Você está na página 1de 7

A

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Alexandre Medeiros noite estava animada ao redor geral para o nascimento da física mo-
SCIENCO do açude velho de Campina derna, ainda que de forma muito
e-mail: alexandre@scienco.com.br Grande. Camello, Stanley e breve, para depois me concentrar nas
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Jobson, todos professores de Física do origens mais específicas da relativi-
Ensino Médio, discutiam as dificul- dade restrita. Como a Cleide sugeriu,
dades da introdução da física moderna eu poderia desenvolver os outros
em suas aulas. João Tertuliano, nosso temas depois em outras entrevistas.
anfitrião da UFCG, ouvia atentamente Lula: Quais seriam esses outros
as ponderações dos colegas e refletia temas?
com eles sobre o seu trabalho de capa- Alexandre: Tem tantos, que eu até
citação de professores naquela área e fico confuso. Por exemplo: o papel do
a sua colaboração comigo e com a Einstein na criação da teoria quântica,
Auta Stella. Ao seu lado, o Carlos Ruiz, a sua educação na escola e na Univer-
nosso amigo cubano de Mossoró, sidade, a relatividade geral, a sua
explicava ao Jenner e ao Piolho as suas discordância em relação à interpreta-
reservas quanto ao conceito de massa ção de Copenhague para a mecânica
relativística. Eu, a Cleide e o Henrique, quântica e a sua proposição do para-
apenas ouvíamos aquelas duas con- doxo EPR, polêmica essa que prosse-
versas paralelas. Foi quando o Luis gue, após a sua morte, com as desi-
Augusto, ainda preocupado com a gualdades de Bell, nos anos sessenta.
conclusão do seu doutorado em ensi- A sua tentativa, sem sucesso, de cons-
no de Física na USP, me perguntou se truir uma teoria unificada de cam-
eu já havia escrito aquela entrevista pos e a sua idéia das variáveis ocultas.
com o Einstein que prometera ao Nel- Isso, além de temas mais gerais, como
son Studart. o seu humanismo, a sua religiosidade
Alexandre: Nem me fale nisso, cósmica, o seu pacifismo, a sua visão
cara! O Einstein é um personagem de produção do conhecimento e a sua
muito rico e complexo. Eu acho que concepção de Educação. É mole ou
entrei em uma fria, ao prometer isso. quer mais?
Ainda tenho que ler muito sobre o as- Lula: Pode parar por ai, você está
sunto. frito, mesmo.
Cleide: E além disso, você vai pre- Piolho: Meu amigo, por que você
cisar ser bastante seletivo, pois uma em lugar de se preocupar com tudo
entrevista que tente abarcar toda a isso, simplesmente não entrevista o
obra do Einstein, a riqueza da sua bio- homem e deixa-o falar livremente?
grafia e da sua personalidade, ficará, Alexandre: Mas, como?
certamente, muito longa. Talvez você Piolho: Sei lá! Você já não entre-
tenha que dividir a entrevista em vá- vistou outros personagens ilustres
rias outras. E quando quiser escrever que já subiram há muito tempo para
a parte de Educação me peça que eu o primeiro andar?
ajudo. Henrique: Alexandre! Sabe quem
Prosseguindo com a série de bem humoradas
entrevistas com celebridades da Física, nosso
Alexandre: Eu acho que seria inte- me telefonou agora mesmo e está vin-
autor-reporter e seus companheiros batem um ressante começar expondo a obra do para cá?
rápido papinho com Albert Einstein. geral do Einstein, a sua contribuição Alexandre: Não me diga que foi o

