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Capítulo 2

Elaborando projetos sociais

Habilidades Neste capítulo, estaremos aprofundando o estudo


em torno dos projetos sociais, agora enfocando
assuntos como sua viabilidade, diagnóstico, e o
roteiro de elaboração. Ao finalizar este capítulo,
o(a) estudante estará apto a realizar um estudo
de viabilidade, bem como um diagnóstico, tendo
subsídios que permitirão a elaboração de um
projeto por meio do roteiro então desenvolvido.

Seções de estudo Seção 1:  Ciclo de vida de um projeto social

Seção 2:  Viabilidade

Seção 3:  Diagnóstico

Seção 4:  Roteiro: escrevendo o projeto social

MACIEL, Walery Luci da Silva. Projetos sociais: livro didático. Palhoça: UnisulVirtual, 2015. p 23-40.

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Capítulo 2

Seção 1
Ciclo de vida de um projeto social

Um projeto não começa nem termina na elaboração de sua


proposta. Há um caminho a ser percorrido. Em geral, no início, há
um conjunto de idéias e desejos (mais ou menos vagas) a respeito
de alguns objetivos ou do que se quer fazer. Estas idéias provêm
do trabalho que o grupo já realiza ou de algum problema em vias
de transformar-se em demanda (STEPHANOU, 2003, p. 41).

De acordo com CEPAL (1997), Keelling (2002) e Stephanou (2003), todo projeto
social passa por uma série de fases ou etapas, que vão desde sua concepção
até sua conclusão, sendo que nessas são encontradas necessidades e
características próprias. Cada uma das etapas está associada a um conjunto de
estudos que são necessários para conhecer e avaliar diversas características
do projeto. À medida que as etapas são vencidas, maiores informações são
adquiridas, diminuindo, dessa forma, o risco de implementação de um projeto
que não atenda as demandas. Para Keelling, “a compreensão do ciclo de vida
é importante para o sucesso na gestão de projetos, porque acontecimentos
significativos ocorrem em progressão lógica e cada fase deve ser devidamente
planejada e administrada” (2002, p. 13).

Neste sentido, CEPAL (1997), Stephanou (2003) e Armani (2004) identificam como
partes do ciclo de vida de um projeto as seguintes etapas ou fases:

•• Fase da identificação: Entre o problema e a elaboração


propriamente dita do projeto, existe um período de consultas e
estudos preliminares em que se buscam informações sobre as
questões mais importantes Nessa fase acontece a identificação
da oportunidade da intervenção, delimitando-se seu objeto e seu
âmbito. É a fase do diagnóstico e do reconhecimento dos limites
institucionais, que devem ser levados em conta. Nessa fase,
também, verifica-se a viabilidade técnica, política e financeira, que
irão determinar, por fim, a sustentabilidade da ideia.
•• Fase da elaboração: Armani (2004) define como constituintes
dessa fase: a formulação do objetivo do projeto, a proposição dos
resultados imediatos, a indicação das atividades e ações, a análise
lógica da intervenção, a identificação dos fatores de risco, a definição
dos indicadores, seus meios de verificação e procedimentos de
monitoramento e avaliação, a análise da sustentação lógica do
projeto, a montagem do plano operacional, a determinação dos
custos e da viabilidade financeira e, por fim, sua redação.

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Projetos Sociais

De acordo com Stephanou (2003), o trabalho de redação fica


sob a responsabilidade de um pequeno núcleo de trabalho com
representação dos envolvidos com e no projeto social.
•• Fase da aprovação: Considerando que a busca pelos recursos é
o que permitirá a execução do projeto, deve, portanto, acontecer
desde seu início, sendo aquela fase em que se têm aprovados e
garantidos os recursos para sua implementação.

Com uma proposta redigida, fica mais fácil estabelecer contatos


e articular parcerias ou apoios. Mesmo que ainda existam pontos
obscuros ou idéias imprecisas, qualquer interlocutor sempre terá
mais segurança em apoiar o projeto se conseguir visualizá-lo no
papel. Por isso, o esforço para a articulação de um projeto ocorre
após sua formulação. Na maioria das vezes, as articulações
implicarão em mudanças no que já havia sido escrito. E isso é
muito positivo. (STEPHANOU, 2003, p. 41).

