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GUIA DA

APROVAÇÃO
O MÉTODO DO EUGÊNIO

VINICIUS GABY VIEIRA REGO


GUIA DA APROVAÇÃO

Organização André Corleta | Margit Anton Bersch

Autores Vinicius Gaby Vieira Rego.

Revisão Ana Beatriz Apse Paes | Marina Sousa

Coordenação de Design Margit Anton Bersch


Layout e Diagramação Margit Anton Bersch

Capa e contracapa Renata Goulart

Ilustrações Michelle Iashmine Mauhs

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(eDOC BRASIL, Belo Horizonte/MG)

R343g

Rego, Vinicius Gaby Vieira.


Guia da aprovação: o método do EUGÊNIO / Vinicius Gaby Vieira ​
Rego; organizadores André Corleta, Margit Anton Bersch. – Porto
Alegre, RS: Me Salva!, 2021.

284 p. : 14 x 21 cm

Inclui bibliografia
ISBN 978-65-87558-08-0

1. Educação. 2. Metodologia educacional. 3. Vestibular.


I.Corleta, André. II. Bersch, Margit Anton. III. Título.

CDD 371.27

Elaborado por Maurício Amormino Júnior – CRB6/2422

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GUIA DA APROVAÇÃO

SUMÁRIO

É pra ler como?...................................................................................... 7

Capítulo 1 - Protagonismo.....................................................................10

Capítulo 2 - Planejação........................................................................49

Capítulo 3 - Métodos de Estudo.........................................................83

Capítulo 4 - Vida.................................................................................119

Capítulo 5 - Foco................................................................................175

Capítulo 6 - Resolução de Exercícios e


Revisão de Conteúdos....................................................213

Capítulo 7 - Óculos.............................................................................244

Referências.................................................................................274

Agradecimentos............................................................................284

Sobre o autor.......................................................................................287
Foi com grande satisfação que recebi o convite para fazer o prefácio
do livro “Guia da aprovação: o método do Eugênio”, de autoria do estu-
dante do Curso de Graduação em Medicina da Faculdade de Medicina
da Universidade de São Paulo, Vinícius Gaby.

Esse livro tem como grande objetivo auxiliar estudantes a se prepa-


rarem melhor para enfrentar a transição do Ensino Médio para a Uni-
versidade. Este é, sem dúvida, um momento delicado e, em geral, com
muitos obstáculos, sobretudo para os estudantes de Escolas Públi-
cas. Ademais, representa importante etapa pois a Universidade, por
sua pluralidade, propicia o crescimento e desenvolvimento científico,
cultural e social do estudante.

Há hoje um movimento para ampliar o acesso dos estudantes de Es-


colas Públicas para a Universidade Pública. Nesse particular, a Uni-
versidade de São Paulo destinou em seu vestibular de 2021, 50% das
vagas para estudantes que realizaram o Ensino Médio totalmente em
Escolas Públicas.

O livro “Guia da aprovação: o método do Eugênio” foi preparado pelo


autor para auxiliar os estudantes nessa conquista. Procura, em 7
capítulos, oferecer ao leitor como melhor aproveitar e se preparar
5
para atingir o grande objetivo: o ingresso em uma Universidade de
qualidade!

Prof. Dr. Edmund Chada Baracat


Pró-Reitor de Graduação da USP
Professor Titular da Disciplina de Ginecologia do Departamento de
Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Medicina da USP
6
É PRA LER COMO?

Oi, tudo bem por aí? Decidi dar uma passadinha rápida aqui, antes
de o livro começar, só para bater um papo-cabeça contigo e dar
umas sugestões de como ler as próximas páginas.

Bom, vamos começar pelo começo. Este livro é uma conversa,


e, como toda conversa entre duas pessoas que ainda não se
conhecem, acho que vale a pena eu começar me apresentando.
Vou ser bem breve, topa?

Bem, olá, eu sou o Eugênio. Esse é meu apelido para essas coisas
de estudo. Por que “Eugênio”? Bem, esse nome não tem nada a
ver com genialidade, como você vai ver no livro: eu não passei no
vestibular de primeira, nem sempre tive as melhores notas e já
sofri com a tabuada do 9.

Não sei o porquê, mas entre 9x4 e 9x8 eu nunca sei a resposta de
bate-pronto. Mas eu estou aqui para ajudá-lo a estudar. Calma,
não largue o livro.
7

Eu não sabia como estudar, mas depois aprendi, e as próximas


páginas são exatamente sobre isso. Estou aqui para ajudá-lo a
aprender a aprender. A frase ficou esquisita? Vamos de novo.
Estou aqui para que você não precise perder tempo e energia com
formas de estudar que talvez não o levem aos seus objetivos.
Ninguém merece perder oportunidades só por não estar rendendo
tanto quanto poderia.
Você quer passar no vestibular? Bora. Você quer passar no
concurso público? Bora. Você quer ir melhor nas suas provas
de faculdade? Bora. Você quer só estudar melhor e aprender de
maneira mais eficiente? Bora também.

