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PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 1 1

Aula 1: Teoria geral dos recursos ...................................................................................... 11


Introdução ........................................................................................................................... 11
Conteúdo.............................................................................................................................. 12
Conceito de recurso........................................................................................................ 12
Voluntário.......................................................................................................................... 12
Voluntário e o reexame .................................................................................................. 14
No curso do processo ..................................................................................................... 15
Princípios que constituem a base do direito processual civil que regula a
matéria recursal ............................................................................................................... 20
Duplo grau de jurisdição ................................................................................................ 21
Proibição à reformatio in pejus ..................................................................................... 23
Princípio da taxatividade recursal ................................................................................. 24
Singularidade (unicidade ou unirrecorribilidade) ...................................................... 25
Fungibilidade .................................................................................................................... 29
Novo processo civil ......................................................................................................... 33
Referências........................................................................................................................... 35
Exercícios de fixação ......................................................................................................... 36
Chaves de resposta ................................................................................................................ 41
Aula 1 ..................................................................................................................................... 41
Exercícios de fixação ....................................................................................................... 41
Aula 2: Técnica de repetição de teses .............................................................................. 43
Introdução ........................................................................................................................... 43
Conteúdo.............................................................................................................................. 44
A força dos precedentes jurisdicionais: breve histórico .......................................... 44
Unidade do direito ........................................................................................................... 45
Fortalecimento dos precedentes .................................................................................. 45
Revolução no sistema de precedentes........................................................................ 49
Certidão de intimação da decisão agravada .............................................................. 50
Força jurisprudencial....................................................................................................... 52
A aplicação de precedentes no novo CPC ................................................................. 53
Precedentes/fontes regulares de direitos.................................................................... 57
Aplicação do sistema de precedentes ......................................................................... 58
Referências........................................................................................................................... 59
Exercícios de fixação ......................................................................................................... 61

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Chaves de resposta ................................................................................................................ 67
Aula 2 ..................................................................................................................................... 67
Exercícios de fixação ....................................................................................................... 67
Aula 3: Incidente de res. de demanda repetitiva ........................................................... 67
Introdução ........................................................................................................................... 68
Conteúdo.............................................................................................................................. 69
Natureza e cabimento do incidente de resolução de demandas repetitivas ...... 69
Do Artigo 976.................................................................................................................... 71
Procedimento-modelo ................................................................................................... 72
Novo CPC .......................................................................................................................... 72
Procedimento e julgamento do incidente.................................................................. 74
Caso-piloto ....................................................................................................................... 76
Do objetivo do pilot-judgment procedure ................................................................. 77
Referências........................................................................................................................... 81
Exercícios de fixação ......................................................................................................... 83
Chaves de resposta ................................................................................................................ 86
Aula 3 ..................................................................................................................................... 86
Exercícios de fixação ....................................................................................................... 86
Aula 4: Recurso de apelação ............................................................................................... 89
Introdução ........................................................................................................................... 89
Conteúdo.............................................................................................................................. 90
Devolutividade do recurso de apelação ...................................................................... 90
Critérios do recurso de apelação.................................................................................. 91
Efeitos do recurso de apelação ..................................................................................... 92
Devolutividade do recurso de apelação ...................................................................... 93
Extensão do recurso de apelação................................................................................. 93
Profundidade e translatividade do recurso de apelação.......................................... 94
Mudanças quanto à devolutividade no CPC/2015 .................................................... 94
Ausência de preclusão em relação às decisões interlocutórias, em geral, e a
recorribilidade por meio da apelação ........................................................................ 100
Admissibilidade do recurso de apelação e os efeitos deste recurso ................... 102
Inexistência de admissibilidade................................................................................... 102
Referências......................................................................................................................... 106
Exercícios de fixação ....................................................................................................... 107
Chaves de resposta .............................................................................................................. 111
Aula 4 ................................................................................................................................... 111

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Exercícios de fixação ..................................................................................................... 111
Aula 5: Rec. das decisões interloc. de 1ª inst................................................................ 114
Introdução ......................................................................................................................... 114
Conteúdo............................................................................................................................ 115
Considerações históricas iniciais ................................................................................ 115
Mudanças advindas da reforma no sistema ............................................................. 116
Cabimento dos recursos de agravo contra decisões de 1ª instância (no
CPC/1973) ........................................................................................................................ 118
Aspectos preliminares em relação à recorribilidade contra decisões de 1ª
instância no CPC/2015.................................................................................................. 120
Reformas legislativas ..................................................................................................... 128
Cabimento do agravo de instrumento no novo CPC e outros aspectos ........... 130
Recomendação nº 5 no âmbito da União Europeia ............................................... 131
Lei Processual Portuguesa ........................................................................................... 132
Aspectos procedimentais relativos ao agravo de instrumento no novo CPC ... 133
CPC/2015 ......................................................................................................................... 135
Referências......................................................................................................................... 136
Exercícios de fixação ....................................................................................................... 138
Chaves de resposta .............................................................................................................. 142
Aula 5................................................................................................................................... 142
Exercícios de fixação ..................................................................................................... 142
Aula 6: Embargos de declaração...................................................................................... 145
Introdução ......................................................................................................................... 145
Conteúdo............................................................................................................................ 146
Cabimento do recurso .................................................................................................. 146
Curiosidade ..................................................................................................................... 147
Conceito de cabimento ................................................................................................ 147
Embargos ........................................................................................................................ 148
Obscuridade, omissão ou contradição...................................................................... 149
Contradição conceito ................................................................................................... 150
Omissão - conceito ....................................................................................................... 151
Fundamento ................................................................................................................... 152
Efeito interruptivo dos embargos e embargos protelatórios ................................ 152
Relação causa-efeito ..................................................................................................... 153
Os embargos de declaração ........................................................................................ 153
Apresentação dos embargos de declaração ............................................................ 154

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Segundo o Artigo 1.039 ................................................................................................ 154
Encerramento ................................................................................................................. 155
Referências......................................................................................................................... 155
Exercícios de fixação ....................................................................................................... 156
Chaves de resposta .............................................................................................................. 161
Aula 6 ................................................................................................................................... 161
Exercícios de fixação ..................................................................................................... 161
Aula 7: Carac. comuns aos rec. exc. e reun. de rep. ................................................... 162
Introdução ......................................................................................................................... 162
Conteúdo............................................................................................................................ 163
Questões comuns aos recursos excepcionais ......................................................... 163
Recurso extraordinário e recurso especial................................................................ 138
Pedido de concessão de efeito suspensivo a recurso extraordinário ou a recurso
especial ............................................................................................................................ 141
O direito à espécie ......................................................................................................... 146
Procedimento de identificação e encaminhamento dos recursos repetitivos.. 153
Estatuto de 2015 ............................................................................................................ 155
Referências......................................................................................................................... 156
Exercícios de fixação ....................................................................................................... 157
Chaves de resposta .............................................................................................................. 160
Aula 7 ................................................................................................................................... 160
Exercícios de fixação ..................................................................................................... 160
Aula 8: Recursos excepcionais: prosseguimento ........................................................ 163
Introdução ......................................................................................................................... 163
Conteúdo............................................................................................................................ 164
Recurso especial ............................................................................................................ 164
Situações em que se admite o controle por recurso excepcional ....................... 165
Recurso extraordinário ................................................................................................. 166
Requisito de admissibilidade do recurso extraordinário ........................................ 169
A transcendência da controvérsia constitucional ................................................... 170
Poderes do presidente ou vice-presidente dos tribunais de “origem” quanto aos
recursos excepcionais................................................................................................... 172
O Agravo normatizado pelo Artigo 1.042 ................................................................. 174
Referências......................................................................................................................... 176
Exercícios de fixação ....................................................................................................... 177
Chaves de resposta .............................................................................................................. 180

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Aula 8 ................................................................................................................................... 180
Exercícios de fixação ..................................................................................................... 180
Conteudista ........................................................................................................................... 184

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Esta disciplina contempla o estudo de determinados recursos e dos
instrumentos que reforçam a aplicação (ou mesmo repetição) dos precedentes
jurisdicionais, sempre segundo o novo Código de Processo Civil (2015).
Abordaremos a Teoria geral dos recursos, essencial a melhor compreensão de
todo o restante, tratado nas sete aulas seguintes. Neste aspecto, especialmente
dois pontos fundamentais são abordados: o conceito adequado de recursos,
com todas as suas características fundamentais e, em seguida, os princípios
considerados essenciais à regulação de boa parte do direito processual aplicado
à matéria.

Como consta do próprio título da Disciplina, essencial tratarmos (e assim o


faremos) da força dos precedentes jurisdicionais, por meio dos instrumentos
criados e fortalecidos nas últimas 2 (duas) décadas como a sentença liminar, a
súmula impeditiva de recurso, os julgamentos monocráticos com base em
jurisprudencia dominante e os recursos especiais repetitivos. Instrumentos
como esse caracterizam uma demanda legislativa clara por aglutinar, o máximo
possível, as teses e questões repetitivas, de maneira a julgá-las sempre no
mesmo sentido, em busca de eventual maior segurança jurídica, como se tem
proclamado entre juristas renomados. Nessa esteira, portanto, tem-se a
previsão, no novo CPC, do Incidente de resolução de demandas repetitivas, o
qual você estudará com profundidade nesta disciplina.

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Em continuação, esta Disciplina aborda alguns dos recursos mais (talvez, os
mais) importantes, quais sejam, o recurso de apelação, os recursos de agravo,
os embargos de declaração e os recursos excepcionais: especial e
extraordinário, sempre segundo o CPC de 2015. Quanto a eles, veremos os
respectivos cabimentos, características mais importantes, dentre outros
aspectos necessários.

Sendo assim, essa disciplina tem como objetivos:


1. O conhecimento do que seja, precisamente, um recurso e o que o diferencia,
por exemplo, de ações autonomas cujo objetivo é, igualmente, impugnar atos,
inclusive judiciais, assim como diferenciá-lo de outros institutos como o
reexame necessário cuja função lhe é, também, bastante próxima;
2. O estudo dos princípios recursais como necessário à compreensão da
regulamentação de toda a matéria recursal, cujo conteúdo, evidentemente,
segue a base por eles (princípios) instituída;
3. A devida percepção da relevância dos precedentes e como se tem construído
um modelo de julgamentos por amostragem (por casos pilotos), que vem sendo
construído nas últimas 2 (duas) décadas no direito processual civil brasileiro.
Para tanto, será necessário conhecer os principais fundamentos dos
instrumentos caracterizadores desses modelos (já existentes no direito
brasileiro);
4. Com o mesmo propósito, demonstraremos que o Código de Processo Civil
não só mantém os instrumentos anteriores, mas ainda os fortalece, tornando-os
mais objetivos, criando, por exemplo, o incidente de resolução de demanda
repetitivas, objeto de Aula própria;
5. O cabimento do incidente de resolução de demandas repetitivas, absoluta
novidade prevista pelo Novo Código de Processo Civil, cujo conhecimento faz-se
inteiramente necessária por refletir, em seu mais alto grau, o modelo de
julgamento por meio CASOS-PILOTOS;
6. O procedimento e julgamento deste Incidente, cujo teor vinculará todos os
processos cujas lides versem sobre a mesma questão jurídica, elevando-se,

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talvez, como o instrumento de construção de precedentes de maior força dentre
os existentes, após a súmula vinculante;
7. Conhecimento aprofundado da devolutividade do Recurso de Apelação,
certamente a maior presente dentre todos os demais recursos e mais relevante,
considerando-se que, por meio deste recurso, o Tribunal pode se ver obrigado a
rever não apenas a sentença recorrida como todos (ou boa parte) dos atos
processuais praticados no referido processo;
8. O Recurso contra sentença no Novo Código de Processo Civil, apresentando-
se os respectivos dispositivos;
9. Conhecimento aprofundado da recorribilidade das decisões interlocutórias
proferidas em 1ª instância, sistema constantemente alterado nas últimas
décadas e que levou à quase extinção do agravo retido;
10. Também é essencial a este Curso tratarmos do efeito interruptivo em
relação a outros recursos e a ilícita prática de utilização dos embargos com fins
procrastinatórios;
11. O conhecimento, por parte do profissional-leitor, das questões comuns aos
2 recursos excepcionais que compõem a ordem jurídica processual, tais como a
necessidade de prequestionamento e vedação ao reexame de prova;
12. Tratar, especificamente, dos recursos em questão, abordando as
características próprias de cada um deles, como a relevância da proteção à
constituição, função precípua do recurso extraordinário, e o combate à eventual
violação à Lei/Tratado federal, o que se faz por meio do recurso especial;
13. O necessário aprofundamento nas questões relativas ao cabimento do
recurso, incluindo aspectos históricos relevantes à construção da ordem jurídica
atualmente aplicável;
14. Também é essencial a este Curso tratarmos do efeito interruptivo em
relação a outros recursos e a ilícita prática de utilização dos embargos com fins
procrastinatórios;
15. O conhecimento, por parte do profissional-leitor, das questões comuns aos
2 recursos excepcionais que compõem a ordem jurídica processual, tais como a
necessidade de prequestionamento e vedação ao reexame de prova;

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16. Tratar, especificamente, dos recursos em questão, abordando as
características próprias de cada um deles, como a relevância da proteção à
constituição, função precípua do recurso extraordinário, e o combate à eventual
violação à Lei/Tratado federal, o que se faz por meio do recurso especial.

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0
Introdução
Meu caro profissional, pós-graduando, nesta primeira aula você aprofundará
seus conhecimentos na teoria geral dos recursos, essencial a melhor
compreensão de todo o restante a ser tratado nas sete aulas seguintes.

Abordaremos dois pontos fundamentais, quais sejam, o conceito adequado de


recursos, com todas as suas características fundamentais e, em seguida, os
princípios considerados essenciais à regulação de boa parte do direito
processual aplicado à matéria.

Objetivo:
1. O conhecimento do que seja, precisamente, um recurso e o que o diferencia,
por exemplo, de ações autônomas cujo objetivo é, igualmente, impugnar atos,
inclusive judiciais, assim como diferenciá-lo de outros institutos como o
reexame necessário cuja função lhe é, também, bastante próxima;
2. O estudo dos princípios recursais como necessário à compreensão da
regulamentação de toda a matéria recursal, cujo conteúdo, evidentemente,
segue a base por eles (princípios) instituída.

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1
Conteúdo
Conceito de recurso
O principal conceito de recurso, no direito brasileiro, ou seja, o admitido por
boa parte da doutrina e, por conseguinte, o mais repetido, é aquele adotado
por José Carlos Barbosa Moreira:

“Remédio voluntário idôneo a ensejar, no mesmo processo, a reforma,


invalidação, integração ou esclarecimento da decisão que se impugna”.

Este conceito tornou-se tão repetido porque resume, em poucas palavras, as


características fundamentais de um recurso, que ora se inicia a desenvolver, na
ordem exposta pelo próprio jurista carioca:

• Voluntariedade;
• Dá-se no curso do processo;
• Nele, traz-se, sempre, uma das seguintes pretensões: reforma, invalidação,
integração ou esclarecimento;
• Trata-se de um instrumento de impugnação.
Avance para entender melhor cada uma das palavras.

Voluntário
Por que voluntário?

O reexame necessário, por exemplo, que gera efeitos praticamente idênticos ao


de um recurso, não pode ser considerado como tal justamente por quê?

Ora, o recurso precisa ser objeto de manifestação expressa da parte, atendendo


aos requisitos dos quais vamos tratar oportunamente, com um dos pedidos
(pretensão) mencionados no referido conceito (reformar-invalidar-esclarecer-
integrar), consistindo, pois, em um instrumento de provocação-pretensão da
parte, sem o qual ele (recurso) não subsiste de forma alguma.

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2
Para seu melhor entendimento, na sequência a seguir, veja no julgado a
relevância da provocação. Observe que, em razão da inércia da parte,
justamente em não ter recorrido no momento oportuno, a matéria foi entendia
como PRECLUSA, ainda sob vigência do CPC/73:

Primeira Seção
DIREITO PROCESSUAL CIVIL. PRECLUSÃO DA FACULDADE DE
REQUERER HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS EM PROCESSO
EXECUTIVO. RECURSO REPETITIVO (Artigo. 543-C DO CPC/73 E RES.
8/2008-STJ).

Há preclusão lógica (Artigo 503 do CPC/73) em relação à faculdade de requerer


o arbitramento dos honorários sucumbenciais relativos à execução na hipótese
em que a parte exequente, mesmo diante de despacho citatório que
desconsidera o pedido de fixação da verba feito na petição inicial, limita-se a
peticionar a retenção do valor correspondente aos honorários contratuais,
voltando a reiterar o pleito de fixação de honorários sucumbenciais apenas após
o pagamento da execução e o consequente arquivamento do feito.

Inicialmente, cumpre destacar que o STJ tem entendimento firme no sentido de


que inexiste preclusão para o arbitramento de verba honorária, no curso da
execução, ainda que sobre ela tenha sido silente a inicial do processo executivo
e já tenha ocorrido o pagamento do ofício requisitório.

Todavia, a hipótese em foco é diversa. Após ter sido cumprido o requisitório de


pagamento expedido nos autos e ocorrido o arquivamento do feito, com baixa
na distribuição, a parte exequente reitera pedido formulado na inicial da
execução, para que sejam arbitrados honorários advocatícios sucumbenciais.

Ocorre que o despacho inicial determinou a citação do órgão executado, não


arbitrando a verba honorária. Em seguida, foram interpostos embargos à
execução, os quais foram definitivamente julgados.

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3
Posteriormente, a parte exequente peticionou nos autos, postulando a retenção
dos honorários contratuais no requisitório de pagamento a ser expedido, nada
mencionando acerca do arbitramento de honorários sucumbenciais.

De acordo com essa moldura fática, a parte exequente deveria ter se insurgido,
por meio da via processual adequada, contra a ausência de fixação dos
honorários sucumbenciais.

Ao não agir dessa forma, consolidou-se o fato de não incidência dos honorários
sucumbenciais, configurando-se, dessa forma, o instituto da preclusão, pelo
qual não mais cabe discutir dentro do processo situação jurídica já consolidada.
Ademais, ainda que não se trate propriamente de ação autônoma, por
compreensão extensiva, incide a Súmula 453 do STJ: “Os honorários
sucumbenciais, quando omitidos em decisão transitada em julgado, não podem
ser cobrados em execução ou em ação própria.” REsp 1.252.412-RN, Rel.
Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em 6/11/2013 (Informativo nº
543).

Voluntário e o reexame
O reexame necessário acima lembrado leva, assim como o recurso, à reforma
(por um erro de julgamento) ou invalidação (por um erro de procedimento) de
determinada decisão (sentença), atendida determinadas condições do art. 496
do CPC/2015).

Trata-se de uma imposição legal (tratada como condição) por meio da qual a
sentença (em sentido estrito, isto é, de 1ª instância) cujo conteúdo leve à
sucumbência da fazenda pública (em determinadas condições, por exemplo, em
valor superior a sessenta salários mínimos) deva, obrigatoriamente, ser
reexaminada em 2º grau de jurisdição.

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4
Seu julgamento (em 2ª instância) equivale, precisamente, ao julgamento de um
recurso de apelação (por exemplo) em que se mantém, reforma ou invalida a
decisão de 1ª instância.

E por que não pode ser considerado como recurso?

Em primeiro lugar, porque a própria ordem jurídica assim não o considerada e


essa também é uma característica de que precisamos tratar – o princípio da
legalidade e taxatividade aplicado aos recursos;

Mas também porque, atendidas as premissas conceituais a que se chega pelas


diversas fontes de direito que servem à ordem processual e das quais acima
tratamos, vemos que somente se considera recurso o instrumento voluntário,
tudo o que o reexame não é.

No curso do processo
Barbosa Moreira, como antes dito, advogou o recurso como um instrumento
de impugnação “no próprio processo”, exatamente para diferenciá-lo de
outras formas de impugnação que se fazem presentes por meio uma nova ação
ou inaugurando um novo processo.

Por exemplo, o mandado de segurança (Lei 12.016/09) e a ação rescisória são


considerados, assim como os recursos, instrumentos de impugnação, inclusive
contra decisões judiciais (atendidos certos limites), porém inauguram novos
processos, distintos, portanto dos anteriores em que as decisões impugnadas
foram proferidas.

Mais uma vez, dizemos que o legislador é quem define o que é recurso, e
poderíamos repetir, neste curso, que, por exemplo, ação rescisória não é
recurso porque não é enquadrada como tal pela ordem jurídica. Mas a questão
é maior: existe espaço, princípio lógico para justificar o conceito. A razão do

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5
legislador (ratio legis) foi tratar o recurso como o prolongamento do direito de
ação e não gerar, por ele, uma ação (ou processo) nova(o).

Os instrumentos, portanto, assemelham-se. Veja:

Por meio de uma ação rescisória em que se alega que um juiz IMPEDIDO
proferiu determinada sentença, haverá, em caso de procedência (da rescisória),
rescisão da coisa julgada e consequente anulação da referida sentença para
que outra seja proferida (desta vez, por um juiz NÃO impedido);

(ii) Contra aquela mesma sentença (do item “i”), poderia a parte interessada ter
oferecido recurso de apelação cuja consequência (se provido) qual seria?
Praticamente a mesma: seria invalidada, com prolação de nova decisão por um
outro juiz.

Existe, porém, uma distinção fundamental: enquanto a ação rescisória é


proposta após o trânsito em julgado e, portanto, caracteriza um instrumento
altamente repressivo, o recurso tenta evitar justamente aquele trânsito
“viciado”, caracterizando o mencionado prolongamento da mesma ação (e não
de uma nova).

É lembrado, por exemplo, por Didier, que o recurso prolonga o estado de


litispendência, frisando, como já se disse, que não se instaura um novo
processo, exatamente porque estão fora do conceito de recurso as ações
autônomas de impugnação, “que dão origem a processo novo para impugnar
uma decisão judicial (ação rescisória, mandado de segurança contra ato
judicial, reclamação constitucional, embargos de terceiro etc.)”.

Já o próprio Barbosa Moreira ressalta, igualmente como acima defendido, ser o


recurso “simples aspecto, elemento, modalidade ou extensão do próprio direito
de ação exercido no processo”.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 16 1


6
Por fim, para melhor ilustrar e concluir o ponto aprecie o quadro a seguir.

Ação rescisória e Recursos:

• 2 (dois) dos instrumentos, em última análise, de impugnação de decisões


judiciais. Há outros.

• Desfaz a coisa julgada material;


• Busca Sua desconstituição;
• Ação autônoma.
• Evita a coisa julgada material;
• Busca a reforma ou invalidação da decisão;
• Incidente ou prolongamento do direito de ação.

Como vimos, pretende-se, necessariamente, em um recurso, alguma (ou


algumas, em relação de subsidiariedade) das seguintes pretensões: reforma
invalidação, esclarecimento ou integração da decisão impugnada.

Quando se pede cada uma dessas pretensões?

Por que um recorrente pediria a reforma ao invés de pedir a


invalidação, por exemplo?

Em primeiro lugar, devemos separar 2 grupos de 2 cada, pela notória distinção


de cabimento entre eles.

ESCLARECIMENTO e INTEGRAÇÃO – esses pleitos são específicos do


Recurso de Embargos de Declaração, objeto também deste Curso. Não
se faz nenhum desses pedidos para qualquer outro recurso. Leia o quadro
abaixo, sabedor, contudo, de que o conceito, de forma aprofundada, será
visto em capítulo próprio, oportunamente.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 17 1


7
ESCLARECIMENTO INTEGRAÇÃO
CONCEITO: Quando se alega obscuridade ou, Quando se deseja sanar
contradição. eventual omissão.

EXEMPLO: Seria obscura uma sentença cuja Seria omissa uma


redação não esteja suficientemente sentençaque deixasse de
inteligível. Seria contraditória uma julgar (apreciar) um dos
sentença em que haja textos com pedidos apresentados pelo
sentidos opostos na fundamentação Autor da ação.
e/ou dispositivo.

Por que BARBOSA MOREIRA os incluiu no conceito de recurso? Porque


desejou fazer um conceito que atendesse a todas as hipóteses (de recurso)
previstas na ordem jurídica, mesmo que as pretensões referissem-se a apenas
um dos recursos, especificamente.

É verdade, portanto, que as pretensões de todos os demais recursos


inserem-se no contexto de “reforma” ou “invalidação”, de que ora passamos a
tratar.

(ii) REFORMA e INVALIDAÇÃO – são as pretensões apresentadas em


todos os demais recursos, mas cada qual com sua função.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 18 1


8
REFORMA INVALIDAÇÃO
CONCEITO: Havendo “erro de Havendo “erro de procedimento”,

julgamento”, pede-se a pede-se a INVALIDAÇÃO, o que


REFORMA, o que significa, em significa, em última análise, que
última análise, que se está se está pedindo ao juízo “ad
pedindo ao juízo “ad quem” quem” que anule um ato decisório
que revise a decisão e que se em dissonância com alguma
efetue um julgamento (pelo determinação processual, o que,
próprio Tribunal) correto para em regra, faz com que se
a questão suscitada. pratique novamente, no juízo a
quo, o ato processual invalidado.
EXEMPLO: Julgar improcedente um Anular uma sentença mal

pedido de indenização por fundamentada ou determinados


danos morais que fora acolhido atos do processo por nulidade de
indevidamente (ou arbitrar citação ou por ausência de
esta indenização de forma intimação do Ministério Público.
adequada). É o que ocorreria
se alguém, em violação, por
exemplo, aos Artigos 186 e
927 do Código Civil, apreciasse
inadequadamente um pleito de
indenização.

Como se percebe, em todo recurso, é necessário pedir, assim como seu


pleito, necessariamente, refere-se a ato decisório, razão pela qual Moreira
menciona que se trata de instrumento voluntário em que se faz o pedido de
reforma (entre os outros pedidos) da decisão que se impugna.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 19 1


9
Trata-se, portanto, de mais um dos instrumentos de impugnação que existem
no direito brasileiro, como também o são o mandado de segurança e a ação
rescisória.

Princípios que constituem a base do direito processual civil que


regula a matéria recursal
Vimos anteriormente algumas características fundamentais dos recursos, as
quais, no entanto, estão diretamente vinculadas (e até regulamentadas) por
outros elementos tidos como de relevância máxima à ordem jurídica aplicável
aos instrumentos ora sob estudo, ora derivando da Constituição, ora derivando
de normas infraconstitucionais.

Assim, podemos dizer que:

Os recursos existem por conta do direito (que, em regra, faz-se presente) à


revisão das decisões por outros órgãos (que, normalmente, fazem parte,
inclusive, de outras instâncias), ampliando-se os graus de jurisdição – a este
direito, dá-se o nome de duplo grau de jurisdição.

Justamente porque é o recorrente quem toma a iniciativa de apresentar o


recurso, em instrumento no qual serão apurados eventuais erros “de
julgamento” ou “de procedimento” que o teriam prejudicado, a apreciação pelo
juízo “ad quem” dá-se para manter ou alterar em favor do recorrente – é o
que se costuma denominar de proibição à reformatio in pejus.

Em matéria recursal, a legalidade incide fortemente, também porque se


confunde com a competência que será dada aos órgãos jurisdicionais (nas
revisões por que forem responsáveis), de maneira a conferir maior estabilidade
e segurança jurídica aos instrumentos a serem utilizados, cujo cabimento (e
demais características) não poderiam ficar à mercê de subjetividades e
eventuais arbitrariedades dos magistrados – assim, a lei prevê,
detalhadamente, os recursos cabíveis, bem como suas respectivas

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 20


características, tratando-se do que se denomina de princípio da taxatividade
recursal.

Como corolário da taxatividade, cada recurso tem uma função e cabimento


específicos, a partir do que se costuma defender, em doutrina, que, salvo raras
exceções, “para cada decisão, existe um (e apenas um) recurso cabível” – é o
que se chama de singularidade (unicidade ou unirrecorribilidade).

Atenção

Na realidade, é um não princípio, isto é, em matéria recursal,


em regra, não se admite que um recurso apresentado
erroneamente seja admitido como se fosse o recurso correto –
no entanto, excepcionalmente, admite-se o que se costuma
denominar de fungibilidade, isto é, receber o instrumento
equivocado como se o correto fosse.

Duplo grau de jurisdição


Segundo o Artigo 5º, LV, da CRFB/88, a todos os litigantes em processo
administrativo ou judicial, assegura-se o direito ao contraditório e à ampla
defesa, com todos os meios e recursos a ele inerentes.

Ainda que haja a expressão “recursos”, não se está falando, necessariamente,


do instrumento de impugnação a que se referia Barbosa Moreira no conceito
acima estudado. Mas sim, de forma mais genérica, como uma garantia de se
valer dos instrumentos teoricamente previstos na ordem jurídica.

Há, realmente, o direito de recorrer, porém apenas nos limites expressos em lei
e na própria Constituição.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 21


Não como uma garantia constitucional fundamental pertencente à base do
Direito Processual.

Não podemos deixar de mencionar, porém, a visão constitucional que é dada


pela família Wambier, segundo a qual o referido princípio é considerado de
caráter constitucional em virtude de estar umbilicalmente ligado à moderna
noção de Estado de Direito o qual, por sua vez, exige o controle, em sentido
duplo, das atividades do Estado pela sociedade.

Repita-se, contudo, o que é dito, de uma forma geral, pelos processualistas no


Brasil (e tende a ser majoritário): a referência a “recurso” do mencionado
inciso não se refere ao sentido estrito do termo, ao sistema recursal processual,
mas à possibilidade, em tese, de que toda decisão comporte impugnação por
vias autônomas, de que os atos de poder, praticados pelo Judiciário, possam
ser submetidos a controle das partes.

O direito ao recurso, enfim, existe, mas respeitada a taxatividade antes


citada (e mais abaixo mais bem esclarecida), e não simplesmente como
consequência lógica de uma garantia fundamental prevista na Carta de 1988. A
propósito, podemos demonstrar isso a você, isto é, que não há,
necessariamente o direito ao duplo grau. Veja por meio de 2 (dois) exemplos:

Não há, necessariamente, o direito ao duplo grau. Veja por meio de alguns
exemplos:

Nos Juizados especiais, não é cabível recurso contra sentença, que seja
direcionado ao Tribunal, ou seja, cabe recurso, porém a ser julgado dentro da
mesma instância (a 1ª instância) (artigos 41 e seguintes da Lei 9.099/95);

Não é cabível, em regra, recurso contra acórdãos proferidas em 1º grau de


jurisdição, na competência originária dos Tribunais: por exemplo, Mandado de
Segurança de competência originária da Câmara Cível do Tribunal de Justiça do

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 22


Estado do Rio de Janeiro. É cabível, como já se disse acima, somente nos
limites do que a Lei e.ou a Constituição permitir:

Proibição à reformatio in pejus


Neste momento, reflita sobre a seguinte situação:

Em ação de indenização por danos morais, o juiz acolhe o pleito e o arbitra em


X reais, com o que (somente) o autor não concorda e recorre (da sentença).
Em 2ª instância, o Tribunal percebe que não havia qualquer prova do fato que
teria gerado os referidos danos morais, verificando que, verdadeiramente, o
pedido deveria ter sido julgado improcedente no 1º grau de jurisdição.

Por justiça e atendendo a todo o direito material (Código Civil ou


Código de Defesa do Consumidor, por exemplo) aplicável ao caso, o
Tribunal deveria reformar a decisão e julgar improcedente o pedido?

Veja a seguir.

A resposta que se impõe é negativa exatamente por conta do princípio ora sob
estudo.

Por esse princípio, a alteração na decisão recorrida faz-se nos limites do recurso
interposto, e não contra o próprio recorrente – salvo quando, por conta da
aplicação da devolutividade recursal (e autorizado pela ordem jurídica
aplicável), impõe-se uma reforma que agrave, na prática, a situação do
recorrente (como quando se anula todo o processo por uma matéria processual
de ordem pública – por exemplo, por incompetência absoluta).

Não se trata, porém, de uma exceção à proibição à reformatio in pejus, mas


sim de simples aplicação da profundidade da devolutividade.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 23


Pelo princípio em questão, portanto, se um Réu, único recorrente, pede, em seu
recurso, a redução da indenização imposta, não é admitido ao Tribunal que ela
(indenização) seja elevada como resultado do recurso de quem requereu sua
redução. Temos, por exemplo, a Súmula 45 do STJ, segundo a qual é vedado
ao tribunal agravar a situação da Fazenda Pública em julgamento de reexame
necessário (cujos efeitos, como já se disse neste Curso, são praticamente
idênticos aos de um recurso).

Veja a seguir alguns argumentos utilizados por José Carlos Barbosa Moreira, em
favor do princípio em questão:

Se o interesse recursal é pressuposto de admissibilidade recursal, seria evidente


contradição imaginar que para o recorrente possa advir qualquer utilidade de
pronunciamento que lhe seja desfavorável;

Se nem mesmo por provocação do apelante poderia o tribunal reformar a


decisão para pior, menos ainda se concebe que pudesse fazê-lo sem tal
provocação.

Princípio da taxatividade recursal


Como esclarecido por Didier, consiste na exigência de que a enumeração dos
recursos seja taxativamente prevista em Lei. Somente existem recursos
legalmente previstos, considerada a Lei, em seu sentido mais amplo (isto é,
desde regimentos internos até a constituição, nos limites gerais por esta
estabelecidos).

Estamos falando, portanto, não apenas do artigo art. 994 do CPC/2015, como
de inúmeros outros dispositivos legais como os artigos 41 e seguintes da Lei
9.099/99 e a Lei 6830/80 (Lei de execução fiscal), que trazem recursos
específicos à matéria que regulam.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 24


Falamos ainda de diversos regimentos internos de tribunais estaduais e
federais, que fazem previsões de determinados recursos comumente
denominados de agravos internos, isto é, recurso contra decisão monocrática
de desembargador relator, provocando a revisão da matéria pelo colegiado
de que este (julgador) faça parte.

Singularidade (unicidade ou unirrecorribilidade


Faça-se a seguinte indagação:

É possível interpor 2 (dois) recursos, simultaneamente, contra a


mesma decisão?

Em regra, não. Justamente pelo princípio em questão (também denominado de


unirrecorribilidade), segundo o qual contra cada decisão cabe apenas um
recurso.

Assim ocorre, porém, nos limites da Lei, o que significa dizer que,
excepcionalmente, justamente porque por ela (Lei) admitido, pode-se interpor
mais de um recurso contra a mesma decisão.

Por este princípio, por exemplo, contra decisão interlocutória em 1ª instância,


cabe (somente) recurso de agravo, enquanto, contra sentença, cabe apenas
recurso de apelação. Caberiam ainda contra estas mesmas decisões o recurso
de embargos de declaração, mas não (segundo entendimento majoritário)
simultaneamente com outros recursos e, ainda assim, com função diferente.

Neste momento você terá a oportunidade de uma autoavaliação.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 25


A QUEM QUEM OBSERVAÇÃO
DECISÃO RECURSO? PRAZO? DIRECIONA? JULGA? (eventual)

Sentença em
sentido estrito

Decisões
interlocutórias em
geral, como
indeferimento de
prova.

Decisões
interlocutórias
expressamente
especificadas (e
destacadas) por
Lei, como
decisões relativas
ao mérito (como
a que rejeita
decadência) ou
que inverte o
ônus da prova.

Decisões
monocráticas, em
sede de Tribunal.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 26


Decisão de única
ou última
instância, em que
haja violações
específicas, como
à Lei federal e/ou
à Constituição
(1988).

Atos decisórios
em geral em que
se alegue haver
omissão,
contradição ou
obscuridade.

Vejamos:

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 27


A QUEM
DIRECIONA QUEM OBSERVAÇÃ
DECISÃO RECURSO? PRAZO?
JULGA? O
?
(eventual)
Ao juízo de Tribunal de
Apelação 15 dias
Justiça ou
Sentença em sentido art. 1009, art. 1003, 1ª instância
TRF (2ª
estrito CPC/2015) CPC/2015 Art. 1010,
instância)
CPC/2015

Não há mais a
Decisões interlocutórias Ao final, por preclusão
em geral, como ocasião da outrora
Recurso de Ao juízo de Tribunal de
indeferimento de prova, prolação da existente no
Apelação ou por Justiça ou
não mencionadas, sentença/inter 1ª instância CPC/73, de
meio de TRF (2ª
expressamente, no art. posição da maneira que a
contrarrazões Art. 1010, instância)
1015 do CPC/2015 ou em (Art. 1009, apelação parte
CPC/2015.
qualquer outro, a respeito CPC/2015) (arts. 1009 e interessada
de agravo de instrumento seguintes, calar-se-á,
CPC/2015) podendo,
oportunamente
, recorrer.
Decisões interlocutórias Forma-se por
expressamente meio de
especificadas (e Recurso de instrumento,
15 dias Tribunal de Tribunal de
destacadas) por Lei, Agravo de obtido por
(PRAZO DOS Justiça ou Justiça ou
como decisões relativas Instrumento cópia de
RECURSOS, TRF (2ª TRF (2ª
ao mérito (como a que (Art. 1015, peças dos
EM GERAL, instância) instância)
rejeita decadência) ou CPC/2015) autos originais
SEGUNDO O
que inverte o ônus da (não sendo
CPC/2015)
prova. eletrônicos, os
autos)
Agravo interno Colegiado Colegiado
Decisões monocráticas, (ou Regimental) 15 dias responsável responsável
Ex.: 1021, pela decisão pela decisão
em sede de Tribunal.
CPC/2015 recorrida. recorrida.
Recurso Especial STJ Somente cabe
Decisão de única ou (art. 105, III, 15 dias Tribunal (Recurso recurso
última instância, em que CRFB/88) e.ou (PRAZO DOS (Presidência especial) especial
Recurso Ex ou Vice- e.ou STF contra
haja violações RECURSOS,
presidência) (Recurso decisões de
específicas, como à Lei EM GERAL, extraordinr
federal e.ou à SEGUNDO O do qual Tribunal,
io)
Constituição (1988). CPC/2015) emanou a enquanto, ao
decisão extraordinário,
recorrida. cabe de
qualquer
Próprio Se os
instancia.
15 dias Próprio juízo juízo que embargos
Atos decisórios em geral Embargos de
declaração a quo proferiu forem
em que se alegue haver
traordinário a decisão considerados
omissão, contradição ou (art. 1022, (art.
102, III,
CPC/2015) recorrida protelatórios,
obscuridade.
CRFB/88) a parte será
multada
(art.1026,
CPC/2015)

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 28


Com isso, propõe-se a melhor compreensão de como cada recurso tem não
apenas o seu cabimento como características bem próprias.

Com isso, propõe-se a melhor compreensão de como cada recurso tem não
apenas o seu cabimento como características bem próprias.

Fungibilidade
Um dos requisitos de admissibilidade dos recursos é o CABIMENTO, o que
significa dizer que a apresentação do recurso inadequado (que não atenda, por
exemplo, aos cabimentos acima especificados) gera, em regra, sua
inadmissibilidade.

Excepcionalmente, porém, admite-se a FUNGIBILIDADE, isto é, aceitar um


recurso não correto como se o adequado fosse. Em outras palavras, significa
admitir, por exemplo, um Recurso de Agravo de Instrumento mesmo tendo ele
sido interposto contra Sentença, desde que respeitados determinados requisitos
construídos, ao longo das últimas décadas.

O Código anterior (de 1939) previa a fungibilidade recursal em seu artigo 810:

“Salvo a hipótese de má-fé ou erro grosseiro, a parte não será


prejudicada pela interposição de um recurso por outro, devendo os
autos ser enviados à Câmara, ou Turma, a que competir o
julgamento.”

