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ISSN 2177-3548

Definições operacionais e análise funcional de termos presentes nas


questões do Inventário de Estilos Parentais (IEP)
Operational definitions and functional analysis of terms present in the
Parental Styles Inventory questions
Definiciones operacionales y análisis funcional de términos presentes en las
preguntas del Inventario de Estilo Parental

Amanda Viana dos Santos1, Cristiano Coelho2

[1] [2] Pontifícia Universidade Católica de Goiás | Título abreviado: Operacionalização de termos do IEP | Endereço para correspondência: Amanda Viana dos
Santos. Rua C-254,71 St. Nova Suiça | Email: amandapsico8@gmail.com | doi: 10.18761/PAC.2020.v11.n1.06

Resumo: O método científico proposto pelo Behaviorismo Radical a partir do pragmatismo


e do funcionalismo prioriza termos que possibilitam uma definição e análise operacional
focada nas variáveis antecedentes e consequentes do comportamento. Essas análises podem
contribuir para a área de estudos de Estilos Parentais. O objetivo do estudo foi realizar aná-
lises funcionais e definições operacionais das questões presentes no Inventário de Estilos
Parentais. O estudo foi realizado nas seguintes etapas: identificar e operacionalizar termos
de cada questão em descrições observáveis, identificar relações funcionais entre o ambiente
e o comportamento, e formular predições com base nas descrições das relações funcionais.
As análises das questões possibilitaram especificar topografias e contextos de ocorrência de
diferentes comportamentos parentais e filiais e a posterior identificação de possíveis variá-
veis de controle presentes em interações baseadas em estilos positivos e em estilos negativos.
As possíveis contribuições dessa análise consistem do auxílio na identificação das variáveis
envolvidas nas relações funcionais na área de Estilos Parentais. Sugere-se que ela deve ser
complementada por observação direta em intervenções voltadas para casos específicos para
uma análise funcional mais completa e fidedigna e identificação de outros comportamentos.
Palavras-chave: estilos parentais; IEP; análise funcional; análise conceitual

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Abstract: The scientific method prioritizes terms that enable a definition and operational
analysis focused on antecedent and consequent variables. These analyses may contribute for
the studies in Parental Styles area. This study is an attempt to perform functional analyses and
operational definitions of the items present in the Parenting Styles Inventory. The study was
conducted through the following steps: identifying and operationalizing in each items terms in
observable descriptions, identifying functional relationships between environment and behav-
ior, and formulating predictions based on the functional relationship descriptions. The analy-
sis of the items made it possible to specify topographies and occurrence contexts of different
parental and children behaviors and the subsequent identification of possible control variables
present in interactions based on positive and negative styles. The possible contributions of this
analysis consist in helping to identify the variables involved in functional relationships about
Parental Styles among behavioral scientists. It’s suggested direct observation in intervention
settings to complement the data for a complete and reliable functional analysis.
Keywords: Parental Styles; IEP; functional analysis, conceptual analysis.

Resumen: El método científico prioriza los términos que permiten la definición y el análisis
operacional centrado en las variables antecedentes y consecuentes de comportamiento. Estos
análisis pueden contribuir al área de estudios de Estilos Parentales. El objetivo de esto estu-
dio fue realizar análisis funcionales y definiciones operacionales de los ítems presentes en lo
Inventario de Estilos Parentales de Gomide. El estudio se realizó en los siguientes pasos: iden-
tificación y operacionalización de las preguntas em términos observables, identificación de
relaciones funcionales entre el ambiente y la conducta, y formulación de predicciones basadas
en descripciones de relaciones funcionales. El análisis de los ítems permitió especificar topo-
grafías y contextos de ocurrencia de diferentes comportamientos parentales y de hijos, mas
alla posterior identificación de posibles variables de control presentes en interacciones basa-
das en estilos positivos y negativos. Las posibles contribuciones de este análisis son ayudar a
identificar las variables involucradas en las relaciones funcionales sobre estilo parental entre
los científicos de la conducta. Se sugiere la observación directa en contextos terapéuticos
para complementar los datos para proporcionar un análisis funcional completo y confiable.
Palabras clave: estilos parentales; IEP; análisis funcional; análisis conceptual

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Parte das contingências que atuam fora do am- ou cognitivistas, impossibilitam a identificação do
biente de laboratório estão carregadas pelo uso de comportamento envolvido e a previsão e controle
termos e definições pouco operacionais de eventos. das variáveis que o controlam, uma vez que são fe-
Skinner (1945) comenta que um grande erro é tra- nômenos inferidos ou inventados, imprecisos e não
zer para o ambiente científico as definições cotidia- passíveis de manipulação direta por parte do pes-
nas de termos do dicionário sem antes criticá-las, quisador, indo de encontro com a coerência episte-
pois em grande parte não são sinalizados eventos mológica da análise do comportamento. Skinner
específicos e mensuráveis, como se operam, bem (e.g., 1945, 1991, 2000, 2006) buscou interromper
como em quais circunstâncias são evocados e man- o uso de constructos inventados tradicionalmente
tidos. Bachrach (1975) complementa que, apesar de utilizados na psicologia, e também a interpretá-los
problemas, a definição operacional é fundamental de modo coerente com a proposta do pragmatismo
ao método científico e que para se alcançar uma e o funcionalismo do Behaviorismo Radical, uma
clareza nas definições é necessário se eliminar ter- vez que termos cognitivos podem se referir ao com-
mos mutuamente compreendidos, mas vagos. portamento ou às contingências que os controlam
Ainda de acordo com Skinner (1945), de modo (Dittrich, 2011; Veloso, Tonet, & Dittrich, 2018;
geral, a definição de operacionalismo pode ser feita Strapasson, Carrara & Júnior, 2007).
a partir da discussão sobre as observações de um A preocupação com uso de constructos tam-
organismo, a manipulação e o cálculo dos proce- bém foi objeto da filosofia de Ryle (2009), que de-
dimentos envolvidos em realizá-los, os passos lógi- fende a utilização de termos mentalistas por teóri-
cos e matemáticos para tal, requerendo uma análise cos desde que não sejam tratados como causa de
funcional, que consiste da análise dos eventos de um comportamento. Por sua vez, a ausência de con-
uma contingência (Matos, 1999; Nery e Fonseca, ceitos adequadamente operacionalizados adequada
2018). De acordo com as autoras, os passos para pode levar aos erros de categoria apontados pelo
a realização da análise funcional são identificar e mesmo autor, como crítica ao dualismo cartesiano.
descrever o comportamento público e privado (ou A área de estudos dos estilos parentais podem ser
padrões comportamentais); buscar relação entre as um exemplo desse erro de categoria, por apresentar
variáveis ambientais e comportamentais (ou histó- pouca consistência no uso de termos nas literaturas
ria de aquisição); identificar processos comporta- da área. Essa falta de consistência é compatível com
mentais e os possíveis efeitos envolvidos; formular questões levantadas por Bachrach (1975)
predições com base nas descrições; e testar as pre-
dições. Essa análise pode contribuir para o alcan- Uma frase deste problema de definição pode ser
ce dos objetivos da ciência: a generalidade, o con- resumida numa citação de Quine que observou
trole e a predição (Skinner, 2000), assim como no que: “quanto menos avançada é uma ciência,
contexto de avaliação e intervenção, por favorecer tanto mais sua terminologia tende a repousar
dados mais fidedignos sobre a interação dos indi- em uma suposição acrítica de compreensão
víduos com o ambiente e, então, o direcionamento mútua”. Quando indivíduos comunicam obser-
da manipulação apropriada das variáveis que con- vações com termos mutuamente compreendi-
trolam o(s) comportamento(s) alvo(s) em questão. dos mas vagos (tais como personalidade), ao
Todavia, não há problemas no uso desses termos invés de usar termos baseados em fundamentos
e definições nesse ambiente externo ao laboratório científicos, a pesquisa é retardada (p. 54).
ou psicoterápico, desde que o comportamento do
indivíduo seja reforçado, em múltiplos modos, pela O desenvolvimento do Inventário de Estilos
comunidade verbal inserida (Skinner, 1945). Parentais de Gomide (2006) teve um papel relevan-
Um dos principais cuidados em definições cien- te no preenchimento de lacunas referentes à ine-
tificamente válidas é a necessidade de que elas se xistência de instrumentos que avaliassem as neces-
baseiem em eventos observáveis (Bachrach, 1975). sidades específicas de orientações para as práticas
Constructos não observáveis (Alves, 2013; Smith, educativas (Sampaio, & Gomide, 2007). Em virtude
2007; Starling, 2004), como termos mentalistas disso, as autoras justificam o desenvolvimento do