Agora, como fazer isso? É o seguinte, esta é a primeira e única vez


neste livro todo que vou compartilhar uma receita (geralmente não
existe essa parada de receitinha ou fórmula mágica para as coisas):

RECEITA PRA LER AS PRÓXIMAS PÁGINAS

Seu rendimento: espero que melhore.

INGREDIENTES:

- Livro

- Papel

- Borracha

- Lápis

- Ou caneta (se você for menos avesso à riscos)

- A mesma coisa para quem estiver lendo na versão digital


8
- Boa vontade

MODO DE PREPARO:

- Leia os capítulos e faça os exercícios na moral. Alguns deles


demandam um tempinho pra reflexão; nesses momentos, é
importante que você dê uma pensada e escreva/reflita sobre
algumas perguntas.
- Algumas vezes, vou mencionar alguns estudos que foram a base
para chegarmos a algumas conclusões. Para ter uma ideia melhor
sobre eles, se você for fominha dos artigos, é só ir checar no final
do livro nas “Referências”. Lembrando: estou bem longe de ser
dono da verdade, nem acredito nisso, então se existirem estudos
mais novos que os aqui mencionados, ótimo! Pode me mandar
que vou achar o máximo ler mais sobre.

- Junto com o conteúdo a seguir, você deve encontrar umas


páginas cheias de “bom humor”. Não vou tirar as aspas porque
ainda tenho de comer muito feijão com arroz para chegar perto do
trabalho dos meus amigos da comédia. Mas, se parte desse “bom
humor” fizer sua leitura mais descontraída, já está valendo.

- Sugestão: leia o livro até o final. Vai por mim, você vai entender
o porquê.

- E último: aproveite. Esse livro aqui é seu. Use-o à vontade e


aprenda o máximo que puder. Estou bem confiante de que você
vai estudar melhor depois disto aqui.

Te vejo nas próximas páginas,


9
Até! :)

Eugênio
CAPÍTULO 1 -
PROTAGONISMO
NASCEU SABENDO? AHAM, SEI.

Você já parou para pensar o porquê de você estudar do jeito


com que estuda? Com quem será que você aprendeu a estudar
dessa forma? Você tem certeza, hoje, de qual é a maneira mais
eficiente de lidar com informações novas e aprender? Cartas na
mesa? Por muitas vezes, a gente não aprende a aprender.

O modelo educacional em que a grande maioria de nós está


inserida hoje valoriza resultados: na escola, o “parabéns” é dado
quando a nota é 10, não 5. No fim do ensino médio, o “tchans” é
a aprovação no vestibular; já quando se termina a faculdade, a
festa chega só com a aprovação da monografia. Nosso modelo
educacional é baseado na gratificação do resultado. Tudo bem
até aí: é muito prazeroso chegar na recompensa, no ápice, no
10
final, mas isso se torna um problema quando, justamente por
essa razão, não aprendemos a valorizar o processo responsável
pelo resultado.

O que isso quer dizer? De maneira simples, aprendemos as


matérias e, às vezes, até a correlacionar informações de uma
forma crítica, mas estudar, de fato, raramente aprendemos.
Deixe-me adivinhar: na escola, provavelmente você começou a
ter aulas de Português, História, Matemática e, mais lá pra frente,
Química. À medida que você assistia às aulas, você estudava
da forma que parecia fazer mais sentido pra você: resuminhos,
grifar a apostila, resolver exercícios ou dar aula para um colega.
No fim das contas, você conseguia tirar uma nota boa e passar
de ano, passar raspando, ou até chegava a precisar de uma
prova de recuperação. Isso significa que você tenha ativamente
aprendido a se entender como aluno e descoberto que forma de
estudo é mais eficaz para você? Vamos lá, me ajuda a te ajudar:
não necessariamente, né?

O processo de aprendizagem é justamente o que está por trás de


sua performance nos estudos. Uma vez dominada essa habilidade,
é possível obter novos conhecimentos e aplicá-los onde você
desejar: provas de escola, vestibulares, teses de doutorado,
concursos públicos, atendendo pacientes, construindo prédios ou
qualquer que seja a atribuição da sua profissão.

Estamos aqui, então, para desenvolver consciência a respeito


do processo de aprendizado e pode ter certeza de que isso vai
ser mais simples do que você imagina. Vai ser como aprender
a letra real de uma música que você sempre achou que cantava
certo. Sabe a sensação de descobrir uma novidade em algo que
você já faz há tanto tempo? É igual a aprender a comer kiwi com 11

colher. Uma vida toda descascando o kiwi até uma boa alma o
ensinar o macete e sua vida nunca mais ser a mesma: chega
de bagunça, chega de fruta desperdiçada, é só cortar no meio
e comer na colherzinha. Pois é, aprender a aprender tem uma
sensação bem parecida com essa.

Fez sentido? Então, vamos lá.


TÁ LIGADO QUE ALGUÉM TE ENSINOU, NÉ?
O que acontece é: assim como grande parte das nossas
habilidades e do nosso comportamento, nós costumamos
reproduzir, em algum grau, a mentalidade dos nossos pais,
cuidadores responsáveis e de outras pessoas importantes para
nós, seja praticando exatamente os mesmos comportamentos
que eles têm, ou fazendo o completo oposto do que eles fazem.

