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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL REI

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FILOSOFIA


MESTRADO EM FILOSOFIA

O PRINCÍPIO DE CONTRADIÇÃO NA ONTOLOGIA REVERSA DE GÓRGIAS DE


LEONTINI

Linha de Pesquisa: Metafísica e Mente

São João del Rei


Junho de 2021
RESUMO

O presente projeto preliminar de pesquisa tem por objeto o princípio de contradição expresso
na noção de não-ser de Górgias de Leontini, tal como apresentada no “Contra os
Matemáticos”, de Sexto Empírico. O não-ser gorgiano contrapõe-se aos princípios metafísicos
que nascem com a noção de ser expressos no “Sobre a Natureza”, de Parmênides de Eleia.
Considera-se que a desconstrução dos princípios lógico-metafísicos da identidade e da não-
contradição abre perspectivas para a elaboração de uma “ontologia reversa”, baseada na noção
de contradição, que fundamenta uma compreensão do real mais aberta às diferenças nos
modos de ser.

Palavras-Chave: Górgias, não-ser, contradição, ontologia, linguagem.

Sugestão de orientadores
1. Profª. Drª. Glória Maria Ferreira Ribeiro.
2. Prof. Dr. Richard Romeiro Oliveira.

INTRODUÇÃO

“A metafísica não pensa a diferença” 1. Sob este tópico, no texto “A Constituição onto-
teo-lógica da Metafísica”, cujo objetivo é analisar o objeto do pensamento em diálogo com a
“Ciência da Lógica” de Hegel, Heidegger constata que Hegel é fiel à tradição metafísica ao
localizar o objeto do pensamento no ente enquanto tal e, por sua vez, no todo, no movimento
de ser, desde a sua vacuidade até sua plenitude desenvolvida, no absoluto. “Na unidade do
ente enquanto tal em geral e supremo repousa a constituição da essência da metafísica”
(HEIDEGGER, 2013, p. 67).
Em outras palavras, permanece a perspectiva de pensar o ser em geral, ao focar o ente
enquanto tal e isso se dá, de modo universal, no ser do ente. O ente ao ser pensado em relação
ao todo, é assumido na unidade fundante da totalidade. E, nesse sentido, ao pensar o ente
enquanto tal, a metafísica “representa o ente a partir do olhar voltado para o diferente da
diferença, sem levar em consideração a diferença enquanto diferença” (HEIDEGGER, 2013,
p. 74).
Uma vez que identidade consiste no ser do ente enquanto tal, surge daí uma
problemática de fundo. Dado que o princípio de identidade pensado metafisicamente conduz à
1
HEIDEGGER, Martin. Que é isto, a filosofia?: identidade e diferença. 3. ed. Petrópolis: Vozes; São Paulo:
Livraria Duas Cidades, 2013, p. 73.

2
universalidade e, com isso, a uma concepção da uniformidade, se se toma por objeto de
pensamento os entes em relação ao ser, a diferença do ente em relação ao ser, que convergiria
para a adoção epistemológica da singularidade do ente em relação às outras singularidades,
seria deixada de lado pelo pensamento. Decorre daí a marginalização epistemológica da
diversidade dos entes em detrimento da busca do ser enquanto ser.
A observação heideggeriana da supressão da diferença diante da unidade da identidade
encontra uma similitude nos primórdios da metafísica. O princípio da identidade
fundamentado pela adequação entre ser, pensar e dizer foi estabelecido pela tradição eleata.
Ao definir a via da verdade como correspondência do ente ao pensamento que abarca
ser em sua globalidade e estaticidade, Parmênides estabelece as bases para uma tradição
metafísica que vigorará milênios. Apesar da crítica mais sistematizada à metafísica ocorrer no
alvorecer da modernidade, a ontologia eleata, ainda fundamenta uma cosmovisão
essencialista, fixista e reducionista da verdade, que conduz à intolerância à pluralidade, às
diferenças culturais, religiosas, étnicas, sexuais, de gênero...
A relevância deste trabalho consiste em uma contribuição teórica de releitura e crítica
da concepção metafísica em torno da identidade e da não-contradição que suprime a diferença
ao sustentar uma visão paradigmática repulsa à diversidade.
Isto posto, é objetivo deste trabalho realizar um retorno à primeira crítica realizada ao
eleatismo na busca por um caminho ontológico alternativo, que considere a contradição, a
pluralidade e a criatividade da palavra sobre o ser como relevantes no processo metafísico da
busca pelo ser enquanto ser.
A crítica inicial ao princípio da identidade e da não-contradição é realizada por
Górgias de Leontini, no “Sobre o não-ser ou Sobre a Natureza”. O acesso a essa obra advém
de testemunhos, como o de Sexto Empírico, no “Contra Matemáticos”. Por meio da leitura e
análise de testemunhos, esse projeto preliminar de pesquisa tem por objeto o estudo do
princípio de contradição expresso na noção de não-ser gorgiano, como condição de
possibilidade para dinamicidade da realidade que se abre à pluralidade e a existência de
contradições.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A oposição estabelecida pelas duas proposições reveladas pela deusa no poema