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instrumento, que desde então tem contribuído para Behaviorismo Radical, especialmente no que tange
o processo de avaliação e intervenção voltadas para às análises e definições operacionais.
o tratamento infantil e para o treino parental. De acordo com Dittrich (2011), uma análise
O modelo teórico proposto por Gomide (2006) conceitual pode auxiliar a compreensão e inter-
é formado por sete práticas educativas que cons- venção experimental ou aplicada dos fenômenos
tituem o Estilo Parental. Para a autora, estilo pa- comportamentais, além de um diálogo producente
rental são práticas educativas usufruídas pelos entre analistas do comportamento sobre os fenô-
pais na interação com seu filho. Gomide propõe menos comportamentais e suas variáveis de con-
sete práticas: monitoria positiva e comportamento trole envolvidos. Essa proposta contribuiria então
moral (compondo as Práticas Educativas Positivas, para o refinamento de pesquisas na área de estilos
oportunas para o desenvolvimento de comporta- parentais e intervenções clínicas analíticas compor-
mentos pró-sociais na criança); negligência; puni- tamentais infantis.
ção inconsistente; monitoria negativa; disciplina A análise operacional dos termos psicológicos e
relaxada; e, abuso físico (que consistem de Práticas a interpretação (funcional) de eventos privados po-
Educativas Negativas, favoráveis ao desenvolvi- dem gerar consequências relevantes para os analistas
mento de comportamentos anti-sociais). A partir do comportamento, como a disseminação da análise
dessa sistematização foi desenvolvido o Inventário do comportamento na área de estudos de estilos pa-
de Estilos Parentais (IEP, Gomide, 2006), um ins- rentais, refinamento desta área de estudo conforme
trumento composto por 42 frases, que avalia o es- o pressuposto pragmático e funcionalista da filosofia
tilo parental. As frases dessas questões são referen- Behaviorista Radical (que, por sua vez, implica tec-
tes às possibilidades dos responsáveis de crianças nologias para a análise experimental do comporta-
e as crianças se comportarem diante da situação mento e da análise aplicada do comportamento) e a
descrita de determinada forma em um conjunto criação de recursos para o ensino da ciência análise
de 10 ocasiões (0 a 2 – nunca; 3 a 7 – às vezes; 8 a do comportamento (Strapasson, Carrara & Júnior,
10 – sempre). A construção das questões do ins- 2007; Veloso, Tonet, & Dittrich, 2018).
trumento se apoiou pelo modelo teórico da autora Bachrach (1975) ressalta que “uma definição
e vem sendo objeto de estudo por diferentes pes- operacional nos diz o que fazer para experimentar
quisadores no Brasil, mostrando sua aplicabilidade uma coisa definida” (p. 55), apesar da linguagem
para a avaliação dos padrões parentais (Gomide, impedir um operacionismo completo. Nesse sen-
2006; Sampaio & Gomide, 2007). tido, uma definição operacional começa com uma
No IEP, cada conjunto de seis questões relacio- observação para uma maior clareza possível, mas
na-se a uma das seis práticas e para cada uma das que há objeções em virtude do número de defini-
práticas parentais é feita uma pontuação, conforme ções possíveis. Quanto a isso, Bachrach rebate que
as frequências – 0 pontos para nunca, 1 ponto para “quanto mais nos aproximamos da certeza e da cla-
às vezes e 2 pontos para sempre. Ao final, são so- reza, mais específicos e particulares nos tornamos,
madas as práticas positivas e as práticas negativas enquanto que, em última análise, a própria ciência
separadamente. Posteriormente é feita a subtração deve conduzir à generalidade e predição. Não creio
das práticas positivas pelas negativas, obtendo-se a que esta objeção ao uso da definição operacional
pontuação referente ao estilo parental. seja legítima. Penso que o número de definições
A partir das frases do inventário, os termos exigidas depende de circunstâncias específicas (p.
grifados possibilitam um determinado grau de 55). Em complemento observa que “As observa-
consenso entre falantes e ouvintes, pois permite ções devem começar sempre com uma definição
o intercâmbio entre o profissional e os pais em si- específica, clara e restrita. Somente com esta base
tuação de avaliação e intervenção. Contudo, ao se é possível fazer um movimento no sentido de ob-
considerar as operações envolvidas e a identificação ter uma correlação de observações específicas que
de possíveis variáveis de controle dos comporta- contribuam para um corpo de conhecimento mais
mentos descritos é importante que sejam identifi- amplo” (p. 57). Nesse sentido, identificar um pos-
cadas essas variáveis, conforme os pressupostos do sível comportamento e operações às quais ele se