Os próprios requisitos do referido artigo, apesar de não repetido pelos Códigos


seguintes, serviram de base à jurisprudência para fixar o que seria necessário à
aplicação da fungibilidade nos dias atuais:

i) DÚVIDA OBJETIVA e INEXISTENCIA DE ERRO GROSSEIRO – uma


dúvida que seja do homem médio em determinada situação, isto é, boa parte
dos profissionais do Direito, analisando-a, teria dúvida em qual recurso interpor.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 29


Atualmente, considerando que se tem buscado cada vez mais clareza nas
normas (principalmente em recursos, alvo constante das últimas reformas do
Direito Processual), assim como a técnica de julgamentos de questões
repetitivas tem tornado os entendimentos jurisprudenciais mais estáveis,
tem sido difícil a aplicação da fungibilidade.

Diga-se ainda que, se uma dúvida é considerada como não-objetiva,


consequentemente, tornar-se-á um erro grosseiro do recorrente, que deveria
saber o recurso correto a interpor. A doutrina, porém, destaca esses 2
fatores como se fossem distintos (erro grosseiro e dúvida objetiva).

Veja, caro profissional, o julgado abaixo, que reflete o entendimento do STJ a


respeito da matéria (ainda sob a vigência do CPC/73):

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. INAPLICABILIDADE DO PRINCÍPIO DA


FUNGIBILIDADE RECURSAL.
É inviável o conhecimento de apelação interposta contra decisão que
resolva incidentalmente a questão da alienação parental. O referido
equívoco, na hipótese, impede a aplicação do princípio da fungibilidade
recursal, o qual se norteia pela ausência de erro grosseiro e de má-fé do
recorrente, desde que respeitada a tempestividade do recurso cabível. Por sua
vez, pode-se dizer que haverá erro grosseiro sempre que não houver dúvida
objetiva, ou, em outras palavras, quando (i) a lei for expressa ou
suficientemente clara quanto ao cabimento de determinado recurso e (ii)
inexistirem dúvidas ou posições divergentes na doutrina e na jurisprudência
sobre qual o recurso cabível para impugnar determinada decisão. Assim, não
se admite a interposição de um recurso por outro se a dúvida decorre única e
exclusivamente da interpretação feita pelo próprio recorrente do texto legal,
ou seja, se se tratar de uma dúvida de caráter subjetivo. Nesse contexto, não
obstante o fato de a Lei 12.318/2010 não indicar, expressamente, o recurso
cabível contra a decisão proferida em incidente de alienação parental, os arts.
162, §2º, e 522, do CPC o fazem, revelando-se, por todo o exposto, subjetiva

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 30


– e não objetiva – eventual dúvida do recorrente. Por fim, no caso de fundada
dúvida – até mesmo para afastar qualquer indício de má-fé – a opção deverá
ser pelo agravo, cujo prazo para interposição é menor que o da apelação, e
que não tem, em regra, efeito suspensivo. REsp 1.330.172-MS, Rel. Min. Nancy
Andrighi, julgado em 11.03.2014, Informativo nº 538).

ii) OBSERVAÇÃO DO PRAZO – seria preciso interpor o recurso escolhido no


prazo do recurso correto. Portanto, independente daquele recurso que se tenha
escolhido, se, de fato, não foi adequado, somente será admitida a fungibilidade
se, além do requisito anterior, houver sido apresentado o recurso (errado) no
prazo do (recurso) correto ou, como é dito em diversos julgados do STJ, no
prazo daquele no qual seria o “errado” transformado.

O CPC/15 trouxe novidades relevantes sobre o tema, na medida em que,


expressamente, autoriza EMENDAS típicas da fungibilidade, como frisado, por
exemplo, por DIDIER JUNIOR (2016, vol. 3, p. 109):

Art. 932, parágrafo único: Antes de considerar inadmissível o recurso, o relator


concederá o prazo de 5 (cinco) dias ao recorrente para que seja sanado vício
ou complementada a documentação exigível;

Art. 1.032. Se o relator, no Superior Tribunal de Justiça, entender que o


recurso especial versa sobre questão constitucional, deverá conceder prazo de
15 (quinze) dias para que o recorrente demonstre a existência de repercussão
geral e se manifeste sobre a questão constitucional. Parágrafo único.
Cumprida a diligência de que trata o caput, o relator remeterá o recurso ao
Supremo Tribunal Federal, que, em juízo de admissibilidade, poderá devolvê-lo
ao Superior Tribunal de Justiça;

Art. 1024, § 3o O órgão julgador conhecerá dos embargos de declaração como


agravo interno se entender ser este o recurso cabível, desde que determine
previamente a intimação do recorrente para, no prazo de 5 (cinco) dias,

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 31


complementar as razões recursais, de modo a ajustá-las às exigências do art.
1.021, § 1o.

Diante de tal realidade, não temos dúvidas de que, muito mais do que no
CPC/73, o atual passa a admitir, expressamente, a fungibilidade, ainda que não
de forma tão generalizada (como no CPC/39), porém de forma um tanto
sistematizada, principalmente do supracitado art. 932 (parágrafo único).

Por fim, não podemos deixar de chamar a atenção do profissional-leitor, neste


capítulo de PRINCÍPIOS, para um novo processo civil que vem se consolidando
nas últimas décadas, no direito brasileiro, principalmente com as reformas
efetivadas a partir de 1998.

A parte recursal, em especial, sofreu notáveis alterações, dentre as quais:

(a) Simplificação da fase recursal, inclusive por limitações ao direito de recorrer


influenciando até mesmo o duplo grau de jurisdição – por essas razões,
recomendamos a leitura dos seguintes artigos: Súmulas e inadmissibilidade da
apelação. WAMBIER, Teresa Arruda Alvim e, in: FREIRA, Rodrigo da Cunha
Lima (Coord.). Salvador: Juspodivm, 2007, p. 321-325 e A impugnação das
decisões interlocutórias no processo civil, SOKAL, Guilherme Jales, in: FUX,
Luiz (Coord.). Rio de Janeiro: Forense, 2011, p. 365-435.

Por meio dessas leituras, concluir-se-á que se tem admitido no Brasil o que vem
sendo chamado de contraditório e ampla defesa mitigadas, mitigadas pela força
quase intransponível da obediência à tempestividade (como garantia
igualmente constitucional), de maneira que o duplo grau de jurisdição, por
exemplo, pode ser limitado na medida em que se perceba a desnecessidade de
se ampliar o debate processual, pela estabilidade que se tenha formado sobre a
questão sob análise.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 32


Também será percebido que o modelo de recorribilidade das decisões
interlocutórias vem se transformando nas últimas décadas, exatamente pelas
mesmas razões acima citadas, ou seja, respeitar um modelo processual em que
aquilo que seja considerado desnecessário seja eliminado da atividade
jurisdicional. Dessa forma, vem se buscando a máxima reunião das
impugnações por ocasião do julgamento do recurso contra sentença, como, por
exemplo, ocorre nos Juizados Especiais e, em parte, no processo do trabalho.
Por esta razão, recomenda-se a leitura do artigo de Guilherme Gales.

Concluímos o capítulo, portanto, frisando que o conceito de recurso e os


princípios que formam sua base estão sendo interpretados e reconstruídos sob
a influência dessa nova visão do processo, para a qual a regulamentação
recurso é essencial, uma vez que, ninguém duvida, a inadequada mensuração
dos recursos gera inexorável alongamento da atividade jurisdicional ou, se o
enxugamento for exacerbado, atingirá como uma flecha fatal as garantias
processuais por que tanto lutamos ao longo e imediatamente após o obscuro
e indesejado período ditatorial por que passamos.

Novo processo civil


Queremos chamar a atenção, neste capítulo de princípios, para um novo
processo civil que vem se consolidando nas últimas décadas, no direito
brasileiro, principalmente com as reformas efetivadas a partir de 1998.

A parte recursal, em especial, sofreu notáveis alterações, entre as


quais:

Simplificação da fase recursal, inclusive por limitações ao direito de recorrer


influenciando até mesmo o duplo grau de jurisdição.

Por meio dessas leituras, concluir-se-á que se tem admitido no Brasil o que vem
sendo chamado de contraditório e ampla defesa mitigadas, e mitigadas pela
força quase intransponível da obediência à tempestividade (como garantia

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 33


igualmente constitucional), de maneira que o duplo grau de jurisdição, por
exemplo, pode ser limitado na medida em que se perceba a desnecessidade de
se ampliar o debate processual, pela estabilidade que se tenha formado sobre a
questão sob análise.

Assim, chegou-se aos parágrafos do Artigo 518 do CPC/73 (sem correspondente


no NCPC), que autorizam o não recebimento da Apelação, já em 1ª instancia
por estar a sentença fundada em Súmula do STJ ou STF (respeitados
determinados limites, também sobre o que Teresa Wambier disserta em seu
artigo cuja leitura se recomenda).

Também será percebido que o modelo de recorribilidade das decisões


interlocutórias vem se transformando nas últimas décadas, exatamente pelas
mesmas razões acima citadas, ou seja, respeitar um modelo processual em
que aquilo que seja considerado desnecessário seja eliminado da atividade
jurisdicional.

Dessa forma, vem se buscando a máxima reunião das impugnações por ocasião
do julgamento do recurso contra sentença, como ocorre nos Juizados
Especiais e, em parte, no processo do trabalho.

Por essa razão, recomenda-se a leitura do artigo de Guilherme Gales.

Atenção

É importante frisar que o conceito de recurso e os princípios que


formam sua base estão sendo interpretados e reconstruídos sob
a influência dessa nova visão do processo, para a qual a
regulamentação do recurso é essencial, uma vez que, ninguém
duvida, a inadequada mensuração dos recursos gera inexorável
alongamento da atividade jurisdicional ou, se o enxugamento for
exacerbado, atingirá como uma flecha fatal as garantias

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 34


processuais por que tanto lutamos ao longo e imediatamente
após o obscuro e indesejado período ditatorial por que
passamos.

Referências
DIDIER JUNIOR, Fred e CUNHA, Leonardo José Carneiro, Curso de Direito
Processual Civil, 8 ed. v.3. Salvador: Jus Podium, 2010, p. 19.
CAMARA, Alexandre Freitas. O novo processo civil brasileiro. São Paulo: Atlas,
2015.
DIDIER JUNIOR, Fred. Curso de Direito Processual Civil, 17 ed. v.1.
Salvador: Jus Podium, 2015.
DIDIER JUNIOR, Fred, BRAGA, Paula Sarmo, OLIVEIRA, Rafael Alexandria.
Curso de Direito Processual Civil, 11 ed. v.2. Salvador: Jus Podium, 2016.
DIDIER JUNIOR, Fred, CUNHA, Leonardo Carneiro. Curso de Direito
Processual Civil, 13 ed. v.3. Salvador: Jus Podium, 2016.
DONIZETTI, Elpidio. Curso didático de direito processual civil. 19 ed. São
Paulo: Atlas, 2016.
FLEXA, Alexandre, MACEDO, Daniel, BASTOS, Fabrício. Novo Código de
Processo Civil – temas inéditos, mudanças e supressões.2 ed. Salvador:
Jus Podium, 2016.
MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao Código de Processo Civil.
11. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2003. v. 5. p. 233.
SARLET, Ingo Wolfgang. Curso de direito constitucional. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2014.
SOKAL, Guilherme Jales. A impugnação das decisões interlocutórias no
processo civil. In: FUX, Luiz (Coord.). O novo processo civil brasileiro –
direito em expectativa. Rio de Janeiro: Forense, 2011.
PINHO. Humberto Dalla Bernadina de Pinho. Direito processual civil
contemporâneo – teoria geral do processo. 6 ed. São Paulo: Saraiva,
2016.
THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. 56 ed.
Vol. I. Rio de Janeiro: Forense, 2015.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 35


THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. 50 ed.
Vol. II. Rio de Janeiro: Forense, 2016.
THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil – teoria
geral do direito processual civil e o processo de conhecimento. 52. ed.
Rio de Janeiro: Forense, 2011. v. 1.
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Súmulas e inadmissibilidade da apelação.
In: FREIRA, Rodrigo da Cunha Lima (Coord.). Salvador: JusPodivm, 2007.
WAMBIER, Luiz Rodrigues; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Breves
comentários à 2ª fase da Reforma do Código de Processo Civil. 2. ed.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002.
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Revista de processo - REPRO. Ano 36 –
192. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011.

Exercícios de fixação
Questão 1
Opte pela alternativa em que não há uma característica elementar ao “recurso”.
a) É voluntário.
b) Dá-se no curso do processo.
c) Nele, traz-se, sempre, uma das seguintes pretensões: reforma,
invalidação ou rescisão da coisa julgada.
d) Trata-se de um instrumento de impugnação.

Questão 2
Analise o julgado abaixo e especifique a característica ausente, ou
seja, aquele que fez com a impugnação não fosse admitida, e marque
a alternativa que corresponde a reposta correta.
“DIREITO PROCESSUAL CIVIL. PRECLUSÃO DA FACULDADE DE
REQUERER HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS EM PROCESSO
EXECUTIVO.
Há preclusão lógica em relação à faculdade de requerer o arbitramento dos
honorários sucumbenciais relativos à execução na hipótese em que a parte
exequente, mesmo diante de despacho citatório que desconsidera o pedido de

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 36


fixação da verba feito na petição inicial, limita-se a peticionar a retenção do
valor correspondente aos honorários contratuais, voltando a reiterar o pleito de
fixação de honorários sucumbenciais apenas após o pagamento da execução e
o consequente arquivamento do feito. (...) De acordo com essa moldura fática,
a parte exequente deveria ter se insurgido, por meio da via processual
adequada, contra a ausência de fixação dos honorários sucumbenciais.
Ao não agir dessa forma, consolidou-se o fato de não incidência dos honorários
sucumbenciais”.
a) Necessidade de provocação.
b) Julgamento em 2ª instância.
c) Pedido de reforma.
d) Devolutividade.

Questão 3
Analise as assertivas abaixo para, em seguida, optar pela alternativa correta.
I. Por meio de uma ação rescisória em que se alega que um juiz IMPEDIDO
proferiu determinada sentença, haverá, em caso de procedência (da rescisória),
rescisão da coisa julgada e consequente anulação da referida sentença para
que outra seja proferida (desta vez, por um juiz NÃO impedido).
II. Contra a mesma sentença (do item “i” acima), poderia a parte interessada
ter oferecido recurso de apelação cuja consequência (se provido) seria
praticamente a mesma: seria invalidada, com prolação de nova decisão por um
outro juiz.
III. Existe uma distinção fundamental entre ação rescisória e recurso: enquanto
a ação rescisória é proposta após o transito em julgado e, portanto, caracteriza
um instrumento altamente repressivo, o recurso tenta evitar justamente aquele
trânsito “viciado”, caracterizando o mencionado prolongamento da mesma ação
(e não de uma nova).
a) Apenas a I está correta.
b) Apenas a II está correta.
c) Apenas a III está correta.
d) Todas estão corretas.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 37


Questão 4
Algumas formas de qualificar ou mesmo conceituar recurso são difundidas na
doutrina. Qual das opções abaixo não pode ser considerada como uma delas?
a) O recurso prolonga o estado de litispendência.
b) Dependendo do recurso, ele pode dar origem a processo novo ao
impugnar determinada decisão judicial.
c) O recurso é simples aspecto, elemento, modalidade ou extensão do
próprio direito de ação exercido no processo.
d) O recurso é um prolongamento do direito de ação.

Questão 5
Em determinado processo, foi determinada a citação do réu na fase de
conhecimento. Contra este “cite-se”, é cabível:
I. Embargos de declaração, considerando-se caber esta espécie de recurso
mesmo contra despacho.
II. Agravo retido, considerando-se tratar-se de decisão interlocutória;
III. Não é cabível recurso algum, nem mesmo embargos de declaração, por se
tratar de mero despacho, no qual não se enxerga vício, nem mesmo falta de
clareza ou omissão.
a) Apenas a I está correta.
b) Apenas a II está correta.
c) Apenas a III está correta.
d) Todas estão corretas.

Questão 6
Podemos afirmar, exceto:
I – Os recursos existem por conta do direito (que, em regra, faz-se presente) à
revisão das decisões por outros órgãos (que, normalmente, fazem parte,
inclusive, de outras instâncias), ampliando-se os graus de jurisdição – a este
direito, dá-se o nome de duplo grau de jurisdição.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 38


II – Justamente porque é o recorrente quem toma a iniciativa de apresentar o
recurso, em instrumento no qual serão apurados eventuais erros “de
julgamento” ou “de procedimento” que o teriam prejudicado, a apreciação pelo
juízo “ad quem” dá-se para manter ou alterar em favor do recorrente – é o
que se costuma denominar de proibição à reformatio in pejus.
III – Em matéria recursal, a legalidade incide fortemente, também porque se
confunde com a competência que será dada aos órgãos jurisdicionais (nas
revisões por que forem responsáveis), de maneira a conferir maior estabilidade
e segurança jurídica aos instrumentos a serem utilizados, cujo cabimento (e
demais características) não poderiam ficar à mercê de subjetividades e
eventuais arbitrariedades dos magistrados – assim, a Lei prevê,
detalhadamente, os recursos cabíveis, bem como suas respectivas
características, tratando-se do que se denomina de princípio da taxatividade
recursal.
a) Apenas a I está correta.
b) Apenas a II está correta.
c) Apenas a III está correta.
d) Todas estão corretas.

Questão 7
Aprecie o texto abaixo, que está de acordo com a ordem jurídica para, em
seguida, optar pela assertiva correta.
“Como corolário da taxatividade, cada recurso tem uma função e cabimento
específicos, a partir do que se costuma defender, em doutrina, que, salvo raras
exceções, “para cada decisão, existe um (e apenas um) recurso cabível” – é o
que se chama de SINGULARIDADE (UNICIDADE ou UNIRRECORRIBILIDADE)".
a) Podemos concluir, portanto, que contra uma sentença, não seria possível
apresentação simultânea de embargos de declaração e apelação, ainda
que por partes distintas.
b) Podemos concluir, portanto, que contra uma decisão interlocutória, não
poderia a mesma parte interpor agravos de instrumento e agravo retido.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 39


c) Podemos concluir, portanto, que, contra um acórdão de apelação, não
poderiam ser apresentados recurso especial e recurso extraordinário pela
mesma parte.
d) Podemos concluir, portanto, que contra um acórdão, não seria possível
apresentação simultânea de embargos de declaração e embargos
infringentes, ainda que por partes distintas.

Questão 8
A aplicação da fungibilidade, em caráter excepcional, depende de:
I – Dúvida objetiva.
II – Interposição do recurso no prazo daquele no qual ele poderia ser
convolado.
III – Inexistência de erro grosseiro.
a) Apenas a I está correta.
b) Apenas a II está correta.
c) Apenas a III está correta.
d) Todas as alternativas estão corretas.

Questão 9
A respeito do duplo grau de jurisdição, pode-se dizer, exceto:
a) Trata-se de princípio com garantia constitucional expressa, tal como se
defende pela maioria da doutrina e jurisprudência.
b) Há, de fato, o direito de recorrer, porém apenas nos limites expressos
em Lei e na própria Constituição; não como uma garantia constitucional
fundamental pertencente à base do Direito Processual.
c) Existe, é verdade, determinada visão constitucional, dada, por exemplo,
pela família WAMBIER, segundo a qual o referido princípio é considerado
de caráter constitucional em virtude de estar umbilicalmente ligado à
moderna noção de Estado de Direito, o qual, por sua vez, exige o
controle, em sentido duplo, das atividades do Estado pela sociedade.
d) A referência a “recurso”, no Artigo 5º da Constituição (inciso LV), não se
refere ao sentido estrito do termo, ao sistema recursal processual, mas à

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 40


possibilidade, em tese, de que toda decisão comporte impugnação por
vias autônomas, de que os atos de poder, praticados pelo Judiciário,
possam ser submetidos a controle das partes.

Questão 10
Podemos mencionar como limitações ao duplo grau de jurisdição:
I – O revogado art. 518, com seus parágrafos, do CPC/73 já demonstrava,
mesmo antes do novo CPC, o ímpeto de limitar o direito de recorrer: caso a
sentença estivesse fundada em súmula do STJ ou STF, eventual recurso sequer
deveria ser recebido. Naturalmente, esta decisão estava sujeita ao recurso de
agravo, mas, de qualquer forma, tratava-se de uma autorização legal para NÃO
RECEBER a apelação, mitigando, naturalmente, o chamado duplo grau de
jurisdição;
II – Nos Juizados especiais, não é cabível recurso contra sentença, que seja
direcionado ao Tribunal, ou seja, cabe recurso porém a ser julgado dentro da
mesma instância (a 1ª instância) (artigos 41 e seguintes da Lei 9.099/95);
III – Não é cabível, em regra, recurso contra acórdãos proferidas em 1º grau
de jurisdição, na competência originária dos Tribunais: por exemplo, Mandado
de Segurança de competência originária da Câmara Cível do Tribunal de Justiça
do Estado do Rio de Janeiro. É cabível, como já se disse acima, somente nos
limites do que a Lei e.ou a Constituição permitir: Neste caso, por exemplo, é
cabível somente se a decisão for denegatória.
a) Apenas a I está correta.
b) Apenas a II está correta.
c) Apenas a III está correta.
d) Todas as alternativas estão corretas.

Aula 1
Exercícios de fixação
Questão 1 - C

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 41


Justificativa:

Questão 2 - B
Justificativa:
Questão 3 - D
Justificativa:

Questão 4 - B
Justificativa:

Questão 5 - C
Justificativa:

Questão 6 - B
Justificativa:

Questão 7 - B
Justificativa:

Questão 8 - B
Justificativa:

Questão 9 - A
Justificativa:

Questão 10 - D
Justificativa:

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 42


Introdução
Meu caro profissional, pós-graduando, nesta segunda aula, trataremos da força
dos precedentes jurisdicionais, por meio dos instrumentos criados e fortalecidos
nas últimas 2 (duas) décadas.

Instrumentos como a sentença liminar (ou improcedência liminar), as súmulas


impeditivas de recursos (mecanismo muito ampliado no CPC/2015, inclusive),
os julgamentos monocráticos com base em jurisprudência dominante e os
recursos excepcionais repetitivos foram se fortalecendo até surgirem quase
intransponíveis no NCPC, como veremos nesta Aula.

Instrumentos como esse, demonstram uma demanda legislativa clara por


aglutinar, o máximo possível, as teses e questões repetitivas, de maneira a
julgá-las sempre no mesmo sentido, o que se atingiria, segundo que se tem
pensado dentre boa parte dos juristas brasileiros, uma maior estabilidade
jurisdicional, respeito à isonomia e, consequentemente, elevaria a segurança
jurídica.

Será que você conhece bem esses instrumentos? Vamos a eles.


Objetivo:
1. A devida percepção da relevância dos precedentes e como se tem construído
um modelo de julgamentos por amostragem (por casos-pilotos), que vem sendo
construído nas últimas 2 (duas) décadas no direito processual civil brasileiro.
Para tanto, será necessário conhecer os principais fundamentos dos
instrumentos caracterizadores desse modelo (já existentes no direito brasileiro);
2. Com o mesmo propósito, demonstraremos que o atual Código de Processo
Civil mantém os instrumentos já existentes, porém os fortalece, tornando-os
mais objetivos, criando, por exemplo, o incidente de resolução de demanda
repetitivas, objeto de Aula própria.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 43


Conteúdo
A força dos precedentes jurisdicionais: breve histórico
Como se sabe, nosso sistema, evidentemente, enquadra-se na chamada “civil
law”, ou seja, aquele cujo fundamento maior é o direito positivado por meio das
fontes objetivas instituídas pelos poderes devidamente constituídos
(principalmente, os Códigos em que tanto nos baseamos: CPC/73, CC/02,
CDC/90).

Trata-se de um sistema em que, em regra, dá-se pouca atenção à força


jurisprudencial, justamente porque, a princípio, há um esgotamento da matéria
pela Lei aplicável. Nas últimas décadas, porém, o direito brasileiro, por meio de
uma sequencia inédita de reformas, valorizou os precedentes por uma série de
instrumentos, como abaixo se verá.

Podemos defini-los (os precedentes) como uma decisão tomada por órgão
jurisdicional frente a um ou mais casos concretos deduzidos em juízo, cujo
núcleo essencial tem o potencial de servir como paradigma para julgamentos
posteriores em causas análogas.

Cruz e Tucci, por exemplo, ensina-nos que todo procedente é composto de


duas partes distintas:

a) as circunstâncias de fato que embasam a controvérsia; e


b) a tese ou o princípio jurídico assentado na motivação (ratio decidendi) do
provimento decisório.

Tal distinção se mostra fundamental, uma vez que, como dito, o precedente
judicial se forma a partir da análise de um ou mais casos concretos, que podem
ou não apresentar questões de fato distintas, mas que, em sua essência,
demandam uma única reflexão jurídica sobre a aplicação do Direito.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 44


Unidade do direito
Em busca do que se vem chamando de “unidade do direito”, a ordem jurídica
brasileira teve a seguinte evolução:

(a) Artigo 38 da Lei nº 8.038/90: concedeu competência ao Ministro Relator


para negar seguimento a recursos, no STF e no STJ, que contrariar súmula do
respectivo Tribunal.

Vemos, neste dispositivo, praticamente, o início da era dos julgamentos por


“referência”, a qual, no caso, era somente súmula, e, também, (início da)
possibilidade de julgamentos monocráticos, que se tornaria, ao longo dos anos,
uma prática habitual não apenas nos Tribunais superiores, como nos demais.

Relevante pontuar as limitações, naquele momento (1990), do que se tinha


como referência: apenas “súmula” e o julgamento se dava somente nos
referidos Tribunais Superiores.

Mas abaixo, verificamos que, anos depois, a força dos precedentes se estendia
a “qualquer Tribunal” e a referência, além das súmulas, incluía “entendimentos
dominantes”.

(b) Art. 557 do CPC/73, alterado pelas Leis nºs 9.139/95 e 9.756/98: admite
que o Relator de recurso em qualquer tribunal negue seguimento a recurso
em confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do respectivo
tribunal, do STF ou de Tribunal Superior, bem como dê provimento ao recurso,
monocraticamente, se a decisão recorrida estiver em manifesto confronto com
súmula ou com jurisprudência dominante do STF, ou de Tribunal Superior.

Fortalecimento dos precedentes


Esse dispositivo foi um grande marco no incremento de repetição de
julgamentos e fortalecimento de precedentes.
E como, a propósito, esses “precedentes” são criados?

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 45


Pelas súmulas e pelos “entendimentos dominantes” (segundo a
terminologia do CPC/73), os quais, porém, são dotados de uma certa
subjetividade, pelas momentâneas dificuldades de se definir quando a
jurisprudência já teria se tornado “dominante”!

Nisso, a propósito, pensou o novo CPC, que apresenta referências mais


objetivas, como, oportunamente, veremos.

Não há ofensa ao art. 557 do CPC/73 quando o Relator nega


seguimento a recurso com base em orientação reiterada e uniforme
do órgão colegiado que integra, ainda que sobre o tema não existam
precedentes de outro órgão colegiado – do mesmo Tribunal –
igualmente competente para o julgamento da questão recorrida. De
fato, o art. 557 do CPC/73 concede autorização para que o Relator negue
seguimento a recurso cuja pretensão confronte com a jurisprudência dominante
do respectivo Tribunal, do STF ou de Tribunal Superior. Nesse contexto, a
configuração de jurisprudência dominante prescinde de que todos os órgãos
competentes em um mesmo Tribunal tenham proferido decisão a respeito do
tema. Isso porque essa norma é inspirada nos princípios da economia
processual e da razoável duração do processo e tem por finalidade a celeridade
na solução dos litígios. Assim, se o Relator conhece orientação de seu órgão
colegiado, desnecessário submeter-lhe, sempre e reiteradamente, a mesma
controvérsia (AgRg no REsp 1.423.160-RS, Rel. Min. Herman Benjamin,
julgado em: 27.03.2014, Informativo nº
539).

Essas mesmas referências e possibilidades tornaram-se, ao longo dos anos,


comuns na ordem jurídica processual civil brasileira, como observamos no
próximo item (“c”).
(a) Artigo 544, parágrafos 3º e 4º do CPC/73, instituídos pela mesma lei acima,
passou a autorizar que se desse provimento a agravo de decisão denegatória

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 46


de recurso extraordinário ou de recurso especial, se o acórdão recorrido
estiver em confronto com a súmula ou jurisprudência dominante do tribunal;

(b) EC nº 45/04 (Artigo 103-A da Constituição/1988): criou a súmula


vinculante; a possibilidade de edição (de ofício ou mediante provocação) de
súmulas vinculantes ampliou os sistemas de aplicação dos precedentes
jurisdicionais, com a grande distinção, em relação aos demais, de impor um
cumprimento fiel por todos os demais órgãos jurisdicionais e ainda da
administração pública, mediante o preenchimento de requisitos específicos:

i) Competência exclusiva do STF para editá-las (e revogá-las);

ii) Decisão de 2/3 dos seus membros;

iii) Sobre matéria constitucional, após reiteradas decisões a respeito daquilo


que venha a ser sumulado;

iv) Especificamente a respeito validade, interpretação e eficácia de normas


determinadas, acerca das quais haja controvérsia atual entre órgãos judiciários
ou entre esses e a Administração Pública, que acarrete grave insegurança
jurídica e relevante multiplicação de processos sobre questão idêntica.

(c) Lei nº 11.276/2006, que acrescentou um parágrafo 1º ao Artigo 518 do


CPC/73: determinou que o juiz de primeiro grau (e primeira instância) não
receba o recurso de apelação caso a sentença estiver em conformidade com
súmula do STJ ou STF.

Essa alteração é uma das mais interessantes de todas as que ora analisamos:
limita-se o duplo grau de jurisdição, vedando-se o recebimento do recurso de
apelação já na 1ª instância, o que nos impõe dizer que a força jurisprudencial,
ao longo dos anos, foi “descendo” as instâncias, até aqui chegar. Em outras
palavras, estamos ressaltando que, como vimos, inicialmente somente os

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 47


Tribunais Superiores poderiam aplicar os precedentes já firmados (por eles
próprios) para limitar processos posteriores à estabilização de entendimentos,
até se atingir o referido parágrafo 1º do Artigo 518, CPC/73, que manda aplicar
os precedentes para legitimar a negativa de conhecimento do maior recurso
existente no direito brasileiro (a apelação).

(d) Lei nº 11.418/06 (Art. 543-A, parágrafo 3º, do CPC/73): instituiu a


repercussão geral como requisito de admissibilidade do recurso extraordinário,
a qual estará presente sempre que o recurso impugnar decisão contrária à
súmula ou jurisprudência dominante do Tribunal;

(e) Lei nº 11.672/08 (Artigo 543-C, do CPC/73): estabeleceu que, quando


houver multiplicidade de recursos com fundamento em idêntica questão de
direito, o recurso especial será processado nos termos deste artigo, cabendo
ao presidente do tribunal de origem admitir um ou mais recursos
representativos da controvérsia, os quais serão encaminhados ao Superior
Tribunal de Justiça, ficando suspensos os demais recursos especiais até o
pronunciamento definitivo do Superior Tribunal de Justiça.

(f) Lei nº 11.418/2006 (Artigo 543-A, parágrafo 3º, do CPC/73): instituiu a


repercussão geral como requisito de admissibilidade do recurso extraordinário,
a qual estará presente sempre que o recurso impugnar decisão contrária à
súmula ou jurisprudência dominante do Tribunal;

(g) Lei nº 11.672/2008 (Artigo 543-C, do CPC/73): estabeleceu que, quando


houver multiplicidade de recursos com fundamento em idêntica questão de
direito, o recurso especial será processado nos termos deste artigo, cabendo
ao presidente do tribunal de origem admitir um ou mais recursos
representativos da controvérsia, os quais serão encaminhados ao Superior
Tribunal de Justiça, ficando suspensos os demais recursos especiais até o
pronunciamento definitivo do Superior Tribunal de Justiça.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 48


Revolução no sistema de precedentes
A alteração que você pôde observar no texto que acabou de ler reflete já um
outro plano de “aglutinação” de processos, porque não se limita a determinar a
repetição de jurisprudência dominante: impõe a suspensão de processos cuja
“tese” seja a mesma até que o “caso-piloto” (“o que melhor representar a
controvérsia”) seja julgado pelo STJ. Revolucionou, sem dúvida, o sistema de
precedentes, como defendido por FUX, a seguir.

”Um fenômeno moderno da sociedade de massa introjetou no sistema brasileiro


de origem romano-germânica a técnica inerente ao sistema anglo-saxônico,
inspirado no princípio da isonomia, de aplicar-se o precedente judicial em
caráter erga omnes.

Nas causas que apresentam um interesse comum a uma multiplicidade


identificável de jurisdicionados. (...) Ainda, está arraigado na tradição romana
de que o autor é dominus litis, o legislador brasileiro não eliminou a legitimação
individual em detrimento da legitimação difusa deferida aos órgãos
intermediários entre o cidadão e o Estado ou ao Ministério Público.

A consequência dessa coexistência de legitimações é a constatação de ações


individuais idênticas quanto ao pedido e a causa de pedir, cujos julgamentos
redundam em recursos repetitivos.

É de sabença que acordem aos tribunais superiores inúmeras causas repetitivas


e que por força do principio da isonomia devem receber o mesmo tratamento
meritório.

Deveras essas causas decorrentes de mega lesões, abarrotam os tribunais


brasileiros, colocando-os no patamar de Corte com o maior número de recursos
pendentes de julgamento.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 49


O legislador brasileiro, no afã de exterminar com esse gravoso problema, a luz
da novel concepção da duração razoável dos processos e da força da
jurisprudência, esta capaz de uniformizar os resultados judiciais para causas
idênticas, cumprindo o postulado da isonomia, fez surgir no cenário processual
brasileiro os denominados “recursos repetitivos” cuja técnica de julgamento
atende à necessidade de eficácia da decisão sob o enfoque transindividual,
mercê de imprimir metodologia apta a esvaziar o acerto incalculável dos
Tribunais Superiores”.

Certidão de intimação da decisão agravada


Veja a seguir o exemplo de determinado entendimento fruto de julgamento de
“teses repetitivas” (Artigo 543-C do CPC/73), a respeito das cópias necessárias
à instrução do Recurso de agravo de instrumento (Artigos 522 e 525 do
CPC/73).

A questão que se colocava era a seguinte:

A certidão de intimação da decisão agravada é sempre necessária?

Com inúmeras decisões nos Tribunais de Justiça afirmando que sim, a


controvérsia se espalhou e chegou ao STJ, que, mediante um “caso piloto”,
estabeleceu que “sua ausência pode ser relevada desde que seja possível aferir,
de modo inequívoco, a tempestividade do agravo por outro meio constante dos
autos”.

Leia o texto a seguir:

Segunda Seção
DIREITO PROCESSUAL CIVIL. CONHECIMENTO DE AGRAVO DE
INSTRUMENTO NÃO INSTRUÍDO COM CÓPIA DA CERTIDÃO DE
INTIMAÇÃO DA DECISÃO AGRAVADA. RECURSO REPETITIVO (ART.
543-C DO CPC/73 E RES. N. 8/2008-STJ).

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 50


A ausência da cópia da certidão de intimação da decisão agravada não
é óbice ao conhecimento do agravo de instrumento quando, por
outros meios inequívocos, for possível aferir a tempestividade do
recurso, em atendimento ao princípio da instrumentalidade das
formas.

O STJ (já) entendia que, apesar de a certidão de intimação da decisão agravada


constituir peça obrigatória para a formação do instrumento do agravo (Artigo
525, I, do CPC/73), sua ausência poderia ser relevada desde que seja possível
aferir, de modo inequívoco, a tempestividade do agravo por outro meio
constante dos autos.

Esse posicionamento (já) era aplicado em homenagem ao princípio da


instrumentalidade das formas para o qual o exagerado processualismo deve ser
evitado de forma a que o processo e seu uso sejam convenientemente
conciliados e realizados. Precedentes citados: REsp 676.343-MT, Quarta Turma,
DJe, 08 nov. 2010; e AgRg no AgRg no REsp 1.187.970-SC, Terceira Turma,
DJe, 16 ago. 2010 (REsp nº 1.409.357-SC, Terceira Turma, Rel. Min. Sidnei
Beneti, julgado em 14.05.2014, Informativo nº 541).

Você percebeu a evolução do controle por meio da aplicação dos


precedentes?

Inicialmente, somente no STF poderia se proferir um julgamento monocrático e,


ainda assim, tendo como referência alguma súmula.

Posteriormente, essa autorização “desceu” para instâncias inferiores, como


antes dito, e a referência já não eram apenas as súmulas, mas também o que
se começou a denominar de “jurisprudência dominante”.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 51


E a evolução, como se vê, prosseguiu até se “descer” à 1ª instância,
permitindo-se que se vede o recebimento da apelação, já pelo juízo a quo, nas
situações nele mencionadas (mencionados anteriormente).

E não se parou aí.

Chegamos a um outro plano, como acima ressaltado, o do julgamento por


casos-pilotos, cujo julgamento estende-se aos casos de “teses (ou questões
jurídicas)” iguais (ou “repetidas”): é o que se verifica no último tópico
mencionado (“g”), nos chamados “recursos especiais repetitivos”.

Não podemos olvidar da força desses instrumentos como aplicadores (e,


eventualmente, criadores) ferrenhos de precedentes, mesmo porque a prática
com que as instâncias os repetem, deliberadamente, tem se perpetuado ao
longo desses anos, a ponto de Barbosa Moreira escrever o seguinte a
respeito dessas súmulas (não vinculantes) e “jurisprudências dominantes”:

“Apesar de se tratar de mera influencia, ela é tão forte que faz a doutrina
duvidar da relevância pratica de se conferir caráter vinculante à súmula: no
período anterior já era fortíssima, na prática judiciária, a propensão dos órgãos
judiciais de primeiro e segundo grau a conformar-se à jurisprudência dos
tribunais mais altos – notadamente à do STF, e não apenas no campo
delimitado pelo foro art. 103-A da Constituição”.

Força jurisprudencial
A força jurisprudencial por meio da aplicação de precedentes, enfim, tornou-se,
definitivamente, uma realidade da ordem jurídica brasileira, que a fez
distanciar-se um pouco da positivação clássica do civil law, e aproximar-se
common law, o que se reforça com as seguintes palavras:

“O papel da jurisprudência, tanto nos países da common law quanto nos países
da civil law está sofrendo alterações.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 52


Nestes, há uma tendência de valorizar o papel da jurisprudência como
instrumento de revelação e ordenamento dos usos e costumes da sociedade,
em prejuízo da supremacia absoluta da lei.

De outro lado, os países de tradição anglo-americana abandonaram este direito


exclusivamente consuetudinário e passam a elaborar normas legislativas de
caráter geral”.

Encerramos este item, com poucas, porém muito relevantes conclusões. Veja!

A força jurisprudencial, por meio de precedentes, propagou-se para todas as


instâncias do STF ao juízo de 1ª instância, caracterizada pela obediência quase
cega das inferiores no cumprimento das súmulas (vinculantes ou não) e os
chamados “entendimentos dominantes”;

No Código de 1973, tinha-se uma subjetividade nas referências de precedentes,


considerando-se a dificuldade comum de se identificar o que seja “dominante”
em um conjunto de entendimentos possíveis a respeito de uma mesma questão
(ou tese);

O CPC atual, com precisão louvável, toca, exatamente, neste ponto, buscando,
além de reforçar tudo o quanto já existe em prol da maior estabilidade
jurisdicional, estabelecer critérios (ou referências) melhores para se apurar o
que é, efetivamente, dominante e, por conseguinte, ainda que por convenção,
a melhor forma de decidir a matéria.

A aplicação de precedentes no novo CPC


Como já salientado, o novo CPC, buscou fomentar a importância de
precedentes, em busca de uma maior segurança jurídica, como é dito, a
propósito, na exposição de motivos do texto originário do STJ:

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 53


“Mas talvez as alterações mais expressivas do sistema processual, ligadas aos
objetivos de harmonizá-lo com o espírito da Constituição Federal, sejam as que
dizem respeito às regras que induzem à uniformidade e à estabilidade da
jurisprudência.

O novo Código prestigia o princípio da segurança jurídica, obviamente de índole


constitucional, pois que se hospeda nas dobras do Estado Democrático de
Direito e visa a proteger e a preservar as justas expectativas das pessoas.

