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Paideia
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Paideia (em grego clássico: παιδεία) é a denominação do sistema de educação e formação ética
da Grécia Antiga, que incluía temas como Ginástica, Gramática, Retórica, Música, Matemática,
Geografia, História Natural e Filosofia, objetivando a formação de um cidadão perfeito e completo,
capaz de liderar e ser liderado e desempenhar um papel positivo na sociedade.
O conceito surgiu nos tempos homéricos e permaneceu em sua essência inalterado ao longo dos
séculos, embora variando suas formas de aplicação e as disciplinas envolvidas, e continua a
interessar muitos educadores e pensadores contemporâneos.
A paideia na Grécia
Significado
Platão pensava que "a essência de toda a verdadeira educação ou paideia é a que dá ao homem o
desejo e a ânsia de se tornar um cidadão perfeito e o ensina a mandar e a obedecer, tendo a justiça
como fundamento".[2] Aristófanes disse mais ou menos o mesmo, declarando em As Nuvens que o
objetivo da educação não era simplesmente adquirir o domínio sobre as matérias ministradas, mas
produzir igualmente a excelência moral, enlaçando as potencialidades mentais e físicas em um
caráter bem formado, de tal maneira que o homem pudesse ser um melhor cidadão.[3] Como
interpretou modernamente Werner Jaeger, um dos principais estudiosos do tema, os gregos deram
o nome de paideia a "todas as formas e criações espirituais e ao tesouro completo da sua tradição,
tal como nós o designamos por Bildung ou pela palavra latina, cultura". Daí que, para traduzir o
termo paideia "não se possa evitar o emprego de expressões modernas como civilização, tradição,
literatura, ou educação; nenhuma delas coincidindo, porém, com o que os gregos entendiam por
paideia. Cada um daqueles termos se limita a exprimir um aspecto daquele conceito global. Para
abranger o campo total do conceito grego, teríamos de empregá-los todos de uma só vez".[4]
Segundo Marrou, na sua abrangência, o conceito de paideia não designa unicamente a técnica
própria para, desde cedo, preparar a criança para a vida adulta. A ampliação do conceito fez com
que ele passasse também a designar o resultado do processo educativo que se prolonga por toda
vida, muito para além dos anos escolares. A paideia, vem por isso a significar "cultura entendida
no sentido perfectivo que a palavra tem hoje entre nós: o estado de um espírito plenamente
desenvolvido, tendo desabrochado todas as suas virtualidades, o homem tornado verdadeiramente
homem".[5] Segundo Zatti, V. e Pagotto-Euzebio, M. (2022, p. 24) a ideia de educação criada com a
paideia permanece como herança para a cultura ocidental na humanitas latina e na Bildung
moderna.[6]
Evolução do conceito
O sistema de educação, antes do século V a.C., que veio a ser conhecido como "Sistema Antigo",
não era bem estruturado: o ensino podia ser ministrado conforme a aptidão e disponibilidade dos
professores e alunos, e era muito dependente da iniciativa individual. Refere Platão que o ensino
não tinha uma duração determinada, mas uma vez deixada a adolescência esperava-se que a
pessoa passasse a completar sua educação por conta própria na vida em sociedade.[3]
Mas, se até então o objetivo fundamental da educação era a formação aristocrática do homem
individual como kalos kai agathos ("belo e bom"), a partir do século V a.C., exige-se algo mais da
educação. O Sistema Antigo, baseado na ginástica e na música, deixava de ser suficiente. Mas um
ideal de maior amplitude somente se cristalizaria após a popularização do Sofismo. Muitos sofistas
estrangeiros se fixaram em Atenas, exercendo profundo impacto no sistema educativo,
minimizando os aspectos ginásticos e enfatizando os intelectuais e literários. Ao mesmo tempo,
eles objetivaram atuar não tanto no preparo dos infantes, mas instituíram como que um "segundo
