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Giselle Pavanelli

Teorias da
Administração

Adaptada por Carlos Eduardo Munhoz (setembro/2012)


APRESENTAÇÃO

É com satisfação que a Unisa Digital oferece a você, aluno(a), esta apostila de Teorias da Administra-
ção, parte integrante de um conjunto de materiais de pesquisa voltado ao aprendizado dinâmico e autô-
nomo que a educação a distância exige. O principal objetivo desta apostila é propiciar aos(às) alunos(as)
uma apresentação do conteúdo básico da disciplina.
A Unisa Digital oferece outras formas de solidificar seu aprendizado, por meio de recursos multidis-
ciplinares, como chats, fóruns, aulas web, material de apoio e e-mail.
Para enriquecer o seu aprendizado, você ainda pode contar com a Biblioteca Virtual: www.unisa.br,
a Biblioteca Central da Unisa, juntamente às bibliotecas setoriais, que fornecem acervo digital e impresso,
bem como acesso a redes de informação e documentação.
Nesse contexto, os recursos disponíveis e necessários para apoiá-lo(a) no seu estudo são o suple-
mento que a Unisa Digital oferece, tornando seu aprendizado eficiente e prazeroso, concorrendo para
uma formação completa, na qual o conteúdo aprendido influencia sua vida profissional e pessoal.
A Unisa Digital é assim para você: Universidade a qualquer hora e em qualquer lugar!

Unisa Digital
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................... 5
INTRODUÇÃO................................................................................................................................................ 7
1 AS TEORIAS DA ADMINISTRAÇÃO........................................................................................... 11
1.1 Da Revolução Urbana à Revolução Industrial....................................................................................................12
1.2 A Ênfase nas Tarefas......................................................................................................................................................13
1.3 A Ênfase na Estrutura Organizacional....................................................................................................................14
1.4 A Ênfase nas Pessoas....................................................................................................................................................16
1.5 A Ênfase no Ambiente.................................................................................................................................................17
1.6 O Estágio Atual da Teoria da Administração.......................................................................................................18
1.7 O Futuro das Teorias da Administração, os Temas Emergentes...................................................................18
1.8 A Administração no Brasil..........................................................................................................................................19
1.9 Resumo do Capítulo.....................................................................................................................................................21
1.10 Atividades Propostas.................................................................................................................................................21

2 OS PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO E O PAPEL DO ADMINISTRADOR............. 23


2.1 Planejamento..................................................................................................................................................................23
2.2 Organização.....................................................................................................................................................................26
2.3 Direção...............................................................................................................................................................................26
2.4 Controle.............................................................................................................................................................................27
2.5 O Papel do Administrador..........................................................................................................................................27
2.6 Resumo do Capítulo.....................................................................................................................................................29
2.7 Atividades Propostas....................................................................................................................................................29

3 A MECANIZAÇÃO NAS ORGANIZAÇÕES............................................................................. 31


3.1 Teoria Clássica da Administração............................................................................................................................31
3.2 Estudo da Burocracia....................................................................................................................................................33
3.3 Administração Científica.............................................................................................................................................36
3.4 Modelo Japonês e Administração da Qualidade..............................................................................................39
3.5 Resumo do Capítulo.....................................................................................................................................................52
3.6 Atividades Propostas....................................................................................................................................................52

4 OS ORGANISMOS NAS ORGANIZAÇÕES............................................................................. 53


4.1 As Teorias das Relações Humanas e Comportamental...................................................................................53
4.2 Hierarquia das Necessidades e Motivação..........................................................................................................60
4.3 Qualidade de Vida no Trabalho e Ética..................................................................................................................62
4.4 Cultura Organizacional................................................................................................................................................64
4.5 Resumo do Capítulo.....................................................................................................................................................66
4.6 Atividades Propostas....................................................................................................................................................66

5 OS CÉREBROS NAS ORGANIZAÇÕES..................................................................................... 67


5.1 Teoria Contingencial e dos Sistemas......................................................................................................................67
5.2 Cibernética.......................................................................................................................................................................73
5.3 Administração Estratégica.........................................................................................................................................74
5.4 Administração por Objetivos (APO).......................................................................................................................76
5.5 Resumo do Capítulo.....................................................................................................................................................77
5.6 Atividades Propostas....................................................................................................................................................78

6 TEMAS EMERGENTES........................................................................................................................ 79
6.1 Administração Participativa......................................................................................................................................79
6.2 Aprendizagem Organizacional................................................................................................................................80
6.3 Empreendedorismo e Liderança.............................................................................................................................85
6.4 Benchmarking..................................................................................................................................................................91
6.5 Empowerment.................................................................................................................................................................92
6.6 Resumo do Capítulo.....................................................................................................................................................94
6.7 Atividades Propostas....................................................................................................................................................94

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................................ 95
RESPOSTAS COMENTADAS DAS ATIVIDADES PROPOSTAS...................................... 97
REFERÊNCIAS............................................................................................................................................101
APRESENTAÇÃO

Caro(a) aluno(a),

As mudanças são cada vez mais rápidas e inesperadas, principalmente no campo do conhecimento
e da explosão populacional. Tais mudanças impõem novas e crescentes necessidades. Nesse contexto, o
crescimento das organizações as torna complexas e sem fronteiras. As diversas Teorias da Administração
serão estudadas no decorrer da nossa disciplina, na qual veremos suas contribuições e diferentes enfo-
ques para a melhoria da gestão nas organizações.
As organizações enquanto culturas são vistas como um lugar onde residem ideias, valores, normas,
rituais e crenças que as sustentam como realidades socialmente construídas. Esse enfoque tem recebido
crescente atenção nos últimos anos, especialmente dos estudiosos em cultura organizacional, que de-
fendem administrar e planejar organizações através de valores, crenças e outros padrões de significados
compartilhados que orientam a vida nas organizações.
As discussões sobre os modelos e metáforas organizacionais estão intimamente ligadas ao geren-
ciamento ou gestão das organizações. Os trabalhos que estudam o processo gerencial são inúmeros e os
argumentos de diversas naturezas. Alguns autores defendem a ideia de que se trata de um processo es-
sencialmente objetivo, por outro lado, há uma segunda vertente que defende a ideia da gerência como
essencialmente dinâmica e subjetiva. Entendemos que o gerenciamento não pode ser inflexível a ponto
de adotar uma das duas vertentes excluindo a outra.
Os autores parecem concordar que a organização é um organismo complexo, que precisa ser es-
tudada com profundidade e competência e que simplificações exageradas da realidade prejudicam o
entendimento e a aplicação de ferramentas para condução das situações que envolvem as organizações.
A ferramenta da metáfora favorece o entendimento e as perspectivas do comportamento organizacional
face os diferentes ambientes e sistemas de organização, possibilitando transcender os modelos estereo-
tipados das escolas da administração. Esta apostila, como um todo, busca apresentar todos esses aspec-
tos na sua profundidade, para atender aos seguintes objetivos:

ƒƒ Objetivos gerais: compreender o objeto da ciência da administração, conceituando e distin-


guindo as suas principais abordagens teóricas, diferenciando os processos administrativos e
relacionando os conhecimentos adquiridos com a realidade e a prática administrativa.
ƒƒ Objetivos específicos: propiciar a você o entendimento da teoria da administração, a fim de
permitir a obtenção de habilidades profissionais de gestão e visão sistêmica das organizações,
necessárias ao desempenho das funções no mercado de trabalho.

Seja bem-vindo(a) ao mundo de Teorias da Administração!

Giselle Pavanelli

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INTRODUÇÃO

Cada teoria surgiu em resposta a algum Em contraste com Weber, teóricos profis-
problema empresarial da sua época. As teorias sionais em administração da América do Norte e
atenderam e apresentaram soluções aos proble- da Europa estabeleceram as bases daquilo que é
mas encontrados e, de certo modo, todas as teo- agora conhecido como “a Teoria da Administração
rias administrativas são aplicáveis às situações de Clássica” e “Administração Científica”. As Teorias
hoje. da Administração ganharam outros enfoques ao
Segundo Motta (2001), no início do século longo do tempo e procuraram oferecer soluções
XX despontaram as primeiras teorias das orga- universais para todos os problemas e situações vi-
nizações. As teorias são conhecimentos organi- vidos nas organizações. Os enfoques da produção
zados, produzidos pela experiência e prática nas em massa e da eficiência, a Escola do Humanismo
organizações. Organizações são grupos sociais e o foco comportamental das relações sociais no
deliberadamente orientados para a realização de trabalho, a Escola da Qualidade e do Processo Ad-
objetivos ou finalidades. A organização burocráti- ministrativo, o enfoque Sistêmico e Contingencial
ca, sistema social dominante nas sociedades mo- são algumas abordagens desenvolvidas e difun-
dernas, é uma estratégia de administração e de didas pela Administração moderna.
dominação, fruto e berço da burocracia. Segundo Bergamini (1996), a compreen-
Weber (1992) argumenta que o entendi- são das organizações enquanto corporações de
mento das organizações modernas baseia-se em trabalho é uma arte. De acordo com a autora, a
leis, que as pessoas aceitam por acreditarem que obra de Morgan caracteriza as organizações por
são racionais, isto é, definidas em função do in- metáforas, que podem ser utilizadas para enten-
teresse das próprias pessoas e não para satisfa- der os processos organizacionais, enfatizando
zer aos caprichos arbitrários de um dirigente. As que é necessário lançar mão de várias delas e não
pessoas que integram as organizações modernas de uma única para melhorar a nossa habilidade
também aceitam que algumas outras represen- compreensiva de “ler e interpretar” os diferentes
tem a autoridade da lei. A autoridade é a contra- aspectos que coexistem e se complementam
partida da responsabilidade que essas pessoas dentro da realidade organizacional, por mais pa-
têm de zelar pelo cumprimento da lei. radoxal que esta possa parecer.
De acordo com Morgan (1996), Weber esta- Morgan (1996) interpreta as organizações
va interessado nas consequências sociais da proli- a partir de metáforas, comparando-as a imagens
feração da burocracia e assim preocupou-se com que permitem vê-las enquanto máquinas, orga-
o efeito que isso poderia ter sobre o lado humano nismos vivos, cérebros, culturas, sistemas políti-
da sociedade. O cientista alemão viu que o enfo- cos, prisões psíquicas, fluxos e transformações e,
que burocrático tinha potencial para rotinizar e finalmente, enquanto instrumentos de domina-
mecanizar quase cada aspecto da vida humana, ção. O autor busca a integração das metáforas
corroendo o espírito humano e a capacidade de para compreensão da realidade complexa, ambí-
ação espontânea, o que poderia ter graves conse- gua e repleta de paradoxos da organização.
quências políticas ao minar o potencial de formas Para o autor, usando diferentes metáforas
mais democráticas de organização. para entender o caráter complexo e paradoxal da
vida organizacional, somos capazes de adminis-

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trar e planejar organizações de formas não pen- que é aquilo que, na qualidade de seres humanos,
sadas como possíveis anteriormente. Para o autor, todos nós somos.
qualquer abordagem realista da análise organiza- A metáfora dos organismos de Morgan cor-
cional deve ser iniciada a partir da premissa de robora o pensamento de Wheatley, pois o foco
que organizações podem ser muitas ao mesmo da comparação é sua atenção em compreender e
tempo. administrar necessidades organizacionais e as re-
Segundo Wheatley (1999), alguns acredi- lações com o ambiente. Essa metáfora pressupõe
tam que há riscos em brincar com a ciência e em que diferentes tipos de organizações pertencem
abstrair suas metáforas porque, depois de um a diferentes espécies, das quais a burocrática é
certo grau de distensão, as metáforas perdem sua apenas uma.
relação com as rigorosas teorias científicas que as O autor afirma que diferentes espécies são
originaram. Outros, no entanto, alegam que tudo mais talhadas para lidar com as demandas de di-
na ciência é metáfora, uma descrição hipotética ferentes ambientes e, dessa forma, aumenta-se a
de como refletir sobre uma realidade que nunca capacidade de desenvolver interessantes teorias
podemos conhecer plenamente. sobre as relações entre as organizações e os seus
As metáforas de Morgan nos ajudam a ir ambientes. A metáfora analisa as organizações
além das teorias das organizações, facilitando a como organismos que nascem, crescem, desen-
análise crítica e a interpretação das faces organi- volvem-se, declinam e morrem, além de possuir
zacionais, que não estão restritas a explicações a capacidade de se adaptarem a ambientes em
acabadas ou a um conjunto de referenciais defini- mutação. Essa imagem está muito ligada às rela-
dos, mas que transitam entre diferentes maneiras ções entre as espécies e os padrões de evolução
de pensar. encontrados na ecologia interorganizacional, e a
De acordo com a obra do autor, a metáfo- sua perspectiva contribuiu muito para o desen-
ra da máquina ilustra como esse estilo de pensa- volvimento da teoria da administração moderna.
mento alicerçou o desenvolvimento da burocra- A metáfora do cérebro foca a importância
cia. Conforme o autor, quando os administradores do processamento de informações, aprendiza-
pensam nas organizações como máquinas, ten- gem e inteligência nas organizações, permitindo
dem a administrá-las e planejá-las como máqui- ao leitor uma forma de compreensão e avaliação
nas feitas de partes que se interligam, cada uma das organizações modernas sob essa perspectiva.
desempenhando um papel claramente definido Duas linhas de interpretação das organizações
no funcionamento do todo. Enquanto algumas vistas como cérebro são enfatizadas, uma do tipo
vezes isso pode comprovar-se eficaz, outras ve- computador ou processador de informações, e
zes pode ter muitos resultados desastrosos. Um outra do tipo holograma. Segundo o autor, essas
dos problemas mais básicos da administração imagens, especialmente a do holograma, ressalta
moderna é que a forma mecânica de pensar está princípios importantes de auto-organização para
tão arraigada nas nossas concepções diárias de concepção de organizações nas quais um alto
organização que é frequentemente muito difícil grau de flexibilidade e inovação é necessário.
organizá-la de outra forma. Um conhecido especialista em cultura cor-
Wheatley (1999) afirma que à medida que porativa, Schein (1985), afirma que não se pode
deixamos para trás o modelo mecanicista das construir um conceito comum se não houver
organizações, e a ideia de trabalhadores como concordância em como defini-lo, como medi-lo,
engrenagens substituíveis do maquinário de pro- como estudá-lo e como aplicá-lo no mundo real
dução, começamos a ver a nós mesmos em di- das organizações. Para ele, cultura apresenta as-
mensões muito mais ricas, a apreciar a totalidade pectos como estabilidade, compartilhamento,
que somos e, quem sabe, planejar organizações padronização, dinâmica e vida em grupo; resul-
que honrem e façam uso dessa grande dádiva tando em um padrão de suposições básicas, in-
ventadas, descobertas ou desenvolvidas por um

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Teorias da Administração

dado grupo, que aprende a lidar com seus pro- quica convida a examinar a vida organizacional
blemas de adaptação externa e integração inter- para ver se, e de que forma caímos na armadilha
na, que foram suficientemente bem trabalhadas dos processos conscientes e inconscientes da
para serem consideradas válidas e assim deve ser nossa própria criação. Assim a metáfora da “prisão
ensinada aos novos membros do grupo como a psíquica” examina a psicodinâmica e a ideologia
forma correta de perceber, pensar e sentir em re- nas organizações.
lação àqueles problemas. Em complemento à metáfora das “prisões
Segundo Schein (1985), a cultura de um psíquicas”, a metáfora das organizações como
dado grupo refletirá o que aquele grupo apren- “instrumentos de dominação” é interpretada por
deu ao resolver os problemas ao longo de sua Morgan sob a perspectiva dos aspectos poten-
história. A adaptação externa é realizada com a cialmente exploradores das organizações. O au-
definição da missão da empresa e suas funções, tor mostra como as organizações frequentemen-
o estabelecimento das metas, os critérios para a te usam os seus empregados, as comunidades
mensuração dos resultados e os ajustes nas estra- hospedeiras e o mundo econômico para atingi-
tégias caso as metas não estejam sendo alcança- rem seus fins e como a essência da organização
das e a integração interna é realizada pela defini- repousa sobre um processo de dominação em
ção de uma linguagem comum, a delimitação das que certas pessoas impõem os seus objetivos so-
“fronteiras” do grupo e os critérios de inclusão, os bre as outras.
critérios para a atribuição de status, poder e au- Segundo Freitas (2002), existe uma crise
toridade, os critérios para a atribuição de recom- no processo de identificação dos indivíduos das
pensas e punições e conceitos para gerenciar o sociedades modernas e essa crise é fator-chave
não gerenciável (ideologia e religião). na legitimação das organizações atuais e em es-
A cultura nas organizações, segundo Motta pecial nas grandes empresas como ator social
(2001) é um sistema de símbolos e significados central. A crise de âmbito social é resultante de
compartilhados, que serve como mecanismo de mudanças decorrentes das fragilidades apresen-
controle. A ação simbólica necessita ser interpre- tadas pela desagregação da família; o fracasso
tada, lida ou decifrada para que seja entendida. É do Estado como provedor de bens e serviços; a
essa ação simbólica que ocorre em torno da opo- descrença na religião como meio para solucionar
sição mais relevante num dado grupo, instituição os problemas; a ausência de clareza sobre o papel
ou sociedade. da educação; a tecnologia que deixa de ser um
A metáfora da política, discutida por Mor- modo de fazer para transformar-se em um modo
gan (1996), focaliza diferentes conjuntos de inte- de ser; a presença feminina no mercado de tra-
resses, conflitos e jogos de poder que moldam as balho; e a consolidação definitiva do capitalismo
atividades organizacionais. As organizações são como o modo de produção global. Diante desse
vistas como sistemas de governo baseados em contexto, que provoca desorientação, dúvida e
vários princípios políticos que legitimam diferen- confusão, gerando um futuro incerto e crise de
tes tipos de regras assim como fatores específicos identidade, a organização apresenta-se como a
que delineiam a política da vida organizacional. “tábua de salvação”.
De acordo com Morgan (1996), os seres Freitas (2002) afirma que a sedução e o ca-
humanos possuem uma inclinação especial em risma são formas de poder, que convidam as pes-
caírem nas armadilhas criadas por eles mesmos. soas a terem lugar em uma fantasia de rara beleza
Através de uma metáfora mais abstrata, o autor que não se presta a provas da realidade cotidiana
enxerga as organizações enquanto “prisões psí- nem precisa se justificar. Esses elementos estão
quicas”, nas quais pessoas caem nas armadilhas presentes nas organizações modernas, que têm
dos seus próprios pensamentos, ideias e crenças uma enorme capacidade de criar ou despertar
ou preocupações que se originam na dimensão um mundo de ilusões, de lidar com uma série de
inconsciente da mente. A imagem da visão psí- signos vazios e fortuitos, mas que levam o indiví-
duo a defendê-la com grande fanatismo.

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A metáfora do “fluxo de transformação”, de em que estão inseridas, assim como interferem


acordo com Morgan (1996), requer uma mudan- na ecologia social a que pertencem.
ça de concepção. Para o autor, o segredo de com- As discussões sobre os modelos e metáfo-
preender a organização a partir dessa perspectiva ras organizacionais estão intimamente ligadas ao
reside na compreensão lógica de mudança que gerenciamento ou gestão das organizações. Os
dá forma à vida social. Três vertentes dessa metá- trabalhos que estudam o processo gerencial são
fora são discutidas pelo autor, uma enfatiza como inúmeros e os argumentos de diversas naturezas.
as organizações são sistemas autoprodutores que Alguns autores defendem a ideia de que se trata
se criam nas suas próprias imagens; outra enfatiza de um processo essencialmente objetivo, por ou-
como são produzidas enquanto resultado de flu- tro lado há uma segunda vertente que defende a
xos circulantes de feedback positivo e negativo; e ideia da gerência como essencialmente dinâmica
a terceira sugere que sejam o produto de uma ló- e subjetiva. Entendemos que o gerenciamento
gica dialética por meio da qual todos os fenôme- não pode ser inflexível a ponto de adotar uma das
nos tendem a gerar o seu oposto. As descobertas duas vertentes excluindo a outra.
daí decorrentes podem ajudar a compreender Conforme Motta (2001), a gerência contem-
e administrar a mudança organizacional, bem porânea é uma atividade permeada por contro-
como compreender as forças que moldam a na- vérsias, e, portanto, não há uma definição muito
tureza da organização no âmbito social. precisa do que é, de fato, ser um gerente, princi-
De acordo com Wheathley (1999), o nosso palmente porque as variáveis do processo deci-
conceito de organização está se afastando das sório gerencial estão em constante mutação. Isso
criações mecanicistas que floresceram da era da faz da gerência uma atividade que requer um
burocracia. Começamos a falar sério de estrutu- aprendizado constante.
ras mais fluidas e orgânicas e até de organizações Motta (2001) faz uma analogia entre uma
como sistemas inteiros, concebendo-as como or- organização e um grande monstro desconheci-
ganizações capazes de aprender, creditando-lhes do que precisa ser dominado, evidenciando que,
algum tipo de capacidade de autorrenovação e para que esse monstro seja de fato sobrepujado,
percebendo que as pessoas têm a capacidade de é necessário que os grandes dirigentes sintam
se organizar sozinhas. suas necessidades e indiquem alguns caminhos a
As metáforas ou imagens das organizações, serem seguidos. Consideramos um dos caminhos
apresentadas por Morgan, são corroboradas por para dominar o monstro da gestão nas organiza-
outros autores e permitem enxergar as organiza- ções a aplicação dos princípios de liderança, tema
ções de muitas formas ao mesmo tempo. que será aprofundado nas próximas seções.
Uma organização do tipo máquina, conce- Os autores parecem concordar que a orga-
bida a partir de objetivos específicos, pode ser si- nização é um organismo complexo, que precisa
multaneamente uma espécie de organismo capaz ser estudada com profundidade e competência e
de sobreviver em determinados ambientes, mas que simplificações exageradas da realidade pre-
não em outros; um sistema de processamento judicam o entendimento e a aplicação de ferra-
de informações que se revela especializado para mentas para a condução das situações que envol-
certos tipos de aprendizagem, mas não para ou- vem as organizações. A ferramenta da metáfora
tros; um meio cultural caracterizado por valores, favorece o entendimento e as perspectivas do
crenças e práticas sociais distintos, ou uma prisão comportamento organizacional face aos diferen-
psíquica, em que várias lutas subconscientes ou tes ambientes e sistemas de organização, possi-
ideológicas brigam pela dominação das pessoas; bilitando transcender os modelos estereotipados
um sistema político no qual as pessoas lutam pelo das escolas da Administração.
poder para garantir seus próprios fins; ou, ainda,
a organização pode se apresentar como um sis-
tema aberto e complexo onde as mudanças são
constantes e sofrem interferência do ambiente

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1 AS TEORIAS DA ADMINISTRAÇÃO

Neste capítulo falaremos sobre as Teorias taram de uma imensa produção de livros sobre a
da Administração, bem como suas principais de- ciência da Administração.
finições. Serão cobertos os aspectos e sua impor- Para o entendimento das Teorias da Admi-
tância dentro do contexto organizacional. Vamos nistração, faremos algumas definições de termos
estudar, ainda, os fatores que foram determinan- que serão utilizados no conteúdo desta apostila
tes para passar da Revolução Urbana à Revolução e serão posteriormente aprofundados no estudo
Industrial. da disciplina.
Para finalizar o capítulo, faremos um painel
geral da administração no Brasil. Definições
A atividade administrativa é caracterizada
por seu traço multicientífico e multidisciplinar. a) Teoria é uma representação abstrata
Quase tudo é administração. Qualquer trabalho do que se percebe da realidade;
que seja realizado por duas ou mais pessoas, que
b) Teorias são explicações, interpretações
tenham graus de poder diferentes, contém ele-
ou proposições sobre a realidade;
mentos de administração.
c) Administração é o processo de tomar
e colocar em prática decisões sobre ob-
Atenção jetivos e utilização de recursos;
De nada adianta ter conhecimento, deter ou do- d) Recursos: pessoas, informação, espaço,
minar uma técnica se ao mesmo tempo não esti- tempo, dinheiro, instalações;
ver disponível uma habilidade de gerenciar essa
técnica e esse conhecimento, ou seja, administrá- e) Decisões: planejamento, organização,
-lo. execução e direção, controle (também
conhecidos como Princípios da Admi-
nistração);
O que dificulta o enquadramento teórico da f) Objetivos: resultados esperados;
Administração é o fato de ela transitar livremen- g) Funções Administrativas: planeja-
te entre o senso comum e as teses de mestrado mento, organização, execução e con-
e doutorado. A Administração é praticada não só trole;
entre aqueles que possuem formação acadêmica
h) Teorias da Administração são conhe-
específica, mas também entre administradores
cimentos organizados, produzidos pela
que não são formados e contam somente com a
experiência prática das organizações;
prática em diversas organizações.
i) Escola: é uma linha de pensamento ou
Encarar a Administração como um corpo de
conjunto de autores que usaram o mes-
conhecimentos dotado de um objeto (próprio) de
mo enfoque para analisar e tratar a ad-
estudo, é requisito que a qualifica como ciência. O
ministração;
principal meio de acesso à ciência administrativa
é através das Teorias da Administração, que resul-

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j) Modelo de Gestão: conjunto de dou- gestão; por exemplo, mecanicista, com-


trinas e técnicas, como, por exemplo, portamental etc.;
modelo japonês de administração; l) Técnicas para solução de problemas:
k) Modelo de Organização: produto da metodologia de planejamento, organi-
adoção de determinado modelo de zação, execução, controle.

1.1 Da Revolução Urbana à Revolução Industrial

As Teorias da Administração correspondem A partir da própria especialização, todas


a um compêndio das várias visões da gestão em- as grandes invenções, num período aproximado
presarial que surgiram a partir da Revolução In- de duzentos anos, influenciaram, de forma defi-
dustrial. No final do século XIX a empresa foi insti- nitiva, o modo de vida, a sociedade e os valores
tucionalizada, como uma organização. sociais. Essas invenções, juntamente ao aumento
populacional, de um lado, e a demanda de artigos
para o consumo da população, de outro, vão fazer
Dicionário com que cada vez mais se busquem formas alter-
Compêndio é um resumo ou sumário de doutri- nativas de produção para o atendimento de um
nas relativas a uma determinada ciência. Resume enorme mercado em ascensão.
em si (inclusive como símbolo, ícone etc.) uma
teoria ou doutrina, um período histórico, certas Esses fatores definem o modo pelo qual o
qualidades etc. artesão se converte em operário, sua oficina em
Fonte: adaptado de Dicionário Aulete Digital. fábrica, e o mestre desaparece para dar lugar ao
proprietário. Surgem as novas indústrias exercen-
do um poder atrativo muito grande sobre a popu-
Há que se entender, portanto, a razão pela lação rural, que, abandonando as terras, migram
qual a teoria administrativa nasce somente no sé- para a cidade, provocando, cada vez mais, o au-
culo XX, embora organizações (e até macro-orga- mento da população urbana.
nizações) tenham existido desde sempre. Naturalmente, nem todos os artesãos
A Revolução Industrial, lenta, embora defi- possuíam condições financeiras de adquirirem
nitivamente, será o evento que propiciará o iní- essas novas máquinas e equipamentos para a
cio e o desenvolvimento da Administração como instalação de suas próprias fábricas. Esse contin-
ciência, baseada apenas em uma especialização gente, menos privilegiado, vê como única saída
cada vez maior do trabalho humano. trabalhar para outros proprietários, vendendo,
assim, seu conhecimento e sua experiência. Ou-
tros, ainda, uniram-se, promovendo associações
Atenção
de pequenas oficinas que se transformaram em
No final do século XIX, o advento da Revolução grandes oficinas mecanizadas, que acabaram
Industrial e a invenção de maquinário específico transformando-se em fábricas.
(em diversos estágios) trouxeram às organiza-
ções econômicas a possibilidade de terem seu Por outro lado, o novo componente da pro-
contingente humano aumentado. Surge, assim, dução, as máquinas, provoca outro efeito: decres-
a necessidade de coordenar e, portanto, de ad-
ministrar não mais atividades (numericamente
ce o custo da produção. Esse decréscimo propor-
pouco significativas), mas sim a atividade exerci- ciona a vantagem de se reduzirem os preços e,
da pela grande maioria da população: o trabalho consequentemente, o aumento do mercado con-
humano.
sumidor. Automaticamente, esse mesmo aumen-

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Teorias da Administração

to de consumo força as fábricas a utilizarem cada


vez mais pessoas em suas frentes de trabalho. Dicionário

O sindicalismo foi a primeira escola de aprendiza-


gem do proletariado; ensinou-lhe que a solidarie-
Saiba mais dade estava no centro do combate organizado.
Tornou-se a primeira forma de organização do po-
A revolução na tecnologia empregada na produção der dos trabalhadores para fazer frente aos abusos
trouxe, também, significativas mudanças sociais. Os no ambiente de trabalho.
antigos artesãos passam a fazer parte de uma nova
classe social – o proletariado. No entanto, as condições
totalmente adversas, existentes no novo ambiente de
trabalho, estimulam a atuação dos sindicatos, herdei- É a partir do início desse século que o es-
ros diretos das antigas corporações de ofício. tudo da administração sofreu forte incremento,
muito embora a administração tenha sido sem-
pre objeto de interesse por parte do homem no
decurso de sua história. Por esse motivo, a evolu-
É a força do sindicalismo que, gerando leis ção das Teorias da Administração será considera-
de proteção ao trabalhador e associada ao pensa- da também a partir dessa época.
mento socialista desenvolvido no século XlX, por As abordagens das Teorias de Adminis-
Karl Marx e Friedrich Engels, acaba por obrigar o tração, de forma geral, podem ser classificadas
capitalista a redistribuir a alocação dos recursos quanto à sua ênfase:
(materiais versus humanos) e, portanto, a procu-
rar, na otimização do uso dos recursos, novos mé- a) nas tarefas;
todos e processos de racionalização do trabalho, b) na estrutura organizacional;
processos estes que metodicamente expostos
c) nas pessoas;
coincidem com o início do século XX.
d) no ambiente;
e) na tecnologia.

1.2 A Ênfase nas Tarefas

Em termos de teoria moderna, a escola de concentrou seus estudos na racionalização do


Administração Científica (1903) foi o marco a trabalho do operário, procurando descobrir qual
partir do qual as organizações e a administração o melhor método para torná-lo mais eficiente.
ganharam um cunho científico.
Saiba mais
Dicionário
A Administração Científica estava fundamentada
Escola de administração: é a consolidação da con- em dois itens: motivação e organização. A motivação
cepção técnica e de conhecimentos inerentes a estava relacionada ao dinheiro. O homem trabalhava
um assunto administrativo, decorrente da influên- para a organização porque precisava do dinheiro. As-
cia de uma ou mais teorias da administração. sim, estabeleceram-se os planos de incentivos salariais
e prêmios por produção. Podemos chamar de Homo
Economicus: concepção da natureza humana segun-
A escola de Administração Científica tinha do a qual o homem, ao tomar uma decisão, conhece
enfoque principal na organização racional do todos os cursos de ação possíveis, bem como suas
consequências, optando sempre por aquela que lhe
trabalho e seu principal representante foi o en- trouxer melhores e maiores ganhos.
genheiro americano Frederick W. Taylor. Taylor

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Na organização, a preocupação estava na Em síntese, os estudos de Taylor eram in-


divisão do trabalho operário, de forma tal que se completos, uma vez que não abarcavam a TO-
tinha assegurado o controle total dos passos da TALIDADE DA ORGANIZAÇÃO, preocupando-se
produção e sua coordenação. Na Administração fundamentalmente com a racionalização do
Científica, o estudo dos tempos e dos movimen- trabalho do operário.
tos era muito empregado no desenvolvimento
do método racional.

Multimídia

Filme: Tempos Modernos


Direção: Charles Chaplin
Sinopse: Um operário de uma linha de montagem, que testou uma “máquina revolucionária” para evitar a hora do
almoço, é levado à loucura pela “monotonia frenética” do seu trabalho. Após um longo período em um sanatório ele
fica curado de sua crise nervosa, mas desempregado. Ele deixa o hospital para começar sua nova vida, mas encontra
uma crise generalizada e equivocadamente é preso como um agitador comunista, que liderava uma marcha de ope-
rários em protesto. Simultaneamente uma jovem rouba comida para salvar suas irmãs famintas, que ainda são bem
garotas. Elas não têm mãe e o pai delas está desempregado, mas o pior ainda está por vir, pois ele é morto em um
conflito. A lei vai cuidar das órfãs, mas, enquanto as menores são levadas, a jovem consegue escapar.

