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“A Língua das Mariposas” - do vôo à queda.

* Ser Professor...

Ser professor é um ato de generosidade. É permitir ao educando ser alguém ativo


na construção de seu conhecimento e no traçar de sua própria vida. Humildade,
sensibilidade e paciência são virtudes essências para o exercício desta profissão, deste dom.
Sempre que penso em professor, lembro me de uma professora maravilhosa de
literatura que tive no ensino médio da escola pública Fidelino de Figueiredo. Ela era
realmente um ser evoluído, pela maneira dela falar, se colocar em relação à sua disciplina.
Ela encantava alunos selvagens até minutos atrás, na aula anterior. Ela fazia chorar o mais
“durão” da sala e fazia falar a mais monossilábica. Era realmente uma unanimidade entre
todos os alunos do primeiro ano. Todos a adoravam e a respeitavam, e ai de quem a faltasse
com respeito, era “pego na saída”.
Seu nome era Loredane, muito semelhante ao professor Don Gregório do filme “A
Língua das Mariposas” de José Luiz Corda. A película traduz poeticamente toda a essência
desta função que se encontra, não somente no professor institucionalizado (dentro de uma
escola, universidade), mas muitas vezes em alguém especial em nossas vidas que se torna
um verdadeiro mestre. Assim como Jesus Cristos para seus discípulos, assim como a
Loredane em meus tempos de escola. É que este ato de generosidade a que me refiro está
justamente presente nas coisas mais simples da vida, como no amor com que você ensina
algo a alguém, sem segundos interesses, pelo simples prazer de trocar experiências, de
mostrar caminhos, de construir idéias.
A magia instaurada por esse educador pode se observada nos momentos mais
singelos do filme, como quando o professor pede silêncio aos alunos insistentemente e sem
obter sucesso, para, vai até a janela e diz: “Se vocês não se calam, calo eu”. Outro momento
belíssimo é quando o professor vai mostrar a língua de uma mariposa para Moncho em um
microscópio que a escola finalmente recebera, e percebe que, o grande interesse do garoto,
naquele momento, não são mais as mariposas e sim uma amiga (pela qual ele tem
sentimentos) que brinca no rio com outras crianças. Então o professor muito atento a esse
“despertar” do garoto lhe dá uma grande lição, fazendo o menino associar um aprendizado
obtido com ele a respeito dos tirono.... para “conquistar” a garotinha oferecendo-lhe uma
flor. Ele o ensina a voar com suas próprias asas.
O filme em questão ressalta outro aspecto que é a eterna busca do conhecimento.
Esta necessidade vale tanto para nossa própria formação, como para o desenvolvimento e
aprimoramento dos educandos. A leitura, tanto escrita como a leitura de mundo, são
cruciais para a nossa evolução, maturação. Transformar a leitura em um hábito prazeroso,
uma fonte de investigação de si e da sociedade. É conhecendo que podemos exorcizar os
preconceitos e a censura que tanto aprisionam os pensamentos. Don Gregório incentiva a
leitura de livros, contava histórias com o fim de despertar o interesse pelo saber. Ele
suscitava a curiosidade de Moncho cujo, o medo de encarar uma escola tida como rígida,
autoritária, que impunha castigos aos alunos, é superado pelo encontro com um professor
impar na história daquela escola, um mestre que faz o garoto se apaixonar pela escola e se
dedicar às tarefas e às aulas por ele ministradas.
O aprendizado ali não se restringia apenas à sala de aula, Don Gregório ensinava
mais que conteúdo, ele dava lições de vida, formava o caráter, ensinando-os a ter respeito,
cooperação, sensibilizando-os na defesa de seus ideais e de certa forma, dando a
possibilidade de um olhar crítico sobre o mundo, tudo com muita serenidade e sabedoria.
A humildade presente em seu posicionamento com as crianças, famílias e
comunidade, a paciência em lidar com as peculiaridades de cada aluno, sua postura firme e
ao mesmo tempo tranqüila para resolver os problemas e entraves do dia a dia e,
principalmente a sensibilidade, faz dele um mestre, um guia dos sentimentos, sonhos e
aspirações de cada um. Acredito que um professor pode tanto nos propiciar o vôo como
também a queda. E estar atento a este “poder” é fundamental. Concordo com Shakespeare
quando disse “Somos feitos da mesma matéria dos sonhos” e acrescento que, destruir
nossos sonhos é destruir nossa essência, nosso sopro, nossa única chama de esperança de
que um dia possa haver mudança.
Ser professor é permitir que esta chama mantenha-se sempre acesa, pois sem dúvida
é ela que nos torna pulsantes e nos lembrará que todos nós somos humanos. Deixar de
aprender é deixar de respirar.

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