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relaciona pode ser um exemplo de uma possível racionalização e dos termos propostos para a fra-
definição operacional. Em adição, a identificação se reformulada.
desses eventos pode possibilitar que sejam inferi- Esse passo foi realizado da seguinte forma: um ou
das variáveis de controle em uma análise funcional. mais conceitos em cada uma das questões do IEP foi
O IEP é um instrumento validado que possi- destacado e foi realizada uma redação na qual o con-
bilita a avaliação de sujeitos de risco (Sampaio & ceito foi substituído pela respectiva definição opera-
Gomide, 2007) e tem sido utilizado em pesquisas cional proposta, visando manter o contexto da ques-
e no processo de avaliação em intervenções social- tão. Sua aplicação visou obedecer ao terceiro item
mente relevantes, por apresentar uma sistematiza- da proposta de modificação de operacionalização de
ção de ações que possibilitam identificar uma dis- Feigl (1945, cit. por Bachrach, 1975, p. 61), segundo
persão comportamental dos pais frente a diferentes a qual as definições “Devem estar empiricamente ba-
situações (e.g., Gomide, A. Del Prette, & Z Del seados e ligados ao observável”. Assim, a discussão da
Prette, 2003; Gomide, Salvo, Pinheiro, & Sabbag, reformulação visou identificar se os termos alterados
2005; Prust, & Gomide, 2007; Sabbag, & Bolsoni- traduziam o conceito original em eventos observá-
Silva, 2011, 2015). Visando tentar apresentar uma veis e se não incluía inferências que não poderiam ser
possível definição operacional, conforme Bachrach derivadas a partir da questão original;
(1975) e identificar elementos das contingências
presentes nas questões existentes no IEP, a partir (2) identificar relações funcionais entre o am-
de uma perspectiva analítico-comportamental, biente e o comportamento, como a consequência
conforme Mattos (1999), o objetivo do presente e os antecedentes das questões das sete práticas
trabalho visou desenvolver uma análise operacio- educativas.
nal e funcional das questões que compõem as prá- A realização desse passo consistiu em inferir pos-
ticas positivas e negativas do Inventário de Estilos síveis estímulos antecedentes e consequências que
Parentais (IEP, Gomide, 2006). poderiam indicar as variáveis mantenedoras dos
comportamentos dos pais em cada uma das ques-
tões. Os passos e o critério da análise seguiram as
Método propostas de Matos (1999) e Nery e Fonseca (2018).
Evitou-se inferir eventos antecedentes e/ou conse-
O presente trabalho trata de uma Análise quentes que, mesmo possivelmente relacionados à
Conceitual dos conceitos presentes nas 42 questões descrição no item, não estão diretamente previstos
das sete práticas educativas parentais do Inventário na questão.; e,
de Estilos Parentais (Gomide, 2006), sinalizados na
descrição das análises, a partir de análises funcio- (3) formular predições do comportamento dos res-
nais e definições operacionais. ponsáveis de criança e do comportamento da crian-
ça com base nas descrições das relações funcionais.
Procedimento Para tal, buscou-se inferir efeitos comporta-
Seguindo os passos descritos por Matos (1999) e mentais relacionados à frequência do comporta-
por Nery e Fonseca (2018) para a realização de aná- mento dos pais ou dos filhos proposto na definição
lise funcional e operacional, a Análise Conceitual operacional.
de termos que compõem as práticas educativas po- Em síntese, a análise dos dados separou cada
sitivas e negativas do modelo proposto de Estilos questão do IEP a partir da leitura do instrumen-
Parentais do Manual de Inventário de Estilos to e identificou termos que pudessem ser reinter-
Parentais foi realizada em etapas: pretados a partir de ocorrências ambientais ou
comportamentais. Posteriormente foi apresentada
(1) Sugerir frases específicas para as 42 questões uma proposta de análise que traduzisse os termos
do IEP, a partir da leitura do instrumento pelos em ocorrências observáveis na análise operacional
autores deste trabalho e discussão sobre os ter- e escritos de forma a indicar consequências e/ou
mos que poderiam ser beneficiados de uma ope- contexto em uma análise funcional do item.

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Resultados nas questões foram “castigar, fazer algo errado, se-


veridade, humor / mal-humor, importar, castigar,
As Tabelas de 1 a 7 apresentam os itens conforme es- nervoso / raiva e descontar. Na operacionaliza-
tão no inventário, como proposta de operacionaliza- ção, fazer algo errado foi definido como emissão
ção visando identificar eventos observáveis envolvi- de comportamentos inadequados. Castigar, mal-
dos em cada item, e, proposta a análise funcional em -humor, nervoso e raiva descontar foram definidos
que foram identificadas possíveis variáveis de con- como tanto a possibilidade de retirada ou agressão,
trole dos comportamentos descritos em cada item. relacionada ao estado emocional ou expressões de-
A seguir são apresentados os resultados para os rivados de experiências negativas e relacionada à
itens referentes a “Monitoria Positiva”, como mos- intensidade (severidade) da ação paterna.
trado na Tabela 1. Foram identificados nas ques- Na análise funcional, foram parcialmente ope-
tões termos referentes a sentimentos (por exemplo: racionalizados e identificados os antecedentes,
triste, aborrecido) e a eventos disposicionais (por comportamentos e consequentes dos seis itens da
exemplo: interesso, “quero saber”, ocupado, razões). prática “Punição Inconsistente”. Em toda as seis
Na proposta de operacionalização, foram sugeridas questões, pode-se supor que estímulos com efeitos
topografias (chorando, cabisbaixo, calado, solicito, na alteração de respostas emocionais dos pais fun-
conte, realizando atividades). cionaram como operação estabelecedora ou aboli-
Foi possível operacionalizar e identificar os dora para agir em relação aos filhos, cuja presença
antecedentes, comportamentos e consequentes de ou comportamento funcionaram como estímulos
todos os seis itens da prática educativa menciona- discriminativos para os comportamentos dos pais.
da. Foram identificadas prioritariamente respostas As ações dos pais indicam fraca relação de depen-
sob controle de reforçamento positivo, tanto sociais dência entre os comportamentos dos filhos e os
quanto naturais e respostas colaterais decorrentes comportamentos dos pais.
de reforço positivo. Na Tabela 4 são apresentados os resultados para
Na Tabela 2 são apresentados os resultados para as questões referentes a “Negligência”. Os baixos ní-
os itens referentes ao “Comportamento Moral”. Nas veis de interação presentes nas seis questões dessa
seis questões relacionadas a essa prática foram iden- prática apresentam como termos cuja operacionali-
tificados termos que se beneficiariam de uma opera- zação pode apontar para eventos observáveis, como
cionalização. Os termos relacionaram-se a compor- atrapalhar, dificuldades, ocupado, sozinho, sentir,
tamentos verbais (ensino, aconselho, converso) e a atenção, gostar, ignorar nos contextos específicos
disposições relacionadas a possíveis consequências das questões referentes à negligência. Por exemplo,
(melhor, certo, errado). A operacionalização, assim, atrapalhar pode envolver tanto excesso de trabalho
incluiu termos relacionados a práticas do ensino (in- quanto os efeitos físicos (cansaço) relacionados ao
dico as consequências, forneço regras, relato e escu- trabalho. Ficar sozinho ou não receber atenção indi-
to) e a características das consequências. cam eventos nos quais as atividades em casa ou fora
Com relação à análise funcional, foi possível dela reduzem o nível de atenção e tem é identificada
identificar os antecedentes, comportamentos e a partir de comportamentos específicos dos filhos.
consequentes de dois itens e parcialmente quatro A dificuldade de dizer o que o filho gosta ou ignorar
itens da prática “Comportamento Moral”. Em to- seus problemas, nos presentes casos sugere que o pai
dos, a presença ou o comportamento do filho foram não consegue descrever atividades que são desempe-
identificados como antecedente. Nas questões em nhadas pelos filhos ou suas situações problema.
que foi possível identificar as consequências, foram Verifica-se que foi possível parcialmente iden-
identificados controles por consequências reforça- tificar os antecedentes, comportamentos e conse-
doras duradouras de maior magnitude e consequ- quentes dos seis itens da prática mencionada. Essas
ências aversivas de comportamentos inadequados. questões indicam uma alta frequência de compor-
A seguir, na Tabela 3 são apresentados os tamentos dos pais em alternativas à parentalidade
resultados para os itens referentes a “Punição sob controle de outros reforçadores, que limitam
Inconsistente”. Os termos amplos identificados o repertório paterno e as interações com os filhos.