88 Entrevista com Einstein Física na Escola, v. 6, n. 1, 2005


Einstein? Einstein: Certa-
Henrique: Que nada! Foi o Nelson mente, Herr Bastos! E
Studart, que está de passagem para o o senhor, tem ido
Ceará e resolveu dar uma parada em muito a Zurique?
Campina Grande. Eu disse que você Piolho: O Henri-
estava aqui e ele falou que vem buscar que pirou! O que é
a tal entrevista que você prometeu a que ele está falando?
ele. Einstein: Herr
Alexandre: E agora? Já sei! Quan- Bastos, quem é este
do o Nelson chegar, o Henrique finge senhor, que me fala de
que é o Einstein e nós entrevistamos um modo tão vulgar?
ele. Explique a ele que nós
Henrique: Está louco, cara? Estou dois fomos estudantes
fora! O que é que eu vou dizer? na ETH de Zurique.
João: Olhe aí, gente! Temos uma Eu no final do século
nova visita chegando. XIX e o senhor, certa-
Nelson: Boa noite, gente. E então, mente, muito depois.
Alexandre, a entrevista já está pronta Jenner: Bem, eu
ou ainda vai começar? não estou compre-
Alexandre: Vai começar agora endendo. Eu fiz meu
mesmo, o Henrique vai nos ajudar. doutorado na ETH,
Henrique: Eu vou é pedir empres- mas você ...
tado o skate daquele garoto e sair des- Einstein: Caro
sa. Herr Bastos, não me Estátua em homenagem a Einstein em Washington.
Alexandre: Lembre-se do tombo diga que não se lem-
que você levou no Rio de Janeiro ao bra de mim. Albert, Albert Einstein, por aquele belo país. Depois disso,
dar uma de skatista. Você quase que- seu colega de profissão. meu pai me convenceu a estudar em
brou a cabeça. Piolho: Virgem Maria, o Henrique Zurique, na Escola Politécnica, a ETH.
Cleide: Como assim? endoidou mesmo. Vamos dar uma Como eu não havia completado a
Alexandre: Pois é! O Henrique água gelada para ele beber, para ver educação secundária eu precisaria fa-
também engoliu um bocado de água se melhora. zer um teste de admissão. Aliás, a ETH
ao tentar surfar na praia do Recreio e Alexandre: Nada disso! Se ele era uma das poucas instituições de
para completar ficou completamente pensa que é o Einstein, tudo bem. Me- ensino superior que aceitavam estu-
zonzo ao experimentar aquele brin- lhor assim! Vamos sentar aqui e dantes nessas condições.
quedo em forma de giroscópio na entrevistá-lo, agora mesmo. Piolho: O Henrique não me enga-
Exposição Ciência para Todos do Rio- Nelson: Pode ser uma boa idéia; na. Ele leu isso tudo e está fingindo.
Centro. vamos ver no que dá. De todo modo, Vamos perguntar algumas coisas
Henrique: Não foi tanto assim, a revista já está quase pronta. mais difíceis.
mas eu ainda estou meio enjoado. João: Pois então vamos testar esse Auta: Pois ele está me parecendo
Nelson: O Henrique sempre foi nosso Einstein do Paraguai. real. Deixe o bichinho falar.
metido a surfista e skatista, desde que Einstein: O que? Einstein: Obrigado, Frau Stella.
foi meu aluno em São Carlos, ou mes- João: Nada! Mas, me diga a sua Pois bem, eu fui estudar Engenharia,
mo antes no Ceará, e já levou muitas ficha: onde e quando nasceu, onde es- segundo o desejo dos meus pais, mas
quedas e engoliu muita água. É me- tudou, coisas assim. Eu quero checar mudei de idéia comecei a estudar Física
lhor não deixar ele cometer suicídio. a sua identidade. e resolvi ser professor. Fiz o tal teste
Auta: Lá vai ele! É maluquinho, Einstein: Eu nasci em Ulm, na de admissão, mas não passei. Mas me
mesmo. Meu Deus! Olhem o tombo Alemanha, em 1879. Ainda muito sai muito bem nos exames de Mate-
que ele levou! Vamos lá, gente. jovem a minha família mudou-se pa- mática e de Física, a ponto de impres-
Todos se levantam e correm em ra Munique, onde recebi a minha sionar tanto o professor dessa discipli-
direção ao Henrique que se encontra sofrida educação básica. Eu detestava na, o Weber, quanto o próprio diretor
caído no chão e desacordado com um aquele rígido padrão educacional da Escola.
enorme galo na cabeça. germânico. Aos dezesseis anos, meus Camello: Isso eu já sabia. E então?
Cleide: Henrique, Henrique, você pais foram para Milão e me deixaram Einstein: Então, eu fui estudar na
está bem? naquele maldito colégio, o Luitpold escola cantonal de Aarau durante um
Auta: Ele não está falando, gente. Gimnasium. Eu, então, inventei uma ano. Lá concluí os estudos interrom-
Vai ver que foi coisa séria. desculpa, consegui um atestado mé- pidos em Munique. Voltei para a ETH
Jenner: Henrique, acorde cara, dico e fui encontrar os meus pais na e finalmente pude entrar, como dese-
você está bem? Itália. Passei um ano inteiro passeando java, no curso de Física.

