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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE EDUCAÇÃO
DEPARTAMENTO DE FUNDAMENTAÇÃO DA EDUCAÇÃO
ECONOMIA DA EDUCAÇÃO

Aluna: Anne Karyne Cunha Martins (Matemática – licenciatura – Noite)


Matrícula: 20200060561

Fichamento de citação

Pedagogia da Fábrica

KUENZER , Acácia Zeneida. Pedagogia da Fábrica: as relações de produção e a educação do


trabalhador. 2. ed. São Paulo - SP: Cortez: autores associados, 1986. 203 p. ISBN 85-249-0016-4.

Educação e trabalho no modo de produção capitalista: as formas de abordar a questão


- A inserção da relação educação/trabalho no quadro da hegemonia -

"[...] o capital se utiliza da heterogestão como forma de dominação sobre o trabalho, a qual, na
medida em que incorpora o saber sobre o trabalho ao capital e expropria dele o operário, promove a
educação do trabalhador." (p. 48)

"Esta pedagogia do trabalho capitalista representada pela heterogestão se dá tanto ao nível da


coerção quanto do consenso, inscrevendo-se no quadro mais amplo das relações hegemônicas." (p.
48)

"[...] a função hegemônica ultrapassa o campo exclusivamente superestrutural à medida que as


práticas ideológicas aparecem desde o aparelho de produção econômica, desde a fábrica." (p. 49)

“Assim, o Estado é concebido como sociedade política mais sociedade civil, o que significa coerção
mais consenso. A dominação de classe se exerce por meio dele, cuja função coercitiva não se separa
de sua função adaptativa e educativa, que procura adequar ao aparelho produtivo à moralidade das
massas populares." (p. 49)

“A partir da luta de classes, portanto, é que se dá a incorporação do conceito de hegemonia ao de


Estado, que aparece como o modo de constituição e organização de classe mediante a relação
orgânica entre modo de produção e superestrutura;” (p. 49)

“[...] o Estado, longe de reduzir-se a um instrumento externo às relações sociais, articula-se com
elas a partir de um ponto preciso: a dominação de classe determinada pela função exercida no
processo produtivo a partir da contradição entre capital e trabalho.” (p. 50)

“Ao analisar o americanismo e o fordismo, Gramsci demostra sua eficiência enquanto forma de
extração de mais-valia à medida em que, a partir das relações de produção e das novas formas de
organização do processo produtivo, são concebidos e veiculados novos modos de vida, de
comportamentos, de valores ideológicos. Assim, acresce-se à coerção a busca de consenso através
da veiculação de uma nova concepção de mundo correspondente aos interesses do capital.” (p. 50)

“O fenômeno do fordismo só foi possível a partir das condições próprias do desenvolvimento do


capitalismo americano que permitiu a racionalização da produção através da combinação da força
representada pela desmobilização das organizações operárias livres com a persuasão através de
‘altos salários, benefícios sociais, propaganda ideológica e política habilíssima, para finalmente
basear toda a vida do país na produção.” (p.50)

“Em função do novo tipo de produção racionalizada surgiu a necessidade de elaborar um novo tipo
de homem, capaz de ajustar-se aos novos métodos da produção, para o que eram insuficientes os
mecanismos de coerção social. Por isto, ela deve ser combinada com a persuasão e com o
consentimento [...]” (p.51)

“Mas só isso é insuficiente; trata-se de veicular outro modo de viver, de pensar e de sentir a vida,
adequados aos novos métodos de trabalho caracterizados pela automação, ou seja, pela ausência de
mobilização de energias intelectuais e criativas no desempenho do trabalho.” (p. 51)

“Dadas as características do novo tipo de trabalho, determinou-se a necessidade de uma nova


concepção de mundo que fornecesse ao trabalhador uma justificativa para sua própria e crescente
alienação, e ao mesmo tempo, suprisse as necessidades do capital com um homem cujos
comportamentos e atitudes fossem compatíveis com os imperativos do novo sistema produtivo.”
(p.52)

“É neste sentido que a hegemonia além de expressar uma reforma econômica, assume as feições de
uma reforma intelectual e moral [...]” (p.52)

“A veiculação da nova concepção de mundo segundo os intelectuais hegemônicos do capital se faz


no seio do próprio processo produtivo [...]” (p.52)