1.3 A Ênfase na Estrutura Organizacional

A abordagem centrada na estrutura orga- Coube a Fayol a elaboração dos famosos


nizacional representa um avanço no estudo das princípios gerais da administração: divisão do
organizações, pois propicia uma elevada amplia- trabalho, autoridade e responsabilidade, disci-
ção do objeto de estudo. Quatro teorias são aqui plina, unidade de comando, unidade de direção,
relacionadas: subordinação do interesse individual ao geral, re-
muneração do pessoal, centralização, cadeia es-
a) Teoria Anatomista e Fisiologista; calar (hierarquia), ordem, equidade (igualdade de
b) Teoria Burocrática; tratamento), estabilidade do pessoal, iniciativa e
espírito de equipe.
c) Teoria Estruturalista;
Em síntese, é uma abordagem essencial-
d) Teoria Neoclássica.
mente normativa: o administrador se conduz
através do processo administrativo utilizando-se
Teoria Anatomista e Fisiologista dos princípios gerais para obter a eficiência admi-
nistrativa.
A Teoria Anatomista e Fisiologista (1906)
tinha como enfoque principal a maior eficiência, Teoria Burocrática
conseguida através da forma e disposição dos ór-
gãos que compunham a estrutura organizacional, A Teoria Burocrática (1909) teve como pai o
assim como as relações e funções no contexto sociólogo alemão Max Weber. O termo ‘burocra-
global. O principal representante dessa teoria foi cia’, em um sentido técnico, significa a existência
o engenheiro francês Henri Fayol. de certas características da organização formal

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Teorias da Administração

voltadas exclusivamente para a racionalidade e moções. A burocracia se baseia eminen-


para a eficiência. A burocracia, portanto, não tem temente no mérito. O sistema também
o sentido pejorativo de uso popular, mas significa prevê carreiras e as promoções que são
racionalidade e eficiência. Weber definiu um tipo feitas de acordo com a antiguidade ou
ideal de burocracia, com as seguintes caracterís- o mérito funcional, dependendo sem-
ticas: pre do julgamento superior;
ƒƒ separação entre propriedade e admi-
ƒƒ formalização: todas as atividades da nistração: os recursos utilizados pela
organização são definidas por escrito e organização burocrática para a execu-
a organização opera de acordo com um ção das tarefas não são de propriedade
conjunto de leis ou regras que são apli- dos burocratas. A administração está
cáveis a todos os casos individuais, sem separada da propriedade dos meios
exceção; de produção, pois o dirigente ou o bu-
ƒƒ divisão do trabalho: cada participan- rocrata não é necessariamente o dono
te tem um cargo ou posição definidos da organização ou dos seus meios de
com esfera específica de competência, produção, mas um profissional espe-
com deveres oficiais e atribuições estri- cializado na sua administração. Daí o
tamente especificadas e delimitadas; gradativo afastamento do capitalista da
ƒƒ princípio da hierarquia: a burocracia direção do seu negócio e a democrati-
se assenta em uma hierarquia bem de- zação do capital através das sociedades
finida de autoridade. Cada funcionário anônimas;
é submetido a ordens impessoais que ƒƒ profissionalização do funcionário:
guiam suas ações de modo a assegurar os funcionários da burocracia são pro-
a sua obediência. Cada função mais bai- fissionais, pois são especialistas face à
xa está sob o controle e supervisão da divisão do trabalho, são assalariados de
mais alta, assegurando unidade de con- acordo com suas funções ou posição
trole: cada funcionário tem apenas um hierárquica, seus cargos constituem a
único chefe. Daí o formato de estrutura sua principal atividade dentro da or-
piramidal da burocracia; ganização, são nomeados pelo supe-
ƒƒ impessoalidade: o funcionário ideal rior imediato, seus mandatos são por
desempenha com impessoalidade no tempo indeterminado, seguem carreira
relacionamento com outros ocupantes dentro da organização e não possuem a
de cargos; propriedade dos meios de produção da
organização.
ƒƒ a burocracia enfatiza os cargos: a bu-
rocracia enfatiza os cargos e não as pes-
soas que os ocupam, pois as pessoas Teoria Estruturalista
entram e saem da organização, mas os
cargos permanecem para garantir sua A Teoria Estruturalista (1947) foi desenvol-
continuidade e perpetuação; vida a partir das limitações e rigidez do modelo
ƒƒ competência técnica: a seleção e es- burocrático. Tem proposta de compatibilizar as
colha dos participantes têm como base contribuições clássicas e humanistas na teoria da
a competência técnica e qualificação administração. Representa um avanço em termos
profissional dos candidatos e não em da teoria, pois, pela primeira vez, as organizações
preferências de ordem pessoal. Daí a são analisadas de forma mais ampla, contemplan-
utilização de testes e concursos para do-se aspectos formais e não formais.
preenchimento de cargos ou para pro-

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Nessa teoria, o ambiente externo recebeu fisiologista da administração – Fayol. O enfoque


um enfoque especial, sendo considerado uma principal reside na prática da administração, reto-
variável a mais no estudo das organizações. Os mando os princípios daquela teoria, porém com
objetivos organizacionais adquiriram significati- ênfase nos objetivos e resultados.
vo relevo e o conflito passou a ser considerado Destacam-se itens como: descrição de car-
como sinal de vitalidade. É o período da Adminis- gos, equivalência entre autoridade e responsabi-
tração Por Objetivos (APO), da teoria da crise e da lidade e princípios de linha e staff. Linha de co-
administração do conflito. Além disso, a teoria es- mando refere-se aos órgãos de linha que seguem
truturalista representa um período de transição e rigidamente o princípio escalar da autoridade de
mudança no estudo das organizações. comando, enquanto os de staff fornecem à linha
serviços, conselhos, recomendações que estes úl-
timos não têm condições de prover a si mesmos.
Dicionário

O conflito aqui é avaliado como fonte de novas


ideias, podendo levar a discussões abertas sobre
determinados assuntos, o que se revela positivo, Dicionário
pois permite a expressão e exploração de diferen-
tes pontos de vista, interesses e valores. A palavra staff, em administração, define o conjun-
to de pessoas que compõem o quadro de pessoal
de uma empresa, firma, instituição etc. Exemplo:
um staff experiente pode melhorar as contas de
uma empresa. Também pode significar um gru-
Teoria Neoclássica da Administração po que assiste a um dirigente, a um político etc.
Exemplo: o staff do ministro pouco o ajudava.
Fonte: Dicionário Aulete Digital.
A Teoria Neoclássica (1954) ficou conheci-
da como escola do processo administrativo. Re-
presenta uma retomada da teoria anatomista e

1.4 A Ênfase nas Pessoas

É a abordagem que enfatiza as pessoas den- tuídos por outros, oriundos do desenvolvimento
tro das organizações, relegando a estrutura e as da psicologia do trabalho e sociologia industrial.
tarefas a um segundo plano. Distinguem-se duas Na teoria humanística prevalecem os con-
teorias: das relações humanas e do comporta- ceitos de organização informal, motivação, ne-
mento organizacional. cessidades humanas básicas, dinâmicas de grupo,
comunicação e liderança. Autores: Maslow, Herz-
berg e Lewin, Blake e Mouton.
Teoria Humanística ou das Relações Humanas
A teoria humanística, contudo, ensejou
uma visão inadequada das relações humanas,
A Teoria Humanística (1932) se desenvolveu
uma concepção ingênua do operário e uma aná-
em oposição às teorias centradas nas tarefas e na
lise simplista das relações entre empresário e tra-
estrutura das organizações (Taylor e Fayol). Assim,
balhador.
os conceitos relativos à organização formal, auto-
Apesar de todos os problemas, a teoria re-
ridade e responsabilidade, hierarquia, eficiência,
presentou uma saudável renovação e a abertura
princípios gerais da administração, foram substi-
de novas frentes de estudo na Teoria da Adminis-

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Teorias da Administração

tração. Também explicaremos com mais detalhes e nas tarefas, trazendo muitos tópicos da teoria
essa teoria, logo mais, ainda nesta apostila. burocrática.
A teoria comportamental é uma teoria que
Teoria Comportamental da Administração foca o processo decisório. A tomada de decisão é o
ponto fundamental, sendo considerada mais im-
portante do que a execução. Há um esforço nessa
A Teoria Comportamental (1957) é a reto-
teoria para compatibilizar os objetivos individuais
mada da teoria das relações humanas em novas
e os da organização. O equilíbrio da organização
bases. O trabalho é mais fundamentado em pes-
está intimamente relacionado com a proporção
quisa e há uma tentativa de síntese da teoria an-
da satisfação do indivíduo na organização.
terior. A teoria comportamental surge também
em oposição às teorias com ênfase na estrutura

1.5 A Ênfase no Ambiente

O estudo da variável ambiente tornou-se O papel da tecnologia na determinação


possível graças à influência da Teoria de Sistemas da estrutura e do comportamento organizacional
(1970) na teoria da administração. A organização tem sido objeto de estudos na teoria organiza-
é entendida como um sistema aberto, isto é, que cional. Esses estudos são recentes e têm como
se caracteriza: ponto de partida os trabalhos de Joan Woodward
na Inglaterra.
a) por fazer parte de um sistema maior; O desenvolvimento desses estudos leva à
b) pela interdependência dos subsiste- criação da Teoria da Contingência (1972). De
mas; acordo com essa teoria, três variáveis são impor-
c) pela existência de fronteiras definidas tantes: tamanho da organização, tecnologia e na-
com capacidade de modificação de si tureza do ambiente.
mesmas; Na Teoria Contingencial não há tratamen-
d) por ser constituída de subsistemas to único para a organização – existe um íntimo
menores; relacionamento entre o trabalho, organização e
o ambiente. A Teoria Contingencial se dedica ao
e) por ser mais dirigida ao provável e não
estudo do clima organizacional e os diferentes es-
ao determinado.
tilos de liderança.

A grande vantagem do estudo das organi-


zações como sistemas abertos é a possibilidade
de uma visão holística, ou seja, mais ampla da es-
trutura e dos comportamentos organizacionais.
É extremamente importante estudar as va-
riáveis exógenas, ou seja, aquelas situadas fora
dos limites da organização e que afetam com
maior ou menor intensidade, ao invés de se es-
tudar apenas as variáveis endógenas, ou seja, in-
traorganizacionais.

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1.6 O Estágio Atual da Teoria da Administração

Procurou-se fornecer uma visão global a


respeito do desenvolvimento da teoria adminis- Atenção
trativa. Esse desenvolvimento é recente, do início
As Teorias da Administração estudam a interlocu-
do século XX. Assim, em aproximadamente 100 ção entre as principais variáveis já vistas, ou seja,
anos, pode-se observar um crescimento das teo- tarefa, pessoas, ambiente e tecnologia. É certo
que cada uma delas influencia e é influenciada
rias.
pelas demais. Qualquer alteração em uma delas
Convém que se enfatize que todas as teo- pode provocar alterações nas outras.
rias apresentadas são válidas e utilizadas até hoje.
Evidentemente, cada uma delas oferece supor-
A integração entre as variáveis é o grande
te para a resolução de problemas específicos. A
desafio para as Teorias da Administração e para
grande mudança reside no fato da teoria atual ser
os administradores, em qualquer nível hierár-
bastante complexa, possibilitando uma grande
quico. Deles se exige uma maior capacitação, a
variedade de abordagens com um número eleva-
fim de corresponderem aos crescentes desafios
do de variáveis a serem consideradas.
impostos pela complexidade das organizações
modernas.

1.7 O Futuro das Teorias da Administração, os Temas Emergentes

Com base no exposto até agora, cabe inda- b) as empresas continuarão a diferenciar
gar a respeito do futuro da teoria da administra- suas atividades, criando maiores pro-
ção. Será possível imaginá-lo? A tarefa é extrema- blemas de integração e coordenação;
mente complexa. Parece razoável esperar que a c) maior destaque será dado à sugestão
teoria da administração sofra mudanças e trans- e à persuasão, e não à coerção basea-
formações de difícil previsão. da no exercício da autoridade, como
Acredita-se que as incertezas acentuar-se- meio de coordenação do trabalho de
-ão, exigindo constantes revisões e, acima de tudo, seus membros, e de coordenação das
muita flexibilidade por parte dos administradores. funções e competências no interior da
As organizações sofrerão inúmeros impactos, en- empresa;
frentando períodos prolongados de turbulência, d) as metas das empresas se ampliarão.
que exigirão a máxima capacidade criativa e todo Dar-se-á maior ênfase à satisfação de
empenho dos administradores. uma série conjunta de objetivos do que
Kast e Rosenzweig (1992) assinalam que as à maximização de qualquer um deles
empresas dinâmicas e flexíveis prevalecerão no isoladamente.
futuro. Algumas das principais causas apontadas
por eles:
Parece evidente que a principal forma para
se vencer esses desafios residirá no fato de se con-
a) as empresas viverão num ambiente tur- tar com administradores, em qualquer nível, ca-
bulento, que delas exigirá alterações e pazes e bem preparados.
ajustamentos contínuos;

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Teorias da Administração

1.8 A Administração no Brasil

Chegou a hora de sabermos como a admi- Em 1945, Gustavo Capanema, Ministro da


nistração se iniciou no Brasil, quais foram as prin- Educação e Saúde, propôs ao Presidente Vargas
cipais necessidades sentidas pelos brasileiros que a criação dos cursos universitários de Ciências
se tornaram determinantes para dar um salto no Contábeis e de Ciências Econômicas, justificando
conhecimento sobre essa ciência. sua proposição na crescente complexidade dos
Segundo Barros Neto (1998), os primei- negócios, tanto públicos quanto privados. O mer-
ros cursos na área de Administração surgiram cado de educação superior, até então constituído
nos EUA, com a criação da Wharton School, em basicamente por cursos de Direito, Medicina e En-
1881, mas no Brasil somente na década de 1950 genharia, começava a segmentar-se.
iniciou-se de fato o ensino de administração. Em 1946, a Universidade de São Paulo
Nessa época, os EUA já formavam em torno de (USP), que tinha sido fundada 12 anos antes, criou
50 mil bacharéis, 4 mil mestres e 100 doutores, a Faculdade de Economia e Administração (FEA/
por ano, em Administração. Ainda hoje, segundo USP), em consonância com o momento históri-
Kanitz, a diferença é muito grande: enquanto lá co do acelerado processo de desenvolvimento
existem 240.000 Master Business Administration econômico do país. Não obstante, a Faculdade
(MBAs), aqui temos no máximo 5.000 mestres em permaneceu oferecendo apenas o curso de Ciên-
Administração. cias Contábeis e Ciências Econômicas até 1963,
quando então finalmente iniciaram-se os cursos
Dicionário de graduação em Administração Pública e de Em-
presas. O Instituto de Administração, criado em
MBA, cuja sigla em português significa Mestre em 1946, juntamente com a FEA, foi, até 1966, muito
Administração de Negócios, é a denominação que
se dá no Brasil a um curso de formação de execu-
importante na orientação de projetos e pesquisas
tivos na área de Administração, estudando maté- para a administração pública.
rias de finanças, contabilidade, recursos humanos,
Em 1972, o Instituto de Administração foi
marketing, entre outras. Nos EUA, o MBA tem um
grau de mestrado, mas no Brasil não é reconheci- reestruturado, com o objetivo de prestar serviços
do dessa forma. Aqui ele é enquadrado como uma a entidades públicas e privadas, realizar pesqui-
especialização (pós-graduação latu sensu).
sas e treinar pessoal, o que gerou um fundo para
financiamento de pesquisa na área.
Em 1952, foi criada pela Fundação Getulio
Essa diferença ocorreu no Brasil porque Vargas (FGV), com apoio da Organização das Na-
apenas a partir da década de 1940 é que come- ções Unidas (ONU), a Escola Brasileira de Adminis-
çou a se fazer sentir a demanda por mão de obra tração Pública (EBAP), com a finalidade de formar
qualificada na área de Administração, principal- especialistas nas modernas técnicas administrati-
mente devido à aceleração do processo de in- vas de então.
dustrialização nacional. O governo brasileiro já Em 1954, com o apoio da iniciativa privada
vinha demonstrando significativo interesse pelas e dos Governos Federal e Estadual, foi fundada
questões econômicas e a sociedade cobrava-lhe a Escola de Administração de Empresas de São
iniciativas para motivar a pesquisa em assuntos Paulo pela Fundação Getulio Vargas (EAESP-FGV)
econômicos e administrativos, que até então era e instituído o curso intensivo de Administradores,
realizada de forma muito dispersa nas disciplinas com o objetivo de transmitir técnicas avançadas
de Economia nos cursos de Direito. de gestão a dirigentes empresariais. O governo
norte-americano também apoiou a iniciativa, ao

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manter na nova Escola de Administração uma


missão da Michigan State University, além de re- Atenção
ceber os docentes da EAESP para cursos de pós-
Ainda segundo Barros Neto (1998), após a Re-
-graduação nos EUA. Em 1955, foi finalmente cria- volução de 1964, os cursos de Administração
do o primeiro curso superior em Administração começaram a se expandir através de faculdades
particulares, em decorrência da aceleração do
de Empresas no Brasil.
desenvolvimento econômico e do consequente
Em 1961, a Fundação Getulio Vargas co- aumento da demanda por profissionais capazes
meçou a oferecer cursos de pós-graduação em de gerir as grandes empresas e as novas unida-
des produtivas do país: principalmente empresas
Administração de Empresas. Dois anos depois, a estrangeiras e estatais. Essa nova complexidade
EAESP foi reconhecida pelo Decreto nº 52.830 e, exigia profissionais com treinamento, ferramen-
em 1966, mediante convênio com o Governo Es- tas e habilidades específicas para executar dife-
rentes funções. Nessa conjuntura, abriu-se amplo
tadual, instituiu o curso de graduação em Admi- espaço para atuação daqueles que já tinham
nistração Pública. formação específica na área de Administração de
Empresas.
Em 1974, houve o desmembramento do
curso de pós-graduação nos cursos de especiali-
zação (lato sensu) e de mestrado (stricto sensu) em
Administração de Empresas. Este último visando à O cenário econômico-social, com a expan-
formação de professores para outras instituições são dos cursos de Administração, exigia a regu-
de ensino. O crescimento da demanda por pro- lamentação da profissão de Administrador, o
fessores especializados em Administração levou que realmente veio a ocorrer em 9 de setembro
a FGV, em 1976, a criar os cursos de mestrado em de 1965, com a Lei nº 4.769. Já no ano seguinte,
Administração Pública e Governo e o doutorado o Conselho Federal de Educação fixou o primei-
em Administração de Empresas, e, algum tempo ro currículo mínimo no curso de Administração,
depois, em 1989, teve início os cursos de mestra- através do Parecer nº 307/1966, aprovado em 8 de
do e doutorado em Economia de Empresas. Final- julho de 1966. Desde então ficaram institucionali-
mente em 1993, houve a criação do MBA, curso zadas no Brasil a profissão e a formação de Técni-
de mestrado profissional lato sensu. co em Administração. Fazia-se necessário, então,
regulamentar a profissão, o que ocorreu através
A FEA/USP e a EAESP-FGV foram marcos
da Lei nº 4.769/1965, já mencionada, que criou
referenciais para o desenvolvimento dos demais
oficialmente a profissão de Técnico em Adminis-
cursos de Administração de Empresas no Brasil e
tração, denominação que permaneceu até 13 de
ocupam hoje posição dominante no campo das
junho de 1985, quando a Lei Federal nº 7.321, al-
Instituições de Ensino Superior de Administração.
terou o nome da profissão para Administrador.
Essas instituições realmente ofereceram grande
contribuição à gestão nacional, ao criar um novo Com essa regulamentação, criaram-se os
tipo de profissional, dotado de formação técnica, Conselhos Regionais e o Conselho Federal de Ad-
capaz de agir com co- ministração para fiscalizar o
nhecimento especia- Saiba mais desempenho da profissão e
lizado, permitindo ao expedir carteiras profissionais.
país prosseguir com Atualmente, o administrador, além de permanente- A partir de então, só poderiam
as transformações tão mente atualizado com as mais modernas técnicas de exercer a profissão aqueles re-
gestão e sintonizado com as mudanças do mundo, gistrados no Conselho Regio-
necessárias à moder- deve estar preparado também para atuar em todas as
nização do sistema formas organizacionais, desde associações de bairros, nal de Administração (CRA),
econômico. cooperativas, pequenas empresas, organizações sem tornando o exercício da pro-
fins lucrativos, não governamentais, culturais etc., além fissão privativo àqueles que
das tradicionais grandes empresas comerciais e indus-
triais.
possuem o título de bacharel
em Administração.

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Teorias da Administração

1.9 Resumo do Capítulo

Caro(a) aluno(a), neste capítulo verificamos que o movimento da Revolução Urbana à Revolução
Industrial foi determinante para criar o que conhecemos hoje sobre as organizações.
Também estudamos as teorias da administração de uma forma abrangente, percorrendo a ênfase
nas tarefas, na estrutura organizacional, no ambiente, no estágio atual da teoria e no futuro das teorias
da administração com os temas abrangentes.
Ao final do capítulo, abordamos a evolução da administração no Brasil, apresentando o contexto
nacional que implicou necessidades relevantes, conduzindo à criação dos cursos superiores de Adminis-
tração e à regulamentação da profissão de Administrador.
Vamos identificar, neste momento, seu nível de assimilação ao conteúdo estudado.

1.10 Atividades Propostas

1. Em Administração há termos muito importantes e comumente utilizados. São eles: teoria, ad-
ministração, recursos, decisões, objetivos, funções administrativas, teorias da administração,
escolas, modelos de gestão e modelos de organização. Defina todos esses termos.

2. As abordagens das Teorias de Administração, de forma geral, podem ser classificadas quanto
à sua ênfase. Quais são essas ênfases?

3. Como o sindicalismo estimulou o capitalismo de forma irreversível?

4. Qual é o papel do Administrador nos dias atuais?

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OS PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO E
2 O PAPEL DO ADMINISTRADOR

Caro(a) aluno(a), veremos neste capítulo Frederick Taylor, já na escola de Administra-


os princípios da administração e como estes se ção Científica, utilizava quatro princípios básicos:
refletem no dia a dia das organizações, além de planejamento, preparo (hoje, organização), con-
abordar a utilidade do estudo das Teorias da Ad- trole e execução. Como visto anteriormente, esses
ministração para o administrador. princípios eram considerados em relação à tarefa.
Segundo Maximiano (2004), para entender Henry Fayol empregava, embora em relação
o que significa Administração, é preciso ir além da às tarefas administrativas, os princípios previsão,
interpretação da palavra. É preciso compreender organização, comando, coordenação e controle.
o papel que a administração desempenha para as A evolução das teorias trouxe, naturalmente, uma
organizações e para a sociedade. evolução na conceituação dos princípios de ad-
Ainda conforme Maximiano (2004), pode- ministração.
mos definir Administração a partir de objetivos, Assim sendo, hoje, quatro princípios são
decisões e recursos – essas são palavras-chave. considerados de fundamental importância nas
Administração é o processo de tomar e colocar Teorias da Administração:
em prática decisões sobre objetivos e utilização
de recursos. O processo administrativo abrange a) Planejamento;
quatro tipos principais de decisões, também cha- b) Organização;
mados de processos ou funções: planejamento,
c) Direção;
organização, execução e controle. As decisões re-
sumem os Princípios da Administração. d) Controle.
Acredita-se que, a partir do conhecimen- Saiba mais
to das Teorias da Administração, haja condições
para a análise dos Princípios da Administração. Esses princípios, com elevada probabilidade, terão
Convém destacar, inicialmente, que os princípios importância cada vez mais acentuada. Detalharemos
fundamentais de administração vieram se conso- cada um desses itens para evidenciar a importância
de seu conhecimento para a gestão das organizações
lidando através de todas as teorias já vistas, com o sob a perspectiva de quaisquer das Teorias da Admi-
decorrer do tempo. nistração.

2.1 Planejamento

Segundo Chiavenato (1997), o planejamen- racionais para que se organize e dirija a empresa
to é a função administrativa que determina ante- ou seus departamentos ou divisões a partir de
cipadamente o que se deve fazer e quais objeti- certas hipóteses a respeito da realidade atual e
vos devem ser alcançados, e visa dar condições futura.

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como as relações e compromissos in-


Atenção ternos e externos;
A elaboração do planejamento evita a adoção de ƒƒ é interativo. Como o planejamento se
ações improvisadas, casuais, contribuindo para projeta para o futuro, ele deve ser sufi-
reduzir o nível de incerteza e possibilitando maior ciente e prudentemente flexível para
segurança quanto ao desempenho da empresa.
aceitar ajustamentos e correções. Pres-
supõe avanços e recuos, alterações e
modificações em função de eventos
O planejamento, segundo Chiavenato novos, ou diferentes que ocorram tanto
(1997), apresenta as seguintes características: no ambiente interno quanto externo da
empresa;
ƒƒ é um processo permanente e contínuo, ƒƒ é uma técnica de alocação de recursos
pois é realizado de forma sistemática de forma antecipadamente estudada
dentro da empresa e não se esgota na e decidida. Deverá refletir a otimização
simples montagem de um plano de na alocação e dimensionamento dos
ação; recursos com os quais a empresa ou o
ƒƒ é sempre voltado para o futuro e está órgão dela poderá contar no futuro
intimamente ligado com a previsão, para suas operações;
embora não se confunda com ela. O ƒƒ é uma técnica cíclica. À medida que é
conceito de planejamento inclui o as- executado, passa a ser realizado. Con-
pecto de temporalidade e futuro: o pla- forme vai sendo executado e realiza-
nejamento é uma relação entre coisas a do, permite condições de avaliação e
fazer e o tempo disponível para fazê-las; mensuração para novos planejamen-
ƒƒ preocupa-se com a racionalidade da to- tos, com informações e perspectivas
mada de decisões, pois ao estabelecer mais seguras e corretas;
esquemas para o futuro funciona como ƒƒ é função administrativa que interage
um meio de orientar o processo deci- dinamicamente com as demais. Está
sório, dando-lhe maior racionalidade e intimamente relacionado com as de-
subtraindo incerteza subjacente a qual- mais funções administrativas, como
quer tomada de decisão; a organização, o controle e a avaliação,
ƒƒ visa a relacionar, entre várias alternati- influenciando e sendo influenciado por
vas disponíveis, um determinado cur- elas, a todo o momento e em todos os
so de ação, em função de suas conse- níveis da empresa;
quências futuras e das possibilidades ƒƒ é uma técnica de coordenação. Permite
de sua execução e realização. O curso a coordenação de várias atividades no
de ação escolhido pode ter uma dura- sentido da realização dos objetivos de-
ção variável – desde curto a longo prazo sejados e de maneira eficaz;
– e pode ter uma amplitude igualmente ƒƒ é uma técnica de mudança e inovação.
variável – abrangendo a empresa como O planejamento é uma das melhores
um todo até uma determinada unidade maneiras de se introduzir deliberada-
de trabalho; mente mudança e inovação dentro de
ƒƒ é sistêmico, pois deve considerar a em- uma empresa, sob uma forma previa-
presa ou o órgão ou a unidade como mente definida e escolhida e devida-
uma totalidade. O planejamento deve mente programada.
considerar tanto o sistema como os
subsistemas que o compõem, bem

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Teorias da Administração

O Planejamento pode ser considerado em


função do nível da empresa, conforme ilustra a
figura a seguir:

Nível Institucional Planejamento Estratégico

Nível Intermediário Planejamento Tático

Nível Operacional Planejamento Operacional

O planejamento estratégico, em linhas ge- O planejamento tático é efetuado no nível


rais, é aquele efetuado no nível institucional da intermediário da empresa, envolvendo a gerên-
empresa, envolvendo a alta administração. É ge- cia. É menos genérico, e mais detalhado, direcio-
nérico e sintético, direcionado para longo prazo e nado para médio prazo e considera cada unidade
considera a empresa como uma totalidade. da empresa.

Multimídia

Filme: A Fuga das Galinhas


Direção: Peter Lord e Nick Park
Gênero: Animação
Sinopse: A Sra. Tweedy (Miranda Richardson/Nádia Carvalho) é a dona de um galinheiro no interior da Inglaterra,
onde a maior parte das aves vive uma vida curta e monótona, limitada a produzir ovos e terminar na panela. Mas
quando Rocky (Mel Gibson/Dário de Castro), um galo vindo dos Estados Unidos, surge voando por cima da cerca
da Granja, as coisas começam a mudar. Rocky se apaixona por Ginger (Julia Sawalha/Miriam Ficher), que sonha com
uma vida melhor e já há algum tempo deseja fugir da granja. Juntos os dois arquitetam um plano para conseguir
liberdade. No entanto, Rocky e Ginger logo se veem correndo contra o tempo quando a Sra. Tweedy decide que é
hora de transformar o rebanho inteiro em tortas de galinha.

O planejamento operacional é o efetuado


no nível operacional da empresa, envolvendo a Dicionário
supervisão. É detalhado e analítico, direcionado
1. Atingir o máximo de: “Até que ponto será pos-
para o curto prazo e considera cada tarefa ou sível maximizar lucratividade?” (Arnaldo Maga-
operação. O planejamento operacional está vol- lhães de Giacomo).
2. Elevar ao mais alto nível ou grau.
tado para o que fazer, como fazer, e para quem
fazer, procurando otimizar e maximizar os resul- Fonte: Michaelis digital.
tados. Esse tipo de planejamento deve ser intrin-
secamente relacionado ao planejamento tático, o
mesmo ocorrendo com este em relação ao plane-
jamento estratégico.

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2.2 Organização

Chiavenato (1997) define a organização Como ocorre com a função planejamento, a


como uma função administrativa através da qual função organização também pode ser analisada
a empresa reúne e integra os seus recursos, defi- em função dos diferentes níveis (institucional, in-
ne a estrutura de órgãos que deverão administrá- termediário e operacional) da empresa.
-los, estabelece a divisão de trabalho através da
diferenciação, proporciona os meios de autorida- Atenção
de e de responsabilidade e, assim por diante. A
organização representa, no fundo, todos aqueles Como já foi enfatizado, a função administrati-
va organizacional depende do planejamento,
meios que a empresa utiliza para pôr em prática o
do controle e da direção. Há uma estreita inter-
planejamento, o controle e a avaliação para atin- -relação entre todas essas funções. A função
gir os seus objetivos. administrativa organizacional normalmente é
implementada de acordo com as peculiaridades
de cada empresa, que pode considerar seus re-
cursos (humanos, materiais e organizacionais) e
sua estrutura.

2.3 Direção

Do ponto de vista didático, a função admi- A Direção é a função que envolve a maior
nistrativa de direção vem após o planejamento e interação humana. Como assegura Chiavena-
a organização. Assim, enquanto o planejamento to (1997) assegura que é “a função que exige a
estabelece o que fazer, como fazer e para quem maior dose de flexibilidade, de amortecimento
fazer; a organização estabelece a estrutura, os de impactos e, principalmente, de orientação das
meios para a execução; a direção se preocupa pessoas quanto ao rumo certo no alcance dos
com a execução das operações propriamente di- objetivos pretendidos.”
tas, tendo em vista o alcance dos objetivos. A Direção é extremamente dinâmica, ocorre
em todos os níveis da empresa e está relacionada
ao planejamento, à organização e ao controle.
Atenção
Como a função Direção diz respeito ao processo
A Direção é, inegavelmente, uma das comple- de interação entre pessoas, três assuntos ineren-
xas funções da administração. Isso se deve à sua tes a ela são de capital importância: comunicação,
abrangência e ao fato de estar intimamente rela-
cionada às pessoas.
liderança e motivação.
Assim sendo, para dirigir pessoas são ne-
cessários profundos conhecimentos a respeito
A execução de qualquer ação envolve sem- do processo de comunicação, das teorias de li-
pre pessoas e grupos. Toda a implementação do derança e da motivação. Como nas funções pla-
planejamento e da organização é efetuada por nejamento e organização, a direção pode ser
um conjunto de pessoas, e normalmente são os considerada em função dos níveis da empresa:
recursos mais complexos existentes nas empre- institucional, intermediário e operacional.
sas.

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Teorias da Administração

2.4 Controle

O termo ‘controle’ tem muitos significados a) coleta de dados sobre o desempenho;


e, não raro, se associa a atitudes coercitivas, prin- b) comparação dos dados com um pa-
cipalmente quando envolve pessoas. O controle drão;
deve ser entendido como uma função adminis- c) ação corretiva.
trativa, como o planejamento, a organização e a
direção.
Os autores Koontz e O’Donnell (1981) es- Certamente, cada uma dessas fases pode
pecificam que controle é a função administrativa ser desenvolvida através de diversas formas, que
que consiste em medir e corrigir o desempenho sempre devem considerar as peculiaridades de
de colaboradores para assegurar que os objetivos cada empresa.
da empresa e os planos delineados para alcançá-
-los sejam realizados. É, pois, a função segundo a
qual cada administrador, do presidente ao super-
visor, certifica-se de que aquilo que é feito está de Dicionário
acordo com o que se tencionava fazer.
Controle: é a metodologia administrativa que, me-
O controle também está intimamente rela- diante a comparação com padrões previamente
cionado com o planejamento, a direção e a orga- estabelecidos, procura medir e avaliar o desem-
penho e o resultado das ações, com a finalidade
nização. Os controles podem ser classificados de de realimentar com informações os tomadores de
acordo com o nível da empresa onde ocorrem. decisões, de forma que possam corrigir ou reforçar
Assim, há o controle estratégico, o controle tático esse desempenho, para assegurar que os resulta-
dos estabelecidos pelo planejamento sejam alcan-
e o operacional. çados.
Em termos de controle operacional, Litterer
(1990) propõe um modelo básico que compreen-
de três fases:

2.5 O Papel do Administrador

De forma crítica, podemos considerar as se- se defronta e as perspectivas para a sua


guintes razões para que o administrador se apro- atuação futura;
funde nos conhecimentos das teorias administra- b) Esclarecer que a tarefa do administra-
tivas: dor deverá envolver cinco áreas: tare-
fas, pessoas, estrutura, ambiente e
a) As Teorias da Administração fornecem tecnologia. Evidentemente, cada uma
o pano de fundo para a compreensão dessas áreas terá peso diferente, fazen-
do papel do administrador. Tornar-se- do com que o administrador concentre-
-á mais fácil, acredita-se, entender a sua -se mais em umas do que em outras;
importância e complexidade e como c) Enfatizar que o administrador deve pos-
o profissional de administração está suir conhecimentos nessas áreas espe-
inserido nesse processo, quais os de-
safios e as responsabilidades com que

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cíficas, a fim de desempenhar adequa- ƒƒ Chester Barnard (1938) – Funções do


damente sua missão; Executivo – senso de propósito moral
d) Mostrar que o trabalho do administra- / organização informal / comunicação
dor é complexo, dele exigindo constan- / processo decisório / aceitação da au-
te aperfeiçoamento; toridade.
e) Que não se pode e nem se deve esperar ƒƒ Herbert Simon (1960) – Processo Deci-
respostas definitivas, fórmulas para a sório – situação problema / alternativas
solução de problemas e respostas para para resolução / decisão / homem eco-
todas as dúvidas; nômico / maximização dos ganhos.
f) Que o trabalho do administrador é ex- ƒƒ Henry Mintzberg (1973) – Papéis do
tremamente importante, rico, desafia- Gerente – decisão – empreendedor,
dor e que oferece condições para pleno controlador, administrador de recursos
desenvolvimento de todo o seu poten- e negociador. Interpessoal – líder. Co-
cial humano; municação – disseminador, porta-voz,
g) Que não se pode viver sem administrar, monitor.
e que não se pode colher frutos inespe- ƒƒ Rosemary Stewart (1982) – Processo
rados na luz da ciência administrativa. decisório – esfera da decisão / esfera do
desempenho / esfera das restrições.
ƒƒ Fred Luthans (1988) – Desempenho
Saiba mais
dos gerentes – funções gerenciais / co-
municação / relações humanas / rela-
Papel administrativo é a forma como as pessoas de-
vem trabalhar e se relacionar entre si, bem como pe- cionamento.
rante os públicos externos – clientes, fornecedores, ƒƒ Andrew Grove (1983) – Alta Performan-
governo etc. –, tendo como base os valores e os prin-
cípios éticos e morais da organização. ce – produção / trabalho em equipe /
competência individual.
ƒƒ Edwards Deming (1990) – Satisfação
do cliente.
Atenção ƒƒ Peter Druker (1991) – Capacidade de
decidir.
Os autores que estruturaram as primeiras Teorias ƒƒ Mary Parker Follett (1997) – Clima Or-
da Administração e estudiosos especialistas no
assunto definiram os papéis do Administrador ganizacional / relações humanas.
sob diferentes enfoques, elaboramos uma lista ƒƒ Igor Ansoff – planejar e executar estra-
com esses autores e o entendimento deles sobre
o papel do Administrador nas Organizações: tégias.
ƒƒ Alfred Sloan – tomada de decisão com-
partilhada.
ƒƒ Henry Fayol (1916) – Processo Admi- ƒƒ Robert L. Katz – habilidade técnica, hu-
nistrativo mana e conceitual.
ƒƒ Divisão do trabalho / Autoridade e res-
ponsabilidade / Disciplina / Unidade de Saiba mais
comando / Unidade de direção / Preva-
lência dos interesses gerais / Remune- Repare que esses autores viveram em épocas diferen-
ração / Centralização / Hierarquia em tes, mas trouxeram igualmente grande aprofunda-
linha / Ordem / equidade / Estabilidade mento as Teorias Organizacionais.

dos funcionários / Iniciativa / Espírito de


equipe.

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Teorias da Administração

2.6 Resumo do Capítulo

Caro(a) aluno(a),
Neste capítulo, estudamos os princípios da administração: planejamento, organização, direção e
controle.
Foi possível compreender o papel da administração nas organizações, bem como os seus reflexos
no dia a dia da gestão.
Ao longo dos estudos deste capítulo, também percebemos como o administrador exerce um papel
fundamental dentro das empresas modernas. No exercício desse papel, alinhamos a importância dos
diversos modelos de Teorias da Administração para o administrador.
Vamos agora avaliar seu aprendizado.

2.7 Atividades Propostas

1. Quatro princípios são considerados de fundamental importância nas Teorias da Administra-


ção. Quais são eles?

2. Como podemos definir ‘organização’?

3. A utilidade do estudo das Teorias da Administração para o administrador pode ser estabeleci-
da por diversas razões. Comente quais são essas razões.