grau" na educação, criando cursos de aperfeiçoamento que antes não eram facilmente acessíveis
https://pt.wikipedia.org/wiki/Paideia#:~:text=Paideia (em grego clássico%3A παιδεία,liderar e ser liderado e 2/6
08/03/23, 17:16 Paideia – Wikipédia, a enciclopédia livre
Platão daria uma contribuição fundamental ao transformar o sistema anárquico dos sofistas em
uma escola permanente de nível superior na sua Academia Platônica, colocando a transmissão da
paideia na dependência da instrução literária, jurídica e filosófica.[14] Apesar das suas
transformações, a paideia em si, no sentido de uma educação completa e tradicional de fundo
cívico e moral, pouco mudou em relação à sua inicial concepção Arcaica, mais mudaram as formas
como a educação era dada e as especialidades que passaram a ser incluídas na ideia de "educação
completa", que se multiplicaram á medida que a civilização grega evoluía e se diversificava e a
literacia ficava acessível a uma população muito maior.[15] Segundo Torres,
A paideia no cristianismo
A fama da cultura grega fez com que os romanos adotassem muitos
dos seus princípios e se inspirassem no sistema da paideia para
organizar seu próprio sistema educativo, difundindo-o por toda a
volta do Mediterrâneo, inclusive na Palestina, onde há evidências do
estabelecimento de escolas gregas desde o século III a.C. Porém, não
foi sem resistência que os palestinos aceitaram os costumes
estrangeiros, principalmente por parte dos sacerdotes judeus, que
não aprovavam a competição que essas escolas faziam com as
escolas das sinagogas e para quem a nudez praticada nos ginásios
constituía grave ofensa às leis de sua religião. No entanto, a
frequentação das escolas gregas acarretava distinção social, numa
fase em que esta região era dominada pelos romanos.[16]
Ao longo da Idade Média o conceito de uma educação total para a formação de uma pessoa
completa, moral e útil à sociedade permaneceu vivo, e se multiplicaram os tratados que buscavam
abranger a totalidade do conhecimento sobre o homem, a natureza e Deus. Este desejo de
universalidade foi a base da educação medieval de alto nível, consagrada na fórmula do trivium e
do quadrivium, e deu as bases para a consolidação do sistema universitário.[17] A partir da Idade
Moderna manteve-se o interesse por uma educação completa, mas o fortalecimento da ciência e do
experimentalismo individual deu mais ênfase à investigação crítica e objetiva da verdade,
relativizando e minando os fundamentos monolíticos da educação medieval, que dava um relevo
preponderante à tradição, ao misticismo e à autoridade da Igreja e dos antigos mestres, e que
buscava respostas absolutas de validade universal e eterna.[20][19]
Atualidade
O conceito grego ainda tem grande apelo para os historiadores, filósofos e educadores
contemporãneos, foi o tema do XX Congresso Mundial de Filosofia organizado pela International
Federation of Philosophical Societies em Boston em 1998, e muitos o têm proposto como uma
fórmula válida para a sociedade de hoje, considerando que ela tem se caracterizado pela
fragmentação e superficialidade da educação e pela perda de referenciais morais sólidos.[21][22][23]
Como observou Daise Diniz,
"A educação, para nossos antigos filósofos, foi acima de tudo um exercício para o bem
viver em comunidade, uma convivência calcada, sobretudo, na responsabilidade para
com os outros e no respeito mútuo, que instaura a harmonia e preserva a dignidade
entre os seres. A razão humana, no que tinha de mais sublime, era enfocada no ato de
educar. [...] A questão que fica para nós é como estamos lidando com essa herança
grega, num mundo em que se convencionou dissociar o sucesso do desenvolvimento
do caráter. [...] O ato de educar foi barbarizado, barbarizado pela apatia, pelo
politicamente correto e pelas falácias produzidas pela mídia. Nesse sentido é que o
ato de educar torna-se um tema vivo, por necessitar de constante reflexão. A reflexão
