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Esta obra procura demonstrar a importância da aplicação das Leis Sistêmicas

na compreensão e pacificação dos conflitos sociais, notadamente, nas


demandas judicializadas.
Para isso, o trabalho buscou aproximar os institutos do Direito de Família e
do Direito Penal às Leis Sistêmicas do Pertencimento, Equilíbrio e Ordem.
Após a leitura deste livro, espera-se que o Construtor do Direito passe a
observar os conflitos além do aparente, numa visão sistêmica do Direito e
cooperar de forma proativa para que as partes, por si mesmas, encontrem
soluções que lhes devolvam o estado de paz.

A Constelação Familiar pode ser definida como um método criado por Bert
Hellinger (psicoterapeuta alemão), no qual se criam "esculturas vivas”,
reconstruindo a árvore genealógica de um determinado indivíduo,
permitindo localizar e remover bloqueios do fluxo amoroso de qualquer
geração ou membro da família.
Essa técnica, há muito utilizada para tornar visível o conflito que se oculta
nas relações familiares, vem sendo aplicada, com bastante êxito, na
pacificação das demandas judiciais.
A Constelação Familiar, pode-se afirmar, possui sua base na terapia
sistêmico-fenomenológica, a partir das três Leis Sistêmicas ou Ordens do
Amor de Bert Hellinger, assim conhecidas; Pertencimento, Equilíbrio e
Ordem.
O movimento que abraçou as Leis Sistêmicas no Poder Judiciário, e que
passou a ser conhecido como Direito Sistêmico, é um novo paradigma para
a ciência jurídica, trazendo uma nova forma de perceber os vínculos entre os
indivíduos e grupos tutelados pelo Direito.
Fabiano Oldoni é doutorando pela Universidade do Minho-Portugal, com
linha de pesquisa nos Métodos Alternativos de Solução e Prevenção de
Conflitos Penais, Professor e Advogado.

Márcia Sarubbi Lippmann é mestre, Mediadora, Consteladora Sistêmica


e Professora de Métodos Alternativos de Solução de Conflitos desde 2002.

Maria Fernanda Gugelmin Girardi é Mestre, Professora de Direito de


Família, Presidente da Comissão de Direito Sistêmico da OAB/ltajaí e
Advogada.
Fabiano Oldoni
Márcia Sarubbi Lippmann
Maria Fernanda Gugelmin Girardi

Prefácio
Jaqueline Cherulli

DIREITO
SISTÊMICO
Aplicação das Leis Sistêmicas de Bert Hellinger ao
Direito de Família e ao Direito Penal

1ª Edição
2017
Copyright ©2017
Fabiano Oldoni, Márcia Sarubbi Lippmann e Maria Fernanda Gugelmin
Girardi.
CDD 340
0144d Oldoni, Fabiano
Direito Sistêmico: aplicação das leis sistêmicas de Bert Hellinger ao Direito de Família e
ao Direito Penal / Fabiano Oldoni, Márcia Sarubbi Lippmann , Maria Fernanda Gugelmin
Girardi. Joinville, SC : Manuscritos Editora, 2017.
152 p.; 21 cm
ISBN: 978-85-92791-11-7
1. Direito Sistêmico - Legislação. 2. Direito Sistêmico - Constelação familiar. 3. Direito de
Família. 4. Direito Penal. 5. Bert Hellinger -Leis sistêmicas. I. Lippmann, Márcia Sarubbi.
ll. Girardi, Maria Fernanda Gugelmin. III. Título.

Editora: Manuscritos Editora


Coordenação Editorial: Bernadéte Costa
Projeto Gráfico: Mariane Neumann
Imagem Capa: Núcleo de Direito Sistêmico
Revisão: Geremias Moretto
Colaboração: Impressora:

Depósito Legal junto a Biblioteca Nacional, conforme Lei de Depósito - Lei


10.994 de 14 de dezembro de 2004.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP).
Catalogação na fonte pela Bibliotecária Gegliane da R osa Cintrão, CRB-14/660.
Índice para Catálogo Sistemático
Direito Sistêmico - Legislação ___________________ 340
Direito Sistêmico - Constelação familiar ____________ 340
Direito de Família _____________________________ 340
Direito Penal __________________________________ 340
Bert Hellinger _______________________________ 340
1 a . Edição – Joinville/SC – 2017
Contato Autores
oldoni@univali.br
sarubbi@univali.br
mfernanda@univali.br
Contato Editora: contato@manuscritoseditora.com

www.manuscritoseditora.com
Por trás de mim estão todos os meus ancestrais, me dando força.
A vida passou através deles até chegar a mim.
E em sua honra a viverei plenamente.
(Bert Hellinger)
APRESENTAÇÃO
O Direito Sistêmico, por ser um tema bastante atual e muito abordado nos
meios jurídicos e fora dele, tem despertado sentimentos diversos, como
curiosidade e crítica, aceitação como modo de vida ou nova postura
jurídica e desprezo por seus preceitos teóricos.
Tradicionalmente o novo assusta e fascina, porém também nos tira de uma
posição de conforto, nos fazendo dar um passo à frente, além de motivar
inúmeros questionamentos, tais como: O que é o Direito Sistêmico? Para
que ele serve? Qual é a relação do Direito Sistêmico com as Constelações
Familiares? O Direito Sistêmico é eficaz na prevenção ou transformação
de conflitos judiciais e extrajudiciais?
Esta obra jurídica, pioneira no tema, procura apresentar respostas
preliminares às indagações acima, permitindo que o leitor, ao término de
sua leitura, reúna um mínimo de informações hábeis a lhe proporcionar
uma noção preliminar sobre o Direito Sistêmico.
Relacionamentos e conflitos são eventos que sempre acompanharam a
vivência humana, ou seja, pessoas se relacionam e, naturalmente,
conflitos surgem, seja na esfera familiar, pessoal, profissional, dentre
inúmeras outras.
Nos tempos atuais - onde a tecnologia, a informação e a imagem circulam
no mundo inteiro, tão rápido quanto uma faísca, tornando as relações cada
vez mais impessoais - nos deparamos com um cenário voltado à formação
de conflitos e um evidente despreparo em se lidar com eles.
Porém, mais importante do que identificá-los é analisar e navegar pelo
fecundo mar dos métodos de transformação de conflitos, de modo a
empoderar o indivíduo, que deixa de ser um mero espectador do teatro da
vida - e de seu conflito - e passa a ter um papel de protagonista nesse
processo.
O Direito Sistêmico, assim, se consubstancia em um dos vários métodos
eficazes a serem utilizados para a prevenção e transformação conflitual,
aplicável no âmbito judicial e extrajudicial.
Baseia-se, fundamentalmente, nas Ordens do Amor de Bert Hellinger,
cuja teoria aduz, em síntese, ser o amor o sentimento mais nobre e
construtivo das relações humanas.
Entretanto, a existência de amor nos relacionamentos (pessoais, paterno -
filiais, conjugais, profissionais, etc.) não significa ausência de conflitos,
a não ser que, além do amor, sejam obedecidas algumas regras ou leis que
lhe são inerentes, como a Lei do Pertencimento, a Lei da Hierarquia e a
Lei do Equilíbrio.
A utilização das Constelações Familiares e de todo o arcabouço teórico
do Direito Sistêmico, extrapola a esfera do Direito de Família e perpassa,
eficazmente, o Direito Penal, Empresarial, Trabalhista, Sucessório,
dentre outros, pois é uma ciência da vida, aplicável a todas às suas
facetas.
Uma vez que o Construtor do Direito compreenda e interiorize as Leis do
Amor de Bert Hellinger, enxergará o antigo Direito, o direito “de
sempre”, com novos matizes e, encantado com esta nova visão, encontrará
inspiração e terreno fértil para semear paz onde há discórdia, esperança
onde só existe desespero, atuando, assim, de forma eficaz para a
transformação social.

PREFÁCIO
O convite que recebi de Fabiano Oldoni, Márcia Sarubbi Lippmann e Maria
Fernanda Gugelmin Girardi encheu-me de contentamento ao saber que agora
temos uma obra que traduz o primeiro olhar dos construtores do Direito, a
partir da inusitada apropriação e aplicação que Sami Storch, pioneiramente,
fez no mundo e pelo mundo jurídico, acerca do tema Direito Sistêmico.
Os autores respondem a muitos questionamentos que surgem na incursão
pela nova ciência apresentada. Acolher o Direito e as leis positivadas é a
proposta inicial para que o leitor possa dar um lugar ao Direito Sistêmico e
suas leis e princípios. Aceitar o modelo brasileiro de Justiça e Poder
Judiciário possibilitará o trabalho com o novo, que não se arroga no direito
de ocupar o que veio antes, mas sim, complementar e mostrar soluções a
gargalos que frustram e, por vezes, desacreditam o Poder e a instituição.
O cuidado com a pesquisa e relato histórico é outra importante característica
da obra que socorre o meio acadêmico ávido pela catalogação aqui
disponível. O enfoque da aplicação das leis sistêmicas no Direito de Família,
no Direito Penal e juvenil é alento para a comunidade jurídica que
diuturnamente se movimenta na busca de caminhos que possam trazer
respostas “pacificadoras”. Isso se reflete em quebra de repetições de padrões
comportamentais e índices de reincidências, além da aceitação das decisões
e sentenças judiciais, pois repito, o Direito Sistêmico não veio para excluir
o modelo preexistente de Direito, tampouco para enfraquecê-lo. O Sistêmico
busca humanização, pacificação, inclusão e solução.
O conteúdo aqui disponibilizado ainda traz “cases” que convidam a reflexões
inspiradoras de profissionais que já atravessaram os mesmos caminhos que
trilhamos em nossa rotineira solidão, quer seja prolatando sentenças,
decisões, pareceres, petições, laudos, relatórios, atestados ou informações -
são luzes encorajadoras para um novo tempo que chegou e já tem histórias
positivas para contar!
O sábio concorda com o mundo tal como é,
sem temor e sem intenção.
Está reconciliado com e efemeridade
e não almeja além daquilo que se dissipa com a morte.
Conserva a orientação, porque está em harmonia,
e somente interfere o quanto a corrente da vida o exige.
Pode diferenciar entre:
é possível ou não, porque não tem intenções.
A sabedoria é o fruto de uma longa disciplina e exercício,
mas aquele que a possui, possui sem esforço.
Ela está sempre no caminho e chega à meta,
não porque procura.
Mas porque cresce.
(Bert Hellinger, Sabedoria)
Caros leitores, que a leitura e o uso deste livro seja resposta e solução,
proporcionando paz e leveza.
JAQUELINE CHERULLI
(AGOSTO DE 2017)
Sumário
DIREITO SISTÊMICO .......................................................................................................4
Aplicação das Leis Sistêmicas de Bert Hellinger ao Direito de Família e ao Direito Penal 4
APRESENTAÇÃO ............................................................................................................6
PREFÁCIO .........................................................................................................................7
CAPÍTULO 1 ...................................................................................................................11
FUNDAMENTO DAS CONSTELAÇÕES FAMILIARES OU SISTÊMICAS .......11
1.1 DEFINIÇÃO ......................................................................................11
1.2 CIÊNCIA OU MÉTODO .................................................................12
1.3 BERT HELLINGER, O CRIADOR DAS CONSTELAÇÕES FAMILIARES ..13
1.4 AS BASES DA CONSTELAÇÃO FAMILIAR ............................16
1.4.1 A Perspectiva Sistêmica ..................................................................17
1.4.2 Perspectiva Fenomenológica ...........................................................18
1.5 O MÉTODO DA CONSTELAÇÃO FAMILIAR ..................................................19
1.6 ORDENS OU LEIS SISTÊMICAS DE BERT HELLINGER .....23
1.7 DIREITO SISTÊMICO ....................................................................26
1.7.1 Definição ............................................................................................27
1.7.2 Resolução n° 125 do Conselho Nacional de Justiça - A Construção
de um Cenário Pacificador e Humanizado pelo Poder Judiciário .............................28
1.8 DIREITO SISTÊMICO E O CONSTRUTOR JURÍDICO ...................................29
1.8.1 Advocacia Sistêmica ........................................................................30
1.8.2 A OAB e as Comissões de Direito Sistêmico ............................... 32
1.8.3 As Constelações Familiares e o Poder Judiciário .........................34
1.8.4 Projetos de Constelação Familiar Implementados pelo Poder
Judiciário 37
CAPÍTULO 2 ...................................................................................................................41
APLICAÇÃO DAS LEIS SISTÊMICAS AO DIREITO DE FAMÍLIA ...................41
2.1 A TEORIA DE BERT HELLINGER NA CONSTRUÇÃO DE UM
DIREITO SISTÊMICO ...................................................................................................41
2.2 APLICAÇÃO DAS ORDENS DO AMOR NO DIREITO DE FAMÍLIA .........44
2.3 INSTITUTOS DO DIREITO DE FAMÍLIA SOB A ÓTICA DO
DIREITO SISTÊMICO ...................................................................................................48
2.3.1 A União Conjugal .............................................................................48
2.3.2 A Dissolução Conjugal ....................................................................51
2.3.3 A Situação dos Filhos Menores após a Dissolução Conjugal ..........................54
2.3.4 A Alienação Parental ........................................................................57
2.3.5 A Adoção ................................................................................................................61
2.4 DIREITO SISTÊMICO E A ATUAÇÃO DO CONSTRUTOR
JURÍDICO 66
CAPÍTULO 3 ...................................................................................................................69
DIREITO PENAL SISTÊMICO ....................................................................................69
3.1 FUNCIONAMENTO DA JUSTIÇA PENAL ................................ 71
3.2 LEIS SISTÊMICAS APLICADAS À JUSTIÇA PENAL ............74
3.2.1 Precedência (Hierarquia) ......................................................................................74
3.2.2 Pertencimento ....................................................................................76
3.2.3 Equilíbrio ...........................................................................................79
3.3 CONSTELAÇÃO FAMILIAR NO PROCESSO PENAL ............82
3.4 APLICAÇÃO DA CONSTELAÇÃO FAMILIAR NA
EXECUÇÃO PENAL ......................................................................................................87
BIBLIOGRAFIA .............................................................................................................96
CURSO OFERECIDO PELO NÚCLEO DE DIREITO SISTÊMICO - NDS ........102
CAPÍTULO 1
FUNDAMENTO DAS CONSTELAÇÕES FAMILIARES OU
SISTÊMICAS

1.1 DEFINIÇÃO
As constelações familiares podem ser definidas como um método
criado por Bert Hellinger (psicoterapeuta alemão), no qual se cria
"esculturas vias”, reconstruindo a árvore genealógica de um
determinado indivíduo, o que permite localizar e remover bloqueios
do fluxo amoroso de qualquer geração ou membro da família.
Trotta e Bezerra definem a Constelação Familiar como sendo:
Uma abordagem terapêutica criada pelo alemão Bert Hellinger a
partir de muitos anos de observação de fenômenos que ocorriam em
grupos terapêuticos que ele coordenava. O trabalho não se baseia em
alguma teoria psicológica previamente estabelecida. Foram as
observações e experimentações práticas que geraram a teoria e não o
inverso. Por isto, Hellinger o define como um trabalho de cunho
fenomenológico e sua fundamentação é principalmente antropológica,
filosófica e humanística. 1
Lima e Mendes concebem a Constelação Familiar como um método
psicoterápico que tem a função de estudar as emoções e energias do
plano consciente e inconsciente, por meio de uma abordagem
sistêmica, nesse aspecto:
A terapia criada por Bert Hellinger é um método psicoterápico que
estuda as emoções e energias que, consciente e inconscientemente,
acumulamos, com uma abordagem sistêmica, ou seja, compreendendo
todos os fatores que pertencem ao nosso sistema familiar ou campo

1
TROTTA, Ernani Eduardo; BEZERRA, Juliana Lima. Constelações Familiares e seu emprego em
psicoterapia corporal. In: ENCONTRO PARANAENSE, CONGRESSO BRASILEIRO DE
PSICOTERAPIAS CORPORAIS, XIV. IX,2009. Anais. Curitiba; Centro Reichiano, 2009. p. 2.
Disponível em http://www.centroreichia-
no.com.br/artigos/Anais%202009/TROTTA,%20Ernani%20Eduardo;%20BEZER-
RA,%20Juliana%20-%20Constelações%20familiares.pdf.
familiar. 2
Já Amilton Plácido da Rosa define as constelações familiares como
uma maneira de acessar o campo morfogenético de um indivíduo:
A Constelação Familiar na melhor tentativa de explicá -la
cientificamente, é uma das formas de acessar o campo energético -
informacional familiar de uma pessoa, campo esse que Rupert
Sheldrake chamou de campo morfogenético, onde estão, no caso, todas
informações daquela família. 3
As constelações familiares podem, então, ser definidas como sendo um
método baseado na terapia sistêmica que indaga sobre as relações não
aparentes que vinculam umas pessoas à própria família.
1.2 CIÊNCIA OU MÉTODO
O Hellinger Institute posiciona a Constelação Familiar como uma
ciência universal, Hellinger sciencia®, trazendo sua cientificidade da
ciência universal das ordens - e até mesmo das leis - que são
encontradas em todas as conexões e interações humanas. Assim, em
primeiro lugar, as ordens se aplicam aos relacionamentos dentro da
família, o que significa a relação entre homem e mulher, entre pais e
filhos, incluindo sua educação. E essa ciência abrange as ordens em
nossa vida profissional, em organizações e instituições, e se estende às
ordens entre grupos maiores, como povos e culturas.
Concomitantemente, é uma ciência universal dos descompassos, os
quais geram os conflitos nas relações humanas e que separam as
pessoas em vez de reuni-las. Essas ordens e distúrbios também são
transmitidos ao corpo, desempenhando um papel importante nas
doenças e na saúde do corpo, da alma e da mente.
Abordam-se, no presente livro, as constelações familiares, segundo
Bert Hellinger, como método, adotando a definição colhida da lição de

2
MENDES, Ana Tarna dos Santos e LIMA, Gabriela Nascimento. O que vem a ser Direito Sistêmico.
Disponível em http://emporiododireito.com.br/tag/direito-siste- mico/. Acesso em 18 de julho de
2017.
3
ROSA, Amilton Plácido da. Direito Sistêmico: AJustiça Curativa de soluções profundas e
duradouras. Revista MPE Especial, ano 2, edição I I, janeiro/2014, p. 50-57.
Cervo e Bervian, 4 segundo os quais, método é o "conjunto de processos
que o espírito humano deve empregar na investigação e demonstração
da verdade”. Eis que, nesse compasso, as constelações nos mostram a
verdade, a verdade que vem da alma.
Nesse mesmo sentido, Guedes se posiciona: "Bert Hellinger, ao
desenvolver o método das Constelações Familiares, despertou para
uma visão inédita da realidade humana, enquanto indivíduo e enquanto
coletividade".
Diferente não é o posicionamento de Schneider:
O que há de extraordinário nas constelações familiares é
primeiramente o próprio método. É singular e fascinante observar
quando um cliente coloca em cena pessoas estranhas para representar
seus familiares em suas relações recíprocas, como essas pessoas, sem
prévias informações, vivenciam sentimentos e usam palavras
semelhantes às deles e, eventualmente, até mesmo reproduzem os seus
sintomas. 5
Salienta-se que não se está aqui, refutando o posicionamento adotado
por Hellinger, mas apenas trazendo uma delimitação teórico-científica
para o leitor da presente obra.
1.3 BERT HELLINGER, O CRIADOR DAS CONSTELAÇÕES
FAMILIARES
Para se compreender adequadamente as constelações familiares é
necessário que se conheça um pouco o perfil de seu criador:
Inicialmente, a própria pessoa de Bert Hellinger nos fascina. Muitos
experimentaram pessoalmente a sua ajuda em suas necessidades.
Vivenciam nele força e sabedoria, uma profunda sensibilidade para as
dinâmicas e leis dos relacionamentos, bem como para os efeitos
anímicos da ação, seu desassombro na investigação dos destinos
humanos e sua coragem em expor-se, com as possibilidades e os

4
CERVO, A.L. e BERVIAN, P.A. Metodologia Científica: para uso dos estudantes universitários.
3a Edição. São Paulo: McGraw Hill do Brasil, 1983. p. 125.
5
SCHNEIDER, Jakob Robert. A prática das constelações familiares. Patos de Minas: Atman, 2007.
p. 10.
limites de sua atuação. 6
Anton "Suitbert” Hellinger, nascido na Alemanha, em 18 de dezembro
de 1925, é um ex-sacerdote e missionário dos Zulus, que atuou na
África do Sul por 16 anos, exercendo as funções de educador ,
psicanalista, terapeuta corporal, terapeuta de dinâmica de grupo e
também como terapeuta familiar Seu método é fruto de sua vida e da
sabedoria conquistada na realização de seu trabalho.
As constelações familiares, que se tornaram a marca registrada da
abordagem de Hellinger bem como suas observações sobre o
emaranhamento sistêmico e a resolução, tocaram a vida de milhares de
pessoas e transformaram muitos profissionais, desde psicólogos a
terapeutas holísticos, pois as constelações não se encontram apenas
circunscritas no campo da psicologia, sendo um caminho a ser seguido
por aqueles que se sentirem chamados.
Bert Hellinger escreveu 83 livros, que foram traduzidos para 30
idiomas, frutos de uma longa jornada que ainda está em construção.
Seu trabalho está documentado em muitos CDs, DVD’s, e-books e
inúmeros vídeos disponíveis na internet.
Hellinger diz que seus pais e sua casa de infância foram uma grande
influência em seu trabalho posterior Sua forma particular de fé
imunizava a família contra a crença nas distorções do nacional -
socialismo. Por causa das repetidas ausências de Hellinger nas
reuniões da Organização da Juventude Hitlerista e sua participação em
uma organização juvenil católica ilegal, fez com que fosse
classificado, pela Gestapo, como “Suspeitado de Ser um Inimigo do
Povo”. Ciente do destino que lhe aguardava, com apenas 17 anos se
tornou um soldado, experimentou as realidades de combate, captura,
derrota e vida em um campo de prisioneiros de guerra na Bélgica com
os aliados.
A segunda grande influência foi certamente o sacerdócio. Aos 20 anos
ingressou em uma ordem religiosa católica e começou o longo
processo de purificação do corpo, mente e espírito em silêncio, estudo,

6
SCHNEIDER, Jakob Robert. A prática das constelações familiares. Patos de Minas: Atman, 2007.
p. 9.
contemplação e meditação. Passou 16 anos na África do Sul como
missionário junto a tribos Zulus, uma experiência que teve efeito
profundo em seu trabalho posterior Lá dirigiu uma grande escola,
ensinou e foi pároco simultaneamente. O processo de deixar uma
cultura para viver em outra, agudizou sua consciência da relatividade
de muitos valores culturais.
A participação de Hellinger em treinamentos inter-racial, ecumênico e
em dinâmicas de grupo, lideradas pelo clero anglicano, também foi
extremamente importante para a construção de seu método, pois
percebeu uma maneira de trabalhar com grupos que valorizava o
diálogo, a fenomenologia e a experiência humana individual. Sua
decisão de deixar a ordem religiosa, após 25 anos, veio com a
constatação de que ser padre não era mais uma expressão apropriada
para seu crescimento interno.
A psicanálise e a psicoterapia foram sua terceira grande influência.
Várias escolas terapêuticas deixaram marcas em seu trabalho, além da
orientação fenomenológica- dialógica, da dinâmica de grupo dos
anglicanos, a necessidade fundamental do ser humano estar alinhado
com as forças da natureza que ele aprendeu com os anglicanos e os
zulus no sul da África, a psicanálise que aprendeu em Viena e o
trabalho corporal que aprendeu na América.
Estudou terapia familiar com Ruth McCIedon e Leslie Kadis, e passou
a trabalhar com Milton H. Erickson e outros. Hellinger traz algo
completamente novo na reunião de abordagens poderosas da
psicoterapia, bem como de outros paradigmas, criando assim uma
abordagem de cura única, pois ele aprendeu ferramentas específicas de
uma variedade de fontes, mas a força abrangente de seu trabalho vem
da habilidade refinada de ouvir a autoridade da própria alma.
Hellinger nos propõe “uma visão além do aparente’’, assim não nos
traz uma técnica “garantida”, mas nos abre a possibilidade de
enxergarmos o "real’’ ao invés de aceitarmos cegamente o que se está
sendo dito - não importa por quem -, sendo este o norte deste método,
muitas vezes de difícil aceitação para indivíduos, grupos, comunidades
e culturas.
As influências de maior peso que Hellinger sofreu foram ricas e
variadas. A experiência da sua primeira infância cobre o período que
antecede a guerra na Alemanha: o nazismo - ao qual ele se opõe- assim
como a guerra e suas consequências. Na qualidade de sacerdote, vê-
se diante dos costumes, dos rituais e da música zulus. Uma formação
ecumênica somada a dinâmica de grupo fundada no diálogo, na
fenomenologia e na experiência humana marca para ele uma etapa
decisiva. Depois de 25 anos como padre, ele deixa sua congregação
religiosa, volta à Alemanha, parte para uma formação em psicanálise
e se casa. 7
Por derradeiro, antes de se dirigir à psicoterapia, estudou filosofia e
teologia na Alemanha. Posteriormente, obteve o Diploma de Educação
Universitária na África do Sul, onde, durante vários anos, trabalhou
como professor e diretor de uma faculdade de treinamento de
professores para africanos.
1.4 AS BASES DA CONSTELAÇÃO FAMILIAR
A Constelação Familiar possui sua base na terapia sistêmica, que
indaga sobre as relações não aparentes que vinculam uma pessoa à
própria família.
Bert Hellinger foi inovador e original, ao unir em sua técnica vários
tipos de psicoterapia, aprofundando-se em múltiplos campos do saber
tais como: Terapia Primal, Gestalt Terapia, Análises Transacionais de
Eric Berne, Dinâmicas de Grupo, Terapias Familiares, Programação
Neurolinguística (PNL) de Richard Bandler e John Grinder, Hipnose
Eriksoniana, Psicodrama de Jacobs Levi Moreno, Escultura Familiar
de Virginia Satir e a “Terapia do Abraço” de Jirina Prekop.
Com uma sólida base psicológica, tem-se o sustentáculo do método
proposto por Bert Hellinger, e seu pioneirismo ao uni-las de forma
sistêmica:
Bert Hellinger organizou, de maneira ímpar todo conhecimento
sistêmico e o tornou disponível para o caminho da cura, do bem-estar
e do desenvolvimento humano. A técnica das Constelações Familiares