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3 A MECANIZAÇÃO NAS ORGANIZAÇÕES

Caro(a) aluno(a), neste capítulo você perce- eficaz, outras vezes pode ter muitos resultados
berá que quando os administradores pensam nas desastrosos.
organizações como máquinas, tendem a adminis-
trá-las e planejá-las como máquinas feitas de par- Saiba mais
tes que se interligam, cada uma desempenhando
um papel claramente definido no funcionamento Um dos problemas mais básicos da administração
do todo. moderna é que a forma mecânica de pensar está tão
arraigada nas nossas concepções diárias de organiza-
Segundo Morgan (1996), a metáfora da ção que é frequentemente muito difícil organizá-la de
máquina ilustra como esse estilo de pensamen- outra forma.
to alicerçou o desenvolvimento da burocracia.
Enquanto algumas vezes isso pode comprovar-se

3.1 Teoria Clássica da Administração

O representante de maior vulto da Teoria O engenheiro definiu a empresa como uma


Clássica da Administração (1911), o que chama- organização que começa por um plano estratégi-
mos de Escola do Processo Administrativo, foi co ou uma definição de objetivos, evolui para uma
Henri Fayol, engenheiro de minas e administrador estrutura para colocar o plano em prática, atua de
francês. Fayol foi um dos primeiros estudiosos a forma controlada entre o líder e a força de traba-
analisar a natureza da atividade empresarial, a lho, harmoniza o trabalho dos departamentos
formular uma teoria completa de gestão e a de- através da coordenação sujeita a avaliações sobre
finir as principais atividades do gestor: planejar, a sua eficácia. Segundo Fayol (2000), o melhor de-
organizar, comandar, coordenar e controlar. sempenho da força de trabalho dependerá das
A Teoria Clássica da Administração enfatiza qualidades do líder, do seu conhecimento do ne-
a estrutura das organizações. Fez a ligação entre gócio e dos empregados e da sua capacidade de
a estratégia e a teoria empresarial e destacou a inspirar um sentido de missão. A ênfase está: nas
necessidade de aprofundar a gestão e de culti- funções administrativas (estrutura), na eficiência
var qualidades de liderança. Ele defendia que os administrativa e nos elementos ou princípios de
mesmos princípios podiam ser aplicados em em- administração.
presas de dimensões diferentes e de todo o tipo –
industriais, comerciais, governamentais, políticas
ou mesmo religiosas.

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ƒƒ Disciplina: necessidade de estabelecer


Atenção regras de conduta e de trabalho válidas
para todos os funcionários. A ausência
Segundo Fayol (2000, p. 83), as empresas têm seis
funções básicas: de disciplina gera o caos na organiza-
1. Funções técnicas, relacionadas com a produ- ção;
ção de bens ou de serviços da empresa;
ƒƒ Prevalência dos interesses gerais: os
2. Funções comerciais, relacionadas com com-
pra, venda e permutação; interesses gerais da organização devem
3. Funções financeiras, relacionadas com pro- prevalecer sobre os interesses indivi-
cura e gerência de capitais;
duais;
4. Funções de segurança, relacionadas com
proteção e preservação dos bens e das pes- ƒƒ Remuneração: deve ser suficiente para
soas; garantir a satisfação dos funcionários e
5. Funções contábeis, relacionadas com inven-
tários, registros, balanços, custos e estatísti- da própria organização;
cas; ƒƒ Centralização: as atividades vitais da
6. Funções administrativas, relacionadas com a
integração de cúpula das outras cinco fun-
organização e sua autoridade devem
ções. ser centralizadas;
ƒƒ Hierarquia: defesa incondicional da es-
trutura hierárquica, respeitando à risca
Conforme Fayol (2000), à medida que se uma linha de autoridade fixa;
desce na escala hierárquica, mais aumenta a pro- ƒƒ Ordem: deve ser mantida em toda or-
porção das outras funções da empresa. Para Fayol, ganização, preservando um lugar para
o termo organização pode ter dois significados: a cada coisa e cada coisa em seu lugar;
função de organizar e a de ser uma entidade so-
ƒƒ Equidade: a justiça deve prevalecer em
cial, formal ou informal.
toda organização, justificando a lealda-
Henri Fayol defendia princípios de Adminis- de e a devoção de cada funcionário à
tração baseado em sua experiência na alta admi- empresa;
nistração. Fayol relacionou 14 princípios básicos
ƒƒ Estabilidade dos funcionários: uma
que podem ser estudados da seguinte forma:
rotatividade alta tem consequências ne-
gativas sobre desempenho da empresa
ƒƒ Divisão do trabalho: especialização e o moral dos funcionários;
dos funcionários desde o topo da hie-
ƒƒ Iniciativa: deve ser entendida como a
rarquia até os operários da fábrica, fa-
capacidade de estabelecer um plano e
vorecendo, assim, a eficiência da produ-
cumpri-lo;
ção aumentando a produtividade;
ƒƒ Espírito de equipe: o trabalho deve ser
ƒƒ Autoridade e responsabilidade: auto-
conjunto, facilitado pela comunicação
ridade é o direito dos superiores darem
dentro da equipe. Os integrantes de um
ordens que teoricamente serão obede-
mesmo grupo precisam ter consciência
cidas. Responsabilidade é a contraparti-
de classe, para que defendam seus pro-
da da autoridade;
pósitos.
ƒƒ Unidade de comando: um funcionário
deve receber ordens de apenas um che-
fe, evitando contraordens; Funções da Gerência Administrativa
ƒƒ Unidade de direção: o controle único
é possibilitado com a aplicação de um ƒƒ Planejar: estabelece os objetivos da
plano para grupo de atividades com os empresa, especificando a forma como
mesmos objetivos; serão alcançados. Parte de uma son-

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Teorias da Administração

dagem do futuro, desenvolvendo um denação das atitudes e esforços de toda


plano de ações para atingir as metas a empresa, almejando as metas traça-
traçadas. É a primeira das funções, já das.
que servirá de base diretora à operacio-
nalização das outras funções.
Críticas à Teoria Clássica
ƒƒ Comandar: faz com que os subordi-
nados executem o que deve ser feito.
ƒƒ Obsessão pelo comando: tendo como
Pressupõe que as relações hierárquicas
ótica a visão da empresa a partir da ge-
estejam claramente definidas, ou seja,
rência administrativa, Fayol focou seus
que a forma como administradores e
estudos na unidade do comando, na
subordinados se influenciam esteja ex-
autoridade e na responsabilidade. Em
plícita, assim como o grau de participa-
função disso, é visto como obcecado
ção e colaboração de cada um para a
pelo comando.
realização dos objetivos definidos.
ƒƒ A empresa como sistema fechado: a
ƒƒ Organizar: é a forma de coordenar
partir do momento que o planejamento
todos os recursos da empresa, sejam
é definido como sendo a pedra angular
humanos, financeiros ou materiais, alo-
da gestão empresarial, é difícil imaginar
cando-os da melhor forma, segundo o
que a organização seja vista como uma
planejamento estabelecido.
parte isolada do ambiente.
ƒƒ Controlar: controlar é estabelecer pa-
ƒƒ Manipulação dos trabalhadores: bem
drões e medidas de desempenho que
como a Administração Científica, foi ta-
permitam assegurar que as atitudes
chada de tendenciosa, desenvolvendo
empregadas são as mais compatíveis
princípios que buscavam explorar os
com o que a empresa espera. O contro-
trabalhadores.
le das atividades desenvolvidas permite
maximizar a probabilidade de que tudo
ocorra conforme as regras estabeleci- Outros autores que contribuíram com a
das e ditadas. Teoria Clássica foram L. Gullick e Lyndall Urwick
ƒƒ Coordenar: a implantação de qualquer – Inglaterra.
planejamento seria inviável sem a coor-

3.2 Estudo da Burocracia

O sociólogo alemão Max Weber (1864-1920) Capitalismo”, São Paulo, Livrada Pioneira Editora,
foi o criador da Sociologia da Burocracia. Foi pro- 1967. 
fessor das Universidades de Friburgo e de Heidel- A Teoria da Burocracia desenvolveu-se den-
berg e ficou famoso pela teoria das estruturas de tro da Administração ao redor dos anos 1940, em
autoridade. Com a tradução de alguns de seus função principalmente dos seguintes aspectos:
livros para a língua inglesa, por Talcott Parsons,
tomou corpo nos Estados Unidos a Teoria da Bu- ƒƒ a fragilidade e a parcialidade tanto da
rocracia em Administração. Sua obra é realmente Teoria Clássica, quanto da Teoria das
muito vasta. Seu principal livro, para o propósito Relações Humanas, ambas oponentes
deste estudo, é “A Ética Protestante e o Espírito de e contraditórias entre si, mas sem pos-

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sibilitarem uma abordagem global, in- ƒƒ o ressurgimento da Sociologia da Bu-


tegrada e envolvente dos problemas rocracia, a partir da descoberta dos tra-
organizacionais. Ambas revelam dois balhos de Max Weber, o seu criador. Se-
pontos de vista extremistas e incom- gundo essa teoria, um homem pode ser
pletos sobre a organização, gerando pago para agir e se comportar de cer-
a necessidade de um enfoque mais ta maneira preestabelecida, a qual lhe
amplo e completo, tanto da estrutura, deve ser explicada com exatidão, muito
quanto dos participantes da organiza- minuciosamente e em hipótese alguma
ção; permitindo que suas emoções interfi-
ram no seu desempenho. A Sociologia
da Burocracia propôs um modelo de
Dicionário organização e os administradores não
Extremista é aquele que busca soluções ou me-
tardaram em tentar aplicá-lo na prática
didas radicais para resolver os problemas sociais, em suas empresas. A partir daí, surge a
políticos ou religiosos. Em se tratando de teorias Teoria da Burocracia na Administração;
de administração, tem relação com os extremos
representados pelas Teorias Clássica e das Rela- ƒƒ Weber notou a proliferação de organiza-
ções Humanas. ções de grande porte, tanto no domínio
religioso (a Igreja) quanto no educacio-
nal (a Universidade) ou no econômico
ƒƒ tornou-se necessário um modelo de (as grandes empresas), que adotaram
organização racional capaz de carac- o tipo burocrático de organização, con-
terizar todas as variáveis envolvidas, centrando os meios de administração
bem como o comportamento dos seus no topo da hierarquia e utilizando re-
membros participantes, e aplicável não gras racionais e impessoais, visando à
somente à fábrica, mas a todas as for- máxima eficiência.
mas de organização humana e princi-
palmente às empresas;
Weber (1992) identifica três fatores princi-
ƒƒ o crescente tamanho e complexidade pais que favorecem o desenvolvimento da mo-
das empresas passou a exigir modelos derna burocracia:
organizacionais mais bem definidos.
Alguns historiadores verificaram que a
ƒƒ o desenvolvimento de uma economia
“indústria em grande escala depende
monetária: a moeda não apenas facilita,
da sua organização, da Administração
mas racionaliza as transações econômi-
e do grande número de pessoas com
cas. Na burocracia, a moeda assume o
diferentes habilidades. Milhares de ho-
lugar da remuneração em espécie para
mens e mulheres devem ser colocados
os funcionários, permitindo a centrali-
em diferentes setores de produção e
zação da autoridade e o fortalecimento
em diferentes níveis hierárquicos: os en-
da administração burocrática;
genheiros e administradores no alto da
pirâmide e os operários na base. Devem ƒƒ o crescimento quantitativo e qualitati-
executar tarefas específicas, devem ser vo das tarefas administrativas do Esta-
dirigidos e controlados”. Tanto a Teoria do Moderno: apenas um tipo burocrá-
Clássica quanto a Teoria das Relações tico de organização poderia arcar com
Humanas mostraram-se insuficientes a enorme complexidade e tamanho de
para responder à nova situação, que se tais tarefas;
tornava mais complexa;

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ƒƒ a superioridade técnica – em termos de aperfeiçoamento. Assim, os sistemas sociais cres-


eficiência – do tipo burocrático de ad- ceram em demasia, as grandes empresas passa-
ministração que serviu como uma força ram a produzir em massa, sufocando as peque-
autônoma interna para impor sua pre- nas. Além disso, nas grandes empresas há uma
valência. A razão decisiva da superiori- necessidade crescente de cada vez mais se obter
dade da organização burocrática sem- um controle e uma maior previsibilidade do seu
pre foi unicamente sua superioridade funcionamento.
técnica sobre qualquer outra forma de A seguir, temos dois quadros que resumem
organização. os trabalhos de Weber no estudo da burocracia e
também as disfunções a partir do estudo:
O desenvolvimento tecnológico fez com
que as tarefas da administração tendessem ao

Características da Burocracia segundo Weber

1. Caráter Legal das Normas e Regulamentos


2. Caráter Formal das Comunicações
3. Caráter Racional e Divisão do Trabalho
4. Impessoalidade nas Relações
5. Hierarquia da Autoridade
6. Rotinas e Procedimentos Padronizados
7. Competência Técnica e Meritocracia
8. Especialização da Administração
9. Profissionalização dos Participantes

Características da Burocracia Disfunções da Burocracia

1. Caráter legal das normas


1. Internalização das normas
2. Caráter formal das comunicações
2. Excesso de formalismo e papelório
3. Divisão do trabalho
3. Resistência a mudanças
4. Impessoalidade no relacionamento
4. Despersonalização do relacionamento
5. Hierarquização da autoridade
5. Categorização do relacionamento
6. Rotinas e procedimentos padronizados
6. Superconformidade
7. Competência técnica e mérito
7. Exibição de sinais de autoridade
8. Especialização da administração
8. Dificuldades com clientes
9. Profissionalização

Previsibilidade do funcionamento Imprevisibilidade do funcionamento

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As causas das disfunções da burocracia re- soas) que necessariamente introduz variações no
sidem basicamente no fato de que a burocracia desempenho das atividades organizacionais. Em
não leva em conta a chamada organização infor- face da exigência de controle que norteia toda a
mal que existe fatalmente em qualquer tipo de atividade organizacional é que surgem as conse-
organização, nem se preocupa com a variabilida- quências imprevistas da burocracia.
de humana (diferenças individuais entre as pes-

3.3 Administração Científica

Frederick Taylor foi o criador, e participante recompensas, tanto para eles próprios
mais destacado, do movimento da Administra- quanto para a mão de obra;
ção Científica. Nasceu em 1856, na Pensilvânia, ƒƒ havia conflitos entre capatazes e operá-
tornou-se trabalhador manual, apesar de ter sido rios a respeito da quantidade da produ-
aprovado para a Escola de Direito de Harvard. Se- ção.
gundo seus biógrafos, Taylor tomou essa decisão
porque os estudos prejudicaram sua visão.
Taylor procurou resolver esses e outros pro-
Trabalhou para uma empresa fabricante de
blemas que eram e continuam sendo comuns
bombas hidráulicas, onde começou a observar o
nas empresas, desenvolvendo, através de suas
que achava má administração. Em 1878, retomou
observações e experiências, seu sistema de ad-
os estudos, dessa vez em engenharia; obteve o
ministração de tarefas ou também como sistema
título de mestre em 1883. Começou a desenvol-
de Taylor, taylorismo e, finalmente, Administração
ver, também, os primeiros de uma série de muitos
Científica.
aprimoramentos técnicos.
A Administração Científica é um sistema
Foi na Midvale que observou os problemas
que economiza trabalho, produzindo mais em
das operações fabris que podemos encontrar em
menos tempo.
algumas empresas até hoje. Por exemplo:
A primeira fase da Escola da Administra-
ção Científica se caracterizou por problemas de
ƒƒ a administração não tinha noção clara
salários, estudo do tempo, definição de tempo-
da divisão de suas responsabilidades
-padrão e administração das tarefas. Os trabalha-
para com o trabalhador;
dores acreditavam que seu esforço beneficiava
ƒƒ não havia incentivos para melhorar o somente o seu patrão, com isso eles não se empe-
desempenho do trabalhador; nhavam no trabalho, a forma de pagamento fazia
ƒƒ muitos trabalhadores não cumpriam com que eles acreditassem nisso. Para resolver tal
suas responsabilidades; impasse, surgiu a possibilidade de os empregados
ƒƒ as decisões dos administradores basea- começarem a ter participação nos lucros, ganhar
vam-se na intuição e no palpite; bônus da empresa e aumento de salário. Taylor
ƒƒ não havia integração entre os departa- achava que se cronometrasse o tempo máximo
mentos da empresa; de trabalho e medisse o espaço que o homem
ƒƒ os trabalhadores eram colocados em ta- precisa para executar uma tarefa com eficiência,
refas para as quais não tinham aptidão; pouparia mais tempo e assim subiria a produção
e o lucro da empresa. Esse sistema foi a base para
ƒƒ os gerentes pareciam ignorar que a ex-
o começo da administração de tarefas, foi com
celência no desempenho significava
ele que começaram a selecionar trabalhadores,

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dando pagamentos de incentivo. Com a seleção para economizar tempo, obtendo o aumento da
de trabalhadores, estes eram postos nos setores produção e dos lucros na empresa.
adequados com os seus perfis; com isso permitia Na terceira e última fase da Administração
que a administração controlasse a produção, dis- Científica, Taylor enfocou os seguintes pontos:
pondo do trabalho padronizado, que era essen-
cial para a eficiência. ƒƒ consolidação dos princípios;
A segunda fase da Administração Científica ƒƒ proposição de divisão de autoridade e
concentrou a aplicação de escoro da tarefa para responsabilidades dentro da empresa;
a administração e a definição de princípios de
ƒƒ distinção entre técnicas e princípios.
administração do trabalho. Essa fase ficou conhe-
cida como shop management (administração de
operadores fabris). O homem precisa de motiva- Nessa fase Taylor sintetiza os objetivos da
ções para fazer um bom trabalho; tanto o homem Administração Científica: desenvolver uma ciên-
de primeira classe quanto o homem de classe cia para substituir o velho método empírico; sele-
média tornam-se ineficientes, se lhes faltar incen- cionar o trabalhador, treiná-lo e instruí-lo, já que
tivo. O shop management defendia os seguintes no passado eles escolhiam o próprio trabalho;
princípios: cooperar com os trabalhadores, para que o traba-
lho seja feito de acordo com a ciência desenvolvi-
da. No passado, no trabalho, quase toda a respon-
Dicionário sabilidade caía na mão de obra, nessa nova fase a
Escoro: do verbo ‘escorar’, significa pôr escoras, administração tem que estar mais bem preparada
apoiar, amparar. que o trabalhador, para não haver erro novamen-
Fonte: Aulete Digital. te. Taylor também acreditava no incentivo do tra-
balhador individual que significa ganho material,
e estímulo pessoal. Nessa última fase a principal
ƒƒ uma boa administração deve pagar sa- mudança foi a criação de um departamento de
lários altos e ter baixos custos de produ- planejamento. As técnicas desse princípio eram:
ção;
ƒƒ a administração deveria aplicar méto- ƒƒ estudos de tempos e movimentos;
dos de pesquisas, para determinar a ƒƒ padronização de ferramentas e instru-
melhor maneira de executar tarefas; mentos;
ƒƒ os empregados deveriam ser seleciona- ƒƒ padronização de movimentos;
dos, e treinados, de uma maneira qua- ƒƒ conveniência de uma área de planeja-
lificada, e para que as tarefas fossem mento;
compatíveis.
ƒƒ cartões de instruções;
ƒƒ sistema de pagamento de acordo com
Segundo seu precursor, deveria haver uma o desempenho;
relação mais informal entre trabalhador e patrão ƒƒ cálculo de custos.
para garantir um ambiente mais cordial e favo-
rável à aplicação desses princípios, produzindo
ciclos de qualidade. Taylor também tratou de ou- A Administração Científica foi tida como
tros aspectos, como padronização de ferramen- uma revolução mental e uma maneira das pes-
tas e equipamentos, sequência e programação de soas encararem o trabalho de uma forma mais
operações e estudo dos movimentos. Isso tudo cordial. A produtividade é gerada através da efi-
ciência, não da escravização do trabalhador e sim
da inteligência de como se trabalha.

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Outros integrantes do movimento foram dividida em etapas. Cada operário tem uma tarefa
Frank e Lillian Gilbreth, Henry Gantt e Hugo Muns- fixa dentro de um processo predefinido. Isso cau-
terberg. As críticas ao movimento da Administra- sa a especialização do trabalhador.
ção Científica foram largamente difundidas pelas A Linha de Montagem de Henry Ford foi um
comunidades acadêmicas, como, por exemplo: marco para a Administração Científica. No come-
ço, a Ford trabalhava artesanalmente. Cada tra-
ƒƒ com o mecanismo, não houve preocu- balhador estava sempre na mesma área de mon-
pação com o elemento humano; tagem e tinha a responsabilidade de apanhar as
ƒƒ com a superespecialização do operário peças no estoque e levá-las para sua área de tra-
e o fracionamento das tarefas, a execu- balho. Isso tomava um tempo enorme, e o traba-
ção tornou-se totalmente padronizada; lhador tinha que ir atrás do trabalho. Para tornar
ƒƒ com a visão microscópica do homem, esse trabalho mais eficiente, começou a entregar
considerava-se o empregado indivi- as peças em cada posto. Em seguida, decidiu que
dualmente, esquecendo-se que ele é o montador executaria uma única tarefa, indo de
um ser social. um carro a outro. Porém, a movimentação levava
tempo e, como os montadores tinham velocida-
des diferentes, os mais lentos atrapalhavam os
Segundo especialistas, provavelmente o mais rápidos, que perdiam sua eficiência quando
taylorismo tivesse tido sucesso, independente- os encontravam pela frente.
mente do estágio de desenvolvimento da indús- Em 1910, Ford desenvolveu uma planta de-
tria e do contexto ideológico. O taylorismo jun- dicada à montagem final das peças, que continha
tou-se com a indústria e a linha de montagem de plantas distintas de cada uma delas e que faziam
Henry Ford. O princípio de Ford já era conhecido parte de um processo produtivo comum. A linha
mesmo antes do nascimento da Administração de montagem móvel, onde os trabalhadores fi-
Científica. Bicicletas, armas, peças etc. já tinham cam parados e o produto desloca-se ao longo de
sua produção em massa desde a Revolução Indus- um percurso, veio logo depois. Esse conceito, sem
trial; ou seja, a produção em massa de determina- mecanização, foi aplicado à fabricação de moto-
dos produtos já existia. Um exemplo disso eram res, radiadores e componentes elétricos. Em 1914,
os venezuelanos, que dominavam a montagem Ford adotou a linha de montagem móvel, meca-
em série de navios. Thomas Jefferson, em 1785, nizada, na montagem do chassi. Com a imobili-
visitou uma fábrica em Versailles que utilizava o dade do trabalhador, o tempo do ciclo de monta-
conceito de peças intercambiáveis, que consistia gem diminuiu.
em fazer peças semelhantes que pudessem ser
Henry Ford inovou também em outros as-
usadas em todos os mosquetes existentes em ar-
pectos. Duplicou o salário para cinco dólares por
mazém.
dia e adotou o dia de trabalho de oito horas. Quem
Henry Ford criou inúmeros avanços, deixan- comprava o Ford Modelo T, recebia um manual
do sua marca na Teoria e Prática da Administração. com perguntas e respostas que explicavam como
Exalou os dois princípios da produção em massa a usar ferramentas simples para resolver problemas
níveis altíssimos. A figura de Ford está mais asso- que poderiam ocorrer. O Modelo Ford tornou-se
ciada à linha de montagem móvel. Cada peça ou o padrão de organização nas empresas industriais
componente pode ser montado em qualquer sis- americanas. Em contraste com o que acontecia
tema ou produto final. Para a padronização, Ford no sistema manual, o trabalhador tinha apenas
utilizou o mesmo sistema de calibragem para uma tarefa. Ele não comandava componentes,
todas as peças. Procurou também, simplicidade, não preparava ou reparava equipamentos, nem
reduzindo o número de peças de seus produtos. inspecionava a qualidade. Para isso, planejar e
O produto era dividido em partes e sua fabricação controlar as tarefas, surgiu a figura do engenheiro

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industrial. Os princípios da Administração Cientí- formou em centros de lucro. Cada um produzia


fica e da Linha de Montagem Móvel tiveram gran- um componente, como baterias, caixas de dire-
de aceitação; esta foi responsável pela expansão ção, carburadores etc. Esses centros eram admi-
da atividade industrial em todo o mundo. nistrados pelo quartel-general, que recebia, em
Alfred Sloan entrou na história com o pro- intervalos regulares de tempo, relatórios detalha-
pósito de consertar algumas falhas na administra- dos sobre vendas, participação no mercado, es-
ção deixadas por seus antecessores, como Ford, toques, lucros e perdas e orçamentos de capital.
que não se preocupou com a estrutura organiza- Com isso, Sloan resolveu os problemas que difi-
cional necessária para a administração das fábri- cultaram a expansão da produção em massa. Sur-
cas, atividades de engenharia e marketing; e Tay- giram especialistas em administração financeira
lor, que não organizou a empresa como um todo. e marketing, dividindo ainda mais o trabalho a
Então, Alfred Sloan finalizou o modelo da grande nível executivo.
corporação. A solução para a estrutura organizacional
Sloan nasceu em 1875 e se formou como e a diversificação da linha de produtos foram im-
engenheiro em 1895. Em 1909 assumiu o controle plantadas por volta de 1925, mas somente divul-
de uma empresa fabricante de autopeças da qual gadas na década de 1960, quando Sloan, aos 90
seu pai era acionista. Em 1916, esta foi comprada anos, escreveu suas memórias. A estrutura orga-
pela United Motors, de William C. Durant, funda- nizacional da GM, o sistema Ford de produção e
dor e presidente da General Motors (GM). os princípios da Administração Científica de Tay-
A United Motors era formada por várias em- lor formam os pilares do modelo da organização
presas que forneciam componentes para a Gene- de negócios de grande porte.
ral Motors. Já a GM foi criada no início do século XX Nos anos 1950, os japoneses retomaram as
por meio da compra de uma empresa após a ou- ideias de Taylor para renovar sua indústria e cria-
tra, formando assim uma constelação de negócios ram o conceito de Kaizen (que significa aprimo-
independentes. Após a compra, Sloan tornou-se ramento contínuo), uma aplicação do taylorismo.
presidente da United Motors e um dos principais Os resultados alcançados com a aplicação dessa
acionistas. Em 1918 a United Motors foi absorvida técnica fariam os princípios da Administração
pela GM. Sloan passou a ocupar, além da presi- Científica continuar desfrutando de grande inte-
dência da United, a vice-presidência da GM. resse na virada do milênio.
Para resolver o problema da administração,
Sloan criou divisões descentralizadas e as trans-

3.4 Modelo Japonês e Administração da Qualidade

Do início do século até aproximadamente A partir dos anos 1970, porém, começaram
a metade dos anos 1970, o mundo das organiza- a tornar-se conhecidas palavras e nomes vindos
ções foi dominado pelos conceitos e técnicas dis- do Japão. Desde então, as ideias vindas do Japão
seminados com a expansão das empresas ame- também começaram a fazer parte do vocabulário
ricanas e europeias. Onde quer que fabricassem e do currículo do estudo de administração.
ou vendessem seus produtos e serviços, essas
empresas levavam junto sua tecnologia e seu vo-
cabulário de administração.  

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Ideias Ocidentais Ideias Orientais

Linha de montagem móvel        Grupos de trabalho autogerenciados


Verticalização                 Just in time
Estruturas divisionadas e hierárquicas Produção enxuta
Controle de qualidade Círculos de qualidade
Administração de estoques Produtos de alta qualidade e baixo preço
Produtos de alto custo e alto preço          Aprimoramento contínuo

O modelo japonês de administração com- que começassem a usar o controle de qualidade


põe-se de três elementos: e tomassem providências para educar o pessoal
das empresas desse ramo. Foi aí o começo do
ƒƒ Técnicas Administrativas: soluções controle estatístico da qualidade no Japão, em
como a organização enxuta e os círcu- maio de 1945. 
los de controle de qualidade, criadas Em 1946, foi criada a JUSE – Union of Japane-
para tornar mais eficientes os processos se Scientists and Engineers – uma entidade privada
produtivos. Em sua maior parte, esses e sem fins lucrativos, que se tornaria o centro das
elementos integram o Sistema Toyota atividades de controle da qualidade no Japão. Em
de Produção, que sofre forte influência 1950, a JUSE convidou o Dr. William Edwards De-
da escola de qualidade criada no Japão ming para visitar o Japão. Deming era conhecido
pelos consultores americanos; como especialista em amostragem, mas a proje-
ƒƒ Cultura Organizacional: compreende ção de sua imagem não ia muito além dos círculos
hábitos mutáveis, como emprego vitalí- técnicos. Deming foi ao Japão ministrar o mesmo
cio, lealdade à empresa empregadora e curso padrão de estatística que ele havia ajudado
dedicação integral ao trabalho; a criar. Sua plateia, a princípio, era formada por
ƒƒ Cultura Nacional: são os valores e tradi- técnicos e engenheiros. Ele percebeu que, se a
ções mais permanentes que os hábitos alta administração das empresas japonesas não
da cultura organizacional. Aprimoram- se empenhasse no esforço de aprimoramento da
-se ao longo de séculos e terminam por qualidade, em pouco tempo aconteceria o mes-
integrar e influenciar a maneira como mo que havia acontecido na América: o controle
os japoneses praticam a administração. de qualidade tornar-se-ia o mecanismo apenas
para separar os produtos bons dos defeituosos,
sem nada a fazer para que os defeitos não ocor-
A Escola Japonesa da Qualidade   ressem, ou, então, em pouco tempo o interesse
pelo controle estatístico cairia no vazio, por causa
Quando as forças de ocupação desembar- da falta de apoio da alta administração.
caram no Japão, viram-se imediatamente com Assim, ele procurou ser ouvido pela alta
um grande obstáculo: as falhas no serviço telefô- administração, o que conseguiu graças ao apoio
nico eram demasiadamente comuns. O sistema da JUSE. Ele dirigiu seu esforço, então, para a sen-
japonês de telefones não era uma ferramenta sibilização dos altos dirigentes de um grupo das
confiável de comunicação. O problema não era principais empresas do Japão, que haviam sido
devido a guerra que apenas acabara; a qualidade reunidas pela JUSE. A essas pessoas, Deming dis-
do equipamento era instável e baixa. Conhecen- se que a melhoria da qualidade (que ele definiu
do esses defeitos, as forças americanas ordena- como a redução da variabilidade) era o cami-
ram às indústrias de telecomunicações do Japão nho para a prosperidade, através do aumento da

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produtividade, da redução de custos, da conquis- são concedidos as empresas privadas e públicas


ta de mercados e da expansão do emprego. Era que apresentem melhoras substanciais em seus
também responsabilidade da alta administração, programas de controle da qualidade e aplicação
que começava na identificação das necessidades de técnicas de controle estatístico da qualidade.
do cliente ou consumidor e prosseguia pelos di- Os japoneses comportaram-se como es-
versos estágios da transformação de insumos, tudantes aplicados dos professores americanos.
até chegar como produtos ou serviços ao mes- Em 1954 o Dr. Joseph M. Juran, a convite da JUSE,
mo cliente. Para ilustrar esse argumento, Deming foi ao Japão e lá ministrou uma série de cursos e
usou a representação de um sistema. Introduziu seminários de controle da qualidade destinado à
nesse sistema a ideia da corrente de clientes – em alta e média gerência. Nessa época, a JUSE conse-
cada estágio do processo, o estágio precedente é guiu ampliar os horizontes dos gerentes partici-
o fornecedor e o estágio seguinte é o cliente. Des- pantes, mostrando que o controle da qualidade
se modo, a corrente de clientes começa nos for- não se aplicava apenas à manufatura e à inspe-
necedores de insumos e termina no cliente que é ção, mas também a todas as áreas funcionais e a
quem paga a conta e sustenta a empresa. todas as operações da organização.

Dicionário O TQC Japonês


 
Variabilidade: qualidade de variável, ou seja, aquilo
que varia, é volúvel ou inconstante. Os japoneses foram além das técnicas e
criaram uma filosofia de administração da quali-
dade, à qual por coincidências também deram o
Muitas mensagens aparentemente simples, nome de Controle da Qualidade Total. No entan-
mas de grande alcance, viriam a tornarem-se ali- to, de acordo com o professor Ishikawa, a aborda-
cerces do moderno enfoque da qualidade. Foram gem japonesa e a de Feigenbaum são distintas,
nessa ocasião apresentadas por Deming aos ja- embora tenham a mesma denominação. 
poneses as seguintes ideias:
O conceito de controle da qualidade total
foi criado pelo Dr. Armand Feigenbaum.
ƒƒ predominância do cliente; De acordo com Feigenbaum, o contro-
ƒƒ importância da mentalidade preventi- le da qualidade total pode ser definido
va; como um sistema eficaz de integrar os
esforços de desenvolvimento, manuten-
ƒƒ necessidade do envolvimento da alta ção e aprimoramento da qualidade para
administração.  levar a produção e o serviço aos níveis
mais econômicos que resultam em plena
satisfação do consumidor. O TQC requer
Os japoneses ouviram, prestaram aten- a participação de todas as divisões, in-
ção e puseram em prática. Poucos anos depois clusive, marketing, projeto, manufatura,
da primeira passagem de Deming pelo Japão, a inspeção e expedição. Temendo que a
qualidade, que é um trabalho de todos,
qualidade dos produtos japoneses já começava
se tornasse um trabalho de ninguém,
a ameaçar fabricantes tradicionais. Tamanha foi a Feigenbaum sugeriu que o TQC ficasse
influência de Deming e o respeito que inspirou, dentro de uma bem organizada área cuja
não apenas pelo seu papel educativo, mas tam- única especialização fosse a qualidade do
bém pelo seu comportamento elegante, que em produto e cuja única tarefa fosse o con-
trole da qualidade. Seu profissionalismo
1951 os japoneses criaram em sua homenagem os ocidental levou-o a advogar que o TQC
Prêmios Deming da qualidade, dos quais a JUSE fosse dirigido essencialmente por espe-
desempenha o papel de Comitê de Premiação e cialistas em controle de qualidade. 