parmenídico “Sobre a Natureza”, fornece o ponto de partida para a diferenciação entre aquilo

3
que sustenta o vem sempre à presença, o qual denomina-se ser e a sua absoluta negação, o não
ser. O ser é e o não-ser, não é2.
As fórmulas A=A e A≠não-A manifestam, simbolicamente, a intuição eleata, de modo
a estabelecerem os princípios lógico-metafísicos conhecidos, respectivamente, por identidade
e não-contradição. Somados à consideração de que as sentenças A=A e A=não-A são
mutuamente exclusivas, por não possuir o mesmo valor de verdade simultaneamente, tem-se a
plataforma da filosofia primeira ou Metafísica, a qual procura estudar o ser enquanto ser3.
Em Parmênides, o estatuto fundante da acepção ontológica do verbo ser (einai) ocorre
ao conferir o sentido existencial junto ao uso predicativo da cópula. E isso se dá na afirmação
do ser em contrapartida à sua negação.
O próximo passo do ser se dá na associação entre ser e pensar, o que favorecerá a
formulação do critério de verdade como correspondência entre ser, pensar e sua expressão
linguística. “Nem de não ente permitirei que digas e pense; pois não dizível nem pensável é
que não é” (PARMÊNIDES, in.: OS PRÉ SOCRÁTICOS, 1978, p. 123).
No entanto, se se considerar que o ser é, e o não-ser não é, sem maiores explicações,
ter-se-á a problematização da própria noção de ser, o que, provavelmente considerar-se-á o
conceito confuso em seu sentido absoluto, isto é, sem predicação, pois einai, tomado em seu
sentido existencial, pode conduzir à contradições4. Ao não se estabelecer a diferença entre ser
e não-ser, por mais que a expressemos, convergiríamos à observação hegeliana, expressa na
“Doutrina do Ser”, cujo texto corresponde ao primeiro livro da “Ciência da Lógica”, de que

Visa-se-ou opina-se [Man meint] -que o ser seria, antes, o outro pura e simplesmente
do nada e não há nada mais claro do que a diferença absoluta deles e não parece haver
nada mais fácil do que poder indicá-la. Porém, é igualmente fácil convencer-se de que
isto é impossível, de que esta diferença é indizível. Aqueles que querem persistir na
diferença entre ser e nada podem se sentir convidados a indicar no que ela consiste.
2
Necessário é o dizer e pensar que o ente é; pois é ser, e nada não é; isto eu te mando considerar. Pois primeiro
desta via de inquérito eu te afasto, mas depois daquela outra, em que mortais que nada sabem erram, duplas
cabeças, pois o imediato em seus peitos dirige errante pensamento; e são levados como surdos e cegos,
perplexas, indecisas massas, para os quais ser e não ser é reputado o mesmo e não o mesmo, e de tudo é
reversível o caminho. (PARMÊNIDES, in.: OS PRÉ SOCRÁTICOS: fragmentos, doxografia e comentários.
2.ed. São Paulo: Abril Cultural, 1978, p. 123).