Todas as normas jurídicas devem tender a dar efetividade às garantias


constitucionais, tornando segura a vida dos jurisdicionais, de modo a que estes
sejam poupados de surpresas, podendo sempre prever, em alto grau, as
consequências jurídicas de sua conduta.

Se, por um lado, o princípio do livre convencimento motivado é garantia de


julgamentos independentes e justos, e neste sentido mereceu ser prestigiado
pelo novo Código, por outro, compreendido em seu mais estendido alcance,
acaba por conduzir a distorções do princípio da legalidade e à própria ideia,
antes mencionada, de Estado Democrático de Direito. A dispersão excessiva da
jurisprudência produz intranquilidade social e descrédito do Poder Judiciário.

Se todos têm que agir em conformidade com a lei, ter-se-ia, ipso facto,
respeitada a isonomia. Essa relação de causalidade, todavia, fica comprometida
como decorrência da liberdade que tem o juiz de decidir com base em seu
entendimento sobre o sentido real da norma.”

Percebe-se, facilmente, que a “liberdade” do juiz estará seriamente


comprometida sempre que a matéria sobre a qual tenha de se manifestar já
tenha sido alvo de decisões anteriores que, pelos instrumentos legalmente
instituídos (como, por exemplo, as sumulas vinculantes, os recursos repetitivos,
a súmula impeditiva de recurso etc), tenham formado o que antes já se

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 54


denominou de precedentes, os quais, claramente, tornaram-se, como outros
elementos, fontes regulares de direitos.

De forma orquestrada, o CPC/2015 nos apresenta relevantes artigos em prol da


maior COERÊNCIA e ESTABILIDADE jurisprudencial e, por conseguinte,
supostamente, de toda a ordem jurídica.

Art. 926. Os tribunais devem uniformizar sua A coerência e estabilidade, por


jurisprudência e mantê-la estável, íntegra e exemplo, serão alcançadas,
coerente. exatamente, pela aplicação

§ 1o Na forma estabelecida e segundo os impositiva dos precedentes

pressupostos fixados no regimento interno, os firmados consoante as “fábricas”


tribunais editarão enunciadossúmula de referências jurisprudenciais
de
correspondentes a sua jurisprudência dominante. objeto, por exemplo, do art. 927
do CPC/2015.
§ 2o Ao editar enunciados de súmula, os tribunais
devem ater-se às circunstâncias fáticas dos
precedentes que motivaram sua criação.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 55


Art. 927. Os juízes e os tribunais observarão: Essas, como acima dito, são os
instrumentos por meio dos quais
I - as decisões do Supremo Tribunal Federal em os precedentes são criados e
controle concentrado de constitucionalidade; parecem obrigatórios por força
II - os enunciados de súmula vinculante; do próprio artigo 927, que
III - os acórdãos em incidente de assunção de parece não dar margem à
competência ou de resolução de demandas discricionariedade, ao
repetitivas e em julgamento de recursos estabelecer “OBSERVARÃO”.
extraordinário e especial repetitivos;
IV - os enunciados das súmulas do Supremo
Tribunal Federal em matéria constitucional e do
Superior Tribunal de Justiça em matéria
infraconstitucional;
V - a orientação do plenário ou do órgão especial
aos quais estiverem vinculados.
Art. 371. O juiz apreciará a prova constante dos Seguindo-se a mesma linha dos
autos, independentemente do sujeito que a tiver demais dispositivos, o art. 371,
promovido, e indicará na decisão as razões da em comparação com o artigo
formação de seu convencimento. 131 do CPC/73, retirou-see a
expressão “livremente”.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 56


Art. 489, § 1o Não se considera fundamentada Fechando o ciclo em prol da
qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, restrição à outrora existente
sentença ou acórdão, que: liberdade, segundo o CPC/73,

I - se limitar à indicação, à reprodução ou à tem-se o artigo 489 do


paráfrase de ato normativo, sem explicar sua CPC/2015, que exige a adequada
relação com a causa ou a questão decidida; fundamentação das decisões

II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, jurisdicionais, especialmente em


sem explicar o motivo concreto de sua incidência consonância com os precedentes
no caso; eventualmente aplicáveis à

III - invocar motivos que se prestariam a justificar matéria sob julgamento, como
qualquer outra decisão; se observa, com clareza, nos

IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos incisos V e VI.


no processo capazes de, em tese,
infirmar a conclusão adotada pelo julgador;
V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de
súmula, sem identificar seus fundamentos
determinantes nem demonstrar que o caso sob
julgamento se ajusta àqueles fundamentos;
VI - deixar de seguir enunciado de súmula,
jurisprudência ou precedente invocado pela parte,
sem demonstrar a existência
Precedentes/fontes de distinção
regulares no caso
de direitos
em julgamento
Percebe-se, ou a superação
facilmente, que do
a entendimento.
“liberdade” do juiz estará seriamente
comprometida sempre que a matéria sobre a qual tenha de se manifestar já
tenha sido alvo de decisões anteriores que, pelos instrumentos legalmente
instituídos (como, por exemplo, as súmulas vinculantes, os recursos repetitivos,
a súmula impeditiva de recurso etc.), tenham formado o que antes já se
denominou de precedentes, os quais, claramente, tornaram-se, como outros
elementos, fontes regulares de direitos. Neste sentido, veja a exposição a
seguir.
“Afirmar que a jurisprudência não cria normas jurídicas, mas apenas as
interpreta, para justificar a sua indiscriminada aplicação retroativa, envolve
dupla impropriedade.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 57


Em primeiro lugar, a decisão judicial sempre acrescenta algo à norma aplicada,
eis que mesmo na mais simples e limitada interpretação de norma preexistente
há sim uma atividade criativa”.

“Em segundo lugar, o simples caráter interpretativo do ato não permitiria


desconsiderar os limites impostos à retroatividade do novo entendimento
normatizado.

Não pode nem mesmo as ditas leis interpretativas prejudicar o ato jurídico
perfeito e a coisa julgada”.

“Neste sentido, a aplicação da jurisprudência como fonte de direito se evidencia


em três situações: (i) quando a jurisprudência, através da interpretação,
concretiza o conteúdo da norma jurídica, cria direito pela ampliação ou redução
da área de abrangência da norma; (ii) quando a jurisprudência dominante
influencia a interpretação realizada por outros juízes; (iii) e por fim, quando ela
dá azo à criação ou alteração da própria norma legislativa (...) ”.

Aplicação do sistema de precedentes


O Artigo 926 do CPC/2015, antes citado, já é iniciado com a determinação de
que os tribunais (em geral, portanto) devem buscar sempre a uniformização da
jurisprudência em prol da ESTABILIDADE e COERENCIA, deixando evidente que
não apenas reforça toda a aplicação de precedentes do Código atual, como
ainda trabalha para uma maior objetividade, substituindo, por exemplo, a
“jurisprudência dominante” como referencia, para sempre dar preferencia por
sistemas menos subjetivos, como as sumulas, os julgamentos de recursos
repetitivos e o incidente de resolução de demandas repetitivas.
Percebemos com clareza solar o empenho do legislador em incentivar
a criação de precedentes e seu respeito contínuo como a melhor
forma de atingir a segurança jurídica por meio de uma obediência
constante à isonomia, na medida em que a coletividade envolvida em

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 58


questões jurídicas semelhantes receberá, uniformemente, a mesma
solução por parte do Judiciário.

A partir dos dispositivos acima citamos, abaixo, o sistema de construção e


aplicação de precedentes, que se fará presente por meio de:

(i) Decisões do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de


constitucionalidade – controle difuso ou concentrado, cujo julgamento dá-se
pelo Pleno do Tribunal, cujos efeitos, mesmo no difuso, tem respeito
praticamente obrigatório;
(ii) Enunciados de súmulas (vinculantes ou não);
(iii) Acórdãos proferidos em incidente de assunção de competência;
(iv) Acórdãos proferidos em julgamento de casos repetitivos, quais sejam,
aqueles proferidos em:
I – incidente de resolução de demandas repetitivas;
II – recursos especial e extraordinário repetitivos.

Percebeu que termos como “jurisprudência” ou “entendimento” “dominante”


desapareceram? E o que ficou no lugar? Julgamentos repetitivos, súmulas,
assunção de competência, a partir dos quais atingimos, certamente, uma
objetividade infinitamente maior, por essas decisões são facilmente destacadas
em meio às diversas decisões proferidas pelos Tribunais diariamente.

Igualmente verificamos que, em busca da maior legitimidade das decisões


construídas pelos instrumentos de que tratamos, percebemos, também, a
devida abertura para participação da coletividade, por exemplo, por audiências
públicas, elevando-se o debate a respeito de uma dada matéria.
Referências
DIDIER JUNIOR, Fred e CUNHA, Leonardo José Carneiro, Curso de Direito
Processual Civil, 8 ed. v.3. Salvador: Jus Podium, 2010, p. 19.
CAMARA, Alexandre Freitas. O novo processo civil brasileiro. São Paulo: Atlas,
2015.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 59


DIDIER JUNIOR, Fred. Curso de Direito Processual Civil, 17 ed. v.1.
Salvador: Jus Podium, 2015.
DIDIER JUNIOR, Fred, BRAGA, Paula Sarmo, OLIVEIRA, Rafael Alexandria.
Curso de Direito Processual Civil, 11 ed. v.2. Salvador: Jus Podium, 2016.
DIDIER JUNIOR, Fred, CUNHA, Leonardo Carneiro. Curso de Direito
Processual Civil, 13 ed. v.3. Salvador: Jus Podium, 2016.
DONIZETTI, Elpidio. Curso didático de direito processual civil. 19 ed. São
Paulo: Atlas, 2016.
FLEXA, Alexandre, MACEDO, Daniel, BASTOS, Fabrício. Novo Código de
Processo Civil – temas inéditos, mudanças e supressões.2 ed. Salvador:
Jus Podium, 2016.
MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao Código de Processo Civil.
11. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2003. v. 5. p. 233.
SARLET, Ingo Wolfgang. Curso de direito constitucional. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2014.
SOKAL, Guilherme Jales. A impugnação das decisões interlocutórias no
processo civil. In: FUX, Luiz (Coord.). O novo processo civil brasileiro –
direito em expectativa. Rio de Janeiro: Forense, 2011.
PINHO. Humberto Dalla Bernadina de Pinho. Direito processual civil
contemporâneo – teoria geral do processo. 6 ed. São Paulo: Saraiva,
2016.
THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. 56 ed.
Vol. I. Rio de Janeiro: Forense, 2015.
THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. 50 ed.
Vol. II. Rio de Janeiro: Forense, 2016.
THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil – teoria
geral do direito processual civil e o processo de conhecimento. 52. ed.
Rio de Janeiro: Forense, 2011. v. 1.
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Súmulas e inadmissibilidade da apelação.
In: FREIRA, Rodrigo da Cunha Lima (Coord.). Salvador: JusPodivm, 2007.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 60


WAMBIER, Luiz Rodrigues; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Breves
comentários à 2ª fase da Reforma do Código de Processo Civil. 2. ed.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002.
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Revista de processo - REPRO. Ano 36 –
192. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011.

Exercícios de fixação
Questão 1

Aprecie as assertivas abaixo para, em seguida, optar pela alternativa correta:

I – A ordem jurídica brasileira enquadra-se na chamada “civil law”, ou seja,


aquele cujo fundamento maior é o direito positivado por meio das fontes
objetivas instituídas pelos poderes devidamente constituídos (principalmente, os
Códigos em que tanto nos baseamos: CPC/15, CC/02, CDC/90). Trata-se de um
sistema em que, em regra, dá-se pouca atenção à força jurisprudencial,
justamente porque, a princípio, há um esgotamento da matéria pela Lei
aplicável – fundamentos já não tão fortes nos últimos anos, principalmente
quando observamos a aprovação de uma Lei (13.105/15) como o novo CPC,
que privilegia instrumentos (como o incidente de resolução de demandas
repetitivas) que sirvam de referências jurisprudenciais cujo cumprimento é,
praticamente, obrigatório pelas instâncias inferiores;

II – Nas últimas décadas, o direito brasileiro, por meio de uma sequência


inédita de reformas, valorizou os precedentes por uma série de instrumentos,
dentre os quais a súmula vinculante, de competência dos Tribunais Superiores
(STJ e STF);

III – Os recursos especiais repetitivos enquadram-se no sistema de julgamento


pelos chamados “casos-pilotos”, por meio do qual o caso paradigma é julgado e
sua decisão aplicada a outros processos, até então suspensos.

a) Apenas a I e II estão corretas.

b) Apenas a I e III estão corretas.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 61


c) Apenas a II e III estão corretas.

d) Todas estão corretas.

Questão 2

O juiz, ao fundamentar a decisão, não pode fazer o que segue abaixo. Em uma
das opções, porém, há ato que não está dentre o que o juiz não pode fazer.
Qual?

a) Limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem


explicar sua relação com a causa ou a questão decidida.

b) Empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo


concreto de sua incidência no caso.

c) Invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão.

d) Deixar de mencionar, expressamente, os dispositivos legais afetos à


matéria, independente do respectivo conteúdo houver sido tratado.

Questão 3

Dentre os itens abaixo, qual não caracteriza a evolução existente no direito


processual brasileiro em prol da valorização dos precedentes jurisdicionais?

a) Art. 38 da Lei 8.038/90: concedeu competência ao Ministro Relator para


negar seguimento a recursos, no STF e no STJ, que contrariar súmula do
respectivo Tribunal;.

b) Art. 557 do CPC/73, alterado pelas Leis 9.139/95 e 9.756/98


(correspondente este artigo ao 932 do CPC/2015): admite que o Relator
de recurso em qualquer tribunal negue seguimento a recurso em
confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do respectivo
tribunal, do STF ou de Tribunal Superior, bem como dê provimento ao
recurso, monocraticamente, se a decisão recorrida estiver em manifesto

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 62


confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do STF, ou de
Tribunal Superior;.

c) Art. 544, parágrafos 3º e 4º do CPC/73, instituídos pela mesma lei acima


(artigo correspondente ao 1042 do CPC/2015) passou a autorizar que se
desse provimento a agravo de decisão denegatória de recurso
extraordinário ou de recurso especial, se o acórdão recorrido estiver em
confronto com a súmula ou jurisprudência dominante do tribunal;.

d) Art. 273 do CPC/73 (artigos 303 e 304 do CPC/2015), que trata da


chamada tutela de urgência de natureza satisfativa.

Questão 4

Analise as assertivas abaixo, e assinale a alternativa correta:

I – A força jurisprudencial por meio de precedentes propagou-se para todas as


instâncias, do STF ao juízo de 1ª instância, caracterizada pela obediência quase
cega das inferiores no cumprimento das súmulas (vinculantes ou não) e os
chamados “entendimentos dominantes”;

II – No Código de 1973, tem-se uma subjetividade nas referências de


precedentes, considerando-se a dificuldade comum de se identificar o que seja
“dominante” em um conjunto de entendimentos possíveis a respeito de uma
mesma questão (ou tese);

III – O novo CPC, com precisão louvável, toca, exatamente, neste ponto,
buscando, além de reforçar tudo o quanto já existe em prol da maior
estabilidade jurisdicional, estabelecer critérios (ou referências) melhores para se
apurar o que é, efetivamente, dominante e, por conseguinte, ainda que por
convenção, a melhor forma de decidir a matéria.

a) Apenas a I e II estão corretas.

b) Apenas a I e III estão corretas.

c) Apenas a II e III estão corretas.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 63


d) Todas estão corretas.

Questão 5

Segundo a ordem jurídica processual atual, pode-se dizer que tem força
vinculativa, EXCETO:

a) Súmula vinculante.

b) Súmula do STJ.

c) Súmula do STF.

d) Acórdão proferido por órgão fracionário do TRF.

Questão 6

São instrumentos objetivos de observação da jurisprudencia dominante nos


tribunais segundo o novo CPC:

I –As decisões do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de


constitucionalidade.

II – Os enunciados de súmula vinculante, os acórdãos proferidos em incidente


de assunção de competência ou em julgamento de casos repetitivos.

III – Os Enunciados das súmulas do Supremo Tribunal Federal e do Superior


Tribunal de Justiça.

a) Apenas a I está correta.

b) Apenas a II está correta.

c) Todas estão incorretas.

d) Todas estão corretas.

Questão 7

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 64


Opte pela alternativa Incorreta segundo o novo CPC:

a) Os precedentes do plenário do Supremo Tribunal Federal, em controle


difuso de constitucionalidade, e da Corte Especial do Superior Tribunal de
Justiça, em matéria infraconstitucional devem ser seguidos pelas
instancias inferiores;.

b) A orientação do plenário ou do órgão especial aos quais estiverem


vinculados não precisa ser seguida, considerando-se a liberdade do juiz,
segundo o livre convencimento motivado;.

c) A alteração de tese jurídica adotada em enunciado de súmula ou em


julgamento de casos repetitivos poderá ser precedida de audiências
públicas e da participação de pessoas, órgãos ou entidades que possam
contribuir para a rediscussão da matéria.

d) Para os fins do novo Código, considera-se julgamento de casos


repetitivos a decisão proferida em: I – incidente de resolução de
demandas repetitivas; II – recursos especial e extraordinário repetitivos.

Questão 8

Está dentre os poderes do Relator, segundo o novo CPC:

I – Negar provimento a recurso que for contrário a: a) súmula do Supremo


Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do próprio tribunal; b)
acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de
Justiça em julgamento de recursos repetitivos; c) entendimento firmado em
incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de
competência.

II – Dar provimento ao recurso se a decisão recorrida for contrária a: a) súmula


do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do próprio
tribunal; b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior
Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivos; c) entendimento

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 65


firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de
competência.

a) Somente a I está correta.

b) Somente a II está correta.

c) Ambas estão corretas.

d) Ambas estão incorretas.

Questão 9

Quanto ao instituto da Reclamação no novo CPC, podemos afirmar, exceto:

a) Caberá reclamação somente da parte interessada para: I – preservar a


competência do tribunal; II – garantir a autoridade das decisões do
tribunal; III – garantir a observância de decisão do Supremo Tribunal
Federal em controle concentrado de constitucionalidade; IV – garantir a
observância de súmula vinculante e de precedente proferido em
julgamento de casos repetitivos ou em incidente de assunção de
competência;.

b) A reclamação pode ser proposta perante qualquer tribunal e seu


julgamento compete ao órgão jurisdicional cuja competência se busca
preservar ou autoridade se pretenda garantir, sendo inadmissível, porém,
após o trânsito em julgado da decisão (contra a qual ela, Reclamação,
seria apresentada).

c) No julgamento da ADI 2212-1, o STF autorizou que as Constituições


Estaduais estabelecessem o instituto da RECLAMAÇÃO, não obstante o
que no CPC/73 não se vê a regulamentação deste instituto, em capítulo
autônomo, que traz o novo CPC. Oportunamente, leia-se o julgado da
referida ADI;.

d) A natureza jurídica da reclamação não é de um recurso, de uma ação e


nem de um incidente processual. Situa-se ela no âmbito do direito

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 66


constitucional de petição previsto no art. 5º, inciso XXXIV da Constituição
Federal. Em consequência, a sua adoção pelo Estado-membro pela via
legislativa local, não implica invasão de competência privativa da União
para legislar sobre direito processual (art. 22, I, CF).

Aula 2
Exercícios de fixação
Questão 1 - B
Justificativa: Súmulas vinculantes são de competência exclusiva do STF.

Questão 2 - D
Justificativa: Aplicação do art. 489, CPC. Os dispositivos legais não são
essenciais, ao contrário do que é dito na opção.

Questão 3 - D
Justificativa: Não tem relação direta com precedentes, especialmente porque o
(então) 273, CPC/73 tratava de tutela de urgência, especialmente. Hoje, temos
a tutela de evidência (art. 311, CPC) bem esclarecida, que possui relação, em
parte, com precedentes. Mas não no Código anterior.

Questão 4 - D
Justificativa: Desde as possibilidades de julgamentos monocráticos, com
fundamento nos antigos “entendimentos dominantes” até artigos como o 543-A
a C (inaugurados em 2008), passamos exatamente por essa transformação,
narrada das opções.

Questão 5 - D

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 67


Justificativa: Leitura dos artigos 926 e 927, CPC. Órgãos fracionários são as
turmas e câmaras, de 2ª instância, as quais, isoladamente, não estão previstas
nos aludidos artigos.

Questão 6 - D
Justificativa: Leitura dos artigos 926 e 927, CPC.

Questão 7 - B
Justificativa: Deve ser seguida. Leitura dos artigos 926 e 927, CPC.
Adicionalmente, deve ser lembrado que a expressão “livre convencimento” foi
extirpada do estatuto de 2015.

Questão 8 - A, C
Justificativa: Aplicação do art. 932, CPC.

Questão 9 – A

Introdução
Meu caro profissional, pós-graduando, nesta aula, estudaremos o cabimento do
incidente de resolução de demandas repetitivas, uma das grandes (talvez a
maior) novidades previstas pelo Novo Código de Processo Civil, cujo
conhecimento faz-se inteiramente necessária por refletir, em seu mais alto
grau, o modelo de julgamento por meio CASOS-PILOTOS.

Em seguida, trataremos do procedimento e julgamento deste Incidente, cujo


teor vinculará todos os processos cujas lides versem sobre a mesma questão
jurídica, elevando-se, talvez, como o instrumento de construção de precedentes
de maior força dentre os existentes, após a súmula vinculante.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 68


Objetivo:
1. O cabimento do incidente de resolução de demandas repetitivas, absoluta
novidade prevista pelo Novo Código de Processo Civil, cujo conhecimento faz-se
inteiramente necessária por refletir, em seu mais alto grau, o modelo de
julgamento por meio CASOS-PILOTOS;
2. O procedimento e julgamento deste Incidente, cujo teor vinculará todos os
processos cujas lides versem sobre a mesma questão jurídica, elevando-se,
talvez, como o instrumento de construção de precedentes de maior força dentre
os existentes, após a súmula vinculante.

Conteúdo
Natureza e cabimento do incidente de resolução de demandas
repetitivas
O princípio da isonomia é um grande fator utilizado como justificativa para
instrumentos, como o que ora buscamos interpretar. A busca por uma
igualdade entre jurisdicionados envolvidos em lides caracterizadas por questões
jurídicas semelhantes (ou mesmo idênticas) tem norteado as últimas demandas
legislativas, especialmente em seus aspectos processuais.

Essa igualdade, presente na maioria das democracias ocidentais, não é apenas


um direito individual, mas também organizacional, verdadeiro mecanismo
regulador da atividade do Estado, inclusive da atuação jurisdicional, que impõe
aos juízes o dever de neutralizar, no processo, as desigualdades reais existentes
entre os homens em prol do equilíbrio de forças na relação processual,
indispensável à justa composição da lide.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 69


Natureza e cabimento do incidente de resolução de demandas
repetitivas

Assim, é defendido em doutrina, em obra organizada por um dos mentores do


novo código:

Daí sua caracterização dúplice, como direito fundamental do jurisdicionado e


dever institucional do juiz, encontrando, na paridade de armas, sua
manifestação no processo civil. Esta é compreendida como componente
autônomo da garantia de um processo justo, mas que está intimamente ligada
a outras garantias, como o contraditório e o direito de defesa.

Apesar de sua ampla generalidade, pode-se definir a paridade de armas como a


obrigação de proporcionar a qualquer parte a possibilidade razoável de
apresentar sua causa em condições que não sejam de evidente desvantagem
com relação à outra parte. Essa é a ideia que se pode extrair de inúmeros
documentos humanitários, como a Convenção Europeia de Direitos do
Homem e as Constituições das Democracias Ocidentais.

Natureza e cabimento do incidente de resolução de demandas


repetitivas

Assim, é defendido em doutrina, em obra organizada por um dos mentores do


novo código:

A importância da paridade de armas reside no seu papel de conferir


legitimidade ao sistema de resolução de conflitos estruturado em determinado
Estado, pois elimina insatisfações através da possibilidade de todos os
interessados influírem, com idênticas chances de êxito, na cognição do
magistrado. Para nós, essa importância decorre da relevância da dignidade da
pessoa humana e da concepção de que a atividade judiciante, como meio de

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 70


resolução de conflitos, só se poderá legitimar na medida em que assegure a
cada um aquilo que lhe pertence e que se outorgue tutela a quem efetivamente
seja dela merecedor.

Natureza e cabimento do incidente de resolução de demandas


repetitivas

José Carlos Barbosa Moreira, por sua vez, alertou para a atenção aos riscos
de expansão das lides de massa e as formas como o Judiciário trata sobre a
matéria.

Frisou, também, que a pluralidade de órgãos judicantes (que podem – e


frequentemente devem – enfrentar iguais questões de direito) precisa tentar
unificar teses jurídicas em idêntica matéria. Nasce daí a possibilidade de que,
num mesmo instante histórico – sem variação das condições culturais, políticas,
sociais, econômicas, que possa justificar a discrepância –, a mesma regra de
direito seja diferentemente entendida, e às espécies semelhantes se apliquem
teses jurídicas divergentes ou até opostas.

Assim, prossegue o jurista, compromete-se a unidade do direito – que não seria


posta em xeque (muito ao contrário) devido à evolução homogênea da
jurisprudência dos vários tribunais –, e não raro se semeiam, entre os membros
da comunidade, o descrédito e o cepticismo quanto à efetividade da garantia
constitucional.

Do Artigo 976
Segundo o Artigo 976 do novo CPC, é cabível a instauração do incidente de
resolução de demandas repetitivas quando houver, simultaneamente:

I – Efetiva repetição de processos que contenham controvérsia sobre a mesma


questão unicamente de direito;
II – Risco de ofensa à isonomia e à segurança jurídica.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 71


É inegável a existência de conceitos jurídicos indeterminados a serem
interpretados, oportunamente, por doutrina e jurisprudência. Ainda que
estejamos diante de uma novidade, sua inspiração é conhecida.

Procedimento-modelo
Foi na Alemanha que, em 2005, foi criado o procedimento-modelo
(musterverfahren), com o propósito de estabelecer uma esfera de decisão
coletiva de questões comuns a litígios individuais para, assim, proporcionar o
esclarecimento unitário de características típicas a várias causas idênticas, com
a possibilidade de abrangência subjetiva para além das partes.

Assim, o escopo do referido procedimento é firmar posicionamento sobre


questões fáticas ou jurídicas de pretensões massificadas.

Novo CPC
Da mesma forma, no novo CPC, direciona-se o pedido de instauração do
incidente ao Presidente do Tribunal, mediante requerimento das partes, do
Ministério Público, da Defensoria Pública ou de ofício pelo juiz ou relator, para a
resolução de demandas repetitivas, verificando-se evidente intenção do
legislador de evitar que demandas que versem sobre teses jurídicas
supostamente idênticas fiquem sendo tratadas de modo pulverizado. Canaliza-
se, portanto, a cognição para um órgão específico.

A proposta tende a concentrar nos tribunais a resolução de conflitos que podem


ser considerados repetitivos, e, ao possibilitar seu cabimento nos casos em que
a controvérsia envolver questões fáticas, potencializa uma perigosa
uniformização que afasta a possibilidade de cognição adequada sobre as
especificidades de cada caso.

O instrumento é instigante e já nos traz preocupações.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 72


Fala-se, no dispositivo sob análise, em “efetiva repetição de processos que
contenham controvérsia sobre a mesma questão unicamente de direito” e
“risco de ofensa à isonomia e à segurança jurídica”.

Já podemos nos indagar quantos processos seriam suficientes para se


considerar uma “repetição” capaz de gerar risco à isonomia e à segurança? Não
é possível prever um número específico, mas se entende que a proposta, como
acima desenvolvido, é impedir julgamentos diversos e diferentes a respeito de
uma única questão (ou tese) jurídica, o que, certamente, geraria uma falta de
isonomia entre os envolvidos.

Questiona-se a capacidade desses julgamentos de gerar, efetivamente, maior


segurança jurídica, ainda que, isonomia, possa, de fato, gerar. Se um
julgamento será estendido para os demais processos a respeito da mesma
matéria, sem dúvida todos serão atingidos por uma questão decidida
uniformemente. Mas isso, necessariamente, eleva a segurança jurídica?
Se houver uma onda de julgamentos de casos-pilotos de forma inadequada, por
exemplo, estaríamos elevando a segurança jurídica?

Sim, você pode dizer: então, a ordem jurídica deve providenciar o necessário a
reduzir (eliminar, se possível) os riscos de decisões inadequadas (que
contrariem a ordem jurídica regularmente instalada). Um bom caminho para
isso seria privilegiar o duplo grau de jurisdição, o que eleva o debate jurídico e,
consequentemente, a segurança e estabilidade que se esperam de seu
julgamento.

E não é que justamente esse incidente, que deveria zelar pela maior segurança
jurídica, está com previsão de ser instaurado, diretamente, nos tribunais (2ª
instância) em prol de uma suposta aceleração da atividade jurisdicional?

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 73


Essa é a questão que, no mínimo, devemos refletir: a competência originária
para julgar o incidente que, uma vez admitido, faz suspender todos os
processos em trâmite em 1ª instância; elimina-se, praticamente, todo o debate
que poderia (e talvez, deveria) ter existido antes de o tribunal (2ª instância) se
manifestar e apresentar a questão pronta e resolvida, como se fosse a melhor
solução para aquela matéria, a ser seguida pelos órgãos jurisdicionais
submetidos àquele tribunal, sem lhes dar a oportunidade nem ao menos de
melhor se debruçar sobre a tese.

A concentração, antes mencionada, tem sua utilidade, mas antes mesmo de se


construir uma maturidade a respeito da matéria, pode gerar julgados
vinculantes que seja considerado, posteriormente, inadequado, e, dessa forma,
ensejador de danos a toda a coletividade atingida.

Entendamos, melhor, o procedimento desse incidente sob estudo.

Procedimento e julgamento do incidente


Segundo o Artigo 977 do NCPC, o pedido de instauração do incidente será
dirigido ao Presidente do Tribunal:

I – Pelo juiz ou relator, por ofício;


II – Pelas partes, pelo Ministério Público ou pela Defensoria Pública.

Parágrafo único. O ofício ou a petição será instruído com os documentos


necessários à demonstração do preenchimento dos pressupostos para a
instauração do incidente.

Atenção

O julgamento do incidente competirá ao órgão indicado pelo


regimento interno, dentre aqueles responsáveis pela
uniformização de jurisprudência do tribunal. A instauração e o

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 74


julgamento do incidente serão sucedidos da mais ampla e
específica divulgação e publicidade, por meio de registro
eletrônico no Conselho Nacional de Justiça.

Admitido o incidente, o relator:

I - suspenderá os processos pendentes, individuais ou coletivos, que tramitam


no Estado ou na região, conforme o caso;
II - poderá requisitar informações a órgãos em cujo juízo tramita processo no
qual se discute o objeto do incidente, que as prestarão no prazo de 15 (quinze)
dias;
III - intimará o Ministério Público para, querendo, manifestar-se no prazo de 15
(quinze) dias.

O relator ouvirá as partes e os demais interessados, inclusive pessoas, órgãos e


entidades com interesse na controvérsia, que, no prazo comum de 15 (quinze)
dias, poderão requerer a juntada de documentos, bem como as diligências
necessárias para a elucidação da questão de direito controvertida, e, em
seguida, manifestar-se-á o Ministério Público, no mesmo prazo.

Julgado o incidente, a tese jurídica será aplicada:

I - a todos os processos individuais ou coletivos que versem sobre idêntica


questão de direito e que tramitem na área de jurisdição do respectivo tribunal,
inclusive àqueles que tramitem nos juizados especiais do respectivo Estado ou
região;
II - aos casos futuros que versem idêntica questão de direito e que venham a
tramitar no território de competência do tribunal, salvo revisão na forma do art.
986.

Não observada a tese adotada no incidente, caberá reclamação e, se o


incidente tiver por objeto questão relativa a prestação de serviço concedido,

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 75


permitido ou autorizado, o resultado do julgamento será comunicado ao órgão,
ao ente ou à agência reguladora competente para fiscalização da efetiva
aplicação, por parte dos entes sujeitos a regulação, da tese adotada.

Caso-piloto
Esse sistema de instauração de julgamento por CASO-PILOTO e suspensão dos
demais processos que versem sobre a matéria, para serem atingidos, depois,
pelo decisão proferida no paradigma não é novo nem mesmo no direito
brasileiro. Existia, por exemplo, no art. 543-C, do CPC/73, nos chamados
recursos especiais repetitivos, o que foi mantido pelo CPC/2015, como estamos
vendo, neste conteúdo, em inúmeros artigos (como o art. 932 e 927, ambos
fazendo alusão a recursos repetitivos). A grande distinção, antes levantada, é
que, no caso dos recursos excepcionais, a suspensão dá-se após amplo debate
nas instâncias inferiores, enquanto, no incidente sob estudo, a questão está
ainda sob análise das instâncias primárias.

Esse modelo, enfim, já existe, ainda que não idêntico aos moldes daquilo que
ora está sob análise (com suspensão já na 1ª instância). Citamos, como um
exemplo de instrumento semelhante e anterior ao que ora estudamos, aquele
que, em 2005, foi instituída por uma “Comissão de Especialistas”, pelo Conselho
da Europa.

Tal comissão, composta por profissionais independentes, de notável saber,


indicados por organizações não governamentais, foi nomeada para assegurar a
transparência e adequação das reformas da Corte Europeia de Direitos
Humanos. No relatório final, ao opinar sobre essas alterações, a Comissão
reconheceu ser o Pilot-Judgment Procedure a mais importante dentre as
iniciativas para o incremento da celeridade dos julgamentos daquele tribunal.

Uma importante característica do “julgamento-piloto”, como o incidente sob


estudo, é a possibilidade de suspensão de todas as causas que versem sobre a
mesma matéria por certo período de tempo. Tal medida, de acordo com a

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 76


opinião institucional da Corte Europeia de Direitos Humanos, tem como objetivo
encorajar as autoridades nacionais a encontrarem soluções satisfatórias nesse
lapso temporal.

Essa suspensão deve ser realizada por um período de tempo determinado, e


sua efetivação depende da real atuação do Estado requerido no sentido de dar
concretude às recomendações da demanda selecionada como piloto.

Do objetivo do pilot-judgment procedure


A ideia central do pilot-judgment procedure é proporcionar uma tutela mais
célere dos direitos fundamentais dos requerentes nos casos em que há um
grande número de petições referente à mesma questão. A espera seria
considerável se todos esses casos fossem apreciados individualmente.
O procedimento para julgamento dos processos piloto pela Corte Europeia de
Direitos Humanos vem recebendo diversas críticas da comunidade acadêmica e
de outros setores da sociedade.

Um questionamento recorrente é que a suspensão de casos em situações


similares deixa os requerentes em uma situação vulnerável, em razão da
necessidade de aguardar o julgamento do processo-piloto. A Corte tem
argumentado, em resposta, que caso não houvesse o julgamento-piloto, os
casos demorariam muito mais para serem julgamentos individualmente e, por
isso, não daria prejuízo à célere prestação jurisdicional.

Perceba, portanto, como se questiona essa imposição de suspensão nos casos


de julgamentos por casos-pilotos, como também se coloca à prova a segurança
que deles possa advir.

O dispositivo (Artigo 994) trata dos requisitos para a instauração do incidente,


que são, basicamente, dois: primeiramente, é preciso vislumbrar naquela
questão jurídica que se apresenta ao judiciário, através de uma ou mais
demandas, o potencial de vir a ser reproduzida como causa de pedir em

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 77


diversas outras ações. É preciso, em suma, ver naquela demanda o prenúncio
de que muitas outras estão por vir. O projeto, portanto, menciona o risco de
multiplicação de ações fundadas em idêntica questão jurídica. E, dois: de tal
multiplicação de processos, deverá decorrer o risco de prolação de decisões
divergentes.

Implicitamente, o projeto reconhece que a sistemática das ações coletivas, tal


qual adotada no direito brasileiro, fracassou no intento de conter a enxurrada
de ações que são ajuizadas em prol da tutela de direitos originados de um
mesmo contexto fático-jurídico.

É que, como visto, o modelo nacional de ações coletivas não retira do titular do
direito material a legitimação para propor a sua própria ação individual, tenha
ou não sido instaurado um processo coletivo. Não necessariamente os efeitos
da decisão proferida na ação coletiva se projetarão para fora do processo,
alcançado os titulares do direito material. As ações coletivas não
necessariamente produzem efeitos externos. Tudo dependerá do sentido como
tenham sido resolvidas as questões de fato e de direito subjacentes à lide
coletiva e do consequente resultado do julgamento do pedido. No incidente, ao
que parece, é diferente, como abaixo passamos a ver.

Pois bem: como se dá, então, o julgamento do incidente?

Segundo o Artigo 995 do projeto, o relator ouvirá as partes e os demais


interessados, inclusive pessoas, órgãos e entidades com interesse na
controvérsia, que, no prazo comum de quinze dias, poderão requerer a
juntada de documentos, bem como as diligências necessárias para a elucidação
da questão de direito controvertida; em seguida, no mesmo prazo, manifestar-
se-á o Ministério Público e, em seu julgamento (Artigo 996), observar-se-á a
seguinte ordem:

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 78


I – o relator fará a exposição do objeto do incidente; II – poderão sustentar
suas razões, sucessivamente:

a) o autor e o réu do processo originário, e o Ministério Público, pelo prazo de


trinta minutos.
b) os demais interessados, no prazo de trinta minutos, divididos entre
todos, sendo exigida inscrição com dois dias de antecedência.

O conteúdo do acórdão abrangerá, necessariamente, a análise de todos os


fundamentos suscitados em apoio à tese jurídica discutida, sejam favoráveis ou
contrários.

Julgado o incidente (Artigo 997), a tese jurídica será aplicada:


I – a todos os processos individuais ou coletivos que versem sobre idêntica
questão de direito e que tramitem na área de jurisdição do tribunal, inclusive
àqueles que tramitem nos juizados especiais do respectivo Estado ou região.

II – aos casos futuros que versem idêntica questão de direito e que venham a
tramitar no território de competência do tribunal, salvo revisão na forma do
Artigo 998.

Não observada a tese adotada no incidente, caberá reclamação, e se o


incidente tiver por objeto questão relativa à prestação de serviço concedido,
permitido ou autorizado, o resultado do julgamento será comunicado ao órgão
ou à agência reguladora competente para fiscalização da efetiva aplicação, por
parte dos entes sujeitos a regulação, da tese adotada.

Tem-se colocado em dúvida, já na doutrina, o alcance dessa decisão, ainda


que reste claro algum efeito erga omnes do incidente. Em que grau, porém,
tem havido dúvida. Leia-se o texto abaixo (ainda alusivo à “Projeto”, porém,
no mérito, inteiramente aproveitável):

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 79


O Projeto de novo CPC não é explícito quanto ao alcance que poderá ter a
decisão do incidente. (...) Surgem então duas possibilidades de interpretação
para os dispositivos em foco. Afinal, a decisão tomada no incidente se
aplicará tão somente aos processos pendentes à data de sua instauração ou,
ao revés, valerá para todos os processos futuros que venham a reproduzir a
mesma controvérsia jurídica já enfrentada e resolvida pelo Tribunal?

(...)

No Brasil, consoante pontuado pelo professor Leonardo Greco, se a decisão


tiver eficácia restrita aos processos suspensos, ela não se assemelhará a uma
tutela coletiva, porque essa eficácia será apenas inter partes. Nesse caso, a
eficácia da decisão no incidente não configuraria coisa julgada, porque restrita
á resolução da questão de direito.

Poder-se-ia dizer que, a prevalecer esta interpretação, a disciplina do novel


instituto se aproximaria daquela que rege o incidente de uniformização de
jurisprudência do atual CPC (art. 476), com a particularidade de ser suscitado
simultaneamente em todos os processos suspensos. Após julgamento pelo
tribunal, em cada processo, seguir-se-á o julgamento das demais questões de
direito, assim como das questões de fato, aplicando-se, quanto à questão
objeto do incidente, a decisão comum.