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A abordagem japonesa foi diferente da do Para o bom funcionamento desses dois


Dr. Feigenbaum, pois desde 1949 tem insistido princípios, o sistema Toyota depende do compro-
em que todas as divisões e todos os empregados metimento e envolvimento dos funcionários. Por
se envolvam no estudo e na promoção do con- isso, a administração participativa, que promove
trole de qualidade – nunca foi um domínio exclu- o envolvimento dos funcionários no processo de-
sivo dos especialistas em controle da qualidade. cisório, tornou-se o terceiro elemento importante
Isso se manifesta em todas as nossas atividades. do sistema Toyota.
O termo ‘controle da qualidade total’ tem sido o Elementos básicos do Sistema Toyota:
mais frequentemente usado. No entanto, quando
esse termo é usado no exterior, as pessoas podem ƒƒ Produtividade; 
pensar que estejamos imitando a abordagem do
ƒƒ Qualidade; 
Dr. Feigenbaum, o que não é verdade.
ƒƒ Participação.
A expressão que se consagrou no Japão
como Controle da Qualidade Total combina a de-
finição de Feigenbaum e a de Ishikawa: a quali- Diz a história que o sistema Toyota nasceu
dade é responsabilidade de todos, coordenada e quando Toyoda e Ohno, visitando a Ford nos
orientada por uma gerência de qualidade. anos 1950, concluíram que o principal produto
  do modelo de Henry Ford era o desperdício de
Sistema Toyota de Produção recursos – esforço humano, materiais espaço e
tempo. Fábricas gigantescas, pilhas de materiais
 
em estoque, grandes espaços vazios. O sistema
A escola da qualidade criou raízes fortes no Ford desperdiçava recursos humanos por causa
Japão e influenciou profundamente a filosofia de da especialização excessiva, com muitas pessoas
administração das empresas. Uma das empresas para cuidar exclusivamente de planejamento e
que mais aproveitou os princípios dessa escola foi controle da produção, compras, controle da qua-
a Toyota. Porém, sua contribuição foi muito além lidade, manutenção e limpeza. A filosofia do mo-
da simples incorporação e disseminação da filo- delo Ford, que havia influenciado toda a indústria
sofia e das técnicas da qualidade. A maior parte ocidental, consistia em manter controle sobre
das modernas técnicas japonesas de administra- recursos abundantes, de todos os tipos. Os recur-
ção de empresas nasceu com o chamado sistema sos deveriam ficar em estado de prontidão, para
Toyota de produção, criado nos anos 1950 por Eiji cumprir o programa de trabalho com segurança
Toyoda (da família proprietária da Toyota) e Taiichi e enfrentar as emergências. Essa era a filosofia
Ohno, chefe de engenharia da empresa. Os dois do just in case. Até os anos 1980, as empresas oci-
princípios mais importantes do sistema são: eli- dentais seguiram essa filosofia, acreditando que
minação de desperdícios e fabricação com qua- quanto maior, melhor. O negócio era ser grande.
lidade. 
O que para os ocidentais era precaução e
O princípio da eliminação do desperdício, abundância de recursos, para os japoneses era
aplicado primeiro à fábrica, fez nascer a produção desperdício, especialmente depois da segunda
enxuta, ou seja, fabricar com o máximo de eco- guerra, quando os países enfrentavam dramática
nomia de recursos. O princípio da fabricação com escassez de recursos.
qualidade tem por objetivo produzir virtualmen-
A Toyota precisaria adaptar o sistema de
te sem defeitos. Esses dois princípios possibilita-
Ford, tornando-o mais racional e econômico.
riam a manufatura de produtos de alta qualidade
Dessa observação nasceu o elemento básico do
e baixo preço, levando a Toyota, de empresa in-
sistema Toyota de produção: eliminação de des-
significante, à posição de terceira montadora do
perdícios. Em uma fábrica, eliminar desperdícios,
mundo, atrás de General Motors e Ford.
significa reduzir ao mínimo a atividade que não

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agrega valor ao produto. Segundo os manuais da O sistema Toyota aplica três ideias princi-
Toyota, os desperdícios classificam-se em sete ti- pais para eliminar desperdícios:
pos principais:  
ƒƒ Racionalização da força de trabalho; 
ƒƒ Tempo perdido em conserto ou refugo; ƒƒ Just in time; 
ƒƒ Produção além do volume necessário ƒƒ Produção flexível. 
ou antes do momento necessário;
Racionalização da Força de Trabalho
ƒƒ Operações desnecessárias no processo
de manufatura;
Para racionalizar a utilização da mão de
ƒƒ Transporte;
obra, a Toyota agrupou os operários em equipes,
ƒƒ Estoque; com um líder em vez de um supervisor. As equi-
ƒƒ Movimento humano; pes receberam um conjunto de tarefas de mon-
ƒƒ Espera.  tagem e a missão de trabalhar coletivamente de
modo a executá-las da melhor maneira possível.
O líder deveria trabalhar junto com o grupo e
Após eliminados ou reduzidos ao mínimo
coordená-lo, substituindo qualquer trabalhador
indispensável os desperdícios, o que resta é ati-
que faltasse. Em seguida, esses grupos receberam
vidade ou esforço para agregar valor ao produto
tarefas simples de manutenção de seus próprios
que se destina ao cliente. Agregar valor significa
equipamentos, consertos de pequenas ferramen-
realizar operações de transformação de materiais
tas e controle de qualidade. A ideia da racionaliza-
e componentes estritamente relacionadas com a
ção da força de trabalho está na raiz de conceitos
elaboração do produto. Um produto fabricado ou
que viriam a ter grande importância na moderna
serviço prestado sem desperdícios tem o máximo
administração: manufatura celular, autogestão,
de valor agregado para o cliente. Assim, a elimi-
trabalho em equipe.
nação de desperdícios diminui os custos de pro-
dução, sem que o valor do produto para o cliente
fique comprometido.  Just in Time

ƒƒ Ineficiências inevitáveis: O método just in time procura reduzir ao


•• Espera;  mínimo o tempo de fabricação. O princípio é
•• Transporte;  estabelecer um fluxo contínuo de materiais, sin-
•• Deslocamentos;  cronizado com a programação do processo pro-
•• Perdas inevitáveis. dutivo, minimizando a necessidade de estoques.
ƒƒ Desperdícios: Para isso, o fornecedor deve comprometer-se a
•• Fabricação de quantidade maior entregar os suprimentos no momento exato. Isso
que o necessário; levou a Toyota e outras empresas que adotaram o
•• Refugos; just in time a desenvolver as parcerias com poucos
•• Tempo perdido em consertar erros;  fornecedores, para fortalecer a cadeia de supri-
•• Estoque. mentos.
ƒƒ Atividades que agregam valor ao Na linha de produção, o just in time funciona
produto ou serviço: realização de ope- como supermercado. O operador que precisa de
rações e atividades de transformação peças entrega um cartão especificando o que de-
estritamente ligadas ao produto ou ser- seja e leva outro, que acompanha o material que
viço. recebeu. Assim, o cartão, chamado KANBAN, é o
sinalizador da movimentação de suprimentos.

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Multimídia

Filme: Mauá: o Imperador e o Rei


Direção: Sergio Resende
Sinopse: O filme mostra a infância, o enriquecimento e a falência de Irineu Evangelista de Sousa (1813-1889), o em-
preendedor gaúcho mais conhecido como barão de Mauá, considerado o primeiro grande empresário brasileiro,
responsável por uma série de iniciativas modernizadoras para a economia nacional, ao longo do século XlX. Mauá,
um vanguardista em sua época, arrojado em sua luta pela industrialização do Brasil, tanto era recebido com tapete
vermelho quanto chutado pela porta dos fundos por D. Pedro II.
A combinação das suas ideias, com o agravamento da instabilidade política da região platina, tornou-o alvo das intri-
gas dos conservadores. As suas instalações passaram a ser alvo de sabotagens criminosas e os seus negócios foram
abalados pela legislação que reduziu as taxas de importação sobre as importações de máquinas, ferramentas e ferra-
gens (tarifa Silva Ferraz, 1860). Com a falência do Banco Mauá (1875), pediu moratória por três anos, sendo obrigado
a vender a maioria de suas empresas a capitalistas estrangeiros e ainda os seus bens pessoais para liquidar as dívidas.

Produção Flexível tem por objetivo primordial identificar e corrigir


defeitos e eliminar suas causas. É também uma
O sistema de produção flexível consiste em forma de eliminar desperdícios, porque, quan-
fabricar produtos, em geral em pequenos lotes, to menor a quantidade de refugos e retrabalho,
de acordo com as encomendas dos clientes. Para mais eficiente é o sistema produtivo. 
isso, é preciso fazer mudanças constantes nas má-
quinas da linha de produção. A produção flexível ƒƒ Fazer certo da primeira vez: a Toyota,
do sistema Toyota contrasta com a filosofia oci- assim como praticamente toda a in-
dental de fabricar lotes de grandes quantidades dústria japonesa, foi influenciada pelos
utilizando máquinas dedicadas (ou máquina de professores americanos que trabalha-
finalidade única, aquela que tem uma única fun- ram no Japão nos anos 1950. Uma das
ção). Na indústria automobilística da era anterior ideias mais marcantes de Deming era
ao sistema Toyota, essas máquinas eram especial- “fazer certo da primeira vez”.
mente as prensas que faziam apenas um tipo de A filosofia de fazer certo da primeira vez
peça, como o capô de uma única marca de carro. torna o trabalhador responsável pela
Ohno treinou seus operários para que eles pró- qualidade de seu trabalho. Consequen-
prios (e não especialistas) fizessem as mudanças, temente, o controle da qualidade feito
várias vezes ao dia, dos moldes das prensas que pelos inspetores durante e ao final do
faziam à lataria dos veículos. Já no final da década processo produtivo tornam-se redun-
de 1950, a Toyota havia conseguido fazer a mu- dantes. Portanto, mais um desperdício a
dança dos moldes das prensas em três minutos, ser eliminado. Apesar da Toyota utilizar
enquanto que no resto do mundo o processo to- esse princípio desde os anos 1950, ape-
mava um dia inteiro. Isso ficou conhecido como nas 40 anos mais tarde é que a indústria
produção flexível. ocidental conseguiu eliminar os inspe-
tores e tornar os operários responsáveis
Fabricação com Qualidade pela qualidade de seu próprio trabalho.
ƒƒ Corrigir os erros em suas causas: ou-
tra providência da Toyota foi dar aos tra-
O segundo elemento do sistema Toyota, ao
balhadores o poder de parar a linha de
lado da eliminação de desperdícios, é a fabrica-
produção sempre que encontrassem
ção com qualidade. A fabricação com qualidade
um problema que não conseguissem

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resolver. Em segundo lugar, os traba- mente pela Toyota. No formato original, o círculo
lhadores deveriam analisar sistematica- da qualidade é um grupo de voluntários de um
mente cada erro, perguntando sucessi- mesmo setor ou área de trabalho, que se reúne
vamente “por quê?” até chegar à causa regularmente para estudar e propor a solução de
fundamental. Essa metodologia foi cha- problemas que estejam comprometendo a qua-
mada de “5 whys”, os cinco porquês. Em lidade e a eficiência dos produtos. Essa ideia dis-
consequência, os problemas caíram seminou-se rapidamente. No começo dos anos
dramaticamente, a ponto de a propor- 1970, começaram no Brasil as primeiras experiên-
ção de veículos fabricados em relação à cias com a implantação de círculos da qualidade.
produção prevista aproximar-se de 100 Johnson&Johnson, Volkswagen, Metal Leve, Ar-
por cento, ou seja, os problemas foram tex, Hering e Fundição Tupy foram algumas em-
virtualmente eliminados. presas que introduziram a técnica em nosso país.
  O formato original foi adaptado e modificado
conforme a ideia se disseminou. Por exemplo, al-
Evolução e Disseminação do Sistema Toyota
gumas empresas formaram círculos com pessoas
  de diferentes áreas de trabalho.
O sistema Toyota, com suas técnicas básicas Há diferentes tipos de problema de quali-
de eficiência e qualidade, ficou conhecido como dade e eficiência que podem ser atacados pelos
sistema de produção enxuta. O objetivo da pro- círculos da qualidade: qualidade dos produtos,
dução enxuta é fazer produtos de alta qualidade produtividade dos recursos, custos, condições do
e baixo preço. Com o tempo, a ideia de produção ambiente físico de trabalho, racionalização dos
enxuta alcançou as diferentes áreas da empresa: processos produtivos, condições e segurança do
finanças, custos, recursos humanos, vendas, de- trabalho, análise de refugos e reclamações dos
senvolvimento de produtos e manufatura. O sis- clientes. Ao mesmo tempo, os círculos da qualida-
tema Toyota deixou de ser simplesmente sistema de atacam problemas do ambiente de trabalho,
de produção e tornou-se o sistema de administra- relacionados com a segurança, higiene, limpeza,
ção que tem por objetivo fazer a empresa enxuta. ruído e iluminação, que frequentemente são cau-
Da Toyota, o sistema passou para outras em- sadores de insatisfação e reclamações. Por causa
presas japonesas. Destas, para as empresas oci- disso, os círculos de qualidade são entendidos
dentais. À medida que se disseminava e ampliava, também como técnica de administração partici-
o sistema que originalmente pertencera a Toyota pativa. 
ficava conhecido como modelo ou sistema japo- O objetivo imediato do círculo da qualidade
nês de administração, englobando os conceitos e – resolver problemas de qualidade e eficiência – é
as técnicas da administração da qualidade. complementado por uma série de outros objeti-
vos explícitos e implícitos, como, por exemplo:
Círculos da Qualidade
  ƒƒ envolver os funcionários no processo
Os japoneses não se limitaram a aplicar e de análise e resolução de problemas,
copiar as lições dos especialistas ocidentais, mas alargando seu campo de visão, suas res-
criaram suas próprias soluções no campo da ad- ponsabilidades e, consequentemente,
ministração da qualidade. Uma destas, que des- seu sentido de realização; 
pertou grande interesse em outros países, é a me- ƒƒ melhorar a comunicação dentro do pró-
todologia de trabalho dos círculos de qualidade.  prio grupo de trabalho que fica prejudi-
A ideia dos círculos da qualidade, ou círcu- cado no sistema tradicional do trabalho
los de controle da qualidade, CCQ, foi desenvol- isolado da linha de montagem; 
vida pelo Dr. Kaoru Ishikawa e aplicada pioneira-

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ƒƒ estimular um clima de criatividade, Diagrama de Ishikawa


mentalidade da qualidade, autocontro-
le e prevenção de falhas.  Criado por Kaoru Ishikawa, o diagrama que
tem a forma de uma espinha de peixe é um gráfi-
No Brasil, em alguns casos, os círculos pas- co cuja finalidade é organizar o raciocínio e a dis-
saram a discutir problemas relacionados às polí- cussão sobre as causas de um problema prioritá-
ticas de administração de pessoal – carreiras, sa- rio de qualidade. Também chamada de diagrama
lários e benefícios. Com o tempo, trabalhadores e de Ishikawa ou diagrama 4M, a espinha de peixe
empresas aprenderam a separar as coisas, deixan- foi desenvolvida para ser usada pelos círculos da
do essas questões para serem resolvidas por meio qualidade, para estudar aqueles problemas iden-
de outros mecanismos (comissões de fábrica e tificados como prioritários pela análise de Pare-
sindicatos) e reservando os círculos estritamente to. Em geral, os problemas estudados por meio
para os problemas de qualidade e eficiência. Em da espinha de peixe são enunciados como uma
outros países, os resultados dos círculos são reco- pergunta que tem a seguinte estrutura: “por que
mendados com prêmios, que dependem do valor ocorre esse problema?”  Por exemplo: por que
das economias ou ganhos proporcionados pelas ocorrem golpes com os usuários de cartão nos
soluções propostas. No Brasil, poucas empresas caixas automáticos?
adotaram essa mesma política.  Para desenhar o diagrama, traça-se uma li-
Os círculos funcionam de acordo com uma nha principal, na extremidade direita da qual se
sequência de procedimentos, que começam com coloca o problema. Nos dois lados dessa espinha
a identificação do problema e terminam com a dorsal, traçam-se linhas inclinadas.
apresentação à empresa de um relatório com a Para identificar as causas, as pessoas encar-
solução e as diretrizes para sua implantação. Para regadas de estudar o problema participam de
o estudo de um problema específico, os círcu- uma ou mais sessões de brainstorming, ou con-
los de qualidade usam duas técnicas principais: sultam outras pessoas, ou fazem levantamentos
o princípio de Pareto e o diagrama espinha de no local da ocorrência. Cada uma das causas iden-
peixe (ou diagrama Ishikawa). tificadas é então classificada de acordo com as
categorias representadas pelas linhas inclinadas.
Problemas de fábrica, de forma geral, têm quatro
Dicionário
tipos de causas, das quais saiu a designação 4M:
O Princípio de Pareto foi criado no século XIX por mão de obra, método, materiais e máquinas. Ou-
um economista italiano chamado Alfredo Pareto, tros critérios de organização podem ser usados,
que, ao analisar a sociedade, concluiu que grande
parte da riqueza se encontrava nas mãos de um
dependendo do tipo de problema e empresa,
número demasiado reduzido de pessoas. Após como é o caso do exemplo a seguir:
concluir que esse princípio era válido em muitas
áreas da vida quotidiana, estabeleceu o designado
método de análise de Pareto, também conhecido
como dos 20-80% e que significa que um pequeno
número de causas (geralmente 20%) é responsá-
vel pela maioria dos problemas (geralmente 80%).

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Cliente Equipamento/sistema Golpes com cartão


Desconhece operação do sistema Localização inadequada Por que ocorrem?
Cede o cartão Dificuldade para interromper a transação Por que ocorrem?
Sistema deficiente de
Orientação deficiente do usuário Por que ocorrem?
cancelamento do cartão
Falta de trava nas portas   Por que ocorrem?
Legislação frágil   Por que ocorrem?
Segurança Agência  

Outro componente do modelo deve ser vas, o equivalente a um desempregado de nossos


analisado: a cultura japonesa. dias. A cultura de arroz, que requer a colaboração,
Cultura Nacional: certos elementos do sis- a vida familiar e a própria arquitetura residencial
tema Toyota e modelo japonês de administração japonesa, que dificulta o isolamento e desenvolve
são fortemente influenciados pelos valores da a sensibilidade em relação à presença alheia, são
cultura nacional do Japão. Combate ao desper- outros fatores que ajudaram a criar e fortalecer
dício e trabalho de grupos são dois desses ele- um sentido de interdependência individual. Um
mentos.  desdobramento importante dessa tradição é o
O hábito de combater o desperdício é exem- espírito da lealdade ao grupo, que se reflete em
plo de traço cultural muito antigo. País pequeno, uma ética de responsabilidade social: o indivíduo
com poucos recursos naturais, o Japão estimulou acostuma-se a pensar antes nos outros que em si
em seu povo o espírito de economia e eficiência, próprio.
a combatividade e a capacidade de cooperação Outro reflexo desse traço cultural é o pro-
para sobreviver em um ambiente hostil. Depois cesso decisório, que se baseia mais no consenso
da guerra, a escassez de recursos tornou-se dra- que na autoridade gerencial. As conclusões mos-
mática, provocando dificuldades que só se ame- tram que o consenso é o valor cultivado pelos ja-
nizaram como resultado de um longo período de poneses, ao passo que os latinos parecem preferir
trabalho duro e metódico. É natural que os japo- os mecanismos da autoridade centrada no chefe. 
neses tenham adotado seriamente a doutrina de A cultura nacional japonesa, como aconte-
aprimorar continuamente a utilização de recursos ce em qualquer outro país, influencia fortemente
na administração de suas empresas.  os hábitos e valores dos gerentes de suas organi-
Os japoneses aliaram outro ingrediente im- zações e a maneira como elas são administradas.
portante do modelo de administração: o trabalho
em grupo. A necessidade de cooperar e o sistema O Modelo Japonês no Ocidente
feudal que vigorou no Japão até a era Meiji, no  
final do século XIX, tiveram forte influência sobre
Até meados dos anos de 1970, pouco se
a capacidade de trabalhar em grupo. Os senho-
ouvia falar do sistema japonês no Ocidente, sen-
res feudais tinham ao redor de si os samurais, que
do conhecidos apenas os círculos de controle de
eram cercados pelos demais guerreiros e outros
qualidade. O modelo americano dominava a prá-
servidores. Era essencial fazer parte de um des-
tica e o ensino da administração em todo o mun-
ses círculos para manter a identidade e o amor
do. A única novidade estranha a esse monopólio
próprio. O guerreiro que por qualquer motivo
era o sistema Volvo de trabalho em grupo na li-
não estivesse associado a um senhor ou samurai
nha de montagem. Desconhecia-se nessa época,
tornava-se uma pessoa insegura e sem perspecti-
que os japoneses já aplicavam o mesmo princípio

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desde o início dos anos de 1950. Quando os pro- Uma empresa fabricante de autopeças
dutos japoneses adquiriram a reputação de alta exemplifica a utilização desse modelo de orga-
qualidade e baixo preço, e começaram a dominar nização. Desde meados dos anos de 1980 desen-
os mercados em todo o mundo, nasceu o inte- volveu e implantou um modelo de organização
resse em conhecer seus métodos de administra- enxuta, formada por células especializadas em
ção. Esse interesse intensificou-se nos anos 1980, produtos. Cada célula tem diversos trabalhadores
quando empresas como Toyota, Honda e Nissan e conta com todas as máquinas necessárias para
se instalaram nos EUA e na Europa, impressionan- a fabricação do produto. As células são autossufi-
do as empresas locais com a superioridade de cientes e formam a base de uma estrutura organi-
seus métodos de produção eficiente e sua manei- zacional especializada. Elas agrupam-se em mó-
ra participativa e igualitária de tratar funcionários. dulos e os módulos, em divisões, que são áreas de
Os americanos observaram com surpresa a estra- negócios especializadas em clientes. As divisões,
tégia de envolver os funcionários no processo de- assim como as células, são autossuficientes, in-
cisório, a técnica do just in time e a abolição das corporando as funções de marketing e tecnolo-
distinções hierárquicas. Em 1986, uma publicação gia. Em vez de uma hierarquia complexa, apenas
mostrou o presidente da Honda americana e seus cinco níveis, para abranger 2.500 funcionários.
funcionários compartilhando o mesmo escritório,
o que contrariava radicalmente a antiga prática Sistema de Gestão da Qualidade
de isolar os executivos e atribuir-lhes símbolos de
importância, para diferenciá-los dos demais fun-
cionários.  A International Standards Organization,
mais conhecida como ISO é o organismo que es-
Quanto mais se tornava conhecido, mais
tabelece os padrões internacionais de trabalho
o modelo japonês revelava a simplicidade de
e de garantia de qualidade nas empresas. Desde
seus componentes: eficiência, qualidade e parti-
1987 foi criada uma série de normas, conhecidas
cipação dos funcionários nas decisões. A receita
como ISO 9000, que deram início a um sistema de
era simples, e na verdade, era ocidental. Com o
gestão da qualidade.
tempo, os ocidentais aprenderam a colocá-la em
prática. Nos anos de 1990, o modelo japonês já A ISO 9000, que muitos acreditam tratar-se
havia deixado de ser exclusivamente japonês, tor- do nome do certificado, na verdade apenas esta-
nando-se o padrão das empresas que pretendiam belece as orientações básicas para a correta sele-
alcançar e manter a capacidade de competir em ção e uso das normas, tanto que seus objetivos
escala global.  são esclarecer as diferenças e inter-relações entre
os principais conceitos da qualidade e fornecer
As empresas ocidentais imitaram as japo-
diretrizes para seleção e uso de normas que ser-
nesas pela evidência de superioridade dos méto-
vem para gestão da qualidade interna (ISO 9004)
dos de produção e de administração. No modelo
e para garantia da qualidade externa (ISO 9001,
de organização que emergiu do sistema Toyota,
9002 e 9003).
os trabalhadores são poucos especializados e
agrupam-se em equipes autogerenciadas e mul- A ISO 9001 define os sistemas de qualida-
tifuncionais, que incluem os especialistas que de e modelos para garantia da qualidade exter-
antes eram segregados no topo. Os numerosos na, para ser usada quando a conformidade com
escalões hierárquicos da empresa ocidental re- requisitos especificados tiver que ser garantida
duzem-se a três ou cinco, mesmo nas de maior pelo fornecedor, durante vários estágios, que po-
porte. Funções especializadas que se revestiam dem incluir projeto, desenvolvimento, produção,
de grande importância no modelo convencional instalação e assistência técnica. É a mais com-
e estavam próximas da cúpula, distribuem-se nos pleta da série, abrangendo um total de 20 itens.
grupos operacionais. Essa norma especifica requisitos de um sistema
de qualidade para uso onde um contrato entre

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duas partes exige a demonstração da capacidade preocupações ambientais através de alocação de


do fornecedor para projetar e fornecer produtos. recursos, definição de responsabilidades, avalia-
É a norma utilizada pelas empresas do setor de ções correntes das práticas, procedimentos e pro-
software (com a ISO 9000-3 como guia para apli- cessos.
cação). A SA 8000 prova que o Sistema de Respon-
A ISO 9002 define modelos para garantia sabilidade Social foi avaliado em relação às nor-
da qualidade em produção e instalação, para ser mas de melhores práticas e foi aprovado. Essa
usada quando a conformidade com requisitos norma nasceu a partir da Responsabilidade Social
especificados tiver que ser garantida pelo forne- Internacional (Social Accountability International,
cedor durante a produção e instalação. Abrange SAI). Trata-se de uma organização sem fins lucra-
um total de 18 itens. Essa norma especifica requi- tivos dedicada ao desenvolvimento, implementa-
sitos de sistemas de qualidade para uso onde um ção e supervisão de normas de responsabilidade
contrato exige a demonstração da capacidade do social comprováveis e voluntárias. O sistema SA
fornecedor para controlar os processos que de- 8000 foi moldado a partir das normas para Sis-
terminam a aceitabilidade do produto fornecido, temas de Gestão de Qualidade e Ambiente ISO
destinando-se primordialmente à prevenção e 9001 e ISO 14001. A norma foi desenvolvida e
detecção de não conformidades e à implementa- testada em campo por outra entidade sem fins
ção de meios para prevenir sua reincidência. lucrativos, o Conselho de Prioridades Econômicas
A ISO 9003 define modelos para garantia (Council on Economic Priorities, CEP), auxiliado por
da qualidade em inspeção e ensaios finais, para um conselho consultivo internacional, incluindo
ser usada quando a conformidade com requisi- representantes de multinacionais proeminentes,
tos especificados tiver que ser garantida pelo for- de organizações de direitos humanos, de profis-
necedor somente em inspeção e ensaios finais. sionais de certificação, do meio acadêmico e dos
Abrange um total de 12 itens. Essa norma especi- trabalhadores.
fica requisitos de sistemas de qualidade para uso A norma se fundamenta em um número
em que um contrato requer a demonstração da de normas de direitos humanos preexistentes,
capacidade do fornecedor em detectar e contro- incluindo a Declaração Universal dos Direitos
lar qualquer produto não conforme durante a ins- do Homem e a Convenção sobre os Direitos
peção e ensaios finais. das Crianças, ambas da ONU. A SA 8000 fornece
A ISO 9004 descreve um conjunto básico de padrões transparentes, mensuráveis e verificáveis
elementos, através do qual se podem desenvol- para certificar o desempenho de empresas em
ver e implementar sistemas de gestão de qualida- nove áreas essenciais:
de, sendo um guia para aplicação das diretrizes e
das normas anteriores. A seleção dos elementos ƒƒ Trabalho infantil. Proíbe trabalho in-
apropriados vai depender de vários fatores, tais fantil (menores de 15 anos na maior
como mercado atendido, natureza do produto, parte dos casos.). As empresas certifica-
processo e necessidades do consumidor. das devem também alocar fundos para
A ISO 14000 tem como objetivo geral for- a educação de crianças que possam
necer assistência para as organizações na implan- perder seus empregos como resultado
tação ou no aprimoramento de um Sistema de dessa norma;
Gestão Ambiental (SGA). Ela é consistente com a ƒƒ Trabalho forçado. Os trabalhadores
meta de “Desenvolvimento Sustentável” e é com- não podem ser coibidos a deixar os
patível com diferentes estruturas culturais, sociais seus documentos de identidade ou pa-
e organizacionais. gar “depósitos” como condição para ob-
Um SGA oferece ordem e consistência para terem o emprego;
os esforços organizacionais no atendimento às

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ƒƒ Saúde e Segurança. As empresas de- A essência das práticas mais “exclusivamen-


vem obedecer a padrões básicos de te japonesas” de administração – sejam elas o
ambiente de trabalho saudável e se- melhoramento da produtividade, as atividades
guro, incluindo fornecer água potável, de TQC (Controle Total da Qualidade), os círcu-
banheiros, equipamentos de segurança los de QC (Controle de Qualidade) ou as relações
adequados e treinamento necessário; com a mão de obra – pode ser reduzida a uma
ƒƒ Liberdade de associação. Protege os palavra: Kaizen. O uso do termo Kaizen no lugar
direitos dos trabalhadores de unir-se e de palavras como produtividade, TQC, ZD (Zero
formar associações para negociar cole- Defeitos), e o sistema de sugestões apresenta
tivamente, sem temer represálias; um quadro muito mais claro do que tem aconte-
ƒƒ Discriminação. Não pode existir qual- cido na indústria japonesa. Kaizen é um concei-
quer discriminação a partir de raça, cas- to de guarda-chuva, que abrange a maioria das
ta, origem, religião, deficiência, sexo, práticas “exclusivamente japonesas” que recente-
orientação sexual, sindicalização ou fi- mente atingiram tal fama mundial. O recado da
liação política; estratégia do Kaizen é que nenhum dia deve pas-
sar sem que algum tipo de melhoramento tenha
ƒƒ Práticas disciplinares. Proíbe castigo
sido feito em algum lugar da empresa. Podemos
corporal, coerção física ou mental ou
observar abaixo o conteúdo do conceito citado
ainda abuso verbal dos trabalhadores;
acima como guarda-chuva:
ƒƒ Jornada de trabalho. Estabelece o má-
ximo de 48 horas de trabalho por se-
ƒƒ Orientação para o consumidor;
mana, pelo menos um dia de folga por
semana, o máximo de 12 horas extra ƒƒ TQC (Controle Total da Qualidade);
por semana com remuneração diferen- ƒƒ Robótica;
ciada; ƒƒ Círculos de CQ;
ƒƒ Salários. Devem atender os mínimos ƒƒ Sistema de sugestões;
padrões legais e fornecer renda sufi- ƒƒ Automação;
ciente para as necessidades básicas, so- ƒƒ Disciplina no local de trabalho;
brando pelo menos um pouco;
ƒƒ MPT (Manutenção Produtiva Total);
ƒƒ Gestão. Define procedimentos para a
ƒƒ Kanban;
implementação efetiva pela adminis-
tração, revisão da conformidade à SA ƒƒ Melhoramento da qualidade;
8000, desde a determinação de pessoas ƒƒ Just in time;
responsáveis até a manutenção de re- ƒƒ Zero defeitos;
gistros, solução de problemas e a ado- ƒƒ Atividades em grupos pequenos;
ção de ações corretivas.
ƒƒ Relações cooperativas entre adminis-
tração e mão de obra;
Entre as ferramentas mais conhecidas da ƒƒ Melhoramento da produtividade;
Escola da Qualidade está o Kaizen, a palavra sig- ƒƒ Desenvolvimento de novos produtos.
nifica melhoramento. Mais ainda, Kaizen significa
contínuo melhoramento, envolvendo todos, in-
clusive gerentes e operários. A filosofia do Kaizen Uma vez identificados, os problemas de-
afirma que o nosso modo de vida - seja no traba- vem ser resolvidos. Assim, o Kaizen também é um
lho, na sociedade ou em casa – merece ser cons- processo de resolução de problemas. De fato, o
tantemente melhorado. Kaizen exige o uso de várias ferramentas de re-
solução de problemas. O melhoramento atinge

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novas alturas com cada problema que é resol- grupos pequenos, que usam várias ferramentas
vido. No entanto, para consolidar o novo nível, estatísticas para resolver os problemas. O enfo-
o melhoramento deve ser padronizado. Assim, que permanente exige o ciclo PDCA total e tam-
o Kaizen também exige a padronização. Termos bém que os membros da equipe identifiquem
como CQ (Controle de Qualidade), CEQ (Contro- as áreas com problemas e as causas, analisem-
le Estatístico da Qualidade), círculos de CQ e TQC -nas, implantem e testem novas contramedidas e
frequentemente aparecem em conjunto com o criem novos padrões e/ou procedimentos.
Kaizen. Um programa bem planejado de Kaizen No enfoque permanente, os membros pas-
pode ser dividido em três segmentos, dependen- sam pelos processos de resolução de problemas
do da complexidade e do nível do Kaizen: e tomada de decisões. É por isso que dizem que
o ciclo PDCA (Plan = planejar; Do = fazer, Control
ƒƒ Kaizen orientado para a administração; = controlar, Act = agir) possui o seu próprio ciclo
ƒƒ Kaizen orientado para o grupo; PDCA no estágio “Executar”. As atividades dos
ƒƒ Kaizen orientado para a pessoa. círculos de CQ e dos outros grupos estão confi-
nadas aos problemas que surgem nas suas pró-
prias áreas de trabalho, mas o moral é melhorado
Kaizen: Orientado para a Administração através das atividades de Kaizen, pois todos do-
minam a arte de resolver os problemas imediatos.
O primeiro pilar do Kaizen é o orientado Quando o trabalho em grupo é um enfoque tem-
para a administração. Ele é o pilar crucial, já que porário, as sugestões são oferecidas por grupos
o Kaizen orientado para a administração se con- de empregados ad hoc, formados para resolver
centra nas mais importantes questões logísticas tarefas específicas. Embora os membros desses
e estratégicas e oferece o incentivo para manter o grupos ad hoc sejam frequentemente treinados
progresso e o moral. no uso de ferramentas estatísticas e analíticas,
os grupos debandam quando o seu objetivo é
Kaizen é tarefa de todos. O gerente deve
alcançado. Tanto no Kaizen orientado para a pes-
envolver-se no melhoramento do seu próprio
soa quanto no Kaizen orientado para o grupo, é
serviço. A administração japonesa geralmente
essencial que a administração entenda adequa-
acredita que o gerente deve dedicar pelo menos
damente a função dos operários no Kaizen e que
50% do seu tempo ao melhoramento. Os tipos de
use todas as oportunidades para apoiá-la.
projetos de Kaizen, estudados pela administra-
ção, exigem experiência sofisticada em resolução
de problemas, bem como conhecimento profis- Dicionário
sional e de engenharia, embora as simples Sete
Ferramentas Estatísticas possam ser suficientes, Adhocracia ou Adocracia (ad hoc = aqui agora): sis-
tema temporário variável e adaptativo, organizado
às vezes. Eles são claramente uma tarefa da admi- em torno de problemas a serem resolvidos por
nistração e com frequência envolvem pessoas de grupo de pessoas com habilidades e profissões
diferentes departamentos, que trabalham juntas diversas e complementares.
nos problemas multifuncionais como equipes de Fonte: Michaelis Digital.
projeto.

Kaizen: Orientado para o Grupo Kaizen – Orientado para a Pessoa



O Kaizen no trabalho em grupo, como en- Kaizen orientado para a pessoa, que se
foque permanente, é representado pelos círculos manifesta na forma de sugestões. O sistema de
de CQ, pelos grupos de JK (Jishu Kanri ou admi- sugestões é um meio para colocar em prática o
nistração voluntária) e por outras atividades em Kaizen orientado para a pessoa e para realizar o

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princípio de que a pessoa deve trabalhar com forma que ela parasse automaticamente assim
mais empenho. O melhoramento orientado para que a operação fosse completada.
a pessoa tem oportunidades quase infinitas. Por Depois, foi estabelecido um ciclo para cada
exemplo, nos escritórios que utilizam telefones operária, de forma que ela pudesse trabalhar em
com extensão, um funcionário poderia sugerir a várias máquinas de costura em um ciclo. Isso sig-
colocação da mesma cor de aparelhos em todas nificou que o comportamento das operárias teve
as extensões do mesmo número, para conveniên- de ser alterado para que elas ficassem em pé ao
cia. Muitos dos mecanismos a prova de falhas são lado das máquinas e passassem de uma máqui-
instalados nas máquinas como resultado das su- na para a seguinte junto com o fluxo de trabalho.
gestões dos operários. Atualmente, cada operária cuida de doze máqui-
O ponto de partida do Kaizen é a adoção, nas, andando de uma máquina para a seguinte,
por parte do operário, de uma atitude positiva em trajando um agasalho esportivo. Nas empresas do
relação à mudança e ao melhoramento da manei- grupo Toyota, cada operário pode estar cuidando
ra como ele trabalha. Se um operário que realiza o de até oitenta máquinas diferentes em um ciclo.
seu serviço sentado ao lado de uma máquina mu- Essas designações múltiplas de serviços são pos-
dar o seu comportamento e ficar em pé ao lado síveis porque a administração foi bem-sucedida
dela, isso é um melhoramento, pois ele adquire na mudança do comportamento dos operários.
flexibilidade e pode operar mais de uma máquina. Kaizen orientado para pessoa é frequentemente
Quando Taiichi Ohno, o executivo que ini- visto como incentivador do moral e a adminis-
ciou o Kanban e o “Just in Time” na Toyota, tor- tração nem sempre exige o retorno econômico
nou-se conselheiro da Toyota Shokki (fábrica de imediato de cada sugestão. A atenção e a recepti-
tecidos para automóveis), ele descobriu que as vidade da administração são essenciais se os ope-
operárias estavam operando sentadas as máqui- rários devem se tornar “operários pensantes”, ao
nas de costura. Ele imediatamente inaugurou um se procurar maneiras melhores de realizar o seu
projeto de melhoramento e projetou caracterís- serviço.
ticas especiais para cada máquina de costura, de

3.5 Resumo do Capítulo

Caro(a) aluno(a), ao longo deste capítulo você estudou a mecanização nas organizações: a teoria
clássica, as funções da gerência administrativa, as críticas à teoria clássica. Vimos também aspectos do
estudo da burocracia, o modelo japonês e administração da qualidade.
Vamos, agora, identificar seu nível de assimilação ao conteúdo estudado.

