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psicóloga de Curitiba, a professora Ana Luisa Testa (Terapia em Dia). Cheguei até o blog da professora
Ana Luisa ao fazer uma pesquisa sobre o arquétipo do Trickster, e caí diretamente em um texto sobre o
tema (O arquétipo do Trickster - O pregador de peça).
Gostei muito da definição que Ana Luisa deu para arquétipo, clara e simples. Vamos a ela: Arquétipos
seriam como imagens que residem dentro da estrutura do inconsciente coletivo, seriam como modelos
de comportamento humano herdados psicologicamente. Temos vários deles: o herói, a mãe, o pai, o
curador, o salvador, o deus, o diabo, etc. e esses modelos configuram a forma que nos relacionamos
com o mundo.
De certa forma, todos nós temos uma ideia do que representam essas figuras que são chamadas
arquetípicas, e suas imagens costumam ser muito semelhantes ao longo da história da humanidade. O
arquétipo da mãe, a representação psicológica da figura materna, é ainda hoje praticamente a mesma
desde o início das civilizações.
O arquétipo do trickster (trapaceiro, louco, brincalhão, pregador de peças), foi descrito por Carl Gustav
Jung em um ensaio publicado no livro Os arquétipos e o inconsciente coletivo. Trata de uma imagem
arquetípica, que pode ser encontrada em diversos mitos das mais variadas civilizações. Hermes, na
Grécia como um deus astuto e pregador de peças, Loki, nos países nórdicos, um deus anárquico que
trama contra os demais deuses, Exu no sincretismo religioso brasileiro como um agente de uma nova
ordem, e ao longo da história da humanidade como bobos da corte, palhaços, malandros e bufões que
que já eram descritos no Egito antigo, na China, no Tibet.
OUYTRO SITE:
https://spsicologos.com/2018/07/29/o-querido-agente-do-caos-chamado-
trickster/
Preâmbulo
Este texto faz parte de uma apresentação de trabalho
acadêmico, que realizei em 2015, com o tema “o arquétipo do
trickster e a figura do saci”, pela disciplina de Teoria e
Técnica Analítica, do Curso de Psicologia, das Faculdades
Metropolitanas Unidas (FMU). Foi revisado e ampliado para
as finalidades desta publicação.
A Função do Trickster
The Trickster,
por Mel Ramos, 1962.
Então, o que seria o trickster? De acordo com alguns
dicionários e traduções literais, podemos chamá-lo de
trapaceiro, malandro, impostor, vigarista, intrujão,
embusteiro e até pícaro. Mas não devemos confundi-lo com o
vilão. O vilão ocupa um outro lugar no mito do herói e possui,
além de outras características, outro objetivo ou outra função.
“Aqui vale a pena fazer uma pausa para explicar que o Diabo e
o trickster não são a mesma coisa, embora tenham sido
confundidos com frequência.* Os que os confundem o fazem
porque deixaram de perceber a grande ambivalência do
trickster. O Diabo é um agente do mal, mas o trickster
é amoral”.
(Hyde, 2017, p. 20)
Sendo assim, antes de entrarmos nas características e funções
do trickster, eu vou trazer um outro recorte teórico que vai
complementar a explanação anterior sobre o mito do herói e
preparar o terreno para compreendemos melhor a figura do
trickster.
Jung e Campbell
Carl G. Jung
É sabido que Carl G. Jung foi um nome de referência no
estudo da mitologia e dos arquétipos e, tendo contato com este
trabalho, um estudioso norte-americano chamado Joseph
Campbell sentiu-se levado a fazer uma análise profunda das
ideias deste psicólogo suíço, produzindo um trabalho
riquíssimo conhecido como monomito ou a jornada do herói.
Trata-se esta, de uma visão do fenômeno mitológico, apoiada
no método estruturalista, ao passo que vai afirmar que existem
padrões, ou seja, estruturas universais que alicerçam todas as
narrativas. A tese do autor é de que todos os mitos seguem
essa estrutura em algum grau. Isto é, as histórias de Prometeu,
Osíris, Buda, Jesus Cristo, todas seguem este paradigma quase
exatamente. Em 1949, Campbell publicou o livro “O Herói de
Mil Faces”, em que demonstra que cada herói adquire a face
de sua cultura específica, mas sua jornada é sempre a mesma,
vivendo sempre o mesmo mito, um “monomito”. Então vamos
descobrir que jornada é essa! Lembrem-se que os personagens
principais dividem-se em: protagonistas, que agem e fazem
as coisas acontecerem, e os antagonistas que assumem uma
posição oposta aos primeiros – é o clássico conflito de luz x
sombra.