Portanto, o que ficar resolvido a respeito da questão jurídica comum valerá


para todos os demais processos, qualquer que seja o sentido em que se
pronunciar o tribunal; inegavelmente, por tal perspectiva, a força do incidente
revela-se muito maior do que a de uma ação coletiva.

O que temos aqui pode assim ser resumido:

Elegemos uma ou mais ações, as quais farão as vezes de milhares de outras e


ainda serão julgadas diretamente pelo Tribunal. Podem-se denominar tais ações

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 80


de paradigmáticas. O modo como deve se resolver a questão de direito, então,
é que vinculará os demais juízes no julgamento de pedidos que tenham por
pressuposto aquela mesma questão geradora do incidente.

Veja-se que não é propriamente a decisão a respeito do pedido na ação


paradigma que produzirá efeitos externos, mas a fundamentação da decisão.
Eis, como antes dito, uma grande preocupação: o julgamento é realizado
diretamente pelo Tribunal sem a devida maturidade a que se chega apenas
com amplas discussões, no mínimo, em uma instância que seja.

Diga-se, enfim, que a revisão da tese pode ocorrer nos termos do Artigo
998. Far-se-á pelo mesmo tribunal de ofício ou mediante requerimento dos
legitimados mencionados no Artigo 989, inciso II.

Do julgamento do mérito do incidente, caberá recurso extraordinário ou


especial, conforme o caso. O recurso tem efeito suspensivo, presumindo-se a
repercussão geral de questão constitucional eventualmente discutida.
Apreciado o mérito do recurso, a tese jurídica adotada pelo Supremo
Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça será aplicada no
território nacional a todos os processos individuais ou coletivos que versem
sobre idêntica questão de direito.

Referências
DIDIER JUNIOR, Fred e CUNHA, Leonardo José Carneiro, Curso de Direito
Processual Civil, 8 ed. v.3. Salvador: Jus Podium, 2010, p. 19.
CAMARA, Alexandre Freitas. O novo processo civil brasileiro. São Paulo: Atlas,
2015.
DIDIER JUNIOR, Fred. Curso de Direito Processual Civil, 17 ed. v.1.
Salvador: Jus Podium, 2015.
DIDIER JUNIOR, Fred, BRAGA, Paula Sarmo, OLIVEIRA, Rafael Alexandria.
Curso de Direito Processual Civil, 11 ed. v.2. Salvador: Jus Podium, 2016.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 81


DIDIER JUNIOR, Fred, CUNHA, Leonardo Carneiro. Curso de Direito
Processual Civil, 13 ed. v.3. Salvador: Jus Podium, 2016.
DONIZETTI, Elpidio. Curso didático de direito processual civil. 19 ed. São
Paulo: Atlas, 2016.
FLEXA, Alexandre, MACEDO, Daniel, BASTOS, Fabrício. Novo Código de
Processo Civil – temas inéditos, mudanças e supressões.2 ed. Salvador:
Jus Podium, 2016.
MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao Código de Processo Civil.
11. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2003. v. 5. p. 233.
SARLET, Ingo Wolfgang. Curso de direito constitucional. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2014.
SOKAL, Guilherme Jales. A impugnação das decisões interlocutórias no
processo civil. In: FUX, Luiz (Coord.). O novo processo civil brasileiro –
direito em expectativa. Rio de Janeiro: Forense, 2011.
PINHO. Humberto Dalla Bernadina de Pinho. Direito processual civil
contemporâneo – teoria geral do processo. 6 ed. São Paulo: Saraiva,
2016.
THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. 56 ed.
Vol. I. Rio de Janeiro: Forense, 2015.
THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. 50 ed.
Vol. II. Rio de Janeiro: Forense, 2016.
THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil – teoria
geral do direito processual civil e o processo de conhecimento. 52. ed.
Rio de Janeiro: Forense, 2011. v. 1.
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Súmulas e inadmissibilidade da apelação.
In: FREIRA, Rodrigo da Cunha Lima (Coord.). Salvador: JusPodivm, 2007.
WAMBIER, Luiz Rodrigues; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Breves
comentários à 2ª fase da Reforma do Código de Processo Civil. 2. ed.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002.
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Revista de processo - REPRO. Ano 36 –
192. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 82


Exercícios de fixação
Questão 1

Qual o fundamental princípio que justifica a existência do incidente de resolução


de demandas repetitivas

a) Isonomia

b) Efetividade

c) Fungibilidade

d) Duplo grau de jurisdição

Questão 2

A competência de julgamento do incidente de resolução de demandas


repetitivas é do(a):

a) Segunda instância, por meio de um de seus órgãos fracionários.

b) Primeira instância, por meio do órgão monocrático ao qual foi distribuída


a primeira ação com matéria que possa gerar a multiplicidades de
demandas repetitivas.

c) Tribunal, por meio de seu colegiado.

d) Tribunal Superior.

Questão 3

É cabível a instauração do incidente de resolução de demandas repetitivas


quando houver:

I – Efetiva repetição de processos que contenham controvérsia sobre a mesma


questão unicamente de direito;

II – Risco de ofensa à isonomia e à segurança jurídica.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 83


a) Necessariamente, ambos devem estar presentes, simultaneamente.

b) Somente o que está descrito na opção I precisa estar presente.

c) Somente o que está descrito na opção II precisa estar presente.

d) Nenhum deles precisa estar presente.

Questão 4

A respeito do incidente de resolução de demandas repetitivas, todas as


alternativas abaixo estão corretas, exceto:

a) Foi na Alemanha, que, em 2005, foi criado o procedimento-modelo


(musterverfahren), com o propósito de estabelecer uma esfera de
decisão coletiva de questões comuns a litígios individuais para, assim,
proporcionar o esclarecimento unitário de características típicas a várias
causas idênticas, com a possibilidade de abrangência subjetiva para além
das partes.

b) O escopo do referido procedimento é firmar posicionamento sobre


questões fáticas ou jurídicas de pretensões massificadas.

c) O pedido de instauração do incidente é realizado ao desembargador-


presidente da 1ª Câmara Cível mediante requerimento das partes, do
Ministério Público, da Defensoria Pública ou de ofício pelo juiz ou relator.

d) A proposta tende a concentrar nos tribunais a resolução de conflitos que


podem ser considerados repetitivos, e, ao possibilitar seu cabimento nos
casos em que a controvérsia envolver questões fáticas, potencializa uma
perigosa uniformização, que afasta a possibilidade de cognição adequada
sobre as especificidades de cada caso.

Questão 5

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 84


Do julgamento do mérito do incidente de resolução de demandas repetitivas,
caberá:

a) Recurso especial e/ou extraordinário, inclusive simultaneamente,


conforme o caso.

b) Somente recurso especial.

c) Somente recurso extraordinário.

d) Recurso de apelação.

Questão 6

Julgado o incidente de resolução de demandas repetitivas, a tese jurídica será


aplicada:

I – A todos os processos individuais ou coletivos que versam sobre idêntica


questão de direito e que tramitam na área de jurisdição do tribunal, inclusive
àqueles que tramitam nos juizados especiais do respectivo Estado ou região.

II – Em regra, aos casos futuros que versam idêntica questão de direito e que
venham a tramitar no território de competência do tribunal.

a) Será aplicada a ambas as situações.

b) Será aplicada somente à situação número I.

c) Será aplicada somente à situação número II.

d) Ambas estão erradas.

Questão 7

Quanto ao incidente de resolução de demanda repetitivas e ao atual incidente


de uniformização de jurisprudência, podemos dizer que:

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 85


a) São sistemas praticamente idênticos, sobretudo porque, em nenhum
deles, pode haver uma suspensão dos processos até o julgamento do
caso-piloto.

b) São sistemas cuja competência de julgamento é, em regra, a mesma,


isto é, do colegiado do tribunal, como, por exemplo, o órgão especial.

c) São sistemas absolutamente distintos, mesmo porque as instâncias em


que são instaurados são diferentes.

d) São sistemas bastante semelhantes; inclusive, os efeitos das respectivas


decisões seriam iguais.

Questão 8

Não observada a tese adotada no incidente de resolução de demandas


repetitivas pela instancia inferior, caberá:

a) Apenas recurso extraordinário

b) Apenas recurso especial

c) Reclamação

d) Agravo de instrumento

Aula 3
Exercícios de fixação
Questão 1 - A
Justificativa: Aplicação do art. 976, CPC.

Questão 2 - C

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 86


Justificativa: Aplicação do Art. 978, CPC: O julgamento do incidente caberá ao
órgão indicado pelo regimento interno dentre aqueles responsáveis pela
uniformização de jurisprudência do tribunal.

Questão 3 - A
Justificativa: Aplicação do Art. 976, CPC: É cabível a instauração do incidente
de resolução de demandas repetitivas quando houver, simultaneamente: I -
efetiva repetição de processos que contenham controvérsia sobre a mesma
questão unicamente de direito;II - risco de ofensa à isonomia e à segurança
jurídica.

Questão 4 - C
Justificativa: Aplicação do Art. 977, CPC: O pedido de instauração do incidente
será dirigido ao presidente de tribunal.

Questão 5 - A
Justificativa: Aplicação do Art. 987, CPC. Do julgamento do mérito do incidente
caberá recurso extraordinário ou especial, conforme o caso. § 1o O recurso tem
efeito suspensivo, presumindo-se a repercussão geral de questão constitucional
eventualmente discutida. § 2o Apreciado o mérito do recurso, a tese jurídica
adotada pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça
será aplicada no território nacional a todos os processos individuais ou coletivos
que versem sobre idêntica questão de direito.

Questão 6 - A
Justificativa: Aplicação do Art. 985, CPC: Julgado o incidente, a tese jurídica
será aplicada: I - a todos os processos individuais ou coletivos que versem
sobre idêntica questão de direito e que tramitem na área de jurisdição do
respectivo tribunal, inclusive àqueles que tramitem nos juizados especiais do
respectivo Estado ou região; II - aos casos futuros que versem idêntica questão
de direito e que venham a tramitar no território de competência do tribunal,
salvo revisão na forma do art. 986.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 87


Questão 7 - B
Justificativa: Aplicação dos artigos 476 e seguintes, CPC/73 e 976 e seguintes,
CPC/15.

Questão 8 - C
Justificativa: Artigos 988 e 985, § 1º, ambos do CPC/15.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 88


Introdução
Meu caro profissional, pós-graduando, nesta aula nosso objetivo é o necessário
aprofundamento no principal recurso do direito brasileiro, qual seja, o recurso
de apelação, mais especificamente por meio de duas análises em especial.

Em primeiro lugar, é preciso aprofundar na devolutividade do recurso de


apelação em seus aspectos principais (extensão e profundidade). A apelação,
sem dúvida, tem a maior devolutividade dentre todos os demais recursos,
sendo também a mais relevante, considerando-se a possibilidade de se atingir,
pela apreciação recursal, todo ou quase todo o processo.

Em um segundo momento, serão tratados aspectos pertinentes ao recurso


contra a sentença, especialmente em razão, justamente, de um novo Código de
Processo Civil, que tornou determinadas matérias ainda mais importantes.

Objetivo:
1. Compreender a devolutividade do recurso de apelação, certamente o mais
presente dentre todos os demais recursos e o mais relevante;
2. Analisar outros aspectos relevantes do recurso de apelação, sempre segundo
o Código de Processo Civil/2015.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 89


Conteúdo
Devolutividade do recurso de apelação
Em primeiro lugar chamamos a atenção para uma questão que poderia parecer
óbvia: cabe apelação contra qual decisão? Na forma do Artigo 1.009 do CPC,
você obviamente dirá sentença. Mas você sabe o que é sentença?

Não vamos nos alongar neste momento, por não ser o propósito (afinal, o título
menciona a devolutividade, e não o cabimento), mas devemos rapidamente
refletir sobre o conceito desse importante ato.

Pense, por exemplo, nos seguintes atos: (i) indeferimento parcial da petição
inicial por ilegitimidade de um dos litisconsortes ou por decadência em relação a
um dos pedidos; (ii) julgamento do incidente de impugnação à gratuidade de
justiça (Lei nº 1.060/50); (iii) extinção do processo de execução.

Esses atos podem ser qualificados como sentenças?

O Artigo 162, §1º, do CPC/73, por exemplo, não era claro o suficiente para
responder. Segundo esse dispositivo, o critério primordial à qualificação de uma
sentença era seu conteúdo (que deveria conter uma das situações previstas nos
arts. 267 ou 269 daquele mesmo estatuto de 1973). Evidentemente, diante da
falta de clareza, a interpretação seguiu o que já se fazia antes mesmo daquela
redação (do Artigo 162), estabelecida pela Lei nº 11.232/2005, qual seja, firmar
o conceito do atos decisórios jurisdicionais, considerando-se, principalmente,
um efeito possível seu, que é a capacidade de finalizar o módulo ou etapa
processual, seja a fase de conhecimento ou de execução.

Exatamente nesse sentido foi elaborado o Artigo 203 do CPC/2015,


correspondente ao aludido Artigo 162 do CPC/73:

“Artigo 203. Os pronunciamentos do juiz consistirão em sentenças, decisões


interlocutórias e despachos.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 90


§1º Ressalvadas as disposições expressas dos procedimentos especiais,
sentença é o pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento
nos arts. 485 e 487 põe fim à fase cognitiva do procedimento comum, bem
como extingue a execução.

§2º Decisão interlocutória é todo pronunciamento judicial de natureza decisória


que não se enquadre no § 1º”.

A doutrina já se manifestava, por ocasião do CPC/73, da mesma forma.


Citemos, por exemplo, DIDIER, que, por todos, cita o conceito ratificado pelo
novo CPC: sentença como ato do juiz que extinguiu o processo sem resolução
de mérito ou que resolveu todo o seu mérito, pondo término à fase de
conhecimento ou de execução.

Critérios do recurso de apelação


Essencialmente, são estes os critérios do recurso de apelação:

1º) Em se tratando de fase de conhecimento, necessariamente o ato deve


conter uma das situações previstas no Artigo 485 ou 487 do CPC/2015 – ocorre
que nem todos os atos neles previstos são considerados como sentenças,
justamente porque, além dessa característica, deve-se reunir outra, qual seja:

2º) Dar fim à fase de conhecimento (e, por isso, o indeferimento PARCIAL da
petição inicial, por exemplo, não é sentença) ou à fase de execução, ainda que
este ato, de finalização da execução, não esteja compreendido necessariamente
no Artigo 485 ou 487 do CPC;

3º) Além das 2 primeiras, é preciso reconhecer, enfim, que o legislador,


objetivamente, pode criar outras situações de sentença, o que se fazia, por
exemplo, no (agora revogado) Artigo 17 da Lei nº 1.060/50, estabelecendo que
o ato que julga a impugnação à gratuidade de justiça é uma sentença.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 91


Efeitos do recurso de apelação
Como salientado por Câmara, a doutrina costuma apontar 3 (três) efeitos da
interposição dos recursos, quais sejam:

Impedir o trânsito em julgado da decisão recorrida, tratando-se de efeito


comum a todos os recursos admissíveis, razão pela qual é comum que se
esqueça dele, fazendo-se referência apenas ao “duplo efeito” (devolutivo e
suspensivo).

O que se diz, portanto, é que o simples fato de se interpor um recurso que


venha a ser devidamente admitido, independentemente do resultado, já
posterga a coisa julgada que se formará oportunamente sobre a decisão. Logo,
trata-se de consequência presente em todos os recursos.

O segundo efeito da interposição dos recursos é o devolutivo, que consiste em


transferir para órgão diverso daquele que proferiu a decisão recorrida o
conhecimento da matéria impugnada.

Justamente, a devolutividade da apelação é o tema com maior complexidade e


que será mais bem tratado a seguir. Compreende, por exemplo, a extensão, a
devolutividade e a translatividade, consoante fundamentos que serão
analisados em breve.

Por fim, há o efeito suspensivo, que consiste em não permitir que a decisão
recorrida produza efeitos antes do julgamento do recurso. Tal efeito pode ser
produzido independentemente da eficácia da decisão recorrida, impedindo a
produção de efeitos declaratórios, constitutivos ou condenatórios.

Nem todos os recursos o possuem, mas a apelação é justamente um daqueles


em que o efeito suspensivo, em regra, está.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 92


Devolutividade do recurso de apelação
Segundo o Artigo 1.013 do CPC/2015 (e seus parágrafos), a apelação devolverá
ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada, mas serão objetos de
apreciação e julgamento pelo tribunal todas as questões suscitadas e discutidas
no processo, ainda que a sentença não as tenha julgado por inteiro, desde que
relativas ao capítulo impugnado.

Extensão do recurso de apelação


Vamos nos concentrar na primeira parte do dispositivo, qual seja, devolve-se a
“matéria impugnada”. Isso significa que, apesar de estar autorizado a julgar
todas as questões suscitadas e discutidas, tem-se como norte primário o pedido
apresentado no recurso, ou seja, aquilo que o dispositivo denomina de “matéria
impugnada”.

Por exemplo, se o réu foi sucumbente, tendo-lhe sido proferida sentença


mandando que pagasse 100, e seu recurso foi no sentido de reduzi-la a 30, o
Tribunal, ainda que autorizado a “varrer” o processo e apreciar “todas as
questões suscitadas”, apresenta um limite, qual seja, a concordância de esse
réu-recorrente pagar, no mínimo, 30, abaixo do que o acórdão não poderá
proferir (ainda que essa conclusão fosse mais a justa).

Nesse sentido, entende o STJ que, se a sentença for omissa em matéria de


honorários e o interessado não interpuser qualquer recurso, não poderá o
Tribunal, no julgamento da apelação da parte contrária em desfavor do
apelante, condenar ao pagamento de verba honorária. Ainda salienta que não
basta ventilar omissão da sentença em sede de contrarrazões de apelação, é
preciso recorrer da sentença omissa.

Damos ainda outro exemplo:

Se uma demanda com pedidos de indenização por danos materiais e morais é


julgada integralmente procedente e o réu apela apenas para impugnar a

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 93


ocorrência dos danos morais, o reconhecimento pelo tribunal de que o autor é
carecer da ação não alcança a parcela da sentença que deliberou sobre os
danos materiais, na medida em que contra ela não foi dirigida qualquer
impugnação (coisa julgada material).

Profundidade e translatividade do recurso de apelação


Como antes dito, impõe o Artigo 1.013 do CPC/2015 (e seus parágrafos) que,
apesar de a apelação devolver ao tribunal o conhecimento da matéria
impugnada, serão objeto de apreciação e julgamento pelo tribunal todas as
questões suscitadas e discutidas no processo, ainda que a sentença não as
tenha julgado por inteiro, desde que relativas ao capítulo impugnado.

Quando o pedido ou a defesa tiver mais de um fundamento e o juiz acolher


apenas um deles, a apelação devolverá ao tribunal o conhecimento dos demais.

Vemos, portanto, inequívoco poder-dever dos Tribunais de, a partir da


impugnação da parte no recurso interposto, apreciar todas as matérias que
foram ou poderiam ter sido apreciadas na instância inferior (relativas à matéria
e a capítulo impugnado), já que o propósito, naturalmente, é conferir o devido
duplo grau de jurisdição.

Valendo-nos das palavras da Ministra Nancy Andrighi, esclarecemos melhor a


questão: “Deve-se distinguir entre a extensão do efeito devolutivo da apelação,
limitada pelo pedido daquele que recorre, e a sua profundidade, que abrange
os antecedentes lógico-jurídicos da decisão impugnada. Estabelecida a extensão
do objeto do recurso pelo requerimento formulado pelo apelante, todas as
questões surgidas no processo que possam interferir no seu acolhimento ou
rejeição devem ser levadas em conta pelo Tribunal”.

Mudanças quanto à devolutividade no CPC/2015


A respeito da devolutividade, temos consideráveis novidades trazidas pelo
CPC/2015 que precisam ser tratadas. Veja:

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 94


Segundo o Artigo 1.013, a apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da
matéria impugnada, sendo também objetos de apreciação e julgamento pelo
tribunal todas as questões suscitadas e discutidas no processo, ainda que não
tenham sido solucionadas, desde que relativas ao capítulo impugnado. E
quando o pedido ou a defesa tiver mais de um fundamento e o juiz acolher
apenas um deles, a apelação devolverá ao tribunal o conhecimento dos demais.

Qual aprimoramento está ocorrendo neste texto?

A inclusão do que ora sublinhamos para atender a entendimentos já existentes


a respeito do tema. Leia-se:

“(...) Todavia, esse efeito translativo de que se fala é sempre limitado pelos
capítulos do decisório objeto do recurso. Conforme exposição acima, devemos
mencionar julgado segundo o qual a cognoscibilidade de ofício da matéria não
alarga a dimensão horizontal do efeito devolutivo. Por exemplo, se uma
demanda com pedidos de indenização por danos materiais e morais é julgada
integralmente procedente, o réu apela apenas para impugnar a ocorrência dos
danos morais, o reconhecimento pelo tribunal de que o autor é carecer da ação
não alcança a parcela da sentença que deliberou sobre os danos materiais, na
medida em que contra ela não foi dirigida qualquer impugnação (coisa julgada
material). Neste sentido, STF-RP 123/183 (Pleno MC 112-9)”.

Logo, em consonância com o disposto, poderia ocorrer o seguinte: em


determinado processo, os 2 (dois) pedidos do (mesmo) autor foram julgados
procedentes, porém o réu ofereceu apelação apenas quanto a um dos pedidos;
em sede de julgamento pelo tribunal, entende-se, no 2º grau, que o autor seria
ilegítimo para qualquer pretensão em relação àquele réu, pertinente aos fatos
objeto da lide. Esse acórdão não atinge o pedido que não foi objeto do recurso,
exatamente por conta do referido Artigo 1013, segundo o qual a devolutividade
é limitada pelo capítulo impugnado, o que leva a uma confusa situação,

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 95


considerando-se que, influenciado pela (limitada) vontade do recorrente, o
autor “permanece” legítimo para parte da demanda e ilegítimo para outra.

Ainda segundo o Artigo 1.013, sendo, desta vez,o §3º, houve notável avanço
em relação à aplicação da chamada “causa madura”:

“Artigo 1013. (...)

§3º Se a causa estiver em condições de imediato julgamento, o tribunal deve


decidir desde logo o mérito quando:

I – reformar sentença fundada no Artigo 485 (sentença sem resolução de


mérito);
II – decretar a nulidade da sentença por não ser ela congruente com os limites
do pedido ou da causa de pedir;
III – constatar a omissão no exame de um dos pedidos, hipótese em que
poderá julgá-lo;
IV – decretar a nulidade de sentença por falta de fundamentação.

§4º Quando reformar sentença que reconheça a decadência ou a prescrição, o


tribunal, se possível, julgará o mérito, examinando as demais questões, sem
determinar o retorno do processo ao juízo de primeiro grau”.

Qual inovação se fez presente?

Ora, doutrina e jurisprudência divergiam a respeito da questão agora resolvida,


qual seja: quando se anulava determinada sentença por ter havido OMISSÃO
em relação ao objeto ou parte do objeto da ação, poderia o Tribunal,
diretamente, analisar a matéria e, certamente, ofender o duplo grau de
jurisdição?

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 96


A questão nem mesmo gira em torno de uma superproteção ao duplo grau,
mas, sim, porque sua ofensa precisaria de uma autorização legal, como se
defende em significante parcela da doutrina ou jurisprudência.

O CPC/2015 traz a autorização legal para decidir-se, pela primeira vez, já


em 2ª instância, a matéria (isto é, o pedido ou os pedidos não apreciados em
1ª instância).

Em nome da instrumentalidade e tempestividade, priorizadas nas reformas das


últimas 2 décadas, elimina-se a necessidade de retorno à instância originária,
mesmo que o duplo grau esteja sendo mitigado, inclusive para julgar, em
seguida, a improcedente do pedido.

Leia-se a propósito: “No julgamento do mérito subsequente à cassação da


sentença terminativa, é permitido ao tribunal decretar a improcedente da
demanda, sem que isso esbarre nas vedações à reformatio in peius”.

O CPC/2015 solucionou, inclusive, uma questão importante sobre a qual havia


notável discussão: tendo a 1ª instância deixado de apreciar determinado(s)
PEDIDO (objeto da ação), o Tribunal está autorizado a analisá-lo, diretamente,
após identificar o vício?

A tendência, no STJ, já vinha sendo pela resposta afirmativa, não obstante a


evidente violação ao duplo grau, naquele momento injustificável, pela absoluta
falta de autorização legal para tanto. Afinal de contas, os parágrafos do
art. 515 do CPC/73 ou qualquer outro dispositivo não traziam tal autorização.

Leia-se o julgado relativamente recente do STJ (ainda sem o CPC/2015):

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 97


“Assim, pode o tribunal conhecer diretamente dos pedidos ignorados em
primeira instância, no caso de sentença citra petita” (STJ-1ª T, Resp 1.085.925-
Min Francisco Falcao, Dj 12.3.09).

Enfim, o Artigo 1.015, III, do CPC/2015 solucionou a questão.

Vamos, agora, a alguns exemplos em que, mesmo antes do CPC/2015, já se


aplicava o que nele está (agora) estatuído, pertinente aos 2 (dois) itens acima
especificados (alíneas “a” e “b” antes citadas):

(i) A improcedência em 1ª instância pode ser substituída por prescrição,


reconhecida pela 2ª instância?

Se a sentença deu pela improcedência da ação, nada obsta a que, em


apelação, seja decretada a prescrição da pretensão, porque “é integral, em
profundidade, o efeito da apelação: não se cinge às questões efetivamente
resolvidas na instancia inferior; abrange também as que poderiam tê-lo sido”.

(ii) As nulidades absolutas e outras questões de ordem pública devem ser


conhecidas de ofício? Em que limites isso pode ocorrer?

ii. 1 - É exatamente o que se costuma denominar, na doutrina e jurisprudência


de translatividade da apelação, sempre referente ao CAPÍTULO
IMPUGNADO. Vamos aos julgados:

ii. 2 - “No tribunal de apelação, é possível reconhecer de ofício nulidade


absoluta”;

ii. 3 - No caso de nulidade absoluta do processo ou da sentença, o tribunal


deve decretá-la, mesmo de ofício; se relativa, depende de oportuno pedido da
parte;

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 98


ii. 4 - Ainda que a sentença seja omissa a respeito (RT 475/81, entre outros), o
tribunal deverá examinar todas as questões sobre as quais não se forma
preclusão ou não se formou preclusão. Poderá, por exemplo, reconhecer a
ilegitimidade passiva da parte (RTJ 92/821) ou, de modo geral, dar pela
carência de ação, ainda que a sentença tenha dado pela improcedente da
demanda. O tribunal de ofício poderá conhecer de oficio da matéria
concernente aos pressupostos processuais e às condições da ação (RSTJ
64/156 e STJ-5ª T, AI 879.865, Min. Arnaldo Esteves. DJ 22.10.07);

ii.5 - Todavia, esse efeito translativo de que se fala é sempre limitado pelos
capítulos do decisório objeto do recurso. Conforme exposição acima, devemos
mencionar julgado segundo o qual a cognoscibilidade de oficio da matéria não
alarga a dimensão horizontal do efeito devolutivo. Por exemplo, se uma
demanda com pedidos de indenização por danos materiais e morais é julgada
integralmente procedente, o réu apela apenas para impugnar a ocorrência dos
danos morais. O reconhecimento pelo tribunal de que o autor é carecer da ação
não alcança a parcela da sentença que deliberou sobre os danos materiais na
medida em que contra ela não foi dirigida qualquer impugnação (coisa julgada
material). Neste sentido, STF-RP 123/183 (Pleno MC 112-9).

ii.6 – Citamos, por fim, o Informativo nº 0465: “Em embargos à execução fiscal,
a autora (recorrente) apontou mais de um fundamento para a nulidade da
execução, mas a sentença, ao julgá-los, só se baseou em um deles para anular
a certidão de dívida ativa. Agora, no REsp, a recorrente alega que, como houve
apelação da Fazenda estadual julgada procedente, o TJ deveria ter apreciado
todos os pedidos e as questões suscitadas nos autos, ainda que não apontados
nas contrarrazões. Para o Min. Relator, não se pode exigir que todas as
matérias sejam abordadas em contrarrazões de apelação, visto existirem
determinadas situações em que há falta de interesse para a parte impugná-
las expressamente, como no caso dos autos, cujos embargos à execução
fiscal foram julgados procedentes em primeiro grau de jurisdição. Ademais, em
função do efeito translativo dos recursos, a apelação devolve obrigatoriamente

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 99


ao tribunal o conhecimento de todos os fundamentos do pedido, ainda que eles
não tenham sido deduzidos nas contrarrazões. A translação ocorre em relação
às matérias de ordem pública, bem como nas hipóteses autorizadas (por lei).
Por conta desse efeito é que, no caso, quando os embargos à execução fiscal
trouxeram mais de um fundamento para sua nulidade e o juiz só acolheu um
deles para julgá-los procedentes, a apelação interposta pela Fazenda Pública
devolveu ao tribunal a quo todos os argumentos do contribuinte formulados
desde o início do processo. Assim, ainda que aquele tribunal julgue procedente
a apelação da Fazenda Pública, não poderia deixar de apreciar também os
fundamentos do contribuinte.

Diante do exposto, a Turma deu provimento ao recurso do contribuinte para


determinar que o tribunal a quo proceda a novo julgamento da (...).
Precedentes citados: REsp 246.776-SP, DJ 26/6/2000; REsp 232.116-SP, DJ
15/10/2001, e REsp 824.430-PR, DJ 1º/2/2007. REsp 1.125.039-RS, Rel. Min.
Humberto Martins, julgado em 1º/3/2011”.

Ausência de preclusão em relação às decisões interlocutórias, em


geral, e a recorribilidade por meio da apelação
Veremos, a partir de agora, que, de fato, temos relevantes reflexões a se fazer,
sendo boa parte delas bastante positivas, inclusive.

O §1º do Artigo 1.009 apresenta importantíssima questão, dizendo que as


questões resolvidas na fase cognitiva, se a decisão a seu respeito não
comportar agravo de instrumento, não ficam cobertas pela preclusão e devem
ser suscitadas em preliminar de apelação, eventualmente interposta contra a
decisão final, ou nas contrarrazões.

Não há mais necessidade, portanto, de se apresentar agravo retido contra as


decisões que não comportem agravo de instrumento, cabendo à parte fazer
todas as suas impugnações por ocasião da apelação, tal como ocorre,
atualmente, nos Juizados Especiais (Lei nº 9.099/95).

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 100


A propósito, nem mesmo o agravo retido permanece no novo Código. Veja,
pois, o dispositivo que menciona os recursos remanescentes:

Artigo 994. São cabíveis os seguintes recursos:

I – apelação;
II – agravo de instrumento;
III – agravo interno;
IV – embargos de declaração;
V – recurso ordinário;
VI – recurso especial;
VII – recurso extraordinário;
VIII – agravo em recurso especial e extraordinário;
IX – embargos de divergência.

Certamente, essa alteração, assim como outras, dão-se em prol do


enxugamento processual em favor da tempestividade jurisdicional. Eliminando-
se os agravos retidos, diminuem-se as petições a serem apreciadas e,
consequentemente, o processo torna-se mais “linear”, com menos interrupções,
concentrando-se a apreciação das impugnações em momento único.

A toda evidência, caro profissional, o atual CPC aderiu ao chamado sistema da


irrecorribilidade em separado das decisões interlocutórias, salvo as raras
exceções previstas em lei (previstas, em especial, no Artigo 1.015 do CPC/2015,
porém, sob algumas críticas).

Didier Júnior (Preclusão e decisão interlocutória. Disponível em:


http://www.migalhas.com.br. Acesso em: 09 fev. 2015), por exemplo, defende
que o novo regime despreza a segurança jurídica e a estabilidade promovidas
pela preclusão, além de minar a autoridade do juiz de 1º grau, cujas decisões
seriam passíveis, ad finem, de reforma do tribunal.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 101


Admissibilidade do recurso de apelação e os efeitos deste recurso
Avancemos à admissibilidade, também alterada. A apelação permanece sendo
apresentada em 1ª instância; porém, o juízo, a quo, não mais fará
admissibilidade do recurso. Veja:

Artigo 1.010. A apelação, interposta por petição dirigida ao juízo de primeiro


grau, conterá:

I – os nomes e a qualificação das partes;

II – a exposição do fato e do direito;

III – as razões do pedido de reforma ou de decretação de nulidade;

IV – o pedido de nova decisão.

§1º O apelado será intimado para apresentar contrarrazões no prazo de quinze


dias.
§2º Se o apelado interpuser apelação adesiva, o juiz intimará o apelante para
apresentar contrarrazões.
§3º Após as formalidades previstas nos §§1º e 2º, os autos serão remetidos ao
tribunal pelo juiz, independentemente de juízo de admissibilidade.

Inexistência de admissibilidade
A inexistência de admissibilidade, igualmente, deve gerar maior celeridade na
medida em que reduz a apreciação e elimina um recurso, qual seja, eventual
agravo contra o não recebimento da apelação (que não mais será cabível, como
veremos em capítulo próprio).

Situação complexa, no entanto, pode advir desse novo regramento: haverá


situações de manifesta inadmissibilidade em relação às quais, a princípio, o juiz

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 102


(de 1ª instância) ficaria de mãos atadas, diante da manifesta previsão legal no
sentido da proibição do exercício de admissibilidade por ele.

Considere, por exemplo, uma apelação contra decisão interlocutória, o que,


manifestamente, é um equívoco, não obstante o que travaria a fase de
conhecimento em curso pela necessidade de remessa da matéria ao Tribunal.

Por essa razão, a crítica doutrinária, a respeito da matéria, é grande, no sentido


de que se deveria ter autorizado o juízo de admissibilidade negativo quando a
inadmissibilidade fosse cristalina.

“Particularmente, entendo que, nos casos de inadmissibilidade manifesta, como


ausência de preparo e intempestividade, poderia o legislador ter excepcionado a
regra que se comenta, evitando, assim, o processamento de recursos inúteis
que inexoravelmente, estariam fadados à inadmissibilidade pelo tribunal.”
(FLEXA, 2016, p. 737).

Também as hipóteses em que não há efeito suspensivo foram mais bem


organizadas.

As hipóteses em que não há efeito suspensivo foram mais bem organizadas.


Compare:

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 103


CPC ATUAL NOVO CPC
Art. 520. A apelação será recebida em seu Art. 1.012. A apelação terá efeito
efeito devolutivo e suspensivo. Será, no suspensivo.
entanto, recebida só no efeito devolutivo,
quando interposta de sentença que: §1º Além de outras hipóteses previstas em
(Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º. lei, começa a produzir efeitos imediatamente
10.1973) após a sua publicação a sentença que:
I – homologa divisão ou demarcação de
I - homologar a divisão ou a demarcação; terras;
(Redação dada pela Lei nº 5.925, de II – condena a pagar alimentos;
1º.10.1973)
II - condenar à prestação de alimentos; III – extingue sem resolução do mérito ou
(Redação dada pela Lei nº 5.925, de julga improcedentes os embargos do
1º.10.1973) executado;
IV – julga procedente o pedido de instituição
IV - decidir o processo cautelar; (Redação de arbitragem;
dada pela Lei nº 5.925, de 1º. 10.1973) V – confirma, concede ou revoga tutela
provisória;
V - rejeitar liminarmente embargos à VI – decreta a interdição.
execução ou julgá-los improcedentes;
(Redação dada pela Lei nº 8.950, de §2º Nos casos do §1º, o apelado poderá
13.12.1994). promover o pedido de cumprimento
VI - julgar procedente o pedido de provisório depois de publicada a sentença.
instituição de arbitragem. (Incluído pela Lei §3º O pedido de concessão de efeito
nº 9.307, de 23.9.1996). suspensivo nas hipóteses do §1º poderá
VII - confirmar a antecipação dos efeitos da ser formulado por requerimento dirigido ao:
tutela; (Incluído pela Lei nº 10.352, de I – tribunal, no período compreendido.
26.12.2001) entre a interposição da apelação
§4º Nas hipóteses do §1º, a eficácia da
e sua distribuição, ficando o relator
sentença poderá ser suspensa pelo relator se
designado para seu exame prevento para
o apelante demonstrar a probabilidade de
julgá-la;
provimento do recurso, ou, sendo relevante
II – relator, se já distribuída a apelação.
a fundamentação, houver risco de dano
grave ou difícil reparação.
PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 104
Certamente, estabeleceu-se melhor a matéria:

a) A hipóteses de efeito suspensivo continuam sendo a exceção, mas a redação


foi melhorada;
b) A hipótese do julgamento de embargos à execução foi mais bem esclarecida,
incluindo-se, também, as extinções sem resolução de mérito, já que o efeito
prático, em relação à improcedência, é o mesmo – em ambas as situações, o
embargante é sucumbente;
c) Retirou-se a menção à tutela cautelar, considerando-se que o inciso que se
referia à tutela antecipada foi ampliado para se mencionar “tutela provisória”,
isto é, com o propósito claro de se abranger ambas as tutelas de urgência.

Percebe-se, ainda, o aprimoramento do pedido de efeito suspensivo, deixando


mais objetivas as situações e formas por meio das quais ele será apresentado.
O pedido de concessão de efeito suspensivo poderá ser formulado por
requerimento dirigido ao tribunal, no período compreendido entre a
interposição da apelação e sua distribuição, ficando o relator designado para
seu exame prevento para julgá-la ou, diretamente ao relator, se já distribuída a
apelação, sendo certo que a eficácia da sentença seria suspensa pelo relator se
o apelante demonstrasse a probabilidade de provimento do recurso, ou,
sendo relevante a fundamentação, a presença de risco de dano grave ou
difícil reparação.

Atualmente, também é possível requerer este mesmo efeito suspensivo ao


Tribunal, porém a falta de clareza, muitas vezes, inviabiliza a pretensão. Se o
juiz, em 1ª instância, não recebe a apelação no efeito suspensivo, por exemplo,
obriga a parte a ter de apresentar sua pretensão por meio de Agravo de
Instrumento, o que, fatalmente, burocratiza o procedimento. O CPC/2015
simplifica a situação na medida em que o pleito, sempre, já será apresentado
mesmo diretamente ao Tribunal.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 105


Referências
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Processual Civil, 8 ed. v.3. Salvador: Jus Podium, 2010, p. 19.
CAMARA, Alexandre Freitas. O novo processo civil brasileiro. São Paulo: Atlas,
2015.
DIDIER JUNIOR, Fred. Curso de Direito Processual Civil, 17 ed. v.1.
Salvador: Jus Podium, 2015.
DIDIER JUNIOR, Fred, BRAGA, Paula Sarmo, OLIVEIRA, Rafael Alexandria.
Curso de Direito Processual Civil, 11 ed. v.2. Salvador: Jus Podium, 2016.
DIDIER JUNIOR, Fred, CUNHA, Leonardo Carneiro. Curso de Direito
Processual Civil, 13 ed. v.3. Salvador: Jus Podium, 2016.
DONIZETTI, Elpidio. Curso didático de direito processual civil. 19 ed. São
Paulo: Atlas, 2016.
FLEXA, Alexandre, MACEDO, Daniel, BASTOS, Fabrício. Novo Código de
Processo Civil – temas inéditos, mudanças e supressões.2 ed. Salvador:
Jus Podium, 2016.
MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao Código de Processo Civil.
11. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2003. v. 5. p. 233.
SARLET, Ingo Wolfgang. Curso de direito constitucional. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2014.
SOKAL, Guilherme Jales. A impugnação das decisões interlocutórias no
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direito em expectativa. Rio de Janeiro: Forense, 2011.
PINHO. Humberto Dalla Bernadina de Pinho. Direito processual civil
contemporâneo – teoria geral do processo. 6 ed. São Paulo: Saraiva,
2016.
THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. 56 ed.
Vol. I. Rio de Janeiro: Forense, 2015.
THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. 50 ed.
Vol. II. Rio de Janeiro: Forense, 2016.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 106


THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil – teoria
geral do direito processual civil e o processo de conhecimento. 52. ed.
Rio de Janeiro: Forense, 2011. v. 1.
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Súmulas e inadmissibilidade da apelação.
In: FREIRA, Rodrigo da Cunha Lima (Coord.). Salvador: JusPodivm, 2007.
WAMBIER, Luiz Rodrigues; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Breves
comentários à 2ª fase da Reforma do Código de Processo Civil. 2. ed.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002.
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Revista de processo - REPRO. Ano 36 –
192. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011.