Física na Escola, v. 6, n. 1, 2005 Entrevista com Einstein 89


moderna. Para ser sincero, eu acho a eletromagnética, e a luz está aí incluí-
relatividade algo muito abstrato, da, tomamos um caminho que nos
muito diferente de tudo que eu estou leva diretamente à relatividade. Por
acostumado a ensinar. Eu não com- outro lado, se nos debruçamos sobre
preendo de onde aquelas idéias esqui- os problemas da natureza da radiação
sitas podem ter surgido. Será que dava eletromagnética, ou mais especifica-
para o senhor explicar como tudo isso mente, sobre os problemas da intera-
começou? ção da radiação com a matéria, a nos-
Einstein: Certamente! Eu tentarei sa rota conduz à teoria quântica.
discutir isso dentro do cenário mais Camello: Espera aí! Eu sempre
amplo do que foi a minha contribui- soube que a teoria quântica surgiu do
ção para o advento da física moderna. estudo da radiação de corpo negro.
Jobson: Eu sei que a coisa toda Não foi esse o trabalho do Planck? Não
começou com o tal experimento de foi ele o criador da teoria quântica?
Michelson-Morley, certo? Foi do Einstein: Bem, a coisa é mais com-
resultado negativo desse experimento plexa. Na verdade, o problema da
que a sua teoria da relatividade surgiu, radiação de corpo negro, ou seja, o
certo? problema de encontrar uma função
Einstein: Não foi exatamente as- de distribuição da densidade de energia
Einstein lecionando em Princeton. sim. Para ser sincero, foi de um modo emitida por um corpo negro, do
bem diferente. Deixe-me começar estudo da sua radiância, surgiu muito
Cleide: Eu gostaria muito de lhe falando de um modo geral do nasci- antes, com o Kirchhoff. Foi o Kirchhoff
perguntar sobre a sua educação, tanto mento da física moderna, para depois quem lançou o célebre problema de
em Munique quanto em Zurique. As nos concentrarmos no surgimento da encontrar uma função matemática
impressões que guardou dos seus pro- Teoria da Relatividade. para a radiância que dependesse ape-
fessores e como isso veio a influenciar Stanly: Pois, então, como é que a nas da freqüência e da temperatura
a sua visão posterior da Educação em física moderna surgiu? Eu já ouvi absoluta. Esse problema foi parcial-
geral. Temo, entretanto, que tenha- falar em uma história de duas nuvens mente abordado pelo Stefan, que foi
mos de ser seletivos e que os meus negras do Kelvin. Como é mesmo isso? professor do Boltzmann. O Stefan
amigos aqui queiram lhe perguntar Einstein: Isso é um conto da caro- encontrou uma função para a energia
outras coisas. chinha. Realmente o Kelvin, que era total emitida, aquela coisa de ser dire-
Einstein: Certamente, Frau Medei- um excelente físico, deu uma palestra tamente proporcional à quarta potên-
ros. Eu terei o maior prazer de conver- no final do século XIX na qual falou, cia da temperatura absoluta. Depois
sar sobre esses temas educacionais e alegoricamente, nessas tais duas veio o próprio Boltzmann que com
mesmo sobre a minha postura huma- nuvens negras e propôs as suas solu- uma abordagem baseada na mecânica
nista. Eles sempre foram muito im- ções para as mesmas que, em verdade, estatística, conseguiu demonstrar a
portantes para mim. Entretanto, creio não deram certo. Há, na verdade, função encontrada pelo Stefan. Essa
que preciso antes conversar sobre muito mito e exagero em torno dessa história é muito longa e merece um
alguns temas científicos com os meus história. estudo mais detalhado. Ela prossegue
colegas físicos aqui presentes para que Nelson: Estou de pleno acordo, eu com a descoberta, pelo Wien, de uma
eles parem de duvidar da minha iden- digo isso freqüentemente em minhas lei para o deslocamento das raias es-
tidade. aulas de física moderna. Isso de dizer pectrais da radiação do corpo negro,
Cleide: Tudo bem, depois, então, que todos achavam que a Física estava seguida por uma verdadeira função
faremos uma outra entrevista com o acabada é mesmo um mito. Entretan- para a radiância. E como vocês sabem,
senhor. to, havia alguns problemas centrais os estudos experimentais mostraram
Auta: E sobre os outros detalhes que nortearam o desenvolvimento da que a lei de Wien não valia na faixa
biográficos? física moderna. das baixas freqüências. É nesse ponto
Einstein: Eu creio que os colegas Einstein: Certamente, Herr Stu- que se insere a contribuição do Planck.
estão querendo começar pelos temas dart. O senhor, certamente, se refere Camello: Eu acho que o senhor
científicos, mas, de todo modo, para aos problemas advindos do estudo da pulou a questão da equação de
tratar dos mesmos, eu farei algumas radiação eletromagnética. Foi aí que Rayleigh-Jeans, da catástrofe ultra-
poucas incursões biográficas. Depois a polêmica começou. Na verdade, o violeta, não? Que eu saiba, o Planck
discutiremos essas questões biográ- nascimento da física moderna é decor- introduziu a sua hipótese da quanti-
ficas em maiores detalhes. rente do estudo dos mistérios envol- zação da energia para resolver a tal
Stanly: Senhor Einstein, eu ensino vidos na radiação eletromagnética; catástrofe ultravioleta.
Física em alguns colégios de Campina dos mistérios da sua natureza e da sua Einstein: Isso é um outro mito,
Grande e de Caruaru e estou muito propagação. Quando olhamos para os uma outra história da carochinha.
preocupado em ter de lecionar física problemas da propagação da radiação Nelson: Concordo! Eu até escrevi

