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Justiça Eleitoral

PJe - Processo Judicial Eletrônico

24/08/2021

Número: 0600455-28.2020.6.11.0024
Classe: REPRESENTAÇÃO
Órgão julgador: 024ª ZONA ELEITORAL DE ALTA FLORESTA MT
Última distribuição : 23/10/2020
Valor da causa: R$ 0,00
Assuntos: Propaganda Política - Propaganda Eleitoral - Divulgação de Notícia Sabidamente Falsa
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Procurador/Terceiro vinculado
PODEMOS (REPRESENTANTE) VIVIAN MARINILDES DE ASSIS NAZARIO (ADVOGADO)
MARIA LUIZA BORGES SANTOS (ADVOGADO)
REPUBLICANOS ALTA FLORESTA -MT- MUNICIPAL VIVIAN MARINILDES DE ASSIS NAZARIO (ADVOGADO)
(REPRESENTANTE) MARIA LUIZA BORGES SANTOS (ADVOGADO)
PSL - 17 PARTIDO SOCIAL LIBERAL DE ALTA FLORESTA VIVIAN MARINILDES DE ASSIS NAZARIO (ADVOGADO)
MT (REPRESENTANTE) MARIA LUIZA BORGES SANTOS (ADVOGADO)
EDESIO DO CARMO ADORNO 24721328168 WANDERLEY BRICATTE BARROS (ADVOGADO)
(REPRESENTADO)
EDESIO DO CARMO ADORNO (REPRESENTADO) WANDERLEY BRICATTE BARROS (ADVOGADO)
PROMOTOR ELEITORAL DO ESTADO DO MATO GROSSO
(FISCAL DA LEI)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
93968 19/08/2021 14:30 Sentença Sentença
325
JUSTIÇA ELEITORAL
024ª ZONA ELEITORAL DE ALTA FLORESTA MT

REPRESENTAÇÃO (11541) Nº 0600455-28.2020.6.11.0024 / 024ª ZONA ELEITORAL DE ALTA FLORESTA MT


REPRESENTANTE: PODEMOS, REPUBLICANOS ALTA FLORESTA -MT- MUNICIPAL, PSL - 17 PARTIDO SOCIAL
LIBERAL DE ALTA FLORESTA MT
Advogados do(a) REPRESENTANTE: VIVIAN MARINILDES DE ASSIS NAZARIO - MT13399, MARIA LUIZA
BORGES SANTOS - MT23940

REPRESENTADO: EDESIO DO CARMO ADORNO 24721328168, EDESIO DO CARMO ADORNO


Advogado do(a) REPRESENTADO: WANDERLEY BRICATTE BARROS - MT19389/O

SENTENÇA

Vistos.

Cuida-se de representação eleitoral cumulada com pedido liminar aviada pela Coligação UM
NOVO TEMPO, composta pelos partidos PODEMOS CNPJ 29.967.561/0001-46, REPUBLICANOS CNPJ
38.177.414/0001/63, e PARTIDO SOCIAL LIBERAL CNPJ 37.222.769/0001-64 em face de EDESIO DO
CARMO ADORNO 24721328168, nome fantasia "A BRONCA POPULAR" CNPJ Nº 30.330.472/0001-73.

Tece a representante que representado é dono do jornal eletrônico denominado "A BRONCA
POPULAR", e que no dia 23 de outubro de 2020, ás 15h56min, teria sido veiculada no jornal eletrônico matéria
ofensiva ao candidato DELEGADO VINÍCIUS NAZÁRIO, com a seguinte titulação: “Vinicius elabora nota de
esclarecimento e pressiona investigares e escrivães para assinar”.

Alega ainda que o representado afirmou de modo categórico que o candidato estaria
pressionando funcionários da Polícia Civil de Alta Floresta a assinarem nota de esclarecimento em face da nota
de repúdio que os sindicatos de escrivães e investigadores de polícia emitiram para questionar sua atuação à
frente da Delegacia de Polícia Judiciário Civil de Alta Floresta. Ao final, alega que tais matérias inverídicas são
criminosas e ofensivas ao candidato, e reclamam a atuação do Ministério Público para tome as medidas em
matéria criminal que entender cabíveis.