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Tabela 1. Descrições da prática “monitoria positiva” no Inventário de Estilos Parentais (IEP), bem como
operacionalizações e análises funcionais.
Questões - Monitoria Positiva Operacionalização Análise Funcional
Quando meu filho(a) sai, ele(a) Quando meu filho(a) sai, sem No contexto de sair de casa, a presença do seu respon-
conta espontaneamente onde vai eu perguntar, ele relata onde vai sável é um estímulo discriminativo para o filho(a) emitir o
relato acerca do local para qual está indo.
Pergunto como foi seu dia na Pergunto como foi o dia da A presença da criança após a escola é um estímulo dis-
escola e ouço atentamente criança na escola e, ao ouvi-la, criminativo para o seu responsável emitir a pergunta acer-
aproximo-me em sua direção, ca do seu dia na escola e, como consequência, produzir
se puder, olho em seus olhos o relato da criança. Por sua vez, esse relato funciona
e, se tiver oportunidade, realizo como estímulo discriminativo verbal para o responsável
comentários sobre o que é emitir respostas de aproximar-se em direção ao filho(a) e,
dito, por exemplo, elogio suas se houver condições para tal, olhar em seus olhos e emi-
conquistas. tir relatos que reforçam positivamente o comportamento
de relatar o dia na escola do filho(a).
Quando meu filho(a) está triste Quando meu filho está choran- Na situação em que o comportamento do filho(a) está
ou aborrecido(a), interesso- do cabisbaixo, calado, isolando- em extinção por não produzir reforçadores positivos e
-me em ajudá-lo a resolver o -se, que indicam que está em retirada de reforçadores negativos ou porque produziu
problema uma situação problema que não estimulação aversiva, o responsável emite respostas
consegue resolver, solicito para verbais que evocam a(s) função(ões) do seu comporta-
que me conte sobre o problema mento e, se houver repertório para tal, descreve aspectos
e, se eu puder, forneço dicas da contingência que geram os respondentes e sinaliza
para ele(a) resolver com a respostas alternativas e suas respectivas consequências.
situação.

Mesmo quando estou Mesmo quando estou reali- Na situação em que grande parte dos comportamentos
ocupado(a) ou viajando, telefono zando atividades ou viajando, do responsável está alocada para atividades concorren-
para saber como meu filho(a) telefono aproximadamente uma tes com a parentalidade, este aloca seus comportamen-
está. vez ao dia para saber como tos reforçados pelo contato com o filho com a função de
meu filho está. avaliar seu estado corporal.

Após uma festa, quero saber se Após uma festa, pergunto se Na situação em que o filho(a) volta de uma festa, o res-
meu filho(a) se divertiu meu filho(a) se divertiu ponsável emite um estímulo discriminativo verbal sobre o
evento, com a função de evocar descrições de contin-
gências de reforço positivo que operaram no local.

Estabeleço regras (o que pode Estabeleço regras (o que pode O responsável descreve as contingências para o filho(a):
e o que não pode ser feito) e e o que não pode ser feito) e in- sinaliza os reforçadores positivos que os comportamen-
explico as razões sem brigar. dico as consequências positivas tos adequados dele(a) poderão entrar em contato ao se
se cumpri-las. comportar de uma dada maneira em um dado estímulo
antecedente e as consequências negativas de respostas
inadequadas, priorizando as consequências naturais de
seus comportamentos

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Tabela 2. Descrições da prática “comportamento moral” no Inventário de Estilos Parentais (IEP), bem como
operacionalizações e análises funcionais.
Questões - Comportamento Operacionalização Análise Funcional
Moral
Ensino meu filho(a) a devol- Indico ao meu filho(a) consequên- A presença do(a) filho(a) é um estímulo discriminativo para
ver objetos ou dinheiro que cias positivas de devolver objetos o responsável descrever as contingências de reforça-
não pertencem a ele(a). ou dinheiro que não lhe perten- mento positivo naturais de a criança devolver objetos ou
cem. dinheiro que não lhe pertencem.
Se meu filho(a) colar na pro- Quando meu filho(a) cola na No contexto de cola na prova, o(a) filho(a) adquire função
va, explico que é melhor tirar prova, indico que há mais e maio- de estímulo discriminativo para o responsável descrever
nota baixa do que enganar a res consequências positivas de a contingência de reforçamento positivo que tirar nota
professora ou a si mesmo(a) tirar nota baixa que enganar a(o) baixa produz reforçadores sociais de maior magnitude que
professor(a) ou a si mesmo(a). enganar a(o) professor(a) ou a si mesmo(a).
Se meu filho(a) estragar algu- Quando meu filho(a) estraga Na situação em que o(a) filho(a) danifica alguma coisa de
ma coisa de alguém, ensino alguma coisa de alguém, indico as alguém, o responsável descreve para ela as contingências
a contar o que fez e pedir consequências positivas de contar de reforçamento positivas sociais de relatar o compor-
desculpas o que fez e de pedir desculpas tamento inadequado e ao pedir desculpas para essa
para essa pessoa. pessoa.
Aconselho meu filho(a) a ler Forneço regras para meu filho(a) O responsável apresenta ao(à) filho(a) livros, revistas ou
livros, revistas ou ver progra- ler livros, revistas ou ver pro- programas de TV que descrevem as contingências aversi-
mas de TV que mostrem os gramas de TV que indiquem as vas do consumo de drogas.
efeitos negativos do uso de consequências negativas do uso
drogas. de drogas.
Converso com meu filho(a) Relato para meu filho(a) sobre Na presença do(a) filho(a), o responsável descreve as
sobre o que é certo ou as consequências positivas e contingências de reforçamento positivas e aversivas que
errado no comportamento negativas produzidas pelos com- operam nos comportamentos personagens dos filmes e
dos personagens dos filmes portamentos dos personagens dos dos programas de TV, e reforça positivamente por meio da
e dos programas de TV filmes e dos programas de TV, e atenção o comportamento do(a) filho(a) de relatar sobre
o escuto quando ele(a) fala sobre essas consequências.
essas consequências.
Converso sobre o futuro Relato para meu filho(a) sobre Na presença do(a) filho(a), o responsável descreve as
trabalho ou profissão de meu seu futuro trabalho ou profissão, contingências de reforçamento positivas e aversivas da
filho, mostrando os pontos apresentando as consequências escolha do futuro trabalho ou profissão da criança, e
positivos ou negativos de sua positivas e negativas de sua esco- reforça positivamente por meio da atenção o seu compor-
escolha lha, e o escuto quando fala sobre tamento de relatar sobre essas consequências.
essas consequências.

