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Marcos Alfredo Corrêa

A EDUCAÇÃO NA GRÉCIA ANTIGA

Entre os povos da antiguidade, em matéria de educação, os gregos são os que mais se


sobre saem, e na Grécia Antiga que surgem as primeiras teorias educacionais. A
compreensão de cultura e do lugar ocupado pelo individuo na sociedade reflete-se no
ensino e nas próprias teorias.
A educação participa na vida e no crescimento da sociedade, tanto no seu
destino exterior como na sua estruturação interna e desenvolvimento
espiritual; e, uma vez que o desenvolvimento social depende da consciência
dos valores que regem a vida humana, a história da educação está
essencialmente condicionada pelos valores válidos para cada sociedade.
(JAEGER, 1994, p. 05).
A educação grega estava centrada na formação integral – corpo e espírito – a ênfase da
educação se demandava mais, ora para o preparo militar ou esportivo, ora para o debate
intelectual conforme a época e o lugar. Quando não existia a escrita, a educação era
dada pelas famílias seguindo a tradição religiosa, os jovens da elite eram deixados a
cargo dos preceptores. Com o surgimento das Polis nascem as primeiras escolas, mas
mesmo com o aparecimento da oferta escolar, a educação permanecia elitizada atendia
principalmente os filhos da antiga nobreza e os pertencentes a famílias de comerciantes
ricos. Na sociedade escravagista grega existia o “Ócio digno”, que significava dispor de
tempo livre, privilegio de quem não precisava cuidar do sustento, mas não se deve
confundir o “Ócio digno” com o “fazer nada”, ele alude a ocupar-se com as funções de
governar, pensar, guerrear.
Não é por acaso que a palavra grega para escola (scholé) significava
inicialmente o lugar do ócio. (ARANHA, 2006, p. 62)
A educação física que era predominantemente militar começa a ser orientada para os
esportes, o hipismo era um esporte elegante e restrito aos mais abastados, pois era de
manutenção cara, com o passar do tempo o atletismo ampliou a participação do público
que freqüentava os ginásios, nessas escolas voltadas mais para os esportes o ensino das
letras e dos cálculos levou mais tempo para se disseminar. O aspecto comum às Polis
gregas era o de que a transmissão de cultura não era prerrogativa somente das escolas
ou das famílias, as Polis continuavam educando nas inúmeras atividades coletivas,
reuniões políticas, administrativas e jurídicas, nos jogos, nas artes e na arquitetura, nas
representações dramáticas. Na Grécia Antiga o teatro era a escola de todos os cidadãos,
a educação grega tinha duas finalidades ou objetivos: desenvolver o cidadão fiel ao
estado e formar o homem com plena harmonia e domínio de si, prepará-lo para a
cidadania e os deveres cívicos.
A Educação espartana
Com caráter na essência militar, a educação espartana incluía o aprendizado do oficio
das armas, e se limitava quase exclusivamente ao treinamento militar. Até os doze anos
as crianças espartanas recebiam uma educação mais lúdica por assim dizer, aprendiam
música e poesia, depois a educação física se transformava em um treino militar, tinham
que suportar frio, fome, dormir sem conforto algum, vestir-se de forma simples, a
educação moral dava ênfase a obediência, a aceitação dos castigos físicos e o respeito
aos mais velhos, privilegiava a vida comunitária. O ideal de cavalheiro dos tempos
homéricos foi substituído pelo devotamento ao estado, o ensino da poesia e da música
tornou-se quase nulo. Os espartanos não apreciavam os debates e nem os discursos
longos, vem daí a expressão lacônica, maneira breve e concisa de falar ou escrever, pois
a região onde viviam era a Lacônia. Entre as cidades da Grécia Antiga, as da Lacônia
foram as que mais ofereceram atenção as mulheres, elas participavam das atividades
físicas, corridas, lançamento de disco, exercícios de salto e dança, eram algumas das
atividades por elas praticadas, nos jogos e festividades os espartanos gostavam de
mostrar a força e a beleza dos seus corpos bem treinados.
A Educação ateniense
Segundo Tucídides, historiador grego (séc. V a.C), Atenas foi à escola de toda a Grécia
Antiga, a concepção de estado fez surgir à figura do cidadão da Polis, com a ascensão
da classe dos comerciantes surge outro exercício de poder e também um novo tipo de
educação que não mais privilegia o pequeno grupo da aristocracia. Pouco a pouco os
cidadãos livres conquistam esse direito, e a educação aristocrática se estende e se torna
a educação típica de toda criança grega, nesse contexto surge à escrita, não que não
existisse escrita, ela era usada apenas na administração estatal, mas conheceu momentos
de quase total desaparecimento.
Na época de Sólon (séc. VI a.C), era praticada a escrita bustrofédica para
as leis, que só foi abandonada no inicio de 570 a.C, o novo uso da escrita
alfabética difundiu-se rapidamente através da escola.
(MANACORDA, 2002, p. 49)
A escrita alfabética constitui uma forma democrática de educação na qual o saber é
colocado à disposição de todos os cidadãos, Vernant afirma que a escrita se tornou o
bem comum a todos, quase com os mesmos direitos da língua falada. Para ele, a escrita
vem atender uma reivindicação que se faz presente desde o surgimento das cidades: a
redação das leis, a esse respeito argumenta que:
Ao subscrevê-las, não se faz mais que assegurar-lhes permanência e
fixidez, substraem-se a autoridade dos Basileis, cuja função era dizer o
direito, tornam-se bem comum, regra geral, suscetível de ser aplicada
a todos da mesma maneira. (VERNANT, 2000, p. 43)