3.6 Atividades Propostas

1. Comente como a mecanização pode prejudicar o desenvolvimento das organizações atuais.

2. As críticas ao movimento da Administração Científica foram largamente difundidas pelas co-


munidades acadêmicas. Quais foram essas críticas?

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4 OS ORGANISMOS NAS ORGANIZAÇÕES

Comentaremos neste capítulo sobre os or- O autor afirma que diferentes espécies são
ganismos nas organizações. mais talhadas para lidar com as demandas de di-
A metáfora dos organismos de Morgan ferentes ambientes e, dessa forma, aumenta-se a
(1996) compreende a Administração como um capacidade de desenvolver interessantes teorias
mecanismo para administrar necessidades orga- sobre as relações entre as organizações e os seus
nizacionais e as relações com o ambiente. Essa ambientes. A metáfora analisa as organizações
metáfora pressupõe que diferentes tipos de or- como organismos que nascem, crescem, desen-
ganizações pertencem a diferentes espécies, das volvem-se, declinam e morrem, além da capaci-
quais a burocrática é apenas uma. dade de se adaptarem a ambientes em mutação.
Essa imagem está muito ligada às relações entre
as espécies e os padrões de evolução encontra-
Dicionário
dos na ecologia interorganizacional, e sua pers-
A metáfora pode ser definida como uma trans- pectiva contribuiu muito para o desenvolvimento
ferência de significado que tem como base uma da teoria da administração moderna.
analogia: dois conceitos são relacionados por
apresentarem algum ponto em comum. Aqui, o
termo ‘metáfora’ é usado para fazer analogia entre
as organizações e diversos conceitos, tais como o
corpo humano, uma máquina etc.

4.1 As Teorias das Relações Humanas e Comportamental

A Teoria das Relações Humanas surgiu nos ne, desenvolvida por Elton Mayo e seus colabora-
Estados Unidos como consequência imediata das dores. Foi basicamente um movimento de reação
conclusões obtidas na Experiência em Hawthor- e de oposição à Teoria Clássica da Administração.

Atenção

A origem da Teoria das Relações Humanas consiste nos seguintes princípios:


• A necessidade de humanizar e democratizar a administração, libertando-a dos conceitos rígidos e mecanicistas
da Teoria Clássica e adequando-a aos novos padrões de vida do povo americano;
• Desenvolvimento das chamadas ciências humanas, principalmente a psicologia e a sociologia;
• As ideias da filosofia pragmática de John Dewey e da Psicologia Dinâmica de Kurt Lewin foram capitais para o
humanismo na administração;
• As conclusões da Experiência em Hawthorne, desenvolvida entre 1927 e 1932, sob a coordenação de Elton
Mayo.

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Os estudos em Hawthorne de Elton Geor- Os pesquisadores verificaram que os resul-


ge Mayo (1880-1949) foram a base para a Teoria tados da experiência eram prejudicados por va-
das Relações Humanas. A Western Eletric era uma riáveis de natureza psicológica. Tentaram eliminar
companhia norte-americana que fabricava equi- ou neutralizar o fator psicológico, o que é estra-
pamentos para empresas telefônicas. A empresa nho e impertinente, razão pela qual a experiência
sempre se caracterizara pela preocupação com o prolongou-se até 1932, quando foi suspensa em
bem-estar de seus funcionários, o que lhe propor- razão da crise econômica de 1929.
cionava um clima constantemente sadio de rela- Os estudos básicos efetuados por Mayo e
ções industriais. seu grupo tiveram três fases:
Durante mais de 20 anos não se constatara
nenhuma greve ou manifestação. Um diagnósti- ƒƒ Sala de provas de montagem de Relés;
co preliminar nos diria que o moral na companhia ƒƒ Programa de Entrevista;
era alto e os funcionários confiavam na compe-
ƒƒ Sala de observações da montagem de
tência de seus administradores.
terminais.
No período entre 1927 e 1932 foram reali-
zadas pesquisas em uma das fábricas da Western
Electric Company, localizada em Hawthorne, dis- A primeira experiência, que contou com a
trito de Chicago. A fábrica contava com cerca de participação da equipe de Harvard, teve início em
40 mil empregados e as experiências realizadas 1927, e foi denominada Sala de Provas de Monta-
visavam a detectar de que modo fatores ambien- gem de Relés. Sua finalidade era realizar um estu-
tais – como a iluminação do ambiente de traba- do da fadiga no trabalho, e dos efeitos gerados
lho – influenciavam a produtividade dos trabalha- por mudanças de horários ou introdução de in-
dores. Essas experiências foram realizadas por um tervalos de descanso no período de trabalho. Fo-
comitê constituído por três membros da empresa ram selecionadas para a experiência seis moças –
pesquisada e quatro representantes da Escola de cinco montadoras e uma fornecedora de material
Administração de Empresas de Harvard. – que trabalhavam no departamento de monta-
Em 1924, com a colaboração do Conse- gem dos relés de telefone, já que nesse departa-
lho Nacional de Pesquisas, iniciara na fábrica de mento haviam sido constatadas ligeiras modifica-
Hawthorne uma série de estudos para determinar ções nos ritmos de produção de peças. A função
uma possível relação entre a intensidade da ilu- das funcionárias era colocar bobinas, armaduras,
minação do ambiente de trabalho e a eficiência molas de contato e isolantes elétricos numa base
dos trabalhadores, medida pelos níveis de produ- mantida por quatro parafusos. Sua medida de
ção alcançados. Essa experiência, que se tornaria produção era de cinco relés em 6 minutos e o tra-
famosa, foi coordenada por Elton Mayo, e logo se balho era realizado de forma contínua.
estendeu ao estudo da fadiga, dos acidentes no A ênfase dada pelos pesquisadores estava
trabalho, da rotação de pessoal e do efeito das em se manter o ritmo de produção, controlando
condições físicas de trabalho sobre a produtivida- com maior exatidão algumas condições físicas,
de dos empregados. como temperatura, umidade da sala, duração do
Entretanto a tentativa foi frustrada, os pes- sono na noite anterior, alimentos ingeridos etc.
quisadores não conseguiram provar a existência Para isso, eles acreditavam que seria necessário
de qualquer relação simples entre a intensidade isolar a influência do fator psicológico, e isso só
de iluminação e o ritmo de produção. Reduziu-se seria possível com a colaboração das funcionárias,
a iluminação na sala experimental e esperava-se que não deveriam alterar seu ritmo de produção.
uma queda na produção, mas o resultado foi o
oposto, a produção na verdade aumentou.

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Duração
Período Condições experimentais
Semanas
Foi registrada a produção de cada operária ainda no seu local original de serviço, sem
1 2 que soubessem, e estabelecida a sua capacidade produtiva: 2.400 unidades por moça
por semana.
Para verificar o efeito da mudança de local de trabalho, o grupo experimental foi
2 5 isolado na sala de provas, mantendo as condições e o horário de trabalho normais e
medindo-se a produção.
Fez-se uma modificação no sistema de pagamento, no qual as moças eram pagas por
3 8 tarefa em grupo, ou seja, seus esforços repercutiam de forma direta no seu trabalho.
Houve um aumento de produção.
Marca o início da introdução de mudança direta no trabalho. Introduziu um intervalo
4 5 de cinco minutos de descanso no meio da manhã e outro igual no meio da tarde.
Houve aumento da produção.
Os intervalos de descanso foram aumentados para dez minutos cada. Houve aumento
5 4
da produção.
Deram-se 3 intervalos de cinco minutos na manhã e outros três à tarde. A produção
6 4
não aumentou, e as moças reclamavam da quebra de ritmo.
Passou-se novamente a dois intervalos de dez minutos, um pela manhã e outro pela
7 11
tarde, servindo um lanche leve em um deles. Aumento de produção.
Com as mesmas condições do período anterior, o grupo experimental passou a
8 7
trabalhar somente até às 16h30. Houve um acentuado aumento de produção.

9 4 Reduziu a jornada para as 16 horas. A produção permaneceu estacionária.

10 12 Voltou-se o trabalho para as 17 horas. A produção aumentou bastante.

Estabeleceu-se uma semana de cinco dias, com o sábado livre. Verificou-se que a
11 9
produção diária das moças continuou a subir.
Voltou-se às mesmas condições do 3º período, tirando-se todos os benefícios dados
12 12 durante a experiência. Verificou-se que a produção diária e semanal atingiu um índice
jamais alcançado anteriormente 3.000 unidades semanais por moça.

As conclusões dessa primeira fase das expe- amizades entre si e essas amizades
riências de Hawtorne foram: estendiam-se para fora do trabalho. As
moças passaram a se preocupar umas
ƒƒ as moças alegavam gostar de trabalhar com as outras. Tornaram-se uma equi-
na sala de provas, porque era divertido pe.
e a supervisão branda, o que lhes per- ƒƒ o grupo desenvolve liderança e objeti-
mitiam trabalhar com mais liberdade e vos comuns.
menor ansiedade;
ƒƒ havia um ambiente amistoso e sem A segunda fase das experiências consistiu
pressões, a conversa era permitida, au- em entrevistas. Seriam entrevistados todos os
mentando a satisfação no trabalho; funcionários da empresa, anualmente. O objetivo
ƒƒ não havia temor ao supervisor; era desvendar os motivos que levavam os funcio-
ƒƒ houve um desenvolvimento social do nários a adotar posturas tão diferentes nos seus
grupo experimental. As moças faziam departamentos e na sala de provas. A partir dessa

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fase as pesquisas passaram a ter um enfoque nas


Saiba mais
relações humanas e não mais na parte científica.
Nessa fase, a maioria dos supervisores foi A principal descoberta dos pesquisadores nessa fase
incluída no programa como entrevistadores. O foi a existência dos chamados grupos informais, for-
programa foi bem aceito tanto pelos operários mados pelos operários nos periféricos da empresa
para zelar pelo seu bem-estar. A formação de um gru-
quanto pelos supervisores, já que os primeiros po informal refletia-se na produção controlada.
encontravam a possibilidade de falar o que sen-
tiam a respeito da organização como um todo,
enquanto os últimos poderiam conhecer os pro-
blemas e anseios que afligiam seus subordinados. Através dessa organização informal, os ope-
O resultado do início do programa foi senti- rários mantinham-se unidos por meio de uma
do imediatamente: a produtividade dos operários certa lealdade entre si. Porém, os pesquisadores
aumentou e a supervisão melhorou. A melhoria notaram que, muitas vezes, o operário pretendia
dos resultados dos operários foi atribuída a um também ser leal à empresa. Essa lealdade, dividi-
sentimento de importância desencadeado pelo da entre o grupo e a companhia poderia trazer
programa. No caso dos supervisores, o conheci- certo conflito, tensão, inquietação e provável des-
mento dos interesses dos operários foi o respon- contentamento.
sável pelas sensíveis mudanças no modo de su- Para estudar esse fenômeno, os pesquisa-
pervisão. dores desenvolveram a outra fase da experiência
As entrevistas inicialmente tinham dura- – a sala de observações de Montagem de Termi-
ção de meia hora e eram pautadas em perguntas nais. Escolheu-se um grupo experimental – nove
preestabelecidas. Com o decorrer do tempo, per- operadores, nove soldadores e dois inspetores,
cebeu-se que, além de muito curtas, as entrevis- todos da montagem de terminais para estações
tas não possibilitavam que os operários falassem telefônicas, que passaram a trabalhar em uma
de todos os seus problemas, aflições e medos; a sala especial com idênticas condições de trabalho
partir daí, o processo passou a ser mais longo e do departamento.
caracterizado como uma conversa informal entre Havia um observador dentro da sala e um
supervisor e operário. entrevistador que ficava do lado de fora e que
O resultado das entrevistas foi a constata- entrevistava esporadicamente aqueles operários.
ção de que a maioria dos funcionários agia e pen- Essa experiência durou de novembro de 1931 a
sava de modo obsessivo, apesar de nunca ter tido maio de 1932 e visava a analisar a organização in-
problemas mentais. Havia detalhes que incomo- formal dos operários.
davam de maneira excessiva algumas pessoas, o O sistema de pagamento era baseado na
que acabava por interferir no ambiente de traba- produção do grupo, havendo um salário-hora
lho. Um exemplo foi relatado por um dos funcio- com base em inúmeros fatores e um salário-mí-
nários: seu supervisor tinha uma aparência física nimo horário, para o caso de interrupções na pro-
muito semelhante à de seu padrasto, e isso o fazia dução. Os salários somente poderiam ser eleva-
sentir-se pressionado frente ao homem. dos se a produção total aumentasse.
A conclusão do Programa de Entrevistas Assim que se familiarizou com o grupo ex-
constatou que os fatores psicológicos alteravam perimental, o observador pôde constatar que os
de maneira significativa o comportamento dos operários dentro da sala usavam de uma porção
funcionários. Ao mesmo tempo, o Programa pos- de artimanhas: logo que os operários montavam
sibilitou que os funcionários mostrassem à dire- o que julgavam ser a sua produção normal, redu-
ção quais são suas angústias mais frequentes, ziam seu ritmo de trabalho.
a partir daí, elas poderiam ser estudadas e seus
efeitos minimizados.

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Os operários relatavam sua produção de informais. Esses grupos informais de-


forma tal que a produção em excesso de um dia finem suas regras de comportamento,
pudesse ser somente acusada em um dia defici- suas formas de recompensas ou san-
tário, como também solicitavam pagamento por ções sociais, seus objetivos, sua escala
excesso de produção. Verificou-se que esses ope- de valores sociais, suas crenças e expec-
rários passaram a apresentar certa uniformidade tativas. Delineou-se com essa teoria o
de sentimentos e solidariedade grupal. conceito de organização informal;
O grupo desenvolveu métodos para asse- ƒƒ As Relações Humanas: são as ações e
gurar suas atitudes, considerando, por exemplo, atitudes desenvolvidas pelos contatos
delator o membro que prejudicasse algum com- entre pessoas e grupos. Os indivíduos
panheiro, e, também, pressionando os mais rápi- dentro da organização participam de
dos para “estabilizarem” a sua produção, através grupos sociais e mantêm uma constan-
de punições simbólicas. Essa quarta fase permitiu te interação social. Relações Humanas
o estudo das relações entre a organização infor- são as ações e atitudes desenvolvidas
mal dos empregados e a organização formal da pelos contatos entre pessoas e grupos.
fábrica. Cada indivíduo é uma personalidade
Entre as Conclusões da Experiência em diferenciada que influencia no compor-
Hawthorne, tem-se o delineamento dos princí- tamento e atitudes uns dos outros com
pios básicos da Escola das Relações Humanas, quem mantém contatos. É exatamente
que veio a se formar logo em seguida. Destaca- a compreensão da natureza dessas re-
mos a seguir as principais conclusões: lações humanas que permite ao admi-
nistrador melhores resultados de seus
ƒƒ Nível de Produção é Resultante da subordinados;
Integração Social: não da capacida- ƒƒ A Importância do Conteúdo do Car-
de física ou fisiológica do empregado go: a maior especialização e, portanto,
(como afirmava a teoria clássica), mas a maior fragmentação do trabalho não
por normas sociais e expectativas que é a forma mais eficiente de trabalho.
o envolvem. É a capacidade social do Mayo e seus colaboradores verificaram
trabalhador que estabelece seu nível que a extrema especialização defendi-
de competência e de eficiência. Quanto da pela Teoria Clássica não cria necessa-
mais integrado socialmente no grupo riamente a organização mais eficiente.
de trabalho, tanto maior a sua disposi- Foi observado que os operários troca-
ção de produzir; vam de posição para variar a monoto-
ƒƒ Comportamento Social dos Empre- nia, contrariando a política da empresa.
gados: apoiam-se totalmente no gru- Essas trocas eram negativas na produ-
po. Os trabalhadores não reagem isola- ção, mas elevavam o moral do grupo;
damente como indivíduos, mas como ƒƒ Ênfase nos Aspectos Emocionais: os
membros do grupo. O grupo que defi- elementos emocionais, não planejados
ne a quota de produção, ou que pune e mesmo irracionais do comportamen-
o indivíduo que sai das normas grupais; to humano, passam a merecer atenção
ƒƒ Grupos Informais: os pesquisadores especial por parte de quase todas as
de Hawthorne concentraram suas pes- grandes figuras da Teoria das Relações
quisas sobre os aspectos informais da Humanas.
organização. A empresa passou a ser vi-
sualizada como uma organização social A partir dos trabalhos de dinâmica de grupo
composta de diversos grupos sociais desenvolvidos por Kurt Lewin, ainda na sua fase

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de impulsionador da Teoria das Relações Huma- ção de Administração, trazendo novos conceitos,
nas, com a divulgação do livro de Chester Bar- novas variáveis e, sobretudo, uma nova visão da
nard e, posteriormente, dos estudos de George teoria administrativa baseada no comportamento
Homans sobre sociologia institucional de grupo, humano nas organizações.
culminando com a publicação do livro de Herbert A abordagem comportamental marca a
Simon sobre o comportamento administrativo, mais forte ênfase das ciências do comportamen-
uma nova configuração passa a dominar a teoria to na teoria administrativa e a busca de soluções
administrativa. democráticas e flexíveis para os problemas orga-
Embora as raízes dessa nova abordagem nizacionais. A abordagem comportamental origi-
possam ser localizadas muito mais adiante, é a nou-se das ciências comportamentais, em parti-
partir da década de 1950 que se desenvolve, ini- cular da psicologia organizacional.
cialmente nos Estados Unidos, uma nova concep-

Multimídia

Filme: Amor Sem Escala


Direção: Jason Reitman
Sinopse: Ryan Bingham (George Clooney) tem por função demitir pessoas. Por estar acostumado com o desespero
e a angústia alheios, ele mesmo se tornou uma pessoa fria. Além disso, Ryan adora seu trabalho. Ele sempre usa um
terno e carrega uma maleta, viajando para diversos cantos do país. Até que seu chefe contrata a arrogante Natalie
Keener (Anna Kendrick), que desenvolveu um sistema de videoconferência onde as pessoas poderão ser demitidas
sem que seja necessário deixar o escritório. Esse sistema, caso seja implementado, põe em risco o emprego de Ryan.
Ele passa então a tentar convencê-la do erro que é sua implementação, viajando com Anna para mostrar a realidade
de seu trabalho.

As ciências comportamentais têm brindado ƒƒ o ser humano tem capacidade de arti-


a teoria administrativa com uma multiplicidade cular linguagem com raciocínio abstra-
de conclusões acerca da natureza e característi- to, em outros termos, tem capacidade
cas do ser humano, a saber: de comunicação;
ƒƒ o ser humano é um animal dotado de
ƒƒ o ser humano é um animal social do- aptidão para aprender, isto é, de mudar
tado de necessidades. Dentre essas seu comportamento e atitudes em dire-
necessidades sobressaem as necessi- ção a padrões mais elevados e eficazes;
dades gregárias, isto é, o sujeito tende ƒƒ o ser humano tem seu comportamento
a desenvolver relacionamentos coope- orientado para objetivos, muito com-
rativos e interdependentes que o levam plexos e mutáveis. Daí a importância
a viver em grupos ou em organizações de compreender os objetivos humanos
sociais; básicos na sociedade a fim de entender
ƒƒ o ser humano é um animal dotado de claramente o seu comportamento;
um sistema psíquico, isto é, tem capaci-
dade de organizar suas percepções de Dicionário
forma integrada, o que lhe permite uma
Mutáveis: que pode mudar; que muda facilmente.
organização perceptiva e cognitiva co- Características do que é inconstante, instável, va-
mum a todos os seres humanos; riante, variável, versátil e volúvel.
Fonte: Aulete Digital.

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ƒƒ o ser humano caracteriza-se por um Embora a ênfase permaneça nas pessoas, a


padrão dual de comportamento: pode Teoria Comportamental (ou Teoria Behaviorista)
tanto cooperar, quanto competir com da Administração veio significar uma nova dire-
os outros. Coopera quando seus obje- ção e um novo enfoque dentro da teoria adminis-
tivos individuais somente podem ser trativa: a incorporação das ciências do compor-
alcançados através do esforço comum tamento, o abandono das posições normativas e
coletivo e compete quando seus obje- prescritivas das teorias anteriores e a adoção de
tivos são disputados e pretendidos por posições explicativas e descritivas.
outros. O conflito torna-se parte virtual
de todos os aspectos da vida humana.
Dicionário

Posições prescritivas são aquelas que contêm ins-


A Teoria Comportamental procurou de-
truções ou regras a serem seguidas, evidenciam
monstrar a variedade de estilos de Administração características típicas de comandos comporta-
à disposição do Administrador. Segundo Barros mentais.
Neto (1998), Douglas McGregor, em 1960, definiu
dois tipos ou estilos de administrar X e Y, e carac-
terizou o primeiro como tradicional, que acredi- A Teoria Comportamental da Administração
tava que os funcionários precisam de supervisão tem seus maiores expoentes em Herbert A. Simon,
constante, não gostam de trabalhar, são pregui- Chester Barnard, Douglas McGregor, Rensis Likert
çosos, são motivados apenas por interesses pró- e Chris Argyris. Estritamente dentro do campo da
prios, enfim, uma visão de homem econômico. O motivação humana salientam-se Abraham Mas-
estilo Y, por sua vez, seria aquele mais moderno, low, Frederick Herzberg e David Mcclelland.
com uma visão positiva de seus funcionários, que As Teorias das Relações Humanas e Com-
são pessoas capazes, dispostas a colaborar, res- portamentais foram alvo de muitas críticas. Entre
ponsáveis, altruístas, em outras palavras, natural- os pontos críticos, alvo dos estudiosos, estão:
mente dispostas a fazer um bom trabalho, desde
que haja condições para isso. ƒƒ A negação do conflito empresa-fun-
No final da década de 1970, William G. Ou- cionário: o movimento humanístico
chi, em seu livro, Teoria Z: Como as Empresas nega a existência das diferenças entre
Podem Enfrentar o Desafio Japonês, estendeu os interesses da empresa e os interesses
um pouco a teoria de MacGregor adaptando-a ao dos funcionários. Isso reflete a superfi-
modelo japonês de administrar: decisão consen- cialidade na abordagem ao tema;
sual e em grupo, emprego vitalício, participação ƒƒ Restrição de variáveis e da amostra:
do empregado na definição de melhorias do pró- a restrição de poucas variáveis e limi-
prio trabalho, qualidade de vida. Trata-se, portan- tando-se apenas à análise de fábricas,
to, não de uma nova teoria, mas de um conjunto resultou em uma impossibilidade de
de técnicas administrativas influenciadas pela fi- generalização de resultados;
losofia e pelos costumes japoneses. ƒƒ Concepção utópica: tinha uma visão
É com a abordagem comportamental que a idealizada de um funcionário feliz e
preocupação se desloca da estrutura para os pro- integrado ao ambiente de trabalho.
cessos e dinâmicas organizacionais, isto é, com o Felicidade e produtividade não são di-
comportamento organizacional. Ainda predomi- retamente proporcionais (funcionários
na a ênfase nas pessoas, inaugurada com a Teoria infelizes podem produzir bastante); Ên-
das Relações Humanas, mas dentro de um con- fase excessiva nos grupos informais:
texto organizacional. existiu uma supervalorização no fator
“Integração Grupal” com relação à pro-

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dutividade. Tal fator representa apenas ƒƒ Ausência de novos critérios de ges-


uma característica capaz de influenciar tão: não forneceu critérios de gestão,
na produtividade; não esclarecendo o que pode ou não
ƒƒ Espionagem disfarçada: o estímulo à ser feito para a obtenção de melhores
participação dos funcionários nas deci- resultados. Além disso, não apresenta
sões acabou sendo burlado. Tal espaço uma visão socioeconômica realista das
cedido foi usado pela empresa com o relações empresa-funcionário.
intuito de espionar ideias e insatisfa-
ções dos funcionários;

4.2 Hierarquia das Necessidades e Motivação

Conforme Maximiano (2004), Maslow, um uma motivação importante. Quando


psicólogo e consultor americano, apresentou todas as necessidades humanas estão
uma teoria da motivação, segundo a qual as ne- insatisfeitas, a maior motivação será a
cessidades humanas estão organizadas e dispos- satisfação das necessidades fisiológicas,
tas em níveis, em uma hierarquia de importância e o comportamento do indivíduo tem a
e de influência. Essa hierarquia de necessidades finalidade de encontrar alívio da pres-
pode ser visualizada como uma pirâmide. Na são que essas necessidades produzem
base da pirâmide estão as necessidades mais pri- sobre o organismo;
mitivas (necessidades fisiológicas) e no topo, as ƒƒ Necessidades de segurança: consti-
necessidades mais refinadas (as necessidades de tuem o segundo nível das necessidades
autorrealização), cada uma delas com os seguin- humanas. São as necessidades de se-
tes significados: gurança ou de estabilidade a busca de
proteção contra a ameaça ou privação,
ƒƒ Necessidades fisiológicas: constituem a fuga ao perigo. Surgem no comporta-
o nível mais baixo de todas as necessi- mento, quando as necessidades fisio-
dades humanas, mas de vital importân- lógicas estão relativamente satisfeitas.
cia. Nesse nível estão as necessidades Quando o indivíduo é dominado por
de alimentação, de repouso, de abrigo, necessidades de segurança, o seu orga-
de sexo etc. As necessidades fisiológi- nismo se orienta fortemente para a pro-
cas estão relacionadas com a sobre- cura de satisfação dessa necessidade. As
vivência do indivíduo e com a preser- necessidades de segurança têm grande
vação da espécie. São necessidades importância no comportamento hu-
instintivas, que já nascem com o indi- mano, uma vez que todo empregado
víduo. São as mais básicas de todas as está sempre em uma relação de depen-
necessidades humanas: quando algu- dência com a empresa, na qual ações
ma dessas necessidades não está satis- administrativas arbitrárias podem pro-
feita, ela domina fortemente a direção vocar incerteza ou insegurança no em-
do comportamento. Uma pessoa com pregado, quanto à sua permanência no
o estômago vazio não tem outra preo- emprego. Se essas ações ou decisões
cupação maior do que se alimentar. Po- refletem discriminação ou favoritismo
rém, quando come regularmente e de ou alguma política administrativa im-
maneira adequada, a fome deixa de ser previsível, podem tornar-se poderosos

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ativadores de insegurança em todos os Enfim, essas necessidades tomam formas e


níveis hierárquicos da empresa; expressões que variam enormemente de pessoa
ƒƒ Necessidades sociais: surgem no com- para pessoa. Sua intensidade ou manifestação
portamento, quando as necessidades também são extremamente variadas, obedecen-
inferiores (fisiológicas e de segurança) do às diferenças individuais entre as pessoas.
encontram-se relativamente satisfeitas. A teoria da hierarquia de necessidades de
Dentre as necessidades sociais estão Maslow pressupõe os seguintes aspectos:
a necessidade de associação, de par-
ticipação, de aceitação por parte dos ƒƒ Somente quando um nível inferior de
companheiros, de troca de amizade, de necessidades está satisfeito ou adequa-
afeto e amor. Quando as necessidades damente atendido é que o nível imedia-
sociais não estão suficientemente satis- tamente mais elevado surge no com-
feitas, o indivíduo torna-se resistente, portamento. Em outros termos, quando
antagônico e até hostil com relação às uma necessidade de nível mais baixo é
pessoas que o cercam. Em nossa so- atendida, ela deixa de ser motivadora,
ciedade, a frustração das necessidades dando oportunidade para que um nível
de amor e de afeição conduz à falta de mais elevado possa se desenvolver.
adaptação social e à solidão; ƒƒ Nem todas as pessoas conseguem
ƒƒ Necessidades de autoestima: são as chegar ao topo da pirâmide de neces-
necessidades relacionadas com a ma- sidades. Algumas pessoas – graças às
neira pela qual o indivíduo se vê e se circunstâncias de vida – chegam a se
avalia. Envolvem a autoapreciação, a preocupar fortemente com necessi-
autoconfiança, a necessidade de apro- dades de autorrealização; outras esta-
vação social e de respeito, de status, cionam nas necessidades de estima;
prestígio e consideração, de confian- outras ainda nas necessidades sociais,
ça perante o mundo, independência e enquanto muitas outras ficam ocupa-
autonomia. A satisfação dessas neces- das exclusivamente com necessidades
sidades conduz a sentimentos de au- de segurança e fisiológicas, sem que
toconfiança, de valor, força, prestígio, consigam satisfazê-las adequadamen-
poder, capacidade e utilidade. A sua te. São os chamados “excluídos”.
frustração pode produzir sentimentos ƒƒ Quando as necessidades mais baixas
de inferioridade, fraqueza, dependên- estão razoavelmente satisfeitas, as ne-
cia e desamparo que, por sua vez, po- cessidades localizadas nos níveis mais
dem levar ao desânimo ou a atividades elevados começam a dominar o com-
compensatórias; portamento. Contudo, quando alguma
ƒƒ Necessidades de autorrealização: necessidade de nível mais baixo deixa
são as necessidades humanas mais de ser satisfeita, ela volta a predominar
elevadas e que estão no topo da no comportamento, enquanto gerar
hierarquia. São as necessidades de cada tensão no organismo. A necessidade
pessoa realizar o seu próprio potencial e mais importante ou mais básica mono-
de autodesenvolver-se continuamente. poliza o indivíduo automaticamente a
Essa tendência geralmente se expressa organizar a mobilização das diversas fa-
através do impulso de a pessoa tornar- culdades do organismo para atendê-la.
se sempre mais do que é e de vir a ser ƒƒ Cada pessoa possui sempre mais de
tudo o que pode ser. uma motivação. Todos os níveis atuam
conjuntamente no organismo, domi-

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nando as necessidades mais elevadas específicas são as seguintes: necessidade de rea-


sobre as mais baixas, desde que estas lização, necessidade de poder e necessidade de
estejam suficientemente satisfeitas ou associação ou filiação.
atendidas. Toda necessidade está inti- A teoria de Frederick Herzberg explica como
mamente relacionada com o estado de o ambiente de trabalho e o próprio trabalho inte-
satisfação ou insatisfação de outras ne- ragem para produzir motivação. Segundo Herz-
cessidades. Seu efeito sobre o organis- berg, a motivação resulta de fatores que podem
mo é sempre global e conjunto e nunca ser divididos em duas categorias principais:
isolado.
ƒƒ Qualquer comportamento motivado ƒƒ Fatores relacionados ao próprio traba-
é como um canal pelo qual muitas ne- lho, chamados fatores motivacionais ou
cessidades fundamentais podem ser intrínsecos;
expressas ou satisfeitas conjuntamente.
ƒƒ Fatores relacionados com as condições
ƒƒ Qualquer frustração ou possibilidade
de trabalho, chamados fatores extrín-
de frustração da satisfação de certas
secos ou higiênicos.
necessidades passa a ser considerada
ameaça psicológica. Essa ameaça é que
produz as reações gerais de emergên-
Dicionário
cia no comportamento humano.
Intrínseco: que é próprio e essencial, que existe
As pesquisas não chegaram a confirmar por si mesmo, fora de qualquer convenção.
cientificamente a teoria de Maslow e algumas de- Extrínseco: que não pertence à essência, que é ex-
las até mesmo a invalidaram. Contudo, a teoria de terno há uma coisa ou pessoa.
Maslow é suficientemente bem estruturada para
poder oferecer um esquema orientador e útil para
a ação do dirigente empresarial. As teorias de Maslow, McClelland e Herz-
Outra teoria que se baseia na ideia das ne- berg apresentam pontos de concordância que
cessidades foi proposta por David McClelland. Ele permitem um quadro mais amplo e rico sobre o
identificou e estudou três necessidades específi- comportamento humano nas organizações.
cas, que se encaixam nas propostas de Maslow,
ou a elas acrescentam-se. Essas necessidades

4.3 Qualidade de Vida no Trabalho e Ética

As Teorias das Relações Humanas e Com- cupação com o bem-estar do trabalhador e com
portamentais permitiram o desenvolvimento de a eficácia organizacional; e a participação dos tra-
conceitos que utilizamos no cotidiano das orga- balhadores nas decisões e problemas do trabalho.
nizações contemporâneas. Entre estes estão a Toda empresa é um conjunto sociocultural
Qualidade de Vida no Trabalho e a Ética nas Or- muito complexo e que tem na organização do
ganizações. trabalho um papel preponderante para a saúde
A Qualidade de Vida no Trabalho pode ser de seus trabalhadores.
definida como uma forma de pensamento envol- Sem qualidade de vida, as pessoas traba-
vendo pessoas, trabalho e organizações, em que lham desmotivadas e o resultado disso é visível
se destacam dois aspectos importantes: a preo- nos níveis de produtividade, nas perdas registra-

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das, nos trabalhos que precisam ser refeitos, na de da produção e na prestação de serviço é uma
desmotivação dos funcionários. consequência natural.
Para que possa existir qualidade de vida
dentro de uma organização é preciso estimular a Dicionário
cooperação e a criatividade, mudando a política
Consumismo é o ato de comprar produtos e/ou
do sucesso a qualquer preço que premia o indivi-
serviços sem necessidade e consciência. O consu-
dualismo e a competição destrutiva. mista diferencia-se em grande escala do consumi-
Segundo a psicóloga Ana Cristina Limongi- dor, pois este compra produtos e serviços necessá-
rios para sua vida, enquanto aquele compra muito
-França (2001, p. 45), coordenadora do Núcleo de
além daquilo de que precisa.
Pesquisa em Gestão de Qualidade de Vida no Tra-
balho (USP),
ƒƒ Pequenos investimentos financeiros
qualidade de vida pode representar o em saúde e segurança, benefícios, co-
resgate da valorização e da humanização municação interna, além de gestão e
da pessoa no trabalho, integrando todos certificação da qualidade têm contri-
os fatores críticos determinantes de uma
boa gestão de pessoas. Esses fatores críti- buído para um acréscimo positivo na
cos são a política de qualidade de vida, a qualidade de vida dos funcionários.
produtividade, a legitimidade, a lideran- ƒƒ A qualidade de vida pode estar dentro
ça, a cultura organizacional e a rede de
de nós. A empresa pode contribuir mui-
competências dos especialistas internos
e externos à empresa, que são capazes de to, mas nada acontecerá se o próprio
oferecer produtos e serviços que geram o funcionário não buscar atitudes que
bem-estar. influenciem sua própria qualidade de
vida.
Limongi-França (2001) acredita que essa
preocupação com a qualidade de vida não é pas- Outro conceito derivado da Teoria Compor-
sageira, pois há uma crescente pressão da socie- tamental é a Ética empresarial, em sua essência,
dade por melhores condições de vida, incluindo- a determinação às pessoas que integram uma
-se o trabalho. organização, de agir sempre em conformidade
Existem empresas que pensando nisso e com os valores da honestidade, verdade e justiça,
verificando que existe um retorno financeiro em em todas as atividades nas quais representem es-
suas ações, promovem atitudes de melhoria na sas entidades jurídicas: nas compras, nas vendas,
qualidade de vida dos seus funcionários. Estão nos empréstimos, nas relações com empregados,
investindo em espaços mais agradáveis, esti- com a concorrência, com o governo e com a co-
mulando a prática de exercícios físicos entre os munidade, e em quaisquer outras.
colaboradores e até realizando campanhas de
combate ao alcoolismo e ao fumo. O importante
nisso tudo é que haja um programa abrangente,
que englobe essas atitudes, não permitindo que
fiquem isoladas, sendo ações superficiais e des-
comprometidas, apenas por “estar na moda falar
de qualidade de vida”. E diferente do que as em-
presas pensam, investir em qualidade de vida não
é caro. O importante é não confundir ações prá-
ticas com consumismo, sofisticação e “imagem
social” para vender seu produto. A questão está
focada nos funcionários. A melhoria na qualida-

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4.4 Cultura Organizacional

Schein (1985) afirma que não se pode cons- A partir dessa definição, Schein (1985) diz
truir um conceito comum (cultura organizacional) que a cultura se manifesta e pode ser estudada
se não houver concordância em como defini-lo, em diferentes níveis e propõe 3 níveis para a cul-
como medi-lo, como estudá-lo e como aplicá-lo tura organizacional: os artefatos (a estrutura orga-
no mundo real das organizações. Para ele, cultura nizacional visível e os processos que são difíceis
apresenta aspectos como: estabilidade, compar- de decifrar); os valores (estratégias, objetivos, filo-
tilhamento, padronização, dinâmica e vida em sofias) e as suposições básicas (são inconscientes,
grupo resultando em um padrão de suposições crenças dadas como certas, hábitos adquiridos
básicas, inventadas, descobertas ou desenvolvi- por percepção, pensamentos e sentimentos).
das por um dado grupo, que aprende a lidar com Em relação à empresa em análise podemos
seus problemas de adaptação externa e integra- observar que há uma grande ênfase em gerenciar
ção interna, que foram suficientemente bem tra- a cultura organizacional que foi definida e comu-
balhadas para serem consideradas válidas e assim nicada aos demais níveis da empresa pelo funda-
deve ser ensinada aos novos membros do grupo dor e “aperfeiçoada” pelo aprendizado.
como a forma correta de perceber, pensar e sentir O gerenciamento se dá nos três níveis:
em relação àqueles problemas.
A cultura de um dado grupo refletirá o que ƒƒ no primeiro, estão os artefatos, ou seja,
ele aprendeu ao resolver os problemas ao longo a estrutura organizacional que identifi-
de sua história. A adaptação externa é realizada ca os líderes, os empresários e os cola-
com a definição da missão da empresa e suas fun- boradores e suas relações; a definição
ções, o estabelecimento das metas, os critérios dos programas de ação e os critérios
para a mensuração dos resultados e os ajustes operacionais - a Odebrecht catalogou
nas estratégias, caso as metas não estejam sen- 60 temas, como, por exemplo, o desem-
do alcançadas e a integração interna é realizada penho, o domínio do negócio, a educa-
pela definição de uma linguagem comum, a deli- ção pelo trabalho, o fornecimento de
mitação das “fronteiras” do grupo e os critérios de apoio, parceria e partilha, superação de
inclusão, os critérios para a atribuição de status, erros, imagem da organização, saúde,
poder e autoridade, os critérios para a atribuição segurança, qualidade de vida e meio
de recompensas e punições e conceitos para ge- ambiente;
renciar o não gerenciável (ideologia e religião).
ƒƒ o segundo nível trata dos valores e con-
cepções filosóficas da empresa;
ƒƒ e no terceiro e último nível estão os
Dicionário
propósitos empresariais, os conceitos
Ideologia: no senso comum, significa ideal e con- essenciais e as suposições básicas, algu-
tém um conjunto de ideias, pensamentos ou de vi-
mas das quais relacionadas à origem do
sões de mundo de um indivíduo ou de um grupo,
orientado para suas ações sociais. Diversos autores fundador, de descendência germâni-
utilizam o termo sob uma concepção crítica, con- ca e de religião protestante como, por
siderando que ideologia pode ser considerada um
exemplo, a humildade e o trabalho ár-
instrumento de dominação que age por meio de
convencimento. duo.