A Tabela 5 apresenta os resultados dos itens re- Foi possível operacionalizar e identificar os
ferentes à “Disciplina Relaxada”. Além de termos já antecedentes, comportamentos e consequentes
definidos em outras questões, como castigar, ner- dos seis itens da prática mencionada. Os compor-
voso e percebe, para os termos ameaçar, insistir, tamentos inadequados dos filhos são controlados
gritar, e desobedecer foram propostas operaciona- nas diferentes questões por regras que apontam
lizações que apontam para topografias de verbaliza- para contingências aversivas ou envolvem intera-
ção hostil, alta frequência de solicitações, aumento ções aversivas com os pais, que fornecem regras
do tom de voz. Ao mesmo tempo, compatível com a que estão em desacordo com as contingências que
prática de disciplina relaxada, aparecem os termos operam posteriormente.
deixar em paz, “deixar para lá”, hora “H” e pena que
indicam que nos respectivos contextos cessam dis-
cussão, não fazem o que disseram.

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Tabela 3. Descrições da prática “punição inconsistente” no Inventário de Estilos Parentais (IEP), bem como
operacionalizações e análises funcionais.
Questões - Punição incon- Operacionalização Análise Funcional
sistente
Quando meu filho(a) faz algo Quando meu filho(a) se comporta No contexto do(a) filho(a) se comportar inadequadamente,
errado, a punição que aplico inadequadamente, a intensidade o efeito emocional das contingências de reforçamento
é mais severa dependendo da punição que aplico pode ser positivas ou aversivas que operam sobre o comportamen-
do meu humor. maior dependendo do meu estado to do responsável, concorrentes com a parentalidade, é
emocional decorrente de minhas condição antecedente estabelecedora para a variação na
experiências positivas ou negativas intensidade da punição do comportamento do(a) filho(a).
não relacionadas à parentalidade.
Quando estou alegre, não Deixo de intervir nos compor- Na condição antecedente estabelecedora do efeito emo-
me importo com as coisas tamentos inadequados do meu cional das contingências de reforçamento positivas que
erradas que meu filho(a) filho(a) se meu estado emocional operam sobre o comportamento do responsável, este não
faça. for alegre, decorrente de minhas aplica consequências contingentes aos comportamentos
experiências positivas. inadequados do(a) filho(a).
Castigo-o quando estou Retiro do meu filho(a) a possibi- No contexto do(a) filho(a) estar presente, a resposta
nervoso(a); assim que passa lidade de se engajar em alguma emocional das contingências aversivas que operam sobre
a raiva, peço desculpas. atividade por um determinado tem- o comportamento do responsável é condição antecedente
po e/ou uso de agredir física ou estabelecedora para retirar ou restringir atividades que
verbalmente contra seu corpo, se produzem reforçadores positivos para o comportamento
eu apresentar um estado emocio- do filho(a) e/ou usar força física contra seu corpo. No
nal de raiva decorrente de minhas contexto com função abolidora para a resposta emocional
experiências negativas. Quando diminuir, o(a) filho(a) adquire função discriminativa para o
me acalmo, vou até ele(a) e lhe responsável pedir-lhe desculpas.
peço desculpas
Quando estou nervoso(a), Se apresento um estado emocio- No contexto da presença do filho(a), o efeito emocional
acabo descontando em meu nal nervoso decorrente de minhas das contingências aversivas que operam sobre o compor-
filho(a). experiências negativas, acabo tamento do responsável é condição antecedente estabele-
agredindo meu (minha) filho(a) fisi- cedora para, em relação a seu filho(a), usar a força física
ca ou verbalmente e/ou retirando- contra seu corpo e/ou retirar-lhe atividades que produzem
-lhe privilégios. reforçadores positivos e/ou falar em um tom mais alto que
em outros contextos.
Sou mal-humorado(a) com Em relação ao meu filho(a), fico A presença do(a) filho(a) adquire função de estímulo dis-
meu filho. com expressão facial de raiva, criminativo que evoca comportamentos do responsável de
confronto aos seus desejos ou confrontar aos desejos ou opiniões do filho(a), responder
opiniões, respondo grosseiramen- com o mínimo de palavras possíveis e com uma entona-
te e com uma única entonação de ção de voz indicativa de seu estado emocional alterado.
voz, cito mais seus comportamen-
tos negativos do que positivos,
entre outros.
Quando estou mal- Não deixo meu filho(a) sair com os No contexto do(a) filho(a) indicar que sairá com os ami-
-humorado(a), não deixo meu amigos se apresento um estado gos, o efeito emocional das contingências aversivas que
filho(a) sair com os amigos. emocional negativo decorrente de operam sobre o comportamento do responsável, con-
minhas experiências negativas. correntes com a parentalidade, é condição antecedente
estabelecedora para não reforçar o comportamento do(a)
filho(a).

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Tabela 4. Descrições da prática “negligência” no Inventário de Estilos Parentais (IEP), bem como
operacionalizações e análises funcionais.
Questões - Negligência Operacionalização Análise Funcional
Meu trabalho atrapalha na Passo mais tempo trabalhando do que O responsável aloca a maior parte de seus com-
atenção que dou a meu com meu filho(a), e/ou por o trabalho me portamentos para o trabalho, e/ou por em virtude
filho(a). cansar, prefiro me engajar em outras ativi- desta atividade aloca seus comportamentos para
dades alternativas à parentalidade. atividades concorrentes à parentalidade.
Meu filho(a) sente dificulda- O meu longo tempo engajado em outras No contexto do responsável alocar a maior parte
des em contar seus pro- atividades não relacionadas a parentali- de seus comportamentos para atividades concor-
blemas para mim, pois vivo dade limita as oportunidades do meu filho rentes com a parentalidade, este adquire função
ocupado(a). contar seus problemas para mim. de estímulo delta para o(a) filho(a) descrever
contingências aversivas que operam sobre seus
comportamentos.
Meu filho(a) fica sozinho em Meu filho(a) fica mais tempo em casa sem No contexto do(a) filho estar em sua casa, o(s)
casa a maior parte do tempo. algum responsável. responsável(is) aloca(m) a maior parte dos seus
comportamentos a atividades externas ou não à
casa, concorrentes com a parentalidade e, como
efeito, a criança passa mais tempo sozinha do que
interagindo com algum responsável.
Percebo que meu filho(a) Tenho me dedicado mais a atividades No contexto do responsável alocar a maior parte
sente que não dou atenção não relacionadas com a parentalidade, e de seus comportamentos para atividades concor-
a ele(a). como efeito, observo, na minha presença, rentes com a parentalidade, a sua presença é o
comportamentos no meu filho(a) como ca- estímulo discriminativo para o(a) filho(a) emitir com-
bisbaixo, pedindo atenção, entre outros. portamentos que indicam a privação de estímulos
reforçadores sociais, como os comportamentos de
ficar cabisbaixo e/ou o mando por atenção.
Não sei dizer do que meu Não identifico as atividades que meu O responsável não possui repertório para descre-
filho(a) gosta. filho(a) passa a maior parte do tempo se ver as contingências de reforçamento positivo que
engajando. operam nos comportamentos do(a) filho(a).
Ignoro os problemas de meu Tenho baixa probabilidade de descrever A situação problema em que o(a) filho(a) se encon-
filho(a). as situações problema de meu filho(a). tra é um estímulo delta para o responsável emitir
algum comportamento em relação à essa situação.