•• Fase de implementação: É a fase mais complexa de todo o ciclo,


pois este é o momento do desenvolvimento das atividades e da
utilização dos recursos, tendo como alvo o alcance dos resultados
e objetivos estipulados. Na realidade, a implementação do projeto é
um processo constante de pensar e repensar as ações, resultados
e indicadores que se pretende alcançar. Significa estabelecer
processos de monitoramento e avaliação, bem como um contínuo
esforço de articulação e mobilização de recursos em torno dos
objetivos do projeto.
•• Fase da avaliação: Corresponde ao momento em que se
questionam os resultados e os impactos de todos os esforços e
recursos envolvidos. Diferente da avaliação contínua, que acontece
ao longo da implementação, essa acontece em espaços maiores de
tempo, normalmente em períodos marcantes ao longo do projeto,
como, por exemplo, ao final de cada ano. Dessa forma, a conclusão
de um projeto pressupõe uma avaliação final seguida pela
elaboração de relatórios, que apontem os resultados e ou impactos
alcançados com suas ações.
•• Fase de replanejamento: Tendo como base as conclusões da
avaliação, no replanejamento buscam-se rever objetivos, resultados,
premissas, fatores de risco. Enfim, é a hora de planejar novamente
a partir do aprendizado adquirido até então. De acordo com
Stephanou (2003), a conclusão de um projeto nem sempre é o
seu fim, pois podem surgir outras ideias ou desafios que acabem
gerando novos projetos, que, por sua vez, podem ser replicados em
outros lugares, e assim o ciclo se retroalimenta.

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Capítulo 2

Seção 2
Viabilidade

Refletir sobre a viabilidade e interrogar-se sobre as possibilidades


de realização da ação sem problemas, e sobre as possibilidades
de que estas se mantenham quando a ajuda e os apoios findarem.
É também perguntar-se, se os resultados esperados justificam os
esforços e os investimentos previstos. (BEAUDOUX, 1993, p. 42).

O estudo de viabilidade dentro do processo de elaboração do projeto social,


conforme citação acima, demonstra o cuidado que deve antecipar qualquer
tomada de decisão ou ação. Lembrando que os projetos sociais caracterizam-
se por tratarem da construção de direitos e afirmação cidadã, num universo que
envolve recursos, pessoas, organizações públicas e sociais, a realização das
ações planejadas deverão ter seus resultados atestados por meio de relações e
da prestação de contas transparentes.

De acordo com Keelling (2002), o estudo de viabilidade é um dos passos mais


importantes para o êxito no desenvolvimento do projeto; porém, na maioria das
vezes, é negligenciado e ou subutilizado. Segundo o autor, se conduzido e realizado
adequadamente, esse estudo torna-se o fundamento sobre o qual definições
importantes no escopo do projeto, tais como seus objetivos e sua justificativa,
podem ser estabelecidas, dando ao processo maior segurança e confiabilidade.

Para Stephanou (2003), os aspectos a serem considerados para a verificação da


viabilidade de um projeto social dependem muito da sua natureza e do contexto
onde será realizado. O autor, de maneira ampla, identifica esses aspectos a partir
de dois agrupamentos: aspectos econômicos e socais.

Os aspectos econômicos dizem respeito à capacidade da organização, e,


consequentemente, do projeto, de alavancarem os recursos necessários a sua
implementação. Para tanto, o estudo de viabilidade deve:

a. Realizar o levantamento prévio do tipo e da quantidade de recursos


que serão necessários;
b. Considerar as fontes financiadoras e suas políticas de ação,
modalidades de financiamento - fundo perdido, linhas de crédito,
subsídios, empréstimos, incentivo fiscal, as formas de acesso -
editais públicos, fluxo contínuo, concursos, contato direto;
c. Demonstrar que o projeto é economicamente viável e que os recursos
a serem empregados são qualitativa e quantitativamente justificáveis;

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Projetos Sociais

d. Prever a continuidade das parcerias por meio do estabelecimento


de um processo de comunicação entre todos os envolvidos
com o projeto – entidade, financiadores, público beneficiário -
compatibilizando as urgências e prioridades das demandas com
critérios e mecanismos de transparência.
e. Prever o apoio além do acordo financeiro, envolvendo, também,
apoio técnico, político, além do compromisso mútuo com os
objetivos e resultados das ações empreendidas.

Quanto aos aspectos sociais do estudo de viabilidade, o autor afirma que esses
devem envolver:

a. Em nível local, o apoio e adesão das instituições que atuam junto


aos grupos sociais alcançados pelo projeto social, considerando que
esse apoio é fundamental para a criação e manutenção de canais
de comunicação e relacionamento entre os envolvidos “a fim de que
as propostas ganhem sustentação, criando-se uma conjunção de
esforços na mesma direção” (STEPHANOU, 2003, p. 37);
b. A participação ativa da população, visando ao fortalecimento da
cidadania e ao enraizamento da proposta junto aos grupos sociais
aos quais ela deseja alcançar, tornando-os agentes ativos em todo
o processo de elaboração, execução e avaliação do projeto social.
c. O respeito e o reconhecimento aos saberes e representações
próprios da cultura da população envolvida, não impondo código
de valores e condutas, preservando, assim, a dimensão cultural da
vida social, condição necessária para que as mudanças ocorram
dentro de uma relação de horizontalidade e aceitação.