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Teorias da Administração

A empresa tem aplicado essa cultura or- A miscelânea de conceitos mencionados


ganizacional em outros países nos quais atua, pelos representantes da Cultura Organizacional
inclusive, em países que possuem uma cultura evidentemente é emprestada dos estudos sobre
humana (teia de significados) muito diferente da a cultura humana, no entanto, seus papéis não
brasileira, o que enfatiza o gerenciamento e con- são discutidos em profundidade e, quando o são,
trole da “cultura da empresa”. apresentam um descolamento da compreensão e
À medida que a empresa “cria” uma cultura aplicação sob o espectro da cultura antropológi-
imposta, sem a participação dos indivíduos que a ca, o que segundo Aktouf (1994), demonstra ig-
compõem e supõe que está sendo gerenciada e norância do que são os grupos humanos e o que
utilizada para fins predefinidos, tem um entendi- é cultura.
mento muito limitado e particularizado do que é O autor questiona a própria existência da
cultura, apresentando uma visão simplista diante Cultura Organizacional, quando na tentativa de
da complexidade e da abrangência do conceito convergir à cultura da empresa, seus dirigentes
de cultura humana. fabricam e impõem valores e identidades alheias
Cultura é o todo complexo que inclui conhe- a participação da maior parte dos membros da or-
cimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou ganização, levando a alienação do indivíduo, que
qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos assume uma identidade artificial para integrar-se
pelo homem enquanto membro de uma socieda- à empresa.
de (TYLOR, 1871). Cultura organizacional é o con- Entre as consequências de tratar a cultura
junto de pressupostos básicos (basic assumption) sob a perspectiva e pressupostos da Cultura Or-
que um grupo inventou, descobriu ou desenvol- ganizacional, abusando de conceitos discutidos
veu ao aprender como lidar com os problemas e aplicados indevidamente, estão: a limitação da
de adaptação externa e integração interna e que criatividade em um ambiente em que o pensa-
funcionaram bem o suficiente para serem consi- mento é artificialmente homogêneo, o custo do
derados válidos e ensinados a novos membros estresse em conciliar os interesses individuais e
como forma correta de perceber, pensar e sentir organizacionais sob padrões de comportamento
em relação a esses problemas (SCHEIN, 1985). desejados é grande, além da idealização da em-
A Cultura Organizacional também é critica- presa, que não pode sequer garantir o emprego,
da quando, na tentativa de minimizar o conflito ainda que o indivíduo devote-lhe toda sua leal-
de interesses, o lucro e o desenvolvimento huma- dade.
no, a produtividade e a cooperação, a homoge-
neidade do pensamento e a criatividade, supõem
criar novos símbolos e mesmo a figura do mito,
como se esses elementos fossem decorrentes da
vontade dos dirigentes da empresa e pudessem
ser manipulados segundo os objetivos unilaterais
da organização.
Segundo Aktouf (1994), uma gama confusa
de conceitos, considerados fundamentais na Cul-
tura Organizacional, se entrelaça e mesmo colide
desordenadamente, como, por exemplo, lideran-
ça, valores, símbolos, mitos, lendas, sagas, anedo-
tas, crenças, estruturas, hábitos, linguagens, ritos,
cerimônias, regras sociais, normas, credos, filoso-
fias de gestão, saber compartilhado, maneiras de
ser ou de vestir, determinantes inconscientes etc.

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Multimídia

Filme: O Aviador
Direção: Martin Scorsese
Sinpose: Howard Hughes (Leonardo DiCaprio) ficou milionário já aos 18 anos, devido à herança que seu pai, um in-
ventor texano, deixou para ele. Pouco depois ele se mudou para Los Angeles, onde passou a investir na indústria do
cinema. Hughes ajudou a carreira de vários astros, como Jean Harlow (Gwen Stefani), e ainda trabalhou em filmes de
grande sucesso, como “Hell’s Angels”, que dirigiu. Paralelamente, Hughes se dedicou a uma de suas maiores paixões,
a aviação, e se envolveu com as atrizes Katharine Hepburn (Cate Blanchett) e Ava Gardner (Kate Beckinsale).

4.5 Resumo do Capítulo

Caro(a) aluno(a), concluímos neste capítulo o estudo das teorias das relações humanas e compor-
tamental. Percorremos os aspectos da hierarquia das necessidades e motivação, qualidade de vida no
trabalho e ética e, por fim, a cultura organizacional.
Neste momento, vamos avaliar seu nível de aprendizagem.

4.6 Atividades Propostas

1. A origem da Teoria das Relações Humanas consiste em alguns princípios. Comente quais são
eles.
2. A Teoria das Relações Humanas foi alvo de muitas críticas. Cite quais foram essas críticas e seus
fundamentos.

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5 OS CÉREBROS NAS ORGANIZAÇÕES

Neste capítulo percorreremos a metáfora


do cérebro, que foca a importância do proces-
samento de informações, aprendizagem e inte- Atenção
ligência nas organizações, permitindo ao leitor
Essas imagens, especialmente a do holograma,
uma forma de compreensão e avaliação das orga- ressaltam princípios importantes de auto-orga-
nizações modernas sob essa perspectiva. nização para a concepção de organizações nas
quais um alto grau de flexibilidade e inovação é
Duas linhas de interpretação das organiza-
necessário.
ções vistas como cérebro são enfatizadas, uma do
tipo computador ou processador de informações,
e outra do tipo holograma.

5.1 Teoria Contingencial e dos Sistemas

O aparecimento da Teoria Geral dos Sis- Assim, como princípios gerais que na ver-
temas forneceu uma base para a unificação dos dade são ideias vinculadas ao desenvolvimento
conhecimentos científicos nas últimas décadas. e ao surgimento da automação e da cibernética,
Ludwig von Bertalanffy (1901-1972) concebeu Bertalanffy propõe uma nova teoria científica, a
esse nome no início da década de 1920, criando Teoria Geral dos Sistemas, que tem leis semelhan-
em 1954 a Societyfor General Systems Research. tes às que governam sistemas biológicos. Nessa
Bertalanffy introduziu esse nome para des- formulação teórica, o autor incorpora os concei-
crever as características principais das organiza- tos fundamentais dos postulados anteriores do
ções como sistemas, pouco antes da Segunda sistema biológico e das matemáticas correlatas.
Guerra Mundial. A Teoria Geral dos Sistemas, se-
gundo o próprio Bertalanffy, tem por finalidade
identificar as propriedades, princípios e leis ca- Dicionário
racterísticos dos sistemas em geral, independen-
temente do tipo de cada um, da natureza de seus Cibernética: é uma tentativa de compreender a co-
municação e o controle de máquinas, seres vivos
elementos componentes e das relações entre e grupos sociais através de analogias com as má-
eles. De acordo com o autor, existem certos mo- quinas eletrônicas. Para alguns autores, do ponto
delos ou sistemas que, independentemente de de vista da transmissão da informação, a distinção
entre máquinas e seres vivos, humanos ou não, é
sua especificidade, são aplicáveis a qualquer área mera questão de semântica.
de conhecimento. Tais modelos impulsionariam
uma tendência em direção a teorias generaliza-
das.

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Um sistema se define como um complexo concepção de que todos os sistemas se


de elementos em interação de natureza ordena- compõem de subsistemas e seus ele-
da e não fortuita. A Teoria Geral dos Sistemas é mentos estão inter-relacionados. Isso
interdisciplinar, isto é, pode ser utilizada para fe- significa que o todo não é uma simples
nômenos investigados nos diversos ramos tradi- soma das partes, e que o próprio siste-
cionais da pesquisa científica. Ela não se limita aos ma só pode ser explicado como uma
sistemas materiais, mas aplica-se a todo e qual- globalidade. O holismo representa o
quer sistema constituído por componentes em oposto do elementarismo, que encara o
interação. Além disso, a Teoria Geral dos Sistemas total como soma das partes individuais.
pode ser desenvolvida em várias linguagens ma-
temáticas, em linguagem escrita ou ainda com-
Assim, o conceito de organização como um
putadorizada.
sistema complexo de variáveis torna-se cada vez
A aplicação do pensamento sistêmico, se- mais importante na sua análise e compreensão.
gundo Kast e Rosenzweig, tem uma particular Os Principais Conceitos da Teoria dos Sistemas
importância para as ciências sociais, além de são os que serão apresentados na sequência.
apresentar um estreito relacionamento entre a
teoria e sua aplicação a diversas áreas do conhe-
cimento humano. A Teoria de Sistemas possibili- Tipos de Sistemas
tou, por exemplo, a unificação de diversas áreas
do conhecimento, pois sistema é um conjunto Fechado e aberto. Uma distinção impor-
de elementos em interação e intercâmbio com o tante para a teoria da organização é a classifica-
meio ambiente (environment). Ou ainda, confor- ção das organizações em sistemas fechados ou
me define Littlejohn, um sistema pode ser defini- abertos. Um sistema fechado é aquele que não
do como um conjunto de objetos ou entidades realiza intercâmbio com o seu meio externo, ten-
que se inter-relacionam mutuamente para formar dendo necessariamente para um progressivo
um todo único. caos interno, desintegração e morte. Nas teorias
Além disso, para entendermos a Teoria de anteriores da Administração, a organização era
Sistemas e sua difusão, devemos levar em conta considerada suficientemente independente para
duas características obrigatórias aos sistemas so- que seus problemas fossem analisados em torno
ciais: de estrutura, tarefas e relações internas formais,
sem referência alguma ao ambiente externo, pois
ƒƒ Funcionalismo: embora essa palavra as atenções estavam concentradas apenas nas
apresente várias conotações, funda- operações internas da organização, adotando-
mentalmente, o termo dá ênfase a sis- -se, para isso, enfoques racionalistas. Um sistema
temas de relacionamento e à unificação aberto é aquele que troca matéria e energia com
das partes e dos subsistemas em um o seu meio externo. E, como diz Bertalanffy, a or-
todo funcional. O funcionalismo procu- ganização é um sistema aberto, isto é, um sistema
ra ver nos sistemas suas partes compo- mantido em importação e exportação, em cons-
nentes, realçando que cada elemento trução e destruição de componentes materiais,
tem uma função a desempenhar no em contraste com os sistemas fechados de física
sistema mais amplo. Isso significa que convencional, sem intercâmbio de matéria com
cada elemento de um subsistema tem o meio. Considerando a perspectiva de sistema
um papel a desempenhar em um siste- aberto, podemos dizer que um sistema consiste
ma mais amplo; em quatro elementos básicos:
ƒƒ Holismo: um conceito estreitamente
relacionado ao do funcionalismo; é a

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Teorias da Administração

ƒƒ Objetivos: são partes ou elementos do um sistema aberto é alcançado um estado cons-


conjunto. Dependendo da natureza do tante independentemente do tempo, esse estado
sistema, os objetivos podem ser físicos é independente das condições iniciais e depende
ou abstratos; apenas das condições atuais do sistema. Essa pro-
ƒƒ Atributos: são qualidades ou proprie- priedade é denominada de equifinalidade. Desse
dades do sistema e de seus objetos; modo, a equifinalidade do sistema significa que
ƒƒ Relações de interdependência: um um certo estado final pode ser atingido de muitas
sistema deve possuir relações internas maneiras e de vários pontos de partida diferentes.
com seus objetos. Essa é uma qualidade
definidora crucial dos sistemas. Uma re- Mecanismo de Feedback
lação entre objetos implica em um efei-
to mútuo ou interdependência; Os sistemas abertos são regulados, procu-
ƒƒ Meio ambiente: os sistemas não exis- ram atingir metas e, portanto, são intencionais,
tem no vácuo; são afetados pelo seu possuindo uma finalidade objetiva. Desse modo,
meio circundante. a organização, mesmo sem estímulos externos,
não é um sistema passivo, mas um sistema intrin-
Entropia secamente ativo. Uma organização naturalmente
se mantém em desequilíbrio, chamado de estado
constante de um sistema aberto, e; é capaz de li-
Os sistemas fechados devem, de acordo berar potenciais ou tensões existentes em respos-
com o segundo princípio da termodinâmica, ta a estímulos libertadores.
eventualmente alcançar um estado de equilíbrio
Um estímulo, isto é, uma alteração nas con-
em que o sistema permanece constante no tem-
dições externas não causa um processo em um
po e os processos param. O estado de equilíbrio
sistema autonomamente ativo. Os mecanismos
eventualmente alcançado nos sistemas fechados
de feedback correspondem a respostas a uma
é determinado pelas condições iniciais. Isso sig-
perturbação externa. Partindo das saídas do sis-
nifica que a característica principal do sistema
tema, o feedback remete às suas entradas, de for-
fechado é a tendência inerente à movimentação
ma a controlar o funcionamento do sistema, para
para um equilíbrio estático e à entropia. A entro-
manter um estado desejado ou orientá-lo para
pia, um conceito emprestado da termodinâmica,
uma meta específica.
diz respeito à tendência que todos os sistemas
fechados apresentam de passar a um estado caó-
tico ou aleatório, em que não há mais potencial
para a transformação de energia ou trabalho. As- Saiba mais
sim, a organização como sistema fechado tende
a aumentar a entropia com o passar do tempo, Os mecanismos de feedback podem ter graus de com-
caminhando para a desordem e consequente de- plexidade diferenciada. A regulação do feedback dá-se
clínio. por causalidade linear e unidirecional, enquanto a re-
gulação do sistema aberto dá-se por meio de intera-
ção multivariável. As regulações do primeiro tipo são
baseadas em arranjos ou estruturas preestabelecidas,
Equifinalidade
e as do segundo tipo, em interação dinâmica. Os ar-
ranjos ou estruturas de feedback são sistemas fecha-
dos com relação à energia e à matéria, embora sejam
Os sistemas abertos, por sua vez, podem, abertos com relação à informação.
uma vez pressupostas algumas condições, alcan-
çar um estado constante de equilíbrio, de modo
que os processos e o sistema como um todo não
cheguem a um repouso estático. Ou seja, se em

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Geralmente, os circuitos de feedback são su- Diferenciação


perpostos a regulações primárias, como mecanis-
mos secundários de regulação, e se desenvolvem Inversamente ao conceito sincrônico, exis-
a partir delas. Basicamente, o feedback pode ser tem conceitos desenvolvimentistas ou diacrôni-
classificado como positivo ou negativo, depen- cos, que são regras empíricas que estabelecem
dendo do modo com o qual o sistema o respon- que os sistemas vivos tendem a uma crescente di-
de. O feedback ocorre quando há um desvio em ferenciação e organização. Como existe um meio
relação a um padrão e o sistema ajusta-se redu- ambiente circundante em constante mudança, o
zindo ou neutralizando esse desvio. Esse tipo de sistema deve ser adaptável e capaz de ele próprio
feedback é o mecanismo mais importante para a efetuar mudanças e reordenar-se na base de pres-
homeostase. Por outro lado, diante do desvio, o sões ambientais. Assim, padrões difusos e globais
sistema pode também responder ampliando ou são substituídos por funções mais especializadas.
mantendo esse desvio. A isso se dá o nome de
Um tipo de crescimento diferenciado nos
feedback positivo. Esse tipo de mecanismo é im-
sistemas é o que Bertalanffy (2001) qualificou
portante no desenvolvimento do sistema.
como mecanização progressiva. Segundo suas
O processo denominado “relação circular de palavras, “o princípio da mecanização progressiva
causa e efeito” é um exemplo de feedback positi- exprime a transição da inteireza indiferenciada
vo, ou seja, o feedback aumenta ou acelera des- para função mais alta, possibilitada pela especiali-
vios do sistema, podendo criar descontinuidade zação e divisão do trabalho, importa também, em
e culminar na destruição desse sistema. Isso sig- perda de potencialidade nos componentes e de
nifica que muitas vezes a circularidade pode le- regulabilidade no todo.” A mecanização frequen-
var o sistema à descontinuidade. As relações cir- temente conduz ao estabelecimento de partes
culares de causa e efeito precisam ser rompidas principais ou centros do sistema, isto é, compo-
antes que rompam o sistema. Daí se introduz o nentes que dominaram o seu comportamento e
feedback negativo. podem exercer uma causalidade desencadeado-
ra. Por meio desse processo, uma pequena alte-
Homeostase ração em uma parte principal pode, por meca-
nismos de ampliação, causar grandes mudanças
O funcionamento autônomo do sistema e no sistema total. Por esse motivo, deve ser esta-
seu impulso para realizar certos movimentos re- belecida uma ordem hierárquica das partes ou
presentam o princípio da homeostase, que foca- processos.
liza exclusivamente uma tendência para o equilí-
brio. Em geral, o conceito de homeostase não é Hierarquias
aplicável a atividades espontâneas, a processos
cuja meta é a criação de tensões e não a redução, Todo sistema compõe-se de sistemas de or-
aos processos de crescimento, desenvolvimento dem inferior que, por sua vez, fazem parte de um
e criação, e às leis dinâmicas, isto é, não baseadas sistema de ordem superior. Desse modo, há uma
em mecanismos fixos, mas inerentes a um siste- hierarquia entre os componentes do sistema. A
ma que funciona como um todo. Umas das tarefas noção de hierarquia não está apenas relacionada
primárias dos muitos subsistemas interatuantes com os níveis de subsistemas, fundamentando-se
é a manutenção do equilíbrio no sistema. A ho- na necessidade de um abarcamento mais amplo
meostase é, essencialmente, um conceito sincrô- ou de um conjunto de subsistemas que compo-
nico, isto é, referente à manutenção da constância nha um sistema mais amplo, visando à coordena-
durante um certo lapso de tempo. ção das atividades e processos.

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Fronteiras to. Algumas definições que auxiliam na aplicação


prática dessa teoria são:
Qualquer sistema possui fronteira, sejam
elas espaciais ou dinâmicas. As fronteiras espaciais ƒƒ Sistemas: conjunto estruturado visan-
existem apenas em uma observação simplista. do a um fim, no qual existem relações
Assim, todas as fronteiras são, em última análise, complexas e não triviais entre os ele-
dinâmicas. As fronteiras estabelecem uma sepa- mentos constitutivos, de modo que o
ração entre o sistema e o meio ambiente e fixam o todo seja mais do que a soma das par-
domínio em que devem ocorrer as atividades dos tes. Exemplo: sistema econômico;
subsistemas. Isso significa que toda organização ƒƒ Sistema Operacional: conjunto de
possui fronteira, isto é, uma determinação de seu atividades estruturadas, visando a um
campo de ação. Desse modo, uma organização só objetivo estabelecido, especialmente à
pode ser eficaz, a medida que conhece suas fron- produção de bens e serviços econômi-
teiras, seu limite organizacional. Pensar em fron- cos ou socialmente valiosos. Exemplos:
teiras leva-nos a pensar em diversos aspectos da empresa, hospital, escola;
análise sistêmica: o grau da abertura do sistema, ƒƒ Sistema Administrativo: conjunto de
sua maior ou menor receptividade das organiza- recursos estruturados, constituídos de
ções quanto a insumos e informações e suas pos- pessoas, equipamentos, materiais e
sibilidades de crescimento e desenvolvimento. procedimentos, destinados a processar
uma tarefa administrativa específica.
Inputs e Outputs Exemplos: rotina de seleção e controle
de produção e materiais, controle de
desempenho;
Como os sistemas lidam com as desconti-
nuidades? Uma das formas foi dada por pesquisa- ƒƒ Sistema de informação: subsistema
dores da cibernética, que formularam o chamado do sistema administrativo, destinado a
princípio da “caixa preta”. Suponhamos que em processar o fluxo de informação. Exem-
um sistema organizacional, seus membros sabem plos: sistema contábil, sistema de con-
coletar informações ou insumos entram e saem, trole de qualidade.
mas ignoram ou não têm condições de levan-
tar dados sobre o que ocorre dentro do sistema. Alguns elementos dos sistemas são:
É o fenômeno denominado em matemática de
“transformação”, algo que transforma um deter- ƒƒ diretrizes, objetivos, planos, projetos,
minado tipo de entrada (input) em um determi- metas;
nado tipo de saída (output). Como a organização
ƒƒ entrada (input), saída (output), proces-
não tem condições de momento para saber o que
samento, meio externo, variáveis en-
está ocorrendo na “caixa preta”, ela procura intro-
dógenas, interface, ambiente externo,
duzir o input certo e obter o output desejado. Da-
variáveis exógenas;
qui percebe a importância do controle, tanto em
sistemas, quanto em atividades. ƒƒ laços positivos (amplificadores) e laços
negativos (estabilizadores);
Churchman (1971) é um autor que focaliza
o aspecto da praticidade da teoria sistêmica no ƒƒ sensor, medidor, controle, correção,
campo administrativo, formulando considerações retroação, homeostase, regulador, ser-
básicas como o objetivo central do sistema, o seu vomecanismo, cibernética de segunda
ambiente, os recursos e os componentes dos sis- ordem;
temas e suas respectivas medidas de rendimen- ƒƒ ruído, entropia, antissistema, redun-
dância.

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analisadas como sistemas abertos, relacionados


Dicionário com outros sistemas, com os quais trocam infor-
mações. São sistemas dinâmicos, em constante
Servomecanismo: mecanismo concebido para
cumprir sozinho certo programa de ação, execu- adaptação e mudança, buscando o equilíbrio, a
tando seu próprio trabalho a partir de ordens que homeostase. Como sistemas que são, estão su-
lhe são dadas.
jeitos a receber insumos (inputs), analisá-los e
liberá-los como resultados (produtos/serviços,
outputs). Em função desses produtos, o sistema
Alguns dos princípios da dinâmica do siste- é então retroalimentado (por feedback) segundo
ma são: suas necessidades. Estabelece-se, então, um ciclo.
A compreensão dos processos administrativos foi
ƒƒ Todas as partes de um sistema são re- auxiliada pelo enfoque sistêmico, na medida em
lacionadas. Assim, uma alteração em que este demonstra um aspecto de organização
uma das partes do sistema causa neces- ainda não abordado. Ele oferece uma visão mo-
sariamente uma mudança em todas as derna e abrangente, mostrando a parte formal
demais. Isso significa que a otimização da organização (técnico) e também aspectos gru-
dos objetivos requer uma integração pais (social). Fornece, assim, meios de analisar as
do próprio sistema; organizações com seu atual estágio de desenvol-
ƒƒ Em vista da grande complexidade que vimento e complexidade.
existe no relacionamento entre as variá- Para os autores Kast e Rosenzweig (1992), o
veis do sistema e em razão dos muitos enfoque sistêmico apresenta algumas limitações,
laços que interligam os subsistemas, que derivam de alguns aspectos em si presentes.
os efeitos das mudanças que incidem A principal é que, por derivar muito das ciências
sobre o modelo são contraintuitivos e exatas, a abordagem trata a organização de forma
devem ser analisados pela construção e a criar um modelo. Mas as organizações são ainda
validação de um modelo; mais complexas do que os sistemas físicos ou bio-
ƒƒ Quanto mais rápida a informação e lógicos. A visão da empresa como sistema parece,
quanto menor o número de estágios às vezes, muito mecanizada, como se esta fosse
de um sistema, menores serão as oscila- uma máquina física. Destacados esses aspectos, o
ções produzidas por uma perturbação enfoque sistêmico ainda oferece grande utilidade
e mais rápida será a volta ao equilíbrio. nos estudos sobre a organização.
Na Abordagem Sistêmica há uma forte ten-
dência em se enfatizar as funções (ou conjunto
Outro esquema conceitual provém de al-
de atividades) exercidas pelos indivíduos nos
guns dos membros do instituto Tavistok de Lon-
subsistemas. Essa tendência faz surgir uma teoria
dres, que sublinham a relação meio ambiente-
da organização de sistemas de papéis. Os autores
-grupos de trabalho, mostrando relações entre a
Maynts, Luhmann, Gross, McEachner, e Getzels,
parte formal da organização (dimensão técnica)
por exemplo, apresentam esquemas conceituais
e os aspectos grupais (dimensão social). Desse
nos quais a Retroalimentação na organização é
modo, as organizações de trabalho podem ser
entendida como um sistema de papéis, mediante
definidas como sistemas sociotécnicos estrutura-
o qual as pessoas mantêm-se inter-relacionadas.
dos, e os subsistemas psicossocial e técnico de-
Em outros termos, se nas outras abordagens a ên-
vem ser encarados como parte da organização.
fase estava na questão do papel dos indivíduos,
Na abordagem sistêmica das organiza- este é o ponto focal. O conjunto dos comporta-
ções, estas são vistas como sistemas sociotécni- mentos esperados de uma determinada posição
cos estruturados. Essa abordagem apresenta vá- social no sistema social (que se transforma em
rios aspectos de interesse. As organizações são

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comportamento esperado na organização) rela- va coincide com o esperado, será obtido o com-
ciona-se com outros indivíduos nos seus respec- portamento desejado.
tivos papéis. É o chamado conjunto de papéis or- Nessa abordagem, as variáveis organiza-
ganizacionais – cada indivíduo com o seu papel. cionais são as que intervêm na relação social, tais
O modelo de sistema de papéis baseia-se como a personalidade dos indivíduos e a relação
na noção do papel social como sendo fundamen- interpessoal. São variáveis que se referem à po-
tal. É a ideia de que, existindo papéis, existem sição, de caráter flexível ou rígido, o que é uma
também funções na organização que alteram ou extração do papel independentemente do papel
reforçam o comportamento desses papéis, con- social no qual o indivíduo está inserido. Esse in-
forme a expectativa de valores percebida, ou seja, divíduo é o chamado Homem Organizacional, so-
o comportamento potencial, no qual cada papel bre o qual a predisposição a atuar encaminhe-se
funciona como um sistema. Quando a expectati- rumo às metas organizacionais.

5.2 Cibernética

O matemático Norbert Wiener (1894-1963) Como esse modelo de funcionamento se


foi quem formulou o conceito daquilo que seria aplica também para organizações sociais, a di-
a principal ferramenta da visão holística das ciên- fusão do uso do computador na empresa leva à
cias: a cibernética. Seu propósito é a busca das ocorrência de um fenômeno já contemplado pela
propriedades globais de um sistema, resultantes cibernética: em que instâncias o homem, depois
do fato de se tratarem de um conjunto estrutura- (ou antes) de controlar o computador é por ele
do que ultrapassa a simples soma de suas partes controlado?
(sinergia). Em princípio, a missão do computador se-
Um sistema mantém-se em funcionamento ria poupar o homem de elevados volumes de tra-
enquanto é capaz de processar entradas, produ- balho. Mas, isso não é simples assim. O homem
zindo saídas. Para isso, deve ser capaz de utilizar sempre interagiu com a natureza percebendo
os resultados de seu próprio desempenho como as suas infinitas gradações e sutilezas. Porém, o
informação autorreguladora, ajustando a si mes- computador nega ao homem essas séries contí-
mo como parte do processo em andamento. Essa nuas. O homem cria máquinas para que estas lhe
capacidade, ou habilidade, foi chamada por Wie- permitam alcançar diversos objetivos, mas o cus-
ner de feedback e cedo seu uso foi disseminado to disso é que ele, na sua inteireza, vê-se obrigado
em várias áreas de atividade. a adaptar-se a elas.
Uma ideia que intrigava Wiener era as se- É na Administração que a informática en-
melhanças na maneira como funciona tanto um contra o seu principal meio de difusão e, mais que
animal quanto uma máquina autorregulável. Am- isso, o meio de operar esse processo de interação
bos, vistos como um sistema, precisam de entra- “do homem para a máquina”, mas não da “máqui-
das, processam essas entradas, transformando-as na para o homem”. Esse fenômeno não teria im-
em saídas como produtos. Nesse processo autor- portância maior se o computador não tivesse se
regulam suas partes quando uma disfunção co- tornado uma entidade meio divinizada depois de
meça a surgir. Essa capacidade de perceber uma seu uso ter sido difundido em nível massivo. Em
disfunção e eliminá-la, para a cibernética, é a in- outros tempos, a mercadoria, a máquina e o au-
formação. tomóvel tornaram-se fetiches. Agora é a vez do
computador.

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mento do ambiente externo em relação à tecno-


Dicionário logia, visando o melhor caminho para se atingir
algo. Não existe nada correto. Tudo é relativo. Para
O fetiche da mercadoria, postulado por Marx,
opõe-se à ideia de “valor de uso”, uma vez que este o autor, cada tipo de organização, segundo o am-
se refere estritamente à utilidade do produto. O biente e tecnologia disponível, irá configurar-se
fetiche relaciona-se à fantasia (simbolismo) que
mais mecanicista, organicista ou sistêmica.
paira sobre o objeto, projetando nele uma relação
social definida, estabelecida entre os homens. A Teoria Contingencial pretende contem-
plar todas as bandeiras que surgiram desde o tay-
lorismo e dar uma conformação ao estilo admi-
Verifica-se nas teorias administrativas, des- nistrativo em função de cada realidade específica.
de as propostas apresentadas por Taylor, uma A abordagem contingencial enfatiza o am-
evolução para modelos mais elaborados, para biente e a adequação da empresa a ele. Este é um
uma busca de conceitos que contemplem a orga- imperativo básico. A empresa precisa fazer isso
nização em toda a sua complexidade. A teoria dos todos os dias porque o ambiente muda todos os
sistemas, trazendo em seu interior a cibernética, dias. Adaptar-se ao ambiente, entre outras graves
representa um passo decisivo nesse sentido. A ca- implicações, exige mudanças na estrutura da em-
minhada não parou por aí. A partir dos primeiros presa, que demandam mexer com gente. E isso
anos da década de 1950 começaram a surgir es- é complicado. É possível que para se tornar mais
tudos que resultaram na teoria da contingência, ágil seja necessário dar mais responsabilidade e
que é uma espécie de estado da arte atual da Ad- autoridade aos escalões inferiores, isso, por sua
ministração. vez, pode acarretar perda de poder e insegurança
Segundo Andrade e Amboni (2007), a Teoria aos gerentes e demais pessoas que exercem car-
Contingencial revela a influência dos resultados gos mais altos dentro da empresa.
dos estudos desenvolvidos sobre o comporta-

5.3 Administração Estratégica

Segundo Cavalcanti (2003), a ideia do Pla- reats = ameaças), define o pensamento estratégi-
nejamento Estratégico surgiu há 40 anos, no auge co preponderante da década.
da expansão e diversificação dos negócios, na O Planejamento Estratégico nos anos 1980
década de 1960. A autora menciona que recen- respondeu à rigidez das décadas anteriores com
temente o Planejamento Estratégico não estava o celebre trabalho de Michael Porter, quando, se-
entre as prioridades mais altas dos executivos, no gundo a autora, as empresas passaram a enfren-
entanto, na passagem do milênio essa situação tar uma concorrência crescente e, portanto, a ne-
mudou e a estratégia está no topo das preocupa- cessidade de testar vantagem competitiva.
ções. Segundo o autor Antonio Vico Mañas (em
A autora traça a evolução do Pensamento Gestão Estratégica de Negócios, 2003), o posicio-
Estratégico, partindo da década de 1960 e iní- namento estratégico conforme um dos maiores
cio de 1970, quando o formalismo e rigidez dos precursores do pensamento estratégico atual,
modelos eram as características marcantes. O Michel Porter, tem uma essência básica que é a
trabalho de H. Mintzberg, com o modelo básico escolha das atividades que sejam diferentes das
de Análise SWOT (Strenghts = forças, Weaknesses dos concorrentes. Isso garante o que se chama de
= fraquezas, Opportunities = oportunidades, Th- diferencial de competitividade, a vantagem com-
petitiva.