7
MANNÉ, Joy. As Constelações familiares em vida diária. São Paulo: Cultrix. 2008, p. 1.
pode ser compreendida por meio dos conhecimentos da Biologia,
pesquisados por Maturana, Varela, Rupert Sheldrake, notáveis
cientistas contemporâneos. 8
Mas as constelações não se baseiam apenas nas várias técnicas
psicológicas acima mencionadas, cabendo ressaltar todo o
conhecimento adquirido em seus estudos de filosofia, teologia,
pedagogia e seu trabalho como missionário na África do Sul, junto aos
Zulus, pois foi durante esta experiência profunda, que durou 16 anos,
que conheceu novas formas de relacionamento interpessoal, haja vista
as relações tribais serem baseadas no profundo e natural respeito
recíproco da dignidade e do papel de autoridade de cada um.
Foi justamente nesse período em que conheceu e aplicou as dinâmicas
de grupo, que posteriormente estimularam seus estudos e pesquisas
futuras.
Pode-se, assim, compreender o método das constelações familiares sob
uma perspectiva psicanalítica, mas sistêmico-fenomenológica.
1.4.1 A Perspectiva Sistêmica
Quando se aborda o termo sistemas, é comum sermos remetidos à
Niklas Luhmann, Parson e Capra. Contudo, não é sob esse prisma que
a abordagem sistêmica de Hellinger deve ser lida.
Na visão sistêmica, adotada por Hellinger, cada indivíduo é visto, não
de maneira individual, mas sim como parte de um sistema,
compreendido como sendo o grupo de pessoas ligadas entre si por um
destino comum e relações recíprocas, onde cada membro do sistema
impacta e exerce influência sobre os demais membros.
A Família é vista como um sistema, uma entidade que possui
características, regras e normas próprias, que faz com que se
“movimente” de determinado modo, onde cada membro contribui para
seu desenvolvimento.
Na visão sistêmica de Hellinger, o indivíduo não deve ser visto de
forma isolada, mas como alguém que está a serviço e é orientado pelas

8
GUEDES, Olinda, Além do Aparente: um livro sobre constelações familiares. I ed. Curitiba:
Appris. 2015, p. 12.
forças de seu próprio sistema, todavia essas forças não são visíveis a
olho nu, assim como a radiação solar, o wi-fi, os movimentos de uma
célula etc.
O que o método das constelações familiares faz é tornar aparente,
visível as formas que norteiam os sistemas, através da representação
do sistema de cada um.
Mais adiante, abordar-se-á de que maneira o método é executado.
1.4.2 Perspectiva Fenomenológica
A perspectiva fenomenológica, que norteia Hellinger, é a de Edmund
Husserl, aplicada ao conhecimento de mundo, que afirma a
importância inicial de restituir aos fatos e à sua observação, o papel
central para a teoria do conhecimento.
Essa abordagem, que define a importância do conhecimento intuitivo,
que verte das experiências vivenciadas, das características essenciais
e profundas, foi fundamental para Bert Hellinger edificar as
constelações familiares, pois os eventos que vem à tona por meio dos
representantes, durante a prática das constelações, adquirem valor de
verdade.
Ao deter-se na análise da consciência, Husserl irá propor seu método
radical para "vasculhar” o fenômeno, a saber, a redução
fenomenológica (epoché). Tomando emprestado da filosofia antiga o
termo grego epoché, que os antigos céticos traduziam por "suspensão”
do juízo a respeito das coisas, Husserl o adota sob outra perspectiva.
A epoché husserliana consiste em pôr "entre parênteses” o mundo,
quando da apreensão do fenômeno.
A epoché de Husserl consiste numa suspensão momentânea da “atitude
natural” (natürliche Einstellung), com a qual nos relacionamos com as
coisas do mundo. Isso significa deixar provisoriamente de lado todos
os preconceitos, teorias e definições, das quais nos valemos para
conferir sentido às coisas. Tal suspensão da nossa atitude natural
diante do mundo, tem como objetivo apreender na consciência as
coisas como elas realmente são.
O fenômeno, que se mostra durante as constelações, prevalece sobre
as tentativas de leitura dos fatos, tendo como base uma lógica
previamente estabelecida.
A abordagem fenomenológica, nas constelações familiares, revela a
percepção de uma ampla gama de fenômenos, que somente se
manifesta e pode ser compreendida ao se observar com olhos livres de
julgamentos.
A representação, nesse caso, é como se fosse um quadro em
movimento, onde se pode ver através da interação dos representantes
de uma constelação os movimentos das peças de um intrincado jogo de
xadrez, onde cada movimento é delicado e essencial para a harmonia
de seu sistema.
1.5 O MÉTODO DA CONSTELAÇÃO FAMILIAR
Pode-se dizer que uma das principais características das constelações
familiares é ter reconhecido que todos estamos ligados aos destinos da
nossa família e cada família está conectada por uma consciência
coletiva.
O método da constelação pode ser considerado simples, onde o
terapeuta pede ao cliente, num grupo terapêutico ou de
desenvolvimento pessoal, que posicione, em conformidade com suas
mútuas relações, indivíduos que tenham papel significante no tocante
à questão ou necessidade por ele trazida:
Na maioria das vezes, as constelações familiares são conduzidas no
seio de um grupo de trabalho, mas certos terapeutas as praticam em
sessões individuais. De um modo ou de outro, elas seguem um
determinado número de etapas. Num primeiro momento, o terapeuta
esclarece o problema ou a questão do cliente. São então escolhidos
representantes entre os membros do grupo: a constelação é montada
e se desenrola progressivamente até a sua solução, ou até o momento
em que fica evidente que sua solução é impossível - que é, de certo
modo, uma solução à parte. Podemos introduzir um ritual de
encerramento de sessão, assim como conselhos sobre a maneira de
integrar aquilo que a constelação revela. 99

9
MANNÉ, Joy. As Constelações familiares em sua vida diária. São Paulo: Cultrix. 2008.
As constelações podem ser em grupo ou na modalidade individual, a
qual também considera-se um excelente recurso para ser usado na
esfera dos conflitos judiciais ou extrajudiciais, quando a parte não quer
se expor
Na dinâmica da constelação familiar, o participante escolhe pessoas
que terão a função de representar os membros de sua família, os quais
se tornam "modelos vivos” do sistema do sujeito que tem sua questão
constelada:
Ao estabelecer uma constelação familiar o participante escolhe outros
integrantes do grupo para representar os membros de sua família,
colocando-os no recinto de modo que as posições relativas de cada um
reproduzam as da família verdadeira. Os representantes passam a ser
modelos vivos do sistema original de relações familiares. O mais
incrível é que, se a pessoa coloca a sua "família" com toda
autenticidade, os representantes passam a sentir e a pensar de modo
muito parecido com o dos membros verdadeiros — sem conhecimento
prévio. 10
Schneider, ao abordar a questão da escolha dos representantes, assim
se posiciona:
São, por exemplo, pessoas mais íntimas de sua família de origem, a
saber, ele próprio, seus pais e irmãos, às vezes apenas ele e seus pais
ou ele e um sintoma que o incomoda. Para representar os personagens,
o cliente escolhe certos participantes do grupo e os posiciona no
recinto, de acordo com suas mútuas relações, sem fazer comentários.
Ele deve fazer isso a partir de seu sentimento ou do “coração”,
portanto, sem buscar justificativas, sem escolher um determinado
período de sua vida, e sem imaginar determinadas cenas que vivenciou
em sua família. Simplesmente se deixa conduzir por um impulso
interno indiferenciado e por uma atitude amorosa. Normalmente é
preciso haver clareza sobre quem representa uma determinada pessoa
da família ou algum sintoma, como o “medo" ou alguma entidade

p, 5.
10
HELLINGER, Bert. A Simetria Oculta do Amor. São Paulo: Cultrix, 2008. p. 11.
abstrata, como o “segredo" ou a “morte”. 11
O terapeuta pede ao cliente breves informações sobre o histórico de
sua família, com o escopo de perceber seu “peso anímico” e saber com
que personagens poderá começar a constelação. Todavia, quanto
menos souberem os representantes, mais convincente será para o
constelado o que emergirá da constelação.
Porém, é apenas através de informações essenciais que uma
constelação recebe o impulso para sua condução, cabendo ao
constelador tão somente descrever o que se mostra no campo
morfogenético.
Uma vez posicionados os representantes, o cliente se senta. Após
algum tempo de concentração, o terapeuta pede aos representantes que
comuniquem seus sentimentos, eventuais percepções e sintomas
corporais, podendo algumas vezes, pedir aos representantes que
compartilhem seus sentimentos, mas essa partilha deve ser feita sem
vinculação a crenças pessoais dos próprios representantes e do
constelador.
É desse modo que o conhecimento anímico vem à tona e as forças, que
nela atuam, tomam-se visíveis e experimentáveis para o próprio
constelado, o terapeuta e todos os participantes do grupo. Cabe
ressaltar que o movimento dos representantes, seja ele autônomo ou
conduzido pelo terapeuta, revela a dinâmica anímica da família,
trazendo, ao final, liberação, alívio e uma “imagem de solução”.
Não sabemos como é possível aos participantes da constelação sentir
sintomas que lhe são alheios, e Bert Hellinger recusa -se a especular
sobre o assunto: “Não estou capacitado a explicar esse fenômeno, mas
ele existe e eu o utilizo". Aos céticos, custa acreditar que uma pessoa
investida do papel de alguém que não conhece possa sentir na própria
carne o que ele padece, aquilo de que precisa e o que pode ajudar . 12
Quando se encontra o equilíbrio em uma constelação, pode-se
encontrar a paz e isso ocorre quando, ultrapassando a dinâmica do

11
SCHNEIDER, Jakob Robert. A prática das constelações familiares. Patos de Minas: Atman,
2007, p. 15.
12
HELLINGER, Bert. A Simetria Oculta do Amor. São Paulo: Cultrix, 2008, p. 11.
destino, os membros da família ali representados se reencontram com
respeito e amor e aqueles que foram excluídos são reintegrados e cada
um toma seu lugar dentro do sistema familiar.
Para uma compreensão sistematizada do método das constelações
familiares, apresentamos um quadro com os seis passos realizados em
uma constelação:

1) A definição do
O terapeuta pergunta ao cliente qual é o problema, ou
problema
seja, ele quer saber o que o leva a uma constelação
familiar Ele não está interessado na história "habitual”,
em Interpretações, julgamentos e explicações que a
acompanham.

2) A escolha dos O cliente escolhe os participantes para representar os


representantes membros selecionados da família e para representá -la.
Normalmente, no início de uma constelação, o terapeuta
se prende a um número mínimo.

3) Montagem da O terapeuta pede ao cliente que monte a constelação, ou


constelação seja, que disponha os representantes no espaço e que lhes
transmita uma orientação que evidencie as relações que
uns mantêm com os outros.

4) O processo de solução O terapeuta pode tanto interrogar os representantes sobre


o que está acontecendo com eles, como simplesmente
deixá-los fazer os "movimentos da alma”.

5) A solução A solução de uma constelação dá aos seus membros a


sensação de livrar-se de um peso. Traz paz e satisfação
ao campo de energia familiar

6) O ritual de Existem inúmeras maneiras de deixar seu papel de


encerramento representante, uma sugestão é o cliente aproximar -se de
cada representante, pegar-lhe a mão e agradecer-lhe por
ter representado seu familiar
1.6 ORDENS OU LEIS SISTÊMICAS DE BERT HELLINGER
Hellinger nos apresenta três ordens ou leis que devem ser respeitadas
para que haja harmonia dentro do sistema, denominadas de Ordens do
Amon que são: pertencimento, equilíbrio e ordem:
Em todos os nossos relacionamentos, as necessidades fundamentais
atuam umas sobre as outras de maneira complexa: I. A necessidade de
pertencer isto é, de vinculação. 2. A necessidade de preservar o
equilíbrio entre o dar e o receber 3. A necessidade da segurança
proporcionada pela convenção e previsibilidade sociais, isto é, a
necessidade de ordem. 13
Essas necessidades nos arrebatam com a premência de impulsos e
reações instintivas, subjugando nossas forças, e necessitam então, ser
obedecidas para que haja equilíbrio em nosso sistema.
Cabe ressaltar que são “Leis Naturais’’ que incidem mesmo que não
tenha ocorrido qualquer assentimento prévio de vontade. Da mesma
forma que a "Lei da Gravidade” impera em nossa vida, também ocorre
com as “Ordens” apresentadas por Bert Hellinger Elas estão em plena
atividade e alcançam a todos:
A necessidade de pertinência, o equilíbrio entre o dar e o receber e a
convenção social trabalham juntos para preservar os grupos sociais a
que pertencemos. Contudo, cada necessidade persegue seu próprio
objetivo com seus sentimentos particulares de culpa e inocência, de
sorte que sentimos a culpa ou a inocência de modo diverso, de acordo
com a necessidade e o objetivo em mira. 14
A primeira é a Lei do Pertencimento, segundo a qual cada grupo social
se mantém vinculado, em decorrência de suas crenças, mantidas pelas
normas e pelos vínculos entre os membros:
Hellinger percebeu que cada pessoa está comprometida com o destino
do grupo; todo indivíduo está, acima de tudo, muito mais a serviço do
seu sistema, do que a serviço do seu próprio querer (...) também
percebeu que quando atuamos em sintonia com o sistema ao qual

13
HELLINGER, Bert. A Simetria Oculta do Amor. São Paulo: Cultrix, 2008, p. 15-16.
14
HELLINGER, Bert. A Simetria Oculta do Amor. São Paulo: Cultrix, 2008, p. 17.
pertencemos, nossa consciência fica tranquila. Por isso muitas vezes
fazemos algo que perante os outros parece totalmente mau, totalmente
errado. Entretanto, isso foi feito de "consciência tranquila”, porque
quando agimos "igual", tendo as mesmas atitudes, vivenciando os
mesmos valores, nos sentimentos pertencentes e seguros. 15
É importante ressaltar que a alma do grupo não tolera exclusões e todos
os membros do sistema tem igual direito ao pertencimento. Quando
algum membro é excluído do grupo, outro membro da família toma seu
lugar de modo inconsciente, vindo a repetir seu padrão.
Assim, a lei do pertencimento diz respeito à vinculação e
reconhecimento estabelecidos para cada pessoa que nasce em um
sistema. Isto é, cada um de nós necessita do reconhecimento como
membro que pertence a um lugar e exerce um papel dentro de uma
dinâmica familiar.
A segunda é a Lei da Precedência, onde aqueles que chegaram antes,
cronologicamente, prevalecem sobre os que chegaram depois. Nessa
lei os mais velhos são hierarquicamente superiores aos mais novos.
Esta lei define que aquele que entra primeiro em um sistema, tem a
prevalência e exerce direitos sobre os que entraram depois, pois dentro
de um sistema existe uma hierarquia, uma ordem a ser respeitada e
cada um tem o seu lugar, contribuindo para a evolução do mesmo, se
estiver no lugar que lhe cabe:
A terceira exigência para o êxito no amor em relacionamentos íntimos,
é a ordem. Em primeiro lugar entendemos por “ordem” o conjunto de
regras e convenções sociais que regem a vida comunitária de um
grupo social. Todo relacionamento duradouro cria normas, regras,
crenças e tabus que se tomam obrigatórios para seus membros. Desse
modo, os relacionamentos transformam-se em sistemas de relações
providos de ordem e estrutura. As convenções sociais representam o
modelo superficial que todos os membros aceitam, mas varia
amplamente de grupo para grupo. 16
Todavia, quando a hierarquia não é respeitada e a Lei da Precedência

15
HELLINGER, Bert. A Simetria Oculta do Amor. São Paulo: Cultrix, 2008, p. 18.
16
HELLINGER, Bert. A Simetria Oculta do Amor. São Paulo: Cultrix, 2008, p. 28.
é violada, o sistema sofre disfunções graves. Caso alguém não ocupe
seu lugar, isso implicará em desordem na sua própria vida e na vida
dos outros membros do sistema, e para restabelecer o equilíbrio é
preciso que cada um respeite e tome o seu lugar:
A Ordem é estabelecida pela hierarquia. Descrevemos essa lei da
seguinte forma: “Quem chegou primeiro, chegou primeiro, quem
chegou depois, chegou depois. E nada que venha depois desse ponto
final, altera a ordem.
Quando há ruptura da ordem, os posteriores se sentem compelidos a
atuar como se fossem melhores que os anteriores, como se diante de
situações vivenciadas por esses últimos, houvessem eles mesmos
tomado decisões e atitudes "melhores” ou “mais acertadas”.
Hellinger também viu que aqueles que estão mais abaixo na ordem
hierárquica, por exemplo, os filhos, não devem se meter nos assuntos
dos antecessores. 17
A terceira é a Lei do Equilíbrio. Trata-se do equilíbrio entre o DAR e
o RECEBER e está a serviço da troca nas relações. É necessário manter
esse equilíbrio em nossas relações, pois é no equilíbrio entre o DAR e
o RECEBER que uma relação encontra harmonia:
Nossos relacionamentos, bem como nossas experiências de culpa e
inocência, começam com o dar e o receber. Nós nos sentimos credores
quando damos e devedores quando recebemos. O equilíbrio entre
crédito e débito é a segunda dinâmica fundamental de culpa e
inocência nos relacionamentos. Favorece todos os relacionamentos,
pois tanto o que dá quanto o que recebe conhecem a paz se o dar e o
receber forem iguais. 18
As “contas familiares e sociais” precisam estar equilibradas, estando
aí incluídas as partilhas, heranças, dotes, os favorecidos e
desfavorecidos, as injustiças etc. Também pertencem à família aqueles
que tomam o lugar dos que morreram e partiram. Ao se pensar em uma
espécie de ‘livro de contas familiar’, é necessário que se mantenha em

17
HELLINGER, Bert. A Simetria Oculta do Amor. São Paulo: Cultrix, 2008, p. 19.
18
HELLINGER, Bert, A Simetria Oculta do Amor. São Paulo:Cultrix, 2008, p. 21.
dia os créditos e os débitos, as obrigações e os méritos dos membros
pois, caso contrário, pode aduzir uma série de problemas nas gerações
futuras:
Resumidamente podemos explanar que a primeira Lei consiste que os
entes mais velhos preferem aos mais novos e deve haver uma
hierarquia entre os membros da família, um respeito aos ascendentes,
já a segunda lei trata que todos devem fazer parte do sistema familiar
sem haver qualquer tipo de exclusão, seja falecido, doente, pobre,
deficiente, idoso, etc. Todos devem ser incluídos, reconhecidos e
amados e a terceira ordem do amor significa que deve haver um
equilíbrio entre o dar e o receber para que não haja um sentimento de
dívida com o outro, mas de amor pois à medida que dou amor recebo
também, havendo um movimento nesse sentido, em que todos os
membros da família se beneficiam. 19
A necessidade de pertinência, o equilíbrio entre o dar e o receber e a
convenção social trabalham juntos para preservar os grupos sociais a
que pertencemos. Assim, toda alma deseja retribuir aquilo que lhe é
ofertado e quando o faz, sempre dá um pouco mais, pois o desejo de
retribuir é uma constante em nossa vida. Sentir-se em débito ou sentir-
se credor são movimentos naturais de nossa alma, fazendo com que
haja vínculos ao sistema.
Uma vez abordadas as constelações familiares e as Ordens ou Leis
Sistêmicas, passa-se a tratar da aplicação destas leis no campo do
Direito, que recebe a denominação de Direito Sistêmico.
1.7 DIREITO SISTÊMICO
O Direito Sistêmico, concebido como a aplicação das leis ou ordens
do amor de Bert Hellinger ao campo do Direito, se constitui em um
novo paradigma para a ciência jurídica, trazendo uma nova forma de
perceber os vínculos entre os indivíduos e grupos tutelados pelo
Direito.
Surge, então, um inovador olhar sobre as respostas apresentadas até

19
MENDES, Ana Tarna dos Santos e LIMA, Gabriela Nascimento. O que vem a ser Direito
Sistêmico. Disponível em http://emporiododireito.com.br/o-que-vem-a- -ser-direíto-
sistemico/. Acesso em 18 de julho de 2017.
então pelo arcabouço normativo e pela estrutura judicial até agora
dominante, nos fazendo pensar e refletir, a partir de uma nova
perspectiva, sobre os rumos de nossos conflitos.
É nesse novo caminho que se convida o leitor a seguir conosco.
1.7.1 Definição
Pode-se definir por Direito Sistêmico a aplicação das Leis ou Ordens
do Amor, de Bert Hellinger, no campo jurídico.
Para Sami Storch 20 o Direito Sistêmico é “uma visão sistêmica do
direito, pela qual só há direito quando a solução traz paz e equilíbrio
para todo sistema”, pois em “um sistema, o desequilíbrio de qualquer
pessoa se reflete nos outros”, assim a solução deve ser integral,
levando em consideração todos aqueles que compõem o sistema.
Assim, o Direito Sistêmico nos propõe a busca de uma solução, não
mais focada apenas na ótica competitiva, mas sim cooperativa e
pacífica, o que vem perfeitamente ao encontro da necessidade de
pacificação social e se distancia salutarmente da visão opositiva, até
então perpetrada pelos construtores do Direito.
Ainda segundo Sami Storch: 21
A expressão “direito sistêmico”, no contexto aqui abordado, surgiu
da análise do direito sob uma ótica baseada nas ordens superiores que
regem as relações humanas, segundo a ciência das constelações
familiares sistêmicas desenvolvida pelo terapeuta e filósofo alemão
Bert Hellinger.
Na visão de Amilton Plácido da Rosa, o Direito Sistêmico é definido
como um método sistêmico- fenomenológico de solução de conflitos,
trazendo à tona o conhecimento e compreensão das causas ocultas de
uma desavença:
O Direito Sistêmico, em termos técnico-científico, é um método
sistêmico-fenomenológico de solução de conflitos, com viés

20
STORCH, Sami. O que é direito sistêmico. Disponível em <http://direitosistemi- co.com.br/pt-
services/o-que-e-direito-sistemico/>Acesso em 17 de julho de 2017.
21
STORCH, Sami. O que é Direito Sistêmico. Disponível em <https://direitosis-
temico.wordpress.com/2010/11 /29/o-que-e-direito-sistemico/>. Acesso em 20 de julho de 2017.
terapêutico, que tem por escopo conciliar, profunda e definitivamente,
as partes, em nível anímico, mediante o conhecimento e a
compreensão das causas ocultas geradoras das desavenças,
resultando daí paz e equilíbrio para os sistemas envolvidos. 22
1.7.2 Resolução n° 125 do Conselho Nacional de Justiça - A
Construção de um Cenário Pacificador e Humanizado pelo Poder
Judiciário
A sociedade há muito clama por uma resposta mais humanizada, célere
e que realmente promova justiça, o que vem motivando várias
iniciativas no sentido de pacificar e humanizar o poder Judiciário.
Sob essa perspectiva é que se deve tratar a Resolução n° 125 do
Conselho Nacional de Justiça, que dispõe sobre a conciliação e a
mediação, a qual partiu da premissa de que cabe ao Judiciário
estabelecer a política pública de tratamento adequado dos conflitos de
interesses resolvidos no seu âmbito - seja por meios
heterocompositivos ou autocompositivos.
Este norte foi adotado de maneira a organizar, em todo território
nacional, não somente os serviços prestados no curso da relação
processual (atividades processuais), como também os que possam
incentivar a atividade do Poder Judiciário de prevenção de demandas,
com as chamadas atividades pré-processuais de conciliação e
mediação.
Os objetivos da Resolução n° 125 do CNJ são: i) disseminar a cultura
da pacificação social e estimular a prestação de serviços
autocompositivos de qualidade (art. 2 o ); ii) incentivar os tribunais a se
organizarem e planejarem programas amplos de autocomposição
(art.4 o ); iii) reafirmar a função de agente apoiador da implantação de
políticas públicas do CNJ (art. 3 o ).
Referida resolução reflete os esforços para mudar o perfil com que o
Poder Judiciário se apresenta. Não apenas de forma mais ágil e como
solucionador de conflitos, mas principalmente como um centro de

