Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Análise Gráfica Nova
Análise Gráfica Nova
Introdução
A prática da análise gráfica na pedagogia da arquitetura permite e até favorece
uma visão fragmentada da arquitetura quando solicita ao estudante uma
produção de diagramas de análise não relacionados entre si por uma idéia de
síntese. Essa situação, que contraria a natureza complexa da arquitetura e
frustra a finalidade de toda análise (que é encontrar alguma síntese), pode ser
reflexo de um contexto cultural fragmentado onde perduram remanescências
do positivismo, regiões de nossa cultura arquitetônica ainda saudosas do
tempo em que a forma não se explicava, mas era apenas objetivamente
descrita como solução às necessidades e condicionantes funcionais. Tal
contexto recusa interpretações em arquitetura, respaldado na crença de que
arquitetura não significa, não é lingüística, não é comunicação, não é
semântica, embora fale “por si mesma”, dispensando maiores verbalizações.
Tais argumentos, que recusam a análise gráfica como instrumento de
interpretações sujeitas a subjetividades, presumem a defesa de uma postura
“científica” do arquiteto. Ocorre que no campo das técnicas projetuais, o desejo
secreto do arquiteto ser o “cientista” capaz de determinar o projeto “objetivo” a
partir de técnicas de análise de dados supostamente imunes a qualquer
subjetividade encontrou seus limites nos anos 1960, tendo sido combatido por
um de seus principais defensores, Cristopher Alexander, em seu famoso mea
culpa (1). Mais tarde, já no final da década de 70, o artigo de Jane Darke The
Primary Generator and the Design Process (2) demonstraria a inescapável
subjetividade do processo de projeto.
Este artigo defende a posição de que as resistências à interpretação devem
ceder em benefício de uma visão integrada dos problemas complexos da
arquitetura tão indispensável à articulação da análise com o processo de
concepção. A questão que se coloca primeiramente aqui é a de que, no
contexto do ensino de projeto, sem uma demanda de interpretação não se
produz síntese. Em segundo lugar, que os instrumentos para interpretar são os
diagramas de análise produzidos no exercício, os quais são, a um só tempo,
argumentos de convencimento da pertinência do sentido da interpretação que o
analista dá ao edifício como um todo. Nessa situação, diagramas tais como de
estrutura ou luz natural não são meros instrumentos da fragmentação, mas
meios de se comprovar o sentido geral da obra analisada.
Análise projetual e interpretação
Examinando uma literatura que cobre um arco de tempo que vai de 1983 a
2008, pode-se encontrar argumentos para defender a interpretação como
objetivo da análise projetual e métodos para sua implementação. Nesse
período, uma geração de arquitetos surgida entre 1950 e 1968 reivindicou um
“repensar da abstração modernista” (3). Seus textos recusam uma visão
abstrata e "muda" da arquitetura e aceitam que a arquitetura pode ser
interpretada, mesmo quando o obscuro Egon Schirmbeck (4) acomoda esse
reconhecimento ao desejo de ser o cientista exato em análises que buscam
“determinar quais objetivos e idéias determinam o desenvolvimento da
arquitetura contemporânea” (5) e pretendem "ajudar a reduzir a possibilidade
de uma interpretação incorreta” (6). Embora declare intenções de rigor
"científico", esse autor apresenta um método de pouco interesse para o
estudante em final de curso, mas que pode ser usado na introdução à análise
gráfica. Isso porque usa apenas textos de comentaristas ou dos próprios
arquitetos como legendas de fotos ou desenhos parciais das obras que analisa
sem, contudo, aprofundar-se na natureza de tais relações.
A obra mais conhecida de Ching no Brasil, portanto, se situa num nível pré-
hermenêutico, pretendendo apenas instrumentar a atividade de interpretar. Mas
não se pode dizer que Ching veja a arquitetura como um simples amontoar de
partes não relacionadas, se ele afirma que a arquitetura é uma prática que,
“pode promover iniciativas, trazer respostas e comunicar significado” (17) -
muito embora não explique como.