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Michael Porter (1989) afirma que muitas e debatidos pelos acadêmicos e executivos, cujo
empresas perderam de vista a vantagem com- interesse é a estratégia.
petitiva em sua luta por crescimento e busca de Ainda segundo o autor, o pensamento es-
diversificação e que o fracasso das estratégias de tratégico no futuro estará voltado para a seguinte
muitas empresas deve-se à incapacidade de tra- pauta:
duzir uma estratégia competitiva geral em etapas
de ação específicas, necessárias para se obter a ƒƒ transformar empregados de tarefas em
vantagem competitiva. profissionais pensantes;
Para Porter, há cinco forças que dirigem a ƒƒ repensar os papéis dos administradores
concorrência na indústria: e dos empregados nas empresas estru-
turadas por processos;
ƒƒ a ameaça de entrada de novas empre- ƒƒ reinventar os sistemas de gestão de re-
sas nesse mesmo mercado; cursos humanos desde os treinamentos
ƒƒ a intensidade da rivalidade entre os até os esquemas de reconhecimento
concorrentes existentes; dos esforços;
ƒƒ a pressão dos produtos substitutivos; ƒƒ fazer com que o aprendizado seja parte
ƒƒ poder de negociação dos compradores; do dia a dia dos negócios da empresa;
ƒƒ poder de negociação dos fornecedores. ƒƒ moldar uma cultura que dê suporte à
nova maneira de trabalhar.

Segundo o autor há três abordagens gené-


ricas, potencialmente bem-sucedidas que são: a O autor Belmiro João (2003), participante
liderança no custo total, a diferenciação e o foco. da mesma obra, ainda propõe outras estratégias
Vantagem Competitiva trata do modo como uma voltadas para o futuro, estratégias cujo foco são
empresa coloca de fato em prática as estratégias as conversações e conexões com funcionários,
genéricas (PORTER, 1989). consumidores, não consumidores e parceiros. En-
A perspectiva dos autores Prahalad e Ha- tre as estratégias emergentes citadas pelo autor
mel, citados por Mañas (2003), defende que uma estão:
organização tem que criar a perspectiva de com-
petências essenciais. Os trabalhos apresentam ta- ƒƒ atrair novos mercados;
refas de administração de competências, que são: ƒƒ construir novas organizações;
ƒƒ criar novos métodos de planejamento;
ƒƒ identificar competências essenciais ƒƒ assumir riscos.
existentes;
ƒƒ definir uma agenda de aquisição de
competências; Uma outra visão de estratégia para o novo
contexto competitivo, segundo Moacir de Miran-
ƒƒ desenvolver as competências;
da Oliveira Jr. (2003), é de que o conhecimento
ƒƒ distribuir as competências; constitui o principal ativo estratégico das em-
ƒƒ proteger e defender a liderança das presas. Segundo o autor, a administração do co-
competências. nhecimento torna-se um processo crítico, pois
fatores como tipos de conhecimento na empresa,
Os princípios do pensamento estratégico transferência do conhecimento, criação de novos
atual estão significativamente fundamentados conhecimentos e a relação da aprendizagem or-
por esses autores e são amplamente difundidos ganizacional com o conhecimento exigem da es-

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tratégia empresarial uma forma de administração do. Portanto, representam riscos e oportunidades
orientada para um desempenho superior. para a estratégia empresarial.
O pensamento estratégico voltado para o Ainda segundo Prahalad e Hart (1999), ou-
futuro também deve sofrer os impactos das for- tras questões impactam diretamente na formu-
ças globais de mudança. Segundo os autores lação de estratégias para o futuro. Os autores
mencionados, esse pensamento é considerado a afirmam que há quatro bilhões de pessoas nas
partir de questões como a transformação das re- camadas mais pobres da população mundial (na
lações entre empresa e colaboradores, a criação base da pirâmide), com necessidades humanas
de novos mercados, a reinvenção de sistemas de básicas a serem supridas, quando a sociedade já
gestão, a criação de novos métodos de planeja- pressiona as grandes corporações para o desen-
mento e a administração do conhecimento orga- volvimento de tecnologias, políticas ambientais e
nizacional. produtos sustentáveis. Esse quadro forçará gran-
As forças globais de mudança são explora- des corporações a repensarem suas estratégias
das pelos autores Hodges e Grayson (2003) que de mercado, de escala e modos de produção. Essa
enfatizam a necessidade de uma nova postura questão será aprofundada pelo trabalho quando
estratégica frente à revolução na tecnologia, nos tratarmos das estratégias que buscam o desen-
mercados, na demografia, no desenvolvimento volvimento sustentável.
das sociedades e seus valores. Segundo esses au- A Administração por Objetivos (APO) ou
tores, tais forças têm um impacto significativo na administração por resultados constitui um mo-
formulação das estratégias empresariais, pois te- delo bastante difundido e plenamente identifica-
mas emergentes, decorrentes dessas mudanças, do como o espírito pragmático e democrático da
como a ecologia e o meio ambiente, a saúde e o teoria neoclássica. Seu aparecimento é recente:
bem-estar, a diversidade, os direitos humanos e em 1954, Peter f. Drucker publicou um livro que
a organização das comunidades, são fatores que caracterizava pela primeira vez a APO, tornando-
impõem questões difíceis de prever, difíceis de -se, por isso, o criador da Administração por Ob-
ignorar e muito difíceis de gerir quando dão erra- jetivos.

5.4 Administração por Objetivos (APO)

A APO é uma técnica de direção de esforços um em termos de resultados esperados e usam


através do planejamento e controle administrati- esses objetivos como guias para a operação dos
vo, fundamental no princípio de que, para atingir negócios. Obtêm-se objetivos comuns e firmes
resultados, a organização precisa antes definir que eliminarão qualquer hesitação do gerente, ao
em que negócio está atuando e onde pretende lado de uma coesão de esforços em direção aos
chegar. Inicialmente estabelecem-se os objetivos objetivos principais da organização.
anuais da empresa, formulados na base de um A maior parte dos sistemas da APO utiliza
plano de objetivos em longo prazo (quinquenais o estabelecimento conjunto de objetivos: tanto
ou decenais) e os objetivos de cada gerente ou o executivo quanto o seu supervisor participa-
departamento, baseados nos objetivos anuais da rão do processo de estabelecimento e fixação de
empresa. objetivos. Essa participação varia conforme o sis-
A administração por objetivos é um proces- tema adotado, na maioria dos casos o supervisor
so pelo qual gerente, supervisor e subordinado de faz o trabalho preliminar, enquanto em outros os
uma organização identificam objetivos comuns, consultores externos fazem quase tudo.
definem as áreas de responsabilidade de cada

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Basicamente, a APO está fundamentada Na APO, há um ciclo que envolve as seguin-


no estabelecimento de objetivos por posições da tes etapas:
gerência. Os objetivos, em alto nível, podem ser
denominados objetivos, metas, alvos ou finalida- ƒƒ Fixação dos objetivos Globais da em-
des, porém a ideia básica é a mesma: determinar presa;
os resultados que um gerente, em determinado ƒƒ Elaboração do Planejamento Estratégi-
cargo, deve alcançar; frequentemente a APO de- co;
fine objetivos quantificados (numéricos) e com
ƒƒ Fixação dos Objetivos Departamentais
tempos predeterminados.
para o ano;
Sempre existe uma forma de correlacionar
ƒƒ Elaboração do plano tático do departa-
os objetivos de vários órgãos ou gerentes envolvi-
mento;
dos, mesmo que nem todos os objetivos estejam
apoiados nos mesmos princípios básicos. Essa ƒƒ Desdobramento do Plano Tático em
ligação é virtualmente automática, envolvendo Planos Operacionais;
objetivos comerciais com os de produção, por ƒƒ Avaliação dos resultados alcançados
exemplo, ou objetivos de um nível com os objeti- em comparação com os objetivos de-
vos dos níveis superiores e inferiores. partamentais;
A partir dos objetivos departamentais tra- ƒƒ Revisão nos Planos ou nos objetivos de-
çados, o executivo e o seu superior elaborarão os partamentais;
planos táticos adequados para alcançá-los da me- ƒƒ Avaliação dos recursos alcançados em
lhor maneira; assim, os planos táticos constituirão comparação com os objetivos departa-
os meios capazes de alcançar aqueles objetivos mentais.
departamentais. Como a APO enfatiza a quanti-
ficação, a mensuração e o controle, torna-se ne-
A maior parte dos sistemas da APO envol-
cessário mensurar os resultados atingidos e com-
ve mais o superior do que o subordinado. Há
pará-los com os resultados planejados. Somente
casos em que o superior estabelece os objetivos,
os resultados que podem ser mensurados podem
“vende-os”, mensura-os e avalia o progresso. Esse
ser aplicados a APO. Praticamente todos os siste-
processo frequentemente usado é muito mais
mas da APO possuem alguma forma de avalia-
controle por objetivos do que administração por
ção e de revisão regular do progresso efetuado,
objetivos.
através dos objetivos já alcançados e daqueles a
serem alcançados, permitindo que algumas pro-
vidências e novos objetivos sejam tomados.

5.5 Resumo do Capítulo

Caro(a) aluno(a), finalizamos aqui o aprendizado sobre a teoria contingencial e dos sistemas, os
tipos de sistemas: entropia, equifinalidade, mecanismos de feedback, homeostase, diferenciação, hierar-
quias, fronteiras e inputs e outputs. Cobrimos também a cibernética, administração estratégica e adminis-
tração por objetivos.

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5.6 Atividades Propostas

1. Qual a finalidade da Teoria Geral de Sistemas?

2. A Administração por Objetivos (APO) tem um ciclo que envolve algumas etapas. Cite quais são
essas etapas.

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6 TEMAS EMERGENTES

A administração atual traz alguns temas ex-


tremamente importantes, inerantes as empresas
contemporâneas; esses temas serão cobertos ao
longo deste nosso último capítulo.

6.1 Administração Participativa

A administração participativa existe desde a ƒƒ reuniões do gerente com sua equipe.


antiguidade e foi inventada pelos antigos gregos,
com o nome de democracia. No início do século
Inversamente, sempre que se organiza um
XX, os primeiros especialistas da administração
grupo para realizar alguma tarefa, é recomendá-
defendiam a participação dos funcionários no
vel dirigi-lo de forma participativa. Não há receitas
processo decisório e no controle de seu próprio
para a aplicação da Administração Participativa,
trabalho. Nos anos 1960, essas ideias evoluíram
esta é muito mais filosofia ou política de trabalho
e avançaram bastante. No começo da década de
do que técnica. Cada dirigente e empresa podem
1980, os japoneses contribuíram muito para di-
criar seus próprios métodos de administração
vulgar técnicas da participação aplicada à direção
participativa.
de empresas. Nos anos seguintes, essas técnicas
disseminaram-se em outras empresas de outros No sistema hierárquico, o chefe é dono do
países. grupo. No sistema participativo, o chefe assume o
papel de orientador, treinador, animador, planeja-
O trabalho de grupo é uma das ferramentas
dor e organizador de atividades, junto com a sua
mais importantes da administração participativa.
equipe. Ele passa a ser mais coordenador de equi-
Para praticar a administração participativa, nor-
pe (como maestro ou técnico esportivo) do que
malmente utiliza-se alguma forma de trabalho de
simples capataz de tarefas. Porém, a autoridade
grupo:
do cargo está presente em qualquer sistema de
administração.
ƒƒ equipes autogerenciadas;
Mesmo nos sistemas mais participativos,
ƒƒ círculos de qualidade; como conjuntos musicais, condomínios, clubes,
ƒƒ assembleias e reuniões; cooperativas e associações, a figura dos gerentes
ƒƒ grupos de trabalho; sempre é necessária. Administração participativa
ƒƒ equipes kaizen; não significa acabar com os gerentes.
ƒƒ comissões, conselhos deliberativos e Administrar participativamente não signi-
órgãos colegiados de forma geral; fica deixar de administrar. Ao contrário, uma vez
que aumenta o envolvimento do chefe com seus

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auxiliares e se amplia seu papel de coordenador A administração participativa também não


de equipe, o aprimoramento de sua competência resolve problemas cuja solução depende muito
técnica continua a ser importante. mais da competência técnica de um único indiví-
As pessoas, provavelmente a maioria, gos- duo que de uma multidão de pessoas interessa-
tam de tomar decisões por conta própria, assumir das, porém despreparadas.
responsabilidades e exercitar a iniciativa. Em sua
maioria, portanto, as pessoas preferem chefes e Saiba mais
ambientes de trabalho participativos.
Administrar participativamente não signi- Ela (a administração participativa) é um dos principais
fica abandonar as funções de chefia e liderança. ingredientes nas “receitas de excelência” das empresas
de classe mundial. Adotar a administração participati-
Disciplina, ordens, instruções e orientações con- va é uma mudança da postura que exige a aquisição
tinuam ser necessárias em qualquer regime de de novas habilidades e atitudes, e não simplesmente
administração. A administração não exclui o uso mudança de procedimentos. A experiência demons-
tra que é possível implantar rapidamente procedi-
da autoridade. mentos participativos. Por exemplo, é possível implan-
A responsabilidade final sempre é indivi- tar processos de planejamento participativo, círculos
dualizada. No regime participativo, todos com- de qualidade, grupos de kaizen, conselhos de repre-
sentantes eleitos de funcionários, ou câmaras setoriais,
partilham a responsabilidade, mas no final o líder de um dia para outro. Porém, normalmente é preciso
é sempre quem presta contas. tempo para o aprendizado.
Há problemas que exigem decisões unilate-
rais. Por exemplo: o parque público deve ser fre-
quentado pelos motoqueiros? No fim das contas,
Mesmo o chefe mais participativo deve es-
a prefeitura deverá decidir sozinha, correndo o
tar preparado para dizer não e explicar ao grupo
risco da impopularidade inerente a um problema
que há limites. “Ainda não descobri a fórmula do
desse tipo. Ou seja, a administração participativa
sucesso, mas já sei qual é a do fracasso: tentar
não funciona bem naqueles casos em que não se
agradar a todos”, disse o presidente Kennedy.
consegue decidir qual grupo deve participar.

6.2 Aprendizagem Organizacional

O tema Aprendizagem Organizacional con- O autor Kuethe (1974) define aprendizagem


siste na organização capaz de lidar com os pro- como um subproduto dos esforços de uma pes-
blemas de hoje e aproveitar as oportunidades soa para alcançar uma meta desejada ou de sua
do futuro. Imagine uma organização em que to- participação em uma atividade desejada. Normal-
dos falam e todos ouvem. Imagine uma organi- mente, a meta visada pela pessoa não é aprender,
zação capaz de aplicar novas teorias, técnicas e mas chegar ao estado de quem adquiriu certas
ferramentas, de gerar novos conhecimentos, de habilidades ou alcançou certos objetivos.
assimilar novos paradigmas, em suma, capaz de O artigo de Amorim (2004) Aprendizagem
acompanhar a mudança. Imagine uma empresa e conhecimento no mundo do trabalho apresenta
em que todos os seus membros caminham para o aprender como a capacidade de executar no-
o mesmo objetivo, em que todos se empenham vas condutas ou, ainda, de explicar a realidade
em aprofundar e expandir as suas capacidades de outra maneira, a partir de novas coerências
enquanto uma coletividade, enquanto um todo. e conexões, sendo que aprender é um processo
individual controlado por quem aprende. Ao que

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ensina, cabe propiciar condições adequadas à O artigo de Oliveira e Vanalle (2001) ainda
aprendizagem. faz um breve resumo acerca das principais teo-
Segundo Fleury e Fleury (1995), a aprendi- rias da aprendizagem que a definem como: a)
zagem é um processo de mudança, resultante de behaviorista (a aprendizagem ocorre através de
prática ou experiência anterior, que pode vir, ou estímulos e respostas que, consequentemente,
não, a manifestar-se em uma mudança perceptí- ocasionarão uma mudança no comportamento);
vel de comportamento. b) cognitiva (a aprendizagem ocorre quando o in-
divíduo busca algo novo em seus conhecimentos
antigos); c) construtivista (a aprendizagem ocorre
Atenção através da relação entre o indivíduo e o meio em
que vive); d) significativa (a aprendizagem ocorre
O autor Peter Senge (2003) afirma que o ser hu-
mano vem ao mundo motivado a aprender, ex- quando o indivíduo estabelece uma relação da
plorar e experimentar. Para o autor “as melhores nova informação com algo relevante para seu co-
organizações do futuro serão aquelas que desco-
nhecimento).
brirão como despertar o empenho e a capacida-
de de aprender das pessoas em todos os níveis Conforme as definições de aprendizagem
da organização.” desses autores, o aprendizado faz parte da natu-
reza humana e os seres humanos (isentos de pa-
O processo de aprendizagem é definido tologia mental ou física que os bloqueie) gostam
através de algumas características básicas, citadas de aprender algo novo, que instigue a mente e
pelo artigo de Oliveira e Vanalle (2001): a alma, que os desafie, desde que o processo de
aprendizagem seja concebido em um ambiente
ƒƒ processo dinâmico: a aprendizagem favorável.
não é um processo de absorção passiva A aprendizagem está relacionada com os
pois é realizada através da atividade do símbolos humanos ou o que “significa” para o ser
aprendiz, envolve a participação total e humano. Portanto, por seu intermédio, nós recria-
global do indivíduo, seus aspectos físi- mos, tornamo-nos capazes de fazer aquilo que
co, emocional, intelectual e social; não fazíamos antes, adquirimos uma nova visão
ƒƒ processo contínuo: desde o início da do mundo e da nossa relação com ele, ampliamos
vida, a aprendizagem está presente no nossa capacidade de fazer parte do processo de
cotidiano do ser humano; desenvolvimento humano.

ƒƒ processo global: a aprendizagem inclui O autor Peter Senge (2003) afirma que as
todos os aspectos motores, emocionais, organizações só aprendem através de indivíduos
ideativos e mentais do indivíduo; que aprendem e o aprendizado individual não
garante o aprendizado organizacional, mas sem
ƒƒ processo pessoal: ninguém aprende
ele não há como ocorrer aprendizado organiza-
por outrem. A aprendizagem é intrans-
cional.
ferível e individual. Cada indivíduo tem
seu ritmo de aprendizagem; A autora Maria C. S. Amorim (2004) faz críti-
ca à expressão “organizações que aprendem”, pois
ƒƒ processo gradativo: a aprendizagem
segundo a autora as pessoas aprendem e não as
não tem um fim em si, pois situações
organizações, mesmo que as primeiras aprendam
e experiências novas trazem outros co-
também a partir das experiências e situações pro-
nhecimentos para o homem;
piciadas pela organização.
ƒƒ processo cumulativo: ensinamentos
Argyris (1992) também traz uma definição
e experiências são acumulados com o
distinta sobre a aprendizagem organizacional.
objetivo de progressiva adaptação e
Para o autor trata-se do processo através do qual
ajustamento social.
os indivíduos da organização detectam erros e os

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corrigem ao reestruturar a teoria em uso da em- disseminar ou transferir o conhecimento para as


presa. O autor cita dois tipos de aprendizagem: várias áreas da organização (disseminação).
Segundo os autores Garvin et al. (1998), o
ƒƒ Aprendizagem em circuito único: apoia- aprendizado é algo corriqueiro na organização.
-se na habilidade de detectar e corrigir Ele ocorre continuamente em todas as empresas
o erro com relação a um dado conjunto duradouras. Entretanto, raramente é planejado e
de normas operacionais; administrado para que ocorra de maneira rápida,
ƒƒ Aprendizagem em circuito duplo: de- sistemática e alinhada aos objetivos estratégicos
pende da capacidade de olhar dupla- da empresa. Para esses autores algumas das ca-
mente a situação, ou seja, questionar racterísticas do aprendizado nas organizações
a relevância das normas de funciona- são:  
mento.
Dicionário
De acordo com Kolb (1990), a aprendizagem Corriqueiro: que circula habitualmente; corrente,
organizacional está inteiramente ligada a um ci- vulgar. No contexto da aprendizagem organiza-
clo vivencial de aprendizagem. Segundo o autor, cional, significa que é comum e trivial.
esse ciclo é caracterizado por uma interação entre
a ação e reflexão, assim como as experiências do ƒƒ aprendizado não é meramente reativo
passado e as atuais, através de um processo per- mas, sim, intencional, eficaz e conecta-
manente de feedback. Dessa maneira, o processo do ao objetivo e à estratégia da organi-
de aprendizagem organizacional pode ser esta- zação;
belecido através da relação dos seguintes passos:
ƒƒ aprendizado é oportuno, prevendo os
desafios, as ameaças e as oportunida-
ƒƒ experiência concreta; des, e não simplesmente reagindo às
ƒƒ observações e reflexões; crises;
ƒƒ formação de conceitos abstratos e ge- ƒƒ aprendizado cria flexibilidade e agilida-
neralizados; de para que a organização possa lidar
ƒƒ teste de implicações dos conceitos em com a incerteza;
novas situações. ƒƒ as pessoas se consideram capazes de
gerar continuamente novas formas de
criar os resultados que mais desejam;
Segundo menciona o artigo de Vasconcelos
e Felício (2001), para a aprendizagem organiza- ƒƒ as mudanças que caminham lado a lado
cional os indivíduos devem dispor de habilidades com o aprendizado criam raízes, em vez
para criar, adquirir e transferir conhecimentos, de serem transitórias.
além da capacidade de modificar seu comporta-
mento, de modo a refletir os novos conhecimen- Ao analisarmos as definições sobre apren-
tos e ideias. Para os autores, o processo de apren- dizagem organizacional, conforme as referências
dizagem organizacional envolve quatro estágios: dos autores já citados, podemos constatar que a
conscientização, compreensão, ação e análise. En- aprendizagem organizacional depende da apren-
tão, esses autores consideram que haja três tipos dizagem individual e o processo se dá em um am-
básicos de aprendizagem: aprender como me- biente que envolve todos os indivíduos de uma
lhorar o conhecimento organizacional existente organização, através da disseminação do conhe-
(aquisição); aprender a criar um novo conheci- cimento e experiências compartilhadas.
mento organizacional, ou seja, inovar (criação);

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O processo de aprendizagem organizacio- -lo, considerando os conceitos e definições das


nal pode ser facilitado e direcionado pela empre- dificuldades apresentadas pelos autores acima
sa. No entanto, a aprendizagem dar-se-á somente mencionados. Assim, conforme os autores Fleury
através dos indivíduos. Ainda que a organização e Fleury (1995) o modelo de aprendizagem orga-
adote modelos adequados ao processo de apren- nizacional implica em:
dizagem, seus planos podem ser frustrados,
quando não considerada a complexidade da na- ƒƒ superar o modelo taylorista de separa-
tureza humana e dos problemas da organização. ção entre os que pensam e os que exe-
Segundo Amorim (2004), um dos primeiros cutam; envolve um processo contínuo
problemas da aprendizagem nas organizações é de inovação e aprendizagem coletiva a
como obter as condutas consideradas adequadas ser realizado pelos indivíduos da orga-
aos objetivos empresariais, como coordenar um nização;
processo que é pessoal, particular, ao longo de ƒƒ inovar, qualificar, explicitar e comparti-
eventos coletivos, sob o controle da organização. lhar objetivos organizacionais; envolve
Para a autora, o drama da organização é encontrar comprometimento com o desenvol-
meios para controlar e induzir aprendizagem e vimento organizacional, que deve ser
conhecimento a serviço de seus objetivos, já que consistente com o desenvolvimento
o aprendizado é individual e particular. Conforme individual;
Amorim, o desenvolvimento de novas condutas ƒƒ formar gestores que desenvolvam habi-
pode ser entendido como o ampliar da capacida- lidades de autoconhecimento e conhe-
de da adaptação do indivíduo sob a perspectiva cimento da cultura organizacional.
da completude humana, ou seja, sem a limitação
de sua aprendizagem apenas ao desenvolvimen-
to de competências para a produtividade, permi- Segundo os autores Garvin et al. (1998),
tindo-lhe a percepção sobre a organização e o para adquirir qualidades pró-aprendizado, o mo-
mundo a sua volta. delo para as organizações que aprendem tem al-
A autora ainda ressalta a utilização de trei- gumas práticas diferenciadas, tais como:
namentos exclusivos com o uso de técnicas, que
desperdiçam recursos, os quais desconsideram a ƒƒ O cultivo de uma visão holística das coi-
complexidade da aprendizagem e, também, as sas, a qual faz com que as organizações
dificuldades em propiciar um ambiente de traba- complexas funcionem e as coisas que
lho e o modelo hierárquico propício à aprendiza- geram a mudança criem raízes, além de
gem, além da cultura, das condições de vida e da propiciar o uso da lógica dos sistemas
formação escolar como fatores que implicam no para diagnosticar necessidades e proje-
processo de aprendizagem individual e particular tar novas ações de modo que o apren-
dos seres humanos na organização. dizado seja eficaz e a mudança perma-
Os autores Fleury e Fleury (1995) reforçam nente;
esses conceitos, quando afirmam que aprendiza- ƒƒ Não reserva esses insights somente para
gem organizacional não envolve apenas a elabo- um pequeno grupo de pessoas em car-
ração de novos mapas cognitivos, possibilitando gos-chave. Sabe que somente com uma
uma melhora na compreensão do ambiente ex- participação ampla na geração do co-
terno e interno, mas também a definição de no- nhecimento e na criação da mudança é
vos comportamentos que confirmam a efetivida- possível criar o desejo e o entusiasmo
de do aprendizado. pela mudança contínua. O amplo en-
Ao apresentar modelos que buscam faci- volvimento também melhora a eficácia
litar a aprendizagem organizacional, fazemo- das ações porque insights múltiplos en-

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tram em ação e aumentam a flexibilida- ƒƒ Domínio pessoal: através do domínio


de e a agilidade da organização; pessoal, as pessoas aprendem a clarear
ƒƒ Patrocina programas para aperfeiçoar e aprofundar os seus objetivos. É capaz
e diversificar continuamente as capa- de esclarecer o que realmente é impor-
cidades dos funcionários e aumentar tante para o indivíduo, onde ele deve
a sua capacidade de mudar. As descri- concentrar as suas energias, como de-
ções de cargo são relativamente fluidas senvolver a paciência e como ver a rea-
e baseiam-se nas tarefas que precisam lidade de maneira objetiva;
ser executadas no momento; ƒƒ Modelos mentais: são ideias profun-
ƒƒ Tem plena consciência de que o apren- damente arraigadas, generalizações e
dizado organizacional ocorre por meio imagens que influenciam o modo das
de processos específicos e faz esforços pessoas encararem o mundo e as suas
explícitos e contínuos para melhorá-los.  atitudes. Os modelos mentais tornam-
-se espelhos, aprendendo a desenterrar
imagens interiores do mundo, trazen-
Para os autores, é necessário tornar explíci- do-as à superfície;
tos os processos de aprendizado, pois a partir dis-
ƒƒ Objetivo comum: consiste em objeti-
so a organização pode melhorar a capacidade da
vos, valores e compromissos que sejam
aprendizagem. Entre as ações mencionadas no
compartilhados em conjunto por mem-
artigo estão:
bros da organização. Se a organização
tem um objetivo comum, concreto e
ƒƒ Tornar o ambiente externo mais saudá- legítimo, seus membros dão tudo de si
vel para o aprendizado; e aprendem não por obrigação, mas es-
ƒƒ Melhorar a infraestrutura de aprendiza- pontaneamente;
do; ƒƒ Aprendizagem em grupo: as habilida-
ƒƒ Aperfeiçoar o conhecimento e as habili- des coletivas são maiores que as habili-
dades de aprendizado das pessoas. dades individuais. Através do diálogo, o
grupo poderá desenvolver várias ideias
relevantes para a organização. Quando
O trabalho de Vasconcelos e Felício (2001)
o grupo aprende, além de produzir re-
menciona que é cada vez maior o número de
sultados extraordinários, seus integran-
empreendedores e dirigentes organizacionais in-
tes se desenvolvem com maior rapidez
teressados em compreender e fortalecer a capa-
no sentido individual;
cidade de aprendizagem em suas organizações.
Para os autores essa preocupação com a apren- ƒƒ Raciocínio sistêmico: só é possível en-
dizagem abrange atividades e investimentos em tender um sistema observando-o como
pesquisa, treinamento, gestão, marketing, além um todo, não apenas uma de suas par-
da valorização de novos modelos gerenciais que tes. O negócio e outros trabalhos são
propiciem a capacidade criadora, a flexibilidade, sistemas que devem ser analisados em
o trabalho em equipe, o autodesenvolvimento e conjunto. Raciocínio sistêmico é uma
a autonomia. estrutura conceitual, uma integração
de conhecimentos e instrumentos com
De acordo com Senge (2003), para se obter
o objetivo de tornar mais claro esse
um método ou modelo eficiente, capaz de tornar
conjunto e mostrar modificações para
uma organização cada vez melhor no processo de
melhorá-lo. É considerada a quinta dis-
aprender, é preciso considerar cinco disciplinas,
ciplina, pois integra as demais, mos-
as quais devem trazer uma mudança na mentali-
dade do indivíduo:

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trando que o todo pode ser maior que a ƒƒ empatia: aprender a usar habilidades
soma de todas as partes isoladas. de pensar do ponto de vista da outra
pessoa ou examinar novas dimensões a
fim de estabelecer e reestabelecer rela-
O autor Mauro Martens (2002) menciona
cionamentos.
outras abordagens ou modelos do aprendizado
nas organizações. Ele faz referência ao trabalho
de Mcgill e Slocum, o qual aponta para cinco Sob a perspectiva dos parágrafos acima, é
comportamentos de aprendizagens essenciais possível constatar que há uma crescente preocu-
em organizações onde se dá o processo de apren- pação com o “aprender” nas organizações, no en-
dizagem: tanto, implementar modelos organizacionais que
facilitem a aprendizagem não é tarefa fácil, pois o
ƒƒ abertura: aumento da gama de pers- próprio aprender é complexo, além de ser parti-
pectivas, maximizando as experiências cular e individual.
e criando alternativas; Os modelos podem ser úteis e os princípios,
ƒƒ pensamento sistêmico: capacidade pertinentes. Entretanto, as organizações devem
de ver conexões entre eventos, assun- considerar a aprendizagem respeitando a indivi-
tos e detalhes de dados; dualidade e autonomia dos sujeitos no desenvol-
ƒƒ criatividade: sob a ótica da flexibilida- vimento do trabalho.
de ou interesse dos indivíduos em mu- A motivação das pessoas para o aprendiza-
dar comportamentos e situações e libe- do e resolução de problemas complexos é outro
rar a flexibilidade pessoal, sem medo do fator que deve ser levado em conta no proces-
fracasso; so de aprendizado, pois a “vontade” da natureza
ƒƒ eficácia pessoal: comportamento a humana pode mover ou estagnar o processo de
partir do qual os membros da organiza- aprendizagem, inclusive no ambiente organiza-
ção sentem que podem e devem apren- cional.
der a influenciar significativamente seu
mundo;

6.3 Empreendedorismo e Liderança

O empreendedorismo é um tema de inte- A experiência do sucesso do empreendi-


resse de diferentes profissionais, economistas, mento transforma o ambiente, a empresa e o pró-
administradores e cientistas sociais. Os que mais prio empreendedor, que passa a acreditar que há
avançaram nos estudos são os administradores algo diferente, algo maior do que os outros. O que
e economistas. A definição para empreendedor pode ameaçar o empreendimento é o medo de
está ligada a uma pessoa ousada, que traz resul- perder o status alcançado, experiência da maioria
tados, cria negócios e toma a iniciativa. dos empreendedores que fracassam.
Os empreendimentos, em algum momen- Ao longo da vida em algum momento as
to, carecem de algum tipo de monopólio, espe- pessoas são empreendedoras e a experiência
cialmente ao nascer. É nesse momento que o marca e transforma a pessoa de alguma maneira.
empreendedor consegue levantar barreiras que A psicologia do empreendedor é balanceada por
impeçam a entrada de competidores e, assim, ganhos e perdas: quanto mais perdemos, menos
fortalecer o negócio criado. temos confiança em empreender.