22
ROSA, Amilton de Plácido. Direito Sistêmico e Constelação Familiar. Disponível em
<http://www.cartaforense.com.br/conteudo/entrevistas/direito-sistemico- -e-constelacao-
familiar/16914>. Acesso em 16 de julho de 2017.
soluções efetivas do ponto de vista do jurisdicionado.
Nesse novo modelo, o operador do direito deve ter uma postura
pacificadora - mesmo em processos heterocompositivos, pois passa a
existir a preocupação com o meio mais eficiente de compor certa
disputa, na medida em que essa escolha reflete a própria efetividade
do sistema de resolução de conflitos:
O acesso à justiça deve, sob o prisma da autocomposição, estimular,
difundir e educar seu usuário a melhor resolver conflitos por meio de
ações comunicativas. Passa-se a compreender o usuário do Poder
Judiciário como não apenas aquele que, por um motivo ou outro,
encontra- se em um dos polos de uma relação jurídica processual - o
usuário do poder judiciário é também todo e qualquer ser humano que
possa aprender a melhor resolver seus conflitos, por meio de
comunicações eficientes - estimuladas por terceiros, como na
mediação ou diretamente, como na negociação. O verdadeiro acesso
à Justiça abrange não apenas a prevenção e reparação de direitos,
mas a realização de soluções negociadas e o fomento da mobilização
da sociedade para que possa participar ativamente dos procedimentos
de resolução de disputas como de seus resultados. 23
Aborda-se, nesse sentido, a Resolução n° 125, do Conselho Nacional
de Justiça, por tratar-se literalmente de uma abertura, por onde a
postura sistêmica do construtor do direito pode ingressar, aplicando-
se as leis sistêmicas de Bert Hellinger tanto em seu escritório, gabinete
ou mesmo em audiência. Todos, juízes, advogados, promotores e
clientes devem ser vistos como membros de um sistema, que JUNTOS
buscam a melhor solução para o conflito social.
1.8 DIREITO SISTÊMICO E O CONSTRUTOR 24 JURÍDICO
É necessário esclarecer que a aplicação do Direito Sistêmico pode

23
GENRO,Tarso. AZEVEDO, André Gomma (Org.) Manual de Mediação Judicial, Brasília/DF:
Ministério da Justiça e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD, p. 13.
24
Entendemos que o termo construtor jurídico é mais adequado que o termo operador
jurídico. Operador remete à ideia de máquina, serviço braç al, estafante e sem participação
viva. Já criador sugere que todos estão criando alternativas, dentro dos limites legais, para
alcançar uma solução ao conflito jurídico, nos colocando como atores ativos e criativos no
sistema judicial.
ocorrer de três formas distintas: mediante uma postura sistêmica -
fenomenológica; realizando intervenções com frases de solução,
exercícios e dinâmicas sistêmicas e através da aplicação das
constelações familiares.
Sami Storch diz que:
(...) a aplicação do Direito Sistêmico para e pelos profissionais do
direito pode se dar de diversas formas. Trata-se de uma ciência dos
relacionamentos, válida para relações humanas, organizacionais e
relações jurídicas em geral, uma vez que toda relação constitui um
sistema ou se constitui dentro de um (...). O estudo dessa ciência
amplia a compreensão sobre as dinâmicas ocultas nos conflitos. Cada
parte no conflito tem motivos para ter se envolvido nele do modo como
fez (seja como agressor, vítima, reivindicador ou devedor), e esses
motivos podem ter raízes profundas, que não dizem respeito à outra
parte no processo, mas sim a passado familiar de cada um, inclusive
de gerações anteriores. 25
Portanto, o Direito Sistêmico pode ser implementado de várias formas
pelos construtores do direito, através de uma abordagem sistêmica por
parte do advogado, mediador, conciliador e também do magistrado.
Inicia-se pela aplicação do Direito Sistêmico pelo advogado, que
denominar-se-á Advocacia Sistêmica.
1.8.1 Advocacia Sistêmica
A advocacia sistêmica é uma nova forma de posicionamento do
advogado em relação ao mercado, constituída através de quatro
perspectivas: proposta de valor sistêmica; relacionamento com foco no
cliente; modelo estratégico consensual; sistema operacional
multiportas.
A proposta de valor sistêmica pode ser compreendida pela adoção de
uma advocacia humanizada e estratégica, possuindo um perfil
pacificador, fazendo uso das várias formas de transformação de

25
STORCH, Sami. Direito sistêmico. Disponível em:
<https://direitosisternico.wordpress.com/2017/04/10/por-que-aprender-direito-sistemico/>.
Acesso em 19 julho de 2017.
conflitos e pensando no conflito de forma positiva e transformadora:
O advogado sistêmico possui um propósito de vida bem definido: ele
acredita e tem paixão por uma advocacia humanizada e estratégica.
Não possui perfil litigante e busca construir seu legado promovendo o
uso das diversas formas de composição de conflitos de interesse como
via principal de acesso à justiça. Dessa forma sua advocacia é única e
se destaca de todas as demais, pois o ser humano é o grande
diferencial. 26
O relacionamento com o cliente é baseado em empatia, escuta ativa,
com o uso de técnicas de comunicação não violenta. É um
relacionamento baseado na igualdade, em que cliente e advogado
assumem suas responsabilidades de forma equilibrada, guiados pelas
Ordens da Ajuda de Bert Hellinger:
Todo ponto de vista é a vista de um ponto, com esse modelo mental o
advogado sistêmico desenvolve habilidades como empatia, apoio,
escuta ativa e comunicação eficaz. Ele atua com o foco do cliente e o
foco nos sistemas. Esse movimento é repetido também com os outros
interessados, ampliando a consciência e visualização do todo. O
advogado sistêmico não se sente maior que seu cliente, ele é um
técnico e um facilitador Ele guia-se pelas Ordens da Ajuda de Bert
Hellinger. 27
Já, o modelo estratégico traduz ao mercado os valores basilares da
Advocacia Sistêmica, que são: advogar de forma estratégica,
humanizada e consensual, ampliando o acesso à justiça com foco nos
novos caminhos para a resolução dos conflitos; ser referência em
Modelo de Negócios dos escritórios que estão transformando a cultura
adversarial em cultura de paz e seguir as Leis Sistêmicas de Bert
Hellinger: Pertencimento, Ordem e Equilíbrio.
O modelo estratégico comunica ao mercado a missão, a visão e os
valores primordiais à Advocacia Sistêmica.

26
ADVOCACIA SISTÊMICA. Disponível em https://www.advocaciasistemica.com.br/. Acesso em
15 de julho de 2017.
27
ADVOCACIA SISTÊMICA. Disponível em https://www.advocaciasistemica.com.br/.
Acesso em 15 de julho de 2017.
Missão: Advogar de forma estratégica, humanizada e consensual
ampliando o acesso à justiça com foco nos novos caminhos para a
resolução dos conflitos.
Visão: Ser referência em Modelo de Negócios dos escritórios que
estão transformando a cultura adversarial em cultura de paz.
Valores: Seguimos as Leis Sistêmicas de Bert Hellinger
Pertencimento, Ordem e Equilíbrio. 28
O sistema operacional multiportas conduz o direcionamento aos
métodos adequados de resolução de conflitos, economizando tempo e
dinheiro, tanto para os tribunais, quanto para os participantes ou
litigantes:
O modo, as etapas e a viabilização do Sistema Multiportas na
advocacia. Como, quando e onde incluir as constelações sistêmicas, a
mediação e a negociação no atendimento ao cliente. A consultoria
jurídica e a observação de contextos, padrões e conexões
apresentadas sob a perspectiva do cliente e interessados. O advogado
como técnico e sua atuação diante do conflito e as possibilidades
jurídicas e principalmente preventivas. O Sistema Operacional define
os diversos modos de conduzir a Advocacia Sistêmica. 29
Munido dessa nova forma de perceber seu papel no sistema, o
advogado, não mais como um fomentador do conflito, mas sim como
um pacificador-empático, adota uma postura respeitosa, sistêmica e
fenomenológica, levando em conta as três leis inconscientes que regem
todos os sistemas vivos, no exercício da advocacia.
1.8.2 A OAB e as Comissões de Direito Sistêmico
Com o objetivo de difundir o uso das constelações sistêmicas para
reduzir a judicialização, foi criada em abril de 2017, pela Ordem dos
Advogados Seccional de Santa Catarina, a primeira Comissão de
Direito Sistêmico do Brasil.

28
ADVOCACIA SISTÊMICA. Disponível em https://www.advocadasistemica.com.br/, Acesso em
15 de julho de 2017.
29
ADVOCACIA SISTÊMICA. Disponível em https://www.advocaciasistemica.com.br/. Acesso em
15 de julho de 2017.
A Comissão fomenta o uso das constelações familiares no campo do
Direito e tem como Presidente a advogada Eunice Schlieck,
vanguardista no uso da postura sistêmica no exercício da advocacia.
O método de Bert Hellinger é uma nova forma de atuação do advogado,
pois ao olharmos para a demanda judicial sob a perspectiva sistêmica,
possibilita-se ao advogado desenvolver melhores acordos e contratos,
além de atender demandas de forma mais efetiva e evitar a
judicialização dos casos, promovendo acordos que preservem as
relações humanas.
A Comissão de Direito Sistêmico atua promovendo eventos de forma
multidisciplinar e apoiando os escritórios que tenham interesse em
desenvolver a prática da advocacia sistêmica, de forma dinâmica e
fenomenológica, como é o caso do Simpósio de Direito Sistêmico,
ocorrido em 2 de agosto de 2017.
O evento proporcionará a todos, conhecimento sobre o movimento que
acontece no universo jurídico, desde que o magistrado Sami Storch
passou a aplicar as constelações sistêmicas para solucionar os
conflitos. Bem como buscará expor e abrir para debate a inserção das
leis sistêmicas na prática da advocacia nos seus mais diversos ramos.
“Vamos apresentar esse novo olhar ao Direito, a partir da apreciação
das leis sistêmicas que, segundo o alemão Bert Hellinger, quando
respeitadas promovem a paz nos relacionamentos. Além disso, será
demonstrada a prática das constelações sistêmicas no universo
jurídico. 30
Trata-se de um movimento em expansão e, conscientes da importância
da aplicação das leis sistêmicas enquanto método de prevenção e
solução de conflitos, a OAB - Subseção de Balneário Camboriú e de
Itajaí, municípios catarinenses, criaram a Comissão de Direito
Sistêmico, sendo a da Subseção de Itajaí presidida pela Advogada
Maria Fernanda G. Girardi, a qual também já atua na difusão do uso
do Direito Sistêmico na região do Vale do Itajaí, através da promoção

30
OAB NOTÍCIAS. Comissão de Direito Sistêmico promove simpósio no dia 2 de agosto.
http://www.oab-sc.org.br/noticias/comissao-direito-sistemico-promove-simposio-no-dia-2-
agosto/14304. Acesso em 20 de julho de 2017.
de eventos.
Outras subseções estão se movimentando para a criação de comissões
e difusão do movimento sistêmico, o que é de suma importância.
1.8.3 As Constelações Familiares e o Poder Judiciário
As constelações familiares entraram no campo do Direito, através do
juiz Sami Storch, que iniciou seus estudos nessa área no ano de 2004,
quando teve seu primeiro contato com a terapia das constelações
familiares e percebeu que, além de ser uma terapia altamente eficaz na
solução de questões pessoais, o conhecimento desse método
apresentava um potencial imenso para utilização na área jurídica:
Juiz de Direito do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia, vislumbrou
na constelação um instrumento a mais para auxiliá-lo nos julgamentos
dos seus processos e na condução de suas audiências, passando a
verificar que as partes quando confrontadas com a verdade, com o que
está oculto e com o que veio antes do conflito, passavam de uma
postura litigante a uma posição consensual, com isso, o Juiz atuava
como um conciliador e mediador em suas demandas judiciais, gerando
sentenças pacificadoras. 31
Quando se tornou juiz, Sami Storch já fazia formação em constelações
familiares e como as leis sistêmicas se aplicam as nossas relações,
percebeu que poderia fazer uso das mesmas, para auxiliá-lo em seu
mister de juiz:
Quando me tornei juiz, já estava fazendo a formação em constelações
e logo percebi como na prática o conhecimento das leis sistêmicas
auxilia na condução dos processos, a se posicionar de maneira a
produzir mais conciliações. Por isso, passei a aplicar alguns
princípios nas audiências. Dizendo algumas frases, pedindo que as
pessoas fechassem os olhos e se imaginassem olhando para a outra
pessoa e dizendo frases de reconhecimento. 32

31
MENDES, Ana Tarna dos Santos, e LIMA, Gabriela Nascimento. O que vem a ser Direito
Sistêmico, https://jus.com.br/artigos/54930/o-que-vem-a-ser-direito-sistemico. Acesso em
16 de julho de 2017.
32
RIBEIRO, Mariana. Como o juiz Sami Storch conseguiu transformar seu interesse pessoal no
método da constelação familiar para conseguir mais acordos na Vara da Família em Castro
A primeira vez, que utilizou as constelações familiares, foi durante a
disputa pela guarda de uma menina de quatro anos, isso em 2010,
quando trabalhava em Palmeiras (a 450 km de Salvador). No caso em
questão, mãe e avó queriam a responsabilidade e trocavam acusações
sérias. Sami Storch percebeu que o caso não poderia ser solucionado
apenas com uma decisão sobre a guarda da menina, já que qualquer
que fosse a decisão, permaneceria o drama e o sofrimento da menor ,
causado pela disputa entre mãe e avó.
No dia da audiência, levou consigo um kit de bonecos, que utiliza para
a prática da terapia de constelações familiares, no atendimento
individual e, quando chamou a menina para ser ouvida, colocou os
bonecos em cima da mesa, pedindo para que ela posicionasse os
brinquedos e montasse a história da família, mostrando quais bonecos
representava cada membro familiar.
Perguntou, então, onde a menina se sentia melhor, o que acontecia
quando se aproximava da mãe ou da avó e outros personagens da
família. E ela pôde expressar que se sentia melhor com a mãe, ainda
que apresentasse um carinho grande pela avó e que ficasse bem com
as duas.
Desta forma, a mãe, a avó e os advogados viram a verdade dos fatos
naquela dinâmica. Anteriormente, outro juiz tinha tirado a guarda da
mãe, mas quando a menina se expressou pela constelação, o desejo da
infante ficou muito claro para todos, colaborando para a resolução do
caso.
A Constelação Familiar tem o poder de revelar o que está oculto ou
aquilo que não se quer ver ou perceber Dessa forma é possível a
sensibilização das partes envolvidas em um conflito, da dimensão
anímica da questão, o que possibilita, na maioria dos casos, a obtenção
de uma decisão justa e verdadeira:
O direito sistêmico se propõe a encontrar a verdadeira solução. Essa
solução não poderá ser nunca para apenas uma das partes. Ela sempre

Alves, na Bahia Disponível em <http://epoca.globo. com/vida/noticia/2014/12/consegui-b100-de-


conciliacoesb-usando-uma-tecnica- -terapeutica-alema-afirma-juiz-baiano.html> Acesso em 20 de
julho de 2017.
precisará abranger todo o sistema envolvido no conflito, porque na
esfera judicial — e às vezes também fora dela - basta uma pessoa
querer para que duas ou mais tenham que brigar Se uma das partes
não está bem, todos os que com ela se relacionam poderão sofrer as
consequências disso.
Isso porque, na prática, mesmo tendo as leis positivadas como
referência, as pessoas nem sempre se guiam por elas em suas relações.
Os conflitos entre grupos, pessoas ou internamente em cada indivíduo
são provocados em geral por causas mais profundas do que um mero
desentendimento pontual, e os autos de um processo judicial
dificilmente refletem essa realidade complexa. Nesses casos, uma
solução simplista imposta por uma lei ou por uma sentença judicial
pode até trazer algum alívio momentâneo, uma trégua na relação
conflituosa, mas às vezes não é capaz de solucionar verdadeiramente
a questão, de trazer paz às pessoas. 33
Veja-se em uma ação de divórcio, onde a solução jurídica relativa aos
filhos menores pode simplesmente definir qual dos pais ficará com a
guarda, como será o regime de visitas e qual será o valor da pensão.
Porém é uma decisão judicial imposta e poderá não haver paz e
equilíbrio nessa família, se os pais continuarem em conflito.
Independentemente do valor da pensão ou de quem será o guardi ão, os
filhos crescerão como se eles mesmos fossem os alvos dos ataques de
ambos os pais.
Na perspectiva das constelações familiares, uma ofensa do pai contra
a mãe, ou da mãe contra o pai, é sentida pelos filhos como se estes
fossem as vítimas do ataque, mesmo que não se deem conta disso, pois
sistemicamente os filhos são profundamente vinculados a ambos os
pais biológicos. São constituídos por eles, por meio deles receberam a
vida.
O filho não existe sem o pai ou sem a mãe e, seja qual for o destino
que os filhos construírem para si, será uma sequência da história dos

33
STORCH, Sami. O que é Direito Sistêmico. Disponível em
<http://direitosistemico.com.br/pt-services/o-que-e-direito-sistemico/>. Acesso em 16 de
julho de 2017.
pais. Assim, mesmo que o filho manifeste uma rejeição ao pai - porque
este abandonou a família ou porque não paga pensão, por exemplo -
toda essa rejeição se volta contra ele mesmo, inconscientemente.
Qualquer ofensa ou julgamento de um dos pais contra o outro alimenta
essa dinâmica, prejudicial sobretudo aos filhos. O mesmo ocorre
quando o juiz toma o partido de um dos pais contra o outro, reforçando
o conflito interno na criança.
Para que se possa ter uma solução sistêmica e consequentemente paz
para este núcleo familiar, é necessário excluir os filhos de qualquer
conflito existente entre os pais, para que os filhos possam sentir a
presença harmônica do pai e da mãe em suas vidas.
Cabe ao magistrado, antes de sentenciar, considerar essa realidade e
ter um olhar terno e isento de julgamentos pessoais em relação a todos
que compõem esse sistema em desequilíbrio. Esta postura do juiz já
estará contribuindo para o equilíbrio do sistema e no caso d a
necessidade de uma decisão impositiva ser tomada, será ela mais bem
recebida pelos envolvidos, pois todos sentirão que foram vistos e
considerados pelo juiz.
Esta aproximação entre o Direito e as constelações é feita com ambos
os litigantes de um processo ou com apenas uma das partes, onde a
constelação é utilizada para verificar a verdadeira razão de seu
comportamento ou da parte adversa e qual a melhor solução para o
caso, ou seja, em que momento e qual destas leis descritas acima foram
quebradas, gerando um desequilíbrio de difícil solução para todo o
sistema.
O uso pode ainda ser feito em uma dinâmica individual ou em grupo.
Sami Storch ficou conhecido pelo uso das representações em grupos,
mas nada impede ou afeta a eficácia do método, se aplicada
individualmente.
1.8.4 Projetos de Constelação Familiar Implementados pelo Poder
Judiciário
Pode-se afirmar com segurança que o método das constelações
familiares está se expandido pelo Brasil, pois atualmente pelo menos
12 estados brasileiros (Goiás, São Paulo, Rondônia, Bahia, Mato
Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa
Catarina, Alagoas e Amapá) e o Distrito Federal já fazem uso da
dinâmica da “Constelação Familiar’’ para ajudar a solucionar conflitos
no judiciário brasileiro, medida esta em conformidade com a
Resolução n° 125 do Conselho Nacional de Justiça, que estimula
práticas que proporcionam tratamento adequado dos conflitos de
interesse do Poder Judiciário, sendo utilizada como reforço antes das
tentativas de conciliação em vários estados:
A intenção da utilização da técnica criada pelo psicólogo alemão Bert
Hellinger no Judiciário é buscar esclarecer para as partes o que há
por trás do conflito que gerou o processo judicial. Os conflitos levados
para uma sessão de constelação, em geral, versam sobre questões de
origem familiar como violência doméstica, endividamento, guarda de
filhos, divórcios litigiosos, inventário, adoção e abandono. Um
terapeuta especializado comanda a sessão de constelação. Na capital
federal, a técnica vem sendo aplicada dias antes das tentativas de
acordo em seis unidades do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e
dos Territórios (TJDFT), como no Centro de Conciliação e Solução de
Conflitos (Cejusc) Superendividados, onde a servidora aposentada
Heloísa (nome fictício), 65 anos, foi encaminhada há um ano, para
saldar uma dívida que superava seu patrimônio. 34
Alguns projetos merecem destaque, como o do precursor juiz Sami
Storch, junto à 2 a Vara de Família de Itabuna/BA, chegando a atingir
100% de acordos em conflitos familiares ao utilizar a técnica antes das
audiências de conciliação:
Um dos primeiros a trazer a prática para o Judiciário, o juiz Sami
Storch, da 2 a Vara de Família de Itabuna/ BA, afirmou ter conseguido
um índice de 100% de acordos em conflitos familiares ao utilizar a
técnica antes das audiências de conciliação. Na época, em 2012, a
técnica foi aplicada aos cidadãos do município de Castro Alves, a 191
quilômetros de Salvador Das 90 audiências nas quais pelo menos uma

34
PORTAL CNJ. Constelação Familiar ajuda a humanizar práticas de conciliação no Judiciário.
Disponível em < http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/83766-constelacao-familiar-ajuda-humanizar-
praticas-de-conciliacao-no-judiciario-2>. Acesso em 19 de julho de 2017.
das partes participou da vivência de constelações, o índice de
conciliação foi de 91%. Nos processos em que ambas as partes
participaram da vivência de constelações, o resultado foi 100%
positivo. “Já nas simples audiências de conciliação, sem constelação,
o índice foi de 73%”, comparou. Segundo ele, o próximo passo, em
Itabuna, será a constelação em processos de inventário, "Eles
costumam ser processos demorados, que têm carga emocional
envolvida de vários entes familiares. A técnica já foi aplicada em
alguns processos e conseguiu reaproximar herdeiros. Deveremos
incluir mais esse tema”, afirmou o magistrado. 35
Na comarca de Goiânia, merece destaque o Projeto Mediação Familiar
do 3 o Centro Judiciário de Soluções de Conflitos e Cidadania, que
rendeu para o Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO) o primeiro lugar
no V Prêmio Conciliar é Legal, promovido pelo CNJ:
Em Goiás, o Projeto Mediação Familiar, do 3 o Centro judiciário de
Soluções de Conflitos e Cidadania da comarca de Goiânia, rendeu
para o Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO) o primei ro lugar no V
Prêmio Conciliar é Legal, promovido pelo CNJ. A novidade
apresentada no projeto era exatamente a utilização da técnica da
constelação nas sessões de mediação. De acordo com o juiz Paulo
César Alves das Neves, coordenador do Núcleo Permanente de
Métodos Consensuais de Solução de Conflitos do tribunal e
idealizador do projeto, o índice de solução de conflitos com auxílio da
técnica é de aproximadamente 94% das demandas. 36
No Estado do Mato Grosso, Jaqueline Cherulli, juíza da 3 a Vara
Especializada de Família de Várzea Grande, já implementa o uso das
constelações familiares em questões envolvendo direito de família.
No Estado de Santa Catarina, a juíza Vânia Pertemann, junto ao Fórum
da UFSC, na Comarca de Florianópolis, é precursora no uso das

35
PORTAL CNJ. Constelação Familiar ajuda a humanizar práticas de conciliação no Judiciário.
Disponível em < http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/83766-constela- cao-familiar-ajuda-humanizar-
praticas-de-conciliacao-no-judiciario-2>. Acesso em 19 de julho de 2017.
36
ANDREOLA, Neolisa. Constelação familiar é utilizada como mediação no Judiciário de MT.
Disponível em <http://circuitomt.com.br/editorias/cidades/ 72834-constelacao-familiar-e-utilizada-
como-mediacao-no-judiciario-de-m.html>. Acesso em 21 de julho de 2017.
constelações familiares no projeto “Conversas de Família, onde são
utilizadas ferramentas de mediação, psicologia, filosofia, constelações
familiares e comunicação não-violenta para propiciar a pacificação das
relações pessoais, interpessoais, familiares, conjugais, e parentais,
assim como para estimular a restauração dos vínculos familiares com
a resolução dos conflitos.
Nesse projeto, os jurisdicionados são convidados a participar e, se
assim o quiserem, constelar seus temas nas oficinas que são
ministradas por pessoal altamente qualificado. Os resultados destas
oficinas são relevantes: 90% de conciliação e a satisfação dos
jurisdicionados com a solução que eles próprios encontraram para o
conflito. 37
No Distrito Federal, através do Projeto Constelar e Concili ar, o
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios -TJDFT
implementou a técnica das constelações familiares para a resolução de
conflitos:
Por meio do Projeto Constelar e Conciliar, o Tribunal de Justiça do
Distrito Federal e dos Territórios - TJDFT começa a usar a técnica
das Constelações Familiares para a resolução de conflitos. Já
participam do projeto a 1 a Vara Criminal de Brasília; a Vara Cível,
de Família, Órfãos e Sucessões do Núcleo Bandeirante; os Centros
Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania - CEJUSCs de
Brasília e de Taguatinga, e o CEJUSC/Superendividados. O projeto é
supervisionado pelas juízas Luciana Yuki, Magáli Gomes, Rachel
Adjunto e Ana Claudia Loiola. 38
Fica evidente a permeabilidade do método das constelações famil iares
no Judiciário pátrio. Mesmo que ainda se esteja no início de um longo
processo de construção de uma cultura pacífica de solução de conflitos,

37
SALA DE IMPRENSA DO TJSC. Disponível em http://portal.tjsc.jus. br/web/sala-de-
imprensa/noticias/visualizar/-/asset_publisher/l22DU7e-
vsBM8/content/multidisciplinaridade-faz-projeto-%60conversa-de-familia%C2%BF-ter-
baixa-recidiva-em-acoes;jsessionid=A954CB5BE9 I F7D- 6F6B3CB488C347007C.
Acessado em 26 de julho de 2017.
38
TJDFT NUPECON. TJDFT começa a usar constelações familiares na resolução de conflitos.
http://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/notidas/2016/fevereiro/tjdft-comeca-a-usar-
constelacoes-familiares-na-resolucao-de-conflitos. Acesso em 20 de julho de 2017.
cada passo é um passo sagrado e no campo das constelações,
vislumbra- se um belo movimento de abertura e recepção a essa nova
forma de perceber os conflitos.
Sempre, faz-se necessário ver além do aparente, buscar soluções
construtivas e trabalhar como uma grande equipe, pois todos nós,
construtores do Direito, compomos um sistema, e cada um de nós é
peça chave para que o movimento que promove a JUSTIÇA, ocorra
com respeito à ordem, à hierarquia e ao equilíbrio, enfim, de forma
harmoniosa.