3
ARISTÓTELES. Metafísica: Livros IV(GAMA) e VI(Epsilon). Tradução Lucas Agioni. In.: Clássicos da
Filosofia: Cadernos de Tradução / Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Filosofia e Ciências
Humanas da Universidade Estadual de Campinas. n. 1 (2002). Campinas: UNICAMP/IFCH, 2007. p. 13.
Disponível em: <https://www.academia.edu/9338399/Metaf%C3%ADsica_IV_e_VI>. Acesso em: 16/04/2021.

4
É principalmente no uso predicativo do verbo ser que Górgias está interessado, e com as contradições que isso
parece gerar. Ele está argumentando que não há como aplicar o verbo ‘ser’ a um sujeito sem que surjam
contradições, e está pensando principalmente nas declarações acerca dos fenômenos. Essas contradições, os
eleáticos tinham identificado no caso de declarações negativas; para Górgias elas também se verificam nas
declarações positivas (KERFERD, G.B. O movimento sofista. São Paulo: Loyola, 2003, p.164).

4
Tivessem ser e nada qualquer determinidade através da qual eles se diferenciassem,
então seriam, como foi lembrado, ser determinado e nada determinado, não o ser puro
e o nada puro, como eles ainda são aqui. Sua diferença é, com isso, completamente
vazia (HEGEL, 2016, p. 95-96).

Sentenciar que o não-ser não é evidencia uma contradição ao se negar algo que é
afirmado pelo ato de negar. E, mais uma vez, a diferença entre ser e não-ser continuaria sem
se esclarecer. Esta é a aporia eleata, a qual se revela no que é absolutamente negado e no que
é absolutamente afirmado.

A oposição é entre o ser e não ser. Se o não-ser é nada, o ser não tem nada a que se
opor e a oposição cai; para que subsista a oposição, o não-ser deve ser algo. Mas, se o
não ser é algo, o ser se oporia a algo, isto é, ao ser, e neste caso, também a oposição
cai. Enfim, se a oposição entre ser e não-ser é eliminada, nos vemos obrigados a dizer
que ser e não ser são a mesma coisa, com consequências ainda mais absurdas
(GALGANO, 2019, p. 19).

Consequentemente, pode-se afirmar que o não-ser é ser e vice-versa. Assim, o absurdo


da oposição à teoria da identidade parmenídica encerra-se em seu próprio argumento. Isso nos
leva a considerar que o emparelhamento das proposições (o ser não é e o não-ser é), que são
contrárias àquelas mencionadas acima, empreendem uma inversão da noção de contradição.
E assim, abre-se caminho para o compatibilismo ser/não-ser, que nega o princípio
fundamental da contradição parmenídica, pois todas as proposições podem ser verdadeiras
simultaneamente, uma vez que não se determina o limite de diferenciação entre o ser e o não-
ser.
A desconstrução dos princípios lógico-metafísicos empreendida pela demonstração da
inconsistência da noção de ser em oposição ao não-ser é realizada pela primeira vez por
Górgias de Leontini (c. 485 - 375 a.C.).
Discípulo de Empédocles de Agrigento5, Górgias situa-se dentro do movimento
sofista, como hábil orador e professor de retórica, conhecido pela habilidade de realizar

5
Cf. GUTHRIE, W. K. C. Os sofistas. Tradução João Resende da Costa. 2. ed. São Paulo: Paulus, 2007. p. 250.

5
discursos improvisados6. O poder de persuasão do discurso sobre a opinião dos ouvintes é
equiparado por Górgias a algo divino.

Um discurso é um grande senhor que, por meio do menor e mais inaparente


corpo, leva a cabo as obras mais divinas. Pois é capaz de fazer cessar o medo,
retirar a dor, produzir alegria e fazer crescer a compaixão. (GÓRGIAS, 2009,
p. 3).