Exercícios de fixação
Questão 1

Em determinado processo, foi proferida sentença omissa, por se ter deixado de


julgar um dos pedidos apresentados pelo Autor, o qual interpôs recurso de
apelação. Logo:

a) O Tribunal, de forma alguma, após conhecer o vício, poderia ele próprio


suprir a omissão julgado, diretamente o pedido não apreciado.

b) A tendência dos tribunais já se fazia neste sentido e o novo CPC


determina a possibilidade do próprio Tribunal suprir a omissão, desde
que o processo esteja maduro para tanto.

c) Independente da maturidade do processo, o Tribunal estaria autorizado a


julgar o pedido, em razão da economia processual que geraria este
julgamento.

d) Na realidade, o CPC de 1973 já era expresso ao admitir o julgamento em


questão, nos dispositivos que tratam da devolutividade, em sua
profundidade.

Questão 2

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 107


Analise o caso abaixo para, em seguida, optar pela alternativa correta:

Uma demanda com pedidos de indenização por danos materiais e morais é


julgada integralmente procedente; o réu apela apenas para impugnar a
ocorrência dos danos morais, requerendo reforma para julgar improcedente; o
tribunal reconhece que o autor é carecer da ação.

Logo:

a) Caberá ao Tribunal extinguir todo o processo sem resolução de mérito,


ou seja, em relação a ambos os pedidos (danos morais e materiais), por
se tratar de matéria de ordem pública.

b) A carência de ação não alcança a parcela da sentença que deliberou


sobre os danos materiais, na medida em que contra ela não foi dirigida
qualquer impugnação, em relação ao que, inclusive, já houve coisa
julgada material.

c) O Tribunal não poderia ter admitido o recurso do réu, por não ter sido
total.

d) O Tribunal não poderia ter reconhecido carência de ação, por não ter
sido tal matéria objeto de impugnação.

Questão 3

É efeito do recurso ou possível efeito do recurso de apelação, <u>exceto</u>:

a) Impedir o trânsito em julgado da decisão recorrida, tratando-se de efeito


comum também a todos os recursos admissíveis.

b) Devolutivo, que consiste em transferir para órgão diverso daquele que


proferiu a decisão recorrida, o conhecimento da matéria impugnada.

c) Interruptivo, ou seja, interrompe o prazo para os recursos que lhe são


posteriores.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 108


d) Suspensivo, que consiste em não permitir que a decisão recorrida
produza efeitos antes dantes do julgamento do recurso.

Questão 4

Foi movida ação que versava a respeito de direito de família, porém distribuída
a juízo de competência cível (que não abrangia direito de família), na qual foi
proferida sentença de procedência do pedido, contra a qual o réu apelou.
Obrigatoriamente:

a) O Tribunal deverá manter a decisão de procedência, caso a decisão


esteja correta, independente da incompetência absoluta narrada.

b) O Tribunal deverá anular o processo e determinar a prática de todos os


atos decisórios novamente, no juízo competente.

c) O Tribunal deverá reformar a sentença, julgando improcedente o pedido


do autor, diante do que foi narrado.

d) Pelo novo processo civil que se instaurou no direito brasileiro, questões


eminentes processuais como competência, em nome da
instrumentalidade, não podem mais ser fundamento para anulação de
todo um processo.

Questão 5

A respeito da apelação no novo CPC, é possível afirmar, exceto:

a) As questões resolvidas na fase cognitiva do processo, quando a decisão a


seu respeito não comportar agravo de instrumento, não ficarão cobertas
pela preclusão e devem ser suscitadas em preliminar de apelação,
eventualmente interposta contra a decisão final, ou nas contrarrazões.

b) Independente das alterações previstas no recurso de apelação,


permanecerá cabendo, excepcionalmente, recurso de agravo retido.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 109


c) A apelação permanecerá sendo apresentada em 1ª instancia, porém o
juízo a quo não mais fará admissibilidade do recurso.

d) O recurso adesivo permanecerá cabendo, por parte do apelado, no caso


de sucumbência recíproca.

Questão 6

A apelação terá efeito suspensivo, <u>exceto</u>:

a) Contra sentença que julga pedido de indenização por danos morais e


materiais.

b) Em relação à parte da sentença que se refere à tutela provisória.

c) Contra a sentença que rejeita interdição.

d) Contra a sentença que julga improcedente o pedido de instituição de


arbitragem.

Questão 7

Se a causa estiver em condições de imediato julgamento, o tribunal, ao julgar a


apelação, deve decidir desde logo o mérito quando:

I - Reformar sentença sem resolução de mérito;

II - Decretar a nulidade da sentença por não ser ela congruente com os limites
do pedido ou da causa de pedir;

III - Constatar a omissão no exame de um dos pedidos, hipótese em que


poderá julgá-lo.

a) Todas estão corretas.

b) Todas estão incorretas.

c) Somente a I está correta.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 110


d) Somente a II está correta.

Questão 8

Em determinado processo, foi proferida sentença reconhecendo prescrição,


contra a qual o Autor recorreu. Em sede de apelação, o Tribunal entendeu
inexistir prescrição. Logo, considerando-se o que dispõe o novo CPC:

a) O Tribunal deverá anular a sentença, determinando o retorno aos autos


à 1ª instância.

b) O Tribunal, em situações como essas, sempre está autorizado a julgar,


desde logo, a lide.

c) Quando reformar sentença que reconheça a decadência ou a prescrição,


o tribunal, se possível, julgará o mérito, examinando as demais questões.

d) Não é cabível recurso contra sentença que reconhece prescrição.

Aula 4
Exercícios de fixação
Questão 1 - B
Justificativa: Aplicação do Art. 1.013, CPC: A apelação devolverá ao tribunal o
conhecimento da matéria impugnada. § 3o Se o processo estiver em condições
de imediato julgamento, o tribunal deve decidir desde logo o mérito quando: III
- constatar a omissão no exame de um dos pedidos, hipótese em que poderá
julgá-lo.

Questão 2 - B
Justificativa: Aplicação do Art. 1.013, CPC: A apelação devolverá ao tribunal o
conhecimento da matéria impugnada. § 1o Serão, porém, objeto de apreciação

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 111


e julgamento pelo tribunal todas as questões suscitadas e discutidas no
processo, ainda que não tenham sido solucionadas, desde que relativas ao
capítulo impugnado.

Questão 3 - C
Justificativa: Efeito interruptivo ocorre, tão somente, nos embargos de
declaração.

Questão 4 - B
Justificativa: Aplicação do Art. 64, CPC. A incompetência, absoluta ou relativa,
será alegada como questão preliminar de contestação. § 1o A incompetência
absoluta pode ser alegada em qualquer tempo e grau de jurisdição e
deve ser declarada de ofício.

Questão 5 - B
Justificativa: O recurso de agravo retido foi extirpado da ordem processual civil
brasileira. Veja, por exemplo, art. 994, CPC.

Questão 6 - B
Justificativa: Aplicação do Art. 1.012, CPC. A apelação terá efeito suspensivo. §
1o Além de outras hipóteses previstas em lei, começa a produzir efeitos
imediatamente após a sua publicação a sentença que: V - confirma, concede ou
revoga tutela provisória.

Questão 7 - A
Justificativa: Aplicação do art. 1013, § 3o , CPC: Se o processo estiver em
condições de imediato julgamento, o tribunal deve decidir desde logo o mérito
quando:I - reformar sentença fundada no art. 485; II - decretar a nulidade da
sentença por não ser ela congruente com os limites do pedido ou da causa de
pedir; III - constatar a omissão no exame de um dos pedidos, hipótese em que
poderá julgá-lo; IV - decretar a nulidade de sentença por falta de
fundamentação.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 112


Questão 8 - C
Justificativa: Aplicação do art. 1013, § 4o CPC: Quando reformar sentença que
reconheça a decadência ou a prescrição, o tribunal, se possível, julgará o
mérito, examinando as demais questões, sem determinar o retorno do processo
ao juízo de primeiro grau.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 113


Introdução
Chegamos a esta 5ª aula para tratarmos da recorribilidade das decisões
interlocutórias de 1ª instância.

Os recursos de agravo foram significativamente atingidos pelas reformas


porque nosso Código passou, desde 1998 até recentemente, pelas reformas dos
últimos anos.

O novo CPC somente endossou as referidas alterações, eliminando o agravo


retido e objetivando ainda mais o cabimento excepcional do agravo de
instrumento.

Veremos, portanto, como se encontra a referida matéria no CPC/2015.

Objetivo:
1. Conhecer de forma aprofundada a recorribilidade das decisões interlocutórias
proferidas em 1ª instância, desde a década de 1990 até o novo CPC;
2. Analisar o Código de Processo Civil/2015 quanto ao cabimento e
procedimento do recurso de agravo de instrumento.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 114


Conteúdo
Considerações históricas iniciais
Como sabemos, desde 2005, por meio da Lei nº 11.187, instaurou-se
definitivamente o sistema fortalecido pelo novo CPC, segundo o qual o recurso
de agravo de instrumento somente é apresentado em situações excepcionais. A
tendência, de fato, é concentrar a recorribilidade por ocasião da sentença,
eliminando as possibilidades de recurso ao longo das fases processuais (de
conhecimento, por exemplo) a fim de se obter maior economia e
instrumentalidade processual.

Iniciou-se fazendo, na década de 1990, uma divisão entre os agravos,


estabelecendo-se 2 (duas) formas procedimentais (de apresentação), quais
sejam, nas modalidades retida e por instrumento. Isso porque, até então, a
recorribilidade era ampla, podendo as partes, livremente, oferecer recursos
contra decisões interlocutórias, as quais chegavam, sem restrições (exceto a
apreciação dos requisitos de admissibilidade), ao Tribunal.

José Gomes da Silva, magistrado aposentado e mestre em direito processual


civil pela PUC, por ocasião das referidas reformas (por exemplo, da Lei nº
9.756/98), assim manifestava-se a respeito da matéria:

“Setores progressistas da doutrina brasileira, inspirados em imprimir maior


celeridade e agilidade ao procedimento recursal e garantir a efetividade do
resultado do processo, deram início a uma série de minirreformas do Código,
advindo daí a Lei 9.139, de 30.11.1995.

(...) o agravo de instrumento passou a ser apresentado diretamente ao Tribunal


(Artigo 524) – este um dos grandes propósitos da reforma (...) A reforma, além
de aperfeiçoar a disciplina do agravo, desdobrando-se em duas espécies – o de
instrumento e o retido (Artigo 522) – distinguindo-os tão-somente pela forma
da interposição, tramitação, processo e julgamento (...)

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 115


O novo sistema procurou não criar obstáculos à faculdade de recorrer”.

A última frase reflete o que se tinha até as reformas que se iniciaram na década
de 1990, isto é: liberdade quase total para recursos contra decisões
interlocutórias. Essa liberdade, porém, veio se alterando nos últimos anos. Em
primeiro lugar, antes das referidas reformas, era possível interpor o que hoje
denominamos de agravo de instrumento; em seguida, fez-se a divisão em prol
da maior efetividade, porém também para tentar reduzir a quantidade de
agravos de instrumento, incentivando a utilização da modalidade “retida”.

Mudanças advindas da reforma no sistema


Em 2002 e 2005, o sistema foi transformado para tornar o que outrora reinava
de forma única (isto é, o agravo de instrumento) em exceção, permitindo-se,
em regra, não mais ele, e, sim, o agravo na modalidade retida.

Caminhamos, então, ao longo desses anos para o sistema presente, por


exemplo, nos juizados especiais cíveis e bastante próximo do que há na Justiça
do Trabalho, buscando-se, praticamente, a irrecorribilidade das decisões
interlocutórias.

A vontade de reforma, quando tratamos de recursos contra decisões


interlocutórias, como se vê, é permanente. Lê-se o que segue, por exemplo, na
obra de Wambier, quando falava da reforma de 2005:

“Poderia ter optado o legislador da Reforma, por ter restringido o campo do


cabimento do recurso de agravo a algumas interlocutórias, já que se comentava
não ser conveniente que toda e qualquer interlocutória fosse recorrível como
era no regime anterior e continua sendo no sistema atual”.

De fato, no CPC/73, permitiu-se a ampla recorribilidade, ainda que, em regra,


seja por meio do agravo retido. No novo CPC, contudo, adota-se, exatamente, o
que acima se disse, isto é, “restrição do cabimento de recurso de agravo a

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 116


algumas interlocutórias”, uma vez apenas caberá o agravo de instrumento e de
forma bastante limitada.

No CPC/73, repita-se, recursos contra decisões interlocutórias permaneceram


sem (maiores) restrições, já que, quando não coubesse o agravo de
instrumento, caberia o retido (Artigo 522 do aludido estatuto de 1973):

“Das decisões interlocutórias caberá agravo, no prazo de 10 (dez) dias, na


forma retida, salvo quando se tratar de decisão suscetível de causar à parte
lesão grave e de difícil reparação, bem como nos casos de inadmissão da
apelação e nos relativos aos efeitos em que a apelação é recebida, quando será
admitida a sua interposição por instrumento”.

Cabia, em regra, então, apenas o recurso que ficará retido até a apelação, se
houver, enquanto a impugnação de resultado possivelmente imediato (de
instrumento) apenas será cabível excepcionalmente. Seja em um ou outro caso,
somente atos decisórios, a princípio, são recorríveis. Há atos não decisórios,
porém, que podem gerar graves danos à parte, que a tornam recorrível pelas
circunstâncias especiais que a cercam. Veja-se, por exemplo, a recente decisão
abaixo:

“O pronunciamento judicial que impede a retirada dos autos de cartório é


impugnável mediante a interposição de agravo de instrumento perante o
Tribunal local, insubstituível pelo writ (STJ-RT 846/220, 1ª T, RMS 18.692 e STJ
2ª T, RMS 39-200, Min Mauro Campbell, Dj 28.2.13)”.

Conhecemos, pois, no sistema anterior (CPC/73), 2 (duas) modalidades ou


formas de interposição de agravo, não significando, porém, 2 (dois) recursos
distintos, e sim 1 (um) recurso apenas (apresentado por caminhos diferentes):
na modalidade retido (aquele que é apresentado, em regra) e na modalidade
de instrumento (apresentado em casos excepcionais).

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 117


Neste sentido, vemos o julgado abaixo, oriundo do STJ:

“Não se conhece, no ordenamento recursal civil brasileiro, espécies distintas de


agravo; tem-se, isto sim, diversas formas ou modalidades quanto à sua
interposição. Ao interpor o primeiro recurso de agravo, na forma retida,
correta é a conclusão de que se operou preclusão consumativa relativamente à
recorribilidade da decisão interlocutória que se pretendia modificar. Portanto,
mesmo ocorrendo a desistência, esta deve ser entendida como desistência ao
recurso em si mesmo, não quanto à sua forma. Daí por que a impossibilidade
de conhecimento do segundo agravo, agora de instrumento. (STJ-4ª T. Resp
866.606, Min Quaglia Barbosa, DJU 30.4.07)”.

Cabimento dos recursos de agravo contra decisões de 1ª instância


(no CPC/1973)
Contra decisões interlocutórias, em geral, portanto, cabia, segundo o sistema
do CPC/73, o agravo retido, o que significa dizer que era apresentado,
imediatamente (§3º do Artigo 523, CPC/73) ou em 10 dias (Artigo 522 do
CPC/73), independentemente de custas, ao juízo ao quo e fica retido até o final
da fase processual (de conhecimento, por exemplo), cabendo ao agravante
requerer que o tribunal dele conheça, preliminarmente, por ocasião do
julgamento da apelação.

Apenas não caberia agravo retido, mas, sim, agravo de instrumento se houver
expressa autorização legal. Por isso, acima dissemos que “em geral” o recurso
cabível contra decisão interlocutória era o agravo retido.

Por exemplo, cabia agravo retido nas seguintes situações:

(i) Decisão de tutela antecipada, por não ter sido demonstrado dano de difícil
reparação (STJ-1ª T, RMS 31.045, Min Luiz Fux, DJU16.8.10);

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 118


(ii) A rejeição fundamentada das preliminares apresentadas em contestação não
acarreta, por si só, lesão grave e de difícil reparação a justificar o agravo na
forma de instrumento. A mera possibilidade de anulação de atos
processuais como decorrência lógica de eventual provimento, no
futuro, do agravo retiro é inerente à prolação de sentença de mérito
na pendência de agravo – seja ele retido, seja de instrumento – recebido no
efeito meramente devolutivo. Esse risco de perda de atos processuais foi
assumido pelo legislador como melhor ao conjunto do sistema
processual do que a necessidade de suspensão do processo quando
houvesse impugnação de decisão interlocutória. Assim, o mero risco, em
tese, de perda de atos processuais não desautoriza a retenção do agravo
determinada pelo Artigo 527, II, do CPC, sendo, ao contrário, inerente à
reforma processual (STJ-4ª T, RMS, 34.432, Min. Isabel Gallotti, DJ 22.3.12).

(iii) A prova pericial, se viesse a se mostrar necessária, poderá ser novamente


produzida (Artigo 437, CPC). É de se ver que o mero risco, em tese, de perda
dos atos processuais não desautoriza a retenção do agravo determinada pelo
Artigo 527, II, do CPC (STJ-4ª T, RMS 34.418, Min. Luis Felipe, DJ 12.8.13).

Cabia agravo retido, logo, contra decisões relativas a provas (como inversão de
ônus da prova, por exemplo), relativas às preliminares do Artigo 301 do CPC/73
e tantas outras que não se enquadram em nenhuma das excepcionalidades
previstas em lei, como as presentes do Artigo 522 do CPC/73, 2ª parte. E
quanto ao agravo de instrumento, quando era cabível? Somente nas hipóteses
expressamente previstas em lei, tal como as que abaixo são mencionadas:

(i) Quando interposto contra decisão que delibera sobre antecipação de tutela
(STJ-1ª T, Resp 948.554, Min. Jose Delgado, DJU 4.10.07) e que decreta,
liminarmente, indisponibilidade de bens (STJ 1ª T, RMS 23.536, Min. Teori
Zavascki, DJU 16.4.08);

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 119


(ii) Quando interposto contra decisão proferida em sede de execução (STJ-4ª T,
RMS 30.269, Min. Raul Araujo, j. 11.6.13);

(iii) Rejeição de exceção de pré-executividade (STJ-2ª T, Resp 882.811, Min


Eliana Calmon, DJU 30.6.08).

Como se observará no item a seguir, o CPC/2015 tornou as matérias recorríveis


por agravo de instrumento muito mais objetivas, transformando, inclusive,
algumas contra as quais somente caberia agravo retido em decisões
impugnáveis, agora, por agravo de instrumento. Por isso, inclusive, alguns
exemplos foram citados anteriormente, justamente para se proceder às
necessárias comparações:

• Os 3 (três) exemplos anteriormente citados (impugnáveis por agravo de


instrumento sob vigência do CPC/73) foram expressamente citados pelo Artigo
1.015 do CPC/2015;

• Decisões como as que invertam o ônus da prova ou digam respeito à rejeição


de prejudiciais relativas ao mérito (como prescrição e decadência) não eram
agraváveis por instrumento e, com o CPC/2015, vieram expressamente
previstas no acima citado Artigo 1.015.

Entendamos melhor no próximo item.

Aspectos preliminares em relação à recorribilidade contra


decisões de 1ª instância no CPC/2015
As alterações em matéria recursal, portanto, não pararam de avançar. O tema
dos recursos no processo civil é sempre cercado de atualidade, salienta
Guilherme Sokal. Prossegue o processualista (Procurador do Estado do Rio de
Janeiro) salientando que qualquer movimento reformador que se instaure com
um mínimo de expressão traz, sob sua bandeira, ao menos uma proposta
dirigida especificamente ao sistema recursal, na maioria das vezes para

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 120


restringir-lhe o campo de atuação, suprimir alguma de suas espécies ou
acelerar a tramitação do respectivo procedimento.

Recursos interferem diretamente em três grandes valores, bastante caros ao


processo: correção de conteúdo, uniformidade de tratamento e celeridade. Por
um lado, a impugnação de decisões pela via dos recursos serve de meio para
que erros sejam escoimados na medida em que se ascenda na hierarquia
judiciária buscando a revisão do julgado. A impugnação de decisões por meio
de recursos promove, por outro lado, a uniformidade de tratamento entre
os jurisdicionados. Quando se aumenta a apreciação de uma questão aos
órgãos superiores, a consequência inevitável que daí decorre é que a solução
ditada para o caso seja estendida a conflitos similares, sempre que a mesma
matéria seja suscitada.

Ao lado desses valores, é possível também a conexão entre os recursos e a


celeridade. Se a finalidade do processo reside em atribuir a quem tem razão
tudo aquilo e exatamente aquilo a que faz jus à luz do direito material, todo o
tempo que medeia entre provocação inicial do interessado e a solução final
representará, quando não estritamente necessário, um momento de não
realização dos fins do processo. Por essa linha, o processo deveria ser
formatado de modo a solucionar, o quanto antes, a situação de conflito ou de
incerteza que tomou lugar entre os interessados.

Pensando nisso, ou seja, o equilíbrio entre essas três forças (ou valores), mas
com o devido destaque à celeridade-tempestividade, aos recursos, como temos
percebido, destinou-se boa parte das reformas. E, entre esses recursos, os
agravos, sem dúvida alguma, foram aqueles que, principalmente, foram
alterados.

Em uma sumária comparação dos textos abaixo (de 1973 e de 2015),


observamos que se coroou o sistema para o qual não tínhamos dúvidas que
estávamos caminhando: a irrecorribilidade das decisões interlocutórias como

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 121


regra e a possibilidade excepcional de apresentação de agravo de instrumento.
Após o quadro abaixo, prosseguiremos.

CPC ATUAL NOVO CPC

Art. 522. Das decisões interlocutórias Art. 1.015. Cabe agravo de


caberá agravo, no prazo de 10 (dez) instrumento contra as decisões
dias, na forma retida, salvo quando se interlocutórias que versarem sobre:
tratar de decisão suscetível de causar
I - tutelas provisórias; II - o mérito da
à parte lesão grave e de difícil
causa;
reparação, bem como nos casos de
inadmissão da apelação e nos III - rejeição da alegação de

relativos aos efeitos em que a convenção de arbitragem;


apelação é recebida, quando será IV - o incidente de desconsideração
admitida a sua interposição por da personalidade jurídica;
instrumento. (Redação dada pela Lei
V - rejeição do pedido de gratuidade
nº 11.187, de 2005).
da justiça ou acolhimento do pedido
Parágrafo único. O agravo retido de sua revogação;
independe de preparo. (Redação dada
VI - a exibição ou posse de
pela Lei nº 9.139, de 30.11.1995);
documento ou coisa;
Art. 523. Na modalidade de agravo
VII - exclusão de litisconsorte;
retido o agravante requererá que o
tribunal dele conheça, VIII - rejeição do pedido de limitação
preliminarmente, por ocasião do do litisconsórcio;
julgamento da apelação. (Redação IX - admissão ou inadmissão de
dada pela Lei nº 9.139, de intervenção de terceiros;
30.11.1995);
X – concessão, modificação ou
§ 1o Não se conhecerá do agravo se a revogação do efeito suspensivo aos
parte não requerer expressamente, embargos à execução;
nas razões ou na resposta da
XI – redistribuição do ônus da
apelação, sua apreciação pelo
prova nos termos do art. 373, p. 1º;

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 122


Tribunal. (Incluído pela Lei nº 9.139, XII – (vetado)
de 30.11.1995);
XIII – outros casos expressamente

§ 2o Interposto o agravo, e ouvido o referidos em lei.


agravado no prazo de 10 (dez) dias, o Parágrafo único. Também caberá
juiz poderá reformar sua decisão. agravo de instrumento contra
(Redação dada pela Lei nº 10.352, de decisões interlocutórias proferidas na
26.12.2001). fase de liquidação de sentença,
cumprimento de sentença, no
§ 3o Das decisões interlocutórias
processo de execução e no processo
proferidas na audiência de instrução e
de inventário.
julgamento caberá agravo na forma
retida, devendo ser interposto oral e Art. 1.016. O agravo de instrumento
imediatamente, bem como constar do será dirigido diretamente ao tribunal
respectivo termo (art. 457), nele competente, por meio de petição com
expostas sucintamente as razões do os seguintes requisitos:
agravante. (Redação dada pela Lei I – os nomes das partes;
nº 11.187, de 2005).
II - a exposição do fato e do direito;
Art. 524. O agravo de instrumento
III – as razões do pedido de reforma
será dirigido diretamente ao tribunal
ou de invalidação da decisão e o
competente, através de petição com
próprio pedido; IV – o nome e o
os seguintes requisitos: (Redação
endereço completo dos advogados
dada pela Lei nº 9.139, de
constantes do processo.
30.11.1995).
IV – o nome e o endereço
I - a exposição do fato e do direito;
completo dos advogados constantes
(Redação dada pela Lei nº 9.139, de
do processo.
30.11.1995).
Art. 1.017. A petição de agravo de
II - as razões do pedido de reforma instrumento será instruída:
da decisão; (Redação dada pela Lei nº
I – obrigatoriamente, com cópias da
9.139, de 30.11.1995) petição inicial, da contestação, da

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 123


III - o nome e o endereço completo petição que ensejou a decisão
dos advogados, constantes do agravada, da própria decisão
processo.(Redação dada pela Lei nº agravada, da certidão da respectiva
intimação ou outro documento oficial
9.139, de 30.11.1995)
que comprove a tempestividade e
Art. 525. A petição de agravo de
das procurações outorgadas aos
instrumento será instruída: (Redação
advogados do agravante e do
dada pela Lei nº 9.139, de
agravado;
30.11.1995).
II - declaração de inexistência de
I - obrigatoriamente, com cópias da
qualquer dos documentos do inciso I,
decisão agravada, da certidão da
feita pelo advogado do agravante, sob
respectiva intimação e das
sua responsabilidade pessoal;
procurações outorgadas aos
III – facultativamente, com outras
advogados do agravante e do
peças que o agravante reputar úteis.
agravado; (Redação dada pela Lei nº
§ 1º Acompanhará a petição o
9.139, de 30.11.1995)
comprovante do pagamento das
II - facultativamente, com outras
respectivas custas e do porte de
peças que o agravante entender úteis.
retorno, quando devidos, conforme
(Redação dada pela Lei nº 9.139, de
tabela publicada pelos tribunais.
30.11.1995)
§ 2º No prazo do recurso, o agravo
será interposto por:
§ 1o Acompanhará a petição o
comprovante do pagamento das I – protocolo realizado diretamente no
respectivas custas e do porte de tribunal competente para julgá-lo;
retorno, quando devidos, conforme
II – protocolo realizado na própria
tabela que será publicada pelos
comarca, seção ou subseção
tribunais. (Incluído pela Lei nº 9.139,
judiciárias;
de 30.11.1995).
III – postagem, sob registro com
o
§ 2 No prazo do recurso, a petição aviso de recebimento;
será protocolada no tribunal, ou
IV – transmissão de dados tipo fac-

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 124


postada no correio sob registro com símile nos termos da lei;
aviso de recebimento, ou, ainda,
V – por outra forma prevista na lei.
interposta por outra forma prevista na
lei local. (Incluído pela Lei nº 9.139, § 3º Na falta da cópia de qualquer
de 30.11.1995). peça ou no caso de algum outro vício
que comprometa a admissibilidade
Art. 526. O agravante, no prazo de 3
do agravo de instrumento, deve o
(três) dias, requererá juntada, aos
relator aplicar o disposto no art. 945,
autos do processo de cópia da petição
parágrafo único.
do agravo de instrumento e do
comprovante de interposição, § 4º Se o recurso for interposto por
sua
assim como a relação dos documentos sistema de transmissão de dados tipo
que instruíram o recurso. (Redação fac- símile ou similar, as peças
dada pela Lei nº 9.139, de devem ser juntadas no momento de
(30.11.1995). protocolo da petição original.

Parágrafo único. O não cumprimento § 5º Sendo eletrônicos os autos do


do disposto neste artigo, desde que processo, dispensam-se as peças
arguido e provado pelo agravado, referidas nos incisos I e II do caput,
importa inadmissibilidade do agravo. facultando-se ao agravante anexar
(Incluído pela Lei nº 10.352, de outros documentos que entender úteis
26.12.2001). para a compreensão da controvérsia.

Art. 527. Recebido o agravo de


instrumento no tribunal, e distribuído Art. 1.018. O agravante poderá
incontinenti, o relator: (Redação dada requerer a juntada, aos autos do
pela Lei nº 10.352, de 26.12.2001). processo, de cópia da petição do

I - negar-lhe-áseguimento, agravo de instrumento, do

liminarmente, nos casos do art. 557; comprovante de sua interposição e da


(Redação dada pela Lei nº 10.352, de relação dos documentos que

26.12.2001). instruíram o recurso.

§ 1º Se o juiz comunicar que


reformou inteiramente a decisão, o

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 125


II - converterá o agravo de relator considerará prejudicado o
instrumento em agravo retido, salvo agravo de instrumento.
quando se tratar de decisão suscetível
§ 2º Não sendo eletrônicos os
de causar à parte lesão grave e de
autos, o agravante tomará a
difícil reparação, bem como nos casos
providência prevista no caput, no
de inadmissão da apelação e nos
prazo de três dias a contar da
relativos aos efeitos em que a
interposição do agravo de
apelação é recebida, mandando
instrumento. O descumprimento dessa
remeter os autos ao juiz da causa;
exigência em tal hipótese, desde que
(Redação dada pela Lei nº 11.187, de
arguido e provado pelo agravado,
2005).
importa inadmissibilidade do agravo
III - poderá atribuir efeito suspensivo de instrumento.
ao recurso (art. 558), ou deferir, em
antecipação de tutela, total ou
parcialmente, a pretensão recursal, Art. 1.019. Recebido o agravo de
comunicando ao juiz sua decisão; instrumento no tribunal e distribuído
(Redação dada pela Lei nº 10.352, de imediatamente, se não for o caso de
aplicação do art. 932, incisos III e IV,
(26.12.2001)
o relator, no prazo de cinco dias:
IV - poderá requisitar informações ao
I – poderá atribuir efeito suspensivo
juiz da causa, que as prestará no
ao recurso ou deferir, em antecipação
prazo de 10 (dez) dias; (Redação
de tutela, total ou parcialmente, a
dada pela Lei nº 10.352, de
pretensão recursal, comunicando ao
26.12.2001).
juiz sua decisão;
V - mandará intimar o agravado, na
II – ordenará a intimação do agravado
mesma oportunidade, por ofício
pessoalmente e por carta com aviso
dirigido ao seu advogado, sob registro
de recebimento, quando não tiver
e com aviso de recebimento, para que
procurador constituído, ou, pelo
responda no prazo de 10 (dez) dias
Diário da Justiça ou por carta
(art. 525, § 2o), facultando-lhe dirigida ao seu advogado, com aviso
juntar a documentação que entender de recebimento, para que responda

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 126


conveniente, sendo que, nas no prazo de quinze dias, facultando-
comarcas sede de tribunal e naquelas lhe juntar a documentação que
em que o expediente forense for entender necessária ao julgamento do
divulgado no diário oficial, a intimação recurso;
far-se-á mediante publicação no órgão
III – determinará a intimação do
oficial; (Redação dada pela Lei nº
Ministério
11.187, de 2005)
Público, preferencialmente por meio
VI - ultimadas as providências
eletrônico, quando for caso de sua
referidas nos incisos III a V do caput
intervenção, para que se manifeste no
deste artigo, mandará ouvir o
prazo de quinze dias.
Ministério Público, se for o caso, para
que se pronuncie no prazo de 10 Art. 1.020. O relator solicitará dia para
(dez) dias. (Redação dada pela Lei nº julgamento em prazo não superior a
um mês da intimação do agravado
11.187, de 2005)

Parágrafo único. A decisão liminar,


proferida nos casos dos incisos II e III
do caput deste artigo, somente é
passível de reforma no momento do
julgamento do agravo, salvo se o
próprio relator a reconsiderar.
(Redação dada pela Lei nº 11.187, de

2005).

Art. 528. Em prazo não superior a 30


(trinta) dias da intimação do
agravado, o relator pedirá dia para
julgamento. (Redação dada pela Lei
nº 9.139, de 30.11.1995)

Art. 529. Se o juiz comunicar que


reformou inteiramente a decisão, o

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 127


relator considerará prejudicado o
agravo.

Em breve análise do texto, percebemos, repita-se, a completa eliminação do


agravo retido e a criação de um rol praticamente taxativo para os agravos de
instrumento, por razões nas quais já vamos nos aprofundar. Mas devemos
dizer, desde já, que o caminho para tanto vinha sendo traçado.

Reformas legislativas
As reformas legislativas dos últimos anos alteraram profundamente o perfil do
agravo, buscando este fechamento, agora visto no novo CPC: impossibilidade
de se recorrer contra as decisões interlocutórias, em geral, salvo situações
excepcionais bastante objetivas, a propósito.

Considerando-se o modelo originário, estabelecido em 1973 (CPC), antes


tramitava (o agravo de instrumento) perante o juízo até passar a ser interposto
diretamente ao tribunal (Artigo 524 do CPC/73, na redação da Lei nº 9.139/95).
Nesta mesma ocasião, passou-se a permitir que se desse ao agravo de
instrumento efeito suspensivo, eliminando-se a prática da utilização constante
do mandado de segurança para este fim.

As partes, livremente, poderiam interpor, segundo seus próprios interesses


(sem restrições), agravo de instrumento ou retido. Considerando-se que, após
as Leis nº 9.139/95 e 9.756/98, o modelo do agravo de instrumento facilitou a
recorribilidade, permitindo a obtenção mas rápida de uma decisão do tribunal a
respeito da matéria objeto do recurso; tendo em vista, ainda, a ampliação das
situações em que se passou a permitir ao juiz proferir decisões fundadas em
cognição sumária, naturalmente o número de agravos de instrumento
interpostos viria a aumentar consideravelmente.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 128


Justamente o que gerou a sequência de limitações até se chegar ao Artigo 522
(CPC/73), substituído pelo Artigo 1.015 do CPC/2015.

Enfim, assim caminhamos até chegar ao CPC/2015 – de limitação em limitação,


chegamos ao modelo em que, praticamente, encerra a recorribilidade das
decisões interlocutórias. Ressaltamos, então, derradeiramente a este item, o
que diz o artigo abaixo do novo CPC:

“Art. 1.013. A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria


impugnada.

§1º Serão, porém, objeto de apreciação e julgamento pelo tribunal


todas as questões suscitadas e discutidas no processo, ainda que não
tenham sido solucionadas, desde que relativas ao capítulo
impugnado”.

Como já esclarecemos por ocasião da aula desde curso pertinente à apelação,


não há mais preclusão em relação às decisões interlocutórias contra as quais
não caiba agravo de instrumento, podendo a parte impugná-las por ocasião da
apelação. Por conseguinte, não haverá mais a necessidade do agravo retido,
justamente em razão de este recurso estar eliminado do novo CPC.

Não se trata, portanto, de mais uma limitação dos agravos?

Chegamos a esse sistema em que cabe, tão somente, o recurso de agravo de


instrumento (não mais o retido, portanto) e, ainda assim, em situações
bastante excepcionais.

Na sequência, trataremos desse “novo agravo de instrumento”.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 129


Cabimento do agravo de instrumento no novo CPC e outros
aspectos
Do cabimento
Segundo o Artigo 1.015 do NCPC, além de outras remotas situações
(igualmente expressas em lei), cabe agravo de instrumento contra as decisões
interlocutórias abaixo especificadas, agrupadas segundo naturezas próximas, a
fim de melhor compreender as razões do legislador:

Decisões
(i) Tutelas provisórias e a exibição ou posse de documento ou coisa e decisões
interlocutórias proferidas na fase de liquidação de sentença, cumprimento de
sentença, no processo de execução e no processo de inventário.

Natureza
Decisões das quais, em regra, se pode resultar dano irreparável ou de difícil
reparação, ou, dizendo de outra forma, são decisões cujas matérias fossem
recorridas apenas no final, em sede de apelação, que poderiam já restar
prejudicadas ou mesmo inúteis, considerando-se as especificidades do direito
material e/ou processual, como tutelas antecipada e cautelar.

Decisões
(ii) Mérito da causa, rejeição da alegação de convenção de arbitragem, exclusão
de litisconsorte e rejeição do pedido de limitação do litisconsórcio.

Natureza
Decisões relativas ao próprio objeto da ação, as quais, a princípio, seriam
sentença e somente não o são porque não finalizam a fase de conhecimento
em que está o processo. A relevância do agravo dá-se pela proteção ao próprio
acesso à justiça e devido processo legal, pela importância do tema.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 130


Decisões
(iii) Decisões relativas à gratuidade de justiça, incidente de desconsideração da
personalidade jurídica, admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros.

Natureza
Todas são decisões relativas a incidentes ou questões incidentais instauradas no
curso do processo, as quais foram alçadas a uma maior relevância em razão
das matérias de que tratam.

Vemos, de pronto, o ímpeto de limitar a recorribilidade.

Recomendação nº 5 no âmbito da União Europeia


Não se trata de exclusividade do direito brasileiro. No âmbito da União
Europeia, por exemplo, o Comitê de Ministros do Conselho da Europa editou a
Recomendação nº 5, de 1995, que teve por objeto o aprimoramento dos
sistemas recursais no processo civil. A Recomendação estimula a restrição aos
recursos.

Seu Artigo 3º, por exemplo, dispõe sobre as circunstâncias em que poderia ser
afastado o direito ao recurso ou, ao menos, disciplinado de forma mitigada a
fim de preservar os tribunais de segunda instância para o exame de questões
mais relevantes.

No direito português, por exemplo, houve alterações por meio do Decreto-Lei


nº 303/07, voltado, principalmente, aos recursos contra decisões
interlocutórias. Em Portugal, inclusive, o sistema e as alterações foram bastante
semelhantes aos do Brasil.

Anteriormente, cabia recurso de agravo de modo subsidiário, quando não fosse


o caso de interposição de apelação contra as decisões de primeiro grau. Havia a
distinção entre dois regimes de agravo: o de subida imediata e o de subida

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 131


diferida, cuja análise ficava adiada para qualquer recurso posterior que fosse
levado à apreciação do Tribunal.

O Decreto-Lei nº 303/07 alterou profundamente esse sistema. Foi suprimido,


por força dele, a espécie de agravo, passando a caber apenas o recurso de
apelação contra as decisões proferidas em primeiro grau. Nem todas as
decisões que anteriormente seriam impugnáveis por agravo, porém, passaram a
se sujeitar à apelação.

Lei Processual Portuguesa


Na realidade, a reforma processual estendeu o regime da apelação apenas para
aqueles casos em que, antes, fosse cabível o agravo de subida imediata,
reservando-se para as demais decisões interlocutórias o sistema da
irrecorribilidade em separado. A lei processual portuguesa estabelece que
caberá apelação de onze hipóteses específicas de decisões interlocutórias, entre
outras situações bastante limitadas. Não é semelhante ao que teremos aqui,
com esse novo CPC?

Observamos, pois, a prevalência do sistema da irrecorribilidade das decisões


interlocutórias em separado, salvo as situações acima especificadas (no
quadro), cujas hipóteses serão agraváveis pelas razões que ora se renovam:

Decisões das quais, em regra, pode-se resultar dano irreparável ou de difícil


reparação, como a tutela de urgência. Decisões cujas matérias não poderiam
ser objeto de recurso apenas ao final, em sede de apelação.