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A confiança e capacidade de julgamento do mente pelo dinheiro, mas pela experiência do


empreendedor pode ser definitiva para empreen- domínio, da admiração. Então, o empreendedor
der em determinado momento ou situação. O so- combina as mesmas coisas de maneira diferente,
nho, a visão, o espaço, a genialidade, o desprezo novas combinações, introdução de um novo pro-
pelas normas são fatores que podem impulsionar duto, novo método de produção, conquista fon-
os empreendedores. Ao tratarem do empreen- te de matéria-prima, abertura de novo mercado,
dedorismo, as teorias da administração admitem uma empresa que busca o monopólio ou a que-
esses fatores. bra de monopólio.
O empreendedor caminha paralelamente Segundo Kouzes e Posner (1996), liderança
ao líder até certo ponto, pois o empreendedor é relacionamento entre líder e seguidores. Um
é um realizador e, dependendo da situação, ele quadro completo da liderança somente pode ser
utiliza métodos agressivos e fora dos padrões e desenvolvido se perguntarmos aos seguidores o
condutas aceitáveis. No entanto, o líder com uma que eles buscam ou admiram em um líder. A pes-
visão atualizada, preocupa-se com a conduta e quisa dos autores mostra que a maioria das pes-
apoio do grupo ou da maioria, atento politica- soas quer líderes que sejam honestos, competen-
mente, diferente do empreendedor que pode uti- tes, visionários e inspiradores. Em resumo, Kouzes
lizar-se de qualquer método para obter o sucesso. e Posner (1996) dizem querermos líderes que te-
Definições de importantes autores sobre o nham credibilidade e um claro senso de direção.
assunto: Bergamini (1994) afirma que não existe ain-
da um consenso quanto à definição do fenômeno
ƒƒ Richard Cantillon: agente especial liderança, tão pouco, não é de se estranhar que a
dentro do capitalismo, árbitro, participa palavra liderança reflita coisas diferentes para di-
e se retira, imprevisível. ferentes pessoas. Assim sendo, os pesquisadores
ƒƒ Jean Baptiste Say: capacidade de frequentemente passam a definir liderança par-
avaliação, julgamento, percepção do tindo de uma perspectiva individual, ressaltando
cenário, visão da oportunidade. Ação aquele aspecto do fenômeno que seja mais signi-
humana, combinação de objetos apa- ficativo para eles.
rentemente sem conexão entre si, for- Yuki apud Bergamini (1994) faz uma revisão
mando um novo objeto, capacidade de nos trabalhos e pesquisas realizadas sobre o tema
inovação. liderança. Entre as principais definições estão:
ƒƒ Kirzner: alerta a atração de oportuni-
dades de lucro. ƒƒ Liderança é o comportamento de um
ƒƒ Schumpeter: produção de algo novo indivíduo quando está dirigindo as ati-
e revolucionário que empresta do que vidades de um grupo em direção a um
já existe para criar o novo. O sucesso objetivo comum (HEMPHILL; COONS,
depende da intuição, do que depois se 1957).
provará ser o certo, completar tarefas ƒƒ Liderança é um tipo especial de relacio-
que a maioria não tem ideia da existên- namento de poder caracterizado pela
cia, foco na oportunidade e nada mais. percepção dos membros do grupo no
sentido de que outro membro do gru-
po tem o direito de prescrever padrões
Os motivos para o empreendedor, apesar de comportamento na posição daque-
dos riscos, sonho e desejo de fundar seu próprio le que dirige, no que diz respeito à sua
“reino/dinastia”, provam-se superior aos demais. atividade na qualidade de membro do
Experimentar o sucesso, prazer de criar, exercitar grupo (JANDA, 1960).
energias e ingenuidade não passam necessaria-

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ƒƒ Liderança é influência pessoal, exercida redor de uma ideia, de um princípio, de


em uma situação e dirigida através do uma filosofia ou de um objetivo, espon-
processo de comunicação, no sentido taneamente (RODRIGUEZ apud LISBOA,
de alcançar um objetivo específico ou 2005).
objetivos (TANNENBAUM; WESCHLER;
MASSARIK, 1961).
Segundo Kotter (1992), a palavra ‘liderança’
ƒƒ Liderança é uma interação entre pes- é usada de duas maneiras básicas na conversa do
soas na qual uma apresenta informação dia a dia:
de um tipo e de tal maneira que os ou-
tros se tornam convencidos de que seus
ƒƒ Para se referir ao processo de mover um
resultados serão melhorados, caso se
grupo (ou grupos) de pessoas em algu-
comporte da maneira sugerida ou de-
ma direção através de meios (principal-
sejada (JACOBS, 1970).
mente) não coercitivos;
ƒƒ Liderança é o início e a manutenção da
ƒƒ Para se referir a pessoas que ocupam
estrutura em termos de expectativa e
posições onde se espera liderança (na
interação (STOGDILL, 1974).
primeira definição).
ƒƒ Liderança é o incremento da influência
sobre e acima de uma submissão mecâ-
nica com as diretrizes rotineiras da or- Na conversa normal, de acordo com o autor,
ganização (KATZ; KAHN, 1978). a segunda definição é a mais comum. No entan-
ƒƒ Liderança é o processo de influenciar to, Kotter trata a liderança quase sempre no pri-
as atividades de um grupo organizado meiro sentido, como um processo (não como um
na direção da realização de um objetivo grupo de pessoas). Conforme o autor, o emprego
(ROUCH; BEHLING, 1984). da expressão liderança “boa” ou “eficaz” tem ain-
da outros significados, que em sua maioria des-
tacam um ponto-chave. A “boa” e pura liderança
Outras definições de liderança, de autores move as pessoas em direção a seus verdadeiros
especialistas nos estudos organizacionais sobre o e melhores interesses a longo prazo, não leva as
tema são muito importantes: pessoas à beira de um precipício, não desperdiça
seus parcos recursos e não desenvolve o lado es-
ƒƒ Liderança é um relacionamento de in- curo da natureza humana das pessoas.
fluência entre líderes e liderados que Os modelos e estudos em liderança en-
têm por intenção verdadeiras mudan- volvem fatores comuns como a interação entre
ças e resultados que refletem seu pro- pessoas e a existência de influência intencional
pósito conjunto (ROST apud RAUSCH, por parte do líder sobre os liderados. No entan-
2004). to, esses pressupostos são tratados sob diferentes
ƒƒ Liderança é uma arte. E, na arte de li- enfoques, que serão abordados a partir de suas
derar, o instrumento do artista é o seu principais características.
próprio ser. Dominar a arte de liderar é Segundo Covey (2003), liderança reside
dominar a si próprio. Em última instân- em comunicar as pessoas seu valor de modo tão
cia, o desenvolvimento da liderança é claro que elas possam vê-lo como próprio. Essa
um processo de autodesenvolvimen- comunicação não deve ser feita apenas por um
to (KOUZES; POSNER apud MARINHO; indivíduo, mas pela cultura, pela organização em
JAYR, 2005). si, sua estrutura, os sistemas, o esquema de re-
ƒƒ Liderança é a capacidade de que um in- muneração, o processo de seleção, os planos de
divíduo possui de aglutinar pessoas ao capacitação e desenvolvimento. A liderança, con-

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forme Covey (2003), está baseada em princípios com certeza, os dois não sejam incom-
e voltada para a eficácia pessoal. O autor acredita patíveis – na verdade, nos dias de hoje,
ainda em oito princípios que tornam as pessoas ambos são cada vez mais necessários
mais eficazes e produtivas: em cargos gerenciais. No fundo, admi-
nistração é processo de planejar, orçar,
ƒƒ ser proativo; organizar e controlar alguma atividade
ƒƒ começar as coisas tendo um fim em através do emprego de técnicas (mais
mente; ou menos) científicas e de autoridade
formal.
ƒƒ estabelecer prioridades – o primeiro, o
segundo...; ƒƒ Esse tipo de liderança é também dife-
rente daquilo que muitas pessoas as-
ƒƒ pensar em ganhar;
sociam a espírito empreendedor. Os
ƒƒ procurar primeiro compreender e de- empreendedores bem-sucedidos são
pois ser compreendido; com frequência (nem sempre) muito
ƒƒ criar sinergia; independentes, obstinados e provincia-
ƒƒ afiar a serra ou preparar-se; nos, e, por isso, não se adaptam bem a
ƒƒ buscar a própria voz e inspirar outros a organizações complexas, exceto como
encontrar a sua independência. diretores-presidentes.
ƒƒ O tipo de liderança discutido pelo autor
não é do domínio exclusivo do diretor-
Kotter (1992) afirma que a liderança é um
-presidente ou da alta administração. É
assunto obscuro em que sobejam as opiniões.
encontrada, e cada vez mais necessária,
Contudo, é possível fazer algumas afirmações
em praticamente todos os níveis da hie-
básicas sobre o que ela é dentro do contexto da
rarquia das organizações. Sem ela, as
complexa organização moderna. As conclusões
empresas parecem ter dificuldade para
básicas do autor assim se resumem:
lidar com o ambiente de negócios com-
plexos e de grande intensidade compe-
ƒƒ A liderança eficaz para qualquer ativi- titiva.
dade em organizações complexas é o
ƒƒ A aparência real dessa liderança – que
processo de criar uma visão do futuro
envolva charutos e vozes ríspidas, can-
que leve em consideração legítimos
ções e cadillacs cor-de-rosa, quer en-
interesses a longo prazo das partes en-
volva algo bem menos importante que
volvidas nessa atividade. Além disso,
qualquer dessas coisas - varia muito
refere-se também ao desenvolver uma
em setores e níveis diferentes da em-
estratégia racional para se mover em
presa. As variações refletem um pouco
direção a essa visão, conquistar o apoio
o contexto específico envolvido – por
dos principais centros de poder cuja
exemplo, o tipo das pessoas, o tipo e a
cooperação, anuência ou trabalho de
escala das atividades. Em certo sentido,
equipe sejam necessários para produzir
a abordagem ou estilo associado à li-
esse movimento e motivar em alto grau
derança eficaz muitas vezes parece “se
esse grupo central de pessoas cujas
adaptar” à situação específica em que é
ações são fundamentais para implantar
encontrado.
a estratégia.
ƒƒ Nesse sentido, liderança em geral não
é a mesma coisa que aquilo a que cha-
mamos de “administração”, embora,

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Multimídia

Filme: A Rede Social


Direção: David Fincher
Sinopse: Em uma noite de outono em 2003, Mark Zuckerberg (Jesse Eisenberg), analista de sistemas graduado em
Harvard, se senta em seu computador e começa a trabalhar em uma nova ideia. Apenas seis anos e 500 milhões de
amigos mais tarde, Zuckerberg se torna o mais jovem bilionário da história com o sucesso da rede social Facebook.
O sucesso, no entanto, o leva a complicações em sua vida social e profissional.

Segundo Kouzes e Posner (1996), um con- participação desejada e real, as pessoas que têm
junto de estudos de pesquisa sobre liderança mais confiança nos líderes organizacionais são as
vem sendo conduzido nas três últimas décadas. mais satisfeitas com seu nível de participação.
Best-sellers recentes focalizam a liderança e líde- A visão de liderança estrutural reflete um
res. Entretanto, esse campo carece de consenso comportamento organizacional baseado no co-
exatamente sobre o que é liderança, como ela se nhecimento e decisões do líder, que procura
diferencia da gerência e se pode ser medida e de- orientar o processo de liderança pela execução
senvolvida. das tarefas e implementação das suas ideias e
estratégias. A visão estrutural, devido a sua cen-
ƒƒ Maquiavel – Manutenção do Poder tralização na figura do líder e orientação para as
através da Lei e da Força. tarefas, quando não efetiva, pode incorrer em
ƒƒ Teoria dos Traços – Características indi- comportamentos tirânicos e no comando desu-
viduais associadas ao Líder. mano.
ƒƒ Behaviorismo – Estilos de Liderança – A liderança focada nos recursos humanos
Autocrático – Democrático. influencia comportamentos voltados para as pes-
ƒƒ Teorias Situacionais – Contingenciais – soas. Segundo essa perspectiva a produtividade e
Situacional. o sucesso da empresa dão-se através das pessoas.
Os líderes que acreditam nessa visão tendem a
ƒƒ Teorias Transacionais – Influência no re-
gastar mais tempo com seus liderados, buscam
lacionamento entre líderes e liderados.
a participação das pessoas no processo decisório
ƒƒ Teoria Transformacional – Interação e fortalecem o poder de ação dos funcionários,
entre líderes e liderados: Emancipação- tendo-os como parceiros, ou seja, a serviço dos
-Moralidade-Motivação. seus liderados, como facilitadores. A não eficácia
ƒƒ Teoria da Atribuição – Percepção da desse modelo pode estar no fato do líder não ser
mente dos seguidores. responsável e abdicar de suas responsabilidades.
ƒƒ Liderança para o Serviço – bem-estar A visão da liderança como um sistema po-
do grupo – desejo de servir – Greenleaf. lítico entende o comportamento organizacional
como uma arena de persuasão, negociação e
coerção, se necessário. Os líderes políticos valo-
Conforme os autores, a confiança e a par-
rizam a construção de relacionamentos e a troca
ticipação organizacionais na tomada de decisão
de influências. A não eficácia desse modelo se
também estão ligadas. A confiança tem mostra-
dá através de relacionamentos manipuladores,
do ser o “previsor” mais significativo da satisfação
fraudulentos, em que o líder esconde seus reais
dos indivíduos com sua organização. Indepen-
propósitos e coage por palavras ou ações seus li-
dente do nível de participação de uma pessoa na
derados.
tomada de decisões e do ajuste entre os níveis de

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A liderança sob a visão simbólica entende poder autoritário, superior, intransponível e, em


a organização como um teatro, em que os perso- alguns casos, aquele que causa medo.
nagens recebem impressões que devem conduzir Todavia, várias pessoas de diferentes luga-
seu comportamento na empresa. Os líderes exer- res e organizações despertaram para uma outra
cem papéis heroicos e demonstram coragem ao realidade: a liderança possui outras caracterís-
assumirem riscos, comunicarem suas visões com ticas, diferenciando-se do tradicional modelo
convicção, demonstrarem com entusiasmo suas hierárquico. Ela, ao contrário da grande crença
experiências e capturarem atenção de seus lide- presente, existe para servir. Inverte-se, então, o
rados para suas histórias. Essa perspectiva de li- papel anteriormente determinado de que o líder
derança, quando não eficaz, idealiza o líder e cria deveria ser servido. Nesse modelo, o servir está
uma cortina de fumaça em torno de eventos e presente em duas vias, mas essencialmente, ele
pessoas que não são reais. deve estar disponível na liderança. Esse concei-
Ao refletirmos sobre as influências dos es- to traduz-se nas relações aprofundadas que se
tudos em liderança no comportamento organiza- criam, a partir do compromisso mútuo ou pro-
cional, podemos notar que visões mais abertas, pósito compartilhado entre as partes, da respon-
ou seja, ocasiões em que os liderados participam sabilidade pessoal, da influência que é exercida
do processo decisório e reconhecem a legitimi- ao invés da imposição, da motivação obtida pelo
dade do líder, o desenvolvimento das relações é respeito e da mudança que se processa com o
mais favorável ao ambiente, visto que os estudos passar do tempo. Para que ocorra essa evolução é
baseados nas características do “grande homem” necessária a aprendizagem constante, levando os
ou na visão estrutural já não são suficientes para membros do grupo a uma transformação pessoal.
tratar o contexto organizacional complexo que, Da hierarquia do organograma passa-se ao mo-
então, estabelece-se. delo circular, em cuja base está o relacionamento
Quantos aos estudos comportamentais, si- humano como o maior bem a ser cultivado.
tuacionais e transacionais, ou seja, as visões me- A liderança é exercida pelos vários mem-
nos estruturais, fatores que tendem a orientação bros do grupo, dependendo da circunstância e
para a tarefa ou para pessoas, agregados às con- da necessidade presentes. Portanto, é situacional.
siderações sobre as variáveis ambientais e contin- Cada pessoa pode, conforme a possibilidade, ser
genciais parecem ter maior adesão ao comporta- líder por determinado período e retornar ao seu
mento organizacional. lugar de seguidor. Há um líder, contudo, que cria
Um erro frequente de compreensão sobre oportunidades para que os seguidores atuem na
a liderança refere-se ao seu emprego associado liderança, e, inclusive, prepara-os para um dia da-
à posição de hierarquia. Sempre que o termo li- rem prosseguimento às atividades organizacio-
derança surge, ele rapidamente encaixa-se, men- nais. Ele não retém o conhecimento e a prática da
talmente, no ponto alto dos organogramas. Já se liderança, dividindo-os com os demais.
acostumou com esse tipo de ideia, e, portanto, Nessa perspectiva, ao se ter a pessoa como
qualquer outro conceito que se tente descrever figura central na vida da organização, surge um
é motivo para suspeita e forte resistência para re- novo desafio a ser observado: o gerenciamento.
fletir a respeito. Eis aqui outra forma errônea de se considerar a li-
O modelo de educação pelo qual as crian- derança, que não deve ser entendida como uma
ças são submetidas é carregado dessa percepção, posição para administrar os processos. A defini-
levando-as, posteriormente, a uma crença conse- ção para o gerenciamento que é compreendido
quente de que liderar é mandar. Ouve-se, inclu- pelo seu foco nos resultados, é vista a partir do
sive, a já conhecida frase: “Manda quem pode, planejamento, do orçamento, da organização,
obedece quem tem juízo”. Nesse tipo de cultura a da direção, do controle, da produção, da venda e
figura de um líder pode se configurar a partir do da estabilidade organizacional. Por outro lado, a

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liderança, cujo foco está nas pessoas, é observa- crescimento, inspiração e motivação dos colabo-
da pela criação de visão e estratégias, geração de radores na criação das mudanças.
cultura e valores comuns, colaboração quanto ao

6.4 Benchmarking

Os japoneses têm uma palavra chamada Benchmarking é um processo contínuo de


“dantotsu” que significa lutar para tornar-se o comparação dos produtos, serviços e práticas
“melhor do melhor”, com base em um processo empresariais entre os mais fortes concorrentes
de alto aprimoramento que consiste em procurar, ou empresas reconhecidas como líderes. É um
encontrar e superar os pontos fortes dos concor- processo de pesquisa que permite realizar com-
rentes. parações de processos e práticas “companhia a
Esse conceito enraizou-se numa nova abor- companhia” para identificar o melhor do melhor e
dagem de planejamento estratégico. Durante a alcançar um nível de superioridade ou vantagem
última década, ele tem produzido resultados im- competitiva. 
pressionantes em companhias como a Xerox, a
Ford e a IBM e é conhecido como benchmarking.

Benchmarking é... Benchmarking não é...

um processo contínuo. um evento isolado.


uma investigação que fornece respostas simples e
uma investigação que fornece informações valiosas.
“receitas”.
um processo de aprendizado com outros. cópia, imitação.
um trabalho intensivo, consumidor de tempo, que
rápido e fácil.
requer disciplina.
uma ferramenta viável a qualquer organização e
mais um modismo da administração.
aplicável a qualquer processo.

Benchmarking surgiu como uma necessida- Na aplicação do benchmarking, como todo o


de de informações e desejo de aprender depres- processo, é preciso respeitar e seguir algumas re-
sa, como corrigir um problema empresarial.  gras e procedimentos para que os objetivos sejam
A competitividade mundial aumentou alcançados e exista uma constante melhoria do
acentuadamente nas últimas décadas, obrigan- mesmo. Nesse processo existe um controle cons-
do as empresas a um contínuo aprimoramento tante desde sua implantação (plano do processo)
de seus processos, produtos e serviços, visando até a sua implementação (ação do processo).
oferecer alta qualidade com baixo custo e assu- A empresa interessada em implantar bench-
mir uma posição de liderança no mercado em marking deve analisar os seguintes fatores: ramo,
que atua. Na maioria das vezes, o aprimoramento objetivo, amplitude, diferenças organizacionais e
exigido, sobretudo pelos clientes dos processos, custos, antes da definição ou aplicação do melhor
produtos e serviços, ultrapassa a capacidade das método, pois cada empresa individualmente tem
pessoas envolvidas, por estarem elas presas aos as suas necessidades que devem ser avaliadas an-
seus próprios paradigmas. tecipadamente à aplicação do processo. 

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Outra vantagem do benchmarking é a mu- pois essa busca das melhores práticas é um traba-
dança da maneira de uma organização pensar lho intensivo, consumidor de tempo e que requer
sobre a necessidade para melhoria. Benchmar- disciplina. Portanto, benchmarking é uma escola
king fornece um senso de urgência para melho- em que se aprende a aprender.
ria, indicando níveis de desempenho atingidos Saber fazer e adaptar benchmarking no
previamente em um processo de parceiro do es- processo da organização pode nos permitir vis-
tudo. Um senso de competitividade surge à me- lumbrar oportunidades e também ameaças com-
dida que uma equipe reconhece oportunidades petitivas, constituindo um atalho seguro para a
de melhorias, além de suas observações diretas, e excelência, com a utilização de todo um trabalho
os membros da equipe tornam-se motivados a se intelectual acumulado por outras organizações,
empenhar por excelência, inovação e aplicação evitando os erros e armadilhas do caminho.  
de pensamento inovador a fim de conseguir sua Mais do que uma palavra mágica, o bench-
própria melhoria de processo.  marking é um conceito que está alterando con-
É necessário que as organizações que bus- sideravelmente o enfoque da administração, em
cam o benchmarking como uma ferramenta de que o mesmo é composto de atributos que deter-
melhoria, assumam uma postura de “organiza- minarão o sucesso ou ainda a sobrevivência das
ção que deseja aprender com os outros” para que empresas.
possam justificar o esforço investido no processo,

6.5 Empowerment

O empowerment é uma alternativa geren- Todo o espírito de equipe conseguido até então,
cial com ênfase no comprometimento e engaja- perde-se.
mento do pessoal, que permite contratar, treinar Pode-se concluir que esses dois tipos de ge-
e remunerar funcionários para tomarem decisões rentes estão longe de ser o tipo ideal para qual-
baseadas em informações, recursos e apoio. É dar quer empresa, com ou sem empowerment. O con-
aos mesmos autoridade e habilidade para mudar junto das empresas brasileiras está repleto deles.
a maneira como eles fazem seu trabalho.
O gerente ideal é o gerente institucional.
Para tornar o empowerment uma realida- Esse gerente consegue motivar seus subordina-
de, a empresa deve reconhecer que é necessário dos, dando-lhes responsabilidades e conseguin-
delegar poder de decisão e responsabilidade aos do criar espírito de equipe. Com isso, os funcioná-
funcionários. rios tornam-se leais à empresa e não à sua pessoa
Será que nossos gerentes estão preparados em particular. 
para essa nova forma de administração? No Bra- Sobre a ótica do empowerment, o gerente
sil encontramos muitos gerentes paternalistas e institucional é indispensável, pois sua definição
motivados pelo poder pessoal. Enquanto os pa- básica é reconhecer o valor dos funcionários e
ternalistas estão despreocupados com o compor- delegar-lhes suficiente poder de decisão e res-
tamento de equipe e preferem centralizar todo ponsabilidade, para que possam desempenhar
o poder sob suas asas, os motivados pelo poder as suas tarefas e resolver todo tipo de problema
podem gerar um forte espírito de equipe, além por conta própria. Conseguir isso sem trabalho de
de produzir um alto nível de lealdade. Lealdade equipe e sem equipes autodirigidas é impossível. 
essa, que não está dirigida a empresa e sim, a si
O empowerment será uma realidade no
mesmos. Quando um gerente desse tipo deixa
Brasil quando houver uma séria reformulação do
o cargo, segue-se uma grande desorganização.
conceito de gerência: acabar com a insegurança

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quanto ao ato de delegar funções, aumentar a ca- têm para influir e afetar a escolha final a
pacidade gerencial, dar maior credibilidade e trei- ser feita pelo tomador de decisão.
namento aos funcionários para que os mesmos ƒƒ O processo se dilui por todas as dire-
se tornem membros participantes da empresa e ções da organização – lateral, de cima
não só mão de obra desqualificada. A ideia de es- para baixo e de baixo para cima. O
trutura hierarquicamente constituída passa a ser executivo pode, por exemplo, compro-
substituída pela de uma célula. Nessa nova estru- meter os membros de sua equipe nas
tura (caótica e organizada), todos se encontram decisões que lhe são afetas. Um cola-
fazendo suas tarefas e ajudando uns aos outros. borador pode influir na percepção que
Equipe autodirigida é isso.  tem de determinado problema, ou um
Para que isso se torne realidade, é necessá- outro colaborador pode e deve influen-
ria uma redefinição do poder nas empresas. Seria ciar a decisão que lhe foi delegada por
necessário, também, que a organização investisse sua liderança. 
na capacidade da equipe em resolver problemas.
Isso só é possível através da qualificação e treina-
Em qualquer equipe pode haver diferentes
mento dos mesmos – os empresários devem co-
complexos de interação para a tomada de deci-
meçar a pensar em capital intelectual. 
são. A decisão pode ser o eu-sozinho, o eu-com-
As organizações dinâmicas estimulam os -alguns, alguns-com-todos, ou mesmo todos-
seus colaboradores a participarem do proces- -com-todos. Tudo vai depender da legitimidade e
so decisório. Isso, no entanto, não significa que do consenso que o decisor ou decisores têm para
eles sempre tenham autoridade para tomar as a tomada de decisão. A equipe, em cada situação
decisões estratégicas. É preciso diferenciar entre específica, é que legitima a decisão tomada, quer
delegação da autoridade para tomar decisões e seja apenas do executivo sozinho, com a partici-
o empowerment dos empregados. O líder de uma pação de alguns, ou de todos. O ambiente de tra-
organização dinâmica deve saber distinguir os balho democrático não decorre de quem decide,
dois conceitos e operar em função deles:  mas de como as decisões são tomadas e, portan-
to, qual o seu nível de consenso e legitimidade
ƒƒ Delegação é o ato de transferir a alguém entre os membros da equipe. A natureza da inte-
dentro da organização a autoridade ração entre os participantes da equipe é recípro-
para tomar decisões. Geralmente, é de- ca. Ninguém consegue genuinamente envolver e
legada uma tarefa ou atribuição especí- comprometer outrem em um processo decisório
fica por um determinado tempo a uma sem compreender e discutir as suas opiniões e
pessoa ou equipe particular. Realizada sugestões; assim como ninguém pode se sentir
a delegação, o executivo deve apoiar as  envolvido e comprometido com o que for decidi-
decisões resultantes das tarefas delega- do, se o tomador de decisões não estiver aberto e
das, a não ser que a organização corra receptivo às observações que lhe são feitas pelos
sérios riscos,  caso  não  possa  absorver demais. 
os eventuais equívocos que venham a Construir um ambiente democrático de tra-
ser cometidos. balho, propício à participação, requer o estabele-
ƒƒ Empowerment é o processo pelo qual cimento e a manutenção continuada de atitudes
os colaboradores participam e influen- e comportamentos de mútuo respeito entre as
ciam todo o processo decisório, mas partes. O participante precisa agregar competên-
não se responsabilizam necessariamen- cia à equipe ou exibir uma folha de serviços rele-
te pelas decisões estratégicas. vantes ao processo decisório grupal. O executivo,
ƒƒ O poder dos participantes no processo em contrapartida, precisa valorizar a participação
deriva do valor que suas contribuições

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de cada  um  e estar disponível para utilizar, sem- Como etapa final de implementação de um
pre que possível, as contribuições recebidas.  processo decisório democrático em equipe, os
Desde que o executivo esteja aberto à parti- participantes, naturalmente, não só devem apoiar
cipação, os membros das equipes devem decidir as decisões tomadas, mas também, reafirmar leal-
se estão dispostos e se são capazes de oferecer dade ao executivo e a toda a equipe, fixando no-
reais contribuições ao processo decisório grupal.  vas etapas de aprofundamento das interações em
O papel do executivo é ouvir, avaliar as in- jogo.
formações e contribuições que obteve e tomar as Construir um ambiente de trabalho demo-
decisões que lhe competem. Já que tem a última crático e participativo pode ser longe, cansativo
palavra nas decisões estratégicas, o executivo tem e custoso. Frequentemente, requer melhoria dos
a responsabilidade de explicar plena e respeitosa- níveis de educação, treinamento, aconselhamen-
mente aos participantes de sua equipe as razões to, consultoria e gestão do conjunto da equipe
que o levaram a seguir por um caminho em de- e de seus integrantes individualmente. Mas, em
trimento de outros. Se as explicações não forem contrapartida, também oferece excelentes retri-
claras e convincentes, é melhor que o executivo buições e retornos.
se prepare para a perda de participação de seus
subordinados nas tomadas de decisão futuras.

6.6 Resumo do Capítulo

Caro(a) aluno(a), neste capítulo estudamos a administração participativa, aprendizagem organiza-


cional, empreendedorismo e liderança, benchmarking e empowerment.
Vamos agora verificar seu nível de assimilação ao conteúdo estudado.

6.7 Atividades Propostas

1. O processo de aprendizagem organizacional é definido através de algumas características bá-


sicas. Quais são essas características?

2. Defina empowerment e como este pode se tornar realidade nas organizações.

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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Prezado(a) aluno(a), o intuito desta apostila foi apresentar os conceitos básicos da Administração,
definindo o significado dessa ciência e de seus processos. Analisamos também o papel do administrador
e suas principais atribuições no âmbito da organização.
Verificamos como o advento da Sociedade Industrial influiu na evolução da Teoria Administrativa
e ainda apresentamos os principais autores da Escola Clássica da Administração, destacando como suas
teorias, elaboradas no auge das mudanças ensejadas pela industrialização, conferem às tarefas o status
de questão central para a administração.
Estudamos as teorias e abordagens que não estão incluídas na Escola Clássica da Administração.
Iniciamos essa abordagem com a Escola das Relações Humanas, cujos autores se distinguem de Taylor,
Fayol, Ford e Weber por sua ênfase nas pessoas, e não na tarefa ou na estrutura. Finalmente, vimos o sur-
gimento de novas ideias no campo da Administração, consequência das mudanças ocorridas na década
de 1950, após a Segunda Guerra Mundial.
Espero que você tenha tido um bom proveito. Até a próxima!

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RESPOSTAS COMENTADAS DAS
ATIVIDADES PROPOSTAS

CAPÍTULO 1
1. Prezado(a) aluno(a), foi solicitado que definisse alguns termos importantes em Administração.
Vamos a eles:
Teoria é uma representação abstrata do que se percebe da realidade. São explicações, interpre-
tações ou proposições sobre a realidade.
Administração é o processo de tomar e colocar em prática decisões sobre objetivos e utilização
de recursos.
Recursos: pessoas, informação, espaço, tempo, dinheiro, instalações.
Decisões: planejamento, organização, execução e direção, controle (também conhecidos como
Princípios da Administração).
Objetivos: resultados esperados.
Funções Administrativas: planejamento, organização, execução e controle.
Teorias da Administração são conhecimentos organizados, produzidos pela experiência prática
das organizações.
Escolas: é uma linha de pensamento ou conjunto de autores que usaram o mesmo enfoque
para analisar e tratar a administração.
Modelos de Gestão: conjunto de doutrinas e técnicas, como, por exemplo, modelo japonês de
administração.
Modelos de Organização: produto da adoção de determinado modelo de gestão, por exemplo,
mecanicista, comportamental etc.

2. As abordagens das Teorias da Administração podem ser classificadas quanto a sua ênfase:
ƒƒ nas tarefas;
ƒƒ na estrutura organizacional;
ƒƒ nas pessoas;
ƒƒ no ambiente;
ƒƒ na tecnologia.

3. Caro(a) aluno(a), a força do sindicalismo gerou leis de proteção ao trabalhador e, associada ao


pensamento socialista desenvolvido no século XlX, por Karl Marx e Friedrich Engels, acabou
por obrigar o capitalista a redistribuir a alocação dos recursos (materiais versus humanos) e,
portanto, a procurar, na otimização do uso dos recursos, novos métodos e processos de racio-
nalização do trabalho, processos estes que metodicamente expostos coincidem com o início
do século XX.

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4. Atualmente, o Administrador, além de permanentemente atualizado com as mais modernas


técnicas de gestão e sintonizado com as mudanças do mundo, deve estar preparado também
para atuar em todas as formas organizacionais, desde associações de bairros, cooperativas,
pequenas empresas, organizações sem fins lucrativos, não governamentais, culturais etc.,
além das tradicionais grandes empresas comerciais e industriais.

CAPÍTULO 2
1. Prezado(a) aluno(a) os quatro princípios considerados de fundamental importância nas Teo-
rias da Administração são:
a) Planejamento;
b) Organização;
c) Direção;
d) Controle.

2. Uma das definições mais comumente utilizada para “organização” foi feita por Chiavenato
(1997, p. 16):
Uma função administrativa através da qual a empresa reúne e integra os seus recursos, define
a estrutura de órgãos que deverão administrá-los, estabelece a divisão de trabalho através da
diferenciação, proporciona os meios de autoridade e de responsabilidade e, assim por diante.
A organização representa, no fundo, todos aqueles meios que a empresa utiliza para pôr em
prática o planejamento, o controle e a avaliação para atingir os seus objetivos.

3. As Teorias da Administração fornecem o pano de fundo para a compreensão do papel do


administrador. Tornar-se-á mais fácil, acredita-se, entender a sua importância e complexidade
e como o profissional de administração está inserido nesse processo, quais os desafios e as
responsabilidades com que se defronta e as perspectivas para a sua atuação futura. Tem tam-
bém por objetivo esclarecer que a tarefa do administrador deverá envolver cinco áreas (ta-
refas, pessoas, estrutura, ambiente e tecnologia); enfatizar que o administrador deve possuir
conhecimentos nessas áreas específicas, a fim de desempenhar adequadamente sua missão;
mostrar que o trabalho do administrador é complexo, dele exigindo constante aperfeiçoa-
mento; que não se pode e nem se deve esperar respostas definitivas, fórmulas para a solução
de problemas e respostas para todas as dúvidas.

CAPÍTULO 3
1. Um dos problemas mais básicos da administração moderna é que a forma mecânica de pensar
está tão arraigada nas nossas concepções diárias de organização que é frequentemente muito
difícil organizá-la de outra forma. Nesta questão você pode explorar fatores como excessiva
burocratização leva a uma situação de engessamento dos processos, das decisões.

2. Dentre várias podemos citar como principais críticas: com o mecanismo, não houve preocu-
pação com o elemento humano; com a superespecialização do operário, e o fracionamento
das tarefas, a execução tornou-se totalmente padronizada e com a visão microscópica do ho-
mem, considerava-se o empregado individualmente, esquecendo que ele é um ser social.

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Teorias da Administração

CAPÍTULO 4
1. Alguns princípios foram fundamentais para originar a Teoria das Relações Humanas, como,
por exemplo: a necessidade de humanizar e democratizar a administração, libertando-a dos
conceitos rígidos e mecanicistas da Teoria Clássica e adequando-a aos novos padrões de vida
do povo americano; desenvolvimento das chamadas ciências humanas, principalmente a psi-
cologia e a sociologia; as ideias da filosofia pragmática de John Dewey e da Psicologia Dinâ-
mica de Kurt Lewin foram capitais para o humanismo na administração; as conclusões da Ex-
periência em Hawthorne, desenvolvida entre 1927 e 1932, sob a coordenação de Elton Mayo.

2. Caro(a) aluno(a), nesta questão você pode citar a Negação do conflito empresa-funcionário;
a restrição de variáveis e da amostra (pesquisa feita em fábricas); a concepção utópica (visão
idealizada de um funcionário feliz e integrado ao ambiente de trabalho); ênfase excessiva nos
grupos informais; ausência de novos critérios de gestão; não apresentou uma visão socioeco-
nômica realista das relações empresa-funcionário.

CAPITULO 5
1. A Teoria Geral dos Sistemas tem por finalidade identificar as propriedades, princípios e leis
característicos dos sistemas em geral, independentemente do tipo de cada um, da natureza
de seus elementos componentes e das relações entre eles. De acordo com o autor, existem
certos modelos ou sistemas que, independentemente de sua especificidade, são aplicáveis a
qualquer área de conhecimento. Tais modelos impulsionariam uma tendência em direção a
teorias generalizadas.

2. A APO envolve as seguintes etapas: fixação dos objetivos globais da empresa; elaboração do
planejamento estratégico; fixação dos objetivos departamentais para o ano; elaboração do
plano tático do departamento; desdobramento do plano tático em planos operacionais; ava-
liação dos resultados alcançados em comparação com os objetivos departamentais; revisão
nos planos ou nos objetivos departamentais; avaliação dos recursos alcançados em compara-
ção com os objetivos departamentais.

CAPÍTULO 6
1. O processo de aprendizagem é definido através de algumas características básicas, citadas
pelo artigo de Oliveira e Vanalle (2001):
ƒƒ processo dinâmico: a aprendizagem não é um processo de absorção passiva pois é reali-
zada através da atividade do aprendiz, envolve a participação total e global do indivíduo,
seus aspectos físico, emocional, intelectual e social;
ƒƒ processo contínuo: desde o início da vida, a aprendizagem está presente no cotidiano do
ser humano;
ƒƒ processo global: a aprendizagem inclui todos os aspectos motores, emocionais, ideativos
e mentais do indivíduo;
ƒƒ processo pessoal: ninguém aprende por outrem. A aprendizagem é intransferível e indivi-
dual. Cada indivíduo tem seu ritmo de aprendizagem;
ƒƒ processo gradativo: a aprendizagem não tem um fim em si, pois situações e experiências
novas trazem outros conhecimentos para o homem;

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ƒƒ processo cumulativo: ensinamentos e experiências são acumulados com o objetivo de pro-


gressiva adaptação e ajustamento social.

2. O empowerment é uma alternativa gerencial com ênfase no comprometimento e engajamen-


to do pessoal, que permite contratar, treinar e remunerar funcionários para tomarem decisões
baseadas em informações, recursos e apoio. É dar aos mesmos autoridade e habilidade para
mudar a maneira como eles fazem seu trabalho. Para tornar o empowerment uma realidade, a
empresa deve reconhecer que é necessário delegar poder de decisão e responsabilidade aos
funcionários.

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