Dessa forma a educação tornou-se aberta a coletividade, o número de crianças


aumentou muito então e necessário um local onde possam se dedicar ao estudo, daí e
que surge a escola. Nesse local as crianças aprendiam: música, ginástica e o alfabeto, a
disciplina era mantida com o uso do chicote, a violência física era normal nas relações
entre alunos e mestres, de ambas as partes. Entre os mestres tinha: o citarista (mestre de
música), o pedotriba (mestre de ginástica), o gramatista (mestre das letras e do alfabeto)
e o pedagogo, um escravo que era encarregado de levar a bagagem do seu pupilo,
acompanhá-lo, ensinar-lhe boas maneiras ajudá-lo a repetir as lições e decorar os
poemas. A educação elementar completava-se em torno dos 13 anos, os mais pobres
iam à busca de algum ofício, enquanto que os abastados eram encaminhados ao ginásio.
Com o passar do tempo foi surgindo à discussão literária que abriu espaço para outros
assuntos tais como: matemática, geometria e astronomia, com a criação de bibliotecas e
salas de aula, o local ganhou ares de escola secundária. Dos 16 aos 18 anos a educação
assume outra dimensão, surge a Efebia, instituição de ensino militar, com o fim do
serviço militar em Atenas, a Efebia, se constitui a escola onde se ensina filosofia e
literatura. E necessário compreender as mudanças na educação a partir das novas
exigências da Polis, essa formação têm que ter finalidades cívicas, a preparação para a
cidadania, é essa consciência faz sentir a necessidade de um novo tipo de educação, pois
ginástica e música já não satisfazem as novas exigências sociais e políticas. Segundo o
legislador Sólon:
As crianças devem, antes de tudo, aprender a nadar e a ler; em seguida, os
pobres devem exercitar-se na agricultura ou em uma industria qualquer, ao
passo que os ricos devem se preocupar com a música e a equitação, e
entregar-se à filosofia, à caça e a freqüência aos ginásios.
(ARANHA, 2006, p. 66)