De acordo com Beaudeaux (1993) e Tenório (2002), o estudo de viabilidade parte


de interrogações que envolvem a exequibilidade do projeto, sua capacidade de
continuidade, além da justificativa entre ação e resultados. O autores, de forma
mais detalhada, identificam as seguintes dimensões que devem constar do
estudo de viabilidade. São elas:

a. Viabilidade técnica: deve prever se, do ponto de vista técnico,


as ações são realizáveis e se podem ser exitosas, observando,
também, se a população ou grupo beneficiário poderá se apropriar
dessas técnicas. Trata de “ verificar se as tecnologias escolhidas
serão adequadas quanto à relação: recursos aplicados e resultados
possíveis de serem alcançados”. (TENÓRIO, 2002, p. 21).

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Capítulo 2

b. Viabilidade organizacional: nessa dimensão, o estudo deverá


responder questões ligadas à capacidade da organização na
gestão do projeto, de forma abrangente e conclusiva, bem como
a capacidade dos financiadores em aportar os recursos de acordo
com as necessidades programadas. Segundo Armani (2004), trata
de verificar se a organização promotora e os demais apoiadores
detêm os recursos técnicos e a capacidade operacional adequada
ao que está sendo planejado.
c. Viabilidade política: segundo Beaudeaux (1993), esse estudo é
de extrema importância e deve apontar o quanto e de que forma
a organização e o projeto se relacionam com as políticas públicas
e com o contexto político local. Para Armani (2004), o estudo da
viabilidade política deve indicar até que ponto a iniciativa encontrará
a adesão e o apoio da população beneficiária e dos membros da
organização promotora.
d. Viabilidade econômica: de acordo com Tenório (2002), o estudo da
viabilidade econômica irá verificar qual a contribuição que o projeto
dará para a população beneficiária como um todo, isto é, trata da
combinação entre os recursos envolvidos no projeto e os resultados
alcançados. Deve, portanto, responder à questão: as atividades
previstas estão consolidadas em um equilíbrio econômico,
observadas as regras de estabilidade entre despesas e receitas?
e. Viabilidade financeira: quanto à viabilidade financeira, Beaudeaux
(1993) ressalta que essa diz respeito ao fluxo de recursos, tanto de
entrada quanto de saída, necessários ao programa de desembolso
e de realização do projeto, devendo ser também analisados com
precisão os fatores condicionantes à obtenção dos recursos e sua
posterior utilização.
f. Viabilidade ambiental: a preocupação com o meio ambiente deve
estar presente em todos os projetos que podem afetar de forma
direta ou indireta o equilíbrio ecológico, observando seus resultados
no médio e longo prazo, e as consequências do projeto para o meio
ambiente.
g. Viabilidade social e cultural: para Tenório (2002), a viabilidade
social e cultural diz respeito ao equilíbrio que deve existir entre
as ações pretendidas e aos saberes e demandas dos grupos
envolvidos com o projeto. O autor afirma que “é quando se faz o
estudo de viabilidade social que serão verificadas as consequências
sociais que surgirão em decorrência dos investimentos realizados
pelo projeto” (TENÓRIO, 2002, p. 26).

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Projetos Sociais

A coleta das informações que se faz necessária para a consecução do estudo


de viabilidade deve acontecer a partir do levantamento de material bibliográfico
acerca do tema/foco do projeto, dos dados de pesquisas e estudos, da análise
de indicadores sociais e do amplo e constante debate entre todos os envolvidos
com e na organização e, consequentemente, com o projeto. A possibilidade
de êxito de um projeto está diretamente ligada ao nível de estudo e pesquisa
empreendidos para a realização do seu estudo de viabilidade. Por outro lado, o
estudo de viabilidade permite que a organização atue de forma estratégica, com
a implementação de projetos bem elaborados, agregando qualidade e avanços às
conquistas sociais pretendidas.

Seção 3
Diagnóstico

O diagnóstico pode, portanto, ser definido “como o


aprofundamento das dinâmicas de mudança, potencialidades e
obstáculos de uma determinada situação, sendo um processo
permanente e sempre participado, pelo que está sempre
inacabado. No entanto, vai tendo intensidades diferentes sendo
inevitavelmente mais aprofundado –e mais extenso- na fase
inicial de lançamento de um projecto e de definição do seu
desenho para um horizonte determinado.” (MTS/SEEF, 1999, pp.
6.2-6.3 apud Santos, 2012, p.5).

