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A Arte e o Cérebro no Processo da

Aprendizagem

FACILITANDO A APRENDIZAGEM

Com as recentes pesquisas sobre o funcionamento do cérebro, a Teoria das


Inteligências Múltiplas, a avaliação das aptidões cerebrais dominantes, e
técnicas que foram criadas para acelerar a aprendizagem, tornou-se muito
mais fácil aprender e gravar na memória o que estudamos.
Psicólogos, neurologistas e pesquisadores vêm escrevendo os resultados
desses estudos, esclarecendo-nos e deixando-nos entusiasmados com os
resultados obtidos por quem utiliza essas técnicas.

O LADO DIREITO DO CÉREBRO

A grande maioria das pessoas foi acostumada a pensar e agir de acordo com o
paradigma cartesiano, baseado no raciocínio lógico, linear, seqüencial,
deixando de lado suas emoções, a intuição, a criatividade, a capacidade de
ousar soluções diferentes.
António Damásio, respeitado e premiado neurologista português, radicado nos
Estados Unidos e com muitos trabalhos publicados, em seu recente livro O erro
de Descartes, afirma que “o ponto de partida da ciência e da filosofia deve ser
anti-cartesiano: "existo (e sinto), logo penso”.

A visão do homem como um todo, é a chave para o desenvolvimento integral


do ser.

Utilizando mais o hemisfério esquerdo, considerado


racional, deixamos de usufruir dos benefícios contidos
no hemisfério direito, como a imaginação criativa, a
serenidade, visão global, capacidade de síntese e
facilidade de memorizar, dentre outros.

Através de técnicas variadas poderemos estimular o


lado direito do cérebro e buscar a integração entre os
dois hemisférios, equilibrando o uso de nossas
potencialidades.
Uma dessas técnicas consiste em fazer determinados
desenhos, de forma não convencional, de modo que o
hemisfério esquerdo ache a tarefa enfadonha e desista
Mandala - Autora: Iraci de exercer o controle total, entregando o cargo ao
Santana.
hemisfério direito, que se delicia com o exercício.
O uso de música apropriada que diminui o ritmo cerebral, também contribui
para que haja equilíbrio no uso dos hemisférios cerebrais.
Há pesquisadores que sugerem a música barroca, especialmente o movimento
“largo”, que causa as condições propícias para o aprendizado. Ela tem a
mesma freqüência que um feto escuta e nos direciona automaticamente ao
lado direito do cérebro, fazendo com que as informações sejam gravadas na
memória de longo prazo.

Músicas para relaxamento, como as “new age”, surtem os mesmos efeitos.


Nossa mente regula suas atividades através de ondas elétricas que são
registradas no cérebro, emitindo minúsculos impulsos eletroquímicos de
variadas freqüências, podendo ser registradas pelo eletroencefalograma.
Essas ondas cerebrais são conhecidas como:

Beta, emitidas quando estamos com a mente consciente, alerta ou


nos sentimos agitados, tensos, com medo, variando a freqüência de 13 a 60
pulsações por segundo na escala Hertz;

Alfa, quando nos encontramos em estado de relaxamento físico e


mental, embora conscientes do que ocorre à nossa volta, sendo a freqüência
em torno de 7 a 13 pulsações por segundo;

Teta, mais ou menos de 4 a 7 pulsações, é um estado de


sonolência com reduzida consciência; e

Delta, quando há inconsciência, sono profundo ou catalepsia,


emitindo entre 0,1 e 4 ciclos por segundo.

As duas últimas são consideradas patológicas.


Geralmente costumamos usar o ritmo cerebral beta. Quando diminuímos o
ritmo cerebral para alfa, nos colocamos na condição ideal para aprendermos
novas informações, guardarmos fatos, dados, elaborarmos trabalhos difíceis,
aprendermos idiomas, analisarmos situações complicadas.
A meditação, exercícios de relaxamento, atividades que proporcionem
sensação de calma, também proporcionam esse estado alfa.
De acordo com neurocientistas, analisando eletroencefalogramas de pessoas
submetidas a testes para pesquisa do efeito da diminuição do ritmo cerebral, o
relaxamento atento ou o profundo, produzem aumentos significativos de beta-
endorfina, noroepinefrina e dopamina, ligados a sentimentos de clareza mental
ampliada e de formação de lembranças, e que esse efeito dura horas e até
mesmo dias. É um estado ideal para o pensamento sintético e a criatividade,
funções próprias do hemisfério direito.
Como é fácil para este hemisfério criar imagens, visualizar, fazer associações,
lidar com desenhos, diagramas e emoções, além do uso do bom humor e do
prazer, o aprendizado será melhor absorvido se estes elementos forem
acrescentados à forma de se estudar.
USO INTEGRAL DO CÉREBRO