90 Entrevista com Einstein Física na Escola, v. 6, n. 1, 2005


sobre isso um dia desses. 1900, embora desse conta matemati- dessa sua hipótese, não foi?
Einstein: Eu sei, eu li o seu artigo, camente do problema da radiação de Einstein: Isso! Ele ficou terminan-
mas eu já conhecia essa história an- corpo negro, não tinha ainda uma temente contra a minha idéia dos
tes. fundamentação física consistente. Foi quanta de luz, que depois seriam de-
Nelson: Certamente, Herr Eins- apenas nesse intervalo até dezembro de nominados de fótons, já nos anos 20.
tein! 1900 que o Planck, em desespero, João: Ele e toda a torcida do Fla-
Jobson: Eu não estou entendendo ousou apelar para a mecânica estatís- mengo.
mais nada! Afinal, o Planck resolveu tica do Boltzmann e conseguiu assim Nelson: Não apenas a torcida do
ou não a tal catástrofe ultravioleta? encontrar uma justificativa aceitável Flamengo, a do Corinthians, a do Vas-
Einstein: Nunca houve isso de para a sua lei da radiação. co, a do Santos, a do Palmeiras... Acho
problema de catástrofe ultravioleta. Piolho: Isso nós sabemos, Herr que só a turma do Canto do Rio ou a
Esse nome foi inventado bem poste- Einstein. Mas, assim fazendo, ele não do Íbis concordou com o Einstein.
riormente pelo meu amigo Paul se viu forçado a introduzir a hipótese Risos...
Ehrenfest. Além disso, há alguns da quantização da energia? Foi assim Einstein: É, de início foi mesmo
detalhes importantes a serem consi- que eu aprendi nos livros de estrutura assim. Em 1909, quando eu apresen-
derados nessa história. Em primeiro da matéria. tei a minha teoria das flutuações, que
lugar: a tal equação de Rayleigh- Einstein: Mas, Herr Piolho. Des- antecipava em muitos pontos as idéias
Jeans, como os livros didáticos de vo- culpe, é esse mesmo o seu nome? do De Broglie, em um Congresso na
cês costumam chamar, é posterior ao Piolho: É! Prossiga! Áustria, o Planck colocou-se vigoro-
trabalho do Planck, de 1900. O Jeans Einstein: Pois bem, o que o meu samente contra a minha idéia dos
corrigiu em 1902 um expoente errado caríssimo amigo Planck supôs, e ainda quanta de luz. Ele achava a idéia da
na equação do Rayleigh e assim sendo assim em desespero de causa, foi ape- quantização geral da energia, senão
a denominada equação de Rayleigh- nas que as energias dos osciladores das absurda, no mínimo completamente
Jeans nem existia em 1900. paredes da cavidade eram quantiza- desnecessária. Ele parece só ter come-
Jenner: Mas, Herr Einstein, se não das. Ele não afirmou, como você fa- çado a mudar a sua atitude após o
formos tão exigentes, a equação do lou, de um modo geral, que a energia primeiro Congresso Solvay, em 1911.
Lord Rayleigh já existia na época do era quantizada. A simples idéia de que Não sei, entretanto, se ele de fato pas-
trabalho do Planck. a energia se propagasse de forma dis- sou a aceitar a idéia da quantização
Einstein: Certamente, Herr Bas- creta lhe causava horror. E ainda da energia como algo incorporado
tos, mas o senhor sabe muito bem que assim, ele durante muito tempo ten- firmemente à sua estrutura de pensa-
ela não se constituía em nenhum pro- tou livrar-se daquela hipótese que lhe mento ou teve de resignar-se com
blema para o Planck, pois o trabalho parecia incômoda, que lhe parecia uma aceitação cada vez mais ampla
do Lord Rayleigh estava todo funda- uma mera hipótese heurística. Vários dessa idéia.
mentado na mecânica estatística de livros de vocês dizem que a hipótese Jenner: Entretanto, em suas me-
Boltzmann, na versão estatística da do Planck não foi, de início, bem mórias, escritas já nos anos 30, o
Segunda Lei da Termodinâmica, na aceita. Isso é verdade. Entretanto, nem
concepção probabilística do conceito o próprio Planck pareceu apreciar
de entropia. E isso o Planck não acei- aquilo que lhe parecia um mero arti-
tava de modo nenhum. Eu não deveria fício de cálculo a ser posteriormente
estar falando dessas coisas, mas é pre- removido.
ciso salientar que o trabalho do meu Auta: Mas, se não foi o Planck
grande e estimado amigo Planck foi quem introduziu de fato a hipótese
excessivamente parcial. Ele não disse, da quantização da energia, de uma
como afirmam muitos livros didáti- forma geral, de uma forma abran-
cos de vocês, que a energia era quan- gente, que incluísse a sua propagação,
tizada. quem foi que fez isso?
João: Como, não? Se não foi ele o Einstein: senhorita, por favor, não
pai da teoria quântica, quem foi me pergunte isso. A modéstia me im-
então? pede...
Einstein: Olhe! O Planck certamen- Nelson: Eu estou de pleno acordo
te conhecia o trabalho do Rayleigh e com o senhor. A hipótese da quanti-
nós podemos até admitir que ele tenha zação da energia em sua forma mais
de fato feito uma interpolação mate- abrangente é realmente sua.
mática entre duas equações: a de Alexandre: Eu diria que o senhor
Rayleigh e a de Wien, que valiam em é o verdadeiro pai da teoria quântica,
faixas opostas do espectro emitido pelo que o Boltzmann é provavelmente o
corpo negro. Entretanto, a fórmula avô e o Planck é, quando muito, o tio.
assim obtida por ele em outubro de O Planck, inclusive, não gostou muito Planck e Einstein.