Trickster, por
Bill Lewis, 1992.
Jung estudou o trickster como um arquétipo humano básico.
Ele acreditava que era parte do inconsciente coletivo
compartilhado pela raça humana. Ele supôs que o trickster
estaria representado pela nossa própria natureza básica, o
animal que tínhamos deixado para trás e como nós
aprendemos a dominar ferramentas e fogo. Dentro da
psicologia o trickster tem sido visto como uma espécie de id,
ou, em se tradando de Jung, uma sombra de nossa
verdadeira natureza. O que nos faz voltar para o começo do
texto, colocando o trickster na lacuna, na sombra do herói. “O
trickster é ao mesmo tempo criador e destruidor, doador e
negador, ele engana os outros e está sempre enganando a si
mesmo”.
“Em contos picarescos, na alegria desenfreada do carnaval, em
rituais de cura e magia, nas angústias e iluminações religiosas,
o fantasma do “trickster” se imiscui em figuras ora
inconfundíveis, ora vagas, na mitologia de todos os tempos e
lugares , obviamente um “psicologema”, isto é, uma estrutura
psíquica arquetípica antiqüíssima. Esta, em sua manifestação
mais visível, é um reflexo fiel de uma consciência humana
indiferenciada em todos os aspectos, correspondente a uma
psique que, por assim dizer, ainda não deixou o nível animal”.
(Jung, 2000, p. 256)
Referencias
Campbell, J. (1989). O herói de mil faces. São Paulo:
Cultrix/Pensamento.
Hyde, L. (2017). A astúcia cria o mundo. Trickster: trapaça,
mito e arte. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.
Jung, C. G. (2000). Os arquétipos e o inconsciente coletivo.
Petrópolis: Vozes.
Radin, P. (1956). The trickster: a study in american indian
mythology. New York: Schocken Books.
OUTRO:
https://www.ligajunguiana.com.br/post/o-arqu%C3%A9tipo-trickster
kaueluizdavid
o 1 de Nov de 2019
o
o 6 minutos para ler
O Arquétipo Trickster
Atualizado: Mai 18
Após algumas inspirações, decidi falar sobre esse que é um dos arquétipos
que mais chama a atenção dentro de estudos psicológicos e também
antropológicos. Vamos falar um pouco hoje sobre o contorno arquetípico do
trickster e suas características nas mitologias e breves correlações com a
psicoterapia analítica.
"O "trickster" é um ser originário "cósmico", de
natureza divino-animal, por um lado, superior ao
homem, graças à sua qualidade sobre-humana e, por
outro, inferior a ele, devido à sua insensatez
inconsciente." (Jung, OC, Vol 9/1)
Sabendo que o trickster, em toda sua errância, segue uma lógica própria,
jamais a estabelecida pela norma vigente, pode-se dizer que ele não é um
fruto do meio mas, sim, uma extensão da psique coletiva; ele é justamente o
agente que quebra com a norma do meio, questiona com toda a sua
sagacidade aquilo que se conhece conscientemente. Um fato importante é
relatar que muitos dos personagens tricksters são retratados como homens.
São raríssimas as personagens tricksters femininas, um exemplo seria no
folclore japonês a raposa Kitsune, animal capaz de assumir forma humana,
normalmente belas mulheres que enganam as pessoas e também podem ser
fiéis guardiãs de templos sagrados.
Não é por esse ato singular que Hércules se torna um trickster, mas mostra
que este arquétipo é um aspecto que habita o próprio herói, faz parte da
realidade da psique coletiva. E já que falamos de psique coletiva,
encontramos tricksters em praticamente qualquer narrativa, como o Saci
Pererê e sua astúcia no folclore tupi-guarani; Zé Pelintra e sua malandragem
como figura popular afro-brasileira.
Agradeço por terem lido até aqui, finalizo com uma última citação que
dialoga perfeitamente com o vídeo na sequência, aonde vemos o deus
africano Anansí, senhor das histórias, dando o exemplo de como um
trickster age dentro de uma narrativa. Aproveitem!