CAPÍTULO 2
APLICAÇÃO DAS LEIS SISTÊMICAS AO DIREITO DE
FAMÍLIA

2.1 A TEORIA DE BERT HELLINGER NA CONSTRUÇÃO DE


UM DIREITO SISTÊMICO
A ideia primeva de Bert Hellinger é que não basta amar e ser amado,
ou seja, o amor não é a solução para tudo e, ao contrário, pode ser
prejudicial se não estiver de acordo com leis ou ordens que lhe
precedem. Em outras palavras, toda a construção parte do pressuposto
que o amor, para ser benfazejo e construtivo, deve, obrigatoriamente,
submeter-se a determinadas leis.
São pontos fundamentais da teoria de Bert Hellinger, que trata das
ordens do amor: a necessidade de pertencer, a necessidade de se
estabelecer uma hierarquia por ordem de chegada; a necessidade de
preservar o equilíbrio entre o dar e o receber Estas necessidades são
sentidas em todos os relacionamentos humanos.
O pertencimento (ou pertinência) é uma força que liga entre si os
membros do grupo ou sistema e, ao mesmo tempo, exclui os que são
diferentes, lhes negando o direito de participação: "A consciência que
protege a pertinência inibe o mal no interior do grupo, mas suspende
esta inibição com respeito a estranhos”. 39
Com relação à necessidade de hierarquia, Hellinger entende que ela se
orienta pela sequência cronológica do ingresso de uma pessoa no
sistema, 40 ou seja, quem entrou no sistema primeiro, tem precedência
sobre aqueles que entraram depois. E mais, o que aconteceu
primeiramente dentro de um sistema, tem precedência sobre os que
ocorreram posteriormente.
Sobre este ponto, assim exemplifica Hellinger: “Por esta razão, o
primogênito tem precedência sobre o segundo filho e a relação
conjugal tem precedência sobre a relação de paternidade ou
maternidade. Isso vale dentro de um sistema familiar”. 41
Para se tratar da necessidade de equilíbrio, destaca- se que todo
relacionamento encerra a experiência de dar e receber Sentimo -nos
credores (inocentes) quando damos e devedores (culpados) quand o
recebemos ou tomamos, onde o ganho é uma espécie de culpa.
Neste ponto, prossegue o citado autor: 42
A inocência a serviço dessa troca se manifesta sob a forma de uma
agradável sensação de crédito que sobrevêm quando damos em troca
um pouco mais do que recebemos. Sentimo-nos inocentemente
desobrigados e aligeirados quando, tendo tomado tudo o que podia
satisfazer por inteiro às nossas necessidades, retribuímos plenamente.
Para Hellinger, 43 os relacionamentos somente serão bem-sucedidos se

39
HELLINGER, Bert; WEBER, Gunthard; BEAUMONT Hunter. A simetria oculta do
amor: por que o amor faz os relacionamentos darem certo, 6. ed. Tradução de Gilson César
Cardoso de Sousa, São Paulo: Cultrix, 2008. p, 28.
40
“‘Sistema’ significa aqui uma comunidade de pessoas unidas pelo destino , através de
várias gerações". In: HELLINGER, Bert. Ordens do amor: um guia para o trabalho com
constelações familiares. Tradução de Newton de Araújo Queiroz. São Paulo: Cultrix, 2002.
p. 62.
41
HELLINGER, Bert. Ordens do amor: um guia para o trabalho com constelações
familiares. Tradução de Newton de Araújo Queiroz. São Paulo: Cultrix, 2002. p. 25.
42
HELLINGER, Bert; WEBER, Gunthard; BEAUMONT, Hunter: A simetria oculta do
amor: por que o amor faz os relacionamentos darem certo. 6. ed. Tradução de Gilson Cés ar
Cardoso de Sousa. São Paulo: Cultrix, 2008. p. 32.
43
HELLINGER, Bert; WEBER, Gunthard; BEAUMONT, Hunter. A simetria oculta do
amor: por que o amor faz os relacionamentos darem certo. 6. ed. Tradução de Gilson César
Cardoso de Sousa. São Paulo: Cultrix, 2008. p. 25.
houver equilíbrio nessas três necessidades - pertencimento, hierarquia
e equilíbrio - mas podem ser problemáticos e destrutivos quando não
se conseguir
Desta feita, quando nossas atitudes ameaçam ou prejudicam os
relacionamentos (afetivos, conjugais, paterno-filiais, profissionais,
etc.), surge o sentimento de culpa. Quando nossas atitudes confirmam,
privilegiam e solidificam nossos relacionamentos, vivencia-se o
sentimento de inocência.
Ora, a culpa nem sempre se relaciona a coisas ruins ou más, assim
como o sentimento de inocência nem sempre está atrelado ao bem ou
a atitudes boas. A desobediência de uma criança a uma ordem paterna,
certamente lhe causará culpa, porém pode ser indicativo de seu
crescimento/amadurecimento. Uma atitude pode ser benéfica para um
sistema, portanto, gerar sentimento de inocência, e maléfica para
outro, causando, ao mesmo tempo, sentimento de inocência e de culpa.
Complexo.
Por isso, afirma Hellinger, "não importa quanto nos esforcemos para
seguir nossa consciência, sempre sentimos culpa e inocência -
inocência com respeito a uma necessidade, culpa com respeito a outra.
Inocência sem culpa é ilusão”. 44
E mais: cada pessoa possui uma consciência pessoal ou "consciência
sentida”; além desta, cada grupo ou sistema no qual a pessoa está
inserida também possui uma consciência própria (sistêmica),
denominada de "consciência oculta”. Em ambas as espécies de
consciências oscilam os sentimentos de culpa e de inocência.
Nesta senda, para Hellinger, "justamente por seguirmos a consciência
sentida, atentamos contra a consciência oculta; e embora a primeira
nos declare inocentes, a segunda pune este ato como culpa. A oposição
entre estas consciências é a base de toda tragédia”, em especial, a toda
tragédia familiar (doenças graves, suicídios, crimes, acidentes, etc .). 45

44
HELLINGER, Bert; WEBER, Gunthard; BEAUMONT, Hunter. A simetria oculta do
amor: por que o amor faz os relacionamentos darem certo. 6. ed. Tradução de Gilson César
Cardoso de Sousa. São Paulo: Cultrix, 2008. p. 26 -27.
45
HELLINGER, Bert. Ordens do amor: um guia para o trabalho com constelações
Especialmente em relação à família, Hellinger afirma que existe uma
"consciência de clã”, que é "uma força, uma instância que faz com que
todo o sistema familiar busque o equilíbrio e a compensação”. 46
Há relação entre a visão orgânica de Maffesoli e a “consciência de clã
ou sistêmica” de Hellinger, eis que para aquele "a organicidade remete
para o vivente e para as forças que o animam” de modo que “o próprio
da separação, aquilo que se fragmenta é sempre, potencialmente,
mortífero, enquanto que o que vive tende a se reunir, a conjugar
elementos díspares. É quando o ‘conjunto todo se sustenta', que há
vida”. 47
Na sequência demonstrar-se-á a aplicação das leis sistêmicas ao
Direito de Família e sua importância para uma solução harmônica dos
conflitos familiares.
2.2 APLICAÇÃO DAS ORDENS DO AMOR NO DIREITO DE
FAMÍLIA
A família é a base da sociedade e, em razão deste lugar de grande
destaque que possui, ganhou proteção estatal, prevista, expressamente,
no caput do art. 226 da Constituição da República Federativa do Brasil
de 1988.
É ponto pacífico, em toda doutrina e jurisprudência pátria, que os
princípios da dignidade da pessoa humana e da afetividade, dentre
outros, encontram guarida e terreno fértil no atual Direito de Família
brasileiro.
Por dignidade da pessoa humana, entende- se a qualidade intrínseca de
cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e
consideração por parte do Estado e, também, da comunidade, sendo
detentor de um complexo de direitos e deveres fundamentais que
coloque a pessoa a salvo de qualquer ato de cunho degradante e
desumano, garanta-lhe condições existenciais mínimas para uma vida

familiares. Tradução de Newton de Araújo Queiroz. São Paulo: Cultrix, 2002. p, 11.
46
HELLINGER, Bert; HÖVEL, Gabriele. Constelações familiares: o reconhecimento das
ordens do amor. Tradução de Eloísa GiancoIli Tironi e Tsuyuko Jinno-Spelter São Paulo:
Cultrix, 2007. p. 82.
47
MAFFESOLI, Michel. Elogio da razão sensível. 3. ed. Tradução de Albert Christophe
Migueis Stuckenbruck. Petrópolis: Vozes, 2005. p. 65.
saudável, promovendo “a participação ativa e corresponsável” nos
destinos da própria existência e da vida em comunhão com os demais
seres humanos. 48
Em razão da existência do princípio fundamental da dignidade da
pessoa humana, afirma-se ser ela o bem supremo da ordem jurídica, o
seu fundamento e o seu fim. O Estado existe em função das pessoas; a
pessoa é sujeito do direito e nunca seu objeto. A dignidade da pessoa
humana contempla a concepção de pessoa como um ser ético-espiritual
que aspira determinar-se e se desenvolver em liberdade. 49
Já a afetividade é o princípio que sustenta todo o atual Direito de
Família pátrio no tocante à estabilidade das relações socioafetivas e à
comunhão de vida, colocando em plano inferior, considerações de
caráter patrimonial ou biológico. 50
O afeto não é apenas um vínculo que envolve os membros de uma
família, é mais do que isso. Trata-se de um viés externo que clama por
mais humanidade em cada família, compondo a "família universal",
cujo lar é a aldeia global, mas cuja origem sempre será, como sempre
foi, a família. 51
O amor — a afetividade — tem muitas faces e aspectos e, nessa
multifária complexidade, existe apenas a certeza inafastável de que ele
se trata de uma força elementar, propulsora de todas as nossas relações
de vida. 52
Embora nos tempos atuais seja possível observar um certo movimento
da maioria dos construtores do Direito (advogados, juízes, promotores
de justiça, assistentes sociais, psicólogos forenses, dentre outros) em
não medir esforços para buscar uma solução amigável às contendas
que envolvam Direito de Família - nas quais o amor (ou sua falta) é o

48
SARLET, Ingo Wolfgang. Dimensões da Dignidade: ensaios de Filosofia do Direito e
Direito Constitucional. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009, p. 30.
49
BELTRÃO, Silvio Romero. Direitos da Personalidade. São Paulo: Atlas, 2005. p, 23.
50
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 10. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2015. p. 49.
51
BARROS, Sérgio Resende. Direitos humanos da família: dos fundamentais aos
operacionais. São Paulo: Imago, 2003, p. 142.
52
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil.
São Paulo: Saraiva, 2014. p. 67.
substrato -, é fato que, não raro, a sentença judicial transitada em
julgado, tenha poder para extinguir o processo, mas não o litígio. Este
prossegue.
A consequência de um litígio familiarista que não foi devidamente
“pulverizado, tratado e resolvido” nos autos de uma ação judicial, é o
ajuizamento de várias outras ações, envolvendo as mesmas partes, ou
seja, a insatisfação do jurisdicionado em relação à tutela jurisdicional
o leva à reincidência. E reincidência, por sua vez, corrobora para o
abarrotamento de ações judiciais no Poder Judiciário.
Assim, para se interpretar o Direito de Família com rigorosa
observância ao princípio da afetividade, deve- se, acima de tudo,
compreender as partes envolvidas na contenda judicial, respeitando
suas diferenças e valorizando os laços de afeto que unem seus
membros.
A compreensão pelos construtores do direito dos dramas familiares
vivenciados pelas pessoas, extrapola a simples noção de “entender ou
defender um ponto de vista”. Significa perceber, além do aparente,
decifrar o que está oculto em quase todos os litígios famil iares.
Exemplificativamente, pessoas que chegam a litigar no Poder
judiciário o término de um casamento, a partilha de bens, a guarda dos
filhos, dentre outros, geralmente não estão “brigando” por estes
direitos, mas sim, no âmago, o que os move são as questões da alma,
“invisíveis” (e, portanto, totalmente desprezadas) a quem não tem uma
visão sistêmica tanto da família, como do próprio Direito de Família.
Para comprovar a afirmativa acima, indaga-se: por qual motivo uma
sentença judicial que fixa a guarda do filho menor em favor de um dos
genitores, na maioria das vezes, não traz paz às partes litigantes?
Porque a discussão sobre a guarda do filho é o efeito ou a consequência
do litígio, mas não a causa. O mesmo pode ser verificado em relação a
outras questões de direito de família.
Neste ponto, o estudo e a consequente aplicação por parte dos
construtores do direito, da teoria de Bert Hellinger sobre as “Ordens
do Amor”, mostra-se como mais um instrumento eficaz na busca de
uma solução concreta para litígios que, atualmente, tramitam nas Varas
de Famílias brasileiras, proporcionando paz e qualidade de vida aos
jurisdicionados que, satisfeitos e felizes, evitarão casos de
reincidência.
A família ocupa lugar de grande destaque na teoria de Hellinger Para
ele, “não existe nada mais forte do que a família”, isto porque a família
“dá vida ao indivíduo", e dela provém todas as possibilidades e
limitações dos seus membros. Graças à família, a pessoa nasce no seio
de um certo povo e região e fica ligada a determinados destinos, tendo
que arcar com eles. 53
Nos tempos atuais, pode-se afirmar que a família é o habitat natural
do Amor, se não é, deveria ser! Pois, de forma bem elementar, a união
de duas pessoas, que se amam, forma uma família e, naturalmente, esse
amor gerará frutos, os filhos, que também se banharão no amor que
existe no seio familiar Parece tudo tão simples. Mas não é!
Na visão de Hellinger, o fato de duas pessoas se amarem e, em razão
deste nobre sentimento constituírem uma família, por si só, não lhes
deixa a salvo de uma possível dissolução conjugal. Isto porque, além
de ser benéfica a existência de amor para a solidificação de uma união
entre duas pessoas, é imprescindível que elas (e os demais membros
da família) obedeçam às ordens ou leis do amor para que encontrem,
na família, paz e realização pessoal.
Os litígios que envolvem questões de família e que abarrotam o Poder
Judiciário na atualidade poderiam, facilmente, ter soluções amigáveis
e “mais definitivas” (menos reincidência) se pudessem ser constelados.
Isto porque, na maioria dos casos, uma pequena modificação no padrão
familiar, proposta pelo constelador/facilitador tem o condão de colocar
todo o sistema novamente em ordem em relação às leis do amor
Acerca da prática das constelações familiares, Pimont 54 assevera que
“o sistema judiciário brasileiro está aplicando essa técnica que vêm

53
HELLINGER, Bert; HÖVEL, Gabriele. Constelações familiares: o reconhecimento das
ordens do amor. Tradução de Eloísa Giancolli Tironi e Tsuyuko Jinno-Spelter. São Paulo:
Cultrix, 2007. p. 81.
54
PIMONT Paulo. Todo conflito começa por um grande amor: a aplicação da constelação familiar
no Direito Sistêmico. Disponível em: https://iperoxo.com/2017/04/13/todo-conflito-comeca-por-um-
grande-amor-a-aplicacao-da- constelacao-familiar-no-direito-sistemico/. Acesso em julho/2017.
trazendo soluções para conflitos importantes, diminuindo
drasticamente a reincidência da criminalidade e aumentando o índice
de acordos”.
Todavia, nem todas as pessoas (e aqui se incluem também os
jurisdicionados) consentirão em se submeter a uma constelação
familiar Porém, se os construtores do Direito agirem em consonância
com às máximas do Direito Sistêmico, certamente contribuirão de
forma direta para que os litigantes, por si sós, encontrem a solução
mais adequada e definitiva para seus conflitos familiares.
2.3 INSTITUTOS DO DIREITO DE FAMÍLIA SOB A ÓTICA
DO DIREITO SISTÊMICO
2.3.1 A União Conjugal
Atualmente, sob os auspícios da Constituição da República Federativa
do Brasil de 1988, a união conjugal origina uma espécie de família
que, diante de sua tamanha importância para o ser humano, a sociedade
e o próprio Estado, recebem dele ampla proteção jurídica.
Por união conjugal se entende a ligação entre duas pessoas pelos laços
do casamento civil e da união estável. Em ambos os institutos legais,
a legislação e doutrina pátria fazem alusão à existência de uma
verdadeira comunhão de vida entre os cônjuges e companheiros, ou
seja, trata-se de uma união fisiopsíquica (de “corpo e alma”, expressão
antiga, pois nascida do Direito Canônico, porém “atual” nos dias de
hoje).
A base da família, na visão de Hellinger, 55 “é a atração sexual entre
um homem e uma mulher”.
Para ele, o vínculo entre parceiros “exige que o homem deseje a mulher
como mulher e que a mulher deseje o homem como homem". Isto
porque o vínculo não se estreita se os cônjuges ou companheiros se
aproximam por outros motivos como: passatempo, provedores, procura

55
HELLINGER, Bert; WEBER, Gunthard; BEAUMONT, Hunter. A simetria oculta do
amor: por que o amor faz os relacionamentos darem certo. 6. ed. Tradução de Gilson César
Cardoso de Sousa. São Paulo: Cultrix, 2008. p. 47.
de um “pai" ou de uma “mãe”, dentre outros. 56
Não é a escolha dos parceiros e nem a intenção de formar uma família
que a criam ou estabelecem, mas sim a intimidade sexual. A própria
relação sexual constitui o maior ato humano possível. Nenhum ato
oferece tantas recompensas ou acarreta tantos riscos quanto a união
com o outro no amor As “outras atividades humanas parecem mero
prelúdio, repetição, alívio ou consequência - uma imitação precária”
da relação sexual. 57
Somente a relação sexual faz o homem e a mulher serem reconhecidos
como um casal e “somente este ato pode torná-los pais”, por isso,
depois que um casal se liga pela intimidade sexual, uma eventual
separação não acontecerá sem culpa ou sofrimento. 58
Pela consumação do amor, na visão de Hellinger: 59
(...) cria-se, entre o homem e mulher um vínculo real. Este, por seus
efeitos, é ainda mais forte do que o vínculo real dos filhos aos pais. E
absolutamente o mais forte dos vínculos. Separar-se dos pais não traz
tanta dor e culpa quanto separar-se de um parceiro a quem estava
ligado. Isso mostra pelos efeitos.
Assim, na dinâmica sistêmica do relacionamento conjugal, tanto o
homem como a mulher, ao formarem um casal, devem renunciar ao
seus primeiros e mais profundos amores: seus pais. E mais, cada
parceiro deve trazer sua individualidade para a relação conjugal e nesta
relação, necessariamente, deverá perdê-la para algo maior, para a
"nova” família. Nascerá, assim, uma consciência maior, não

56
HELLINGER, Bert; WEBER, Gunthard; BEAUMONT, Hunter. A simetria oculta do amor: por
que o amor faz os relacionamentos darem certo. 6. ed. Tradução de Gilson César Cardoso de Sousa.
São Paulo: Cultrix, 2008. p. 57.
57
HELLINGER, Bert; WEBER, Gunthard; BEAUMONT, Hunter. A simetria oculta do amor: por
que o amor faz os relacionamentos darem certo. 6. ed. Tradução de Gilson César Cardoso de Sousa.
São Paulo: Cultrix, 2008. p. 47.
58
HELLINGER, Bert; WEBER, Gunthard; BEAUMONT, Hunter. A simetria oculta do amor: por
que o amor faz os relacionamentos darem certo. 6. ed. Tradução de Gilson César Cardoso de Sousa.
São Paulo: Cultrix, 2008. p. 48.
59
HELLINGER Bert. Ordens do amor: um guia para o trabalho com constelações familiares.
Tradução de Newton de Araújo Queiroz. São Paulo: Cultrix, 2002. p. 91.
individual, mas coletiva. 60
Formada a família (seja pelo casamento ou por meio da união estável),
juridicamente falando, surgem inúmeros deveres que o casal deverá
observar, previstos, respectivamente, nos artigos 1.566 e 1.724 do
Código Civil brasileiro, que são os seguintes: fidelidade recíproca,
assistência mútua, guarda, sustento e educação dos filhos, respeito e
consideração. No instituto do casamento há, ainda, o dever de
coabitação.
Muitas vezes, a bagagem de vida de cada cônjuge ou companheiro
pode dificultar o cumprimento dos deveres conjugais acima elencados,
abrindo campo para o surgimento de desordens no seio familiar
Neste sentido, para o Direito Sistêmico, caso as tradições, costumes,
padrões, modelos de papéis femininos e masculinos que cada um dos
cônjuges traz de suas famílias de origem gerem dificuldades no
relacionamento conjugal, devem ser colocados de lado em prol da
consciência familiar.
O equilíbrio, em uma relação de casal, está atrelado, principalmente, à
lei da compensação entre o dar e o receber (ou tomar). Quando uma
mulher dá algo ao homem e com isso mostra seu amor, ele fica sob
pressão até que também dê algo a ela em retorno. Porém, em razão do
amor que sente por ela, dar-lhe-á um pouco mais do que dela recebeu.
Agora é ela que fica sob pressão, pelo que recebeu do marido. Precisa
compensá-lo dando-lhe um pouco mais do que recebeu. E assim
prossegue de forma salutar a lei do equilíbrio sistêmico entre
consciência e compensação na órbita conjugal. 61
Se um dos parceiros recebe sem dar, o outro logo perderá o desejo de
dar mais. Por outro lado, se um dos parceiros dá sem receber, o outro
parceiro logo perderá o desejo de receber Assim, os laços conjugais
podem se romper quando um dos parceiros dá mais do que o outro pode
ou quer receber, pois “o amor limita o dar segundo a capacidade de

60
HELLINGER, Bert; WEBER, Gunthard; BEAUMONT, Hunter. A simetria oculta do
amor: por que o amor fez os relacionamentos darem certo. 6. ed. Tradução de Gilson César
Cardoso de Sousa. São Paulo: Cultrix, 2008. p. 60.
61
HELLINGER, Bert. Ordens do amor: um guia para o trabalho com constelações
familiares. Tradução de Newton de Araújo Queiroz. São Paulo: Cultrix, 2002. p. 115.
receber, assim como limita o receber segundo a capacidade de dar". 62
Além disso, na teoria de Hellinger, os pais têm precedência com
relação aos filhos, por conseguinte, o relacionamento do casal tem
prioridade em relação à paternidade. A inversão desta ordem (e de
outras) causa muitos problemas e desconforto na família, porém
"quando a ordem é restaurada, isso gera um sentimento de alívio, de
paz’’. 63
2.3.1 A Dissolução Conjugal
O divórcio é um instituto jurídico hábil a dissolver o vínculo conjugal
ou casamento válido. Na emenda constitucional, datada do ano de
2010, a obtenção do divórcio restou simplificada, passando a ser
totalmente desvinculada ou independente de prévia separação judicial
ou de fato.
De forma judicial ou administrativa, litigiosa ou consensual, direta ou
indireta poderá se dar o divórcio, segundo previsão legal. O mesmo se
diga em relação à dissolução de uma união estável.
Independentemente da modalidade de divórcio ou de dissolução de
união estável, a lei pátria prevê e regulamenta de forma objetiva
questões que lhes são específicas e/ou obrigatórias como: partilha d e
bens, guarda dos filhos menores, direito de visita (melhor dizendo:
direito de convivência familiar), alimentos, sobrenome dos cônjuges,
dentre outros.
Em cada uma destas questões incidem vários dispositivos legais e
tradicionais posicionamentos doutrinários e jurisprudenciais.
Entretanto, a solução definitiva dos ‘‘verdadeiros litígios”
familiaristas (que se encontram no recôndito da consciência individual
ou na consciência familiar/sistêmica) poderá sobrevir mais facilmente
por meio do Direito Sistêmico.