A partir do momento em que se identifica a necessidade e oportunidade de uma


intervenção, objeto do projeto social, e é analisada a sua viabilidade, ainda na fase
de identificação, os trabalhos avançam na direção de aprofundar o conhecimento
da problemática em questão, e isso se dá por meio do diagnóstico.

O diagnóstico, dentro do processo de elaboração do projeto social, tem a função


de verificar as hipóteses que originaram o projeto, permitindo o aprofundamento
das indagações levantadas no estudo de viabilidade e o avanço no conhecimento
de todas as questões que envolvem a problemática e o projeto.

Para Beaudeaux (1993), é um risco omitir tão importante etapa de conhecimento


do meio em que se dá o projeto. Recomenda o autor que não se deve passar às
fases mais operacionais de montagem, como busca de apoios e de execução,
antes de metodicamente confrontar todas as hipóteses iniciais com a realidade
concreta, possibilitando a identificação de fatores negativos e de potencialidades
de todo o contexto.

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Capítulo 2

Armani (2004) chama a atenção para o fato de que o diagnóstico não


é neutro, pois sua condução e estrutura estão permeados pela visão
político-ideológico de todos os que estão envolvidos no processo, o que irá
influenciar todas as definições referentes à situação problema e às demais
hipóteses preliminares estabelecidas anteriormente.

A partir do diagnóstico, o projeto avança, pois as informações levantadas irão


permitir a formulação dos objetivos, estratégias, resultados e ações. Essa é uma
fase de extrema importância no ciclo de elaboração do projeto social, e deve
acontecer a partir de uma atitude investigativa e participativa.

De acordo com Stephanou (2003), investigar significa buscar conhecer os


atores envolvidos no projeto, o que os interessa, suas motivações, relações,
diferenças e divergências. Significa, também, envolvê-los ativamente na produção
do conhecimento a respeito da realidade em que vivem, reconhecendo-se
dentro deste processo. Por essa razão, recomenda o autor, “é necessário que
os diversos grupos sociais sejam envolvidos na identificação dos problemas
existentes, na definição de prioridades, na formulação de estratégias de ação e
nos exercícios de avaliação” (2003, p.30).

A ideia da participação e reforçada por Tenório (1990, p. 163) quando afirma:

O que se precisa entender é que participar é fazer política e esta


depende das relações de poder percebidas. Que participar é uma
prática social na qual os interlocutores detêm conhecimentos que,
apesar de diferentes, devem ser integrados. Que o conhecimento
não pertence somente a quem passou pelo processo de educação
formal, ele é inerente a todo ser humano. Que se uma pessoa é
capaz de pensar sua experiência, ela também é capaz de produzir
conhecimento. Que participar é repensar o seu saber em confronto
com outros saberes. Participar é fazer com e não para.

No que é complementado por Cury (2001, p. 43) quando este autor afirma:

É preciso garantir que, independentemente do método


utilizado, todos os atores envolvidos no projeto participem do
processo, com seus conhecimentos específicos, com suas
práticas diferenciadas e suas diferentes leituras da realidade
(...). Assim, um dos aspectos fundamentais nesse momento
é compreendermos essas diferentes visões de mundo, os
diferentes interesses e desejos manifestos.

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Projetos Sociais

A mobilização de todos os envolvidos com a organização e com o projeto


requer empenho por parte de quem o coordena. Para essa tarefa, existem várias
metodologias participativas eficientes na realização de pesquisas, identificação de
atores e levantamento de recursos, que colaboram com o processo de condução e
elaboração do projeto social. Estamos falando de pesquisa participante, pesquisa-
ação, técnicas de construção de matriz de planejamento como o marco lógico,
planejamento estratégico e técnicas de avaliação a partir de grupos de discussão.

Se você desejar conhecer um pouco mais sobre o assunto, sugerimos a leitura dos
seguintes livros:

BROSE, Markus. Metodologia participativa: uma introdução a 29 instrumentos.


Porto Alegre: Tomo Editorial, 2001.

MACIEL, Walery Luci da Silva. Gestão social: planejamento e avaliação: livro


didático. Palhoça: UnisulVirtual, 2014.

