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DEUS EM SUA UNIDADE

FUNDAMENTAÇÃO BÍBLICA
ONIPOTÊNCIA, ONIPRESENÇA E ONISCIÊNCIA

Deus tudo pode, tudo acompanha, tudo sabe... Eis o que vamos ver nesta aula seguindo as pegadas do
AT.
ONIPOTÊNCIA
1. O poder de Deus é talvez o atributo que mais terá impressionado os israelitas. É o que atestam os
nomes mais antigos que designam o Senhor:
- o Poderoso de Jacó, como aparece em Gn 49, 24. Em Is 1, 24; 49, 26; 60, 16; Sl 132, 2.5;
- El Shaddai, originariamente traduzido por Deus da montanha ou Deus da estepe e,
posteriormente, por Deus todo-poderoso. Cf. Gn 17, 1; Ex 6, 3

2. O poder absoluto de Deus se manifesta na criação do mundo: Gn 1, 1-2, 4ª (Deus diz e as criaturas
aparecem): Sl 19, 2-7; Sl 33, 6; Sl 104, 1-35; Jó 38, 1 - 41, 26.
É o Senhor Deus quem põe as estrelas em marcha e as chama por seu nome. Cf. Is 40, 26.
A poderosa palavra de Deus não retorna a Ele sem ter produzido o seu efeito. Cf. Is 55, 11; Is 43, 13
Até os pretensos monstros da mitologia oriental – Leviatã, a serpente marinha de sete cabeças, e os
dragões do mar – o Senhor os fere com seus golpes e os domina como quer. Cf, Sl 14, 26; Is 27, 1; Sl 74,
13s; Is 51, 9

3. O poder de Deus se evidencia também na defesa do seu povo. Deus é antropomorficamente


concebido como o Deus guerreiro, vencedor dos inimigos de Israel. Cf. Ex 15, 1.3
Quando o Senhor vem em socorro do seu povo, a natureza se abala. Cf. Jz 5, 4s.
Os autores sagrados se comprazem em exaltar a força do braço do Senhor. Cf. Ex 15, 6; Dt 4, 34; Is
51, 5; Is 52, 10.
É com essa linguagem antropomórfica e poética, mas muito viva e correta, que os autores sagrados
professam a onipotência de Deus.
Passemos agora a um atributo correlativo.

ONIPRESENÇA
A onipresença de Deus é atributo coerente com a onipotência: se Deus tudo pode, Ele está presente e
age em toda parte. Todavia a mentalidade dos israelitas dificilmente se emancipava de concepções
concretas, corpóreas, de modo que os textos mais antigos da Bíblia conservaram a opinião popular de que
Iahweh tem seus lugares de residência ou seus habitats. Só aos poucos aflorou no povo a consciência da
ubiqüidade de Deus.
Assim, segundo o modo de ver mais antigo, Iahweh habitava o território de Israel, de modo que fora
dele era preciso homenagear outros deuses. Cf. Jz 11, 24; 1Sm 26, 19;
Em especial, Deus habita as montanhas sagradas, como o Sinai, o Sion, ou os santuários antigos
como Betel, Bersabéia e o Templo de Jerusalém. Cf. Gn 28, 16s.
No reino cismático da Samaria, haveria o Deus de Dã e a divindade padroeira de Bersabéia. Cf. Am
8, 14 – “Viva o caminho” (a peregrinação) – Pecado, no caso, é a deusa Ashincá (cf. 2Rs 17, 30).
Acreditavam os israelitas fieis que Iahweh, que se senta sobre os querubins (2Sm 6, 2), só estava
presente onde se achava a sua arca. Cf. 1Sm 4, 6s.
Além desses habitats terrestres, Deus tinha sua morada nos céus. Em textos antigos, os céus são
entendidos topograficamente ou como um local. Cf. Gn 11, 5. 7; Gn 21, 17; 22, 11; 28, 12.
Conforme os textos até aqui citados, Deus reside no céu e também na terra – o que já significa uma
certa multilocação, de modo a insinuar a ubiqüidade ou a onipresença de Deus concebida na linguagem
pouco abstrativa e muito concreta dos israelitas. Assim, na história mesma dos Patriarcas, Deus aparece a
Abraão em Ur da Caldéia, em Harã na Mesopotâmia e o leva para a terra de Canaã. Cf. Gn 11, 31-12, 4.
Deus protege Abraão no Egito (Gn 12, 10-20), no território de Gerara (cf. Gn 20, 1-18); acompanha o servo
de Abraão até Aram Naaraim (Alta Mesopotâmia). Ele coage o faraó a deixar partir as tribos de Israel
cativas no Egito (cf. Ex 6, 1-11; 10) e derrota o exército do Faraó no Mar Vermelho (Ex 15, 1s). É o Senhor
Deus quem guia o povo através do deserto e finalmente o introduz na Terra Prometida. Desta maneira torna-
se claro que Iahweh não é um Deus local; se era venerado especialmente em alguns lugares ou santuários,
isto se explica pelo fato de ter-se Ele ali revelado aos Patriarcas.
Desses santuários, o mais eminente era, sem dúvida, o Templo de Jerusalém; cf. Is 2, 3; 64, 10; Jr 7,
10s; 1Rs 8, 26-53. Quem peregrinava ao Templo, ia “ver a face do Senhor”, isto é, ia experimentar a
benevolência do Senhor (cf. Sl 17, 15; Nm 6, 25s) ou ia pedir o socorro do Senhor (cf. Sl 27, 8)... Cf. Sl 42,
3.
Em suma, a transcendência do Altíssimo, que afinal de contas não pode ser enquadrada em algum
espaço limitado, é expressa no livro do terceiro Isaías, datado dos séc. VI/V a.C. cf. Is 66, 1. Jeremias
(séc.VI a.C. tem algo semelhante. Cf. Jr 23, 24.
A oração de Salomão professa nitidamente a onipresença de Deus. Cf. 1Rs 8, 27 = esta casa – este
Templo;
Amós diz a mesma coisa em termos veementes. Cf. Am 9, 2-4
O salmo 139 repete a mesma convicção. Cf. Sl 139, 7-10
Em suma, lê-se em Jó 11, 9. Cf.

