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Universidade Federal de São João del Rei

Programa de Pós-graduação em Filosofia


Mestrado em Filosofia- 2021/2

Bioética e crise ambiental


Disciplina: As teorias éticas normativas e a objetividade na moral
Docentes: Rogério Antônio Picoli e Rodrigo Siqueira Batista
Discente: Arlaton Luiz Soares de Oliveira
Introdução

 O objetivo desta apresentação é realizar uma abordagem cética de


um dos princípios aplicados na Bioética Ambiental, a saber: A
precaução.

 Estrutura
 Crise ambiental e Bioética
 Panorama de construção da Bioética Ambiental
 O princípio da Precaução
 Análise cética do princípio da Precaução
Crise ambiental e Bioética

O termo crise ambiental ou crise ecológica indica a situação na qual


ecossistemas passam por alterações críticas que comprometem a existência
de seus componentes.

 Ex.: aquecimento global, perda da biodiversidade, descaracterização dos


habitats (migração), mudanças nos ciclos das chuvas, aparecimento de
doenças, alta concentração de resíduos no solo e nos mares, dentre outros...
Crise ambiental e Bioética

 Os problemas ambientais potencializam a reflexão ética sobre a


ação humana no meio ambiente (cf. JAMIESON, 2008, p. 06;
SIQUEIRA-BATISTA et all., 2009, p. 47).
Panorama de construção da Bioética
ambiental
 Albert Schweitzer (1875-1965) e a ética da reverência pela
vida (expresso numa coletânea de homilias – Reverence of
live - publicadas em 1919, na cidade de Estrasbugo).

 Fritz Jahr (1895-1953) e o “imperativo bioético”, contido


num artigo publicado na Revista Kosmos, em 1927, que traz
como título “Bio=Ethik: Um panorama sobre as relações
éticas dos seres humanos para com os animais e as plantas”.
 Aldo Leopold (1887-1948) e a Ética da Terra, em um texto contido no livro “A

sand county almanac”, publicado em 1949.

O debate em torno do artigo “The Roots of Our Ecologic Crisis” (publicado na

Science, em 1967), por Lynn White Jr.

 Van Rensselaer Potter (1911-2001) e o conceito de Bioética, expressos no artigo

“Bioethics, the science of survival”, de 1970 e no livro: “bioethics: bridge to the

future”, de 1971. Em Potter, houve uma progressão da concepção de Bioética, em

três estágios:
1.Bioética como “ponte” (saber interdisciplinar que visa a
sobrevivência humana);
2.Bioética global (sistema global de prioridades éticas-
médicas e ambientais- que visam a sobrevivência
aceitável, a longo prazo);
3.Bioética profunda (ancorada nas concepções da ecologia
profunda [1973], de Arne Naess [1912-2009].
Ilustração de Maria Fischer, no artigo “Da ética ambiental à bioética ambiental: antecedentes,
trajetórias e perspectivas”.
Disponível em:<https://www.scielo.br/j/hcsm/a/RWy3SRjRfxx8yZXSxrtvvQC/?lang=pt#>.
Acesso em 22/11/2021.
O Princípio de precaução aplicado ao
meio ambiente
 O principialismo bioético (autonomia, beneficência, não-maleficência
e justiça) pode ser aplicado à reflexão ambiental conjugado com
outros princípios, tais como a sustentabilidade, a prevenção, a
responsabilidade, a cooperação e a precaução (cf. ALICIARDI, 2009, p.
16).
 Precaução pode ser compreendia como uma medida antecipada de
proteção ambiental quando existem consideráveis “incertezas
científicas” quanto à probabilidade, magnitude e natureza do dano.
Análise cética do princípio de Precaução

 “Com a finalidade de proteger o meio ambiente, os Estados


deverão aplicar amplamente o critério de precaução conforme suas
capacidades. Quando houver perigo de dano grave ou irreversível, a
falta de certeza científica absoluta não deverá ser utilizada como
razão para que seja adiada a adoção de medidas eficazes em
função dos custos para impedir a degradação ambiental” (Artigo XV, da
Declaração do Rio sobre meio ambiente e desenvolvimento, de 1992).
Considerações
 Aplicação do Princípio segundo as “capacidades” de cada Estado.