Para Armani (2004), o diagnóstico deve permitir:

•• Uma visão da situação inicial dos potenciais beneficiários por


meio do levantamento detalhado de dados e informações que
demonstrem suas condições de vida. Essas informações subsidiaram
o monitoramento ao longo do projeto e suas avaliações finais.
•• A identificação das dinâmicas sócio-políticas, culturais e
econômicas captadas na situação problema.
•• A percepção e avaliação de todas as iniciativas similares já em
andamento, na esfera pública ou privada.
•• A identificação das percepções, experiências, e o que esperam os
potenciais beneficiários em relação à situação problema.
•• O engajamento de todos os envolvidos sejam cidadãos beneficiários
ou equipe da organização promotora.
•• A pesquisa bibliográfica sobre o tema, considerando o ponto de
vista teórico e as experiências já registradas.

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Capítulo 2

De acordo com Cury (2001, p.44), o diagnóstico deve envolver as seguintes


questões:

Quais as informações necessárias para que isso possa se


realizar a contento? Quem são e como pensam os atores nessa
realidade? Quais seus desejos e necessidades? Quais os
problemas, suas causas e seus efeitos? Quais são os valores da
equipe do projeto? Eles coincidem? Quais as características e as
competências da equipe? Ou seja, analisar o contexto significa
não só analisar a realidade externa ao projeto, mas também a sua
dinâmica interna, criando uma base para a avaliação final, bem
como identificar as situações que possam limitar ou potencializar
o alcance dos resultados do projeto.

Por sua vez, Santos (2012) afirma que o diagnóstico tem, como finalidades,
documentar o estado da ação em face da problemática, identificar as questões
mais relevantes por meio das quais serão formulados os objetivos e determinar a
importância da problemática e suas principais causas.

Em se tratando da definição da problemática, Armani (2004) refere-se a ela como


um dos momentos mais importantes do diagnóstico, pois se busca analisá-la
como um processo social complexo, com múltiplas causas, e que deve finalizar
com a identificação dos problemas mais relevantes para a compreensão da
situação como um todo.

O autor sugere como passos:

•• Identificar as situações problemas ou desafios que melhor


expressam a problemática em estudo;
•• Organizar os problemas/desafios de forma que eles se identifiquem
por causa e efeito;
•• Após os dois passos anteriores, identificar um problema central,
chave para mudar a situação problema, e que possa ser trabalhado
pela ação do grupo que executa o projeto;
•• Elencar as principais causas do problema central identificado;
•• Definir as linhas de ação estratégicas relacionadas às causas
principais, desde que sejam realizáveis pelo grupo promotor do
projeto. De acordo com Armani, “tais linhas de ação podem vir a
se tornar projetos específicos ou diferentes objetivos em um único
projeto, ou ainda diferentes resultados de um mesmo projeto”.
(2004, p. 46).

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Projetos Sociais

Nesse mesmo esforço de identificação da problemática, o Manual de formulação


e avaliação de projetos sociais/Division de Desarrollo Social (CEPAL, 1997) sugere
como perguntas orientadoras ao processo:

•• Existe um problema?
•• Qual é o problema?
•• Quais são os elementos essenciais do problema?
•• A quem o problema afeta, ou seja, qual é a população alvo?
•• Qual é a amplitude atual do problema e suas consequências?
•• Quais são as informações relevantes acerca do problema para
realização de um estudo conclusivo?
•• Dispõe-se de uma visão clara e definida do contexto geográfico,
econômico e social do problema?
•• Quais são as principais dificuldades para enfrentar o problema?

Com base nos autores estudados, sugere-se a matriz abaixo como uma
possibilidade para o registro dos resultados dos debates em torno da definição
do problema central.

Quadro 2.1 - Matriz para definição do problema central

Problema Linhas Estratégicas


Situações Problema Causas Efeitos Causas
Central de Ação

Fonte: Adaptação de CEPAL (1997) e Armani (2004).

A partir dessas questões realizam-se os debates, reflexões e pesquisas por meio


das quais acontece a construção coletiva e participativa de mais uma etapa no
ciclo de vida do projeto social. Concluído o diagnóstico, o grupo promotor avança,
então, para a fase seguinte, que é a elaboração do projeto social, cujo roteiro
passamos a estudar na próxima seção.

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Capítulo 2

Seção 4
Roteiro: escrevendo o projeto social
Assim, o documento escrito do projeto é a sistematização, a
concretização de todo o processo de planejamento e um
instrumento poderoso na captação de recursos, a qual, se
não é o fim de nossa ação, é condição necessária para a sua
viabilização. (CURY, 2001 ,p. 49)

Dos instrumentos de planejamento, o projeto é aquele que apresenta maior nível


de detalhamento. Dessa forma, de acordo com Baptista (2002), para que esse
alcance seus objetivos e seja capaz de alavancar os recursos necessários à
sua execução, sua apresentação, independente da metodologia utilizada, deve
priorizar os seguintes aspectos:

•• Simplicidade e clareza na apresentação.


