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ÉTICA PROFISSIONAL

“Um Código de Ética profissional, ao estabelecer padrões esperados quanto às


práticas referendadas pela respectiva categoria profissional e pela sociedade, procura
fomentar a autorreflexão exigida de cada indivíduo acerca da sua práxis, de modo a
responsabilizá-lo, pessoal e coletivamente, por ações e suas consequências no exercício
profissional. A missão primordial de um código de ética profissional não é de
normatizar a natureza técnica do trabalho, e, sim, a de assegurar, dentro de valores
relevantes para a sociedade e para as práticas desenvolvidas, um padrão de conduta que
fortaleça o reconhecimento social daquela categoria.” Assim começa a apresentação do
Código de Ética Profissional do Psicólogo (2005). Depreende-se desse trecho a
necessidade de um código de ética que norteie o profissional, seja qual for a profissão.
No entanto, cabe a discussão se um código desse tipo deve ser majoritariamente
normatizado ou mais reflexivo.

O Código dos psicólogos afirma que um texto desse tipo não deve ter como
objetivo normatizar, mas sim “assegurar um padrão de conduta”. Ora, tal afirmação, à
primeira vista, pode ser contraditória, pois parece querer impor uma norma de conduta,
de forma a normatizar a prática. Porém, ao se estudar mais a fundo, é possível notar um
ponto: a mutabilidade dos códigos de ética. Por um lado, de fato não mudam, pois
expressam valores universais como respeito ao ser humano e a seus direitos
fundamentais. Por outro, refletem fatores socioculturais, que, como se sabe, mudam
com o tempo e com a sociedade. Nenhum código de ética está isento de ideologia
daqueles que estão no poder (cf. Amendola, 2014), portanto é necessário que ele seja
dinâmico. Só assim pode-se englobar as mudanças da sociedade e das leis.

Dessa forma, um código de ética deve servir como meio de reflexão para o
profissional. Lendo suas cláusulas, um profissional deve refletir sobre elas, de modo a
incorporar na sua prática os valores lá expostos, junto com os valores aprendidos em sua
vida pessoal e profissional. A partir disso, pode-se executar uma prática que esteja de
acordo com os valores (que são mutáveis) do homem e da sociedade. Assim, o
psicólogo consegue nortear sua prática baseando-se em ideais que permitam uma práxis,
na falta de outra palavra, ética. Só assim é possível entregar um trabalho que leve em
consideração o contexto social no qual o profissional está inserido, baseando-se no
contexto organizacional de sua profissão e nos valores vigentes na sociedade, bem como
os valores carregados pelo indivíduo levando em conta sua história de vida.

Como disse Amendola (2014), no caso dos psicólogos, o Código de Ética tem
sido usado como “medida apaziguadora”, em que seu cumprimento se confunde com
agir eticamente. Esse erro cai exatamente na discussão deste trabalho. O Código não
deve ser usado como um conjunto de regras rígidas que deve ser seguido literalmente e,
que quando seguido, exime o profissional de qualquer responsabilidade. Ele deve servir
como uma ferramenta de apoio, um guia, que oriente as práticas do profissional, mas
que ele não as use de forma acrítica. O que tem acontecido, no mundo pós-moderno, é
que os profissionais, “guiados por suas reflexões e incertezas” (Amendola, 2014),
sentem-se inseguros de tomar decisões e serem responsáveis por elas. Por esse motivo,
acabam seguindo o Código literalmente, de forma a perder um pouco da sua liberdade
na prática, mas também trabalhando com um sentimento maior de segurança.

Isso, no entanto, não é positivo. Como foi visto em aula, através de diversas
palestras, a área da psicologia é muito extensa, e criar um Código de Ética que englobe
todas é muito difícil, já que suas práticas são variadas. Dessa forma, é possível perceber
como um código normativo não funcionaria. Ditar regras rígidas a um campo tão vasto
quanto o da psicologia acabaria por tolher as particularidades e as necessidades de cada
caso e de cada psicólogo.

Portanto, seguir uma norma não garantiria uma prática ética, mas sim uma
prática empobrecida. O código de ética é, de fato, um conjunto de normas de conduta
que tenta esclarecer para um grupo os objetivos de certo trabalho e como é a prática
desse trabalho em prol desse objetivo. Porém, ainda assim não deve ser seguido
literalmente. No caso dos psicólogos, a subjetividade do paciente e do profissional são
parte importante da práxis. Seguir um código rigidamente pode vir a podar essas
particularidades. Além disso, um código de ética reflete os valores da sociedade e, como
esses valores são mutáveis, o psicólogo deve ficar sempre atento a eles para que
permeiem sua prática, ao contrário de se ater a normas escritas que podem estar já
defasadas.
Referências

AMENDOLA, Marcia Ferreira. História da construção do Código de Ética


Profissional do Psicólogo. Estudos e Pesquisas em Psicologia, v. 14, n. 2, p. 660-685,
2014.

Conselho Federal de Psicologia. (2005). Resolução CFP n° 010/2005. Código de


Ética Profissional do Psicólogo, XIII Plenário. Brasília, DF: CFP.

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