 A noção do perigo grave ou irreversível ao meio ambiente.

 Como saber quais medidas eficazes de proteção quando não te


tem conhecimento suficiente sobre o problema e suas
consequências?

 A questão dos custos.


É
 obrigatória a ação de proteção ao ambiente quando se percebe uma ameaça grave ou irreversível, apesar
de não ter informações científicas suficientes a que fundamentem.
Adotando
 o raciocínio epistemológico cético:
P1:
 Há uma ação.
P2:
 Ela é considerada uma ameaça ambiental grave ou irreversível.
P3:
 Não se tem conhecimento suficiente sobre P2.
P4.: A plausibilidade
 P2 é questionável.
Logo,
 suspende-se o juízo moral sobre P2 e não se deve agir (apraxia).
Outra
 possibilidade de raciocínio epistemológico cético, mantendo o princípio de Precaução
que visa a proteção ambiental:
 P1:
 Há uma ação
P2:
 Ela é considerada uma ameaça ambiental grave ou irreversível.
P3:
 Não se tem conhecimento suficiente sobre P2.
P4: A plausibilidade
 P2 é questionável.
P5:
 Mantém-se a crença em P2, ainda que haja P3.
Logo,
 deve-se investigar sobre o critério que orienta P2, prosseguir na pesquisa sobre a
natureza de P1 e adotar medidas de proteção ambiental enquanto houver P3.
Ex.:
 Pulverização de sal na atmosfera, emissão de sais de ferro no mar...
Conclusão
 A Bioética oferece uma preciosa contribuição para o debate acadêmico,
econômico, político e social sobre os complexos desafios que a crise
ambiental apresenta.

 Os princípios reguladores da ação moral em bioética, refletidos à luz da


filosofia cética, proporcionam a tomada decisões amparadas pela
razoabilidade. E é por meio do recurso à razoabilidade que a precaução pode
ser uma resposta à chamada “apraxia”, sentida diante da dúvida
epistemológica, gerada pela falta de informações sobre as consequências
ambientais de medidas consideradas como danosas aos ecossistemas.
Referências
ALICIARDI, María Belén. ¿ Existe una eco-bioética o bioética ambiental?. Revista Latinoamericana de Bioética, v. 9, n. 16,
p. 11, 2009.
ATTFIELD, Robin (Ed.). The ethics of the environment. Routledge, 2016.
CALLICOTT, J. Baird; FRODEMAN, Robert. Encyclopedia of environmental ethics and philosophy. Macmillan reference
USA, 2009.
CARVALHO, Fernanda Maria Ferreira; PESSINI, Leo; JUNIOR, Oswaldo Campos. Reflexões sobre bioética ambiental. O
mundo da saúde, v. 30, n. 4, p. 614-618, 2006.
DE BARCHIFONTAINE, Christian de Paul; PESSINI, Leocir Leo Pessini (Ed.). Bioetica: alguns desafios. Edicoes Loyola,
2002.
DE JANEIRO, R. I. O. Declaração do Rio sobre meio ambiente e desenvolvimento. Rio de Janeiro, 1992.
DO BRASIL, Senado Federal. Constituição da república federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, Centro Gráfico,
1988.
FISCHER, Marta Luciane et al. Da ética ambiental à bioética ambiental: antecedentes, trajetórias e perspectivas. História,
Ciências, Saúde-Manguinhos, v. 24, p. 391-409, 2017.
JAMIESON, Dale. Ethics and the environment: An introduction. Cambridge University Press, 2008.
SIQUEIRA-BATISTA, Rodrigo et al. A BIOÉTICA AMBIENTAL E ECOLOGIA PROFUNDA SÃO PARADIGMAS PARA SE
PENSAR O SÉCULO XXI?. Ensino, Saúde e Ambiente, v. 2, n. 1, 2009.
UNESCO. The precautionary principle: World Commission on the Ethics of Scientific Knowledge and Technology
(COMEST). Unesco, 2005.
VEATCH, Robert M.; GUIDRY-GRIMES, Laura K. The basics of bioethics. Routledge, 2019.

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