Para tanto, requer em caráter liminar i) a citação imediata do representado para, sob pena de
multa, realizar imediatamente a exclusão ou ocultação das publicações questionadas no jornal eletrônico e na
respectiva página do facebook, bem como, a divulgação no jornal eletrônico "A BRONCA POPULAR" e no
facebook da matéria a ser elaborada como direito de resposta; e ii) a notificação do Ministério Público para que
tome as medidas que entender cabíveis;

No mérito, requer: i) sejam julgados procedentes os pedidos aduzidos na presente


representação, com aplicação de multa contra o representado e a determinação de que novas publicações
difamantes em face do candidato DELEGADO VINÍCIUS NAZÁRIO não sejam veiculadas nos mesmos meios
eletrônicos.

Proferida decisão (id. 22425335) por este Magistrado, determinando a citação do representado,
bem como, notificando-o para que fosse retirada imediatamente a matéria depreciativa em face do candidato
Delegado Vinícius Nazário, veiculada no jornal eletrônico “A BRONCA POPULAR” e na página do facebook,
no prazo de 24h, sob pena de multa diária.

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Expedida carta precatória ao Juízo da 19ª Zona Eleitoral, fora determinada a citação do
requerido, contudo, não foi possível encontrar o mesmo no endereço informado, bem como, efetivadas outras
diligências, não houve êxito no mandado citatório. Entretanto, o requerido tomou ciência da decisão mesmo
sem ser citado e retirou a matéria veiculada no facebook e, ato contínuo, publicou outra nota no jornal “a
bronca popular”, alegando que este Juízo acatou o pedido aviado pelo representante, e novamente publicou o
conteúdo inicialmente veiculado, fazendo nova publicação depreciativa em face do requerente.

Feita a citação do requerido por meio de edital, transcorreu in albis o prazo sem apresentação
de defesa. Para tanto, fora nomeado como curador especial ao réu revel o Advogado, Dr. Wanderley Bricatte
Baros OAB/MT 19.389/O. Nesses termos, o referido causídico apresentou contestação por negativa geral id.
89627834.

Instado a se manifestar, o Ministério Público Eleitoral exarou parecer pugnando pela


procedência dos pedidos, visto que o representado publicou matéria ofensiva à reputação do representante.

Os autos vieram conclusos.

Fundamento e decido.

Pois bem, compulsando os autos, verifica-se que houve a perda do objeto em relação ao pedido
de direito de resposta, visto que qualquer que seja a resposta do representante em face da matéria publicada,
não se mostra útil para fins eleitorais, visto que as eleições foram realizadas na data de 15 de novembro de
2020.

Deste modo, a questão controvertida existente nos presentes autos consiste em saber se a
matéria publicada no jornal eletrônico “a bronca popular” é de fato injuriosa ou difamante ao ex-candidato
Delegado Vinícius Nazário, a ponto de ensejar a condenação do requerido ao pagamento de multa eleitoral.

Desta feita, não se pode olvidar que de fato houve a publicação de matéria no jornal eletrônico
“a bronca popular”, na data de 23 de outubro de 2020, com a seguinte titulação: “Vinicius elabora nota de
esclarecimento e pressiona investigares e escrivães para assinar”. Desta feita, o representado noticiou de
modo categórico que o candidato Delegado Vinícius Nazário estaria pressionando funcionários da Polícia Civil
de Alta Floresta a assinarem nota de esclarecimento quanto a nota de repudio que os sindicatos de escrivães e
investigadores de polícia emitiram para questionar sua atuação à frente da Delegacia de Polícia Judiciária Civil
de Alta Floresta. A matéria difamante e caluniosa pode ser verificada por meio do documento colacionado aos
presentes autos, sob id. 20580871.