•• Disposição gráfica que permita fácil visualização.
•• Ilustrações simples e claras.
•• Objetividade e exatidão na transmissão das informações, nas
terminologias e definições técnicas.
•• Descrição adequada de cada operação.
•• Descrição exaustiva e abrangente de todos os aspectos que
envolvem a questão a que se destina.
•• Coerência e compatibilidade em todas as suas etapas e na sua
relação com os demais níveis da programação.
•• Relação visível entre suas fases ou etapas, com o alcance
dos resultados e dos objetivos preestabelecidos dentro do
organograma previsto.

No que diz respeito à metodologia, uma busca não exaustiva na literatura vai nos
mostrar uma série de opções, desde as mais simples a outras mais elaboradas.
A metodologia para elaboração de um projeto geralmente acompanha um roteiro
predeterminado, que, por sua vez, tem sua definição a partir das necessidades
ou exigências próprias da organização executora ou do órgão financiador. A
redação de uma proposta significa seguir um roteiro básico de questões que
devem ser respondidas.

Considerando a experiência desta autora e com base em Baptista (2002), Keelling


(2002), Armani (2004), Cohen e Franco (2000), Cury (2001), Stephanou (2003) e
CEPAL (1997), elencamos os componentes fundamentais para a redação de um
projeto, sobre o que passamos a refletir nesta altura de nosso estudo.

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Projetos Sociais

4.1 Identificação da organização propositora e executora


Devem constar, neste item, os dados que permitem identificar as organizações
ou grupos envolvidos com o projeto, tais como: nome, endereço, registros fiscais,
número de telefones, homepage, e-mail, dados acerca da diretoria, contato,
responsável pela elaboração do projeto e responsável por sua execução. Nesse
item é importante constar, também, algumas informações acerca da trajetória
das organizações envolvidas, informações que ofereçam indicadores de sua
experiência e qualificação na execução e gestão de projetos e ações sociais.

4.2 Título do projeto


Neste item, as recomendações são de que este deve ser claro, objetivo e que
permita visualizar o que será realizado.

Neste item, as recomendações são de que este deve ser claro o objetivo do
projeto, de forma que se consiga visualizar o que será realizado. Cury (2001)
sugere que o título do projeto reflita a natureza do problema enfocado e tenha um
impacto significativo em seu leitor. De acordo com Stephanou (2003, p. 48):

A escolha do título também merece atenção: ele será um


elemento importante para o reconhecimento do projeto junto
aos grupos sociais envolvidos. Sendo assim, é interessante que
o projeto tenha um título sugestivo e com significado para a
população envolvida e os possíveis apoiadores.(...) Quando bem
escolhido, o título pode ajudar um projeto a se tornar referência
para a população. Além disso, se o projeto for bem sucedido, seu
nome torna-se uma “marca”, isto é, uma referência que garante
créditos para quem propôs e para quem participou da ação. Isto
pode facilitar para a obtenção de novos apoios e fazer daquela
ação um caso exemplar a ser seguido por outros grupos sociais.

4.3 Justificativa
Na justificativa constam as informações quanto à necessidade do projeto,
seus antecedentes, prioridades e alternativas. Realiza-se, também, a análise
do contexto, a natureza do problema e, por fim, evidencia-se a viabilidade
da proposta, enfatizando as parcerias existentes ou possíveis. A justificativa
é considerada a defesa da proposta, devendo ser capaz de demonstrar
e convencer aos leitores de que o projeto está embasado em uma visão
consistente, tanto da problemática quanto dos caminhos para sua abordagem
e intervenção. Deve demonstrar, ainda, que as organizações e ou grupos
propositores apresentam as qualificações necessárias para executá-lo e que este
é o momento adequado para sua execução. Complementa Cury (2001, p. 50):

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Capítulo 2

A justificativa deve expor seus argumentos, correlacionando as


deficiências locais, necessidades e potencialidades descritas
e analisadas com a alternativa de intervenção escolhida,
demonstrando a relevância e a necessidade de realização
do projeto, bem como sua capacidade de transformação da
realidade analisada.

4.4 Objetivo geral, objetivos específicos e metas


A definição dos objetivos é um momento singular no processo de elaboração e
redação do projeto social, pois é neste item que se expressa com exatidão o que
efetivamente o grupo ou organização deseja fazer e onde quer chegar. Portanto, a
definição dos objetivos deve acontecer de forma debatida e refletida, pois esses
irão expressar a “alma do projeto”. A definição dos objetivos, tanto os gerais
quanto os específicos, bem como das metas, deve ser feita de forma precisa e
clara, demonstrando sua operacionalização.