Os dados da Tabela 6 referentes à prática térios da prática, há controle do comportamento


“Monitoria Negativa” apresentam termos que po- por verbalizações que direcionam-se a consequên-
dem se beneficiar de operacionalização ao indicar cias aversivas, com alta frequência de emissão de
relações voltadas para comportamentos dos pais, respostas parentais coercitivas a uma gama de com-
como: “Critico”, ao apontar para indicação de as- portamentos dos filhos.
pectos negativos do comportamento; “Controlo”, ao Os dados apresentados na Tabela 7 são refe-
sugerir busca ativa de informações e “Insistindo”, rentes à prática “Abuso Físico” envolvem termos
com pedidos repetidos; além de relações voltadas que apontam para ações de sanções físicas (bater,
para comportamentos dos filhos: “quarto desarru- agressão, violência) e efeitos de comportamentos
mado”, indicando bagunçar o quarto; “aborrecido”, agressivos dos pais relacionados dessas ações sobre
que pode envolver as respostas observáveis de cho- os comportamento dos filhos (medo, machucado,
rar, ficar cabisbaixo, ficar calado ou isolar-se. ódio). As operacionalizações das ações apontam
Foram operacionalizados e identificados os para o contato físico (utilizar contra o corpo ou
antecedentes, comportamentos e consequentes agredir verbal / fisicamente) e respostas (tremer,
dois itens e parcialmente quatro itens da prática esconder, pedir para não bater), marcas físicas na
“Monitoria Negativa”. Em consonância com os cri- pele, ou respostas verbais e não verbais (verbalizar
sentimentos negativos, parar de conversar).

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Tabela 5. Descrições da prática “disciplina relaxada” no Inventário de Estilos Parentais (IEP), bem como
operacionalizações e análises funcionais.
Questões - Disciplina Operacionalização Análise Funcional
Relaxada
Ameaço que vou bater ou Quando meu filho(a) se comporta inade- O(a) filho(a) se comportar inadequadamente
castigar e depois não faço quadamente, verbalizo de forma hostil que adquire função discriminativa para o responsá-
nada. vou agredi-lo e/ou retirar alguma de sua vel descrever vocalmente uma contingência de
gratificação por um determinado tempo, punição positiva ao usar a força física contra seu
mas não faço o que eu digo. corpo e/ou negativa ao retirar estímulos reforçado-
res positivos por um determinado tempo, mas não
libera as consequências indicadas, não havendo
correspondência entre o dizer e o fazer.
Quando castigo meu filho(a) Quando meu filho(a) se comporta inade- No contexto do(a) filho(a) se comportar inadequa-
e ele pede para sair do quadamente, retiro alguma(s) de sua(s) damente e o responsável retirar estímulos refor-
castigo, após um pouco de atividades por um determinado tempo, çadores positivos por um determinado tempo, a
insistência, permito que saia mas se ele solicita repetidas vezes para criança emitir o mando pelo menos mais de uma
do castigo. que saia dessa situação, permito que saia vez para que saia dessa contingência aversiva que
do castigo. opera sobre seus comportamentos, adquire função
para o responsável reforçar o seu mando.
Durante uma briga, meu Em uma briga com meu filho(a), se ele(a) No contexto de uma briga com o filho(a), este
filho(a) xinga ou grita comigo xinga e/ou aumenta seu tom de voz, me emitir comportamentos como xingar e/ou aumentar
e, então, eu o(a) deixo em calo e/ou me afasto, parando de discutir. seu tom de voz, adquire função para o responsá-
paz. vel reforçar negativamente o comportamento da
criança.
Quando mando meu filho(a) Quando digo para meu filho(a) estudar, No contexto do filho(a) alocar seus comportamen-
estudar, arrumar o quarto ou arrumar o quarto ou voltar para casa, e tos para atividades concorrentes com o estudar,
voltar para casa, e ele não ele não faz o que eu disse, não falo e faço arrumar o quarto ou voltar para casa, o respon-
obedece, eu “deixo para lá”. nada em relação à situação. sável emite o mando de se comportar para essas
atividades. A criança não reforçar o comporta-
mento do responsável, continuando alocar seus
comportamentos para atividades concorrentes está
sob uma contingência de extinção. Há ausência de
correspondência entre dizer e fazer.
Aviso que não vou dar um Apresento a regra para meu filho(a) que No contexto do responsável descrever para o(a)
presente para meu filho caso se se engajar em atividades alternati- filho(a) a contingência que se alocar seus com-
não estude, mas, na hora vas com o estudo, não irá receber um portamentos em atividades concorrentes com
“H”, fico com pena e dou o presente, mas, no momento definido o estudar, estes não serão reforçados com um pre-
presente. para fornecer o presente, mesmo não se sente, o filho(a) não seguir a regra adquire função
engajando, fico pensando sobre sua dor e de eliciador do sentimento de pena e discriminativa
dando o presente mesmo assim. para liberar o reforço positivo (presente) não con-
tingente ao comportamento, não havendo, assim,
correspondência entre o dizer e o fazer.
Quando meu filho fica muito Em uma discussão ou briga com meu No contexto de discussão ou briga entre o respon-
nervoso(a) em uma discus- filho(a), quando ele aumenta o tom de sável e o(a) filho(a), quando este aumenta o tom de
são ou briga, ele(a) percebe sua voz, xinga, entre outros, infiro que ele voz, chora e/ou xinga, entre outros, o responsável
que isto me amedronta. percebe que me sinto amedrontado(a). infere que esses comportamentos estão sob con-
trole da diminuição da frequência e intensidade dos
comportamentos aversivos do responsável e esta-
belecimento de respostas emocionais de medo.

A partir das operações apontadas foi possível discriminativo para respostas de agressão, que têm
identificar os antecedentes, comportamentos e con- como efeito marcas respostas emocionais e emis-
sequentes um item e parcialmente cinco itens da são de respostas verbais sob controle da evitação
prática “Abuso Físico”. Dentre as variáveis identifi- das agressões. Dada a ausência de outros efeitos
cadas, compativelmente com a descrição da prática, operantes não é possível identificar se as relações
a presença ou o comportamento do filho é estímulo envolvem reforço ou punição.