62
HELLINGER, Bert; WEBER, Gunthard; BEAUMONT, Hunter. A simetria oculta do
amor: por que o amor faz os relacionamentos darem certo. 6. ed. Tradução de Gilson César
Cardoso de Sousa. São Paulo: Cultrix, 2008. p. 36.
63
HELLINGER, Bert; HÖVEL, Gabriele. Constelações familiares: o reconhecimento das
ordens do amor. Tradução de Eloísa Giancolli Tironi e Tsuyuko Jinno -Spelter. São Paulo:
Cultrix, 2007. p. 118 e 76.
Isto porque, sob sua ótica, uma das principais consequências da falta
de acatamento das ordens do amor no seio familiar é o divórcio ou a
dissolução da união estável.
Uma ruptura conjugal somente ocorre em razão da desordem que se
estabeleceu no sistema familiar A visão sistêmica desta situação
aponta que as ordens do amor (pertencimento, hierarquia e equilíbrio)
devem ser restabelecidas tanto na tentativa de que a ruptura conjugal
seja evitada ou, se impossível, para que o ex-casal possa seguir a vida,
cada qual sozinho, porém em paz.
Não raro, algumas dissoluções conjugais trazem à tona atos de traição
ou de infidelidade de um dos cônjuges ou companheiros. Todavia, para
Hellinger, ser infiel e romper o relacionamento conjugal são coisas
totalmente diferentes.
Fidelidade conjugal, diferentemente do conceito geral de
exclusividade sexual concebido pelo Direito, na teoria de Hellinger
possui outra conotação. Está “ligada à tarefa que os parceiros têm em
comum, principalmente quando há filhos. É poder contar um com o
outro, ficar juntos e criar os filhos em conjunto”. Para Hellinger , a
fidelidade entre adultos significa: “Respeite-me e prove que posso
confiar em você em nossa vida em comum”. 64
Assim, prossegue o citado autor: 65
Pode ser que durante um relacionamento, ocorra também um
relacionamento significativo com outra pessoa, inclusive sexual. (...).
Se a fidelidade básica e a confiança no parceiro permanecem e essa
outra experiência proporcionar enriquecimento pessoal (...) pode ter
também um aspecto positivo.
Segundo Hellinger, a fidelidade conjugal também pode sair
prejudicada por outros fatos que não importam, necessariamente,
intercurso sexual de um dos cônjuges ou companheiros com terceiros.
Por exemplo, por causa de um vínculo não dissolvido com a família de

64
HELLINGER, Bert; HÖVEL, Gabriele. Constelações familiares: o reconhecimento das ordens do
amor. Tradução de Eloísa Giancolli Tironi e Tsuyuko Jinno-Spelter São Paulo: Cultrix, 2007. p. 102.
65
HELLINGER, Bert; HÖVEL, Gabriele. Constelações familiares: o reconhecimento das ordens do
amor. Tradução de Eloísa Giancolli Tironi e Tsuyuko Jinno-Spelter São Paulo: Cultrix, 2007. p, 103.
origem de um dos cônjuges, a esposa não conseguiu desapegar de seu
pai e procura no marido a figura paterna. O mesmo pode ser dito em
relação ao marido que não conseguiu desapegar da sua mãe. Outra
situação que afeta à fidelidade/infidelidade conjugal diz respeito à
esposa que se comporta como se o marido fosse seu filho e, neste
sentido, procura reeducá-lo. O mesmo se diga em relação ao marido
que trata sua esposa como filha. 66
Como se pode observar, pela visão sistêmica, a infidelidade continua
sendo assunto polêmico, porém muito mais complexo e abrangente,
cujo olhar, além de sensível deve ser neutro, ou seja, isento de qualquer
tipo de julgamento.
Na busca de soluções para os conflitos familiares, a postura de
Hellinger é a seguinte:
Jamais procuro saber quem ou o que poderia ser culpado pelo fato.
Digo a eles que acabou e que agora enfrentem a dor, conseguem
separar-se em paz e resolver de comum acordo o que precisa ser
resolvido. Em seguida, cada um fica livre para o próprio futuro. E
assim que procedo. Isso alivia a todos. 67
Por certo que a maioria das dissoluções conjugais acarreta muita dor
em um ou ambos os cônjuges ou companheiros. Nesta altura, sob o
ponto de vista sistêmico, a raiva que um dos cônjuges sente pelo outro
pode ser um substituto da dor pela perda da pessoa. E “num divórcio,
é muito importante que ambos tenham chorado e sentido esta dor” por
aquilo que correu mal, ao invés de buscarem um culpado. Isto os
libertará e permitirá seguirem a vida em paz. 68
Divorciados, os parceiros se tornam livres para constituírem novas
uniões conjugais. Entretanto, embora não existam relacionamentos
afetivos iguais, deve-se reconhecer que a segunda união possui matizes
desconhecidas em um primeiro relacionamento conjugal. Isto se deve

66
HELLINGER, Bert; HÖVEL, Gabriele. Constelações familiares: o reconhecimento das ordens do
amor. Tradução de Eloísa GiancoIli Tironi e Tsuyuko Jinno-Spelter São Paulo: Cultrix, 2007. p. 103.
67
HELLINGER, Bert. Ordens do amor: um guia para o trabalho com constelações
familiares. Tradução de Newton de Araújo Queiroz. São Paulo: Cultrix, 2002. p. 27.
68
HELLINGER, Bert. Ordens do amor: um guia para o trabalho com constelações
familiares. Tradução de Newton de Araújo Queiroz. São Paulo: Cultrix, 2002. p. 109.
ao fato de que o novo parceiro, Comumente, ressente-se de tudo o que
foi vivenciado pelo outro em seu antigo vínculo conjugal.
Pelo viés sistêmico, o segundo amor ou relacionamento conjugal
somente logrará êxito quando reconhecer e valorizar a existência do
primeiro vínculo, especialmente, quando o novo parceiro compreende,
no fundo da sua alma, que sucede ao parceiro anterior e fica em uma
espécie de "débito" para com ele. 69
A segunda união conjugal, embora não tenha a mesma força e
qualidade da primeira, costuma ser mais feliz e satisfatória. A
densidade do vínculo tende a decrescer em relacionamento que se
sucede, isto porque a culpa e o senso de responsabilidade resultantes
do segundo divórcio geralmente são menores do que os provocados
pelo primeiro. 70
2.3.3 A Situação dos Filhos Menores após a Dissolução Conjugal
Juridicamente falando, desde que o instituto do divórcio foi acolhido
pela legislação pátria, no ano de 1977, a proteção dos filhos menores
sempre foi uma grande preocupação dos legisladores e dos operadores
do direito.
A situação ímpar de formação fisiopsíquica que vivencia a criança ou
o adolescente justifica todo e qualquer zelo dos adultos para lhe
proporcionar, principalmente, proteção, bem-estar e a garantia de
desenvolvimento (físico, mental, emocional, etc.) pleno.
Desta feita, a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988,
o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n°. 8.009/90) e o Código
Civil são relevantes diplomas legais compreendidos como “guardiões”
dos direitos fundamentais da população infanto-juvenil.
Cumpre ponderar que a dissolução conjugal acarreta no filho menor,
na melhor das hipóteses, um sofrimento pela separação dos pais.

69
HELLINGER, Bert; WEBER Gunthard; BEAUMONT, Hunter. A simetria oculta do
amor: por que o amor faz os relacionamentos darem certo. 6. ed. Tradução de Gilson César
Cardoso de Sousa. São Paulo: Cultrix, 2008. p. 57.
70
HELLINGER, Bert; WEBER, Gunthard; BEAUMONT, Hunter. A simetria oculta do
amor: por que o amor faz os relacionamentos darem certo. 6. ed . Tradução de Gilson César
Cardoso de Sousa. São Paulo: Cultrix, 2008. p. 58.
Todavia, infelizmente, não é raro que o filho amargue algo mais do
que o sentimento de afastamento dos genitores. Desrespeito, agressões
mútuas, praticadas entre o casal, discussão sobre guarda, alimentos,
visitas, abandono afetivo da criança ou adolescente são exemplos de
situações que potencializam o sofrimento dos filhos pela ruptura do
casamento ou união estável, prejudicando-os de forma direta.
O Código Civil brasileiro, em seus artigos 1.583 a 1.590, situados no
Capítulo XI do Livro de Direito de Família, denominado “Da proteção
da pessoa dos filhos”, regulamenta de forma veemente a situação dos
filhos em caso de divórcio dos pais. O Estatuto da Criança e do
Adolescente e a Lei de Alienação Parental também estão a serviço
“desta causa”, ou seja: proteger os menores de idade.
Todavia, não obstante o vasto repertório legal, doutrinário e
jurisprudencial pátrio que confere proteção aos direitos dos filhos
menores em caso de ruptura da vida conjugal de seus pais, em alguns
casos a beligerância dos divorciandos é tão alta - especialmente no que
pertine aos direitos dos filhos em relação à guarda,
visitação/convivência familiar e alimentos - que precisa de algo mais
do que a lei para “apaziguar” o inconformismo ou a dor que invadiu
suas almas. Precisam de amor e de ordem.
Não existe nada mais imutável, neste cenário, do que a paternidade e
a maternidade. Uma pessoa poderá trocar de parceiro várias vezes, mas
nunca poderá modificar a filiação advinda destes relacionamentos.
Importa dizer o óbvio: filhos são para sempre. E pertencem a ambos
os pais.
Pimont 71 explica melhor o exposto acima:
Em cada pequena célula do corpo dessa pessoa, existe o pai e existe
a mãe. São trilhões de células existentes no corpo humano, e em cada
uma célula existe o pai e mãe. Podemos olhar para as nossas mãos e
dizer: - Meu pai e minha mãe, estão aqui. Estão em mim. É impossível

71
PIMONT Paulo. Todo conflito começa por um grande amor: a aplicação da constelação
familiar no Direito Sistêmico. Disponível em: https://iperoxo.com/2017/04/13/todo-
conflito-comeca-por-um-grande-amor-a-aplicacao-da-constelacao-familiar-no-direito-
sistemico/. Acesso em julho de 2017 (grifamos).
separá-los de nossa constituição. Uma vez que eles se juntaram e
deram a vida, agora é impossível haver essa separação.
Neste sentido, assim leciona Hellinger 72 sobre a continuidade da
relação pai-filhos em caso de separação conjugal:
Nós nos separamos, mas continuamos sendo seus pais. Pois a relação
de paternidade ou de maternidade é inseparável. Em caso de divórcio,
acontece com frequência que os filhos são confiados a um dos pais e
tirados do outro. Ora, os filhos não podem ser tirados dos pais. Mesmo
após o divórcio, estes mantêm integralmente os seus direitos e deveres
de pais. O que se desfaz é somente a relação de parceria.
Tormentosas e desgastantes são as questões levadas ao Poder
Judiciário que envolvem a guarda dos filhos. Se o conflito interno não
foi resolvido conjuntamente com o conflito aparente, certamente
outras nuances surgirão e afetarão negativamente a própria vida do
filho como, por exemplo, a alienação parental ou o abandono afetivo
do filho por parte de um dos genitores.
Porém, na prática sistêmica de Hellinger a definição de quem ficará
com a guarda dos filhos, depois do divórcio, não é tão difícil de
resolver e deverá estar atrelada a dois relevantes princípios de sua
teoria: primeiro - “Os filhos devem ficar com o cônjuge que mais
valorize o outro neles”; segundo – “Aquele que rompe o
relacionamento não deve ser recompensado com a guarda dos filhos ”. 73
Em síntese, em uma dissolução conjugal, pelo Direito Sistêmico, a
guarda dos filhos ou a fixação da residência destes com um dos
genitores em caso de guarda compartilhada, deverá ficar estabelecida
em favor daquele que mais respeita e honra nos filhos o outro parceiro,
pois "os filhos ficam bem se o pai respeita e honra neles a mãe e a mãe
respeita e honra neles o pai”. 74 Verdade é que os filhos não toleram

72
HELLINGER, Bert, Ordens do amor: um guia para o trabalho com constelações
familiares. Tradução de Newton de Araújo Queiroz. São Paulo: Cultrix, 2002. p. 26.
73
HELLINGER, Bert; WEBER, Gunthard; BEAUMONT, Hunter. A simetria oculta do
amor: por que o amor faz os relacionamentos darem certo. 6. ed. Tradução de Gilson César
Cardoso de Sousa São Paulo: Cultrix, 2008. p. 119.
74
HELLINGER Bert. Ordens do amor: um guia para o trabalho com constelações
familiares. Tradução de Newton de Araújo Queiroz. São Pau lo: Cultrix, 2002. p. 71.
nenhum tipo de depreciação em relação a seus pais.
2.3.2 A Alienação Parental
Nos dias atuais, infelizmente, frequentes são os casos que batem à
porta do Poder Judiciário, envolvendo dissolução conjugal e alienação
parental.
O conceito de alienação parental está expresso no art. 2 o da Lei n°.
12.318 de 26 de agosto de 2010, nos seguintes termos:
Art. 2 º . Considera-se ato de alienação parental a interferência na
formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou
induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a
criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância
para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou
à manutenção de vínculos com este.
Em linhas gerais, a alienação parental é concebida como um ato de
grave violência psicológica contra o filho menor e que, se for praticada
por um dos genitores, denota total abuso do poder familiar ferindo de
morte o dever que cada um tem de proteger o filho.
No parágrafo único, do art. 2 o da Lei de Alienação Parental, estão
dispostos alguns exemplos de atos que caracterizam a alienação.
Dentre eles, citam-se: efetuar campanha de desqualificação da conduta
do genitor no exercício da paternidade ou maternidade; dificultar o
exercício da autoridade parental; dificultar contato de criança ou
adolescente com genitor, dificultar o exercício
do direito regulamentado de convivência familiar, omitir
deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes sobre a
criança ou adolescente, inclusive escolares, médicas e alterações de
endereço; apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares
deste ou contra avós, visando obstar ou dificultar a convivência deles
com a criança ou adolescente; mudar o domicílio para local distante,
sem justificativa, visando a dificultar a convivência da criança ou
adolescente com o outro genitor, com familiares deste ou com avós.
Raiva, mágoa, ódio, ressentimentos, desejo de vingança são alguns dos
sentimentos que possuem os genitores alienadores e que norteiam suas
condutas tão perversas que visam, em última instância, “matar” o amor
que o filho nutre pelo genitor alienado e, consequentemente, gerar
completo afastamento entre o filho e àquele.
Inúmeras são as repercussões da alienação parental nas suas vítimas
(filho e genitor alienado). No filho, alguns sintomas somente irão se
revelar na sua fase adulta, ora se apresentando como uma doença
psicossomática, ora uma crise de ansiedade e posterior depressão, ora
revelando aspectos de agressividade na conduta. Há, ainda, relatos de
que a alienação parental poderá causar no filho alienado depressão
crônica, transtornos de identidade, comportamento hostil, uso de
drogas, alcoolismo, desorganização mental e, até mesmo, suicídio. 75
Diante de tamanha nocividade para as vítimas, especialmente par a os
filhos menores que ainda se encontram em processo de
formação/desenvolvimento fisiopsíquico e, portanto, são
extremamente vulneráveis à prática de alienação parental, a legislação
pátria prevê medidas de combate, previstas no art. 6 o da Lei de
Alienação Parental. Dentre elas, citam-se: advertir o alienador, ampliar
o regime de convivência familiar em favor do genitor alienado,
estipular multa ao alienador, determinar acompanhamento psicológico
e/ou biopsicossocial, alterar a guarda; fixar de forma cautelar o
domicílio do filho menor, suspender o poder familiar.
O magistrado poderá se valer da aplicação das medidas acima de forma
individual ou, ainda, cumulada. A prática forense demonstra que a
cumulação de medidas de combate à alienação parental tem
apresentado resultados mais positivos. Exemplificativamente:
aplicação conjunta de advertência e fixação de multa ao alienador e
tratamento psicológico a ele e, também, ao filho menor.
Pela visão do Direito Sistêmico, não é preciso dizer que o genitor
alienado é, na verdade, excluído da vida do filho pela interferência
negativa e implantação de falsas memórias efetuadas pelo genitor
alienador.
Os excluídos são aqueles que, por algum motivo, foram deixados de

75
WAQUIM, Bruna Barbieri. Alienação parental induzida: aprofundando o estudo da
alienação parental. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2015. p. 75.
lado por um grupo familiar a quem se negou o respeito, ou o direito de
pertinência ou, ainda, uma posição de igualdade com relação aos
demais membros da família. 76
Para Hellinger na família existe uma necessidade (de vínculo e de
compensação) compartilhada por todos os seus membros, que não
tolera a exclusão de nenhum deles. Quando a exclusão ocorre, “o
destino dos excluídos é inconscientemente assumido e continuado por
membros subsequentes da família”. 77
A exclusão ou banimento de um membro do sistema familiar - no caso
de alienação parental, de um dos genitores em relação ao filho menor
- é uma questão muito séria por dois relevantes motivos: primeiro -
cada membro da família tem igual direito de nela pertencer “essa é
uma ordem básica: aqueles que pertencem a um sistema têm o direito
de pertencer a esse sistema e têm o mesmo direito que todos os
outros”; 78 segundo - o que acontece entre o casal (entre os pais) deve
permanecer apenas entre eles; como o vínculo conjugal precede o
paterno-filial, os pais não devem conversar com os filhos temas afetos
a sua conjugalidade. A dor dos pais pela separação não deve ser
carregada pelos filhos.
Para verdadeiramente amar um filho, os genitores devem olhar para
ele e ao fazerem isto, devem ver o pai e a mãe nele. Isto porque o filho
é 50% o pai e 50% a mãe. Logo, se a mãe despreza o pai da criança,
despreza também o filho. O filho não vai tolerar que o pai que existe
nele não seja amado e, assim, por lealdade ao pai, vai se tornar igual a
ele. Se a “mãe quer o bem do filho, precisa olhar o pai dele e respeitá-
lo”. O mesmo ocorre se o pai desprezar a mãe. 79
Quando um dos genitores age de forma a fazer com que o filho pass e

76
HELLINGER, Bert; HÖVEL, Gabriele. Constelações familiares; o reconhecimento das ordens do
amor. Tradução de Eloísa GiancoIli Tironi e Tsuyuko Jinno-Spelter. São Paulo: Cultrix, 2007. p. 19.
77
HELLINGER, Bert. Ordens do amor: um guia para o trabalho com constelações
familiares. Tradução de Newton de Araújo Queiroz. São Paulo: Cultrix, 2002. p. 6.
78
HELLINGER, Bert; HÖVEL, Gabriele. Constelações familiares: o reconhecimento das
ordens do amor. Tradução de Eloísa Giancolli Tironi e Tsuyuko Jinno -Spelter São Paulo:
Cultrix, 2007. p. 77.
79
HELLINGER, Bert; HÖVEL, Gabriele. Constelações familiares: o reconhecimento das ordens do
amor. Tradução de Eloísa Giancolli Tironi e Tsuyuko Jinno-Spelter São Paulo: Cultrix, 2007. p. 119.
a repudiar e excluir o outro genitor de sua vida, não está respeitando o
genitor alienado e, menos ainda, o próprio filho.
Respeitar uma pessoa ou uma coisa significa dizer sim a ela como ela
é ou se apresenta. Respeitar "uma pessoa significa: digo sim a ela como
ela é, digo sim a seu destino como ele é, digo sim a seus envolvimentos
como eles são". 80
Para Hellinger 81 um dos principais problemas na psicoterapia:
É que muitas mulheres agem como se os homens e os pais não tivessem
direitos. Não são, nem ao menos, levados em conta, como se tudo o
que diz respeito às crianças fosse um assunto exclusivo das mulheres.
Chama a atenção o fato de que muitos terapeutas homens também
mostram pouco sentimentos pelos homens. O terapeuta só tem força
quando dá ao excluído um lugar em seu coração.
Infelizmente, nos dias atuais, ainda existem construtores do direito que
possuem este padrão axiológico, qual seja: 1) guarda de filhos é coisa
para mulheres; 2) o instituto da guarda compartilhada não é benéfico
para os filhos simplesmente porque “não dá certo”; 3) as mulheres
sempre fazem alienação parental; 4) a regulamentação de visita do pai
ao filho, geralmente, é deferida apenas em finais de semanas
alternados.
No que se refere à criação dos filhos, explica Hellinger: 82
Considera-se quase sempre a mulher mais competente do que o
homem. Isso pode ser observado nos casos de divórcio. As crianças
são confiadas quase automaticamente à mulher e os homens saem de
mãos abanando. A dignidade do pai não é respeitada.
Ainda nesta temática, referente a pais e filhos, na prática de Hellinger
com as constelações, ele observou que naquelas em que o pai aparece
como vilão, é importante averiguar o grau de destrutividade e

80
HELLINGER Bert. Ordens do amor: um guia para o trabalho com constelações familiares.
Tradução de Newton de Araújo Queiroz. São Paulo: Cultrix, 2002. p. 150.
81
HELLINGER Bert Ordens do amor: um guia para o trabalho com constelações familiares.
Tradução de Newton de Araújo Queiroz. São Paulo: Cultrix, 2002. p. 184.
82
HELLINGER, Bert; HÖVEL, Gabriele. Constelações familiares: o reconhecimento das
ordens do amor. Tradução de Eloísa GiancoIli Tironi e Tsuyuko Jinno -Spelter São Paulo:
Cultrix, 2007. p. 141.
dificuldade da mãe. Por outro lado, quando a mãe é a vilã, convém
observar, imediatamente, o pai. Comumente, quem clama inocência
quase nunca realiza boas obras. 83
Como se pode observar, até mesmo sob o ponto de vista sistêmico, o
genitor que nega o outro genitor ao filho, ou seja, que retira do próprio
filho um dos pais, comete uma grande injustiça.
Assim, nas demandas jurídicas que versam sobre alienação parental,
mais do que observar o melhor interesse dos filhos menores é
necessário esforço para “enxergar” o que está aparentemente oculto e,
de acordo com as Ordens do Amor, tentar colocar cada genitor em
“seus devidos lugares” com o objetivo de aliviar e tensão e trazer paz
a todo o sistema familiar.
2.3.5 A Adoção
É antiga a origem do instituto da adoção. A maioria dos doutrinadores
aponta que reside, na antiguidade, o nascimento da adoção que,
naquela época, tinha como objetivo dar continuidade ao culto dos
mortos e à religião familiar. 84
Embora tenha sobrevivido por tantos anos, o instituto da adoção,
atualmente, possui objetivo diverso daquele da época do seu
nascimento, que é: estabelecer liame paterno-filial entre pessoas
estranhas, ou seja, que não possuem vínculo biológico, observando o
melhor interesse do adotando.
Neste sentido, leciona Maria Berenice Dias: “O instituto da adoção é
um dos mais antigos de que se tem notícia. Afinal, sempre existiram
filhos não desejados, que os pais não querem ou não podem assumir”. 85

83
HELLINGER, Bert; WEBER, Gunthard; BEAUMONT, Hunter. A simetria oculta do
amor: por que o amor faz os relacionamentos darem certo. 6. ed. Tradução de Gilson César
Cardoso de Sousa. São Paulo: Cultrix, 2008. p. 210.
84
"A necessidade de propiciar os deuses familiares levou os povos antigos a criar situações
jurídicas especiais destinadas a assegurar um continuador do culto domésti co, a quem não
tivesse descendente. Um dos mais difundidos foi a adoção, que funcionava como uma fictio
iuris, pela qual ‘uma pessoa recebia na família um estranho na qualidade de filho'", In:
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. 22 . ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2014. p. 335.
85
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 10. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2015. p. 477.
No nosso país, foi o Código Civil de 1916 o primeiro diploma legal a
tratar o instituto da adoção de forma sistematizada. As mudanças
sociais ocorridas, naturalmente, com o passar dos anos, propiciaram a
promulgação de várias leis pátrias que, paulatinamente, “contribuíram
para a evolução” da adoção no Brasil, dentre elas destacam-se duas de
fundamental importância: a Constituição da República Federativa do
Brasil de 1988 e a Lei n°. 8.069/1990, denominada Estatuto da Criança
e do Adolescente.
O deferimento da adoção nos dias atuais está intimamente ligado ao
melhor interesse do adotando (criança ou adolescente); é para o bem -
estar físico e mental dele que a adoção se concretiza.
Juridicamente falando, adoção é "um ato jurídico em sentido estrito,
de natureza complexa, excepcional, irrevogável e personalíssimo, que
firma a relação paterno ou materno-filial com o adotando, em
perspectiva constitucional isonômica em face da filiação biológica", 86
ou seja, é um ato jurídico que cria entre pessoas estranhas vinculação
idêntica à existente entre pais e filhos biológicos.
No mesmo sentido, aduz Paulo Lobo: "A adoção é ato jurídico em
sentido estrito, de natureza complexa, pois depende de decisão judicial
para produzir seus efeitos. Não é negócio jurídico unilateral". 87
A adoção é uma forma pela qual alguém estabelece com outrem laço
recíproco de parentesco civil, mediante uma ficção legal. É um
instituto jurídico que imita a chamada filiação natural, porém,
enquanto esta decorre do vínculo sanguíneo, a adotiva advém de
sentença judicial. 88
É de 18 anos a idade mínima para que as pessoas possam se candidatar
à adoção no Brasil, conforme previsão do art. 42 do Estatuto da
Criança e do Adolescente, que assim prevê: "Podem adotar os maiores
de 18 (dezoito) anos, independentemente do estado civil".