“[...] todas relação hegemônica é necessariamente uma relação pedagógica, que começa na fábrica e
atinge todos os setores da vida social. (Gramsci, 1981, p. 37).” (p. 52)

“Compreendida a hegemonia como formação da vontade coletiva, e, portanto, reforma econômica,


intelectual e moral, a questão que se coloca é a forma de encaminhamento da superação da
dominação do trabalho pelo capital, tendo em vista a elaboração de uma contra-hegemonia, que
permita ao operário libertar-se do caráter desumano do trabalho capitalista.” (p. 53)

“Gramsci mostra o caráter contraditório da hegemonia afirmando que quanto mais uma classe é
autenticamente hegemônica, mais ela deixa às classes adversárias a possibilidade de se organizarem
e se constituírem em força política autônoma. Assim, o taylorismo também reveste-se de caráter
progressista na medida em que possibilita a organização do proletariado e a partir dela, a conquista
de novas formas de democracia a partir da fábrica; nesse sentido, o taylorismo prepara o tempo em
que o proletariado assumirá o controle da produção social.” (p. 53)
“Não há teoria da hegemonia sem teoria da crise da hegemonia; ao mesmo tempo que as classes
subalternas se integram à classe dominante, elas desenvolvem modos de resistência e de
autonomização que lhes permitem constituir-se enquanto classe e tornarem-se hegemônicas; [...]”
(p.53-54)

“Partindo do pressuposto que a hegemonia só é possível pela unidade teoria/ação, ou seja, ela só se
dá com a plena consciência teórica e cultural da própria ação, ela supõe mudanças ao nível
estrutural e superestrutural. Essas mudanças ao nível estrutural implicam novo modo de produzir
[...] ao nível superestrutural, novas formas de organização política, dentre as quais novas foras de
organizar o trabalho [...]” (p. 54)

“Essa superação só será possível pela destruição da hegemonia do capital a partir da construção da
hegemonia do trabalho, para o que são exigidas três condições: condições econômicas; [...]
condições políticas; [...] condições culturais; [...]” (p.54)

“Em resumo, para que as classes subalternas superem a dominação da classe dominante, elas
precisam acionar seus próprios aparelhos de hegemonia, lutando por assumir seu papel de dirigente
mediante a desagregação das bases históricas do Estado.” (p. 55)

“É nesse quadro que a pedagogia do trabalho desempenha papel fundamental, na medida em que
novas formas de organização do trabalho implicam nova concepção do trabalho [...]” (p. 55)

“[...] o fenômeno educativo faz a mediação entre a mudança estrutural e sua manifestação no campo
político ideológico. Vista desta forma, a pedagogia do trabalho inscreve-se no quadro da hegemonia
a partir do momento em que, tendo em vista os interesses hegemônicos de determinada classe
social, contribui para o estabelecimento de novos modos de pensar, sentir e conhecer.” (p. 55)

“Assim como a heterogestão se constitui por excelência na pedagogia do trabalho capitalista, na


medida em que opera pela via da desqualificação da maioria da força de trabalho [...] o proletariado,
partindo das condições de trabalho concretas, há que construir sua própria pedagogia do trabalho,
cuja base serão os seus próprios interesses hegemônicos, dentre os quais a qualificação
compreendida como domínio do conteúdo do trabalho é fundamental.” (p. 55)

“O caráter imprescindível do domínio do conteúdo do trabalho tendo em vista a superação da


divisão do trabalho é apontado por Marx e Engels, que mostram que a nova sociedade romperá com
a fixação do trabalhador a uma única atividade, que lhe surge como poder objetivo que o domina e
escapa ao seu controle, permitindo-lhe aperfeiçoar-se no campo que lhe aprouver, sem fixa-lo, a
uma esfera exclusiva de atividade. (Marx e Engels, s. d., p. 40).” (p. 55)

“Nesse processo, nas condições concretas do capitalismo, o ensino do trabalho não é indiferente aos
interesses hegemônicos do proletariado, incapaz de superar sua condição de dominação sem a
reapropriação do saber sobre o trabalho, até agora incorporado ao capital e convertido em força de
dominação. Ao contrário, a aquisição do saber sobre o trabalho capitalista é um passo importante
rumo à sua superação.” (p. 56)
“Como é o capital eu historicamente deteve os instrumentos para a elaboração do saber sobe o
trabalho, não há, quanto ao conteúdo da ciência do trabalho, duas pedagogias distintas e
antagônicas.” (p. 56)