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Tabela 6. Descrições da prática “monitoria negativa” no Inventário de Estilos Parentais (IEP), bem como
operacionalizações e análises funcionais.
Questões - Monitoria Operacionalização Análise Funcional
Negativa
Critico qualquer coisa que Indico os aspectos negativos da maioria Grande parte dos comportamentos do(a) filho(a),
meu filho(a) faça, como o dos comportamentos do meu filho(a), como bagunçar o quarto ou não pentear os
quarto estar desarrumado como bagunçar o seu quarto ou não pen- cabelos, adquirem função discriminativa para o
ou estar com os cabelos tear os cabelos. responsável emitir comportamentos vocais com
despenteados. função punitiva.
Quando meu filho(a) sai, te- Quando meu filho(a) sai, telefono seguida- No contexto do(a) filho(a) estar fora de casa, o
lefono procurando por ele(a) mente para ele ou para alguém que está responsável emite o comportamento de telefonar
muitas vezes. junto dele. com alta frequência para ele(a) ou para alguém
que está junto dele(a).
Controlo com quem meu Procuro ativamente informações sobre de Após adquirir o repertório de saber quem o filho(a)
filho(a) fala ou sai. quem meu filho(a) é amigo ou conhecido é amigo ou conhecido, o responsável emite a regra
e digo se pode ou não conversar ou sair. que descreve com quem ele(a) pode conversar
ou sair, indicando a correlação de consequências
punitivas pelo não seguimento.
Especialmente nas horas Especialmente nos momentos das refei- No contexto das refeições, o filho(a) adquire fun-
das refeições, fico dando as ções, puno os comportamentos inadequa- ção discriminativa para o responsável emitir vocais
“broncas”. dos do meu filho(a) daquele momento ou com função punitiva sobre os seus comportamen-
de outros. tos inadequados emitidos naquele contexto ou em
outros concorrentes.
Se meu filho(a) vai a uma Quando meu filho(a) chega de uma festa, No contexto do(a) filho(a) ter chegado de uma
festa, somente quero saber pergunto se bebeu, se fumou ou se esta- festa, esta adquire função discriminativa para o
se bebeu, se fumou ou se va junto com o grupo de pessoas que eu responsável emitir perguntas de se bebeu, se
estava com aquele grupo de considero inadequado para ele. fumou ou se estava junto ao grupo de pessoas que
maus elementos. são modelos e reforçam comportamentos que o
responsável considera inadequados.
Se meu filho(a) estiver Quando meu filho está chorando, cabis- No contexto do(a) filho(a) estar em uma situação
aborrecido(a), fico insistindo baixo, calado e/ou isolando-se que indi- problema, seus comportamentos de estar choran-
para ele contar o que acon- cam que está em uma situação problema, do, cabisbaixo, calado e/ou isolando-se, adquirem
teceu, mesmo que ele(a) não peço repetidamente para que ele me função discriminativa para o responsável emitir o
queira contar. conte o que aconteceu. mando para que descreva a contingência aversiva
que seus comportamentos estão sob controle,
ainda que a criança só reforce seu comportamento
quando ele o emite pelo menos mais de uma vez.

Em suma, foram realizadas, pelos autores des- frequentemente associadas a essas disposições,
te artigo, operacionalizações trazidas nas segundas como: quero à pergunto; me interesso à solicito
colunas das tabelas em relação às questões originais para que me conte; humor à estado emocional de-
do IEP apresentadas na primeira coluna, além das corrente de minhas experiências; percebo à obser-
análises funcionais a partir da proposta do instru- vo; e, não me importo à deixo de intervir.
mento análises operacionais e análises funcionais As descrições e análises dos estados corporais,
a partir da proposta do IEP. Nessas análises, houve como raiva ou alegria, foram limitadas no escopo
termos que por apareceram em forma de ações, ti- das informações acerca das condições ambientais
veram uma operacionalização mais direta. Já os ter- fornecidas nas questões do IEP. Quanto às análi-
mos que apareceram de forma disposicional foram ses funcionais, os elementos menos identificados
operacionalizados a partir de possíveis ocorrências referem-se às possíveis consequências.

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Tabela 7. Descrições da prática “abuso físico” no Inventário de Estilos Parentais (IEP), bem como
operacionalizações e análises funcionais.
Questões -Abuso físico Operacionalização Análise Funcional
Bato com cinta ou outros Utilizo contra o corpo do meu filho(a) cinta O(a) filho(a) se comportar inadequadamente é o
objetos nele(a). ou outros objetos. contexto para responsável usar estimulação aversiva,
como cinta ou outros objetos contra seu corpo.
Meu filho(a) tem muito A minha presença é suficiente para que No contexto do(a) filho(a) se comportar inadequa-
medo de apanhar de mim. ele se esconda, trema, peça para que eu damente, a presença do responsável é um estímulo
não bata nele e/ou chore. discriminativo para ele(a) emitir comportamentos de
fuga ou esquiva e/ou mandos para que não utilize de
força física contra seu corpo, e/ou elicie responden-
tes como tremer, entre outros.
Meu filho(a) fica machuca- Quando meu filho se comporta inadequa- No contexto do filho(a) se comportar inadequadamen-
do fisicamente quando bato damente, o agrido fisicamente e, depois, te, a sua presença evoca comportamentos do respon-
nele(a). posso observar resultados como marcas sável de agredi-lo, como consequência, é aparentado
em sua pele e/ou alguma parte de seu marcas na pele e/ou alguma parte do corpo.
corpo.
Meu filho(a) sente ódio de Quando meu filho(a) se comporta inade- No contexto do(a) filho(a) se comportar inadequada-
mim quando bato nele(a). quadamente e eu utilizo de força física mente e o responsável utilizar força física contra o
contra seu corpo, ele verbaliza seus seu corpo, o responsável adquire função discrimina-
sentimentos negativos em relação a mim, tiva para a criança indicar vocalmente seus senti-
para de falar comigo por um determinado mentos aversivos, ficar em silêncio ou discutir com
tempo e/ou expressa facialmente raiva, ele e/ou expressar facialmente raiva, entre outros.
entre outros.
Sou agressivo(a) com meu Interajo com meu filho utilizando verba- O(a) filho(a) é um estímulo discriminativo para o res-
filho(a). lizações como xingamento, sacarmos, ponsável emitir comportamentos de xingar, aumentar
ironias, aumento o meu tom de voz, entre seu tom de voz, sacarmos, ironias, entre outros.
outros.
Sou violento(a) com meu Utilizo agressão física ou verbal contra O responsável emite comportamentos de agressão
filho(a). meu filho(a) na maioria das situações. física ou verbal contra seu filho com mais frequência
que comportamentos alternativos de afeto ou carinho.

Discussão
de qual(is) evento(s) está(ão) sendo observado(s) e/
A partir das propostas de Bachrach (1975) e ou manipulado(s), além do alcance dos objetivos da
Skinner (1961), essa análise operacional e funcio- ciência (generalidade, controle e predição, de acor-
nal pode complementar as definições de eventos do com Skinner, 2000) e no contexto psicoterápico
e termos relativos às práticas educativas parentais a partir de descrição de variáveis específicas que
formuladas a partir do método científico proposto controlam a queixa do cliente.
pelo Behaviorismo Radical a partir dos pressupos- Para a operacionalização foi aplicado o crité-
tos pragmáticos e funcionalistas. Foram realizadas rio 3 de Fiegl reformulado por Bachrach (1975) e
tentativas de operacionalização dos termos cotidia- para a análise funcional foram seguidos os passos
nos presentes nas questões do IEP para descrições 1 a 3 de Matos (1999) e de Nery & Fonseca (2018)
dos comportamentos parentais e filiais, evitando dos termos das práticas educativas parentais que
cair no “erro de categoria”, de acordo com a propos- compõem as 42 questões do IEP, como forma de
ta de Ryle (1949/2009) como crítica ao dualismo sinalizar quais eventos estão sendo tratados, como
cartesiano. A área de estudos dos estilos parentais eles se operam e, em quais circunstâncias são evo-
pode ser um exemplo desse erro de categoria, por cados e mantidos. Assim, foram analisadas dispo-
apresentar pouca consistência no uso de termos sições (ou condições ambientais) do conhecimento
nas literaturas da área. Como efeito, essa análise (ou comportamento) ocorrer de cada item descrito
pode minimizar confusões, tanto de quem usufrui do inventário, compatível com a proposta de Ryle
a pesquisa, quanto para o próprio cientista, acerca (1949/2009), utilizando o menor número possível