É sabido que os detentores de meios de comunicação têm o direito de manifestação do


pensamento, bem como, a liberdade de comunicação e de veiculação de matérias jornalísticas, como
corolários do direito à informação. Todavia, salvo raríssimas exceções consagradas pela doutrina, não há em
nosso ordenamento pátrio direito absoluto, sendo que quaisquer violações ou abusos serão devidamente
censurados, sem prejuízo de eventual condenação ao pagamento de multa.

Nessa toada, versa o art. 57-D da Lei 9.504/97 (Lei das Eleições), as seguintes dizeres:

Art. 57-D. É livre a manifestação do pensamento, vedado o anonimato durante


a campanha eleitoral, por meio da rede mundial de computadores - internet,
assegurado o direito de resposta, nos termos das alíneas a, b e c do inciso IV
do § 3o do art. 58 e do 58-A, e por outros meios de comunicação interpessoal
mediante mensagem eletrônica.
§ 2o A violação do disposto neste artigo sujeitará o responsável pela
divulgação da propaganda e, quando comprovado seu prévio
conhecimento, o beneficiário à multa no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil
reais) a R$ 30.000,00 (trinta mil reais).
§ 3o Sem prejuízo das sanções civis e criminais aplicáveis ao responsável, a
Justiça Eleitoral poderá determinar, por solicitação do ofendido, a retirada de
publicações que contenham agressões ou ataques a candidatos em sítios da

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internet, inclusive redes sociais.

Com base nas provas carreadas aos autos (id. 20580871, 20637054, 20637064 e 24296559),
resta-se claramente perceptível que a conduta do representado configura ilícito eleitoral por violação ao art. 57-
D da Lei das Eleições. Isso porque o representado publicou em seu jornal online, sem qualquer prova da
verdade dos fatos, que o Delegado Vinícius Nazário estaria pressionando os investigadores a assinarem a nota
de esclarecimento. Veja-se que tal notícia é de cunho gravíssimo, o que poderia ensejar até mesmo a
instauração de procedimento disciplinar e ou criminal em face do representante.

Importante replicar aqui parte do trecho da notícia informada pelo representado: “O caso
aqueceu as redes sociais e obrigou Vinicius a correr atrás do prejuízo. A alternativa encontrada pelo delegado
para minimizar os danos causados a sua imagem é ainda mais questionável. Nossa reportagem recebeu uma
denúncia, segundo a qual, o próprio delegado teria produzido uma nota de esclarecimento e estaria
pressionando agentes e escrivães de Alta Floresta assinar o documento.” (negritei)

Percebe-se que o representado, pela simples comunicação que lhe fora feita por meio de
terceiros não identificados, teve o ímpeto de tornar pública matéria difamante e caluniosa, conflitante com os
direitos à honra e à imagem do representante. Assim sendo, é devido o reconhecimento de que tal conduta do
representado desbordou o direito de expressão, comunicação e de liberdade de imprensa.

Note-se que a imprensa, de modo geral, não está impedida de publicar tais matérias, contudo,
por revestir-se de conteúdo acusatório, é necessário que o canal de comunicação detenha elementos
comprobatórios mínimos da veracidade dos fatos, mais ainda por se tratar de candidato a cargo eletivo, visto
que o aviltamento da imagem pode causar prejuízos irreversíveis no que tange à intenção de votos por parte
dos eleitores.

Nessa linha intelectiva, a Justiça Eleitoral enfrenta um desafio intenso de extirpar notícias
inverídicas em períodos de eleição, consistente nas veiculações das chamadas “fake News”, de modo que os
canais de comunicação online têm se tornado uma poderosa ferramenta de dissuasão em massa.

