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APOSTILA TEÓRICA
Prof.ª Dr.ª Cláudia T. N. Paz
Sumário
Módulo 1 - Iniciando as reflexões...................................................................................2
Módulo 2 - Transtornos do Neurodesenvolvimento..................................................9
2.1. Transtornos Específicos de Aprendizagem.......................................................10
2.1.1. Transtorno da Leitura ou Dislexia...............................................................14
2.1.2. Transtorno da Matemática ou Discalculia...................................................17
2.1.3. Transtorno da Escrita ou Disortografia........................................................19
2.2. Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade............................................20
2.3. Transtorno do Espectro Autista.........................................................................25
Módulo 3 - Transtornos Psiquiátricos......................................................................30
3.1. Transtornos da Ansiedade................................................................................31
3.2. Transtornos do Humor.......................................................................................34
3.3. Transtornos Disruptivos, do Controle de Impulsos e da Conduta......................38
Módulo 4 - Possibilidades de procedimentos e recursos para alunos com
Transtornos................................................................................................................ 41
4.1. Orientações específicas ao atendimento de alunos com Transtornos de
Aprendizagem.......................................................................................................... 41
4.2. Orientações específicas ao atendimento de alunos com Transtorno do Déficit de
Atenção e Hiperatividade.........................................................................................50
4.3. Orientações específicas ao atendimento de alunos com Transtorno do Espectro
Autista...................................................................................................................... 56
4.4. Orientações específicas ao manejo de alunos com Transtornos Psiquiátricos..59
Referências..................................................................................................................64
Módulo 1 - Iniciando as reflexões...
aprende porque tem o diagnóstico X, devemos questionar quais são as condições que
a escola oferece para que Fulano, aluno com o diagnóstico X, consiga aprender.
Esse novo olhar é fundamental para que consigamos pensar em nossas
possibilidades de aprendizagem para alunos com transtornos. Como veremos a
seguir, os transtornos, em geral, não são visíveis, não estão marcados no corpo e, por
isso mesmo, levam à rotulação desses sujeitos, os quais, muitas vezes, carregam as
marcas do preconceito em suas trajetórias escolares, porque são tidos como
preguiçosos, malandros ou burros.
Educação para todos, implica, então, em “(...) inserção de todos, sem distinção
de condições linguísticas, sensoriais, cognitivas, físicas, emocionais, étnicas,
socioeconômicas ou outras e requer sistemas educacionais planejados e organizados
que deem conta da diversidade dos alunos e ofereçam respostas adequadas às suas
características e necessidades” (MEC, 2003, p. 23).
Observação: Se você desejar mais informações sobre esse tema, verifique nos
materiais complementares da disciplina, disponíveis na Biblioteca, o documento
do MEC, intitulado “Estratégias para a educação de alunos com necessidades
educacionais especiais”, do ano de 2003.
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Grifo nosso.
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Importante: Para uma melhor compreensão, leia a seguir sobre as diferentes rotas de
leitura (ROTTA, OHLWEILER e RIESGO, 2006).
- Rota Fonológica ou Indireta: está fundamentada na segmentação
fonológica das palavras escritas, consistindo em discriminar sons correspondentes a
cada uma das letras/grafemas que compõem a palavra. Essa rota permite o
reconhecimento das letras e sua transformação em sons. É realizada mediante as
seguintes etapas: identificação das letras através de análise visual; recuperação dos
sons dessas letras mediante consciência fonológica; pronuncia dos sons através do
léxico auditivo; identificação do significado da palavra no léxico interno (vocabulário).
Essa via de leitura é lenta e pertence aos estágios iniciais da aprendizagem da leitura.
- Rota Lexical ou Direta: é muito mais rápida e global, possibilitando o
reconhecimento global da palavra e sua pronúncia imediata sem a necessidade de
analisar grafema por grafema. É realizada mediante as seguintes etapas: análise
visual global da palavra escrita; ativação das notações léxicas; identificação do
significado da palavra no léxico interno (vocabulário).
Precisamos ficar atentos aos alunos com TDA/H, buscando oferecer a eles
todo o suporte pedagógico de que necessitam, pois, como afirmam Estanislau e
Bressan (2014, p. 156), estudos de acompanhamento de longo prazo demonstraram
que pessoas com TDA/H apresentam “desempenho acadêmico inferior, maior índice
de suspensões e evasão escolar, maior índice de rejeição de colegas, taxas mais altas
de depressão e dependência de drogas e maior risco de envolvimento em acidentes”.