86
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Direito Civil: Direito de
Família. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 475.
87
LOBO, Paulo Luiz Netto. Famílias. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 248.
88
TRINDADE, Jorge. Direito da Criança e do Adolescente: Uma abordagem multidisciplinar Porto
Alegre: Livraria do Advogado, 2005. p. 222.
Todavia, há de ser observada, ainda, uma diferença mínima de idade
entre o adotante e o adotando de, pelo menos, 16 (dezesseis) anos de
idade; ou seja, com o intuito de "imitar a vida ou a filiação biológica”,
o adotante há de ser, no mínimo, 16 anos mais velho do que o adotando.
Isto porque, no entendimento de Maria Helena Diniz, 89 não se pode
conceber a existência de um filho que tenha idade igual ou superior à
do pai ou mãe adotiva, por ser impositivo que o adotante seja mais
velho que o filho a fim de poder desempenhar, cabalmente, o exercício
do poder familiar.
Os avós estão proibidos de adotar os netos, e os irmãos, por sua vez,
também não poderão adotar seus irmãos menores, conforme previsto
no § 1° do art. 42 do Estatuto da Criança e do Adolescente.
A adoção só será deferida se ficar provado que resulta em benefício
direto para o adotando. Tal fato está diretamente ligado à observância
do princípio do melhor interesse da criança e do adolescente.
Neste ínterim, é necessário que os adotantes comprovem em juízo,
além dos requisitos acima, sua idoneidade moral, o equilíbrio ou boa
saúde mental/psicológica e mínimas condições econômicas hábeis a
suportar os encargos e responsabilidades próprios, da criação de filhos
menores.
Duas pessoas somente poderão adotar em conjunto se forem casadas
ou viverem em união estável, porém, duas pessoas que estejam
divorciadas poderão adotar em conjunto se durante o casamento
ingressaram com ação de adoção e o estágio de convivência ocorreu
neste período. Cumpre destacar que o direito pátrio não proíbe a
adoção por pessoas solteiras.
O principal efeito jurídico da adoção é que ela cria/estabelece os laços
de filiação/paternidade entre pessoas que não possuem
descendência/ascendência, equiparando à filiação e paternidade
biológicas. É como se o adotando fosse “arrancado” de sua família
consanguínea e “implantado” na família adotiva, passando a deter
todos os direitos e obrigações inerentes a sua condição de filho.

89
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. 25. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 529.
Sob a ótica sistêmica, os filhos pertencem aos pais biológicos, eis que
estes lhes deram ou proporcionaram a coisa mais importante que
alguém pode ter: a vida. Ora, assim, “se alguém adota uma criança
porque não pode ter filhos e quer tê-los dessa forma, isto é uma grande
interferência na ordem”. 90
Neste ponto, Hellinger, com ênfase, defende o ponto de vista de que
não é uma boa ideia aconselhar uma jovem mãe não abortar o filho,
mas o ter e, assim que houver o nascimento, entregar a criança para
adoção. O melhor seria aconselhar a jovem mãe a aceitar a criança. Se
ela e o pai não puderem cuidar do filho, os avós maternos ou paternos
deveriam acolher a criança. Assim, a criança ficaria no seio familiar. 91
Hellinger se opõe ao abuso na adoção ou adoção leviana, na qual a
criança poderia ter ficado com seus pais biológicos ou com seus avós
maternos ou paternos; postula que é a favor da tutela e não da adoção,
porque aquela é temporária. Para o autor, “a adoção é justificada
quando as crianças não têm ninguém. Se, por exemplo, ambos os mais
morreram ou a criança foi abandonada. É um ato justificado e nobre
acolher e criar esta criança”. 92
Nesta linha de raciocínio, o referido autor prossegue lecionando que
uma adoção só é admissível quando a criança dela necessita porque
não tem mais ninguém da família - diga-se: pai, mãe, avós, tios, tias -
para lhe cuidar: “Só quando realmente não há mais ninguém da família
é que outras pessoas podem ser levadas em consideração. Só então a
adoção é correta e tem grandeza; fora disso não’’. 93
Sobre a adoção, Hellinger problematiza o que já é polêmico por
natureza ao assim indagar:
Que espécie de ordem legal é, esta, quando alguém se arroga o direito

90
HELLINGER, Bert; HÖVEL, Gabriele. Constelações familiares: o reconhecimento das ordens do
amor. Tradução de Eloísa Giancolli Tironi e Tsuyuko Jinno-Spelter São Paulo: Cultrix, 2007. p. 110.
91
HELLINGER, Bert; HÖVEL, Gabriele. Constelações familiares: o reconhecimento das ordens do
amor. Tradução de Eloísa Giancolli Tironi e Tsuyuko Jinno-Spelter São Paulo: Cultrix, 2007. p. 110.
92
HELLINGER, Bert; HÖVEL, Gabriele. Constelações familiares: o reconhecimento das ordens do
amor. Tradução de Eloísa Giancolli Tironi e Tsuyuko Jinno-Spelter São Paulo: Cultrix, 2007. p. 110.
93
HELLINGER, Bert. Ordens do amor: um guia para o trabalho com constelações familiares.
Tradução de Newton de Araújo Queiroz. São Paulo: Cultrix, 2002. p. 182.
de privar a criança de seus próprios pais e se coloca no lugar deles?
Ou quando se dá a uma mãe em necessidade o conselho “bem-
intencionado" de entregar a criança à adoção? Ou quando um casal sem
filhos alegremente espera que uma criança seja liberada para adoção?
Isso é perverso, mas muitos o consideram normal.
Segundo ele, se a criança for prematura ou injustamente retirada do
seu sistema familiar originário, certamente quando crescer irá se
vingar de seus pais adotivos por isto.
Levando em consideração que, pelas leis sistêmicas, os filhos são
extremamente leais a seus pais e que o sistema, como um todo, não
tolera exclusão, alguns pontos se destacam:
1) Os pais biológicos são mais importantes que os adotivos, pois deles
o filho recebeu o bem mais precioso: a vida; sem eles o filho não
existiria;
2) Muitos filhos se sentem "devedores” para com seus pais adotivos, e
esta dívida passa a ser um fardo; ora, os pais adotivos prestam um
“serviço” aos pais biológicos, que é cuidar e amar o filho destes, em
assim sendo, a dívida é dos pais biológicos para com os adotivos.
Interiorizar esta noção traz leveza a todos os envolvidos na adoção;
3) O filho adotivo "pertence” a sua família de origem, está nela
vinculado não só em relação ao sangue, como em relação aos destinos
daquela família que lhes são inerentes;
4) Os pais adotivos não devem excluir do coração do filho seus pais
biológicos; ao contrário, em gesto de profundo amor e humildade,
devem deixar os filhos adotivos seguirem o destino de suas famílias
biológicos. Equivaleria a dizer ao filho adotivo: Eu permito que você
se torne igual ao seu pai (ou mãe) biológico; Eu respeito seus pais
biológicos; Eu respeito sua origem genética: você é 50% seu pai
biológico e 50% sua mãe biológica; Você poderá ser igual ao seu pai
biológico (ou mãe), eu te amarei assim mesmo.
Na visão sistêmica, que não admite exclusão de nenhum membro
familiar, a lógica funciona mais ou menos assim: tudo aquilo que se
exclui é atraído; e tudo aquilo que é incluído alivia e libera.
Quando ao filho adotivo é dado o direito de acessar e vivenciar esta
realidade em relação a seus pais biológicos - no sentido de não os
negar/excluir e, acima de tudo, de os respeitar - ele se sentirá livre e,
ao mesmo tempo leve, não nutrirá mais o desejo inconsciente de os
vingar ou de se tornar igual a um deles. Agora liberto, não se sentindo
em dívida com os pais adotivos e tendo colocado seus pais biológicos
no coração, o filho adotivo estará pronto para continuar amando e
seguindo seus pais adotivos com leveza na alma.
2.4 DIREITO SISTÊMICO E A ATUAÇÃO DO CONSTRUTOR
JURÍDICO
Não é de hoje que existe um movimento global que resgata a
sensibilidade, em detrimento da razão desenfreada, em todas as áre as
do conhecimento e nos relacionamentos humanos. Neste diapasão,
Maffesoli 94 leciona:
A transfiguração do político completa-se quando a ambiência
emocional toma o lugar da argumentação ou quando o sentimento
substitui a convicção. (...) Assim, Goethe (...) prefigura, no apogeu da
modernidade, a saturação de uma ordem das coisas fundadas na razão
ao declarar que “o sentimento é tudo”. No caso, e sua posição no seu
tempo merece atenção, trata-se para ele de relativizar a razão,
valorizando particularmente a “intuição sensível”.
O Direito Sistêmico, ou seja, a aplicação das Ordens do Amor de Bert
Hellinger como instrumento de busca de soluções eficazes para
questões jurídicas que atormentam o âmago do ser humano é uma
importante porta que se abre para o lado sensível, afetuoso, tentando
tocar o que está oculto (porém operante) na alma da pessoa.
Quando um conflito se apresenta, qualquer que seja a modalidade, faz -
se imediata (e incorreta) associação à solução do mesmo em uma
instância externa e superior (Poder Judiciário, Arbitragem, Mediação,
etc.) aos litigantes quando, na maioria das vezes, a MELHOR solução
depende única e exclusivamente daquelas pessoas envolvidas no

94
MAFFESOLI, Michel. A transfiguração do político: a tribalização do mundo. 3. ed. Tradução de
Juremir Machado da Silva. Porto Alegre: Sulina, 2005. p. 116.
litígio.
Em algumas situações fica evidente que quando uma determinada
pessoa procura o Poder judiciário (justiça) para a solução de seus
conflitos, ela não quer paz, se quer, não a encontrará ali. Ela almeja
aliados para ratificarem sua posição de “vítima”. A paz brota da alma,
“vem de dentro” de cada pessoa e não pode ser imposta por agentes
externos.
O Direito Sistêmico instrumentaliza as partes envolvidas para que
possam assumir a responsabilidade pelo conflito (assim não haverá
uma parte que é só culpada e a outra só inocente, mas ambas serão,
simultaneamente, culpadas e inocentes em percentuais iguais ou não)
e ao olhar para além dele, buscar uma solução eficaz que reverberará
em todo o sistema.
As constelações familiares têm desempenhado este papel. Por meio
delas, as pessoas conseguem “ver” além do conflito e quando isto
acontece, o foco da questão, naturalmente, desloca-se para a solução.
Assim, a postura sistêmica dos construtores do Direito é uma
verdadeira quebra de paradigma, eis que eles devem compreender que
a solução dos litígios deles pouco depende. O jurisdicionado (ou o
cliente) tem a solução mais eficaz para seu conflito, assim, o que lhe
pode ser proporcionado pelos construtores do direito são: 1) contribuir
para que as partes enxerguem além do conflito ou que o compreendam
de outras maneiras e com ele possam amadurecer; 2) facilitar o diálogo
entre as partes mediante uso de técnicas de comunicação não violenta;
3) empoderar as partes para resolução do conflito; 4) os construtores
do Direito devem se fazer “pequenos” para que as partes se sintam
“grandes o suficiente" para encontrar a melhor solução para o litígio.
Diante desta realidade que se descortina, a formação dos construtores
do Direito, além de ser dogmaticamente sólida a fim de otimizar a
prática do direito e proporcionar segurança jurídica, deve se permitir
beber, também, na fonte da Zetética, deixando de lado grandes
generalizações jurídicas e centrando o olhar no que é particular a cada
ser humano e suas mazelas sociais.
E estas necessárias mudanças conceituais e comportamentais trazidas
à tona pelo Direito Sistêmico, precisam, paulatinamente, tocar o maior
número possível de construtores do direito para que possam reverter
em benefício real à Sociedade. Logo, juízes, promotores de justiça,
advogados, dentre outros profissionais da área jurídica, devem estudar
a vasta teoria sistêmica e a colocar em prática, a fim de criar e
consolidar uma “sintonia sistêmica” mais eficaz e menos traumatizante
na solução dos conflitos dos jurisdicionados.
As partes (ou jurisdicionados) são as verdadeiras protagonistas da
solução de seus próprios conflitos. Logo, os construtores do Direito
têm papel tímido, quando se trata de “achar” solução adequada ao
conflito, mas indiretamente, atuarão de forma relevante, se
oportunizarem aos litigantes, espaços acolhedores para que eles se
sintam seguros para “se olharem e dialogarem”; coisas fundamentais
para a resolução dos conflitos.
Com relação aos magistrados, explica Petermann 95 que o papel do juiz
do futuro está vinculado a uma atuação em prol da harmonização
social, devendo ser sensível e consciente dos reflexos de suas decisões,
inclusive para além do conflito que lhe foi levado. O juiz deve estar
próximo da Sociedade, “do saber ouvir, de enxergar para além das
portas do gabinete, porquanto apenas próximo, acessível, é capaz de
protagonizar a harmonia e a paz”.
Entende-se que as mesmas visões devem possuir os demais
construtores do Direito para a implementação de uma prática jurídica
mais célere e eficaz na resolução dos conflitos que se apresentam,
todos os dias, ao Poder Judiciário.
Sugere-se que a redação das petições, dos pareceres ministeriais e das
decisões e sentenças, no contexto do Direito Sistêmico, ao invés de
ratificar a posição de “culpado” ou “inocente”, e assim, afastar cada
vez mais as partes, deva ser intencional e conscientemente r efletida e
ponderada pelos construtores do direito, contribuindo para a
reaproximação das partes, sem deixar de lado, é claro, a correta e
devida aplicação do Direito.

95
PETERMANN, Vânia. Ser juiz: caminhos para a jurisdição de qualidade. Curitiba: Alteridade
Editora, 201 6. p. 121.
Isto porque, não raro, as referidas peças processuais que integram os
milhares de processos que tramitam no Poder Judiciário, atualmente,
apresentam forte teor ofensivo (discriminatório, irônico, condenatório)
a uma das partes ou a ambas, servindo de combustível para nutrir todas
as espécies de sentimentos negativos. Ou seja, podem até colocar fim
ao processo judicial, mas contribuem para alimentar o impasse/conflito
que continua mais vívido do que nunca na esfera extra ou metajudicial.

CAPÍTULO 3
DIREITO PENAL SISTÊMICO

Com aporte nas três leis estabelecidas por Bert Hellinger , conhecidas
como ordens do amor, busca-se apresentar uma ideia do que, a priori,
denomina-se Direito Penal Sistêmico.
O termo direito penal não designa apenas as leis penais, mas também
as leis processuais penais e a execução penal, ou seja, o termo engloba
os sistemas penal, processual penal e execução de pena. Utilizou-se da
expressão direito penal apenas como convenção, evitando -se, assim,
conceituar Direito Processual Sistêmico ou Execução Penal Sistêmica,
estando todos incluídos na mesma categoria.
Diante disso, afirma-se que as leis sistêmicas podem ser utilizadas
tanto para questionar a coerência da estruturação da justiça penal
moderna, bem como enquanto método de resolução e prevenção de
conflito penal, tendo, neste caso, as partes como destinatárias.
Na primeira perspectiva, busca-se confrontar o direito penal
tradicional com as leis de Precedência (Hierarquia), Pertencimento e
Equilíbrio, a fim de demonstrar a desarmonia do sistema penal, o que
pode justificar a sua incapacidade em gerir os conflitos que são
trazidos até suas agências de controle (polícia, judiciário, execução
penal).
Alerta-se para não confundir essa pretensão com a constelação
familiar, realizada com cada um dos sujeitos, o que não afasta a
possibilidade e necessidade de, nessa nova configuração do direito
penal, aplicar a constelação familiar como técnica de compreensão e
solução do conflito.
Assim é que, de forma embrionária, pode-se entender como Direito
Penal Sistêmico uma postura diferente para a mediação de conflitos
penais judicializados, utilizando-se das leis sistêmicas de Bert
Hellinger, o que exige uma mudança estrutural da justiça penal
moderna.
Conflitos penais judicializados, porque sabe-se que a maioria dos
conflitos penais não chegam ao conhecimento das agências de
controle, criando o que se denomina cifra negra da criminalidade.
Portanto, ao se falar em direito penal é porque se reconhece que houve
um desvio social criminalizado que está sob intervenção estatal
(polícia ou judiciário) e é nesse contexto que se aplicaria o Direito
Penal Sistêmico.
Já em relação aos desvios que não são criminalizados ou que, mesmo
criminalizados, não são conhecidos pelo Estado, não se falaria de
Direito Penal Sistêmico, e sim método sistêmico de solução de
conflito, com a aplicação das leis de Bert Hellinger, mas em um
contexto comunitário.
Também é imperioso destacar-se que são reconhecidas todas as
ponderações dos movimentos criminológicos críticos, estando cientes
de que o direito penal é um instrumento de poder seletivo, onde o maior
problema é o seu tamanho e desproporcionalidade, eis que a cada dia
se expande, criminalizando condutas que não necessitariam estar
tipificadas.
O que se procura, então, não é justificar o sistema penal, mas tentar
atribuir-lhe uma função menos violenta. Se é um "mal" com o qual se
tem que conviver, que se possa, pelo menos, minimizar esse efeito
negativo inerente ao direito penal.
Delimitado o tema, passa-se a demonstrar o funcionamento da justiça
Penal para, posteriormente, analisar a aplicação das leis sistêmicas à
estrutura do Sistema Penal tradicional, bem como verificar sua
aplicação enquanto método de solução e prevenção de conflitos penais
no curso do processo e na execução da pena.
3.1 FUNCIONAMENTO DA JUSTIÇA PENAL
Praticado um ato que esteja previsto como crime de ação penal
pública, 96 cabe ao Estado a obrigação de investigar e, se for o caso,
processar criminalmente o autor
Vigora, nesses casos, o que se chama de “princípio da
obrigatoriedade”, onde o Estado, por meio de suas agências de controle
deve agir: o delegado investigando e o ministério público oferecendo
denúncia, caso existam indícios de autoria e materialidade.
Importante destacar que há uma diferença primordial entre o direito
civil/processo civil e o direito penal/processo penal, principalmente no
que se refere à expressão “conflito”.
A lide, enquanto conflito de interesses qualificado por uma pretensão
resistida, 97 é uma condição para o surgimento do processo civil. Já para
o processo penal a lide é irrelevante, vez que a aplicação da pena não
envolve um conflito de interesses entre autor do fato e vítima, mas uma
relação entre o autor do ato tipificado como crime e o Estado. 98
Em outras palavras, o direito civil pode ser aplicado nas relações
diárias sem a necessidade da intervenção do judiciário. A regra é a
aplicação da lei civil (direito do consumidor, contratos, obrigações
etc.) entre os particulares, sem que o Estado se faça presente. A tutela
jurisdicional só será invocada caso este conflito não seja resolvido
pacificamente pelos particulares, cabendo àquele que se sentir lesado
pleitear, por meio da ação, a intervenção judicial para solucionar o
conflito, agora resistido.

96
Alguns crimes são condicionados à representação do ofendido, o que significa que o Estado só pode
iniciar uma investigação policial ou um processo crime, por meio de denúncia feita pelo Ministério
Público, se a vítima autorizar Mas a maioria dos crimes são de ação penal pública incondicionada, e
nesse caso basta a autoridade tomar conhecimento que o inquérito policial e/ou o processo crime pode
ser iniciado sem que a vítima autorize. Também há os crimes de ação penal privada, onde a
investigação depende de autorização da vítima e o processo crime depende, da mesma forma, que a
vítima, por meio de advogado, ofereça uma queixa-crime.
97
Conceito proposto por Francesco Carnelutti.
98
Sobre a superação da ideia de lide no Processo Penal ver LOPES JR., Aury. Direito
Processual Penal. 10 ed., São Paulo: Saraiva, 2013 e COUTINHO, Jacinto Nelson de
Miranda. A lide e o Conteúdo do Processo Penal. Curitiba: Juruá, 1998. O primeiro
sustenta que o objeto do processo penal é uma "pretensão acusatória” e o segundo um "caso
penal”.
No direito penal não ocorre assim. Mesmo que alguém pratique um
crime (furto, por exemplo), e após a consumação arrependa-se,
devolvendo o objeto subtraído ao dono, confesse e aceite eventual
punição, é necessário que isso seja levado até o judiciário, que por
meio do devido processo legal irá, ou não, aplicar a sanção penal. No
exemplo, pode-se dizer que tecnicamente não há lide, pois não houve
uma resistência à solução do conflito por parte do autor do crime. O
que há é uma impossibilidade de se aplicar a sanção penal sem a
intervenção estatal e um processo judicial.
Necessita-se, no caso, que o judiciário seja provocado, por meio da
ação penal (denúncia, no exemplo dado), oferecida pelo ministério
público, e somente após devidamente processado, com respeito a todas
as garantias constitucionais, é que o acusado pode receber a sanção
penal.
A isso chama-se princípio da “necessidade do processo penal”, 99 razão
pela qual a existência de lide (conflito entre particulares), toma -se
irrelevante, pois havendo ou não resistência por parte do autor do fato,
o caminho para a aplicação da sanção penal será sempre por meio do
devido processo legal.
E por que é assim? Por que a natureza do processo penal difere da
natureza do processo civil.
Enquanto o processo civil atua no plano horizontal, onde o Estado Juiz,
quando chamado, utiliza-se do processo para solucionar o conflito e
dizer quem tem direito, o processo penal atua na vertical, servindo
como um instrumento de garantias do acusado em relação ao jus
puniendi.
O processo penal, enquanto procedimento em contraditório, 100 é um

99
“O processo, como instituição estatal, é a única estrutura que se reconhece como legítima
para a imposição da pena" (LOPES JR., Aury. Direito Processual Penal. São Paulo:
Saraiva, 10 ed., 2013, p. 75.
100
Procedimento é a preparação do provimento e o contraditório é a participação dos envolvidos em
igualdade de condições. Desta forma o procedimento em contraditório é a preparação do provimento
(sentença) mediante a participação das partes (acusação e defesa). Com essa ideia, Fazzalari supera a
tradicional noção de processo enquanto "relação jurídica”. Para aprofundar o tema ver FAZZALARI,
Elio. Inztituzioni di Diritto Processuale. 5 ed., Padova: CEDAM, 1989 e, no Brasil, GONÇALVES,
Aroldo Plínio. Técnica processual e Teoria do Processo. 2 ed., Belo Horizonte: Del Rei Editora,
limitador e organizador do poder punitivo estatal, tendo por função
instrumentalizar a aplicação legítima da pena, garantir os direitos do
acusado e reproduzir na medida do possível, o fato-crime pretérito.
Em suma, o processo penal é uma garantia ao acusado de que só irá
cumprir uma pena após ser devidamente condenado por uma decisão
irrecorrível, proferida dentro de um processo judicial, onde tenham
sido respeitados os princípios constitucionais do devido processo
legal, 101 da ampla defesa 102 e do contraditório. 103
No processo penal, a vítima não figura como parte, 104 sendo a acusação
exercida pelo ministério público e a defesa do acusado pelo advogado,
cabendo ao juiz a posição de imparcialidade para julgar segundo as
provas existentes nos autos. Assim, as partes são o promotor e o
acusado.
Daí que a vítima, nesse modelo de sistema penal, não tem uma
importância maior, servindo apenas como “informante” do Estado, ao
levar o fato até ele por meio da comunicação formal de um crime. 105
Como visto, é uma configuração diferente do processo civil, onde se
aplica, Comumente, a constelação familiar Nessas demandas, as partes
são os envolvidos no conflito (pais x filhos; esposa x marido),
enquanto no processo crime a vítima é substituída pelo Estado, que a
representa por meio do ministério público.
Essas particulares características que designam as justiças civil e penal
fazem com que as leis sistêmicas sejam aplicadas de forma
diferenciada em cada ramo.