Nessa senda, é imperioso reforçar que o direito de manifestação do pensamento por meio dos
canais de comunicação inseridos em sites eletrônicos, redes sociais, blogs, etc é sindicável pelos órgãos da
Justiça Eleitoral até mesmo quando as postagens são feitas por eleitores, ainda que não sejam detentores de
imprensa jornalística. É o que se infere no art. 27 da Res. TSE 23.610/2019:

Art. 27. É permitida a propaganda eleitoral na internet a partir do dia 16 de


agosto do ano da eleição (Lei nº 9.504/1997, art. 57- A).
§ 1º A livre manifestação do pensamento do eleitor identificado ou
identificável na internet somente é passível de limitação quando ofender a
honra ou a imagem de candidatos, partidos ou coligações, ou divulgar fatos
sabidamente inverídicos. (negritei)

Ante as razões ora expostas, não merecem acolhimento os pedidos da parte requerida em sua
contestação, que embora embasados em motivações substanciais, não fizeram contraprova dos fatos alegados
pelo autor.

Assim sendo, comprovada a violação de direitos da personalidade em face de candidato em


período eleitoral ante a publicação de matéria caluniosa ou difamante através dos meios de comunicação, resta
configurada a violação da norma insculpida no art. 57-D da Lei 9.504/97, o que enseja a condenação do
requerido ao pagamento de multa eleitoral, considerando-se, para fins de quantum debeatur da multa imposta,
a gravidade do ilícito, a potencialidade de a matéria dissuadir a intensão de voto do eleitor e o alto teor de
disseminação de que reveste as matérias publicadas na internet.

Na mesma linha intelectiva, o parecer ministerial pugnando pelo julgamento procedente da


demanda.

Isso posto, em consonância com o parecer ministerial, ratifico a decisão em sede liminar

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para JULGAR PROCEDENTES OS PEDIDOS AUTORAIS, nos termos do art. 487, I do CPC, e condenar o
representado ao pagamento de multa eleitoral no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), vez que a matéria
publicada no jornal eletrônico “a bronca popular” violou direitos à honra e imagem do representante.

Transitada em julgado a decisão judicial, proceda-se à inclusão do nome do representado no


Livro de Inscrição de Multas Eleitorais, bem como, providencie-se o registro da multa no sistema ELO e
aguarde-se por 30 (trinta) dias o adimplemento voluntário da obrigação pecuniária. Havendo recolhimento
voluntário, providencie-se o registro do pagamento da multa eleitoral no Sistema ELO, a fim de baixá-la com
anotações pertinentes.

Não recolhida a multa no trintídio respectivo, reputar-se-á a dívida líquida e certa para efeito de
cobrança, com a subsequente certidão nos autos e efetiva remessa do processo à Procuradoria da Fazenda
Nacional para providências afetas à cobrança mediante executivo fiscal.

Ante a ausência de Defensoria Pública da União nesta Zona Eleitoral, este Juízo, nomeou o Dr.
Wanderley Bricatte Barros, OAB/MT 19.389, para patrocinar a defesa do representado, fazendo jus, portanto,
aos honorários em retribuição ao trabalho desenvolvido. Assim, em atenção ao trabalho executado pelo nobre
causídico, o tempo despendido na assistência do representado, o zelo e a dedicação, tenho por bem a fixação
de honorários no valor equivalente a 10 Unidade Referencial de Honorários (URH), conforme tabela publicada
pela OAB/MT, em favor do ilustre advogado, em conformidade com o art. 85, § 2º e art. 8º do CPC, c/c art. 22,
§ 1º da Lei 8.906/94, sendo 5 URH para a primeira fase processual, em primeira instância, e 5 URH para a fase
recursal, caso houver.

Nos termos da jurisprudência pátria, os honorários advocatícios devidos pelo exercício da


defensoria dativa devem ser pagos pelo poder que recolhe as custas judiciais e que mantém, administra e
dirige a Defensoria Pública, qual seja o Poder Executivo e, neste caso específico, por meio da UNIÃO.

Expeça-se a competente certidão de honorários no valor de 5 URH, referente à atuação em


primeira instância.

Sem honorários e custas processuais.

Publique-se. Registre-se. Intimem-se.

Ciência ao Ministério Público Eleitoral.

Cumpridas as formalidades legais, arquivem-se os autos.

Alta Floresta, [assinatura digital]

TIBÉRIO DE LUCENA BATISTA


Juiz Eleitoral

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