Física na Escola, v. 6, n. 1, 2005 Entrevista com Einstein 91


Planck se reporta a uma conversa com surgiu? tese geral da quantização da energia,
o filho dele, o Erwin, logo após o Einstein: Foi, mas tudo isso se eu reconstruí de forma mais rigorosa
trabalho que ele havia apresentado em deveu a que vocês me perguntaram o caminho para a solução do proble-
dezembro de 1900, na qual ele teria sobre o papel desempenhado pelo ma da radiação de corpo negro, do
se referido à hipótese da quantização estudo da radiação de corpo negro no mistério da luminescência, da varia-
por ele introduzida, como algo revo- surgimento da física moderna. ção dos calores específicos atômicos e
lucionário e bastante promissor. João: Pois bem, isso nós já enten- finalmente do efeito fotoelétrico.
Alexandre: Eu também já li isso, demos. Já está bem claro que foi desse João: Poderíamos, então, dizer,
mas não me convenci de sua exatidão. estudo que surgiu a teoria quântica e que você colocou quatro bolas na ca-
Eu acho que ele reescreveu a sua pró- que a explicação mais completa foi çapa com uma só tacada.
pria história. Os seus depoimentos até sua e não exatamente do Planck. Einstein: Se você quiser entender
1911 depõem contra essa sua versão Einstein: Espere um pouco, eu não assim, foi. Mas eu não me vangloriei
posterior constante em sua autobio- disse exatamente isso. Eu estava fa- jamais desse feito. Eu sempre achei
grafia. lando no início que a teoria quântica que a grandiosidade da inteligência
Piolho: Quem sabe ele fez isso surgiu do estudo dos mistérios da humana está justamente no fato dela
para aparecer melhor na fotografia. interação da radiação eletromagnética ser suficiente para percebermos o
Einstein: Não concordo! O Planck com a matéria. quão pequena ela é para dar conta dos
foi uma das personalidades mais éticas Ruiz: Mas o estudo da radiação mistérios do Universo. O maior exem-
que eu conheci em toda a minha vida, de corpo negro se insere, exatamente, plo de inteligência está na humildade.
um verdadeiro exemplo de pessoa hu- nessa questão do mistério da interação A humildade, para mim, sempre foi
mana digna. Se ele cometeu esse tipo da radiação eletromagnética com a uma ponte entre a minha religiosidade
de falha em suas memórias, a expli- matéria. cósmica e a minha visão de produção
cação deve ser outra. Einstein: Certo, certíssimo, mas do conhecimento. Para mim, o grande
Nelson: Não se aborreça Herr não se resume a isso. Havia, também, mistério sempre foi que o mundo
Einstein, o nosso amigo Piolho estava o mistério do efeito fotoelétrico, des- pudesse ser compreendido.
brincando. Todos nós admiramos coberto pelo Hertz em 1887. O efeito Cleide: Vamos aprofundar esses
muito o senhor e o Planck. Mas, me fotoelétrico também é um exemplo temas em uma outra entrevista.
diga uma coisa, só para satisfazer a importante de um fenômeno miste- Einstein: Com muito prazer Frau
minha curiosidade. O senhor, nas suas rioso envolvendo a interação da radia- Medeiros. Mas, vamos ver logo se essa
viagens, conheceu a Dona Fifi? A ção eletromagnética com a matéria. nossa primeira entrevista vai ser
Dona Fifi foi uma brasileira que viajou E nesta mesma linha havia ainda o publicada.
pela Europa no início do século XX e mistério da variação dos calores espe- Ruiz: Herr Einstein, o senhor nos
conheceu muitos físicos importantes. cíficos atômicos, que não obedecia à apresentou, brilhantemente, um elen-
Ela era um tanto namoradeira e não lei de Dulong-Petit, e também o mis- co de quatro mistérios, todos eles rela-
era um tipo fácil de esquecer. tério da luminescência, aí incluídas a cionados com a interação da radiação
João (sussurrando): Eu nunca fosforescência e a fluorescência. Esses eletromagnética com a matéria e nos
ouvi falar dessa tal Dona Fifi. quatro mistérios, entretanto, apesar presenteou com a informação precio-
Nelson (sussurrando): Fala baixo, de estarem todos relacionados às sa de que o seu trabalho laureado com
a Dona Fifi é um personagem inventa- formas de interação entre a radiação o prêmio Nobel envolveu a solução
do por um amigo meu da Univer- e a matéria, eram tratados, até então, simultânea desses quatro problemas,
sidade Federal do Ceará, o Evangelista. de modos diversos. Cada um tinha a solução esta que nasceu da hipótese
Einstein: Bem, quando eu me se- sua forma específica de ser abordado. da quantização geral da energia. Sem
parei da minha primeira esposa, a O que faltava não era apenas uma querer entrar já nos problemas da
Mileva e antes de me casar com a Elza, explicação isolada e bem sucedida para propagação da radiação, que o senhor
minha segunda esposa, você sabe... cada um deles, mas, sobretudo a com- bem disse, nos levam ao desenvol-
Bem, eu conheci algumas senhoras preensão de que todos eles eram fa- vimento da relatividade, ainda existia
em Berlim, mas eu não me lembro cetas diferentes de um mesmo tipo de algum outro grande problema no fi-
bem dessa tal Dona Fifi. Acho que você mistério. Esse foi um dos meus traba- nal do século XIX de que a Física esti-
deveria fazer essa sua pergunta ao lhos de 1905, justamente aquele que vesse ocupada?
Schroedinger. Ele provavelmente deve depois me valeria o premio Nobel. Einstein: Existia, por exemplo, a
ter conhecido. Jenner: Mas, Herr Einstein, o se- ferrenha disputa entre os atomistas e
Stanly: Não entendi porque. nhor não ganhou o prêmio Nobel os energeticistas. Apesar de bem suce-
João: Deixa para lá, Stanley. justamente pela explicação do efeito dida, em vários aspectos, a teoria atô-
Lula: Mas, me diga uma coisa, o fotoelétrico? mica estava ainda longe de ser aceita
senhor não falou que ia dizer como a Einstein: É verdade, Herr Bastos, como uma unanimidade. Faltavam
física moderna surgiu e logo em mas o trabalho premiado era bem evidências convincentes e argumen-
seguida iria entrar na questão mais mais geral, não era apenas sobre o tações mais poderosas. A mecânica
específica de como a relatividade efeito fotoelétrico. Com a minha hipó- estatística, filha da teoria atômica,

