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As diferenças entre o Contrato de

Abertura de Crédito e o Contrato de


Mútuo
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Publicado por Daniele Druwe Araujo

há 6 anos

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Orlando Gomes conceitua o Contrato de Abertura de Crédito


da seguinte maneira:

“A abertura de crédito é o contrato por via do qual se obriga


um banco a colocar à disposição do cliente determinada soma
para ser utilizada, mediante saque único ou repetido.”[1]

No mesmo sentido é o ensinamento de Fran Martins:

“Entende-se por abertura de crédito o contrato segundo o


qual o banco se obriga a pôr à disposição de um cliente uma
soma em dinheiro por prazo determinado ou indeterminado,
obrigando-se este a devolver a importância, acrescida dos
juros, ao se extinguir o contrato.”[2]

O Contrato de Abertura de Crédito se distingue do Mútuo,


segundo Orlando Gomes, “porque sua prestação característica,
a disponibilidade, impede a assimilação.”[3].

A doutrina de Sergio Carlos Covello se aprofunda na


diferenciação entre os dois contratos, rechaçando a chamada
‘Teoria do Mútuo’ sobre a natureza jurídica do contrato:
Em virtude de a abertura de crédito conduzir normalmente à
entrega de dinheiro, pelo Banco, ao creditado – dinheiro este
que há de ser restituído acrescido de juros – muitos
doutrinadores, como também muitos peritos em assuntos
bancários, são levados a identificá-los com o mútuo.

São bem nítidas, todavia, as diferenças entre a figura em


questão e o mútuo. No mútuo, a perfeição do contrato
se dá pela transferência do dinheiro ao mutuário (cc,
art. 1.256). Na abertura, a perfeição se consegue
mediante a disponibilidade do crédito da qual o
creditado pode até nem se utilizar sem que por isso o
contrato se descaracterize. O mútuo é contrato real,
enquanto a abertura de crédito é consensual. O
objeto do mútuo é o próprio dinheiro, enquanto o
objeto da abertura de crédito é a disponibilidade do
dinheiro. Além disso, na abertura de crédito, o Banco
creditador é quem começa por dever, o que não
ocorre no contrato de mútuo. A disponibilidade, na
abertura, é unilateral: o creditado retira o dinheiro
se quiser e como quiser, coisa que não acontece no
contrato de mútuo.
Contra a identificação da abertura de crédito com o contrato
de mútuo, ou empréstimo feneratício, objeta-se, também, que
o creditador está normalmente obrigado a prestações
diversas da prestação de entregar dinheiro, tais como prestar
aval, fiança, fazer pagamentos a terceiros, aceitar letras ou
efeitos comerciais etc.
A tese do mútuo está hoje totalmente abandonada (...).
A doutrina nacional, tanto quanto a estrangeira, repele esta
teoria: Pontes de Miranda, Carvalho de Mendonça, Orlando
Gomes, Paulo de Lacerda, Caio Mário da Silva Pereira, para
só citarmos alguns dos mais preeminentes doutrinadores
pátrios, são unânimes em contestar a assimilação da
abertura de crédito ao mútuo.”[4]

Por fim, Paulo Maximillian Wilhelm Schonblum diferencia


mais resumidamente os dois contratos, seguindo os
ensinamentos de Sergio Covello:
Desta forma, torna-se forçoso o reconhecimento da reiteração
de certos pressupostos como componentes imprescindíveis do
referido contrato:
a) A tradição não pressupõe o contrato, tendo em vista que a
obrigação bancária consiste apenas em colocar o numerário
à disposição do creditado. Esta é, inclusive, a principal
característica que o distingue do contrato de mútuo; (...)”[5]

“Certamente a polêmica advém de sua similitude com o


contrato de mútuo, já que ambos são formas de concessão de
crédito ao correntista, aperfeiçoadas e regidas, entretanto, de
forma autônoma.
(...)