sobre que seres e que sociedade desejamos para nossa geração e para as gerações
futuras. Essa era a questão da paideia grega, uma vez que, na Grécia Antiga,
educava-se para a vida em comunidade, em todas as suas nuanças. É preciso indagar
se nossas práticas educativas têm ajudado para nos tornarmos seres melhores, posto
que o ato de educar pode ser o motor da construção de sujeitos éticos dotados de
responsabilidade, solidariedade e de caráter para dar novos rumos à história
humana".[24]
Ver também
Artes liberais
Referências
1. Robb, Kevin. Literacy and Paideia in Ancient Greece. Oxford University Press, 1994, pp. 33;
165-180
2. Jaeger, Werner. Paidéia, a Formação do Homem Grego. Martins Fontes, 1995, p. 147
3. Lynch, John Patrick. Aristotle's School; a Study of a Greek Educational Institution. University of
California Press, 1972, pp. 33-34
4. Jaeger, p. 1
5. Marrou, H. I. História da Educação na Antiguidade. São Paulo: EPU, 1966, p. 158
6. Zatti, Vicente; Pagotto-Euzebio, Marcos Sidnei (2022). «Educação como processo de
formação humana: uma revisão em filosofia da educação ante a premência da utilidade» (htt
p://www.livrosabertos.sibi.usp.br/portaldelivrosUSP/catalog/view/767/683/2539). Portal de
Livros Abertos da USP. Consultado em 3 de abril de 2022
7. Stewart, Andrew. "Notes on the Reception of the Polykleitan Style: Diomedes to Alexander". In
Moon, Warren G. (ed). Polykleitos, the Doryphoros, and Tradition. University of Wisconsin
Press, 1995, pp. 247-253
8. Osborne, R. "Men Without Clothes: Heroic Nakedness and Greek Art". In: Gender & History,
1997; 9 (3):504-528.
9. Lynch, pp. 35-36
10. Robb, pp. 183-185
11. Lynch, pp. 39-41
12. Patrício, Manuel Ferreira. "Perenidade da Aretê como horizonte apelativo da Paideia. Sobre a
excelência em educação" (http://www.fade.up.pt/rpcd/_arquivo/artigos_soltos/vol.8_nr.2/2.01.p
df). In: Revista Portuguesa de Ciências do Desporto; 8(2) 287–295
13. Martins, Everton Bandeira et al. "A educação como aporte para a constituição da cidadania: a
contribuição do ideal de educação ateniense". In: Revista Didática Sistêmica, 2011; 13 (1)
14. Robb, p. 232-238
15. Robb, p. 190-193
16. Torres, Milton Luiz. "O cuidado da criança nos primórdios da educação grega: semelhanças e
contrastes com a educação hebreia". In: Protestantismo em Revista, 2011; (24)
17. Naugle, Davey. The Greek Concept of Paideia. Dallas Baptist University, s/d.
18. Jaeger, Werner. Early Christianity and Greek Paideia. Harvard University Press, 1961, pp. 92-
101
19. Barros, Gilda Naécia Maciel de. "Cristianismo primitivo e paideia grega" (http://www.hottopos.c
om/vdletras2/gilda.htm). In: Videtur, 2001; 2:93-98
20. Amorim, Filipi Vieira & Grün, Mauro. "Entre a paidéia e a modernidade - o diálogo como prática
pedagógica" (http://editora.unoesc.edu.br/index.php/coloquiointernacional/article/view/1274/63
7). In: Anais do IV Colóquio Internacional de Educação — Educação, diversidade e ação
pedagógica, e do I Seminário de Estratégias e Ações Multidisciplinares, 2011; 1 (1)
21. Tymianieczka, Anna-Teresa. "The Theme: Philosophy/Phenomenology of Life inspiring
Education for Our Times". In Tymianieczka, Anna-Teresa (ed). Paideia. Springer, 2000. pp. 2-3
22. Kato, Morimichi. Greek Paideia and its Contemporary Significance. Tohoku University, s/d.
23. Livingstone, Richard Winn. Greek ideals and modern life. Biblo & Tannen Publishers, 1969. p. 1
24. Diniz, Daise. "Reflexões sobre o ato de educar: educação e humanização" (http://educacaopub
lica.cederj.edu.br/revista/artigos/reflexoes-sobre-o-ato-de-educar-educacao-e-humanizacao).
In: Revista Educação Pública, 2014; 35
25. Cherubini, Karina Gomes. O retorno curricular da educação brasileira aos ensinamentos da
Grécia Antiga (https://jus.com.br/artigos/22050/o-retorno-curricular-da-educacao-brasileira-aos-
ensinamentos-da-grecia-antiga). Jus.com.br, jun/2012
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