Como pode ser observado não existia o ensino de profissões, os ofícios se aprendiam
no próprio local de trabalho as exceções ficavam por conta da Arquitetura e da
Medicina, consideradas artes nobres. Com os sofistas (séc. V a.C), teve inicio um tipo
de educação superior, pois eles profissionalizaram os mestres e a didática ampliando as
disciplinas de estudo. Eram professores que ofereciam o ensino da virtude, da Arete
política em troca de dinheiro, transformam a educação em arte ou técnica da qual eles
são mestres e capazes de ensinar seus alunos. Estava incluído ai a formação do homem
público, do dirigente de estado, para que tivesse êxito na carreira era necessário dominar
a arte de convencer com discursos persuasivos, bons argumentos para justificar suas
posições enfim dominar a retórica, a dialética e a oratória sofisticas. Por esse motivo
foram acusados por Sócrates (469 – 399 a.C) e seu discípulo Platão (428/7 – 348/7 a.C)
de ensinar uma educação imoral que corrompia a juventude, visto que esse tipo de
educação desconsiderava valores tradicionais como: verdade, justiça, virtude, retidão
etc. Para se contrapor aos ideais sofistas surge outro conceito de educação conhecido
como: Paidéia, que busca formar o homem nas suas varias esferas (política, social,
cultural, educativa), e desse conceito que nasce o pensamento da educação como
episteme, não mais como práxis. Na Paidéia está presente a idéia da educação do
homem como um ser autentico, ou seja, a educação total da pessoa física, moral,
estética, religiosa e política. Ela constitui um ideal de cultura baseado na idéia de que a
comunidade e o individuo são responsáveis um pelo outro, se integrando,transformando
e evoluindo, um a partir do outro. Seu objetivo é transmitir um ideal social coletivo,
para que todos se sintam parte da comunidade, responsáveis pelas realizações e pelo
futuro da mesma. Ao final do séc. IV a.C inicia-se a decadência das cidades-estado à
cultura grega se funde com a das civilizações que a dominam, dando origem ao
Helenismo, nesse período a Paidéia se torna enciclopédia, ou seja, educação geral. À
medida que se ampliavam os ensinos teóricos restringiam-se os físicos, nos grupos
denominados superiores predominava o saber erudito, as questões metafísicas e
políticas deram lugar a temas éticos, ficando distanciados do cotidiano. O conteúdo se
caracteriza pelas “sete artes liberais”, três disciplinas humanísticas (gramática, retórica e
dialética) e quatro científicas (aritmética, música, geometria e astronomia) a esse
conteúdo deve se acrescentar o estudo da filosofia. Surgem muitas escolas e da união de
algumas como (Academia e Liceu), é formada a universidade de Atenas, lugar de
importante desenvolvimento intelectual. A Grécia clássica pode ser considerada o berço
da pedagogia, porque é onde surge à primeira reflexão acerca da ação pedagógica é
essas reflexões irão influenciar por séculos a educação e a cultura do mundo ocidental.
Os povos do Oriente acreditavam que a origem da educação era divina, o conhecimento
deles se resumia a seus próprios costumes e crenças, é isso impedia uma reflexão mais
profunda sobre a educação, pois ela era fruto da sua organização social e teocrática. Na
Grécia clássica, a razão se opõe ao conhecimento meramente religioso e místico, a
concepção de educação se resume a inteligência crítica e à liberdade de pensamento. A
educação formal propriamente dita teve inicio na Grécia Antiga, o descobrimento do
valor do ser humano independente de toda autoridade religiosa, o reconhecimento da
razão, da inteligência crítica libertada dos dogmas, a criação da cidadania, a organização
política, a criação da liberdade individual e política dentro da lei e do estado; a invenção
da poesia épica, da história, literatura dramática, filosofia e ciências físicas. O
reconhecimento do valor da educação na vida social e individual, a educação pública e
humana em sua integridade física, intelectual, ética e estética, são valores que nos foram
legados pelos gregos, e todas essas características acima citadas continuam tão
presentes, pois são metas a serem atingidas pela educação atual. Em matéria de
educação os gregos não só definiram o modelo, como também indicaram a pedagogia a
ser usada, a ser seguida, por isso creio, acredito de fato que, a educação atual começa na
Grécia Antiga.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARANHA, Maria Lúcia. História da Educação e da Pedagogia: Geral Brasil. São


Paulo: Moderna, 2006.

JAEGER, Werner. Paidéia- A formação do homem grego. São Paulo: Martins Fontes,
1994.

MANACORDA, M, A. História da Educação: Da Antiguidade aos nossos dias. São


Paulo: Cortez, 2002.

MARROU, H, I. História da Educação na Antiguidade. São Paulo: E.P.U./ MEC,


1975.

VERNANT, J, P. As origens do pensamento grego. Rio de Janeiro: Ed Bertrand


Brasil, 2000.

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