Decisões relativas ao próprio objeto da ação, as quais, a princípio, seriam


sentença e somente não o são porque não finalizam a fase de conhecimento
em que está o processo. Como, por exemplo, reconhecimento de carência de
ação apenas quanto a um dos pedidos ou das partes. A relevância do agravo
dá-se pela proteção ao próprio acesso à justiça e devido processo legal, pela
importância do tema.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 132


Decisões relativas a incidentes ou questões incidentais específicas, que foram
alçadas a uma maior relevância em razão das matérias de que tratam.

Aspectos procedimentais relativos ao agravo de instrumento no


novo CPC
Segundo o Artigo 1.016 do novo CPC, o agravo de instrumento, como já ocorre
hoje, será dirigido diretamente ao tribunal competente por meio de petição com
os seguintes requisitos:

Os nomes das partes;

A exposição do fato e do direito;

As razões do pedido de reforma ou de invalidação da decisão e o próprio


pedido;

O nome e o endereço completo dos advogados constantes do processo.

Igualmente como temos no sistema atual, estabelece o Artigo 1.017 (do


CPC/2015) algumas juntadas obrigatórias à petição de agravo de instrumento,
ampliando, porém o rol:

I – obrigatoriamente, com cópias da petição inicial, da contestação, da petição


que ensejou a decisão agravada, da própria decisão agravada, da certidão da
respectiva intimação ou outro documento oficial que comprove a
tempestividade e das procurações outorgadas aos advogados do agravante e do
agravado;

II – declaração de inexistência de qualquer dos documentos do inciso I, feita


pelo advogado do agravante, sob sua responsabilidade pessoal;

III – facultativamente, com outras peças que o agravante reputar úteis.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 133


§ 1º Acompanhará a petição o comprovante do pagamento das respectivas
custas e do porte de retorno, quando devidos, conforme tabela publicada pelos
tribunais.
§ 2º No prazo do recurso, o agravo será interposto por:

I – protocolo realizado diretamente no tribunal competente para julgá-lo;

II – protocolo realizado na própria comarca, seção ou subseção judiciárias; III –


postagem, sob registro com aviso de recebimento;

IV – transmissão de dados tipo fac-símile nos termos da lei; V – por outra


forma prevista na lei.

§ 3º Na falta da cópia de qualquer peça ou no caso de algum outro vício que


comprometa a admissibilidade do agravo de instrumento, deve o relator aplicar
o disposto no art. 945, parágrafo único.

§ 4º Se o recurso for interposto por sistema de transmissão de dados tipo fac-


símile ou similar, as peças devem ser juntadas no momento de protocolo
da petição original.

§ 5º Sendo eletrônicos os autos do processo, dispensam-se as peças referidas


nos incisos I e II do caput, facultando-se ao agravante anexar outros
documentos que entender úteis para a compreensão da controvérsia.

No §5º (acima) e inciso I, ambos do artigo em questão, temos relevantes


novidades: este, por estabelecer a obrigatoriedade de juntada de peças
essenciais a qualquer lide (inicial e contestação), que não são mencionadas no
CPC/73; aquele (§5º), por alertar para a obviedade de que, em se tratando de
processo eletrônico, essas peças não são necessárias, já que o Tribunal possui
acesso irrestrito a elas, as quais, como se sabe, já estão digitalizadas e
disponíveis a “todos”.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 134


CPC/2015
Interposto o agravo de instrumento, sabemos que, segundo o Artigo 527 do
CPC/73, o relator tem poderes de julgar ou não receber o recurso, por exemplo.
Tem como referência, atualmente, além da ordem jurídica (evidentemente), a
chamada “jurisprudência dominante”.

O CPC/2015 torna as referências, como já se disse neste curso, mais objetivas,


valendo-se de instrumentos como: incidente de resolução de demandas
repetitivas e recursos repetitivos, ou seja, passa a se valer, muito mais, dos
denominados “casos-pilotos”.

Vemos, portanto, no Artigo 1.019 do NCPC que, recebido o agravo de


instrumento no tribunal e distribuído imediatamente, o relator, se for o caso do
Artigo 932, na forma dele agirá.

Art. 932. Incumbe ao relator: (...)

IV – negar provimento a recurso que for contrário a:

a) súmula do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça


ou do próprio tribunal;

b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior


Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivos;

c) entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas


ou de assunção de competência;

V – depois de facultada a apresentação de contrarrazões, dar provimento ao


recurso se a decisão recorrida for contrária a:

a) súmula do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça


ou do próprio tribunal;

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 135


b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior
Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivos;

c) entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas


ou de assunção de competência.

Os parâmetros, como acima frisado, são bem mais objetivos do que a


“jurisprudência dominante”.

Segundo o mesmo Artigo 1.019, caso não julgue o agravo na forma acima
indicada (Artigo 932), assim agirá:

I – poderá atribuir efeito suspensivo ao recurso ou deferir, em antecipação de


tutela, total ou parcialmente, a pretensão recursal, comunicando ao juiz sua
decisão;

II – ordenará a intimação do agravado pessoalmente e por carta com aviso de


recebimento, quando não tiver procurador constituído, ou, pelo Diário da
Justiça ou por carta dirigida ao seu advogado, com aviso de recebimento,
p ara que responda no prazo de quinze dias, facultando-lhe juntar a
documentação que entender necessária ao julgamento do recurso;

III – determinará a intimação do Ministério Público, preferencialmente por meio


eletrônico, quando for caso de sua intervenção, para que se manifeste no prazo
de quinze dias.

Essas hipóteses são, praticamente, as mesmas já existentes no art. 527 do


CPC/73.

Referências
DIDIER JUNIOR, Fred e CUNHA, Leonardo José Carneiro, Curso de Direito
Processual Civil, 8 ed. v.3. Salvador: Jus Podium, 2010, p. 19.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 136


CAMARA, Alexandre Freitas. O novo processo civil brasileiro. São Paulo: Atlas,
2015.
DIDIER JUNIOR, Fred. Curso de Direito Processual Civil, 17 ed. v.1.
Salvador: Jus Podium, 2015.
DIDIER JUNIOR, Fred, BRAGA, Paula Sarmo, OLIVEIRA, Rafael Alexandria.
Curso de Direito Processual Civil, 11 ed. v.2. Salvador: Jus Podium, 2016.
DIDIER JUNIOR, Fred, CUNHA, Leonardo Carneiro. Curso de Direito
Processual Civil, 13 ed. v.3. Salvador: Jus Podium, 2016.
DONIZETTI, Elpidio. Curso didático de direito processual civil. 19 ed. São
Paulo: Atlas, 2016.
FLEXA, Alexandre, MACEDO, Daniel, BASTOS, Fabrício. Novo Código de
Processo Civil – temas inéditos, mudanças e supressões.2 ed. Salvador:
Jus Podium, 2016.
MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao Código de Processo Civil.
11. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2003. v. 5. p. 233.
SARLET, Ingo Wolfgang. Curso de direito constitucional. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2014.
SOKAL, Guilherme Jales. A impugnação das decisões interlocutórias no
processo civil. In: FUX, Luiz (Coord.). O novo processo civil brasileiro –
direito em expectativa. Rio de Janeiro: Forense, 2011.
PINHO. Humberto Dalla Bernadina de Pinho. Direito processual civil
contemporâneo – teoria geral do processo. 6 ed. São Paulo: Saraiva,
2016.
THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. 56 ed.
Vol. I. Rio de Janeiro: Forense, 2015.
THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. 50 ed.
Vol. II. Rio de Janeiro: Forense, 2016.
THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil – teoria
geral do direito processual civil e o processo de conhecimento. 52. ed.
Rio de Janeiro: Forense, 2011. v. 1.
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Súmulas e inadmissibilidade da apelação.
In: FREIRA, Rodrigo da Cunha Lima (Coord.). Salvador: JusPodivm, 2007.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 137


WAMBIER, Luiz Rodrigues; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Breves
comentários à 2ª fase da Reforma do Código de Processo Civil. 2. ed.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002.
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Revista de processo - REPRO. Ano 36 –
192. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011.

Exercícios de fixação
Questão 1

Contra decisão que indefere requerimento de produção de prova, ao longo da


fase de conhecimento, caberia segundo o novo CPC:

a) Somente agravo retido.

b) Somente agravo de instrumento.

c) A critério do agravante, agravo retido ou de instrumento.

d) Não caberia recurso, exceto, ao final, a impugnação em sede de


apelação.

Questão 2

Contra decisão que, em 1ª instância, recebeu recurso de apelação no efeito


errado, caberia segundo o novo CPC:

a) Somente agravo retido.

b) Somente agravo de instrumento.

c) Não há juízo admissibilidade de apelação em 1ª instância, no novo CPC.

d) A critério do agravante, agravo retido ou de instrumento.

Questão 3

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 138


Segundo o novo CPC, recebido o agravo de instrumento no tribunal e
distribuído imediatamente, se não for o caso de aplicação do art. 932, incisos
III e IV, o relator, no prazo de cinco dias:

I – poderá atribuir efeito suspensivo ao recurso ou deferir, em antecipação de


tutela, total ou parcialmente, a pretensão recursal, comunicando ao juiz sua
decisão;

II – ordenará a intimação do agravado pessoalmente e por carta com aviso de


recebimento, quando não tiver procurador constituído, ou, pelo Diário da
Justiça ou por carta dirigida ao seu advogado, com aviso de recebimento, para
que responda no prazo de quinze dias, facultando-lhe juntar a documentação
que entender necessária ao julgamento do recurso;

III – determinará a intimação do Ministério Público, preferencialmente por meio


eletrônico, quando for caso de sua intervenção, para que se manifeste no prazo
de quinze dias.

a) Todas estão corretas.

b) Todas estão incorretas.

c) Somente a I está correta.

d) Somente a II está correta.

Questão 4

Contra decisão que, em 1ª instância, deferiu tutela de urgência, segundo o


novo CPC:

a) Cabe somente agravo retido.

b) Cabe somente agravo de instrumento.

c) Cabe, a critério do agravante, agravo retido ou de instrumento.

d) Não cabe recurso, exceto, ao final, a impugnação em sede de apelação.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 139


Questão 5

Segundo o novo CPC, contra decisão que, em 1ª instância, rejeitou arguição de


decadência:

a) Cabe somente agravo retido.

b) Cabe somente agravo de instrumento.

c) Cabe, a critério do agravante, agravo retido ou de instrumento.

d) Não cabe recurso, exceto, ao final, a impugnação em sede de apelação.

Questão 6

Contra decisão que, em 1ª instância, rejeitou arguição de decadência, foi


interposto agravo de instrumento. Segundo o novo CPC, o que o
Desembargador-relator deverá fazer?

a) Dar provimento ao agravo se, de fato, a decadência existia, sobretudo


porque o prosseguimento do feito, dessa forma, seria uma inutilidade
processual.

b) Negar provimento ao agravo porque, contra esta espécie de decisão,


somente caberia agravo retido.

c) Inadmitir o agravo convertendo-o em retido porque, contra esta espécie


de decisão, seria o recurso adequado a apresentar.

d) Simplesmente, não receber o recurso, monocraticamente.

Questão 7

Opte pela alternativa correta segundo as reformas presentes no novo CPC e


alterações semelhantes pelo mundo, a respeito dos recursos, <u>exceto</u>:

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 140


a) No âmbito da União Europeia, o Comitê de Ministros do Conselho da
Europa editou a Recomendação n. 5, de 1995, que teve por objeto o
aprimoramento dos sistemas recursais no processo civil.

b) O art. 3º da Recomendação n.5 do Comitê de Ministros do Conselho da


Europeia dispõe sobre as circunstâncias em que poderia ser afastado o
direito ao recurso, ou ao menos disciplinado de forma mitigada, a fim de
preservar os tribunais de segunda instância para o exame de questões
mais relevantes. .

c) No direito português, tivemos alterações por meio do Decreto-Lei n.


303/07, voltado aos recursos contra decisões interlocutórias.
Anteriormente, cabia recurso de agravo de modo subsidiário, quando não
fosse o caso de interposição de apelação contra as decisões de primeiro
grau. Havia a distinção entre dois regimes de agravo: o de subida
imediata e o de subida diferida, cuja análise ficava adiada para qualquer
recurso posterior que fosse levado à apreciação do Tribunal. .

d) No direito inglês, o sistema de recursos contra decisões interlocutórias


sofreu alterações semelhantes às brasileiras nos últimos anos.

Questão 8

Quanto ao agravo de instrumento, não é obrigatória cópia de:

I - Petição inicial e da contestação;

II- Petição que ensejou a decisão agravada e da própria decisão agravada;

a) I e II não são obrigatórias.

b) Somente a I é obrigatória.

c) Somente a II é obrigatória.

d) I e II são obrigatórias.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 141


Questão 9

Igualmente como temos no sistema atual, estabelece o art. 1.017 (do NCPC)
algumas juntadas obrigatórias à petição de agravo de instrumento. Não é
obrigatória cópia de:

I - Petição inicial e da contestação;

II- Petição que ensejou a decisão agravada e da própria decisão agravada;

III - Outras peças que o desembargador, segundo sua discricionariedade,


reputar úteis.

a) Todas estão corretas.

b) Somente a I está correta.

c) Somente a II está correta.

d) Somente a III está correta.

Aula 5
Exercícios de fixação
Questão 1 - D
Justificativa: Aplicação do Art. 1.009, CPC: Da sentença cabe apelação.
§ 1o As questões resolvidas na fase de conhecimento, se a decisão a seu
respeito não comportar agravo de instrumento, não são cobertas pela preclusão
e devem ser suscitadas em preliminar de apelação, eventualmente interposta
contra a decisão final, ou nas contrarrazões.

Questão 2 - C
Justificativa: Aplicação do art. 1010, § 3o CPC: Após as formalidades previstas
nos §§ 1o e 2o, os autos serão remetidos ao tribunal pelo juiz,
independentemente de juízo de admissibilidade.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 142


Questão 3 - A
Justificativa: Aplicação do Art. 1.019, CPC: Recebido o agravo de instrumento
no tribunal e distribuído imediatamente, se não for o caso de aplicação do art.
932, incisos III e IV, o relator, no prazo de 5 (cinco) dias:
I - poderá atribuir efeito suspensivo ao recurso ou deferir, em antecipação de
tutela, total ou parcialmente, a pretensão recursal, comunicando ao juiz sua
decisão;
II - ordenará a intimação do agravado pessoalmente, por carta com aviso de
recebimento, quando não tiver procurador constituído, ou pelo Diário da Justiça
ou por carta com aviso de recebimento dirigida ao seu advogado, para que
responda no prazo de 15 (quinze) dias, facultando-lhe juntar a documentação
que entender necessária ao julgamento do recurso;
III - determinará a intimação do Ministério Público, preferencialmente por meio
eletrônico, quando for o caso de sua intervenção, para que se manifeste no
prazo de 15 (quinze) dias.

Questão 4 - B
Justificativa: Aplicação do art. 1015, I, CPC.

Questão 5 - B
Justificativa: Art. 1015, II, CPC – decisão relativa ao mérito do processo.
Decadência é matéria de mérito (art. 485, CPC).

Questão 6 - D
Questão 7 - D
Justificativa: Art. 1.017. A petição de agravo de instrumento será instruída: I -
obrigatoriamente, com cópias da petição inicial, da contestação, da petição que
ensejou a decisão agravada, da própria decisão agravada, da certidão da
respectiva intimação ou outro documento oficial que comprove a
tempestividade e das procurações outorgadas aos advogados do agravante e
do agravado.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 143


Questão 8 - D
Justificativa: Aplicação do Art. 1.017, CPC. A petição de agravo de instrumento
será instruída: I - obrigatoriamente, com cópias da petição inicial, da
contestação, da petição que ensejou a decisão agravada, da própria decisão
agravada, da certidão da respectiva intimação ou outro documento oficial que
comprove a tempestividade e das procurações outorgadas aos advogados do
agravante e do agravado.

Questão 9 - D

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 144


Introdução
Meu caro profissional, pós-graduando, nesta aula, conheceremos melhor o
Recurso de Embargos de Declaração, previsto, como se sabe, nos arts. 1022 e
seguintes do CPC/2015.

Trata-se de relevante instrumento, considerando-se seu potencial de correção


de decisões (eventualmente, até atos não decisórios) com significativa
economia processual, por ser o próprio órgão prolator da decisão quem o julga
– o que, evidentemente, não lhe retira a natureza de recurso.

Trataremos, em especial, (i) do cabimento do recurso e importantes questões


que o acompanham, como, por exemplo, os efeitos infringentes que,
excepcionalmente, pode lhe ser conferido, bem como (ii) do efeito interruptivo
em relação a outros recursos e a ilícita porém comum prática de utilizá-lo com
fins procrastinatórios.

Objetivo:
1. O necessário aprofundamento nas questões relativas ao cabimento do
recurso, incluindo aspectos históricos relevantes à construção da ordem jurídica
atualmente aplicável;
2. Também é essencial a este Curso tratarmos do efeito interruptivo em relação
a outros recursos e a ilícita prática de utilização dos embargos com fins
procrastinatórios.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 145


Conteúdo
Cabimento do recurso
Segundo o art. 1022 do CPC/2015, cabem embargos de declaração com os
seguintes propósitos:

I - esclarecer obscuridade ou eliminar contradição;


II - suprir omissão de ponto ou questão sobre o qual devia se pronunciar o juiz
de ofício ou a requerimento;
III - corrigir erro material.

Podemos conceituá-lo como o recurso destinado a pedir ao juiz ou tribunal


prolator da decisão que afaste obscuridade, supra omissão ou elimine
contradição existente no julgado, ou mesmo, considerando-se a redação data
pelo CPC/2015, que se corrija erro material.

Trata-se de um recurso que, já o CPC de 1939, em seus arts. 808, V e 862 o


considerava como tal, estabelecendo o cabimento, assim como hoje, caso de
obscuridade, contradição ou omissão, direcionado ao próprio juízo que prolatou
a decisão impugnada. Questionava-se, de fato, sua natureza recursal, por
exemplo, porque “nas mais importantes legislações estrangeiras, os remédios
análogos” aos embargos de declaração, ficam fora do elenco dos recursos.

Atenção

Ao longo das últimas décadas, este instrumento foi sofrendo


modificações. O Código/73, anteriormente à Lei 8950/94,
quando ainda tratava os embargos, em parte, nos arts. 464 e
465 do CPC/73 agia de forma não muito adequada, já que
bifurcava a disciplina do instituto: parte no Título referente a
Recursos e a outra, na parte de Sentença e Coisa Julgada,
dando impressa de que se havia considerado como recurso

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 146


apenas os embargos de declaração contra acórdão, o que não se
pode admitir, evidentemente.

Atualmente, porém, como se vê, sua natureza recursal resta


clara, pela própria definição legal (presente o instrumento, por
exemplo, no rol do art. 994 do CPC/15). A propósito, trata-se
mesmo de questão de opção do legislador como frisa BARBOSA
MOREIRA.

Curiosidade
Por exemplo, na Alemanha, se código (ZPO) o prevê nos §§ 320 e 321.

Enquanto na Argentina, seu Código de Processo Civil y Comercial, regulamente


este recurso no Artigo 166, 2ª alínea, 2º.

Na Espanha, temos, por sua vez, a chamada Ley de Ejuiciamiento Civil, em seu
Artigo 214.

Enquanto, na França, temos o Code de procédure civile, cujos Artigos 461 e


463 tratam do tema.

Citemos, por fim, a Itália em cujo Código (Códice di procedura civile), em seu
Artigo 287, observamos o regulamento dos embargos.

Não se trata de um instrumento de criação exclusiva brasileira. Veja:

Conceito de cabimento
Temos, como visto inicialmente, a possibilidade de se opor o recurso de
embargos de declaração, com um ou mais dos seguintes propósitos:

• esclarecer obscuridade ou eliminar contradição;

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 147


• suprir omissão de ponto ou questão sobre o qual devia se pronunciar o juiz de
ofício ou a requerimento;
• corrigir erro material.

Naturalmente, a existência do vício relaciona-se ao MÉRITO e não ao


cabimento. basta ao recorrente ALEGAR os vícios nele presentes, independente
de, no mérito, eles, efetivamente, existirem, para que o instrumento seja
efetivamente recebido. Se os fundamentos dos embargos não forem acolhidos,
os embargos já terão sido, ainda assim, recebidos, mesmo que não sejam
acolhidos.

Portanto, os embargos serão recebidos, dentre outros requisitos (como a


tempestividade) se um dos vícios de OBSCURIDADE, CONTRADIÇÃO ou
OMISSÃO for suscitado e serão acolhidos se, de fato, for entendido que eles
existiam.

Caro aluno, temos de imediato, uma reflexão a fazer:

Sim, estes vícios estariam em que atos processuais?

Todos ou apenas na SENTENÇA ou ACÓRDÃO, como dizia o CPC/73? Entenda


melhor na sequência.

Embargos
Segundo entendimento amplamente majoritário (ainda sob a vigência do
CPC/73) em doutrina e jurisprudência, além de sentença e acórdão, o recurso
de Embargos vinha sendo entendido como cabível contra:

Decisão interlocutória;

Decisões monocráticas em sede de Tribunais;


Despachos , mesmo denominados, por lei, de irrecorríveis.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 148


BARBOSA MOREIRA, por exemplo, ratifica a defesa de que qualquer decisão
judicial comporta embargos declaratórios, porque é inconcebível que fiquem
sem remédio a obscuridade, contradição ou a omissão existente no respectivo
pronunciando. Não tem a mínima relevante ter sido a decisão proferida por juiz
de 1º grau ou tribunal superior, em processo de conhecimento, de execução ou
cautelar; nem importa que a decisão seja terminativa, final ou interlocutória.

Atenção

Dito isso, devemos especificar os fundamentos que levam a


parte/advogado apresentar o recurso em estudo.

Não se tem dúvida de que um ato processual do juiz (decisório,


em especial), deva ser CLARO, ou seja, SEM CONTRADIÇÕES e
SEM OBSCURIDADES, bem como deva ser COMPLETO, isto é,
SEM OMISSÃO. Bem afirmava o art. 280 do Código ab-rogado
que a sentença deveria ser clara e precisa. Ainda que lá não
estejam mais estas palavras, exatamente essas caractarísticas
permanecem.

Obscuridade, omissão ou contradição


Houve, em normatizações anteriores, menção a outros fundamentos como
ambiguidade (Códigos estaduais Baiano e Mineiro) e dúvida (redação original do
art. 535, I, CPC/73, em que se mencionava dúvida, além da obscuridade e da
contradição). A Comissão Revisora do anteprojeto ao CPC/73 sugeriu a
eliminação da palavra (dúvida), que dele constava e assim permaneceu. São
equívocos atualmente superados, já que ambos os vícios encontram-se
abrangidos pelos fundamentos atualmente existentes.

O Artigo 1.022 do Novo CPC mantém os mesmos vícios em questão,


obscuridade, contradição e omissão, além de frisar um outro, qual seja, erro

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 149


material, o qual, na realidade, também já estava no CPC/73, no Artigo 463.
Quanto a isso, pois, tivemos apenas uma maior organização, trazendo o “erro
material” para os fundamentos dos embargos, expressamente.

Dentre os fundamentos, certamente a omissão é aquele que dá ensejo às


maiores discussões. Os demais podem ser mais facilmente conceituados. A
obscuridade será caracterizada sempre que não houver, objetivamente, a
clareza suficiente ao entendimento do homem médio. Um texto cuja redação
esteja truncada ou qualquer outro fator que o torne de interpretação duvidosa
para boa parte das pessoas que o leiam.

Esse vício abrangeria, também, a contradição, no entanto, por pura precaução


e em uma atitude comum do legislador brasileiro que exercita repetitivamente o
pleonasmo, ela (contradição) foi destacada como um vício a parte. Ora, a
contradição, certamente, explicita também uma obscuridade, mas, pelas razões
acima, teve seu destaque tanto no CPC de 1973 quanto no de 2015.

Contradição conceito
E o que significa a contradição, então?

Textos com sentidos opostos em uma mesma decisão, como uma sentença
cuja fundamentação estabeleça uma afirmativa desmentida mais adiante pela
conclusão presente no dispositivo.

Quanto a isso, são comuns equívocos por entenderem, por exemplo, que seria
contradição uma decisão que afirme que determinado artigo dispõe
determinada assertiva, a qual, porém, está sendo interpretada
equivocadamente pelo prolator da decisão.

Ou ainda declarar que uma testemunha teria afirmado determinado fato que,
realmente, não afirmou. Essas não são contradições passíveis de embargos de
declaração, ainda que, comumente, os advogados se valham dele.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 150


A contradição pertinente aos embargos, porém, é a interna, ou seja, é aquela
decorrente de expressões existentes SOMENTE na própria decisão e não
comparando-a com elementos externos (ou seja, documentos, depoimentos,
normas que não façam parte dela).

Entre os fundamentos (seja do CPC atual ou do que se projeta), certamente a


omissão é aquele que dá ensejo às maiores discussões. Os demais podem ser
mais facilmente conceituados. A obscuridade será caracterizada sempre que
não houver, objetivamente, a clareza suficiente ao entendimento do homem
médio. Por exemplo, um texto cuja redação esteja truncada ou qualquer outro
fator que o torne de interpretação duvidosa para boa parte das pessoas que o
leiam.

Esse vício abrangeria, também, a contradição, no entanto, por pura precaução


e em uma atitude comum do legislador brasileiro que exercita repetitivamente o
pleonasmo, ela (contradição) foi destacada como um vício à parte. Ora, a
contradição, certamente, explicita também uma obscuridade, mas, pelas razões
acima, teve seu destaque no Artigo 535 do CPC.

Omissão - conceito
Por fim, vamos à omissão. Será que, de fato, o órgão judicial, para expressar a
sua convicção, não precisa aduzir comentários sobre todos os argumentos
levantados pelas partes? Sua fundamentação pode ser sucinta, pronunciando-se
acerca do motivo que, por si só, achou suficiente para a composição do litígio?

É uma assertiva comum a centenas de julgados a todo o momento em nosso


país. É preciso cuidado, porém, no enfrentamento dessa questão.

O exame exauriente de um aspecto da causa que dê sustento ao dispositivo


nem sempre será suficiente para a completeza da motivação. Afinal, podem
existir outros aspectos influentes na solução da controvérsia.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 151


Por isso, toda vez que o julgador houver deixado de enfrentar
argumentos automaticamente suficientes para o acolhimento da
pretensão deduzida em juízo, ele deverá apreciá-los quando
provocado por meio de embargos de declaração.

Tal apreciação ganha ainda mais relevo quando se tratar de argumentos


apresentados pela vencida no julgamento.

Fundamento
Melhor, portanto, considerarmos o que se encontra no julgado abaixo:

“O Tribunal não está obrigado a responder questionário das partes. Entretanto,


deve examinar questões oportunamente suscitadas, e que, se acolhidas,
poderiam levar o julgamento a um resultado diverso do ocorrido.” (STJ-2ª T,
Resp. 696.755, Min Eliana Calmon, DJU 24.4.06).

A possibilidade do fundamento suscitado pela parte influenciar no resultado


final (mesmo que não venha a ser acolhido) é, logo, um dos grandes elementos
essenciais a ensejar a sua manifestação ou não por parte do órgão prolator da
decisão.

Efeito interruptivo dos embargos e embargos protelatórios


Como sabemos, segundo o art. 1.026 do CPC/15, os embargos de declaração
interrompem o prazo para a interposição de outros recursos, por qualquer das
partes.

E, consoante o parágrafo 2º do mesmo artigo, quando manifestamente


protelatórios os embargos, o juiz ou o tribunal, declarando que o são,
condenará o embargante a pagar ao embargado multa não excedente de 2%
(dois por cento) sobre o valor da causa.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 152


Na reiteração de embargos protelatórios, a multa é elevada a até 10% (dez por
cento), ficando condicionada à interposição de qualquer outro recurso ao
depósito do valor respectivo.

O efeito em questão (interruptivo) significa que, apresentados os embargos de


declaração, o prazo do eventual outro recurso que também poderia ter sido
apresentado contra esta decisão fica interrompido até a ciência formal (por
exemplo: publicação no Diário Oficial) da decisão que julgar os embargos, ou
seja, o prazo deste (outro) recurso (que poderia ser, por exemplo, uma
apelação) teria seu cômputo iniciado “do zero” (o prazo de 15 dias, por
exemplo, contaria por inteiro a partir da referida ciência formal).

Relação causa-efeito
Existe íntima relação entre este efeito interruptivo e o ímpeto procrastinatório
de alguns embargos, especificamente relação causa-efeito entre eles, isto é, o
“poder” de interromper prazos para outros recursos gera uma quantidade
relevante de embargos meramente protelatórios, justamente para, tão
somente, atrasar, tornar mais longo o processo em que estão sendo (esses
embargos) apresentados.

As mais altas instâncias desse país não se colocam à margem da necessidade


de aplicação das sanções previstas, a fim de evitar esses embargos
protelatórios.

Os embargos de declaração
Tratemos ainda de uma questão absolutamente importante. Os embargos
geram a interrupção independente de seu acolhimento, ainda que considerados
protelatórios, como abaixo se lê:

“Os embargos de declaração rejeitados pela inexistência da obscuridade,


contradição ou omissão, na decisão embargada, interrompem o prazo para
outros recursos.”

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 153


RSTJ 182/303, mesmo sendo o segundo embargos, ainda que considerados
protelatórios (Resp 334.972, Min Aldir Passarinho Jr., DJU 15.4.02).

Atenção

O embargante precisa ter a confiança de que, independente do


resultado, seu prazo para o próximo recurso encontra-se
interrompido, sob pena de ficar com receio de apresentá-lo, o
que, fatalmente, comprometeria a utilidade desse importante
instrumento, qual seja, o recurso de embargos de declaração.

Praticamente, temos apenas uma causa de não recebimento de


embargos que geram a NÃO INTERRUPÇÃO para o próximo
recurso, segundo clássico entendimento doutrinário e
jurisprudencial: a intempestividade, como se vê abaixo em
julgado da Corte maior:

Exceto se não for conhecido por intempestivo (STF-1ª T, AI


588.190-Min Ricardo Lewandowski, j. 3.4.07).

Apresentação dos embargos de declaração


Judiciário
A apresentação dos embargos de declaração de forma intempestiva não pode,
de fato, ter o condão de interromper o prazo para os demais recursos, sob pena
de fomentar o abuso do direito de recorrer sem o preenchimento de condições
mínimas para tanto, gerado (o abuso) por erro grosseiro, má-fé ou mesmo o
ímpeto procrastinatório de uma parte (e ou advogado) desesperado por atrasar,
por qualquer mesmo que seja, o processo.

Segundo o Artigo 1.039


Antes de encerrar esta aula, devemos chamar a atenção para um efeito de
relevância fundamental: o efeito suspensivo de que se pode revestir os
embargos, eventualmente.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 154


CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL
Segundo o Artigo 1.026 do NCPC, os embargos de declaração não possuem
efeito suspensivo, mas, eventualmente, podem ter:

diz seu § 1º que a eficácia da decisão monocrática ou colegiada poderá ser


suspensa pelo respectivo juiz ou relator se demonstrada a probabilidade de
provimento do recurso, ou, sendo relevante a fundamentação, houver risco de
dano grave ou de difícil reparação.

Encerramento

Enfim, pela chamada “relevância do direito” ou “perigo de dano irreparável”,


velhos conhecidos do direito brasileiro e do direito comparado, é possível que
se dê efeito suspensivo aos embargos de declaração.

Encerramento
Enfim, pela chamada “relevância do direito” ou “perigo de dano irreparável”,
velhos conhecidos do direito brasileiro e do direito comparado, é possível que
se dê efeito suspensivo aos embargos de declaração.

Referências
DIDIER JUNIOR, Fred e CUNHA, Leonardo José Carneiro, Curso de Direito
Processual Civil, 8 ed. v.3. Salvador: Jus Podium, 2010, p. 19.
CAMARA, Alexandre Freitas. O novo processo civil brasileiro. São Paulo: Atlas,
2015.
DIDIER JUNIOR, Fred. Curso de Direito Processual Civil, 17 ed. v.1.
Salvador: Jus Podium, 2015.
DIDIER JUNIOR, Fred, BRAGA, Paula Sarmo, OLIVEIRA, Rafael Alexandria.
Curso de Direito Processual Civil, 11 ed. v.2. Salvador: Jus Podium, 2016.
DIDIER JUNIOR, Fred, CUNHA, Leonardo Carneiro. Curso de Direito
Processual Civil, 13 ed. v.3. Salvador: Jus Podium, 2016.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 155


DONIZETTI, Elpidio. Curso didático de direito processual civil. 19 ed. São
Paulo: Atlas, 2016.
FLEXA, Alexandre, MACEDO, Daniel, BASTOS, Fabrício. Novo Código de
Processo Civil – temas inéditos, mudanças e supressões.2 ed. Salvador:
Jus Podium, 2016.
MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao Código de Processo Civil.
11. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2003. v. 5. p. 233.
SARLET, Ingo Wolfgang. Curso de direito constitucional. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2014.
SOKAL, Guilherme Jales. A impugnação das decisões interlocutórias no
processo civil. In: FUX, Luiz (Coord.). O novo processo civil brasileiro –
direito em expectativa. Rio de Janeiro: Forense, 2011.
PINHO. Humberto Dalla Bernadina de Pinho. Direito processual civil
contemporâneo – teoria geral do processo. 6 ed. São Paulo: Saraiva,
2016.
THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. 56 ed.
Vol. I. Rio de Janeiro: Forense, 2015.
THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. 50 ed.
Vol. II. Rio de Janeiro: Forense, 2016.
THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil – teoria
geral do direito processual civil e o processo de conhecimento. 52. ed.
Rio de Janeiro: Forense, 2011. v. 1.
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Súmulas e inadmissibilidade da apelação.
In: FREIRA, Rodrigo da Cunha Lima (Coord.). Salvador: JusPodivm, 2007.
WAMBIER, Luiz Rodrigues; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Breves
comentários à 2ª fase da Reforma do Código de Processo Civil. 2. ed.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002.
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Revista de processo - REPRO. Ano 36 –
192. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011.

Exercícios de fixação
Questão 1

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 156


Contra decisão interlocutória, foi apresentado recurso de embargos de
declaração:

I – O recurso não pode ser recebido, já que somente é cabível essa espécie de
recurso contra sentenças e acórdãos;

II – O recurso pode ser recebido, porém, certamente, nunca poderá ser


provido, já que, contra decisão interlocutória, os embargos não interrompem o
prazo para o próximo recurso.

a) Ambas estão certas.

b) Ambas estão incorretas.

c) Somente a I está correta.

d) Somente a II está correta.

Questão 2

Segundo o novo CPC, não se considera fundamentada a decisão judicial que:

a) Limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem


explicar sua relação com a causa ou a questão decidida.

b) Empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo


concreto de sua incidência no caso.

c) Invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão.

d) Deixar de mencionar, expressamente, os dispositivos legais afetos à


matéria, independente do respectivo conteúdo houver sido tratado.

Questão 3

Segundo o novo CPC, podemos afirmar a respeito dos embargos de declaração,


exceto:

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 157


a) Pode o juiz se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem
identificar seus fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso
sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos.

b) Não é admitido ao juiz que deixe de seguir enunciado de súmula,


jurisprudência ou precedente invocado pela parte, sem demonstrar a
existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do
entendimento.

c) Não é admitido ao juiz que deixe de apreciar todos os fundamentos e/ou


argumentos que, de alguma forma, possam influenciar no resultado final
quanto ao julgamento da matéria que lhe foi destinada.

Questão 4

Considere a situação abaixo para, em seguida, optar pela alternativa correta:

Foi proferida sentença de procedência do pedido sem ter apreciado a preliminar


de ilegitimidade suscitada pelo réu, em razão de cuja omissão foi oposto o
recurso de embargos de declaração. Ao apreciá-lo, o juiz reconhece que,
realmente, a ilegitimidade estava presente.

a) Esses embargos não podem ser acolhidos, considerando-se que seu


resultado traria alterações na decisão incompatíveis com o recurso em
questão.

b) Esses embargos podem ser recebidos, porém devem ser rejeitados, já


que os efeitos infringentes desejados apenas podem ser alcançados em
sede de recurso de apelação.

c) Esses embargos devem ser recebidos e acolhidos, independente dos


efeitos infringentes gerados, considerando-se que o moderno processo
civil admite-os, em caráter excepcional.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 158


d) Deveria ter sido interposto contra esta sentença diretamente o recurso
de apelação, a fim de gerar a resolutividade necessária à alteração do
conteúdo em questão.

Questão 5

Foram oferecidos embargos de declaração contra determinada sentença, os


quais, porém, foram considerados manifestamente infundados. Logo:

a) Certamente, neste caso, os embargos não devem sequer ser recebidos.

b) Os embargos devem ser recebidos, porém, sem o efeito interruptivo.

c) Os embargos devem ser recebidos, mas desprovidos, desde que tenham


sido apresentados no prazo.

d) Os embargos não devem ser recebidos e o embargante ainda deve ser


multado por sua atitude protelatória.

Questão 6

Segundo o novo CPC, o embargante condenado, pela primeira vez, por


embargos protelatórios deverá pagar multa:

a) Não excedente a 10 % sobre o valor da causa.

b) Não excedente a 2 % sobre o valor da causa.

c) Não excedente a 1 % sobre o valor da causa.

d) Não excedente a 0,5 % sobre o valor da causa.

Questão 7

Se os embargos de declaração não buscam sanar omissão, contradição ou


obscuridade do acórdão embargado – afastando-se, pois, dos requisitos

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 159


eventualmente indispensáveis – mas sim rediscutir matéria já apreciada e
julgada, eles:

a) Devem ser inadmitidos, e o embargante deve ser multado por litigância


de má-fé.

b) Devem ser inadmitidos, porém sem a condenação em litigância de má-fé.

c) Devem ser recebidos, porém considerados protelatórios.

d) Devem ser recebidos e providos, independente de sua pretensão.

Questão 8

Segundo o novo CPC, a respeito dos embargos de declaração, podemos


afirmar:

a) Os embargos de declaração suspendem o prazo para a interposição de


recurso;.

b) Quando manifestamente protelatórios os embargos de declaração, o juiz


ou o tribunal, em decisão não necessariamente fundamentada,
condenará o embargante a pagar ao embargado multa não excedente a
dois por cento sobre o valor atualizado da causa;.

c) Na reiteração de embargos de declaração manifestamente protelatórios,


a multa será elevada a até dez por cento sobre o valor atualizado da
causa e a interposição de qualquer recurso ficará condicionada ao
depósito prévio do valor da multa, à exceção do beneficiário de
gratuidade da justiça e da Fazenda Pública, que a recolherão ao final.

d) Não serão admitidos novos embargos de declaração se os dois anteriores


houverem sido considerados protelatórios.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 160


Aula 6
Exercícios de fixação
Questão 1 - B
Justificativa: Segundo o art. 1.022, CPC, cabem embargos de declaração contra
qualquer decisão judicial. Os atos judiciais, por sua vez, estão, especialmente,
no art. 203, CPC.

Questão 2 - D
Questão 3 - A
Questão 4 - B
Justificativa: Aplicação do art. 1.023, CPC. Os embargos serão opostos, no
prazo de 5 (cinco) dias, em petição dirigida ao juiz, com indicação do erro,
obscuridade, contradição ou omissão, e não se sujeitam a preparo. § 2o O juiz
intimará o embargado para, querendo, manifestar-se, no prazo de 5 (cinco)
dias, sobre os embargos opostos, caso seu eventual acolhimento implique a
modificação da decisão embargada.

Questão 5 - C
Justificativa: A manifesta improcedência é matéria de mérito, mesmo porque
não recebimento de embargos de declaração está restrito a caso de
intempestividade.