Platão, no Górgias, confere ao sofista a habilidade de ensinar seus discípulos a


discursarem sobre quaisquer assuntos. “O orador é, sem dúvida, capaz de falar de tudo e
contra todos e poderá melhor que ninguém, persuadir a multidão em qualquer assunto que lhe
interesse” (PLATÃO, 2004, p.43).
No Elogio de Helena, um dos discursos de autoria gorgiana, há a atribuição da
capacidade de convencimento do discurso à maleabilidade da opinião, que não possui acesso
ao conhecimento dos fatos narrados. Em outras palavras, o não acesso ao fato em si
proporciona o recurso à opinião como “conselheira” para a formulação de uma crença.

Se, com efeito, todos acerca de todas as coisas tivessem tanto memória do
passado, quanto noção do presente e ainda presciência do futuro, não seria
semelhantemente semelhante o discurso, aos que, agora, não é acessível nem
lembrar o passado, nem examinar o presente, nem pressagiar o futuro. De
modo que acerca de muitas coisas a maioria apresenta à alma a opinião como
conselheira. A opinião, porém, sendo escorregadia e instável, em sortes
escorregadias e instáveis envolve os que com ela tratam (GÓRGIAS, 2009, p.
4)

A instabilidade da opinião encontra seu fundamento no problema da verdade como


correspondência entre ser-pensar-dizer estabelecido pelo paradigma parmenídico.
Sexto Empírico, no “Contra os matemáticos”, conservou o título “Sobre a Natureza ou
sobre o não ser”, do tratado de Górgias, o qual soa, no mínimo, intrigante. Com esse título,

6
Enquanto uns dizem que a origem dos discursos improvisados derivam de Péricles (que explicaria o fato de ser
considerado grandiloquente), outros [dizem] que é de Píton de Bizâncio (o qual Demóstenes diz [ser] o único dos
atenienses a suportá-lo em altivo fluxo [discursivo]), outros [dizem] que a invenção da improvisação vem de
Ésquines, pois ele [teria] agradado Mausolo com um discurso improvisado, na navegação de Rodes à Cárie. De
minha parte, acredito que Ésquines exerce a arte da improvisação há tempos, tanto no exercício de embaixador,
advogando, quanto discursando publicamente, ainda que tenha deixado textos, dos discursos, mais elaborados
para não diferir muito dos pensados por Demóstenes. Porém, os primórdios do discurso improvisado remontam
a Górgias – pois ele, entrando no teatro de Atenas, ousou dizer: “Proponham [um tema]! ”. Exclamou, pela
primeira vez, este empreendimento de risco, demonstrando, claramente, saber tudo, [capaz] de falar a respeito de
tudo, lançando-se [às vicissitudes] do momento. (FILOSTRATO, in: NETO, Osvaldo Cunha. Tradução: Vida
dos Sofistas de Filostrato. Revista E. F.e H. da Antiguidade, Campinas, nº 26, julho 2009/junho 2013, p. 141).