2012.
101
Processo feito dentro do que a lei designa.
102
Direito de ter um defensor no caso um advogado, e de exercer todos os direitos que a lei lhe faculta,
como recursos, produzir provas, ficar em silencia, etc.
103
Igualdade de condições com a outra parte, no caso o acusador, tendo o direito de se manifestar
sobre todas as provas e alegações produzidas no processo.
104
Com exceção dos crimes de ação penal privada, os quais representam um percentual
muito pequeno se comparado aos crimes de ação penal pública.
105
Nas ações penais de iniciativa privada a vítima é a detentora do direito de ação, contudo
igualmente necessita do processo crime para ver a sanção penal ser aplicad a ao autor do
fato. Neste caso também o processo se apresenta como um instrumento de garantia e não de
solução de conflito.
A seguir far-se-á uma leitura da estrutura da justiça penal a partir das
leis sistêmicas, para, na sequência, verificar a possibilidade de se
aplicar a constelação familiar no processo crime e na execução penal.
3.2 LEIS SISTÊMICAS APLICADAS À JUSTIÇA PENAL
3.2.1 Precedência (Hierarquia)
Numa observação histórica, feita a partir de Foucault 106, verifica-se
que, na segunda metade da Idade Média, a resolução do conflito não
cabia mais ao particular e sim ao ente público, enquanto poder político,
surgindo, então, a figura do procurador, que substituía a vítima e se
apresentava como o representante de um poder lesado pela infração,
podendo ser o soberano, o rei ou um senhor Nascia a figura da
“infração”, onde o soberano era a vítima secundária do ato ilícito, o
que lhe dava legitimidade para buscar a condenação do infrator.
Ana Messuti explica que a vítima, em particular, sofreu um
despojamento por parte do sistema penal. Este tirou a verdadeira
vítima de sua tal qualidade, para investir a comunidade nesta
qualidade. O sistema penal substituiu a vítima real e concreta por uma
vítima simbólica e abstrata: a comunidade. 107
Assim, é notório que quem veio primeiro nessa relação foi a sociedade,
tendo o Estado usurpado dos particulares a função de punir. 108 Nesse

106
FOUCAULT Michel, A verdade e as formas jurídicas. Tradução de Roberto Cabral de
Melo Machado e Eduardo Jardim Morais, Rio de janei ro: Nau Editora, 2002.
107
MESSUTI, Ana. O tempo como pena. Tradução de Tadeu Antônio Dix Silva e Maria
Clara Veronesi de Toledo, São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2003, p. 72.
108
Importante frisar que o surgimento da pena de prisão não indicou, necessariame nte, uma
maior humanidade na forma de punir, em oposição aos arbítrios cometidos na idade média.
Sobre isso destaca Vera Regina Pereira de Andrade; “A transição da antiga para a moderna
Justiça Penal não significou a passagem da barbárie ao humanismo, mas de uma estratégia
de punir a outra, mediante um deslocamento qualitativo do seu objeto (do corpo para a
mente) e objetivos (minimização dos custos econômico e político e maximização da
eficácia)’’ (ANDRADE, Vera Regina Pereira de. A ilusão da segurança jurídica: do
controle da violência à violência do controle penal. 3 a ed., Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2015, p. 236-237). No mesmo sentido Durkheim, sustentando que as penas na
Idade Média não eram tão atrozes assim: “Seria un error juzgar la ley penal, bajo el régimen
feudal, de acuerdo a la reputación de atrocidad que se ha otorgado a la Edad Media. Cuando
se examinan los hechos, se constata que era mucho más dulce que en los tipos sociales
anteriores, al menos si se la considera en la fase correspondiente de su evolución, es decir,
a su período de formación, y por así decirlo, de primera juventude" (DURKHEIM, Émile.
Dos leyes de la evolución penal. Traducción. Mónica Escayola Lara. Delito y Sociedad.
Revista de Ciências Sociales. N°13, 1999, pp. 71 -90, disponível em
caso, a hierarquia 109 não se observa, posto que os envolvidos direto no
conflito, os que tem maiores interesses em resolver e de que forma
melhor solucionar não participam frente a frente do “processo”.
Pode-se pensar que o campo mórfico não está ajustado. Entende-se
como campo mórfico, aqueles que "levam informações, não energia, e
são utilizáveis através do espaço e do tempo sem perda alguma de
intensidade depois de ter sido criado. Eles são campos não físicos que
exercem influência sobre sistemas que apresentam algum tipo de
organização inerente”. 110
Nesse sentido, explica Sheldrake que “a forma das sociedades, ideias,
cristais e moléculas dependem do modo em que tipos semelhantes
foram organizados no passado. Há uma espécie de memória integrada
nos campos mórficos de cada coisa organizada”, o que nos leva a
pensar que a não obediência desse campo morfogenético, no caso o
desrespeito à ordem hierárquica de solução de conflitos, possa
interferir no equilíbrio do sistema como um todo.
A “solução”, no direito penal moderno, é determinada pelo Estado -
Juiz, que segue critérios técnicos, deixando de observar as verdadeiras
demandas do grupo, família ou dos próprios sujeitos.
Não se sustenta o retorno à vingança privada, longe disso, mas a
necessidade do Estado possibilitar que esses sujeitos tenham voz ativa
na escolha da melhor solução para a violência praticada, numa
aproximação do modelo particularista de tomada de decisão proposta
por Schauen o qual “se centra en la situación, caso o acto particular
y abarca de este modo todo aspecto del acontecimiento particular que
motiva la decisión que resulte relevante para tomarla". 111

http://www.catedras.fsoc.uba.ar/pegoraro/Materiales/Durkheim_Dos_Leyes_Evolucion_Pe
nal.PDF.
109
Explica Hellinger que “cada grupo tem uma hierarquia, determinada pelo momento em
que começou a pertencer ao sistema. Isso quer dizer que aquele que entrou em primeiro
lugar em um grupo tem precedência sobre aquele que chegou mais tarde. Isso se aplica às
famílias e também às organizações (HELLINGER, Bert. Ordens do amor: Um Guia Para o
Trabalho com Constelações Familiares, São Paulo: Cultrix, 2001, p. 26).
110
SHELDRAKE, Rupert. Uma Nova Ciência da Vida: A hipótese da causação formativa
e os problemas não resolvidos da biologia. Tradução Marcello Borges, São Paulo: Cultrix,
2013.
111
SCHAUER, Frederik. Las Reglas en Juego: Un examen filosófico de la toma de decisiones basada
Para esse modelo o que importa para os tomadores de decisão é
encontrar o melhor resultado para casos determinados e específicos. A
dinâmica, ao tomar uma decisão, é orientada pela aquisição dos
resultados que façam sentido ao caso em questão, estando de acordo
com as concepções e expectativas dos particulares.
Os limites dessas soluções devem ser estabelecidos pelo legislador ,
sem a possibilidade de penas cruéis, perpétuas ou infamantes, por
exemplo, mas com uma discricionariedade conferida aos envolvidos
na busca de um desfecho que seja bom para ambos, pois, nesse caso,
certamente será bom para todos. 112
Alguns movimentos mundiais já caminham nesse sentido, como é o
caso da Justiça Restaurativa. Mas independente da nomenclatura e do
método que se utilize para aproximar os sujeitos e lhes delegar o pode r
de compor, o importante, aqui, é perceber que a inobservância da
hierarquia pode e efetivamente tem causado efeitos que comprometem
todo o sistema jurídico penal.
O que se tem visto é um sistema que cada vez cresce mais,
criminalizando muitas condutas que não precisariam ser
criminalizadas; que não conhece outra terminologia senão "punir" e
que pune desproporcionalmente e alheio aos interesses dos sujeitos
envolvidos, desconsiderando completamente o complexo mundo de
cada um.
3.2.2 Pertencimento
Pela Lei do Pertencimento, o sujeito deve sentir- se pertencendo ao
sistema familiar, empresarial ou ao seu grupo de amigos, por exemplo.
Para Hellinger, “nossa alma coletiva dá importância fundamental à sua
completude. O todo tem prioridade sobre as partes individuais. Essa
ordem se transforma em desordem quando alguém é excluído dessa

en reglas, en el Derecho y en la vida cotidiana. Madri: Marcial Pons, Ediciones Jurídicas y Sociales,
2004. p. 138.
112
“Na terapia familiar, a solução é aquela que satisfaz a todos os membros da família; quando cada
um está no lugar certo, aceita o lugar que lhe cabe e onde deve ficar, ocupando sua posição sem
interferir na vida dos outros. Então, todos veem reconhecida a própria dignidade e se sente bem. Essa
é a solução”. (HELLINGER, Bert Ordens do amor: Um Guia Para o Trabalho com Constelações
Familiares, São Paulo: Cultrix, 2001, p, 29).
comunidade, apesar de pertencer a eia’’. 113
No direito penal, como já visto, a relação é diferente daquela existente
no direito civil. Nessa, o conflito é entre as partes, sendo o judiciário
chamado para solucioná-lo. Naquela, uma vez cometido um crime, o
Estado assume a função de processar, por meio do ministério
público, 114 tendo o judiciário a função de conduzir esse processo até
sentença, onde a vítima, nesse caso, não é parte processual. S e na
relação processual civil as partes são: suposto autor de um fato e a
vítima; no penal as partes são: Ministério Público e suposto autor do
fato.
Portanto, na configuração do Direito Penal tradicional, a vítima é
preterida da relação. Ela não pertence ao sistema que decidirá pela
punição do autor do desvio, mesmo sendo ela, a vítima, a parte mais
interessada na punição ou NÃO punição do sujeito agressor.
O não pertencimento da vítima é uma consequência lógica da não
observância da lei de hierarquia. Bert Hellinger ao tratar do desejo de
vingança, lança um olhar que se amolda à estrutura moderna da justiça
penal:
O que acontece com os agressores? De onde vem essa necessidade
humana de vingança? Essa indignação simplesmente brota no peito?
Eu notei que, normalmente, a indignação não vem das vítimas, mas
daqueles que se acham no direito de representaras vítimas. Eles
reclamam ilicitamente para si o direito de ficar zangados com os
agressores, sem ter passado pelo sofrimento. Como recebem o apoio
da maioria, nem mesmo correm o risco de serem responsabilizados
pelo desejo de vingança contra os agressores. Aqui existe uma curiosa
semelhança entre os indignados e os agressores, exatamente aqueles
que são criticados. Os primeiros consideravam-se superiores e por
isso se sentiram no direito de atacar e aniquilar os outros. 115

113
HELLINGER, Bert. A cura: tornar-se saudável, permanecer saudável. Tradução de Daniel
Mesquita de Campos Rosa, Belo Horizonte: Atman, 2014, p. 24.
114
Nos crimes de ação penal pública.
115
HELLINGER, Bert. Constelações familiares: o reconhecimento das ordens do amor.Tradução
Eloisa GiancoliTironi, São Paulo: Cultrix, 2007, p. 129.
Veja que muitas vezes a vítima não deseja aplicar qualquer sanção ao
infrator, mas como ela não pertence ao sistema, quem a representa,
nesse caso o Estado, apodera- se de um desejo vingativo coletivo,
sancionando-o.
Temos, desta forma, duas situações. Quando havia a justiça privada, o
particular poderia “vingar-se”, era uma opção que lhe pertencia. Com
o fim da justiça privada, o Estado chamou para si a função punitiva, a
qual tornou-se obrigatória, não podendo o ente público deixar de
aplicar a sanção, justamente pelo princípio da legalidade.
Esse movimento conferiu, certamente, uma garantia de que somente
poderá ser aplicado uma pena a alguém se houver previsão legal (fato
típico) e obedecidos os limites da sanção imposta pela lei. Foi um
avanço, com certeza, porém o movimento penalizador tornou -se
absoluto, não conferindo nenhuma possibilidade da sanção deixar de
ser aplicada ou até mesmo substituída por outra forma menos grave de
pena que não a prevista no tipo penal.
Um meio termo é preciso ser discutido, pois se de um lado não é seguro
deixar exclusivamente a cargo da vítima a função de aplicar uma pena
pela violência sofrida (sem considerar os crimes modernos em que não
há uma vítima individualizada), não é producente deixar de ouvi-la,
até para verificar se a punição imposta representa, a ela, algum sentido.
Não se pretende que a vítima chancele a pena proposta pelo Estado,
mas que lhe seja oportunizada um local de fala, onde poderá, se assim
o quiser, propor uma solução diversa da tradicional, a ser homologada
pelo juízo.
A necessidade de se trazer a vítima ao processo não é para empoderá -
la com o direito de escolher uma pena, mas proporcionar-lhe a opção
de “não punir”, ou seja, de poder dizer que, mesmo tendo sido vítima
de uma violência, entende os motivos do agressor e não deseja que o
mesmo seja penalizado, ou se for o caso de se atribuir uma punição,
que não seja a tradicional, mas outra que possa colaborar na construção
das relações entre eles ou entre o agressor e seus familiares, o que,
nesse caso, talvez nem se possa chamar de pena.
A vítima precisa pertencer para poder ser ouvida e o seu chamado é
importante no sentido de que a “sanção”, eventualmente dada ao
agressor, pode ser atenuada ou até mesmo excluída por vontade do
ofendido, que, muitas vezes, não vê sentido em punir por punir.
Explica Hellinger:
A expiação é um recurso para não encarar a relação, pois através dela
tratamos a culpa como uma coisa, pagando por um dano com algo que
também nos custa. Porém, se fiz injustiça a alguém, causei sua
infelicidade e lhe infligi um dano irreparável ao corpo e à vida, o que
pode produzir essa expiação? Buscar alívio pela expiação,
prejudicando a mim mesmo, é algo que só posso fazer quando p erco
de vista a outra pessoa. Pois, quando a tenho diante dos olhos, sou
forçado a reconhecer que pretendo anular pela expiação algo que
necessariamente permanece. 116
Portanto, não se pode perder de vista o outro. A violência praticada
pode ter razões que só serão conhecidas, se permitirmos que os
envolvidos consigam se ver como partes de um sistema familiar, social
ou grupal. Muitas vezes o entendimento do ato só será alcançado, se
ele compreender a influência do campo morfogenético a que está
submetido.
Também o autor do fato precisa sentir-se pertencente. Contudo, o que
o modelo tradicional de justiça penal faz é tão somente excluí -lo da
relação social e familiar Literalmente o agressor fica à margem (daí
chamado de marginal) da busca pela compreensão do fato.
A ideia é que se construa um sistema de justiça que procure aproximar
aqueles que se separaram pela violência e o direito ao pertencimento
se traduz na necessidade de colocar cada um no seu devido lugar.
3.2.3 Equilíbrio
Essa lei é de muita importância para o direito penal e, talvez, seja a
que mais justifica a aplicação do direito sistêmico à justiça criminal.
No modelo tradicional, a aplicação da pena é um atributo estatal,
obrigatório, cujos limites legais devem ser respeitados, evitando -se,

116
HELLINGER, Bert. Ordens do amor: Um Guia Para o Trabalho com Constelações Familiares,
São Paulo: Cultrix, 2001, p. 202.
teoricamente, uma desproporcionalidade entre a lesão e a pena.
Inúmeros critérios informativos buscam atribuir equilíbrio nessa
dualidade fática (crime-pena), destacando-se a proporcionalidade,
razoabilidade, bagatela, subsidiariedade e fragmentariedade, todos
integrantes do conhecido "direito penal mínimo". Contudo, entende-se
que por mais importantes que sejam, na prática eles não alteram o
desequilíbrio de origem, que é o fato do crime ter sempre uma pena
como consequência.
Será mesmo necessário a todo crime atribuir-se uma punição? Será
mesmo possível conseguir equilíbrio por meio de uma sentença penal
condenatória?
Não necessariamente!
O equilíbrio deve ser encontrado pelos envolvidos no conflito, função
que não pode ser terceirizada ao Estado. O juiz não consegue viv enciar
a real necessidade do autor do fato e da vítima e muito menos possui
condições de estabelecer o equilíbrio na relação “emaranhada” pela
ofensa/violência, com uma pena.
Nesse sentido, somente as partes saberão qual é a medida exata para
equilibrar a relação e mesmo quando não exista relação entre eles,
quando são estranhos, por exemplo, apenas elas possuem ideia do que
é necessário para sentirem-se quitadas 117 entre si.
Mesmo nos crimes sem vítima determinada, o equilíbrio deve ser
buscado a partir da conscientização, por parte do autor do delito, de
que a punição que lhe foi atribuída é condizente com o ato praticado,
podendo ser menos, mas nunca mais. Ou seja, o equilíbrio na expiação
deve ser sempre abaixo do mal praticado, diferentemente do equilíbri o
numa relação “sadia”, que deve ser sempre maior do que o recebido.
Assim, em uma relação de um casal, se um der mais que o outro, é
preciso que esse que recebe passe a dar mais do que recebeu, fazendo
com que o outro busque dar mais e assim sucessivamente. Já numa
punição, essa deve ser menor que o mal causado, justamente para

117
Moral, material e sentimentalmente.
quebrar o ciclo vicioso.
Para Olinda Guedes, “em uma sociedade realmente evoluída, alguém
que cometeu um crime talvez fosse "condenado” a cultivar hortaliças,
a reformar escolas, aprenderia a cantar ou tocar, faria coisas para
doentes ou idosos, por muitos e muitos anos”. 118
A importância do agressor responsabilizar-se pelos seus atos é
explicada por Hellinger 119:
Quando alguém tem uma culpa pessoal, ela é uma fonte de força, desde
que seja reconhecida No momento em que alguém reconhece a própria
culpa, deixa de sentir-se culpado. Esse sentimento se infiltra quando
a culpa é reprimida ou não é reconhecida. Quem reconhece a própria
culpa se fortalece, pois ela se manifesta como força. Quem nega sua
culpa e se esquiva de suas consequências tem sentimento de culpa e é
fraco. A culpa que alguém possui capacita-o a fazer coisas boas. Ele
não teria tido força para fazê-las se antes não tivesse reconhecido essa
culpa.
Logicamente que esse processo não é tão simples e exige que os
envolvidos estejam dispostos a verdadeiramente olharem -se
intimamente, buscando o que está oculto em cada um e que possa ter
motivado o desvio, pois o "essencial não é visível. Aparece
subitamente através da observação dos fenômenos. E vem à luz”. Por
isso ser essa uma abordagem fenomenológica. 120
Nesse processo é quase certo que ambos perceberão que são, ao mesmo
tempo, vítimas e agressores e que o desejo de justiça é, na prática, o
reforço do papel de vítima, sendo este papel “a mais refinada forma de
vingança”. 121
Mesmo sendo muito grande a pressão para compensar uma ofensa, para

118
GUEDES, Olinda. Além do aparente: um livro sobre constelações familiares. 1 ed.
Curitiba, 2015, p. 63.
119
HELLINGER, Bert. Ordens do amor: Um Guia Para o Trabalho com Constelações
Familiares, São Paulo: Cultrix, 2001, p. 42.
120
HELLINGER, Bert. Constelações familiares: o reconhecimento das ordens do amor.
Tradução Eloísa Giancoli Tironi, São Paulo: Cultrix, 2007, p . 30.
121
HELLINGER, Bert. Ordens do amor: Um Guia Para o Trabalho com Constelações Familiares,
São Paulo: Cultrix, 2001, p. 76.
Hellinger “inúmeros problemas decorrem dessa necessidade
compulsiva, que não leva a nenhuma solução. Deve-se encontrar, num
nível mais elevado, uma outra forma de compensação; através do bem,
do respeito e do amor”. 122
Apesar desse sentimento de fazer justiça nos aliviar, “estranhamente,
não percebemos quão absurda é essa ideia, com suas consequências
assustadoras. Fazemos parte de maneira demasiadamente intensa de
um campo espiritual que espera e deseja isso”. Continua Hellinger
afirmando que "muitas vezes, nem mesmo percebemos que, diante
dessa necessidade, afastamo-nos de nós mesmos, de nossa
humanidade”. 123
Apresenta como caminho mais saudável aquele em que "deixamos para
trás nossas distinções tradicionais entre o bom e o mau e, ao mesmo
tempo, nossas distinções entre a vida e a morte”, eis que para as leis
sistêmicas “tudo pode ser curado, levado pela vida em sua plenitude -
sem culpa, sem expiação, sem justiça, numa corrente eterna em um mar
infinito. Sem o bom e o mau, com todos os outros igualmente ali - com
amor”. 124
Assim, estreita-se a ideia de que o sistema penal tradicional se
desarmoniza das Leis Sistêmicas, o que gera consequências no campo
morfogenético de todo o sistema social que a ele está condicionado.
3.3 CONSTELAÇÃO FAMILIAR NO PROCESSO PENAL
Já foi visto o funcionamento do sistema de justiça penal, onde a pena
só pode ser aplicada por meio de um processo judicial, com a
participação do acusador (ministério público [regra]), estando a vítima
deslocada para fora desta configuração.
O modelo adotado pelo Brasil não permite que se faça acordos no curso
do processo crime, não havendo, portanto, a possiblidade de se aplicar
as constelações familiares como técnica substitutiva da pena. Todavia,

122
HELLINGER, Bert. Ordens do amor: Um Guia Para o Trabalho com Constelações Familiares,
São Paulo: Cultrix, 2001, p. 276,
123
HELLINGER, Bert. A cura: tornar-se saudável, permanecer saudável. Tradução de Daniel
Mesquita de Campos Rosa, Belo Horizonte: Atman, 2014, p. 33.
124
HELLINGER, Bert. A cura: tornar-se saudável, permanecer saudável. Tradução de
Daniel Mesquita de Campos Rosa, Belo Horizonte: Atman, 2014, p. 34.
sabe- se que alguns magistrados têm utilizado a participação do
acusado na constelação familiar como atenuante genérica, prevista no
artigo 66 do Código Penal, 125 justamente por perceber uma
significativa mudança na relação dos envolvidos. Esses casos são, de
regra, registrados nos crimes de violência doméstica, mas nada impede
possam ser estendidos para outras infrações penais.
De qualquer forma, há um contundente movimento restaurador que
busca trazer a vítima para o processo penal, atribuindo-lhe um papel
ativo. Esta moderna proposta, que se configura como um “sistema de
resposta à criminalidade orientado também por finalidades outras,
regido por uma ideia muito própria quanto ao procedimento
(participado, não impositivo e pacificador)”, 126 surge na década de
setenta, com discussões iniciais nos EUA.
Sob o ponto de vista formal, o caso que oficialmente confere origem à
Justiça Restaurativa remonta a uma experiência ocorrida em 1974 na
província de Ontário, no Canadá, em que, por sugestão de um oficial
de livramento condicional, que integrava um grupo de discussão sobre
alternativas à pena de prisão, promovido por cristãos menonitas, um
juiz determinou que dois jovens que haviam sido acusados de depredar
22 propriedades se encontrassem com suas vítimas. Deste encontro
resultou um acordo de reparação dos danos causados. 127
Contudo o termo Justiça Restaurativa foi usado pela primeira vez em
1977 por Albert Eglash, no artigo Beyond Restitution: Creative
Restitution, tendo o Conselho Econômico e Social da Organização das
Nações Unidas, em julho de 1999, por meio da Resolução 1999/26,
passado a incentivar os estados, as organizações internacionais entre
outras entidades, a trocarem informações e experiências em matéria de

125
Art. 66 - A pena poderá ser ainda atenuada em razão de circunstância relevante anterior
ou posterior ao crime, embora não prevista expressamente em lei.
126
SANTOS, Cláudia Cruz. A justiça restaurativa: um modelo de reação ao crime diferente
da justiça penal: porquê, para quê e como? 1 ed., Coimbra: Coimbra Editora, 2014, p. 123.
127
MILAZZO, Cristhyan Martins Castro. Justiça restaurativa: caminhos de fraternidade,
direitos humanos e dignidade social. 2008. Dissertação (Mestr e em Direito) - Pontifícia
Universidade Católica de Goiás, Goiânia, 2008, p. 98. Disponível em:
<http://tede.biblioteca.ucg.br/tde_arquivos/22/TDE-2013-12-17T144113Z, acessado em 25
de junho de 2017.
mediação e Justiça Restaurativa.
No Brasil, em maio de 2016 o Conselho Nacional de Justiça aprovou
a Resolução 225/2016, que contém diretrizes para a implementação da
prática restaurativa no poder judiciário, movimento que ainda está em
sua fase embrionária, não passando de gestos localizados e
temporários, que não possuem a força necessária para pensar -se, a
curto e médio prazo, em uma superação do modelo tradicional de
justiça penal.
A Justiça Restaurativa é uma aproximação que privilegia toda a forma
de ação, individual ou coletiva, visando corrigir as consequências
vivenciadas por ocasião de uma infração, a resolução de um conflito
ou a reconciliação das partes ligadas a ele. 128
Ela também deve ser vista como um “modo de resposta que se funda
no reconhecimento do conflito” e que assume como “função a
pacificação do mesmo através de uma reparação dos danos”,
finalidades estas só alcançadas por meio do “encontro e da autonomia
da vontade”. 129 Este novo modelo supera o entendimento de crime-
punição para o crime-reparação.
É preciso deixar claro que a Constelação Familiar não é Justiça
Restaurativa, pois enquanto essa se preocupa mais com a reparação do
dano causado pelo fato-crime, aquela, incentiva as partes a
conhecerem os motivos do conflito ou da conduta violenta que estão
ocultos. A Constelação Familiar exige uma postura diferente frente ao
“problema”, com observância das leis sistêmicas e sem compromisso
com a reparação.
Todavia, a Justiça Restaurativa não é só isso. Ela pode ser mais e nesse
plus se imagina possa compreender a Constelação Familiar como uma
técnica de aproximação dos envolvidos, apta a tirar o véu que emoldura