92 Entrevista com Einstein Física na Escola, v. 6, n. 1, 2005


tinha muitos adversários, dentre eles ford previa cargas orbitando em torno idéia da quantização geral da energia.
nomes de peso, como Ostwald, Ernest do núcleo, estando, portanto acelera- E está faltando, ainda, o tal mistério
Mach e mesmo o Planck. O Planck até das. Assim, como uma conseqüência, da propagação da luz, ok?
bem próximo dos 1900 era ainda um pela teoria eletromagnética de Max- Einstein: Isso!
ferrenho adversário da teoria atômica. well, elas deveriam emitir radiação e João: Traduzindo, Camello, dos
Auta: Meu Deus! Mas, afinal, espiralarem em direção ao núcleo. Foi sete mistérios que deram origem à
quando é que essa situação mudou? o Bohr que resolveu esse problema física moderna, ele matou seis e deu a
A partir de quando a teoria atômica com a introdução do conceito de níveis arma para o Bohr matar o sétimo.
se impôs de forma paradigmática aos estacionários de energia. Lula: Agora sou eu que digo: é
físicos? Quem foi o principal respon- Auta: Mas quer dizer que final- mole ou quer mais?
sável por isso? mente alguém além de Herr Einstein Jobson: Pois bem, Herr Einstein,
Einstein: Desculpe-me, Frau Stel- resolveu algo realmente grandioso como é que esse mistério da propaga-
la, mas a senhora me faz perguntas dentre os grandes mistérios da física ção da luz começou? Não é ele sobre
realmente embaraçosas para a minha clássica? A questão de mérito, para o qual está faltando o senhor falar e
modéstia. mim, entretanto, é saber em que o que levará à relatividade?
Jenner: O que o senhor quer dizer, Bohr se fundamentou para contornar Einstein: Por favor, posso beber
com essa sua modesta argumentação, esse problema da instabilidade eletro- um pouco de água e descansar um
que foi também o senhor que deu con- magnética dos átomos. pouquinho? O assunto que vem a
ta desse problema? Camello: Isso! De onde o Bohr seguir é muito longo e merece ser
Einstein: Isso mesmo, Herr Bas- tirou essa idéia? discutido com todo o carinho. Temos
tos, fui eu, novamente, com a graça Einstein: Perdoe-me, Frau Stella, de falar do desenvolvimento da óptica,
de Deus. A minha tese de doutorado, mas o Bohr se baseou exatamente na do eletromagnetismo, da construção
juntamente com o meu trabalho sobre minha concepção mais geral da e da desconstrução do conceito de éter,
o movimento Browniano, foram quantização da energia. Ele a aplicou temos também de discutir direitinho
como que uma lápide para os oposi- brilhantemente ao seu modelo atômi- a contribuição de cada um dos perso-
tores da teoria atômica. Após aqueles co. nagens envolvidos nessa história do
meus dois trabalhos, também de Auta: Meu Deus, quer dizer, que éter, das suas propriedades exóticas,
1905, a teoria atômica passou a ser ainda quando não foi o senhor quem do mistério da aberração estelar, de
definitivamente paradigmática como resolveu o problema diretamente... como e porque o éter veio a ser to-
perguntou Frau Stella. João: Pois é, ele estava por detrás mado como um referencial absoluto.
João: Mas, havia, também, o pro- daquela nova explicação. Há de se discutir os papéis de Maxwel,
