sólidos para minimizar os danos a Formação.

As taxas de filtração são afetadas pela taxa de fluido, pressão e viscosidade do


fluido, tamanho e concentração de sólidos e uma área na região do filtro. Por
esse motivo, deve-se manter a unidade de Filtração com uma boa manutenção e

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limpeza para que no momento de operá-la nenhum filtro seja danificado. Os
tipos de filtração são os seguintes:

 Filtro terra diatomácea


 Filtro de cartucho
 Filtro de Mangas
 Separação por centrifugação
 Filtro de Areia

Segue abaixo um esquema de como funciona a Filtração e em seguida a foto da


Unidade de Filtração:

5. DESLOCAMENTO E LIMPEZA DE POÇO

Ao terminar a perfuração de um poço se faz necessário torná-lo limpo para


entrada da coluna de produção, para isso é realizada a troca do fluido de
perfuração pelo de completação. Porém, antes disso é realizado todo um estudo,
pois a chave para um deslocamento eficiente está no planejamento. Esse estudo
tem como base o TCT, geometria do fluido, pressão do reservatório, base do
fluido (água ou sintético), bombeio direto ou indireto. Tudo isso para que o
deslocamneto seja realizado de forma segura não afetando o restante das
operações e não danificando a formação.

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A maioria dos fluidos de perfuração são incompatíveis com os fluidos de
completação, portanto no deslocamento entre eles , são bombeados tampões
viscosos e espaçadores para também ajudar na limpeza do poço e para que o
fluido de completação, o qual tem uma aparência bem limpa não se misture com
o fluido de perfuração, afinal o fluido de completação ficará dentro do poço.
Também é nesse momento que muitas empresas bombeiam os seus fluidos ou
usam os seus produtos específicos juntos com esses tampões, todos com a
finalidade de manter o poço limpo e seguro, para e seguida coloca-lo para
produzir.

Após baixar a reologia do fluido de perfuração, entrar no poço com coluna de


condicionamento (raspadores e escovas), circular um bottoms up, conferir todas
as válvulas inclusive as de descarga, ter todos os espaçadores e fluido de
completação prontos, poderá dar inicio ao deslocamento e limpeza do poço.Um
ponto importante é não parar o bombeio.

O deslocamento direto se dar por dentro da coluna. Quando o fluido de


perfuração é sintético bombeia-se primeiro parafina para dar um fluxo
turbulento, em seguida um tampão viscoso para remover o que está suspenso
devido ao fluxo, um surfactante ou solvente ( produto comercial de limpeza de
poço), um tampão espaçador para separar o que já foi bombeado do fluido de
completação, que é o último a ser bombeado e ficará dentro do poço. Veja o
esquema abaixo:

Já no deslocamento reverso bombeia-se primeiramente água pelo anular do


poço. Após preencher todo o poço com água, bombeia-se colchões de limpeza
já pela coluna em seguida o sufactante, tampão viscoso e por ultimo o fluido de
completação. Conforme o esquema abaixo:

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6. PRÁTICAS DE UM ENGENHEIRO DE FLUIDO DE COMPLETAÇÃO

Quando o barco chegar com o fluido, o engenheiro de fluido deve confirmar o


volume e a densidade do fluido do barco, tomar uma amostra para confirmar e
antes de iniciar o bombeio de recebimento do fluido, realizar uma reunião pré-
trabalho de segurança.

O engenheiro deve certificar-se que os equipamentos estão limpos e secos, a


unidade de filtração montada e pronta para operar, assim como o alinhamento
das linhas de recebimento de fluido para os tanques, manifolds, bombas,
peneiras, sand trap, tanques de fluido, slug pit, etc.

Terá que acompanhar o recebimento do fluido nos tanques, como também o


envio de fluido para o barco, quando essa operação for necessária.

Durante as operações de bombeio de fluido para o poço o engenheiro tem que


está atento aos bombeios e aos produtos adicionados, pois alguns produtos só
poderão ser adicionados 2h antes do bombeio.

Essa prática do Engenheiro de Completação também é aplicada para atividades


onshore, a diferença é que o recebimento da salmoura pode ser por carretas ou
ela pode ser fabricada na própria sonda, devido o volume em esse tipo de
atividades serem bem menores que que nas atividades offshore.

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7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

COMPLETAÇÃO DE POÇOS, Costa, André,UFRJ , Rio de Janeiro, 2000

COMPLETAÇÃO DE POÇOS EEW-412, Ferreira, Marcus Vinicius,UFRJ ,


Rio de Janeiro, 2009

COMPLETION AND REMEDIATION FLUIDS COURSE, Gero Greg,


Baker Hughes School, Houston, 2012.

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