128
JACCOUD, Mylène. Princípios, tendências e procedimentos que cercam a Justiça
Restaurativa. SLAKMON, Catherine; VITRO, Renato Campos Pinto de; PINTO, Renato
Sócrates Gomes (org.). Justiça Restaurativa. Brasília: Ministério da Justiça e Programa
das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD, 2005, p. 169.
129
SANTOS, Cláudia Cruz. A justiça restaurativa: um modelo de reação ao crime diferente
da justiça penal: porquê, para quê e como? 1 ed., Coimbra: Coimbra Editora, 2014, p. 304 -
305.
o conflito, por meio de uma visão sistêmica das relações.
Em resumo, imagina-se que, com a regulamentação da justiça
Restaurativa no procedimento criminal, abrir-se- ia um importante
espaço para a utilização da Constelação Familiar como alternativa à
prisão.
Enquanto essa regulamentação não ocorre, dispõe-se apenas do
permissivo legal, contido nas medidas socioeducativas aplicadas aos
menores que cometem ato infracional, eis que a Lei n° 12.594/12, que
instituiu o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo
(SINASE), prevê em seu artigo 35, incisos II e III, a possibilidade da
autocomposição e da justiça restaurativa como técnicas a ser em
utilizadas.
De outro lado, nada impede que se aplique as constelações familiares
no processo crime, não como substitutivo de pena, mas como técnica
que possibilite aos envolvidos compreenderem os motivos da ofensa,
ajudando-os a desemaranhar a relação e evitar a repetição do padrão
violento.
Assim, mesmo não tendo previsão legal, poderia o juiz, com a
concordância do ministério público e da defesa, designar encontros
para a realização da constelação, até porque, explica Hellinger:
O juiz tem uma visão dupla, um olhar vai para a lei. Ele tem que seguir
a lei. Mas ele tem uma certa margem. Quando a lei é aplicada de uma
maneira totalmente exata, muitas vezes ela se torna desumana e,
através das constelações familiares, podemos obter uma outra visão
sobre vidas humanas e destinos. Por exemplo a respeito daquilo que
eu falei hoje sobre os campos espirituais. 130
No tocante às espécies de crimes que se possa aplicar a constelação
familiar, provavelmente não haveria uma indicação específica. Seria
bastante produtivo aplicá-la aos crimes sexuais e aos crimes que

130
Respostas que Bert deu a Sami Storch, sobre a possibilidade de ele aplicar a Constelação Familiar
no Judiciário, que ocorreu no 1° Treinamento Avançado em Constelações Familiares, promovidos
com Bert por Décio Fábio de Oliveira Jr e Wilma Oliveira, em Águas de Lindoia, SP de 10 a
17.8.2008. Este diálogo se encontra nos DVDs n° 25 [a partir de 1m e 40s] gravados e comercializados
pela Editora Atman.
envolvem violência doméstica. Entretanto, todo crime permite
constelar, inclusive os sem vítimas individualizadas, pois o que se
busca é trazer à tona a consciência oculta do sujeito que, muitas vezes,
motiva a violência.
Pelas leis sistêmicas, é preciso ter em conta que a injustiça que foi
cometida em gerações anteriores será representada e sofrida
posteriormente por alguém da família para que a ordem seja restaurada
no grupo. É uma espécie de compulsão sistêmica de repetição. 131
No que toca ao crime de tráfico de drogas ilícitas, por exemplo e por
ser o que mais encarcera em nosso país, essa conduta é motivada pelo
consumo, pelo vício, o qual, por sua vez e na visão sistêmica, origina -
se pela ausência de algo na vida do sujeito.
Explica Hellinger que "torna-se viciado aquele a quem falta algo. Para
ele, o vício é um substituto. Como curamos um vício em nós?
Reencontrando aquilo que nos falta. Quem ou o que falta no caso de
um vício? Geralmente é o pai". 132
Se ao pai cabe a aproximar-se desse filho, qual o papel da mãe nesse
emaranhado? Segundo as leis sistêmicas, "elas reconhecem que, para
seus filhos, são apenas uma metade, e nunca a totalidade. Ao invés de
manter seus filhos longe do pai, os guiam com amor até el e". 133
Repare-se num exemplo de um crime bastante comum, apenas para
demonstrar como a visão sistêmica encara o problema de forma
diferente da abordagem tradicional. Primeiro que em um processo
crime por tráfico de drogas, o juiz não teria oportunidade desse olhar
mais profundo, sem contar a ausência de conhecimento da maioria dos
juízes, na influência das leis sistêmicas no ato que aparece (o desvio).
Encarar a violência ou o desvio na área criminal, por meio da punição,
tem se mostrado um erro que só causa mais problemas. O Direito
Penal, por meio da punição, tem hoje “eficácia invertida à sua missão,

131
HELLINGER, Bert. Constelações familiares: o reconhecimento das ordens do amor
Tradução Eloisa Giancoli Tironi, São Paulo: Cultrix, 2007, p. 14.
132
HELLINGER, Bert. A cura: tornar-se saudável, permanecer saudável. Tradução de
Daniel Mesquita de Campos Rosa, Belo Horizonte: Atman, 2014, p. 94.
133
HELLINGER, Bert. A cura: tornar-se saudável, permanecer saudável. Tradução de
Daniel Mesquita de Campos Rosa, Belo Horizonte: Atman, 2014, p. 95.
pois funciona (tem a função) peculiar de reproduzir a criminalidade
que o ambiente carcerário acaba por absorver”. 134
Por isso a importância de se encarar a violência e o desvio de uma
forma diferenciada e mais humana, com vistas realmente ao auxílio e
não apenas à retribuição, pois, como disse Platão, “a maioria das
pessoas não nota que ignora a essência das coisas, o que não os impede
de acreditar erroneamente que a conhecem. 135
3.4 APLICAÇÃO DA CONSTELAÇÃO FAMILIAR NA
EXECUÇÃO PENAL
Não se olvida a enorme disputa dogmática que envolve a função da
pena, na dicotomia retribuição ou prevenção. 136 Também não se
desconhece as motivações das teorias materialista-dialética 137 e
negativa-agnóstica 138, ambas pertencentes à teoria criminológica da
pena.
Contudo, não há espaço aqui para uma discussão mais acalorada sobre
as bases teóricas que motivam a pena de prisão. E sim refletir sobre o
caos penitenciário que se estabeleceu no país, com superlotação e
ausência completa de estrutura básica para uma vivência humana
digna. O efeito disso é notório: o cárcere tem gerado mais violência. 139

134
CHAVES JUNIOR, Airto. OLDONI. Fabiano. Para que(m) serve o Direito Penal? uma análise
criminológica da seletividade dos segmentos de controle social, Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2014,
p. 173.
135
PLATÃO. Fedro. Tradução de Alex Marins. São Paulo: Martin Claret, 2002, p. 69.
136
Prevenção geral (positiva e negativa) e especial (positiva e negativa).
137
Estabelece uma contundente crítica ao sistema penal, através do afastamento da s funções
aparentes da pena (prevenção e retribuição), para a correta exposição de suas reais funções,
que seriam a manutenção do establishment, servindo para preservar e reproduzir as
desigualdades sociais: "a prisão prisionaliza o preso que, depois de ap render a viver na
prisão, retorna para as mesmas condições sociais adversas que determinaram a
criminalização anterior” (SANTOS. Juarez Cirino dos. Direito penal: parte geral. 3 ed., Rio
de Janeiro: Lumen Juris, 2008, p. 482-487).
138
Para essa teoria a pena retira o conflito da vítima, sem compô-lo e o posterga no tempo
sem solução alguma. A pena é uma “coerção, que impõe uma privação de direitos ou uma
dor mas não repara nem restitui, nem tampouco detém as lesões em curso ou neutraliza
perigos iminentes". Assim, demonstra-se a falsidade dos discursos oficiais de prevenção e
retribuição, Essa teoria propõe a via repara- tória como fórmula que recupere a
legitimidade da pena (ZAFFARONI, Eugênio Raul; BATISTA, Nilo; ALAGIA, Alejandro;
SLOKAR, Alejandro. Direito penal brasileiro 1. Rio de Janeiro: Revan, 2003, p. 99 -105).
139
No início de janeiro deste ano (2017), uma rebelião no Complexo Penitenciária Anísio
Jobim (Compaj), em Manaus, deixou 56 detentos mortos (Disponível em
A prisão “não consegue mudar a realidade que objetiva regular (ou
controlar). Trata-se, portanto, de um projeto simbólico, que nas
condições que se apresenta, não pode ser eficaz (ou que não é feito
para sê-lo), mas apenas para suscitar a aparência de que é.” 140
Quem trabalha na área criminal ou penitenciária tem conhecimento das
condições sociais, educacionais, econômicas e familiares dos que
povoam as prisões. São provenientes de classes sociais que ganham até
dois salários mínimos, com baixa escolaridade (6% são analfabetos,
9% apenas alfabetizados, 53% com ensino fundamental incompleto),
subempregados, com famílias desagregadas (sem pai, sem mãe, com
relação familiar conturbada). 141
As estatísticas oficiais confirmam esses dados, mas não precisaria de
pesquisa alguma, bastando uma simples visita às prisões e um rápido
contato com os detentos para verificar que a história de cada um,
apesar de ser única, se assemelha à história da maioria dos presidiários,
a contar que 67% dos encarcerados são negros e isso já diz muita coisa
na sociedade em que se vive.
Pode-se afirmar que a prisão é o único estabelecimento estatal que o
negro não precisa de cotas para entrar Ele entra a partir do modelo
seletivo do sistema penal adotado pelo Brasil.
Apesar dessa seletividade, não há dúvida de que é preciso um
instrumento mais humano e que efetivamente possa ajudar os
envolvidos a compreenderem as causas não apenas do crime, mas da
violência em geral, seja ela conhecida ou não pelas agências de

http://brasil.elpais.com/brasil/2017/01/02/politica/1483358892_477027.html). Também no
mesmo mês de 2017, uma rebelião na Penitenciária de Alcaçuz, em Natal/RN, deixou mais
26 presos mortos (Disponível em http://www.folha.uol.com.br/cotidiano/2017/01/1850078-
rebeliao-em-presidio-deixa-ao-menos-27-mortos-diz-governo-do-rn.shtml). Até o momento
(março de 2017) o Brasil já apresenta um saldo de I 34 presos mortos no interior das pr isões
(Disponível em http://www.correio24horas.com.br/detalhe/brasil/noticia/nume ro-de-
mortos-em-presidios-brasileiros-chega-a-134-em-2017/?cHash=f9072cd-
60180fa310a2d75fd83fIefeI).
140
CHAVES JUNIOR, Airto. OLDONI. Fabiano. Para que(m) serve o Direito Penal? uma
análise criminológica da seletividade dos segmentos de controle social, Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2014, p. 188.
141
Disponível em http://www.justica.gov.br/noticias/mj-divulgara-novo-relatorio-do-
infopen-nesta-terca-feira/relatorio-depen-versao-web.pdf Acessado em 11 de julho de 2017.
controle penal.
Se por ora o aprisionamento tem sido uma regra, colocando o Brasil
em terceiro lugar entre os países que mais encarceram no mundo, com
711 mil presos, 142 é importante perceber esses sujeitos que estão presos
com um olhar diferente daquele Comumente empregado pela
população em geral.
Assim e diferentemente do processo crime, há, na execução penal,
permissivo legal para que se utilize a Constelação Familiar como
técnica a colaborar na pacificação do conflito já julgado, seja por meio
da Assistência Social, com previsão nos artigos 10 143 e 23, inciso V 144,
ou do Patronato, previsto nos artigos 78 145 e 25 146, todos da Lei de
Execução Penal (Lei 7.210/84).
Um dos requisitos para que o preso seja beneficiado pela progressão
de regime prisional, livramento condicional, indulto e comutação de
pena é ostentar um bom comportamento carcerário, o que deve ser
atestado pelo diretor do estabelecimento prisional, conforme artigo
112 da Lei de Execução Penal.
É comum que o preso pratique infrações administrativas ou até mesmo
crimes durante o cumprimento da pena, o que poderá impedir que
satisfaça o requisito subjetivo acima. Muitas vezes esses
comportamentos são originados pelo sentimento de injustiça que
permeia a condenação criminai e pela falta de compreensão do desvio
cometido.
Negar o benefício ao preso não é um problema apenas dele, mas de
todo o sistema prisional, pois sua não saída no prazo que era de direito

142
Disponível em http://www.cnj.jus.br/images/imprensa/diagnostico_de_pessoas_
presas_correcao.pdf. Acessado em 20 julho de 2017.
143
Art. 10. A assistência ao preso e ao internado é dever do Estado, objetivando prevenir o crime e
orientar o retorno à convivência em sociedade.
144
Art. 23. Incumbe ao serviço de assistência social:
V - promover a orientação do assistido, na fase final do cumprimento da pena, e do liberando, de
modo a facilitar o seu retorno à liberdade;
145
Art. 78. O Patronato público ou particular destina-se a prestar assistência aos albergados e aos
egressos (artigo 26).
146
Art. 25. A assistência ao egresso consiste:
I - na orientação e apoio para reintegrá-lo à vida em liberdade;
acaba gerando um efeito funil, inchando ainda mais o já lotado sistema
prisional brasileiro. Por isso é importante que o preso consiga cumprir
sua pena de forma que, quando alcançar a fração para o benefício,
livre-se solto para a continuidade de sua vida extramuros.
Nesse sentido, também entende-se que a constelação pode auxiliar que
a execução da pena ocorra com menos percalços e desvios, onde o
preso, aceitando a punição estatal, já que prevista em lei e fixada por
uma autoridade competente, entenda o seu papel no mundo e em seu
grupo familiar e social, assuma a responsabilidade pelo crime,
identifique as questões ocultas e quebre o ciclo da repetição de
padrões.
A importância de ouvir o sujeito que cumpre uma pena privativa de
liberdade é enorme. Ele foi excluído do seu sistema familiar e social,
não mais pertencendo a eles, sendo colocado a força num ambiente de
encarceramento coletivo. Na família e no grupo foi proibido de ficar e
no sistema prisional forçado a estar Evidente que não consegue
pertencer a lugar algum.
Olhar para as relações familiares é essencial, conforme detalhado por
Sami Storch:
Verifica-se que em todos os campos de relações humanas há
influências fundamentais da família de origem; questões relacionadas
ao envolvimento com drogas, violência, comportamentos antissociais,
dificuldades no trabalho e em relação ao Estado também podem ter
sua solução potencializada pelas constelações, na medida em que as
questões de fundo familiar são “desemaranhadas" e as pessoas se
liberam do padrão anterior de postura e comportamento que
determinava seu envolvimento naquela situação. Nas experiências já
realizadas, esse trabalho vem mostrando grande eficácia em todas
essas áreas. 147
Até porque “o impacto deletério do encarceramento não se exerce
somente sobre o preso, mas também, e de forma mais insidiosa e mais

147
STORCH, Sami. Por que aprender Direito Sistêmico? Disponível em
https://direitosistemico.wordpress.com/2017/04/10/por-que-aprender-direito-sistemico/. Acessado
em 11 de julho de 2017.
injusta, sobre sua família e pessoas que o cercam, especialmente sobre
seus cônjuges ou companheiros”. 148
É muito comum o preso sentir-se injustiçado pela pena imposta.
Quando sair da prisão possivelmente se revolte e os altos índices de
reincidência confirmam isso.
Por isso a importância dele conhecer os padrões ocultos que
emaranham 149 toda sua vida e tomar consciência do ato que praticou.
A punição como simples expiação em nada acrescenta ao condenado e
à vítima. Nesse contexto explica Bert Hellinger:
A maioria das constelações mostra que a pessoa que era considerada
ruim ou perturbada, na verdade é boa e motivada por um amor
profundo. E muitos que se consideram melhores, veem, de repente, que
foram eles que desencadearam uma dinâmica negativa. Assim, todos
passam a ter uma nova visão. De repente, o inocente tem que se
confrontar com efeitos de sua arrogância e o "culpado” pode ver que
tinha boas intenções. Pode aceitar a si mesmo e talvez deixar de lado
seu comportamento negativo. 150
Pode-se afirmar que a reincidência é a repetição do comportamento
pela manutenção oculta do problema.
Em um interessante estudo realizado na Bay State Correctional, em
São Francisco, Califórnia, EUA, durante os anos de 2005 e 2006, Dan
Cohen acompanhou 9 presos condenados por homicídio e estupro, os
quais foram submetidos à constelação familiar durante o cumprimento
da pena.
Esse trabalho originou a pesquisa intitulada Systemic family
constellations and their use with prisoners serving long- term

148
CHAVES JUNIOR, Airto. OLDONI, Fabiano. Para que(m) serve o Direito Penal? uma análise
criminológica da seletividade dos segmentos de controle social, Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2014,
p. 194.
149
“Emaranhamento significa que alguém na família retoma e revive inconscientemente o destino de
um familiar que viveu antes dele" (HELLINGER, Bert. Ordens do amor: Um Guia Para o Trabalho
com Constelações Familiares, São Paulo: Cultrix, 2001, p. 13).
150
HELLINGER, Bert. Constelações familiares: o reconhecimento das ordens do amor. Tradução
Eloísa Giancoli Tironi, São Paulo: Cultrix, 2007, p. 62.
sentences for murder or rape. 151 Em síntese, eis os resultados.
James foi condenado a 45 anos, por ser cúmplice de um assassinato
cometido durante um assalto a mão armada. Deixado em um orfanato
quando bebê, foi adotado e abusado sexualmente por seu pai adotivo
quando tinha 7 anos. Aos 10 anos foi morar com sua mãe biológica,
onde foi abusado emocional e fisicamente por seu padrasto, que
frequentemente bebia e batia nele.
James iniciou o consumo de drogas e álcool, tornou- se agressivo, não
confiando em ninguém, descontando sua raiva em pessoas inocentes.
Após fazer a constelação familiar na prisão, percebeu que estava
carregando um peso grande, por detestar o pai pelo abandono, o pai
adotivo por sempre agredi-lo e o irmão por nunca ter ido visitá-lo na
prisão.
Segundo James, foi através da constelação que se sentiu alguém, mais
paciente, espiritualizado, com sabedoria, compaixão e verdade em sua
vida. Quando foi para a prisão se sentia sozinho, como um pássaro
incapaz de voar porque suas asas estavam quebradas. Por muitos anos
sentiu-se na escuridão e a constelação devolveu-lhe parte da sua vida
que, estava perdida. As asas sararam.
Vê-se aqui uma afronta à lei do pertencimento, cuja ausência do pai é
sentida até a fase adulta, tendo motivado inúmeros atos por parte de
James, como a busca por álcool e drogas, onde o vício, segundo já dito
por Hellinger, é a tentativa de preencher o vazio, de regra a figura
paterna.
Outro caso foi o de Ted, que cresceu em uma família violenta , cujos
pais alcoólatras o agrediam fisicamente. Ted relatou que via os pais
como “monstros". Foi condenado por homicídio a 30 anos de prisão.
Quando fez a constelação, ficou de início assustado, pois não sabia o
que sairia de dentro dele. Havia uma imensidão de sentimentos e
emoções lutando entre si. Mas ele se sentiu seguro. Com a constelação

151
COHEN, Dan Booth. Systemic family constellations and their use with prisoners
serving long-term sentences for murder or rape. Disponível em http://www.konsteliacijos-
d.lt/multisites/konsteliacijos/images/stories/Simonos/cohen-2008-dissertation-family-
constellations.pdf. Acessado em 18 de julho de 2017, p. 96-145 (Tradução livre).
conseguiu ver os pais como pessoas que também tinham problemas,
encontrando momentos de paz e tranquilidade, perdoando a si mesmo.
Ted informou que por anos olhava para suas mãos e detestava o fato
delas estarem grudadas a ele por tudo o que elas já haviam feito. Agora
ele pode aceitá-las, entendendo que apesar do ato terrível que cometeu,
isso não tem que fazer com que ele seja uma pessoa terrível para
sempre. Entendeu que pode ser uma pessoa boa, amável apesar de tudo
o que ele fez.
Novamente a lei do pertencimento sendo desrespeitada, situação que,
aliás, foi a principal questão que apareceu nas constelações estudadas
por Cohen, como pode-se perceber no caso de Rick, que nunca se
sentiu fazendo parte de sua família, cujos pais e irmãos sempre foram
distantes e ausentes. Quando constelado, conseguiu perceber a falta
que sua família fez para si.
Rafael, condenado por homicídio e tráfico de drogas, perdeu 4 irmãos
e 2 se tornaram alcoólatras, numa clara imitação do alcoolismo do pai,
cuja ausência também era uma constante. Rafael, seguindo o padrão
dos irmãos e do pai, viciou-se em álcool e em drogas.
Mais uma vez o vazio (ausência paterna) é preenchido com o vício.
O (não) pertencimento também foi o padrão encontrado no caso de
Russ, abandonado pelos pais quando criança, foi criado em orfanatos,
vivendo em várias casas até completar a maioridade, quando envolveu -
se em inúmeros crimes, vindo a ser condenado por estupro. Em sua
constelação disse que foi “abandonado pela família, não conhecia a
mãe e foi encarcerado a vida toda”. Queria compreender sua raiva e
tristeza.
Conseguiu entender a história dos antepassados, compreendendo quem
era e quem eram seus familiares, conseguindo sentir-se pertencido.
O caso de Colin, condenado por estupro, foi constelado e evidenciou -
se sua dificuldade de se relacionar emocionalmente com mulheres.
Após a constelação ele percebeu o aflorar de muitas emoções que o
assustaram, bem como a relação conturbada com seu pai. Mas sentiu-
se uma pessoa melhor através dessas experiências.
O caso de Phil apresentou outro aspecto bastante comum entre os
presos, que é o sentimento de culpa pelo ato cometido. Phil matou sua
mulher em uma discussão, empurrando-a da escada. Teve um filho com
ela, o qual lhe deu netos no período em que estava na prisão.
A constelação ajudou Phil a olhar o passado e a entender porque
cometeu o crime, bem como o ajudou a não carregar a culpa pelo ato,
mas sim assumir a responsabilidade sem esquecer de olhar para a
frente.
O quadro resumo indica as expectativas e resultados alcançados pelos
presos após as constelações: 152

Name Presenting Issue Reported Outcome

1. Face my victim 1. “I feel a lot of relief."


James
2. Father M.’s death 2. “I feel open-hearted. Forgiveness.”

“Broadened my view of my father. Relationship with


Barry Father never visited
my mother has improved.”

1. Stopped seeing parents as monsters


1. Anger towards parents
2. Hands trembling diminished
Ted 2. Forgiving myself
3. I can be a good person, a loving person. despite
3. GrievingJane
what I did.”
1. Estrangement Irom brother 1. Relationship with brother has become close and
Rick loving
2. Shame 2. “Huge shift.”

Rafael Gríeving wife's death Learned from wife’s friends she died at peace

Alex Estrangement Irom mothefs sister “Our relationship is good now."


Overwhelmed by emotions during and after
Difficulty connecting emotionally
Colin Constellation. “I am a better person for having these
with women
experiences."
Afraid of meeting grandchildren Visit went well. Children now know and love their
Phil
for first time grandfather.

“I received understanding about who I really am. It


Wanted better understanding of his
Russ gave me a feeling of being more attached, and a sense
anger and sadness
of belonging to my family.”

152
COHEN, Dan Booth. Systemic family constellations and their use with prisoners serving long-
term sentences for murder or rape. Disponível em http:// www.konsteliacijos-
d.lt/multisites/konsteliacijos/images/stories/Simonos/cohen- -2008-dissertation-family-
constellations.pdf. Acessado em 18 de julho de 2017,
Entender que muitas das violências surgem pela repetição de padrões
passados é a grande contribuição que a constelação proporciona. René
Girard 153 estudou a influência do desejo mimético no surgimento da
violência, na cultura ocidental moderna. Sua pesquisa não se afasta das
leis sistêmicas trazidas por Hellinger, mas se aproxima na medida em
que ambas tratam da repetição de padrões como origem do desvio.

153
Ver GIRARD, René. O bode expiatório. Tradução de Ivo Storniolo. São Paulo: Paulus,
2004; GIRARD. Renê. Aquele por quem o escândalo vem. São Paulo: Realizações, 2011
e GIRARD, René. Mentira romântica e verdade romanesca. Tradução de Lilia Ledon da
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ZAFFARONI, Eugênio Raul; BATISTA, Nilo; ALAGIA, Alejandro;
SLOKAR, Alejandro. Direito penal brasileiro I. Rio de Janeiro:
Revan, 2003.
CURSO OFERECIDO PELO NÚCLEO DE DIREITO
SISTÊMICO - NDS
Os autores, integrantes do Núcleo de Direito Sistêmico - NDS,
oferecem o Curso de Direito Sistêmico, o qual objetiva proporcionar
aos profissionais do meio jurídico conhecimentos acerca do uso das
Constelações Sistêmicas no âmbito da Justiça.
O Direito Sistêmico fornece aos operadores jurídicos uma ferramenta
eficaz de pacificação social e otimização de acordos, levando
harmonia, celeridade e justiça para o dia-a-dia do advogado e do juiz.
O curso tem duração de 8 horas aula e possui a seguinte programação:
 Introdução ao Direitos Sistêmico sob a ótica das Leis
Sistêmicas de Bert Hellinger
 Constelações Sistêmicas: Ordens do Amor
 Postura sistêmica do Construtor do Direito
 Direito de Família Sistêmico
 União e Dissolução conjugal, Alienação Parental e Adoção
na visão das Leis Sistêmicas
 Direito Penal Sistêmico
 Aplicação das Leis Sistêmicas ao Direito Penal tradicional
 Aplicação das Constelações Familiares no Processo Penal e
na Execução Penal
Agende o curso em sua cidade por meio dos e-mails:
contatosnds@gmail.com
oldoni@univali.br
sarubbi@univali.br
mfernanda@univali.br
Aguardamos o seu contato.

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