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Operacionalização de termos do IEP 063-078

de constructos direcionados a eventos não obser- de avaliação dos padrões parentais, tanto sob a óti-
váveis (Alves, 2013; Smith, 2007; Starling, 2004;), ca dos pais quanto sob a ótica dos filhos. Seu gran-
uma vez que termos cognitivos podem se referir ao de diferencial é utilizar questões que têm alto nível
comportamento ou às contingências que os con- de compreensão ao serem respondidas. Dessa for-
trolam (Dittrich, 2011; Veloso, Tonet, & Dittrich, ma, o presente trabalho não se constitui como uma
2018; Strapasson, Carrara & Júnior, 2007. crítica, ou proposta de adequação do questionário.
Por outro lado, Ryle (1949/2009) defende a uti- Além disso, o presente estudo pode favorecer o es-
lização de termos mentalistas por teóricos desde clarecimento dos dados junto aos pais após aplica-
que sejam utilizados de maneira lógica, isto é, não ção do IEP, para maior compreensão das variáveis
serem tratados como causa de um comportamento. diretamente envolvidas nas interações com os filhos
Em um sentido próximo, Skinner (1961) menciona em cada caso concreto, as quais podem ser possí-
que desde que os comportamentos de um organis- veis de se investigar em complemento à aplicação
mo obtenham seus reforçadores pela comunida- do instrumento. Isso pode contribuir para maior
de verbal inserida, não há empecilhos no uso de coleta de informações e para o direcionamento es-
termos cotidianos com definições que carecem de tratégico interventivo adequado para cada situação,
uma operacionalização e/ou de uma análise funcio- além de abrir espaço para a aplicação dos passos 4
nal. Assim, ressalta-se as dificuldades encontradas e 5 da análise funcional descrita por Matos (1999),
no momento da análise de identificação de todos os com o teste das relações identificadas na própria
elementos da contingência de cada prática, não sen- intervenção. A título de exemplo, ao pai responder
do sempre possível, visto que a forma de apresenta- que “castigo-o quando estou nervoso”, o terapeuta
ção para o público leigo, público alvo do inventário, tentará identificar se há maior frequência de reti-
torna desnecessária a especificação desses termos, rada de possibilidade de engajar em alguma ativi-
visto as descrições das práticas já fazerem parte das dade ou agressão, aplicando o passo 4 da análise
respectivas comunidades verbais, referendadas pe- funcional. Adicionalmente, testaria intervenções
los procedimentos de validação aos quais o inven- específicas para lidar com os padrões identificados,
tário foi submetido (Gomide, 2006). Porém, ao se aplicando o passo 5.
depararem com os itens, pais respondem a aspectos As descrições e análises dos estados corporais
ontogenéticos e as variáveis de controle sob as quais foram limitadas visto que, “em geral, a variedade
foram submetidos, e a inferência desses elementos e nuanças das emoções sugerem que tentar clas-
ou de possíveis relações não diretamente apontadas sificá-las definitivamente seria quase impossível”
não é indicada em uma análise funcional. (Kohlenberg & Tsai, 2006, p. 77).
Uma análise conceitual pode auxiliar a compre- A Análise Experimental do Comportamento,
ensão e intervenção experimental ou aplicada dos bem como a Análise Aplicada do Comportamento
fenômenos comportamentais, além de um diálogo usufruem da análise funcional para a descrição
producente entre analistas do comportamento so- comportamental de um modo mais completo. Por
bre os fenômenos comportamentais e suas variáveis sua vez, reconhece-se que a análise conceitual, sozi-
de controle envolvidos, contribuindo para o refi- nha, não é suficiente para o crescimento da análise
namento de pesquisas na área de estilos parentais do comportamento (Strapasson, Carrara & Júnior,
e intervenções clínicas analíticas comportamentais 2007). Por fim, Skinner (2006) aponta que a análise
infantis (Dittrich, 2011). A presente análise consis- operacional e funcional de termos cognitivos pode
tiu de sugestões de definições de termos originais a alterar o sentido da palavra original, sendo inviável
serem utilizados na prática clínica no contexto da propor definições desse sentido original. Contudo,
análise das práticas educativas parentais, possibili- com relação à operacionalização, deve-se conside-
tando para o psicólogo clareza das relações entre os rar a posição de Bachrach (1975) de que um mes-
eventos tratados. mo termo pode ter mais de uma definição e, nes-
Ressalta-se que o IEP é um inventário validado se sentido cada definição aqui apresentada é uma
e com grande consistência interna, o que tem pos- proposta e contextos parentais específicos podem
sibilitado sua utilização de forma eficaz no processo levar à identificação de outros eventos observáveis

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Amanda Viana dos Santos, Cristiano Coelho 063-078

que estão controlando os comportamentos dos pais analítica funcional [Functional analytic psycho-
e, consequentemente, o comportamento dos filhos. therapy: Creating intense and curative therapeu-
Assim, sugere-se, de acordo com a proposta de tic relationships] (R. R. Kerbauy, Trans.). Santo
Skinner (1961), a observação direta para comple- André: Esetec. (Original work published 1991).
mentação dos dados para uma análise funcional e Matos, M. A. (1999). Análise funcional do compor-
operacional completa e fidedigna, alinhado a pro- tamento. Estudos de Psicologia, 16(3), 8-18.
cedimentos de diferentes manipulações. Fonseca, F. N. & Nery, L. B. (2018). Formulação
As análises dos itens possibilitaram especificar comportamental ou diagnóstico comporta-
topografias e contextos de ocorrência de diferen- mental: um passo a passo. Em A. K. C. R. de-
tes comportamentos parentais e filiais e a poste- Farias, F. N. Fonseca, & L. B. Nery (Orgs.),
rior identificação de possíveis variáveis de controle Teoria e Formulação de Casos em Análise
presentes em interações baseadas em estilos mais Comportamental Clínica (pp 23-48). Porto
positivos ou em estilos mais negativos. Em termos Alegre: Artmed.
gerais, as práticas positivas ao serem analisadas en- Prust, Laísa Weber, & Gomide, Paula Inez Cunha.
volveram prioritariamente reforço positivo voltado (2007). Relação entre comportamento moral
para comportamentos benéficos, ao passo que as dos pais e dos filhos adolescentes. Estudos de
práticas negativas envolveram baixo nível de re- Psicologia (Campinas),  24(1), 53-60.  https://
forço positivo e alto nível de coerção. Com isso, os dx.doi.org/10.1590/S0103-166X2007000100006
presentes dados podem contribuir para o direcio- Ryle, G. (2009). The concept of mind. Routledge.
namento de tratamentos infantis ou de treinamen- Originalmente publicado em 1949.
tos parentais. Sampaio, I. T. A., & Gomide, P. I. C. (2007).
Inventário de estilos parentais (IEP)–Gomide
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Informações do Artigo

Histórico do artigo:
Submetido em: 17/06/2020
Primeira decisão editorial: 13/07/2020
Aceito em: 12/08/2020
Editora associada: Alessandra Turini Bolsoni-Silva

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