Uma variável que interfere nesse processo é a vida escolar, momento em que muitos
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podem mudar significativamente de uma pessoa para outra, sendo essa, justamente, a
ideia de espectro.
Importante: Esse transtorno precisa ser conhecido na escola, pois é lá que sujeitos de
mesma idade conviverão. É preciso oportunizar, então, possibilidades de
desenvolvimento, com os mais diversos atores da escola, de atitudes inclusivas e de
respeito mútuo.
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De acordo com Estanislau e Bressan (2014, p. 16), o sistema escolar pode ser visto
como “um espaço estratégico e privilegiado na implementação de políticas de saúde
pública para jovens, passando a destaca-lo como principal núcleo de promoção e
prevenção de saúde mental para crianças e adolescentes, atuando no
desenvolvimento de fatores de proteção e na redução de riscos ligados à saúde
mental”.
Observação: Caso você tenha interesse em conhecer mais cada um dos transtornos
de ansiedade, procure-os no DSM-5, que já está na plataforma, como você já sabe.
haver uma relação entre eles. Assim, “o TOD tende a ocorrer em faixas etárias mais
jovens e aumenta o risco futuro de TC. O TC é mais grave e acomete um número
menor de crianças e adolescentes, já o TOD envolve comportamentos de menor
gravidade que ocorrem em mais crianças ao longo de seu desenvolvimento”.
As principais características do TOD são comportamentos persistentes de
desobediência e de oposição, negativistas ou provocativos, em relação a uma figura
de autoridade. “Costumam violar regras, ter crises de birra e de explosão, envolver-se
em discussões e comportamentos provocativos” (ESTANISLAU e BRESSAN, 2014, p.
179).
No DSM-5, consta como principal característica do TOD, a seguinte
(ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE PSIQUIATRIA, 2014, p. 463): “A característica
essencial do transtorno de oposição desafiante é um padrão frequente e persistente
de humor raivoso/irritável, de comportamento questionador/desafiante ou de índole
vingativa”. O referido documento ainda cita como características, as seguintes:
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Inclusão, relativa ao atendimento, feita por nós.
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Algumas fontes de texto já foram desenvolvidas na tentativa de maximizar a legibilidade das
letras por leitores disléxicos, tornando a tipografia das letras mais claras e precisas. O Portal da
Dislexia aponta como sendo as mais conhecidas a Lexia Readable, a Open Dyslexic, a
Dyslexie e a Sylexiad. As duas primeiras têm distribuição gratuita.
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Quando o aluno chegar na última etapa, estará pronto para usá-la nos ditados,
pois construiu, gradativamente, um repertório que o ajudará a escrever corretamente,
inclusive, palavras novas.
Para finalizar, em relação aos processos avaliativos desses alunos, cabe
destacar que os mesmos precisarão de:
Mais tempo para realizar as avaliações. “O disléxico não desenvolve
automaticidade no reconhecimento de palavras e, portanto, a
decodificação e a compreensão leitora lhe demandam tempo extra e um
grande investimento de habilidades cognitivas de nível superior” (SALLES
e NAVAS, 2017, p. 375).
Local tranquilo para realizar avaliações, que não ofereça distrações.
Provas orais.
Redução da quantidade de textos para leitura, bem como elaboração clara
e objetiva dos enunciados.
Evitar o uso de testes de múltipla escolha, pois “pelo fato de
descontextualizarem as informações e reduzirem o tempo de execução,
tornam-se muito difíceis para o disléxico” (ROTTA, OHLWEILER e
RIESGO, 2006, p.174).
Durante a execução desses passos, caso o aluno perceba que não está
conseguindo chegar em algum lugar e que suas estratégias não estão sendo eficazes,
“o melhor é fazer uma pausa e não pensar mais no problema a resolver” (VIANIN,
2013, p. 266). Esse momento chamamos de período de incubação.
Para agir em relação a esse quadro, propomos que a intervenção, feita durante
o AEE, integre três aspectos, adaptados de Rotta, Ohlweiler e Riesgo (2006, p. 368):
Intervenção relativa às atividades escolares;
Trabalho pedagógico com comportamentos adequados;
Orientações aos professores para modificações na sala de aula regular.
Permita que o aluno faça intervalos regulares, deixando que ele vá dar
uma volta fora da sala, tomar uma água. Essa estratégia é ainda mais
válida para aquelas disciplinas que possuem vários períodos juntos.