A assimilação do mútuo à abertura de crédito já ditou


diversas doutrinas, mas a ideia se encontra ultrapassada. Os
contratos divergem em diversos aspectos, como no
momento do aperfeiçoamento (o primeiro se perfaz com
a tradição, o que o classifica como contrato real, enquanto o
segundo somente com a mera disponibilização do valor
acordado – contrato consensual); no objeto do mútuo (o
próprio dinheiro, em um, e a mera disponibilidade, em outro).
Além disso, outras diferenças são explicitadas nas obras de
Direito Bancário. Inicialmente, Sergio Covello aponta que ‘na
abertura de crédito, o Banco creditador é quem começa por
dever, o que não ocorre no contrato de mútuo. A
disponibilidade, na abertura, é unilateral: o creditado retira o
dinheiro se quiser e como quiser, coisa que não acontece no
contrato de mútuo’. Por sua vez, Giacomo Molle
esclarece: ‘enquanto que na abertura de crédito a falta de
utilização da soma creditada não tem significado de
inadimplemento contratual, o mesmo não se pode dizer se o
mutuário omitisse de fazer próprias as somas mutuadas,
porque o contrato faltaria a sua função’.”[6]
Assim, podemos concluir que a doutrina é contrária à
assimilação do Mútuo ao Contrato de Abertura de Crédito, ou
“Teoria do Mútuo”, considerando-a ultrapassada.
[1] Gomes, Orlando: Contratos – 18ª Ed. – Rio de Janeiro:
Forense – 1998 – pág. 327

[2] Martins, Fran: Contratos e obrigações comerciais: ed. Rev.


E aum. – 14ª Ed. – Rio de Janeiro: Forense – 1999 – pág. 437

[3] Gomes, Orlando: Contratos – 18ª Ed. – Rio de Janeiro:


Forense – 1998 – pág. 329

[4] Covello, Sergio Carlos: Contratos bancários – 4 ed. Rev. E


atual. – 4ª Ed. – São Paulo: Liv. E Ed. Universitária de Direito
– 2001 – pág. 187 e 188

[5] Schonblum, Paulo Maximillian Wilhelm: Contratos


bancários – 2ª Ed. – Rio de Janeiro: Freitas Bastos – 2005 –
pág. 99

[6] Schonblum, Paulo Maximillian Wilhelm: Contratos


bancários – 2ª Ed. – Rio de Janeiro: Freitas Bastos – 2005 –
pág. 103

As pessoas também perguntam


O que é um contrato de abertura de crédito?
Contrato de Abertura de Crédito - É o contrato segundo o qual o banco se
obriga a pôr à disposição de um cliente uma soma em dinheiro, por prazo
determinado ou indeterminado, obrigando-se este a devolver a importância,
acrescida dos juros, ao se extinguir o contrato (Contratos e Obrigações
Comerciais - Fran Martins).

Contrato de Abertura de Crédito e Ação Monitória - EMERJ


https://www.emerj.tjrj.jus.br › revista03_110
1.
PDF

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O que é um contrato de abertura de crédito rotativo?
Mediante o contrato de crédito rotativo abre-se uma linha de crédito a uma
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de forma automática pelo tomador, de acordo com suas necessidades. ... O
tomador pode utilizar ou retirar fundos até um limite de crédito pré-aprovado.

Crédito rotativo – Wikipédia, a enciclopédia livre


https://pt.wikipedia.org › wiki › Crédito_rotativo

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O que é um contrato de abertura de crédito fixo?
O contrato de crédito fixo consiste na concessão, por parte da instituição
financeira ao seu cliente, de valor certo, com termo e encargos pré-definidos.
No momento da assinatura do contrato, o contratante já sabe de antemão o
valor total da dívida.

O contrato de mútuo bancário ou de abertura de crédito fixo


constitui ...
https://www.buscadordizerodireito.com.br › jurisprudencia

Pesquisar por: O que é um contrato de abertura de crédito fixo?


O que é um contrato de crédito?

O que é um contrato de abertura de conta corrente?


Ao aderir à Proposta/Contrato de Abertura, o Cliente autoriza o Banco, de
forma irrevogável e irretratável e por prazo indeterminado, a debitar de
qualquer conta que seja ou venha a ser titular em qualquer agência do Banco,
valores oriundos de obrigações regularmente contratadas e exigíveis, inclusive
seus encargos, ...

cláusulas gerais do contrato de conta-corrente e conta


poupança ...
https://www45.bb.com.br › fmc › frm

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O que é contrato de abertura de teto?
Como funciona? Você vai à sua agência de relacionamento e assina
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