6
percebe-se um paralelo aos filósofos da physis7, os quais buscavam o fundamento de toda
realidade por um princípio físico (arké), interno ao próprio cosmos. Por physis entendiam
àquilo que cresce, que surge ou brota. Em suma, o que vem à presença. Nasce aqui a noção de
ente, compreendido como uma manifestação física do todo cósmico.
Contudo, ao ocorrer a identificação do termo physis ao não-ser, indica uma reversão
da própria noção de natureza, considerando-a aquilo que não vem à presença, ou melhor,
aquilo que não é. Pois, “falar da natureza não é como eles todos [filósofos da physis]
acreditam, falar do ente, mas antes tratar do não-ente” (CASSIN, 1990, p. 25).
No “Sobre a Natureza” gorgiano há três teses fundamentais que são postas paralelas às
sentenças parmenídicas. Onde a Deusa revela que o ser é e o não-ser não é, Górgias inverte,
considerando que o ser não é e o não-ser, é. Se para o eleata ser e pensar são o mesmo, para o
sofista, se o ser fosse, não poderia ser pensado.
À correlação de Parmênides entre ser, pensar e ao que é revelado em palavra, Górgias
insere a incomunicabilidade do ser.
Se o ser é incomunicável, o que então se comunica com a palavra? A própria palavra.
“Na verdade, é com a palavra que identificamos algo, mas a palavra não é nem aquilo que está
à vista nem o ser; logo, aos que nos rodeiam, não comunicamos o ser, mas sim a palavra, que
é diferente das coisas visíveis” (GÓRGIAS, 1993, p.34).
A tese da incomunicabilidade do ser reverte a equação metafísica que estabelece a
verdade como adequação, seguindo a ordem: ser, pensar e dizer. Invertendo a lógica, pode-se
responder que o que se comunica é a própria palavra.
A palavra cria o ser. Por não possuir a obrigatoriedade de dizê-lo, o logos cria o ser,
compreendido como sentido. Assim, a palavra inverte a ordem elática: dizer, pensar e ser.
Uma reversão que conduz o movimento ser-pensar-dizer para um ciclo, no qual “o logos não
tem a função de exibir o objeto externo, é o objeto externo que nos fornece informação acerca
do (significado do) logos” (KERFERD, 2003, p. 168).
Assim, chega-se à problemática a qual este trabalho deseja estudar: como a noção de
não-ser gorgiana, ao realizar a desconstrução dos princípios metafísicos que sustentam uma
ontologia de origem elática, poderia estabelecer a construção de uma ontologia paralela, e, por

7
Anaximandro de Mileto, segundo os relatos doxográficos foi o primeiro a escrever uma obra intitulada “Sobre a
Natureza”. Anaxímenes, Herácrlito, Parmênides, Zenão, Melisso e Empédocles também escreveram livros com o
mesmo título.

7
assim, dizer, alternativa à tradição metafísica que se tornou hegemônica 8 na História da
Filosofia?
Nossa hipótese é que a desconstrução do princípio lógico-metafísico da não-
contradição, abre perspectivas para a elaboração de uma “ontologia reversa”, que se baseie na
noção de contradição como fundamento de compreensão do real que mais condiga com a
multiplicidade nos modos de ser.

OBJETIVOS

Objetivo geral:

● Analisar o princípio de contradição expresso na noção de não-ser gorgiano,


compreendido como condição de possibilidade para a construção de uma reversão
ontológica aberta à realidade que considere a pluralidade e a existência de
contradições.

Objetivos específicos:

● Examinar a noção de ser e os princípios lógico-metafísicos de identidade e não


contradição presentes no poema parmenídico “Sobre a Natureza”;
● Analisar e identificar as lacunas no pensamento metafísico em torno do ser que
propiciaram à crítica gorgiana;
● Investigar o “Tratado do Não-Ser ou da Natureza”, de Górgias de Leontini, de modo a
compreender a perspectiva do não-ser e do princípio de contradição;
● Estabelecer um contraponto entre a noção de não-ser gorgiano ao ser parmenídico;

8
Reconhece-se, no diálogo “Sofista”, de Platão, uma exceção dentro do paradigma metafísico que se tornou
hegemônico no Ocidente. Ao partir da concepção eleata de “ser” e de certo modo, contra Parmênides, o filósofo
grego nos apresenta uma ontologia aberta à diferença, ao demonstrar que o não-ser, definido como
“alteridade”, consiste num princípio essencial para se compreender como funcionam as estruturas do real e do
discurso. “Estrangeiro — Sempre que nos referimos ao não-ser, não temos em vista, como parece, o oposto do
ser, porém algo diferente. Teeteto — De que jeito? Estrangeiro — Quando falamos de algo não grande, achas
que nos referimos mais ao pequeno do que ao igual? Teeteto — Como assim? Estrangeiro — Não podemos
concordar que com o emprego da negação indicamos o contrário da coisa enunciada, mas apenas que o não
colocado antes dos nomes que se seguem indica algo diferente das coisas cujos nomes vêm enunciados depois da
negação. Teeteto — Perfeitamente” (PLATÃO, 2003, p. 43).

8
● Estudar o conceito de ontologia reversa, como possibilidade para uma metafísica
alternativa, que considere a contradição, a singularidade dos entes, a pluralidade e a
criatividade da palavra sobre a realidade.