blema das raias espectrais. Graças à Stanly: Por favor, chega de falar Hertz, Voight, Fitzgerald, Lorentz,
sua descoberta, no século XIX, desen- do nascimento da teoria quântica. Larmor e Poincaré. Só assim, por con-
volveu-se a análise espectral e novos Vamos voltar ao outro grande misté- traste e por comparação, a minha
elementos químicos foram encontra- rio. O mistério da propagação da ra- contribuição poderá ser apreciada.
dos, mas ninguém sabia a razão de diação eletromagnética. Alexandre: Desculpe, sem querer
ser daquelas raias, de onde elas pro- Camello: E que levará, ao final importunar, Herr Einstein, mas o
vinham. Certamente elas estavam para onde? senhor pretende falar também em
relacionadas com a própria estrutura Jenner: Para a teoria da relativi- Olinto De Pretto?
da matéria, mas não havia ainda uma dade. Einstein: Eu sei ao que você está
teoria que desse conta das mesmas. Auta: De quem? se referindo. São aquelas acusações de
Ruiz: Mesmo se levando em conta Jenner: Do Einstein. plágio lançadas contra mim. Terei o
que já se sabia descrever e calcular as Auta: Essa eu já sabia. maior prazer em discutir isso tam-
freqüências de parte daquelas raias Camello: Deixe eu me situar um bém.
com a fórmula empírica de Balmer e pouco. O senhor falou de sete misté- Alexandre: Concordo com o se-
a fórmula mais geral de Rydberg. A rios ao todo, não foi? Um deles era a nhor, há muita gente que só conquista
solução para esse problema só veio questão da validade ou não da teoria os seus míseros quinze minutos de
muito depois, já em 1913, com os atômica, quatro outros estavam liga- fama jogando lama em quem brilha,
trabalhos do Bohr. dos à interação da radiação eletromag- mas mesmo assim essa questão me-
Camello: Mas qual a gênese do nética com a matéria, certo? rece um esclarecimento.
trabalho do Bohr? Eu sei que ele de- Einstein: Certo! A radiação de cor- Nelson: Eu acho que nós podería-
senvolveu um modelo atômico seme- po negro, a luminescência, os calores mos interromper a entrevista por aqui
lhante ao modelo do tipo planetário específicos atômicos e o efeito fotoe- e retomar depois com as origens da
de Rutherford, mas que tentava esca- létrico. relatividade. Além disso, se a entre-
par da contradição da instabilidade Camello: Isso já dá um total de vista ficar muito longa vamos ter pro-
eletromagnética daquele modelo. cinco mistérios. E tem mais o mistério blemas de espaço na revista e o Carlão
Stanly: Como assim? das raias espectrais que o João falou vai querer cortar algumas partes.
Nelson: É que o átomo de Ruther- e que o Bohr resolveu baseado em sua João: Podem deixar. Enquanto

Física na Escola, v. 6, n. 1, 2005 Entrevista com Einstein 93


isso, o velho fica hospedado na minha cada, nós entrevistaremos o velho so- Henrique acordar coloque ele de novo
casa comendo carne de Sol com feijão bre os outros assuntos que o Alexan- no skate. O importante é não deixar
verde, farofa, inhame e manteiga de dre falou. o Einstein ir embora.
garrafa. SE essa entrevista for publi- Alexandre: Tudo bem, mas se o Risos...