Questão 6 - B
Justificativa: Aplicação do art. 1026, § 2o Quando manifestamente protelatórios
os embargos de declaração, o juiz ou o tribunal, em decisão fundamentada,
condenará o embargante a pagar ao embargado multa não excedente a dois
por cento sobre o valor atualizado da causa.

Questão 7 - C

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 161


Justificativa: Há farto entendimento jurisprudencial segundo o qual a utilização
indevida dos embargos de declaração, porém apresentados no prazo, deve ser
resolvido no mérito, ainda que eventualmente considerado protelatório.

Questão 8 - B
Justificativa: Aplicação do art. 1026, § 3o Na reiteração de embargos de
declaração manifestamente protelatórios, a multa será elevada a até dez por
cento sobre o valor atualizado da causa, e a interposição de qualquer recurso
ficará condicionada ao depósito prévio do valor da multa, à exceção da Fazenda
Pública e do beneficiário de gratuidade da justiça, que a recolherão ao final.

Introdução
Meu caro profissional, pós-graduando, nesta penúltima aula de nosso curso,
será abordada uma primeira parte relativa aos recursos excepcionais, quais
sejam, recurso especial (Artigo 105, III, CRFB/88) e recurso extraordinário

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 162


(Artigo 102, III, CRFB/88), absolutamente relevantes à ordem jurídica brasileira
pela proteção ao direito positivo que são capazes de gerar.

Você terá oportunidade de aprofundar seus conhecimentos nos requisitos gerais


e comuns a esses 2 (dois) recursos e, em seguida, no procedimento de reunião
dos recursos repetitivos.

Objetivo:
1. Definir as características comuns aos chamados recursos excepcionais, como
a necessidade do chamado prequestionamento, a impossibilidade de reexame
de provas e a devolutividade restrita à matéria de direito;
2. Tratar do poder-dever do Estado-Judiciário de reunir recursos (excepcionais)
repetitivos como mais um dos modelos de julgamento por casos-pilotos
instaurados na ordem jurídica brasileira.

Conteúdo
Questões comuns aos recursos excepcionais
Estamos tratando, a partir de agora, dos chamados recursos excepcionais, ou
seja, os “não ordinários” (ou de fundamentação vinculada), pelas razões que
abordaremos justamente neste item, quais sejam:

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 163


(a) São recursos com propósito evidente de proteção ao direito objetivo e não
às peculiaridades do direito subjetivo da parte, para as quais já existem, em
regra, as 2 (duas) instâncias anteriores;

(b) São recursos cuja devolutividade é limitada, não se permitindo reexame de


prova;

(c) Seus julgamentos ocorrem em determinados tribunais superiores e, em


regra, não possuem efeito suspensivo.

Vejamos, abaixo, os respectivos cabimentos para, em seguida, tratarmos das


características comuns a ambos (já que as especificidades de cada um serão
abordadas na última aula).

RECURSO ESPECIAL RECURSO

EXTRAORDINÁRIO

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 164


STJ Art. 105. Compete ao Superior Tribunal
de Justiça:

III - julgar, em recurso especial, as


causas decididas, em única ou última
instância, pelos Tribunais Regionais
Federais ou pelos tribunais dos
Estados, do Distrito Federal e
Territórios, quando a decisão
recorrida:
a) contrariar tratado ou lei federal, ou
negar-lhes vigência;
b) julgar válido ato de governo local
contestado em face de lei federal
(Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004);
c) der a lei federal interpretação
divergente da que lhe haja atribuído
outro tribunal.

STF Art. 102. Compete ao Supremo


Tribunal Federal,

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 165


III - julgar, mediante
recurso extraordinário, as
causas decididas em única
ou última instância, quando
a decisão recorrida:
a) contrariar dispositivo
desta Constituição;
b) declarar a
inconstitucionalidade de
tratado ou lei federal;
c) julgar válida lei ou ato
de governo local
contestado em face desta
Constituição.
d) julgar válida lei local
contestada em face de lei
federal. (Incluída pela
Emenda Constitucional nº
45, de 2004).

Recurso extraordinário e recurso especial


Segundo o Artigo 1.029 do CPC/2015, o recurso extraordinário e o recurso
especial, nos casos previstos na Constituição Federal, serão interpostos perante
o presidente ou o vice-presidente do tribunal recorrido, em petições distintas,
que conterão: I - a exposição do fato e do direito, Il - a demonstração do
cabimento do recurso interposto e III - as razões do pedido de reforma da
decisão recorrida.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 138


O julgamento, contudo, dar-se-á no tribunal superior respectivo,
monocraticamente ou pelo colegiado de que faça parte o ministro relator.

Questões procedimentais relevantes entre a interposição e o julgamento do


recurso devem ser tratadas.

Quanto à estrutura do recurso


Quanto à estrutura do recurso, em primeiro lugar, é preciso salientar que as
razões recursais que devem infirmar os argumentos da decisão agravada. Se a
impugnação recursal não guardar pertinência com os fundamentos em que se
assentou o ato decisório questionado, teremos a ocorrência de um divórcio
ideológico, segundo expressões do próprio STF.

Como afirma o referido tribunal, “a ocorrência de divergência temática entre as


razões em que se apoia a petição recursal, de um lado, e os fundamentos que
dão suporte à matéria efetivamente versada na decisão recorrida, de outro,
configura hipótese de divórcio ideológico, que, por comprometer a exata
compreensão do pleito deduzido pela parte recorrente, inviabiliza, ante a
ausência de pertinente impugnação, o acolhimento do recurso interposto.
Precedentes”.

Ainda sobre a estrutura e construção do recurso, o advogado há de ter especial


atenção, pois é inadmissível o recurso extraordinário quando a decisão
recorrida assenta em mais de um fundamento suficiente e o recurso não
abrange todos eles (conforme Súmula 283, STF), como também é certo ser
inadmissível o recurso extraordinário, quando a deficiência na sua
fundamentação não permitir a exata compreensão da controvérsia (como
observamos da leitura da Súmula 284, STF). A assinatura do advogado, a
interposição do recurso no prazo, assim como o devido preparo/custas (salvo
gratuidade de justiça) não podem faltar.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 139


Evidentemente, o recurso deve ser interposto no prazo, aplicando-se, em
especial os Artigos 1.003, 180 e 229, do CPC/2015. Relevante deixar indubitável
que, independentemente da admissibilidade realizada na instância originária,
são os tribunais superiores, no caso dos recursos em questão, que darão a
palavra final a respeito.

A respeito da tempestividade e do preparo:

“A comprovação da tempestividade do recurso extraordinário é requisito


essencial à sua admissibilidade, cabendo ao STF a decisão definitiva sobre o
ponto, devendo a referida tempestividade ser demonstrada no traslado do
agravo, mesmo que não haja controvérsia a respeito do tema no Tribunal de
origem” (AI 778.432-AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgamento em 17-8-2010,
Primeira Turma, DJE de 9-11-2010.) Em sentido contrário: RE 626.358-AgR,
Rel. Min. Cezar Peluso, julgamento em 22-3-2012, Plenário, DJE de 23-8-
2012. Vide: RE 216.660-AgR, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, julgamento
em 3-10-2000, Primeira Turma, DJ de 10-11-2000.

“Situação em que o jurisdicionado simplesmente deixou de recolher qualquer


valor a título de preparo. A concessão do prazo para complementação do valor
do preparo pressupõe que exista algo a ser complementado e, portanto, não se
aplica à hipótese de ausência completa do pagamento" (AI 620.144-AgR,
Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgamento em 16-9-2008, Segunda Turma, DJE
de 6-3-2009).

Da tempestividade e do preparo
Trazemos, neste instante, em continuação, a seguinte questão: cabendo ambos
os recursos excepcionais, em que ordem se dá a apreciação?

Tínhamos, sob vigência do CPC/73, o seguinte entendimento: “Salvo posterior


ratificação, é extemporâneo o recurso extraordinário interposto antes da
publicação do acórdão dos embargos de declaração, ainda que o julgamento

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 140


destes não tenha implicado modificação substancial do teor do julgamento
original”.

O Artigo 1.024, §5º do CPC/2015 eliminou, expressamente, tal necessidade, ao


definir que, se os embargos de declaração forem rejeitados ou não alterarem a
conclusão do julgamento anterior, o recurso interposto pela outra parte antes
da publicação do julgamento dos embargos de declaração será processado e
julgado independentemente de ratificação.

Quebra-se, nesse particular, o chamado princípio da unicidade recursal ou


unirrecorribilidade. Há uma interposição simultânea dos recursos extraordinário
e especial, com preferência no julgamento pelo STJ, com conhecimento
posterior do STF. Como já decidiu este tribunal, “o fato de o STJ, julgando o
recurso especial ou o agravo que tenha sido protocolado visando a imprimir-lhe
trânsito, haver decidido sob o ângulo estritamente legal não implica preclusão
presente o extraordinário simultaneamente interposto contra o dispositivo do
acórdão alicerçado em preceitos constitucionais”.

Encerrando-se este tópico, façamos uma reflexão a respeito dos efeitos em que
os recursos excepcionais são ou podem ser recebidos. Não têm, em regra,
efeito suspensivo, mas, excepcionalmente, podem ter, como previsto no Artigo
1.029 do CPC/2015. E como se faz para conseguir esse efeito suspensivo?

Entenderemos melhor sobre este assunto a seguir.

Pedido de concessão de efeito suspensivo a recurso


extraordinário ou a recurso especial
Segundo o Artigo 1.029, §5º, do CPC/2015, o pedido de concessão de efeito
suspensivo a recurso extraordinário ou a recurso especial poderá ser formulado
por requerimento dirigido:

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 141


Ao tribunal superior respectivo, no período compreendido entre a publicação da
decisão de admissão do recurso e sua distribuição, ficando o relator designado
para seu exame prevento para julgá-lo;

Ao relator, se já distribuído o recurso;

Ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal recorrido, no período


compreendido entre a interposição do recurso e a publicação da decisão de
admissão do recurso, assim como no caso de o recurso ter sido sobrestado, nos
termos do Artigo 1.037.

Dessa forma, não se vê mais sentido em se apresentar, tampouco serem


deferidas medidas cautelares especificamente para tal fim, como se chegou a
fazer sob vigência do CPC de 1973, mesmo que sob críticas, como se vê no
julgado abaixo:

“Não compete ao STF conceder medida cautelar para dar efeito suspensivo a
recurso extraordinário que ainda não foi objeto de juízo de admissibilidade na
origem" (Súmula 634).

"Cabe ao Presidente do Tribunal de origem decidir o pedido de medida cautelar


em recurso extraordinário ainda pendente do seu juízo de admissibilidade"
(Súmula 635).

“A competência do STF para a concessão de efeito suspensivo a recurso


extraordinário em medidas cautelares restringe-se aos casos urgentes em que o
recurso, devidamente admitido, encontrar-se fisicamente nesta Corte, ainda
que sobrestado” (AC 2.206-AgR, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 4-8-
2009, Segunda Turma, DJE de 25-9-2009.) Vide: AC 2.338-MC-REF, Rel. Min.
Marco Aurélio, julgamento em 16-9-2009, Plenário, DJE de 16-10-2009.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 142


Questões (comuns a ambos os recursos) relativas ao cabimento e
ao julgamento
Iniciemos com a necessidade de esgotamento das instâncias.

Fato mais comum do que se pode pensar é a interposição dos recursos


excepcionais sem que ele (esgotamento) ocorra. Como previsto nos artigos
pelos quais iniciamos (102, III e 105, III, CRFB/88), os recursos são cabíveis
contra decisões de última ou única instância. Incide, pois, a Súmula 281 do
STF.

Por outro lado, já tendo ocorrido o trânsito em julgado da decisão, obviamente


não é mais possível interpor qualquer recurso, seja ordinário ou extraordinário.
Confira:

“O recurso extraordinário não é via adequada para desconstituir-se a coisa


julgada” (RE 499.823-AgR, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 12-8-
2008, Segunda Turma, DJE de 29-8-2008).

Encerradas as instâncias ou havendo apenas uma (porém, ainda antes de


transitada em julgado), cabem os recursos em questão mediante outros
requisitos de que vamos também tratar. Como é natural, somente é cabível
recurso contra decisão de natureza jurisdicional e, em regra, com essência de
sentença (não cabendo, por exemplo, em regra, contra decisões liminares).

Por exemplo, é incabível recurso extraordinário em face de decisão proferida


em procedimento de representação pela perda de graduação de praça, tendo
em vista seu caráter meramente administrativo.

Também não cabe de “decisão recorrida proferida em ação cautelar inominada,


de natureza não definitiva: precedente” (RE 263.038, Rel. Min. Sepúlveda
Pertence, Primeira Turma, DJ de 28-4-2000 e AI 586.906-AgR, Rel. Min.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 143


Sepúlveda Pertence, julgamento m 19-6-2007, Primeira Turma, DJ de 3-8-
2007).

Recente julgado foi proferido a respeito da matéria: Segunda Turma

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. INAPLICABILIDADE DO RECURSO ESPECIAL


CONTRA ACÓRDÃO QUE INDEFERE EFEITO SUSPENSIVO AO AGRAVO DE
INSTRUMENTO.

Não cabe recurso especial contra acórdão que indefere a atribuição de efeito
suspensivo a agravo de instrumento. A decisão colegiada que entende pela
ausência dos requisitos necessários à atribuição do efeito suspensivo a agravo
de instrumento não resulta em decisão de única ou última instância, como
previsto no Artigo 105, III, da CF. Há necessidade de que o Tribunal julgue,
definitivamente, o agravo de instrumento em seu mérito para que a parte
vencida possa ter acesso à instância especial. A propósito, o STF sedimentou
entendimento que corrobora esse posicionamento com a edição da Súmula
735: “Não cabe recurso extraordinário contra acórdão que defere medida
liminar”. Precedentes citados: AgRg no AREsp 464.434-MS, Quarta Turma,
DJe 18/3/2014; e AgRg no AREsp 406.477-MA, Segunda Turma, DJe
27/03/2014. REsp 1.289.317-DF, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em
27/5/2014 (Informativo nº 541).

Requisitos dos recursos excepcionais


Como desde o início do capítulo foi dito, temos um recurso em proteção ao
direito objetivo, cujo propósito não é a revisão de matéria fática – como bem
salientado pela Súmula 279 do STF, por exemplo –, e, sim, o debate, o menos
subjetivo possível, a respeito de matérias constitucionais ou
infraconstitucionais, preferencialmente aqueles sobre as quais ainda não tenha
havido orientação do Plenário, como observamos a partir da leitura da Súmula
286 (igualmente, do STF).

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 144


Um dos grandes requisitos dos recursos excepcionais é a necessidade de
prequestionamento, ou seja, a manifestação do tribunal recorrido acerca da
questão jurídica federal ou constitucional, em especial por provocação anterior
da parte.

Entendamos melhor a partir dos enunciados/julgados abaixo, aplicáveis, a


princípio, a ambos (especial e extraordinário):

"É inadmissível o recurso extraordinário, quando não ventilada, na decisão


recorrida, a questão federal suscitada" (Súmula 282).

“O ponto omisso da decisão, sobre o qual não foram opostos embargos


declaratórios, não pode ser objeto de recurso extraordinário, por faltar o
requisito do prequestionamento” (Súmula 356).

“O prequestionamento para o recurso extraordinário não reclama que o


preceito constitucional invocado pelo recorrente tenha sido explicitamente
referido pelo acórdão, mas é necessário que este tenha versado
inequivocamente a matéria objeto da norma que nele se contenha, o que
ocorreu no caso" (AI 297.742-AgR, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, julgamento
em 25-6-2007, Primeira Turma, DJ de 10-8-2007). No mesmo sentido: RE
540.578-AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgamento em 15-12-2009, Primeira
Turma, DJE de 5-2-2010.

Diferentes entendimentos nos tribunais a respeito da matéria


A respeito da matéria, havia significativa distinção de entendimentos nos
tribunais de que estamos tratando (STJ e STF), em determinada situação. Eis a
questão: se o tribunal de origem não se manifestou a respeito da eventual
violação à lei ou Constituição, deve ser oposto embargos de declaração. E se o
Tribunal permanecer omisso?

O Informativo 400 do STJ esclarece o assunto:

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 145


“(...) o STF, ao julgar RE, considera matéria constitucional pela simples
oposição de EDecl (prequestionamento ficto). Sucede que, como consabido, o
STJ possui entendimento diverso, pois tem como satisfeito o
prequestionamento quando o tribunal a quo emite juízo de valor a respeito da
tese defendida no especial. (...) Daí que, se o tribunal a quo rejeita os
embargos sem apreciar a tese, o respectivo especial deve necessariamente
indicar como violado o Artigo 535, CPC, com a especificação objetiva do que é
omisso, contraditório ou obscuro, sob pena de aplicação da Súmula 211, STJ
(...)”.

O Artigo 1.025 do CPC/2015, porém, eliminou qualquer divergência sobre o


assunto na medida em que, obrigatoriamente, se consideram incluídos no
acórdão os elementos que o embargante suscitou para fins de
prequestionamento, ainda que os embargos de declaração sejam inadmitidos
ou rejeitados, caso o tribunal superior considere existentes erro, omissão,
contradição ou obscuridade.

Assim sendo, basta fazer as provocações necessárias, inclusive por meio de


Embargos de Declaração, para se ter a matéria como devidamente
prequestionada.

O direito à espécie
Expostas as questões até aqui desenvolvidas, devemos concluir asseverando
que, uma vez que os tribunais superiores em questão conheçam do recurso
excepcional, julgarão a causa, aplicando o direito à espécie, como já frisava a
Súmula 456 do STF e é ratificado pelo Artigo 1.034 do CPC/2015.

Significa, por exemplo, que, uma vez admitido um recurso especial por eventual
violação aos Artigos 186 e 927, ambos do Código Civil, percebe-se no STJ a
existência de incompetência absoluta do juízo monocrático de 1ª instância para
julgar aquela lide; certamente, deverá anular todo o processo, aplicando-se o
CPC no que tange à matéria.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 146


O Informativo nº 390 do STJ nos explica a respeito:

“(...) Após superado o juízo de admissibilidade, o REsp comporta efeito


devolutivo amplo ao Superior Tribunal para julgar a causa, nos temos do Artigo
257, do RISTJ (aplicar o Direito à espécie) e da Súmula 456, STF. Assim, se
necessário, cabe, no REsp, enfrentar a matéria prevista no Artigo 267, §3º, CPC
e no Artigo 301, p.r, ambos do CPC. Em outras palavras, a devolutividade do
REsp, em nível vertical, engloba efeito translativo consistente na possibilidade
atribuída ao órgão julgador de conhecer de ofício as questões públicas, embora,
na espécie, o recorrente, nem nos embargos de declaração, nem no REsp, não
se deu conta do (...) error in procedendo (...)”.

O tema em questão tem seu tratamento a partir do Artigo 1.036 do CPC/2015,


iniciando com tal dispositivo uma das matérias mais relevantes dessa nova
ordem processual, gradativamente construída a partir do final da década de
1990, como se tem visto neste curso.

Estamos falando, então, da razão da onda de julgamento por casos pilotos, que
gerou valorosas alterações na legislação processual nos últimos anos. Trata-se
de regra que impõe o sobrestamento dos recursos com questões jurídicas
semelhantes ou iguais até o julgamento do recurso-paradigma, ou seja, aquele
que melhor represente a controvérsia.

Consoante os aludidos dispositivos, podemos afirmar o que segue. Julgado o


paradigma, deverá o tribunal superior respectivo (STJ ou STF) comunicar aos
tribunais locais o resultado do julgamento.

Nesse caso, todos os recursos que estavam sobrestados e que tenham sido
interpostos contra decisões proferidas no mesmo sentido da que agora o STJ
ou STF proferiu serão considerados prejudicados e, por conta disso, não
prosseguirão.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 147


Os recursos que estavam sobrestados e tinham sido interpostos contra decisões
em que se adotou entendimento diverso do adotado no julgamento proferido
serão objetos de reexame pelo tribunal a quo.

Nesse caso, poderá, então, o tribunal de origem retratar-se da decisão


anteriormente proferida, acolhendo-se a orientação do tribunal superior. Note-
se, porém, que não é caso de se afirmar que a decisão proferida pelo STJ ou
STF tenha eficácia vinculante.

Afinal, se nem as decisões do STF podem ter tal eficácia (ressalvadas,


evidentemente, a súmula vinculante), não poderiam tê-la as decisões do STJ
em recurso especial ou STF, no extraordinário.

Veja, por exemplo, em relação ao antes escrito (não eficácia vinculante), que o
STJ, examinando este ponto (ainda fazendo menção ao CPC/73,
considerando-se tratar de julgado anterior ao de 2015), estabeleceu que o
Artigo 543-C, §8º, do CPC (1973) expressamente autoriza o tribunal recorrido a
não se retratar, mantendo sua decisão. Esclareceu-se, porém, que “a melhor
maneira de compatibilizar a ausência de efeito vinculante com o escopo visado
pela legislação processual é entender, em abrangência sistemática, que a
faculdade de manter o acórdão divergente da posição estabelecida por esse
Tribunal Superior em julgamento do rito do Artigo 543-C do CPC somente é
admissível quando, no reexame do feito, o órgão julgador expressa e
minuciosamente, identifica questões jurídica que não foi abordada na
decisão do STJ, se não houver peculiaridade que excepcione entendimento
fiado em julgamento do recurso repetitivo, a solução conferida pelo STJ deve
ser aplicada ao caso concreto, sob pena de inviabilizar a vigência e o escopo
do Artigo 543-C do CPC”, como vemos no seguinte julgado: STJ, Resp
1323111/DF, Rel Min Herman Benjamin, J 25.9.2012. Ao longo dos últimos
anos, tivemos relevantes julgamentos em recursos repetitivos, por exemplo:

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 148


DIREITO PROCESSUAL CIVIL. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS EM SEDE
DE EXECUÇÃO PROVISÓRIA. RECURSO REPETITIVO (ART. 543-C DO
CPC E RES. 8/2008-STJ).

Em execução provisória, descabe o arbitramento de honorários


advocatícios em benefício do exequente. De fato, o que deve ser
observado para a definição do cabimento de honorários advocatícios é o
princípio da causalidade, ou seja, deverá arcar com as verbas de advogado
quem deu causa à lide, conceito intimamente relacionado à “evitabilidade
do litígio”. Com relação à execução provisória, deve-se notar que, por
expressa dicção legal, a fase do cumprimento provisório de sentença "corre
por iniciativa, conta e responsabilidade do exequente" (Artigo 475-O, I, do
CPC), o que implica afirmar que a execução provisória se inicia por deliberação
exclusiva do credor provisório (e não por iniciativa do devedor provisório).
Dessa forma, como quem dá causa à instauração do procedimento provisório é
o exequente (e não o executado), não se pode, em razão do princípio da
causalidade, admitir, no âmbito da execução provisória, o arbitramento de
honorários advocatícios em benefício dele próprio (do exequente). Ademais, se
o manejo da execução provisória constitui faculdade do credor, a ser exercitada
por sua conta e responsabilidade, as despesas decorrentes da execução
provisória, inclusive os honorários de seu advogado, hão de ser suportados pelo
próprio exequente. Além disso, não se pode confundir “pagamento” —
modalidade de extinção da obrigação (Artigos 304 a 359 do CC) que significa o
cumprimento voluntário, pelo devedor, da obrigação, por sua própria iniciativa
ou atendendo a solicitação do credor, desde que não o faça compelido — com
“caução” — que representa simples garantia. Nessa conjuntura, a multa do
Artigo 475-J do CPC, por exemplo, representa punição somente para aquele
que se recusa “pagar” algo decorrente de uma decisão efetivamente transitada
em julgado, tratando-se, portanto, de medida que objetiva tão somente
estimular o “pagamento” da dívida (o seu adimplemento voluntário), haja vista,
inclusive, a utilização, pela própria redação desse artigo, da expressão
“pagamento”. Diferentemente, a execução provisória, por sua vez, tem como

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 149


finalidade principal o oferecimento de garantia (caução) – e não o “pagamento”
da dívida –, visto que apenas eventualmente o credor pode levantar o dinheiro,
com caução (Artigo 475-O, III, do CPC) ou, excepcionalmente, sem a garantia
(Artigo 475-O, §2º, I e II, do CPC). Ademais, o cumprimento provisório de
sentença, que ocorre antes do trânsito em julgado, atinge a parte, vencida
naquela sentença (executada provisoriamente), que, necessariamente, interpôs
recurso destituído de efeito suspensivo. Sendo assim, em relação à execução
provisória, não se pode exigir o cumprimento voluntário da obrigação (o
pagamento) pelo executado na fase da execução provisória, não só porque a
sua finalidade principal é o oferecimento de garantia (caução) – e não o
“pagamento” da dívida –, mas porque esse ato seria, conforme o Artigo 503
do CPC – “A parte, que aceitar expressa ou tacitamente a sentença ou a
decisão, não poderá recorrer” –, incompatível com o seu próprio direito
constitucional de recorrer, o que prejudicaria, por consequência, o recurso
interposto por ele. Diante de tais considerações, a Corte Especial do STJ
(REsp 1.059.478-RS, DJe 11/4/2011) acolheu a tese segundo a qual a multa
prevista no Artigo 475-J do CPC não se aplica à execução provisória – incidindo
somente após o trânsito em julgado da sentença na hipótese em que a parte
vencida, intimada por intermédio do seu advogado, não cumpra voluntaria e
tempestivamente a condenação –, na medida em que a possibilidade de aplicar
a multa do Artigo 475-J do CPC em execução provisória implicaria situação
desproporcional em que o recorrente (executado provisoriamente) terá que
optar por pagar a quantia provisoriamente executada para afastar a multa e, ao
mesmo tempo, abdicar do seu direito de recorrer contra a decisão que lhe foi
desfavorável em razão da preclusão lógica. Na mesma linha de raciocínio,
haveria manifesta contradição em, por um lado, afastar a incidência da multa
do Artigo 475-J do CPC – pelo fato de o devedor provisório não estar obrigado
a efetuar o cumprimento voluntário da sentença sujeita a recurso – mas, por
outro lado, condená-lo ao pagamento de honorários na execução provisória
exatamente porque ele não realizou o cumprimento voluntário da mesma
sentença. Além do mais, tenha ou não o vencedor o direito de propor execução
provisória, é certo que ele ainda não tem, em sede de cumprimento provisório

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 150


de sentença (no qual resta pendente recurso sem efeito suspensivo), o
acertamento definitivo do seu direito material, do qual decorreriam os
honorários de sucumbência relativos à fase de execução. De mais a mais,
somente incidem honorários advocatícios na fase de cumprimento de sentença
se a parte vencida, depois de intimada para pagar, não cumprir voluntaria e
tempestivamente a condenação. Isso porque, se houver o cumprimento
voluntário da obrigação, não haverá sequer execução definitiva, inexistindo,
portanto, trabalho advocatício para gerar condenação em honorários (REsp
1.054.561-SP, Primeira Turma, DJe 12/3/2009). Dessa forma, admitir o
cabimento de honorários no âmbito da execução provisória implicaria o
seguinte paradoxo: quem pagar posteriormente, depois do trânsito em julgado
do título, pagará menos (sem multa e sem honorários) em comparação a quem
realiza o pagamento antecipado, em sede de execução provisória, porquanto à
condenação seriam acrescidos os honorários da execução.

Ademais, nessa hipótese, o cabimento dos honorários advocatícios relativos à


fase de execução ficaria sempre ao arbítrio exclusivo do vencedor, que poderia,
se assim desejasse, desencadear o cumprimento provisório do título e acrescer
a dívida principal com os honorários sucumbenciais. Por fim, deve-se
observar que não se está afastando, em abstrato, o cabimento de honorários
advocatícios em sede de cumprimento provisório de sentença, mas apenas
afirmando o descabimento de honorários no âmbito de execução provisória em
benefício do exequente; o que não implica obstar a possibilidade de
arbitramento de honorários no cumprimento provisório em favor do executado
provisório, caso a execução provisória seja extinta ou o seu valor seja reduzido.
Teses firmadas para fins do Artigo 543-C do CPC: “Em execução provisória,
descabe o arbitramento de honorários advocatícios em benefício do exequente”
e “posteriormente, convertendo-se a execução provisória em definitiva, após
franquear ao devedor, com precedência, a possibilidade de cumprir, voluntária
e tempestivamente, a condenação imposta, deverá o magistrado proceder ao
arbitramento dos honorários advocatícios”. Precedente citado: REsp
1.252.470- RS, Quarta Turma, DJe 30/11/2011. REsp 1.291.736-PR, Rel.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 151


Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 20/11/2013 (Informativo nº
533).

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. MOMENTO PARA HABILITAÇÃO COMO


AMICUS CURIAE EM JULGAMENTO DE RECURSO SUBMETIDO AO RITO
DO ART. 543-C DO CPC.

O pedido de intervenção, na qualidade de amicus curiae, em recurso


submetido ao rito do art. 543-C do CPC, deve ser realizado antes do
início do julgamento pelo órgão colegiado. Isso porque, uma vez iniciado
o julgamento, não há mais espaço para o ingresso de amicus curiae. De fato, já
não há utilidade prática de sua intervenção, pois nesse momento processual
não cabe mais sustentação oral, nem apresentação de manifestação escrita,
como franqueia a Resolução 8/2008 do STJ, e, segundo assevera remansosa
jurisprudência, o amicus curiae não tem legitimidade recursal, inviabilizando-se
a pretensão de intervenção posterior ao julgamento (EDcl no REsp 1.261.020-
CE, Primeira Seção, DJe 2/4/2013). O STJ tem entendido que, segundo o § 4º
do art. 543-C do CPC, bem como o art. 3º da Resolução 8/2008 do STJ,
admite-se a intervenção de amicus curiae nos recursos submetidos ao rito dos
recursos repetitivos somente antes do julgamento pelo órgão colegiado e a
c ritério do relator (EDcl no REsp 1.120.295-SP, Primeira Seção, DJe
24/4/2013). Ademais, o STF já decidiu que o amicus curiae pode pedir sua
participação no processo até a liberação do processo para pauta (ADI 4.071
AgR, Tribunal Pleno, DJe 16/10/2009). QO no REsp 1.152.218-RS, Rel.
Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 7/5/2014 (Informativo nº 540).

Segunda Seção

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. INTERVENÇÃO COMO AMICUS CURIAE


EM PROCESSO REPETITIVO.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 152


Não se admite a intervenção da Defensoria Pública como amicus
curiae, ainda que atue em muitas ações de mesmo tema, no processo
para o julgamento de recurso repetitivo em que se discutem encargos
de crédito rural, destinado ao fomento de atividade comercial. Por um
lado, a representatividade das pessoas, órgãos ou entidades referidos no § 4º
do art. 543-C do CPC e no inciso I do art. 3º da Resolução 8/2008 do STJ deve
relacionar-se, diretamente, à identidade funcional, natureza ou finalidade
estatutária da pessoa física ou jurídica que a qualifique para atender ao
interesse público de contribuir para o aprimoramento do julgamento da causa;
não é suficiente o interesse em defender a solução da lide em favor de uma
das partes (interesse meramente econômico). Por outro lado, a intervenção
formal no processo repetitivo deve dar-se por meio da entidade de âmbito
nacional cujas atribuições sejam pertinentes ao tema em debate, sob pena de
prejuízo ao regular e célere andamento deste importante instrumento
processual. A representação de consumidores em muitas ações é insuficiente
para a representatividade que justifique intervenção formal em processo
submetido ao rito repetitivo. No caso em que se discutem encargos de crédito
rural, destinado ao fomento de atividade comercial, a matéria, em regra, não
se subsume às hipóteses de atuação típica da Defensoria Pública. Apenas a
situação de eventual devedor necessitado justificaria, em casos concretos, a
defesa dessa tese jurídica pela Defensoria Pública, tese esta igualmente
sustentada por empresas de grande porte econômico. Por fim, a inteireza do
ordenamento jurídico já é defendida pelo Ministério Público Federal. REsp
1.333.977-MT, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 26/2/2014
(Informativo nº 537).

Procedimento de identificação e encaminhamento dos recursos


repetitivos
Quanto ao próprio procedimento de identificação e encaminhamento dos
recursos repetitivos, temos ainda outras questões. O §4º do Artigo 1.037 do
CPC/2015 estabelece que os recursos afetados (ou seja, os identificados como
paradigmas) deverão ser julgados no prazo de 1 (um) ano e terão preferência

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 153


sobre os demais feitos, ressalvados os que envolvam réu preso e os pedidos
de habeas corpus.

Infelizmente, a Lei nº 13.256/16 revogou o §5º do mesmo artigo, que trazia


importante determinação segundo o qual, desrespeitado o aludido prazo de um
ano, cessaria automaticamente a afetação e a suspensão dos processos. A
revogação em questão aliada à omissão do §4º quanto ao procedimento em
caso de se ultrapassar o aludido prazo de um ano demonstra a inequívoca
vontade do próprio legislador de que nada ocorra, tampouco qualquer sanção
exista quando o julgamento dos recursos paradigmas alongarem-se mais do
que o permitido.

Procedida a afetação em relação aos recursos paradigmas, os tribunais e juízes


singulares a eles vinculados suspenderão os processos relativos a mesma
matéria, nos termos do Artigo 1.037 do CPC/2015:

(I) As partes deverão ser intimadas da decisão de suspensão de seu processo,


a ser proferida pelo respectivo juiz ou relator quando informado da decisão
a que se refere o inciso II do caput.

(II) Demonstrando distinção entre a questão a ser decidida no processo e


aquela a ser julgada no recurso especial ou extraordinário afetado, a parte
poderá requerer o prosseguimento do seu processo.

(III) O requerimento a que se refere o item anterior será dirigido: III.1 - ao


juiz, se o processo sobrestado estiver em primeiro grau;

III. 2 - ao relator, se o processo sobrestado estiver no tribunal de origem;

III. 3 - ao relator do acórdão recorrido, se for sobrestado recurso especial ou


recurso extraordinário no tribunal de origem;
III. 4 - ao relator, no tribunal superior, de recurso especial ou de recurso
extraordinário cujo processamento houver sido sobrestado.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 154


(IV) A outra parte deverá ser ouvida sobre o requerimento a que se refere
o item anterior, no prazo de 5 (cinco) dias.

(V) Reconhecida a distinção no caso:

V.I – das hipóteses (acima identificadas) III.1, III.2 e III.4, o próprio juiz ou
relator dará prosseguimento ao processo;

V.II - do inciso III.3, o relator comunicará a decisão ao presidente ou ao vice-


presidente que houver determinado o sobrestamento, para que o recurso
especial ou o recurso extraordinário seja encaminhado ao respectivo tribunal
superior.

(VI) Da decisão que resolver o requerimento a que se refere o ITEM III caberá:

I - agravo de instrumento, se o processo estiver em primeiro grau;

II - agravo interno, se a decisão for de relator.

Estatuto de 2015
O estatuto de 2015, indubitavelmente, buscou melhor organizar o trâmite dos
recursos repetitivos, inclusive garantindo, ainda que com certa complexidade,
direito ao contraditório e recurso de decisões relativas ao sobrestamento.
Tentou-se evitar o que podemos chamar de tirania da suspensão obrigatória,
considerando-se a sequência de previsões normativas à disposição daquele que
teve seu processo suspenso e entende ter havido um equívoco por conta da
distinção entre seu caso e o paradigma.

Devemos nos ater neste espaço, por fim, ao fato de que, eventualmente,
determinado processo supostamente abrangido pela “questão repetitiva” possa
prosseguir, com interposição de (novo) recurso especial ou extraordinário, a
despeito do caso-piloto pendente de julgamento. Neste caso, o presidente ou

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 155


vice-presidente do tribunal recorrido deve, conforme o Artigo 1.030, III, do
CPC/2015, sobrestar o recurso, decisão contra a qual caberá agravo interno.

A competência para julgamento, contudo, certamente não será de órgão


fracionário (Turma ou Câmara), mas, sim, de órgão colegiado do próprio
tribunal, como pleno ou órgão especial como ratifica DIDIER (2016, v. 3, p.
645), lembrando que este agravo interno cumprirá o papel de servir como
veículo do direito à distinção: o recorrente poderá demonstrar que seu caso é
distinto, a justificar a não suspensão de seu processo.

Referências
DIDIER JUNIOR, Fred e CUNHA, Leonardo José Carneiro, Curso de Direito
Processual Civil, 8 ed. v.3. Salvador: Jus Podium, 2010, p. 19.
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2015.
DIDIER JUNIOR, Fred. Curso de Direito Processual Civil, 17 ed. v.1.
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DIDIER JUNIOR, Fred, BRAGA, Paula Sarmo, OLIVEIRA, Rafael Alexandria.
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DIDIER JUNIOR, Fred, CUNHA, Leonardo Carneiro. Curso de Direito
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DONIZETTI, Elpidio. Curso didático de direito processual civil. 19 ed. São
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FLEXA, Alexandre, MACEDO, Daniel, BASTOS, Fabrício. Novo Código de
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MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao Código de Processo Civil.
11. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2003. v. 5. p. 233.
SARLET, Ingo Wolfgang. Curso de direito constitucional. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2014.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 156


SOKAL, Guilherme Jales. A impugnação das decisões interlocutórias no
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PINHO. Humberto Dalla Bernadina de Pinho. Direito processual civil
contemporâneo – teoria geral do processo. 6 ed. São Paulo: Saraiva,
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THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. 50 ed.
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THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil – teoria
geral do direito processual civil e o processo de conhecimento. 52. ed.
Rio de Janeiro: Forense, 2011. v. 1.
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Súmulas e inadmissibilidade da apelação.
In: FREIRA, Rodrigo da Cunha Lima (Coord.). Salvador: JusPodivm, 2007.
WAMBIER, Luiz Rodrigues; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Breves
comentários à 2ª fase da Reforma do Código de Processo Civil. 2. ed.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002.
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Revista de processo - REPRO. Ano 36 –
192. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011.

Exercícios de fixação
Questão 1

Opte pela alternativa correta a respeito dos recursos excepcionais:

a) São recursos com propósito evidente de proteção ao direito subjetivo da


parte, no caso concreto.

b) Não se admite, nas respectivas devolutividades, reexame de prova.

c) São recursos cuja devolutividade é ilimitada, tal como ocorreu no recurso


de apelação.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 157


d) Seus julgamentos ocorrem nos Tribunais de 2ª instância, isto é, os
Tribunais de Justiça e Tribunais Regionais Federais.

Questão 2

Opte pela alternativa correta, após analisar as assertivas abaixo a respeito dos
recursos excepcionais:

I - As razões recursais que devem infirmar os argumentos da decisão agravada,


porque se a impugnação recursal não guardar pertinência com os fundamentos
em que se assentou o ato decisório questionado, teremos a ocorrência de um
divórcio ideológico, segundo expressões do próprio STF;

II - Como afirma o referido Tribunal, a ocorrência de divergência temática entre


as razões em que se apoia a petição recursal, de um lado, e os fundamentos
que dão suporte à matéria efetivamente versada na decisão recorrida, de outro,
configura hipótese de divórcio ideológico, que, por comprometer a exata
compreensão do pleito deduzido pela parte recorrente, inviabiliza, ante a
ausência de pertinente impugnação, o acolhimento do recurso interposto;

III - É admissível o recurso extraordinário, mesmo quando a decisão recorrida


assenta em mais de um fundamento suficiente e o recurso não abrange todos
eles, afinal de contas trata-se de matéria constitucional.

a) Todas as assertivas estão corretas.

b) Todas as assertivas estão incorretas.

c) Apenas as assertivas I e II estão corretas.

d) Apenas as assertivas II e III estão corretas.