O ideal é que nos utilizemos de todo o potencial do cérebro, riquíssimo,


surpreendente!
Quando levamos uma vida inteira exercitando quase que só as funções do
hemisfério esquerdo, ou só o lado direito, ocorrem as doenças cerebrais
degenerativas, tão temidas, como o mal de Alzheimer, por exemplo.
Necessitamos, portanto, estimular as diversas áreas do nosso cérebro,
ajudando os neurônios a fazerem novas conexões, diversificando nossos
campos de interesse, procurando nos conhecer melhor para agirmos com
maior precisão e acerto.

Howard Gardner, o psicólogo americano criador da Teoria das Inteligências


Múltiplas, identificou inicialmente sete tipos de inteligência no ser humano que
são estimuladas e expressas de formas diferentes, de acordo com cada
pessoa. São elas:

• verbal/linguística;
• lógica/matemática;
• musical; corporal/cinestésica;
• visual/espacial;
• interpessoal;
• intrapessoal.

Atualmente foi acrescentada a inteligência naturalista e a existencial, estando


esta última ainda em estudo.
A Teoria das Múltiplas Inteligências deverá ser aplicada não apenas com os
diversos indivíduos, para atingir cada pessoa, de acordo com o seu ponto de
interesse, mas em nós mesmos, buscando desenvolver cada tipo de
inteligência que trazemos em estado latente.

Foi desenvolvido nos Estados Unidos um sistema de avaliação das aptidões


cerebrais dominantes, utilizado também por alguns escritores nacionais e que
mostra com clareza quais as áreas do cérebro que damos maior preferência e,
daí, é feito um perfil psicológico da pessoa, sua maneira de agir na vida, qual o
lugar de sua preferência numa sala de aula, como melhor aprende, etc. A esse
resultado, temos acrescentado outros elementos, dentro de uma visão holística
do ser humano, que tem ajudado bastante as pessoas.

Conhecendo as áreas que são mais estimuladas, passa-se então a praticar


uma série de exercícios para ativar as regiões menos utilizadas, de modo que,
com o passar do tempo, nossa capacidade de agir como um ser humano
integral estará bastante aprimorada.
Seremos lógicos e intuitivos, práticos e sonhadores, racionais e emotivos,
seguiremos os padrões vigentes e utilizaremos a nossa criatividade, teremos
“os pés no chão e a cabeça nas estrelas”... Seremos, enfim, do céu e da terra,
captando todos os ensinamentos com facilidade, independente da faixa etária.
Isto nos tornará muito mais capazes e autoconfiantes.
EXPERIÊNCIA COM O HEMISFÉRIO DIREITO

Desde 1992, quando


iniciamos a coordenar o
curso DLADIC –
Desenvolvimento do lado
direito do cérebro, onde
utilizamos o desenho como
pretexto para atingir os
nossos objetivos, que vimos
nos surpreendendo com o
manancial riquíssimo que
possuímos, armazenado em
nosso cérebro, aguardando
as condições propícias para
se manifestar.
Nesse período, passaram
pelo curso mais de trezentas
pessoas. Cada uma com um
Figura humana de imaginação (acima) e, à direita, de interesse diferente, com uma
observação. motivação própria.
Autora: Nazareth Bastos, 1993. Quase todas, nos primeiros
contatos, afirmavam ser
incapazes de fazer qualquer
tipo de desenho, de criar
alguma coisa, de prestar
atenção ou se concentrar em
algo.
No decorrer do processo de
desbloqueamento, essas
pessoas iam ficando
surpresas com os resultados
visíveis nos seus trabalhos
artísticos e com a descoberta
de uma nova forma de ver o
mundo e de ver-se a si
mesmas.
Um dos primeiros exercícios
é o de atenção,
concentração, meditação.
Utilizando uma folha de
papel tamanho ofício, sem
tirar o lápis do papel, o aluno
vai traçando linhas retas
horizontais e verticais que se
cruzam, formando uma
composição. Após preencher
a folha de acordo com o seu
gosto, pode consertar as
linhas que ficaram mais
tortas e, em seguida,
contorná-las com hidrocor
preto e pintar as formas que
as linhas fizeram de modo
que desligue
temporariamente o
hemisfério esquerdo a fim de
dar vazão ao hemisfério
direito, enquanto ouve-se
música relaxante ou
subliminar, em profundo
silêncio, meditando sobre as
seguintes questões:

• O que senti com a limitação de não poder tirar o lápis do papel, de só


poder fazer linhas retas horizontais e verticais?
• Como reajo quando sou limitado nos meus gestos, quando tenho de
seguir orientações vindas de fora de mim mesmo?
• Como convivo com isso no meu dia-a-dia?
• O que senti quando fui liberado para consertar o que errei?
• O que o erro representa para mim?
• Como convivo com as coisas simples?
• Em que o desenho se parece comigo, com a minha forma de ser?
• Na minha vida tem muitos labirintos? Tem muitos espaços inacessíveis?
É uma vida clara, alegre, aberta para acolher o outro?
• Como lido com a minha vida?
• Tenho facilidade para me deixar conduzir pelo fluxo da vida, não
apressando o rio?

São questionamentos que a pessoa vai fazendo e respondendo a si mesma,


sem externar para os outros, se assim o quiser. Inclusive os próprios desenhos,
que são utilizados como pretextos para ter acesso ao lado direito do cérebro,
não precisam ser mostrados a ninguém. É um momento íntimo, pessoal, onde
nos damos o direito de ser o que somos, com erros e acertos, sem censuras
nem justificativas, arriscando a exploração de um campo novo e cheio de
surpresas. É um caminho para o autodescobrimento.

Nesse exercício vemos alunos realizando trabalhos quase perfeitos num prazo
de uma aula, e passando duas a três aulas para corrigir o que foi feito! Outros,
se negam a consertar, dizendo: “minha vida é assim mesmo, cheia de traços
tortuosos, não quero corrigi-los.” Alguns mostram-se confusos com a
simplicidade da proposta, tão acostumados estão com a complexidade dos
desafios que enfrentam diariamente. E refazem o exercício várias vezes, até
conseguirem atender a contento a orientação dada...
Estando pronto o trabalho, a alegria é estampada no rosto diante da
composição inesperada. Às vezes colocam no quadro, emoldurando-a,
sentindo-se artistas.
Dessa composição, estimulamos a criatividade sugerindo a infinidade de novos
trabalhos que poderão surgir a partir de pequenos detalhes ampliados e
explorados com os mais diversos materiais e para as mais variadas
finalidades: mural, divisória, painel, quadros a óleo, colagens, objetos
tridimensionais, etc. No exercício para desenvolver o poder mental, vemos
aqueles que estão acostumados à meditação, à busca do crescimento
espiritual, se entregarem à tarefa com determinação, conseguindo colocar no
papel o que visualizou e dando um colorido forte, rico em contrastes,
prosseguindo em casa com as variações desse mesmo trabalho. Já os que
não se preocupam muito com estas questões sentem mais dificuldade e
precisam de um maior assessoramento.

Trabalhando com a criatividade, aproveitamos o desenho de observação para


uma nova composição, onde o objeto do desenho é dissolvido, passando a ser
parte do processo criativo, misturando-se com o todo. Tiramos parte desse
trabalho, ou detalhes para novas criações, como se fosse uma cornucópia de
onde saem sempre novas idéias.
Com esse exercício chamamos a atenção para o trabalho em equipe. A
importância de cada componente para que o grupo ou a empresa sobressaia.
Quando destacamos alguém da equipe, por mais insignificante que seja,
poderemos estimulá-lo e ver surgir um rico potencial de grande utilidade e
beleza. Quando valorizamos um pequeno grupo da equipe, o rendimento
também pode ser bem melhor. Também ressaltamos a importância de
respeitar os limites, os espaços.

Num estágio mais adiantado trabalhamos com o desbloqueio dos vícios de


observação e a flexibilidade mental.
Nas tarefas recebidas, o aluno vai esquecer o nome dado às coisas e procurar
ver o real, sem simbolismo algum, exatamente o que está à sua frente. Por
vivermos distanciados do real, do verdadeiro, sofremos tanto! Imaginamos
tantas coisas diante de um fato, de um gesto, de um acontecimento, quando o
significado real era outro, completamente diferente do imaginado!