Propor um objetivo é expressar a intenção transformadora da proposta, isto é, a


transformação que poderá ser monitorada e avaliada. Por essa razão, deve haver
compatibilidade e complementaridade entre metas, objetivos e coerência desses,
com a questão foco do projeto e com os seus efeitos sobre a situação problema.

De acordo com Cury (2001, p. 45),

Não é fácil formular objetivos, mas sua elaboração e delimitação,


sua clareza e legitimidade são fundamentais para o êxito de
qualquer projeto, já que será em função dos objetivos traçados
que todas as ações serão pensadas, executadas e avaliadas.

•• Objetivo geral: De acordo com Keelling (2002), o objetivo geral é


a pedra angular do projeto, pois ele define, em termos simples, o
propósito do projeto e o que ele deve alcançar. Toda atividade
gira em torno da consecução do objetivo geral, pois sua definição
está diretamente ligada aos motivos pelos quais o projeto deve
ser desenvolvido. De acordo com Armani (2004), o objetivo geral
deixa claro a partir de qual perspectiva o projeto se desenvolverá,
expressando seu impacto geral e indo além dos efeitos produzidos
na população beneficiária ou organizações envolvidas. A definição
do objetivo geral deve ser feita de forma clara, precisa, colocando
a problemática em termos de ação positiva, o que servirá como um
guia para a definição dos objetivos específicos e das metas.

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Projetos Sociais

1. Objetivo não é atividade, é intenção, é onde o projeto deseja chegar. Deve ser
descrito com clareza e precisão, utilizando-se os verbos no infinitivo.

2. Cada projeto tem um objetivo geral; se houver mais de um, temos então dois
ou mais projetos.

•• Objetivos específicos: De acordo com Stephanou (2003) e Cury


(2001), os objetivos específicos apontam para os resultados
concretos do projeto, estando vinculados às ações e aos resultados
que se deseja alcançar com sua consecução. Configuram como
um desdobramento do objetivo geral, expressando diretamente os
resultados esperados. Além disso, são o foco imediato do projeto,
orientando diretamente nossas ações. Diferentemente do objetivo
geral, os objetivos específicos dificilmente serão somente um, pois
eles respondem a diferentes perguntas, como: Para que o projeto
será implantado? Quais efeitos são esperados?

Os objetivos específicos servirão de referencial para o dimensionamento


do êxito ou fracasso do projeto, portanto, há que se ter cuidado quanto à
quantidade a ser definida, lembrando que, a partir deles, serão demarcadas
as metas e ações a serem efetuadas.

•• Metas: As metas configuram uma parte essencial do projeto, pois


são nelas que os objetivos específicos se traduzem em ações e
resultados. Pode-se dizer que elas completam a tarefa iniciada com
a definição dos objetivos específicos, respondendo o que se quer de
um projeto e onde se pretende chegar. As metas devem esclarecer
a abrangência (espaço geográfico), o setor de intervenção, os
resultados esperados e os prazos. As metas se definem em termos
de quantidade, qualidade e tempo. Devem ser claras, precisas
e realistas. Considera-se um projeto efetivo na medida em que
consegue atingir as metas propostas a partir de seus objetivos
específicos. As metas podem ser entendidas como objetivos com
prazo, quantidade, qualidade e lugar definidos, respondendo de
forma precisa as seguintes questões: Quando? Quanto? Como?
Onde?

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Capítulo 2

4.5 Público-alvo
Esse item define aspectos diretamente relacionados à população beneficiária do
projeto, isto é, quem, onde e qual o número de pessoas que serão alcançadas
pelas ações propostas. Sua definição deve abordar características como: faixa
etária, sexo, nível de escolaridade, situação socioeconômica e sociodemográfica,
entre outras.

Deve-se considerar que um projeto envolve populações de duas formas:


direta e indireta. A população diretamente envolvida com o projeto é aquela
que está relacionada a ele de forma concreta, participando de forma ativa da
elaboração de suas ações, e que será atingida diretamente por seus resultados.
Já a população indiretamente envolvida diz respeito àquelas pessoas que se
relacionam com o projeto de maneira mais passiva, e que serão atingidas de
forma mais distante e indireta, não participando ativamente de sua elaboração
e implantação. Stephanou (2003) sugere que o público alvo direto deva ser
quantificado e o indireto estimado. Desta forma:

Um bom projeto sempre estará preocupado em transformar uma


parte do público indireto em população diretamente envolvida,
aumentando seu alcance. Isso significa tentar ampliar os acordos,
ampliar o raio de ação do projeto e articular políticas de alianças
e estratégias de inclusão de outras questões sociais ou públicos
existentes em seu local de atuação. (STEPHANOU, 2003, p. 59).