Organize uma lista, de tipo passo a passo, para que o aluno realize as
atividades educativas.
Repita as instruções e regras para o aluno sempre que necessário,
sinalizando para o aluno o que é importante. Fundamental salientar para
que se evitem instruções muito longas.
Divida as tarefas mais complexas em passos menores, para que o aluno
entenda o que deve ser feito e não se perca, ou até mesmo, desista da
atividade. Utilize recursos visuais que auxiliem o aluno a memorizar os
passos da tarefa.
Monitore o progresso do aluno, dando-lhe feedback constante, assim ele
se sentirá mais motivado a continuar se esforçando.
Evite repreender o aluno na frente da turma. Ao contrário, utilize atenção
estratégica, utilizando a sua atenção a ele como reforço positivo, bem
como fazendo contato visual sempre. Um único olhar pode trazer o aluno
de volta, ajudando-o a voltar ao foco.
Como estratégias gerais, tanto para o AEE, quanto para a sala de aula regular,
seguem algumas sugestões, adaptadas de Estanislau e Bressan (2014):
Compare o aluno somente com ele mesmo;
Use linguagem adequada ao aluno. Se utilize de sistemas alternativos de
comunicação oral, se necessário.
Antes de qualquer instrução, certifique-se de que o aluno realmente está
prestando atenção.
Monitore as aprendizagens do aluno constantemente.
Use reforços positivos para aprendizagens e comportamentos a serem
maximizados. Incentive e encoraje o aluno. O elogio é uma ferramenta
poderosa para alunos com autismo.
Estabeleça rotinas com auxílios recursos visuais e agendas. Use quadros
de rotinas.
Evite expor o aluno a situações que você sabe que ele terá dificuldades,
especialmente na frente de outras pessoas.
Atividades com sons muito altos ou luz muito intensa podem desencadear
comportamentos de desorganização. Esteja atento para adequar o
ambiente, observando as sensibilidades do aluno.
Respeite sempre o tempo do aluno na realização das atividades. O
trabalho com conteúdos escolares deve, também, respeitar essa
temporalidade.
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Utilize um tempo do seu contato com o aluno para perguntar “como vai
você?”. Essa é uma maneira de iniciar uma interação afetiva.
Converse com o aluno, caso desconfie que algo está errado. Pergunte a
ele como se sente.
Não menospreze o sofrimento do aluno.
Durante momentos difíceis, enalteça as qualidades do aluno, visando
manter sua autoestima. Valorize suas habilidades e elogie seu esforço.
Caso perceba que o aluno está isolado, converse com ele e pergunte
como ele se sentiria em fazer alguma atividade em grupo. Caso ele ache
positivo, estabeleça os grupos e coloque o aluno com colegas receptivos.
O acolhimento pelos colegas será de grande valia para o aluno com
transtorno depressivo.
Adapte atividades didáticas e avaliativas, bem como o tempo na realização
das mesmas. Tarefas mais curtas serão de grande ajuda para o aluno, já
que, em muitos casos, a atenção e a concentração estão prejudicados. Os
enunciados devem ser claros. Converse com o aluno, deixando a atividade
clara para ele.
Tente conciliar o currículo aos interesses do aluno.
Identifique atividades extracurriculares em que o aluno conviva com
colegas que tenham interesse comum.
No AEE, é importante estabelecer, com o aluno, uma hierarquia de
pessoas que o aluno possa contatar em caso de necessidade, como diante
de pensamentos suicidas, por exemplo.
Evite atividades e jogos que envolvam a competição ou comparações de
alguma natureza.
Avalie com o aluno, nos atendimentos, seus aspectos positivos, pois
sujeitos deprimidos tendem a fazer avaliações negativas de si mesmos.
Auxilie o aluno a contestar pensamentos negativos. Use perguntas do tipo
“Será que isso é verdade?”, “Que provas você tem de que o que está
pensando é verdade?”, “Será que existe uma explicação diferente para
isso que você está pensando?” Reflita com o aluno sobre as respostas.
Pessoas deprimidas também tendem à catastrofização das situações, ou
seja, uma percepção aumentada de possíveis consequências negativas de
suas ações. Analise com o aluno a probabilidade dos desfechos negativos
realmente acontecerem, oferecendo dados de realidade para uma análise
mais realista dos fatos.
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Referências