Questão 3

Uma vez admitido um recurso especial por violação Código Civil,


especificamente o princípio da boa-fé objetiva, percebeu-se no STJ a existência

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 158


de nulidade por falta de intimação do Ministério Público (que deveria ter
participado de todas as fases do processo e jamais teve ciência de qualquer ato
dele). Opte pela alternativa correta a partir do caso:

a) O STJ está adstrito à matéria sobre a qual versou o recurso, por ter sido
a única objeto do prequestionamento.

b) O STJ está autorizado a anular o processo pela falta de intimação do


Ministério Público, como estabelecido na súmula 456 do STF.

c) O STJ somente estaria autorizado a anular o processo pela falta de


intimação do Ministério Público, se esta matéria também houvesse sido
objeto de prequestionamento;

d) O STJ somente estaria autorizado a anular o processo pela falta de


intimação do Ministério Público, se esta matéria também houvesse sido
objeto do recurso, independente de prequestionamento.

Questão 4

Opte pela alternativa correta, após analisar as assertivas abaixo a respeito dos
recursos excepcionais:

I - É inadmissível o recurso especial, quando não ventilada, na decisão


recorrida, a questão federal suscitada;

II - O ponto omisso da decisão, sobre o qual não foram opostos embargos


declaratórios, não pode ser objeto de recurso extraordinário, por faltar o
requisito do prequestionamento;

III - O prequestionamento para o recurso extraordinário não reclama que o


preceito constitucional invocado pelo recorrente tenha sido explicitamente
referido pelo acórdão, mas é necessário que este tenha versado
inequivocamente a matéria objeto da norma que nele se contenha, o que
ocorreu no caso.

a) Todas as assertivas estão corretas.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 159


b) Todas as assertivas estão incorretas.

c) Apenas as assertivas I e II estão corretas.

d) Apenas as assertivas II e III estão corretas.

Questão 5

Opte pela alternativa correta, após analisar as assertivas abaixo a respeito do


PREQUESTIONAMENTO:

I – Não havia distinção de entendimentos nos Tribunais superiores (STJ e STF)


a respeito da matéria;

II - O STJ, ao julgar recurso especial, sempre considerou como matéria


prequestionada pela simples oposição de EDecl (prequestionamento ficto);

III - Se o tribunal a quo rejeitar os embargos de declaração sem apreciar a


tese, o respectivo extraordinário deve necessariamente indicar como violados
os dispositivos pertinentes ao referido recurso (embargos de declaração), com a
especificação objetiva do que é omisso, contraditório ou obscuro, atendendo à
súmula 211 do STJ.

a) Todas as assertivas estão corretas.

b) Todas as assertivas estão incorretas.

c) Apenas as assertivas I e II estão corretas.

d) Apenas as assertivas II e III estão corretas.

Aula 7
Exercícios de fixação
Questão 1 - B

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 160


Justificativa: Súmula 7 do STJ.
Exemplo de julgado: STJ - AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM
RECURSO ESPECIAL AgRg no AREsp 505689 RS 2014/0093187-7
(STJ) Data de publicação: 01/08/2014 Ementa: AGRAVO REGIMENTAL
NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO ANULATÓRIA DE TÍTULO DE
CRÉDITO CUMULADO COM INEXISTÊNCIA DE DÉBITO. EXIGÊNCIA DE
PREQUESTIONAMENTO. SÚMULAS 211/STF E 282/STF. NECESSIDADE DE
REEXAME DE PROVAS. SÚMULA 7/STJ. FALTA DE INDICAÇÃO EXPRESSA DE
DISPOSITIVO DE LEI CONSIDERADO VIOLADO. SÚMULA 84/STF. RECURSO
NÃO PROVIDO. 1. Na via especial, a configuração do prequestionamento é
requisito indispensável ao conhecimento da matéria. Incidência das Súmulas
211/STJ e 282/STF. 2. Não se admite o reexame de prova sem sede de
recurso especial. Inteligência do enunciado da Súmula 7/STJ.

Questão 2 - C
Justificativa: Aplicação dos artigos 105, III e 102, III, CRFB/88. Não se trata de
violação à Constituição, logo não poderia ser recurso extraordinário. Não cabe
recurso especial, por se tratar de decisão de 1ª instância. Turmas recursais não
estão em sede Tribunais (em sentido técnico) – art. 98, I, CRFB.

Questão 3 - B
Justificativa: SÚMULA 456: O Supremo Tribunal Federal, conhecendo do
recurso extraordinário, julgará a causa, aplicando o direito à espécie.

Questão 4 - A
Justificativa: Trata-se da interpretação jurisprudencial trabalhada na aula.

Questão 5 - B
Justificativa: I – Havia distinção de entendimentos nos Tribunais superiores
(STJ e STF) a respeito da matéria; o STJ não admitia o chamado
prequestionamento ficto, enquanto o STF admitia.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 161


II - O STJ, ao julgar recurso especial, não considerava como matéria
prequestionada pela simples oposição de EDecl (prequestionamento ficto);
somente o STF assim entendia.
III – “Se o tribunal a quo rejeitar os embargos de declaração sem apreciar a
tese, o respectivo extraordinário deve necessariamente indicar como violados
os dispositivos pertinentes ao referido recurso (embargos de declaração), com a
especificação objetiva do que é omisso, contraditório ou obscuro”: esse é o
entendimento do STJ (recurso especial).

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 162


Introdução
Meu caro profissional, pós-graduando, nesta última aula de nosso curso, serão
abordados, ainda, os recursos excepcionais, quais sejam, recurso especial (art.
105, III, CRFB/88) e recurso extraordinário (art. 102, III, CRFB/88), isto é, os
respectivos cabimentos.

Adicionalmente, não poderíamos deixar de tratar dos poderes do presidente ou


vice-presidente do tribunal de origem quanto ao prosseguimento ou não
(admissibilidade) desses recursos excepcionais.

Objetivo:
1. Definir, em seus exatos termos, o cabimento dos recursos excepcionais
(especial e extraordinário), tão essencial ao sistema jurídico brasileiro;
2. Tratar dos poderes do presidente ou vice-presidente do tribunal “recorrido”.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 163


Conteúdo
Recurso especial
Como se sabe, segundo o art. 105, III, da Constituição de 1988, caberá ao STJ
julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única ou última instância,
pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos Tribunais dos Estados, do Distrito
Federal e Territórios, quando a decisão recorrida:

a) Contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência;


b) Julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal;
c) Der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro
tribunal.

O intuito, claramente, é a proteção à lei e tratado federal, de maneira que


sempre que as instâncias inferiores a violarem, caberia, em última instância, o
recurso em questão ao Superior Tribunal de Justiça.

No entanto, como antes dissemos e segundo a Súmula 7 do STJ, “a pretensão


de simples reexame de prova não enseja recurso especial”. Contudo, como
lembrado por Athos Carneiro, há possibilidade de recurso especial por violação
às regras do direito probatório, entre as quais se incluem os dispositivos do CPC
e CC que cuidam da matéria – notadamente quando tratam da valoração e da
admissibilidade da prova. Podemos ler relevante julgado a respeito da matéria:

O chamado erro de valoração ou valorização das provas, invocando para


permitir o conhecimento do recurso extraordinário, somente pode ser o erro de
direito, quanto ao valor da prova abstratamente considerado. Assim, se a lei
federal exige determinado meio de prova no tocante a ato ou negócio jurídico,
decisão judicial que tenha como provado o ato ou negócio por outro meio de
prova ofende ao direito federal (...) (RE 84.699/SE).

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 164


Situações em que se admite o controle por recurso excepcional
Impõe-nos citar situações em que se admite o controle, por recurso
excepcional, da aplicação de regras do direito probatório:

Licitude da prova;

Da qualidade da prova necessária para a validade do ato jurídico;

Para uso de certo procedimento;

Do objeto da convicção;

Da convicção suficiente diante da lei processual;

Do direito material;

Do ônus da prova;

Da idoneidade das regras da experiência e das presunções;

Outras questões que antecedem a imediata relação entre o conjunto das provas
e os fatos, por dizerem respeito ao valor abstrato de cada uma das provas e
dos critérios que guiaram os raciocínios presuntivo, probatório e decisório.

Também é verdade que, na forma da Súmula 5 do STJ, “a simples


interpretação de cláusula contratual não enseja recurso especial”.

No entanto, o mero reexame de provas ou de cláusula contratual não se


confunde com a qualificação jurídica da prova ou da cláusula contratual. Esta
sim – a qualificação jurídica – pode ser analisada, por exemplo, pelo Superior
Tribunal de Justiça, no recurso especial. O que não se permite é o simples
reexame da prova ou da cláusula contratual. Perceba: quando a interpretação

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 165


da cláusula contratual determinar o tipo do contrato (se aluguel ou comodato,
por exemplo) de que se trata a causa, é possível submetê-lo ao controle
jurisdicional por meio de recurso especial.

Nesses limites, então, será cabível o Recurso Especial.

Recurso extraordinário
Agora, recorreremos ao art. 102, inciso III, da Carta de 1988, segundo o qual
caberá ao Supremo Tribunal Federal julgar, mediante recurso extraordinário, as
causas decididas em única ou última instância, quando a decisão recorrida:

a) Contrariar dispositivo desta Constituição;


b) Declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal;
c) Julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta
Constituição;
d) Julgar válida lei local contestada em face de lei federal.

É cabível recurso extraordinário, inclusive, contra decisão proferida por juiz de


primeiro grau nas causas de alçada ou por turma recursal de juizado especial
cível e criminal, como estabelecido na Súmula 640 do STF. Porém, assim como
no Especial, volta-se a impugnar decisões com essência de sentença,
especialmente. Por isso, incabível, em regra, recurso extraordinário contra
decisão que concede ou denega a antecipação dos efeitos da tutela
jurisdicional.

Diferentemente do que ocorre com o Recurso Especial, a proteção, para as


hipóteses sob estudo, são todas em prol do texto constitucional. Não por outra
razão, por ofensa a direito local, não cabe recurso extraordinário, como
estabelecido na Súmula 280 do STF, como também simples interpretação de
cláusulas contratuais não dá lugar a recurso extraordinário (Súmula 454).

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 166


Questão interessante que se coloca é o cabimento do recurso sob análise em
alegação de violação ao princípio da legalidade.

Temos a Súmula 636 do STF (“Não cabe recurso extraordinário por


contrariedade ao princípio constitucional da legalidade, quando a sua
verificação pressuponha rever a interpretação dada a normas
infraconstitucionais pela decisão recorrida”), mas a matéria instiga reflexões,
como que abaixo se descreve:

“Recurso extraordinário. Princípios da legalidade e do devido processo legal.


Normas legais. Cabimento. A intangibilidade do preceito constitucional que
assegura o devido processo legal direciona ao exame da legislação comum. Daí
a insubsistência da tese de que a ofensa à Carta da República suficiente a
ensejar o conhecimento de extraordinário há de ser direta e frontal. Caso a
caso, compete ao Supremo apreciar a matéria, distinguindo os recursos
protelatórios daqueles em que versada, com procedência, a transgressão a
texto do Diploma Maior, muito embora se torne necessário, até mesmo, partir-
se do que previsto na legislação comum. Entendimento diverso implica relegar
à inocuidade dois princípios básicos em um Estado Democrático de Direito: o da
legalidade e o do devido processo legal, com a garantia da ampla defesa,
sempre a pressuporem a consideração de normas estritamente legais.
Embargos declaratórios. Objeto. Vício de procedimento. Persistência. Devido
processo legal. Os embargos declaratórios visam ao aperfeiçoamento da
prestação jurisdicional. Cumpre julgá-los com espírito de compreensão.
Deixando de ser afastada omissão, tem-se o vício de procedimento a desaguar
em nulidade. Nulidade. Art. 249 do CPC. Colegiado. Julgamento de fundo. O
vício na arte de proceder início, à declaração de nulidade, que, no entanto, é
sobrepujada pela possibilidade de julgar-se o mérito a favor da parte a quem
aproveitaria o reconhecimento da pecha, cabendo ao Colegiado o olhar
flexível quanto à aplicação da regra processual a homenagear a razão” (RE
428.991, Rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 26-8-2008, Primeira
Turma, DJE de 31-10-2008).

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 167


Dessa forma, cabe ao recorrente apresentar, como última oportunidade de
revisão, o recurso em questão, nos limites vistos até aqui, ou seja,
devolutividade limitada à matéria constitucional, aplicando-se tudo o quanto
vimos, seja na parte geral (objetivo 1), seja a específica (objetivo 2).

Avancemos a último ponto, qual seja, a necessidade de repercussão geral, para


a admissibilidade do recurso extraordinário, nos seguintes termos (CPC/2015):
“Art. 1.035. O Supremo Tribunal Federal, em decisão irrecorrível, não
conhecerá do recurso extraordinário quando a questão constitucional nele
versada não tiver repercussão geral, nos termos deste artigo.

§1º Para efeito de repercussão geral, será considerada a existência ou não de


questões relevantes do ponto de vista econômico, político, social ou jurídico
que ultrapassem os interesses subjetivos do processo.

§2º O recorrente deverá demonstrar a existência de repercussão geral para


apreciação exclusiva pelo Supremo Tribunal Federal.

§3º Haverá repercussão geral sempre que o recurso impugnar acórdão que:

I - contrarie súmula ou jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal;

III - tenha reconhecido a inconstitucionalidade de tratado ou de lei federal, nos


termos do art. 97 da Constituição Federal.

§4º O relator poderá admitir, na análise da repercussão geral, a manifestação


de terceiros, subscrita por procurador habilitado, nos termos do Regimento
Interno do Supremo Tribunal Federal.

§5º Reconhecida a repercussão geral, o relator no Supremo Tribunal Federal


determinará a suspensão do processamento de todos os processos pendentes,

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 168


individuais ou coletivos, que versem sobre a questão e tramitem no território
nacional.

§6º O interessado pode requerer, ao presidente ou ao vice-presidente do


tribunal de origem, que exclua da decisão de sobrestamento e inadmita o
recurso extraordinário que tenha sido interposto intempestivamente, tendo
o recorrente o prazo de 5 (cinco) dias para manifestar-se sobre esse
requerimento.

§7º Da decisão que indeferir o requerimento referido no § 6º ou que aplicar


entendimento firmado em regime de repercussão geral ou em julgamento de
recursos repetitivos caberá agravo interno. (Redação dada pela Lei nº
13.256, de 2016) (Vigência)

§8º Negada a repercussão geral, o presidente ou o vice-presidente do tribunal


de origem negará seguimento aos recursos extraordinários sobrestados na
origem que versem sobre matéria idêntica.

§9º O recurso que tiver a repercussão geral reconhecida deverá ser julgado no
prazo de 1 (um) ano e terá preferência sobre os demais feitos, ressalvados os
que envolvam réu preso e os pedidos de habeas corpus.

§11. A súmula da decisão sobre a repercussão geral constará de ata, que será
publicada no diário oficial e valerá como acórdão”.

Requisito de admissibilidade do recurso extraordinário


O instituto é recente, mas instrumento semelhante já existiu. Antes da
instituição da “repercussão geral” como requisito de admissibilidade do recurso
extraordinário (EC 45/2004; art. 102, §3º, CF/88), experimentou-se o requisito
da arguição de relevância da questão afirmada para o seu conhecimento, em
sede extraordinária (art. 119, III, “a” e “d”, da CF/67, alterada pela EC 1/1969,

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 169


c/c artigos 325, I a XI, e 327, §1º, do RISTF, como a redação dada pela
Emenda Regimental 2/1985).

Não obstante tenham a função de “filtragem recursal”, a “arguição de


relevância” e a “repercussão geral” não se confundem. Enquanto a arguição de
relevância funcionava como um instituto que visava possibilitar o conhecimento
deste ou daquele recurso extraordinário – a priori incabível – funcionando como
um instituto com característica central inclusiva A, a repercussão geral visa
excluir do conhecimento do STF controvérsias que assim não se caracterizem.

Quanto ao formalismo processual, os institutos também não guardam grandes


semelhanças: a arguição de relevância era apreciada em sessão secreta,
dispensando fundamentação; a análise de repercussão geral, ao contrário,
evidentemente tem de ser examinada em sessão pública, com julgamento
motivado (art. 93, IX, da CF).

A fim de caracterizar a existência de repercussão geral e, assim, viabilizar o


conhecimento do recurso extraordinário, o legislador alçou mão de uma fórmula
que conjuga relevância e transcendência.

A questão debatida tem de ser relevante do ponto de vista econômico, político-


social ou jurídico, além de transcender o interesse subjetivo das partes na
causa. Tem de contribuir, em outras palavras, para a persecução da unidade do
direito no Estado Constitucional brasileiro, compatibilizando e/ou desenvolvendo
solução de problemas de ordem constitucional. Presente o binômio,
caracterizada está a repercussão geral da controvérsia. Não há de se cogitar de
discricionariedade no recebimento do recurso extraordinário. Configurada a
repercussão geral, tem o Supremo de admitir o recurso e apreciá-lo no mérito.

A transcendência da controvérsia constitucional


A transcendência da controvérsia constitucional levada ao conhecimento do STF
pode ser caracterizada tanto em perspectiva qualitativa como quantitativa. Na

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 170


primeira, sobreleva para individualização da transcendência o importe da
questão debatida para a sistematização e desenvolvimento do direito; na
segunda, o número de pessoas susceptíveis de alcance, atual ou futuro, pela
decisão daquela questão pelo Supremo e, bem assim a natureza do direito
posto em causa (notadamente, coletivo ou difuso).

O STF já decidiu que têm repercussão geral as causas envolvendo as limitações


constitucionais ao poder de tributar, que são direitos fundamentais dos
contribuintes, aquelas que dizem respeito à extensão do direito fundamental à
saúde, notadamente no que concerne à existência ou não de direito a
medicamento de alto custo a ser fornecido pelo estado. Quanto às causas
envolvendo as limitações constitucionais ao poder de tributar, o Supremo já
afirmou que tem repercussão geral a controvérsia atinente: (a) à necessidade
ou não de lei complementar para disciplina da prescrição e decadência em
matéria de contribuições previdenciárias; (b) à incidência do imposto de renda
pessoa física; (c) ao alcance da imunidade sobre o lucro da exportação em
termo de contribuição social.

O Código de Processo Civil afirma que, independentemente da demonstração


da relevância econômica, social, política ou jurídica para além das partes da
questão debatida, haverá repercussão geral sempre que o recurso atacar
decisão contrária à súmula ou à jurisprudência dominante do STF (inciso I do
Artigo 1.035, §3º do NCPC) ou ainda, tenha reconhecido a inconstitucionalidade
de tratado ou de lei federal, nos termos do Artigo 97 da CR/88. O desiderato
evidente aí está em se prestigiar a força normativa da Constituição, encarnada
que está, nessa senda, na observância das decisões do STF, a respeito da mais
adequada interpretação constitucional. O fito de perseguir a unidade do direito
via compatibilização vertical das decisões faz-se aqui evidente.

A não observância das decisões do STF obviamente debilita a força normativa


da Constituição, o que já indica, desde logo, a relevância e a transcendência da
questão levantada no recurso extraordinário interposto reclamando a

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 171


adequação da decisão ao posicionamento do STF. Importa que a Constituição
seja concretizada – a todos interessa essa fiel observação.

Poderes do presidente ou vice-presidente dos tribunais de


“origem” quanto aos recursos excepcionais
Não poderíamos deixar de tratar dessa relevante matéria, relativa à
admissibilidade dos recursos excepcionais, no tribunal de origem, de que
tratam, em especial, os Artigos 1.030 e 1.042 do CPC/2015.

De acordo com o Artigo 1.030, portanto, recebida a petição do recurso pela


secretaria do tribunal, o recorrido será intimado para apresentar contrarrazões
no prazo de 15 (quinze) dias, findo o qual os autos serão conclusos ao
presidente ou ao vice-presidente do tribunal recorrido, que deverá, em especial,
quanto à admissibilidade dos recursos excepcionais:

a) Negar seguimento ao recurso, por já ter o STF deixado de reconhecer


repercussão geral sobre a matéria ou já houver se manifestado (o STF) sobre a
matéria, em repercussão geral, de forma favorável ao entendimento do acórdão
recorrido (1.030, I, “a”), ou esteja este mesmo acórdão recorrido em
consonância com entendimentos exarados em recursos repetitivos
anteriormente (1.030, I, “b”).

b) Conforme o caso, Inadmitir o recurso (por exemplo, por falta de algum


requisito de admissibilidade, como intempestividade) ou admiti-lo e, neste caso,
remetê-lo ao respectivo Tribunal Superior (STJ, no caso de recurso especial e
STF, no caso de recurso extraordinário), desde que o recurso ainda não tenha
sido submetido ao regime de repercussão geral ou de julgamento de recursos
repetitivos (art. 1030, V, CPC2015);

Frise-se que, enquanto na hipótese anterior (citada pertinente ao art. 1030, I) o


recurso cabível era o agravo Interno, neste caso (do art. 1030, V), será possível
recorrer diretamente ao Tribunal Superior (ainda que protocolado no juízo a

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 172


quo), como previsto no art. 1030, § 1º, por meio do RECURSO DE AGRAVO,
previsto no art. 1042, CPC2015.

Observamos, claramente, 3 (três) situações de inadmissibilidade:

(a.1) Não admitir por que os fundamentos do recorrente se referem à matéria


sem repercussão geral;

(a.2) Não admitir por que os fundamentos do recorrente são contrários ao


entendimento do STF, ainda que sobre matéria com repercussão geral;

(a.3) Não admitir por que os fundamentos do recorrente são contrários ao


entendimento do STJ ou STF, que se manifestaram sobre a matéria em
recursos repetitivos.

Observa-se o que há de comum nas 3 (três) situações: entendimentos prévios


sobre a matéria pelas duas mais altas cortes contra os fundamentos dos
recorrentes, sendo certo que, nestes casos, nem mesmo recurso a esses
tribunais superiores é cabível, mas, sim, recurso de agravo interno (aquele
previsto no Artigo 1.021, CPC/2015), como dispõe o Artigo 1.030, §2º do novo
CPC.

Bem, mas este recurso, como se sabe, é julgado tão somente no próprio
tribunal a quo, de maneira que, uma vez improvido, não se enxerga, ao menos
a princípio, outro recurso por meio do qual se poderia provocar a análise pelo
tribunal superior respectivo. A respeito de alguns autores sobre este tema,
temos:

Flexa (2016, p. 774), por exemplo, ressalta que o legislador buscou estabelecer
e demonstrar a importância dos precedentes, prestigiando-se, pois, a função
constitucional outorgada ao STF e STJ, ainda que a forma com que foi tratada
tenha sido alvo de críticas, como ressaltado pelo próprio autor (p. 774 e 775): o

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 173


cabimento do agravo interno “não foi bem recebido pela doutrina”, por se dar
um poder incomensurável aos tribunais de origem. Neste contexto, o recorrente
não conseguirá chegar aos tribunais superiores, com base naquelas decisões.

Lenio Streck e Dierle Nunes, por exemplo, ressaltam: “Parece que a ideia do
‘projeto’ repete o estilo ‘organizações tabajaras – seus problemas acabaram’: se
eu, tribunal superior, julguei um caso repetitivo, você, patuleu, não me venha
mais com churumelas (ou coisas desimportantes); simplesmente aplique
mecanicamente meu entendimento celestial e, perceba, nem existirá mais
recurso que consiga me fazer mudar de entendimento”.
(www.academia.edu/19895279/senado_vai_permitir_a_multa_do_novo_CPC_a
ntes_de_entrar_em_vigor; consulta em: 27.1.2016).

Imagine-se, por exemplo, que se esteja retendo, no tribunal de origem,


determinado recurso, sob fundamento de que sua matéria estaria abarcada por
um recurso repetitivo já julgado, quando, na verdade, as matérias de um e
outro seriam distintas. Como se combater tal irregularidade caso o agravo
interno seja desprovido?

Didier (2016, p. 645-646) bem ressalta que “o recorrente poderá demonstrar


que seu caso é distinto, a justificar a não aplicação dos precedente obrigatórios
referidos no inciso I do Artigo 1.030 do CPC. Não provido o agravo interno, ao
recorrente caberá reclamação para o STF ou STJ, nos termos do inciso II do
§5º do Artigo 988 do CPC: o agravo interno terá exaurido as instâncias
ordinárias de impugnação da decisão e, com isso, terá sido preenchido o
pressuposto da reclamação para o STF ou STJ previsto neste inciso”.

O Agravo normatizado pelo Artigo 1.042


Tratemos, pois, já em clima de despedida da aula, do aludido agravo
(normatizado pelo Artigo 1.042):

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 174


Somente é cabível agravo contra decisão do presidente ou do vice-presidente
do tribunal recorrido que inadmitir recurso extraordinário ou recurso especial,
se não o for por meio de decisão fundada na aplicação de entendimento
firmado em regime de repercussão geral ou recursos repetitivos.

Voltemos à situação e críticas antes mencionadas: o legislador demonstra,


novamente, sua pouca (ou, por vezes, nenhuma) democracia jurisdicional na
medida em que, deliberadamente, impede o jurisdicionado de ver seus
instrumentos chegarem aos tribunais superiores, sob o fundamento de que eles
(instrumentos) estariam em desacordo com os entendimentos firmados em
oportunidades anteriores (em repercussão geral ou recursos repetitivos).

Aquele que interpuser, por exemplo, um recurso especial sob violação de um


artigo X, de lei federal, cuja matéria, entenda o tribunal de origem, já ter sido
abrangida por repetitivo, não poderá valer-se do Artigo 1.042 do CPC/2015,
mas, sim, como vimos, do Artigo 1.021 do CPC/2015.

A petição de agravo será dirigida ao presidente ou ao vice-presidente do


tribunal de origem e independe do pagamento de custas e despesas postais,
aplicando-se a ela o regime de repercussão geral e de recursos repetitivos,
inclusive quanto à possibilidade de sobrestamento e do juízo de retratação.

O agravado será intimado, de imediato, para oferecer resposta no prazo de 15


(quinze) dias.

Após o prazo de resposta, não havendo retratação, o agravo será remetido ao


tribunal superior competente.

O agravo poderá ser julgado, conforme o caso, conjuntamente com o recurso


especial ou extraordinário, assegurada, neste caso, sustentação oral,
observando-se, ainda, o disposto no regimento interno do tribunal respectivo.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 175


Na hipótese de interposição conjunta de recursos extraordinário e especial, o
agravante deverá interpor um agravo para cada recurso não admitido.

Havendo apenas um agravo, o recurso será remetido ao tribunal competente e,


havendo interposição conjunta, os autos serão remetidos ao Superior Tribunal
de Justiça.

Concluído o julgamento do agravo pelo Superior Tribunal de Justiça e, se for o


caso, do recurso especial, independentemente de pedido, os autos serão
remetidos ao Supremo Tribunal Federal para apreciação do agravo a ele
dirigido, salvo se estiver prejudicado.

Referências
DIDIER JUNIOR, Fred e CUNHA, Leonardo José Carneiro, Curso de Direito
Processual Civil, 8 ed. v.3. Salvador: Jus Podium, 2010, p. 19.
CAMARA, Alexandre Freitas. O novo processo civil brasileiro. São Paulo: Atlas,
2015.
DIDIER JUNIOR, Fred. Curso de Direito Processual Civil, 17 ed. v.1.
Salvador: Jus Podium, 2015.
DIDIER JUNIOR, Fred, BRAGA, Paula Sarmo, OLIVEIRA, Rafael Alexandria.
Curso de Direito Processual Civil, 11 ed. v.2. Salvador: Jus Podium, 2016.
DIDIER JUNIOR, Fred, CUNHA, Leonardo Carneiro. Curso de Direito
Processual Civil, 13 ed. v.3. Salvador: Jus Podium, 2016.
DONIZETTI, Elpidio. Curso didático de direito processual civil. 19 ed. São
Paulo: Atlas, 2016.
FLEXA, Alexandre, MACEDO, Daniel, BASTOS, Fabrício. Novo Código de
Processo Civil – temas inéditos, mudanças e supressões.2 ed. Salvador:
Jus Podium, 2016.
MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao Código de Processo Civil.
11. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2003. v. 5. p. 233.
SARLET, Ingo Wolfgang. Curso de direito constitucional. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2014.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 176


SOKAL, Guilherme Jales. A impugnação das decisões interlocutórias no
processo civil. In: FUX, Luiz (Coord.). O novo processo civil brasileiro –
direito em expectativa. Rio de Janeiro: Forense, 2011.
PINHO. Humberto Dalla Bernadina de Pinho. Direito processual civil
contemporâneo – teoria geral do processo. 6 ed. São Paulo: Saraiva,
2016.
THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. 56 ed.
Vol. I. Rio de Janeiro: Forense, 2015.
THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. 50 ed.
Vol. II. Rio de Janeiro: Forense, 2016.
THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil – teoria
geral do direito processual civil e o processo de conhecimento. 52. ed.
Rio de Janeiro: Forense, 2011. v. 1.
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Súmulas e inadmissibilidade da apelação.
In: FREIRA, Rodrigo da Cunha Lima (Coord.). Salvador: JusPodivm, 2007.
WAMBIER, Luiz Rodrigues; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Breves
comentários à 2ª fase da Reforma do Código de Processo Civil. 2. ed.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002.
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Revista de processo - REPRO. Ano 36 –
192. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011.

Exercícios de fixação
Questão 1

Opte pela alternativa correta a respeito dos recursos excepcionais:

a) O CPC/2015 elevou a repercussão geral, que passou a ser obrigatória


também como requisito de admissibilidade ao recurso especial.

b) A fim de caracterizar a existência de repercussão geral, e, assim,


viabilizar o conhecimento do recurso extraordinário, o legislador alçou
mão de uma fórmula apenas, que conjuga relevância e transcendência,
qual seja, a questão debatida tem de ser relevante do ponto de vista

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 177


econômico, político social ou jurídico, além de transcender o interesse
subjetivo das partes na causa.

c) A “arguição de relevância” e a “repercussão geral” confundem-se, ou


seja, têm a função de “filtragem recursal” e os mesmos requisitos.

d) A repercussão geral é um requisito de admissibilidade ao recurso


extraordinário, de exclusiva apreciação pelo STF, sendo certo que a
presunção é de que ela exista, a partir do preenchimento dos demais
requisitos, tanto que o quórum para negativa é qualificado.

Questão 2

Opte pela alternativa correta, após analisar as assertivas abaixo a respeito dos
recursos excepcionais:

I - A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial;

II - Há possibilidade de recurso especial por violação ás regras do direito


probatório;

III - Se a lei federal exige determinado meio de prova no tocante a ato ou


negócio jurídico, decisão judicial que tenha como provado o ato ou negócio por
outro meio de prova ofende ao direito federal.

a) Todas as assertivas estão corretas.

b) Todas as assertivas estão incorretas.

c) Apenas as assertivas I e II estão corretas.

d) Apenas as assertivas II e III estão corretas.

Questão 3

Opte pela alternativa INcorreta:

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 178


a) Sempre que houver multiplicidade de recursos extraordinários ou
especiais com fundamento em idêntica questão de direito, haverá
afetação para julgamento de acordo com as disposições desta Subseção,
observado o disposto no Regimento Interno do Supremo Tribunal
Federal e no do Superior Tribunal de Justiça.

b) O interessado pode requerer, ao presidente ou ao vice-presidente, que


exclua da decisão de sobrestamento e inadmita o recurso especial ou o
recurso extraordinário que tenha sido interposto intempestivamente,
tendo o recorrente o prazo de 5 (cinco) dias para manifestar-se sobre
esse requerimento. Da decisão que indeferir o requerimento referido,
caberá apenas agravo de instrumento;

c) Selecionados os recursos repetitivos, o relator, no tribunal superior,


constatando a presença do pressuposto do caput do art. 1.036, proferirá
decisão de afetação, na qual: I - identificará com precisão a questão a
ser submetida a julgamento; II - determinará a suspensão do
processamento de todos os processos pendentes, individuais ou
coletivos, que versem sobre a questão e tramitem no território nacional;
III - poderá requisitar aos presidentes ou aos vice-presidentes dos
tribunais de justiça ou dos tribunais regionais federais a remessa de um
recurso representativo da controvérsia.

d) Cabe agravo contra decisão do presidente ou do vice-presidente do


tribunal recorrido que inadmitir recurso extraordinário ou recurso
especial, salvo quando fundada na aplicação de entendimento firmado
em regime de repercussão geral ou em julgamento de recursos
repetitivos.

Questão 4

Determinado recurso especial não foi recebido, sob fundamento de que a


decisão recorrida estava fundada na aplicação de entendimento firmado em

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 179


regime de repercussão geral ou em julgamento de recursos repetitivos. Contra
esta decisão, cabe:

a) Recurso de apelação.

b) Outro recurso especial.

c) Agravo interno.

d) Agravo inominado.

Questão 5

Foi movida ação de indenização em sede do Juizado Especial Cível não


fazendário, contra cuja sentença foi interposto o chamado recurso inominado.
Contra o acórdão a ser proferido em julgamento desde recurso, seria, em tese,
cabível:

a) Ambos os recursos excepcionais.

b) Recurso extraordinário.

c) Recurso especial.

d) Pedido de Uniformização.

Aula 8
Exercícios de fixação
Questão 1 - D
Justificativa: 102, § 3º CRFB: No recurso extraordinário o recorrente deverá
demonstrar a repercussão geral das questões constitucionais discutidas no
caso, nos termos da lei, a fim de que o Tribunal examine a admissão do
recurso, somente podendo recusá-lo pela manifestação de dois terços de seus
membros. (Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 180


Questão 2 - A
Justificativa: I - A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso
especial;
SUMULA 7, STJ
II - Há possibilidade de recurso especial por violação às regras do direito
probatório;
Leia a exposição abaixo:
“É pacífica a orientação dos tribunais superiores de não admitir recursos
excepcionais para a simples revisão de prova, tendo em vista o seu caráter de
controle da higidez do direito objetivo (enunciados 279 e 7 da jurisprudência
predominante do STF e do STJ, respectivamente). Isso decorre de uma velha
lição: não é possível a interposição de recurso excepcional para a revisão de
matéria de fato. Não cabe recurso extraordinário com o objetivo de o tribunal
superior reexaminar prova, tendo em vista que esse pleito não se encaixa em
qualquer das hipóteses de cabimento desses recursos. No entanto, há
possibilidade de recurso especial por violação às regras do direito probatório,
entre as quais se incluem os dispositivos do CPC e CC que cuidam da matéria –
notadamente quando tratam de valoração e da admissibilidade da prova. Como
bem observou Athos Carneiro: “a questão da valorização da prova, no entanto,
exsurge como questão de direito, capaz de propiciar a admissão do apelo
extremo”. Também é possível imaginar recurso extraordinário para discutir a
utilização de prova ilícita, que é vedada constitucionalmente.(...) Luiz Guilherme
Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart enumeram diversas situações em que se
admite o controle, por recurso excepcional, da aplicação de regras do direito
probatório: “i) ilicitude da prova; ii) da qualidade da prova necessária par a
validade do ato jurídico; iii) para uso de certo procedimento; iv) do objeto da
convicção; v) da convicção suficiente diante da lei processual e; vi) do direito
material; vii) do ônus da prova; viii) da idoneidade das regras de experiência e
das presunções; ix) além de outras questões que antecedem a imediata relação
entre o conjunto das provas e os fatos, por dizerem respeito ao valor abstrato
de cada uma das provas e dos critérios que guiaram os raciocínios presuntivo,
probatório e decisório.” É preciso distinguir o recurso excepcional interposto

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 181


para discutir a apreciação da prova, que não se admite, daquele que se
interpõe para discutir a aplicação do direito probatório, que é uma questão de
direito e, como tal, passível de controle por esse gênero de recurso.”
Bibliografia: DIDIER JR., Fredie. Curso de Direito Processual Civil. Vol. 3.
Salvador: Editora JusPODIVM, 2010.
III - Se a lei federal exige determinado meio de prova no tocante a ato ou
negócio jurídico, decisão judicial que tenha como provado o ato ou negócio por
outro meio de prova ofende ao direito federal.
Veja o julgado abaixo:
Data de publicação: 15/04/2002
Ementa: PROCESSO CIVIL. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL.
INOCORRÊNCIA. VALORAÇÃO DA PROVA. OFENSA A PRINCÍPIO NO CAMPO
PROBATÓRIO. INEXISTÊNCIA. COMPETÊNCIA. TRIBUNAIS DE ALÇADA E DE
JUSTIÇA. LEI DE ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA. LEI LOCAL. ENUNCIADO N.
280 DA SÚMULA/STF. RECURSO DESACOLHIDO. I - Como admiravelmente
ressaltou o Ministro Rodrigues Alckmin, "o chamado erro na valorização ou
valoração das provas, invocado para permitir o conhecimento do recurso
extraordinário, somente pode ser o erro de direito, quanto ao valor da prova
abstratamente considerado. Assim, se a lei federal exige determinado meio de
prova no tocante a certo ato ou negócio jurídico, decisão judicial que tenha
como provado o ato ou negócio jurídico por outro meio de prova ofende o
direito federal. Se a lei federal exclui certo meio de prova quanto a
determinados atos jurídicos, acórdão que admita esse meio de prova excluído
ofende à lei federal. Somente nesses casos há direito federal sobre prova,
acaso ofendido, a justificar a defesa do ius constitutionis.

Questão 3 - B
Justificativa: Art. 1.036. Sempre que houver multiplicidade de recursos
extraordinários ou especiais com fundamento em idêntica questão de direito,
haverá afetação para julgamento de acordo com as disposições desta
Subseção, observado o disposto no Regimento Interno do Supremo Tribunal
Federal e no do Superior Tribunal de Justiça.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 182


1036, § 2o O interessado pode requerer, ao presidente ou ao vice-presidente,
que exclua da decisão de sobrestamento e inadmita o recurso especial ou o
recurso extraordinário que tenha sido interposto intempestivamente, tendo o
recorrente o prazo de 5 (cinco) dias para manifestar-se sobre esse
requerimento. § 3º Da decisão que indeferir o requerimento referido no § 2º
caberá apenas agravo interno.
Art. 1.037. Selecionados os recursos, o relator, no tribunal superior,
constatando a presença do pressuposto do caput doart. 1.036, proferirá decisão
de afetação, na qual:I - identificará com precisão a questão a ser submetida a
julgamento; II - determinará a suspensão do processamento de todos os
processos pendentes, individuais ou coletivos, que versem sobre a questão e
tramitem no território nacional; III - poderá requisitar aos presidentes ou aos
vice-presidentes dos tribunais de justiça ou dos tribunais regionais federais a
remessa de um recurso representativo da controvérsia.
Art. 1.042. Cabe agravo contra decisão do presidente ou do vice-presidente do
tribunal recorrido que inadmitir recurso extraordinário ou recurso especial, salvo
quando fundada na aplicação de entendimento firmado em regime de
repercussão geral ou em julgamento de recursos repetitivos.

Questão 4 - C
Justificativa: Conforme art. 1042, CPC: Cabe agravo contra decisão do
presidente ou do vice-presidente do tribunal recorrido que inadmitir recurso
extraordinário ou recurso especial, salvo quando fundada na aplicação de
entendimento firmado em regime de repercussão geral ou em julgamento de
recursos repetitivos. E, conforme art. 1030, § 2º : da decisão proferida com
fundamento nos incisos I e III caberá agravo interno, nos termos do art. 1.021.

Questão 5 - B
Justificativa: Possível aplicação do art. 102, III, da CRFB/88.

PROCESSO NOS TRIBUNAIS E A FORÇA DOS PRECEDENTES 183


Ubirajara da Fonseca Neto é Doutorando e Mestre em Direito pela
Universidade Estácio de Sá (UNESA/RJ). Especialista em Direito Civil e Processo
Civil pela Universidade Federal Fluminense (RJ) e Graduado em Direito pela
Universidade Candido Mendes (UCAM/RJ) (1999). Membro do IBDP (Instituto
Brasileiro de Direito Processual). Professor dos Cursos de Graduação e Pós-
Graduação em Direito da Universidade Estácio de Sá. Advogado militante no
Estado do Rio de Janeiro. Autor de vários artigos e obras jurídicas, dentre as
quais “Curso de Direito Processual Civil” e “Novo Curso de Direito processual
civil” (ambos, pela Editora Freitas Bastos).

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