Neste trabalho, é solicitado a ver as situações por diversos ângulos: por dentro,
por fora, comparando tamanhos, aberturas, distâncias... Saindo da parte para
o todo e vice-versa, de forma constante, num estado de relaxamento atento,
esquecido do tempo e das preocupações que tinha nos momentos que
antecederam a aula. É sugerido que leve a experiência para o dia-a-dia,
procurando descobrir sempre novas soluções para os problemas e desafios da
vida, evitando não cristalizar idéias e pontos de vista.

Estimulamos a observação atenta do companheiro que trilha conosco o mesmo


caminho na vida, flexibilizando a mente para olhá-lo sem os conceitos e
preconceitos que enraizamos em nós mesmos ao longo da convivência. Por
mais tempo que tenhamos de convivência, não conhecemos ninguém o
suficiente, pois todos nós estamos em processo contínuo de mudança. E cada
pessoa é sempre uma incógnita que nos surpreende.
Utilizamos nesse exercício a figura humana em desenhos realizados com
traços, a lápis ou bico de pena.
No decorrer do curso algumas pessoas saem e dão um tempo. Depois voltam
e me dizem que determinado trabalho mexeu tanto com elas que resolveram
fazer terapia ou se trabalharem melhor em determinado aspecto que não
tinham dado a devida importância antes.
Outras, com um pequeno estímulo, descobrem o potencial artístico que têm e
se lançam no mundo das artes, criando e pintando quadros que são levados à
exposição até em outro estado do Brasil. Uma dessas alunas, fez apenas um
mês de aula e passou a pintar quadros, viajando em seguida por vários países,
descobrindo coisas novas, deixando dois painéis seus num restaurante da
Nova Zelândia.

Vemos crianças conseguindo concentrar-se em casa para fazer os seus


deveres estudantis, adolescentes encontrando mais facilidade na
aprendizagem das matérias escolares, adultos escrevendo melhor,
compreendendo a comunicação não-verbal, lendo mais e conseguindo um
maior relaxamento diante das tensões diárias. Idosos empregando o seu
tempo na aquisição de maiores conhecimentos, na realização de antigos
sonhos, na descoberta de suas potencialidades.

A música, o silêncio interior e exterior, os exercícios de desenho, de


criatividade, as mandalas e, em algumas ocasiões, a videoterapia, têm sido
fortes aliados na conquista dessa riqueza íntima que possuímos e não
sabíamos ser possuidores.
Com os avanços das pesquisas sobre o cérebro, acrescentamos novas
abordagens a este curso, visando o uso de todo o potencial do cérebro,
procurando equilibrar o hemisfério esquerdo com o hemisfério direito. Passou
então a ser chamado Criatividade e Cérebro, para aulas em grupo e Em busca
da harmonia, para ser mais feliz, para o atendimento individual.
Atualmente, encontram-se à disposição de quantos queiram estar preparados
para o novo milênio, os mais diferentes recursos de crescimento interior,
divulgados pelos mais diversos meios, através de profissionais interessados
na formação de uma nova sociedade. É só buscar...

Os desenhos enviados são de pessoas sem nenhuma experiência nessa área,


que tinham dificuldade de concentração, memorização e criatividade

Bibliografia:

Desenhando com o lado direito do cérebro – Betty Edwards - Ediouro


Aprendizagem e criatividade emocional – Elson A. Teixeira – Makron Books
Cérebro esquerdo, cérebro direito - Springer e Deutsch – Summus Editorial
Alquimia da Mente – Hermínio C. Miranda – Publicações Lachâtre
Viver Holístico – Patrick Pietroni – Summus Editorial
Revista Planeta, nº 201 – junho 1989
Revista Globo Ciência, ano 4, nº 39
Revista Nova Escola – Setembro 1997

Autora
Celeste Carneiro é
orientadora do
curso Criatividade
e Cérebro,
Facilitando a
Aprendizagem,
Mandalas
Terapêuticas, e
outros que visam
estimular os
hemisférios
cerebrais.
É artista plástica,
educadora e
terapeuta. E-
mail:
cel5@terra.com.br

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