ONISCIÊNCIA
A onisciência de Deus está ligada à sua onipresença. Mas foi reconhecida com mais facilidade do
que a ubiqüidade de Deus.
Os israelitas tinham consciência de que Deus sabe o que os homens não sabem, principalmente os
acontecimentos futuros. Por isto consultavam a Deus sobre o que deviam ou não deviam fazer. Cf. Gn 22,
25; Jz 1, 1; Jz 18, 5; 20, 18. 23. 27; 1Sm 9, 9; 10, 22; 14, 37;
“Os olhos de Iahweh estão em toda parte observando os bons e os maus” (Pr 15, 3). Penetram até o
sheol (Pr 15, 11; Jó 26, 6); vão até o coração do homem (Sl 11, 4; 33, 15; 1Rs 8, 39; Pr 16, 2; 21, 2);
Deus conhece o futuro dos povos e o anuncia aos seus Profetas. Am 3, 7; Is 42, 9; Is 44, 7; Is 45, 21
Ao contrário, os deuses dos pagãos são incapazes de conhecer o futuro; por isto o Profeta apresenta
Iahweh a provocá-los com ironia. Cf. Is 41, 23s.

A SABEDORIA DE DEUS

A onisciência de Deus prende-se à Sabedoria de Deus. Esta consiste na compreensão perspicaz e


profunda das coisas, das situações, das finalidades a atingir e na arte de escolher os meios que levam aos fins
almejados.
Deus possui a sabedoria por excelência. Este atributo era tão exaltado pelos judeus que chegaram a
personificá-lo como se fosse uma assistente de Deus na obra da criação e na regência deste mundo. Tenha-se
em vista especialmente Pr 8, 22-27.30s
Semelhante personificação poética encontra-se em Eclo 24, 1-34, com a diferença de que no Eclo a
Sabedoria é identificada com a Lei de Moisés. Os autores das epístolas do NT viram nessa personificação da
Sabedoria a insinuação da segunda Pessoa da Santíssima Trindade; cf. Hb 1, 3; Cl 1, 15; 1Cor 1, 30... A
aplicação de tais textos a Maria Santíssima não resulta da exegese dos mesmos, mas faz-se por transposição
indireta legítima; Maria é a Sede da Sabedoria e a obra-prima da mesma.
A Sabedoria de Deus é insondável aos homens. Cf. Sl 139, 17s; Is 55, 8s
Deus comunica sua sabedoria aos homens; trata-se de um dom especial concedido, por exemplo:
- a José do Egito e a Daniel na Pérsia, para adivinharem os sonhos; cf. Gn 41, 25.38 e Dn 1, 17; 5,
11;
- aos chefes do povo; cf. Dt 34, 9
- aos juízes; Esd 7, 25
- aos reis Davi (cf. 2Sm 14, 20) e Salomão (1Rs 3, 11.28);
- ao Messias; cf. Is 11, 2s

Nos livros sapienciais mais recentes os sábios mesmos sabem ter recebido de Deus a sua sabedoria.
Cf. Eclo 1, 1; Eclo 1, 9s; Eclo 39, 6; Sb 7, 7; Sb 9, 17

Em suma, a estima da Sabedoria divina foi crescendo em Israel a ponto de ser ela personificada
poeticamente, dando assim ocasião a que os Padres da Igreja vissem nesse artifício uma discreta revelação
do Logos de Deus.

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