“A utopia, portanto, está na autogestão, compreendida como o controle da produção por todos os
homens, com o estabelecimento da hegemonia do trabalho sobre o capital.” (p. 56)

“Muitas das condições concretas que possibilitam essa elaboração já estão dadas, de vez que a
contradição capital/trabalho expressa na heterogestão já coloca limites ao próprio desenvolvimento
capitalista.” (p. 57)

“[...] esta contradição está presente educando o trabalhador ao mesmo tempo para o capitalismo e
para a sua superação.” (p. 57)

“Contudo, para que isto seja possível, a mera qualificação do trabalhador compreendida como
aquisição do conteúdo do trabalho é insuficiente; torna-se imprescindível o desenvolvimento da
consciência da classe trabalhadora que lhe permita organizar-se para a conquista efetiva desses
avanços.” (p. 57)

As relações de produção e a educação do trabalhador em uma empresa capitalista: da distribuição


desigual do saber à veiculação da concepção de mundo

“A educação para o trabalho não se esgota no desenvolvimento de habilidades técnicas que tornem
o operário capaz de desempenhar sua tarefa no trabalho dividido. Muito mais ampla, ela objetiva a
constituição do trabalhador enquanto operário, o que significa a sua habituação ao modo capitalista
de produção.” (p. 59)

“Para isso, são acionados mecanismos de pressão externa ao trabalhador que objetivam o seu
disciplinamento através da força e da persuasão, tendo em vista a incorporação de uma concepção
de mundo que conduza a uma ética do trabalho que privilegie os hábitos de ordem, exatidão,
submissão, assiduidade, pontualidade, cuidados com o corpo, com a segurança no trabalho, com os
instrumentos, com o ritmo, com a qualidade [...]” (p. 59)

“Ao mesmo tempo, a racionalização do processo produtivo exige uma nova moral social e sexual,
aliada a um reforçamento da família monogâmica, a padrões de vida ascética, que torne possível o
disciplinamento da vida social, dos vícios e dos instintos sexuais, para garantir que as energias não
sejam desperdiçadas em outras atividades que não sejam as relativas ao processo produtivo.
(Ibidem, p. 394).” (p. 59)

“[...] o capital desenvolveu um processo pedagógico peculiar, que combina força e persuasão, e se
articula com o projeto hegemônico da classe burguesa.” (p. 60)

“A partir dessas afirmações, Gramsci permite compreender o processo pedagógico que ocorre no
interior do aparelho produtivo, como uma das formas de concretização das relações hegemônicas
que ocorrem ao nível das relações sociais mais amplas, constituindo-se em uma das mediações no
processo da luta de classe.” (p. 60)

“Embora a hegemonia si dê a nível do conjunto das relações sociais, Gramsci mostra que na
sociedade capitalista o processo pedagógico que ocorre na fábrica é uma de suas modalidades
privilegiadas de concretização, pelo desenvolvimento de um trabalho intencional e sistematizado de
obtenção de consenso pela veiculação de uma concepção de mundo que se apresente como uma
verdadeira revolução econômica e moral, complementada por mecanismos de coerção, com o
objetivo de formar um tipo de homem em conformidade com as necessidades capitalistas.” (p. 63)

“[...] a existência de intelectuais comprometidos exclusivamente com aspectos técnicos da educação


dos trabalhadores, como os engenheiros de processo, os engenheiros de qualidade e os instrutores.
Estes desempenham predominantemente um conjunto de ações especificamente pedagógicas, com o
objetivo de treinar os operários, o que se dá por um processo de distribuição desigual do saber.” (p.
63)

“[...] a divisão capitalista do trabalho não se desenvolveu por causa da eficácia produtiva em si, mas
da eficácia relativa à maximização da produtividade de determinado tipo de trabalho: o trabalho
alienado. Contudo, essa mesma divisão tem colocado limites à extração da mais-valia [...]
decorrente do esvaziamento do conteúdo do trabalho e da desqualificação que o acompanhou . O
trabalho simplificado, tornado repetitivo e desinteressante, é que teria trazido os problemas que
afligem a administração das empresas contemporâneas.” (p. 64-65)