Bibliografia A. Einstein, Escritos da Maturidade (Editora tion (Princeton University Press, Prin-
Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1996). ceton, 1967).
K. Amano, The Origin of the Theory of Thermal L. Guimarães, De Onde Vem o h? Folhetim da H. Niedderer and J. Petri, Relations between
Radiation and Quantum Theory (Dai Física 4 :20, 2 (2005). Teaching and Learning in a Quantum
Nippon Pub, Tokyo, 1943). J. Heilbron, Dilemmas of an Upright Man: Max Atomic Physics Course, in Proceedings
A. Arons, Development of Concepts of Physics Planck and the Fortunes of German Science of the ESERA Conference: Research in Sci-
(Addison-Wesley Publishing Co., New (Harvard University Press, Cambridge, ence Education - Past, Present & Future
York, 1965). 2000). (University of Kiel - Germany, 1999).
J. Bernstein, As Idéias de Einstein (EDUSP, São B. Hoffmann and H. Dukas, Einstein (Paladin D. Overbye, Einstein Apaixonado (Editora
Paulo, 1975). Grafton Books, London, 1986). Globo, São Paulo, 2002).
J. Bjorken, The Future of the Quantum The- B. Hoffmann, The Strange Story of Quantum L. Peña, Introducion a la Mecânica Cuantica (Edi-
ory. Beam Line, Summer-Fall (2002). Mechanics (Dover Pub, New York, 1959). ciones Cientificas Universitárias, Fondo
E. Braun, Una Faceta Desconocida de Einstein H. Kragh, Max Planck: The Reluctant Revolution- de Cultura Econômica, México, 1990).
(Editora Fondo de Cultura Economica, ary. Physics World, December (2000). M. Planck, Eight Lectures on Theoretical Phys-
México, 1986). M. Lokajyjcek, Quantum Theory of Microworld ics (New York,Dover Publications, In-
H. Brown, Einstein (Editora Brasiliense, São and the Reality. Institute of Physics, Czech corporated, 1998).
Paulo, 1984). Republic, Prague, December (2004). A. Schirrmacher, Hilbert and Quantum Phys-
M. Bunge, Vinte e Cinco Séculos de Física Quân- Maffett Jr, I.L. Einstein and “Jabberwocky”: ics, in Proceedings of the XXth Interna-
tica. Gazeta da Física 25
25:3, 4 (2002). Through the Quantum Looking Glass (Geor- tional Congress of History of Science
J. Cardoso, La Enseñanza de la Física a los gia, Georgia University Press, Athens, (Liege, 1997).
Cien Anos de la Mecánica Cuántica. Re- 1998). E. Segré, From X-Rays to Quarks (W.H. Free-
vista Momento 21 21:Dezembro, 1 (2000). R. Martynez, La Teoria de la Radiación del man & Co., New York, 1980).
C. Cercignani, Ludwig Boltzmann: The Man Cuerpo Negro. Revista Momento 19 19:De- N. Studart, A Invenção do Conceito de Quan-
Who Trusted Atoms (Oxford University zembro, 59 (1999). tum de Energia segundo Planck. Revista
Press, Oxford, 1998). P. Michelmore, Einstein: Perfil de um Hombre Brasileira de Ensino de Física 2222, 523
A. Einstein, Concerning an Heuristic Point of (ditorial Labor, Barcelona, E1968). (2000).
View Toward the Emission and Trans- E. Mozena, A Solução de Planck para o Proble- K. Taber, When the Analogy Breaks Down:
formation of Light. American Journal ma da Radiação do Corpo Negro e o Ensi- Modelling the Atom on the Solar Sys-
of Physics 33
33:5 367 (1965). (tradução no da Física Quântica. Dissertação de tem. Physics Education 36 36, 222 (2001).
de Arnold Arons para o inglês do Mestrado, Instituto de Física e Faculdade D. Ter Haar, The Old Quantum Theory (Perga-
trabalho original de Einstein publicado de Educação. Universidade de São Paulo, mon Press Ltd., Oxford, 1967).
na Anallen der Physik em 1905) 2003. A. Venugopalan, The Coming of a Classical
A. Einstein, Notas Autobiográficas (Editora V. Natarajan, V. Balakrishnan and N. Mukun- World. Resonance 9:9, 10 (2004).
Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1982). da, Einstein’s Miraculous Year. Resonance, G. Whitrow, Einstein: The Man and his Achieve-
A. Einstein, Como Vejo o Mundo (Editora Nova 10:3, 35 (2005). ment (Dover Publications, New York,
Fronteira, Rio de Janeiro, 1981). E. Nelson, Dynamical Theories of Brownian Mo- 1973).

94 Entrevista com Einstein Física na Escola, v. 6, n. 1, 2005

Você também pode gostar