4.6 Metodologia
Na metodologia será abordada a maneira de agir ou o modo como as ações
serão feitas, envolvendo todos os passos da elaboração do projeto, seus
processos, métodos, técnicas e instrumentos para a ação. Serão descritos os
caminhos, procedimentos e maneiras pelas quais se pretende organizar, realizar e
avaliar o projeto. Dessa forma, são explicitados os sistemas de coordenação, os
métodos de avaliação e seus responsáveis. Deverão ser descritas com clareza e
concisão as etapas necessárias, quais e como serão desenvolvidas as ações para
o alcance dos objetivos e metas propostos. Cury (2001, p. 51) acrescenta que

deve-se relatar, resumidamente, o modelo teórico utilizado,


explicitar as rotinas e as estratégias planejadas, as
responsabilidades e compromissos assumidos, como o projeto
vai se desenvolver, todos os envolvidos e o nível de participação/
responsabilidade de cada um.

38
Projetos Sociais

4.7 Requisitos técnicos


A abordagem dos requisitos técnicos diz respeito à descrição e previsão de todos
os recursos físicos, humanos, tecnológicos e financeiros, que serão necessários
para a implementação do projeto, conforme descrito abaixo:

a. Recursos humanos: Lista-se o pessoal necessário, especificando


função, nível de escolarização, nível de salários, forma de
recrutamento e seleção, qualificação profissional, número e tipo
de vinculação, quantidade de horas de trabalho e a previsão do
programa de capacitação.

Abordando sob outro aspecto, Stephanou (2003) diferencia a


equipe direta e indiretamente envolvida com o projeto. Para o autor,
equipe direta é aquela formada por entidades, grupos ou pessoas
que executarão as ações, colocando a “mão na massa”; já a equipe
indireta é formada por

setores, grupos ou indivíduos que, embora ligados à equipe


que executa o projeto, não participam necessariamente
de forma direta das ações. São aqueles que trabalham na
retaguarda, dando apoio, mantendo a infraestrutura necessária,
acompanhando e/ou monitorando o desenvolvimento do projeto.
(STEPHANOU, 2003, p. 69).

b. Recursos materiais: Previsão dos materiais de consumo e


permanentes, instalações e equipamentos que serão necessários.
c. Recursos tecnológicos: Previsão de todo aparato tecnológico
necessário ao projeto, tais como computadores, mídias, softwares,
entre outros.
d. Recursos financeiros: A previsão dos recursos financeiros
necessários para a execução do projeto é definida em orçamento,
onde constam: os valores das despesas (gastos) e receitas
(entradas de dinheiro), as fontes de financiamento, os prazos para
desembolso e a prestação de contas. Esse item será mais bem
detalhado mais adiante neste livro.
e. Parcerias e interfaces: Neste item, são relacionadas as parcerias
e interfaces estabelecidas para a consecução do projeto, sejam
as de ordem financeira, técnica, ou de outro gênero. Aqui também
devem ser identificados os apoios externos, bem como quem
executará o projeto.

39
Capítulo 2

Por interfaces entendem-se os órgãos da esfera pública (federal, estadual ou


municipal), que poderão estar cedendo suas estruturas técnicas, humanas,
administrativas, financeiras e de materiais, ao projeto. Por parceria entendem-se
empresas e /ou entidades e/ou organizações que estejam apoiando o projeto.

Para Stephanou (2003), parceiros em um projeto são instituições ou pessoas


que, embora participando diretamente das ações, não são os responsáveis pelos
objetivos ou resultados.

Os parceiros podem atuar diretamente junto à população


envolvida no projeto, responsabilizando-se pela execução de
algum aspecto de sua implementação, ou por ações que se dão
em períodos temporalmente delimitados (consultorias, auxílios,
avaliações), sem que sejam confundidos com a equipe que está
implementando diretamente o projeto. (2003, p. 69).

4.8 Sistema de controle e avaliação


A descrição do sistema de controle e avaliação a ser adotado deve detalhar a
metodologia, os indicadores, o prazo, os tipos de documentos, bem como a
equipe responsável por sua elaboração.

Com o projeto elaborado e sua redação finalizada, passa-se às próximas


etapas, em que acontece seu encaminhamento na busca dos recursos previstos
e necessários a sua implementação, posteriormente são definidas as ações
necessárias a sua execução, assuntos que passamos a abordar na continuidade
de nossos estudos.

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