“[...] as formas de coerção do capital sobre o trabalho acabaram por criar focos de resistência
operária que funcionam como limitadores do próprio desenvolvimento capitalista. Dentre estas
formas de coerção está a organização taylorista do trabalho, que tem gerado inúmeras formas de
resistência [...]” (p. 65)

“Estas formas de resistência à exploração refletem-se nas taxas de lucro que começam a baixar, e na
competitividade dos produtos.” (p. 65)

“As medidas puramente organizacionais e repressivas têm-se mostrado insuficientes para resolver
estes problemas e aumentar a produtividade [...] Havia, pois, que buscar outra forma de obter a
colaboração do operário no processo, o que não foi possível pela criação de uma nova pedagogia do
trabalho, obtida pela integração das ciências do comportamento à teoria da organização industrial.
Desta integração resultam várias políticas, dentre as quais a da valorização dos recursos humanos e
da participação com o objetivo de minimizar os efeitos da contradição entre capital e trabalho por
um processo de integração econômica e ideológica. Não basta reconhecer que, nas condições
sociais contemporâneas, a heterogestão é um freio ao desenvolvimento do capitalismo; é preciso
que o capital comece a discutir a questão da possibilidade do surgimento de outras formas de
organização do trabalho [...]” (p. 65)

“O capital começa a fazer um novo discurso: extinção da linha de montagem, enriquecimento das
tarefas, participação na direção, administração por objetivos, formação permanente, círculos de
controle de qualidade, desenvolvimento organizacional e assim por diante.” (p. 65)

“O patronado começa a perceber que o esquema tradicional de divisão do trabalho impede o


aproveitamento de uma força adicional de extração de mais-valia: o saber do operário sobre o
trabalho [...]” (p. 66)

“ Reconhece-se que os operários conhecem a produção melhor que ninguém [...] é prontanto
necessários dar-lhes voz para que se expressem sobre o trabalho e as outras formas de melhorá-lo.
Fazer isso sem perder a possibilidade de controlar a iniciativa operária liberada exige um processo
educativo competente, e este é um problema crucial com que se defrontam os administradores
contemporâneos. Não há, portanto, uma ruptura efetiva com o taylorismo, mas apenas uma nova
forma de exercê-lo, mais condizente com os padrões culturais contemporâneos.” (p. 66)
“Para isto acrescenta-se ao taylorismo as formas de administrar possibilitadas pelas teorias de
relações humanas e comportamentalista que exploram, além dos incentivos monetários, as
motivações psicossociais, principalmente, as necessidades de segurança, de afeto, de aprovação
social, de prestígio, de auto-realização.” (p. 66)

“Novas variáveis são trabalhadas pela administração: liderança, motivação, clima organizacional,
satisfação no trabalho; a produtividade é considerada como função direta do grau de adaptação e
satisfação do indivíduo no trabalho, que depende também do padrão social no convencional do
grupo; surge a gerencia de recursos humanos com o objetivo de adaptar o indivíduo ao modo de
produção capitalista.” (p. 66)

“Nesse sentido, as estratégias administrativas contêm um projeto pedagógico explícito, na medida


em que objetivam educar o trabalhador para o processo produtivo racionalmente organizado, com
mecanismos de controle e de difusão da ideologia conveniente aos interesses do capital. Assim
sendo, elas se constituem em força produtiva [...]” (p. 67)

“A contradição entre capital e trabalho é reconhecida, mas em função de seu poder revolucionário
tem que ser controlada.” (p. 67)

“As causas reais da insatisfação e das resistências, que se situam ao nível cultural, não são
questionadas;” (p. 67)

“A hierarquia não é suprimida, mas se dá de outra forma [...]” (p. 67)

“Verifica-se, pois, que de modo geral as tentativas de democratização industrial desenvolvidas pela
psicossociologia nada mais são do que uma nova forma de educação com o intuito de encobrir a
contradição entre capital e trabalho. Por trás do discurso novo, as relações de produção continuam
as mesmas.” (p. 67)

“A política de recursos humanos é composta por um conjunto de estratégias tais como política
salarial, benefícios, treinamentos, associações, jornais, assistência social [...]” (p. 69-70)

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