METODOLOGIA

A metodologia escolhida para a elaboração da dissertação será por pesquisa teórica de


caráter qualitativo, seguindo a modalidade explicativa. Para que a finalidade da pesquisa seja
levada a cabo, será realizado um plano de análise nocional, no qual serão estudados e
confrontados conceitos como ser, não-ser, identidade e contradição.
Para tanto, será seguido a seguinte ordem para a estrutura de análise: a) leitura crítica
da obra de referência, por meio de auxílio de comentadores; b) decomposição das partes do
texto e organização em sua estrutura para a melhor compreensão do conceito em estudo e sua
relação com o todo da obra; c) aprofundamento da noção conceitual de termos; d) comparação
dos termos divergentes entre si; e) exame crítico relativo ao valor das relações entre os termos
considerados na pesquisa.
A pesquisa bibliográfica das obras de referência em torno do assunto será a ferramenta
principal de recurso para o bom êxito da proposta do plano metodológico.

REFERÊNCIAS

ARISTÓTELES. Metafísica: Livros IV(GAMA) e VI(Epsilon). Tradução Lucas Agioni. In.:


Clássicos da Filosofia: Cadernos de Tradução / Universidade Estadual de Campinas. Instituto
de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas. n. 1 (2002).
Campinas: UNICAMP/IFCH, 2007. p. 13. Disponível em:
<https://www.academia.edu/9338399/Metaf%C3%ADsica_IV_e_VI>. Acesso em: 16 abr.
2021.

CABEÇEIRAS, Alexandre; DINUCCI, Aldo. Górgias e a destruição da ontologia. In: MENA,


Sergio Hugo (org). Conhecimento e linguagem. Porto Alegre: Redes Editora, 2013. p. 49-56.

CASSIN, Barbara. Ensaios sofísticos. Tradução: Ana Lúcia de Oliveira e Lúcia Cláudia
Leão. São Paulo: Ed. Siciliano, 1990.

______________. O efeito sofístico. Tradução: Ana Lúcia de Oliveira, Maria Cristina Franco
Ferraz e Paulo Pinheiro. São Paulo: Ed. 34, 2005.

FILOSTRATO. In: NETO, Osvaldo Cunha. Vida dos Sofistas de Filostrato. Revista E. F.e
H. da Antiguidade, Campinas, nº 26, Julho 2009/Junho 2013, p. 136 -147.

9
GALGANO, Nicola Stefano. Parmênides: o não ser como contradição. São Paulo: Paulus,
2019.

GUTHRIE, W. K. C. Os sofistas. 2.ed. São Paulo: Paulus, 2007.

GÓRGIAS, Testemunhos e Fragmentos. Tradução: Manuel Barbosa e de Inês de Ornellas e


Castro. Lisboa: Edições Colibri, 1993. (Mare Nostrum).

___________. Elogio de Helena. Tradução: Daniela Paulinelli. Belo Horizonte: Anágnosis,


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HEGEL, Georg Wilhelm Fiedrich. Ciência da lógica: a doutrina do Ser. Tradução de


Christian G. Iber. Rio de Janeiro: Vozes, 2016. v.1.

HEIDEGGER, Martin. Que é isto, a filosofia?: identidade e diferença. 3. ed. Petrópolis:


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KHAN, C. The Verb Be in Ancient Greek. Indianapolis/Cambridge: Hackett Publishing


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KERFERD, G.B. O movimento sofista. São Paulo: Loyola, 2003.

MOLINARO, Aniceto. Léxico de metafísica. São Paulo: Paulus, 2000.

OS PRÉ SOCRÁTICOS: fragmentos, doxografia e comentários. 2.ed. São Paulo: Abril


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PLATÃO. Górgias. 5. ed. Lisboa: Edições 70, 2004.

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UNTERSTEINER, Mario. A obra dos Sofistas: uma interpretação filosófica. Tradução:


Renato Ambrósio. São Paulo: Paulus, 2012.

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