A leitura de Schirmbeck, Baker e Ching reforça a idéia de que a arquitetura
importa na expressão de sentidos a serem interpretados, mas enquanto o
método do primeiro é por demais frágil e nada crítico, contentando-se em
reafirmar o já dito por arquitetos e comentaristas das obras que analisa, o
segundo e o terceiro apresentam elementos para a interpretação, embora o
método de Baker se apresente desfocado quanto ao sentido da forma e Ching
se detenha antes de enfrentar a questão. Com isso, o século XX se encerrou
antes que se publicassem obras seriamente dedicadas a inserir a análise
gráfica no campo da interpretação. O panorama muda ao revermos a literatura
que surge na primeira década do novo século, com a exceção da publicação
tardia da dissertação de Peter Eisenman - defendida em 1968 e publicada
apenas em 2006 (18). Neste início de novo século os novos textos encontram
métodos de interpretação da arquitetura apoiados na análise gráfica.
Simon Unwin (19) busca interpretar a "agenda intelectual" de seus objetos.
Clark & Pause (20) se utilizam de um sistema de diagramas parciais para
interpretar a essência projetual do edifício e representá-la num diagrama de
partido. Peter Eisenman (21) interpreta os edifícios como textos que transmitem
idéias e podem ser lidos - os mais interessantes desafiando e desorientando o
leitor.
Autores interpretativos
Simon Unwin é um autor que se preocupa em interpretar a arquitetura com
base na fenomenologia de seus elementos, à procura do que denomina a
"agenda intelectual do edifício". Mais precisamente, desde um ponto de vista
existencial, aborda os elementos "ancestrais" da arquitetura em suas
“condições de operação” (fenomenológicas) para avançar além desse nível
pré-hermenêutico com o objetivo de expor o processo intelectual subjacente
(22) ao objeto analisado. A arquitetura, a seu ver precisa de interpretação, mas
é como a poesia que por vezes permanece inefável (23). Unwin reconhece o
caráter aberto do significado simbólico da arquitetura a interpretações variadas,
mesmo quando o simbolismo é construção intencional (24) do arquiteto, mas
pensa que os edifícios mais ancestrais têm interpretação menos incerta (25). A
contribuição de Unwin talvez repouse mais em sua decupagem
fenomenológica/existencial dos elementos da arquitetura do que, propriamente,
em suas interpretações. Nesse sentido, ele oferece uma visão do edifício que
não parte da abstração elementarista, como faz Ching, obrigado pela tradição
bauhausiana a começar pela lição de Paul Klee (26): o ponto que se move
tornando-se uma linha que, ao se mover, gera um plano, que também se move
para se tornar volume. Ao contrário, Unwin elege como seus elementos básicos
realidades ancestrais como chão, plataforma, fosso, etc.
O objetivo deste artigo é examinar projetos de arquitetura por meio de análise gráfica. Este
método permite investigar aspectos e intenções subjacentes ao projeto arquitetônico por
meio de desenhos e diagramas. Há um breve histórico sobre pesquisas gráficas, revelando
suas contribuições. Nos cursos que os autores estão envolvidos, o principal problema é
ajudar os estudantes a investigar e avaliar seus projetos, por meio de critérios objetivos. O
uso de desenhos e diagramas para análise é um modo natural de descobrir características
presentes nos projetos, e que contribuam para refletir sobre novas possibilidades durante o
processo de projeto. Desde 2001 os autores aplicam análise gráfica para compreender
projetos residenciais. Atualmente novas estratégias espaciais podem ser exploradas
adotando análise gráfica, incluindo desenhos bi e tridimensionais. Os itens de análise
adotados estabelecem critérios objetivos para revelar a ordem dos elementos no espaço,
assim como facilitam a comparação entre diferentes projetos. Portanto, este artigo
contribui para a discussão sobre a análise de projetos de arquitetura.