Venha comigo nestes conceitos: mentalidade, aqui, defino


como tudo aquilo que pensamos ser verdade absoluta sobre
nós mesmos ou sobre o mundo. Sobre quem nós somos, do
que somos capazes, o que merecemos, como nos relacionamos
com as pessoas, como o mundo funciona e, neste caso
especificamente, como nós estudamos. É essa mentalidade, em
algum grau, que influencia nosso comportamento. De maneira
prática, se, conscientemente ou não, uma pessoa acredita que é
boa estudante, que estudar é prazeroso e que é capaz de passar
no vestibular, ela provavelmente vai agir em direção a isso: vai
estudar consistentemente de forma a aprender com facilidade
e conquistar uma vaga na universidade. No entanto, o contrário
também é verdadeiro.

Quem nunca conheceu uma pessoa incrivelmente inteligente, que


12 nunca fez um curso superior, e, quando perguntada do porquê de
nunca ter ido à faculdade, a resposta que deu foi, “faculdade não
é pra mim”? Assim, grande parte da nossa mentalidade, quando
não refletimos sobre nós mesmos, é baseada na forma como
nossos pais, ou pessoas importantes para nós, vivem suas vidas.
Complicou? Calma, sem marmotagem, vamos por partes.

O que significa “refletir sobre nós mesmos”? Significa entender


quem sou eu, quais são meus objetivos, como reajo a diferentes
situações, como são meus pensamentos e sentimentos, isto é,
entender quem de fato eu sou por meio do autoconhecimento.
Você já deve ter percebido, em situações muito pequenas, como
o comportamento de uma pessoa pode afetar o comportamento
de outras.

Deixe-me contar a você uma história. Eu tenho uma teoria


linguística. Profissionais, me perdoem, isso está mais para uma
ideia mesmo. Acho que a palavra “crocante” poderia facilmente
ser substituída por “cocrante”. Acho que “cocrante”, quando
falada em voz alta, transparece muito mais a ideia de crocância
que crocante. Experimenta. O que parece mais crocante: uma
farofa crocante ou uma farofa “cocrante”? “Cocrante” traz
muito mais crec crec. Comecei a falar “cocrante” em casa, de
brincadeira, e pouco tempo depois, lá estava a minha família
nos almoços, falando a dita palavra para lá e para cá.

Forcei alguém a começar a falar “cocrante”? Não, mas, pouco


tempo depois, lá estava esse novo vocábulo, sendo proferido
naturalmente. Exemplo inocente esse, mas situações mais
relevantes podem acontecer. Por exemplo, compare a forma
com que você cuida do seu dinheiro com a forma com que seus
pais lidam com dinheiro. Você sabe poupar e multiplicar o seu
dinheiro? Seus pais sabem poupar e multiplicar dinheiro? Você
13
tem o costume de doar? Seus pais têm o costume de doar?

Você já teve dívidas? Seus pais já tiveram dívidas? Seus


comportamentos são completamente iguais ou opostos? Você
consegue perceber a influência de outras pessoas também
muito importantes para você?

Muitas pessoas ainda hoje vivem de acordo com o que lhes


foi ensinado pelos seus pais, ou cuidadores responsáveis, por
vezes não conscientemente. Admitindo ou não, nossa família
é uma fonte de muita inspiração. Enquanto crianças, estamos
propensos a aprender por observação, e, com o passar do
tempo, sofremos diferentes influências que também modulam
nosso comportamento.

Por que falar sobre essas experiências? Porque muito sobre os


seus estudos hoje, se você não parou pra refletir sobre isso,
tem a ver, direta ou indiretamente, com aquilo que seus pais ou
influências próximas o ensinaram sobre estudos, ensino este
intencional ou simplesmente por meio do exemplo. Responda
as próximas perguntas de maneira sincera:

- Você acha que estudar é prazeroso? Você se sente feliz e


motivado ao estudar, ou estudar para você é só esforço atrás
de esforço, para alcançar algo depois?

__________________________________________________________

__________________________________________________________

__________________________________________________________

- Você estuda porque sente propósito no que está estudando,


sabe exatamente o porquê de o estar estudando e os benefícios
14 que isso lhe traz, ou por medo do futuro, de não ter condições
financeiras, medo de não ser realizado, medo de outras pessoas
serem melhores que você?

__________________________________________________________

__________________________________________________________

__________________________________________________________
- Você sabe quem você é, do que você é capaz e o que você
merece, e estuda porque entende que os estudos são parte
importante da conquista de objetivos ou você estuda para
atender as expectativas de outras pessoas? Será que você
estuda porque esperam que você siga determinada carreira,
fazendo com que você estude hoje com o peso de cumprir
expectativas e sentimentos de culpa caso não as atenda?

__________________________________________________________

__________________________________________________________

__________________________________________________________

Agora, me responda: você, durante sua infância ou adolescência,


já ouviu alguma das seguintes frases sendo ditas por pessoas
importantes para você, como seus pais, familiares, amigos
próximos, ou lembra de momentos em que o estudar foi
representado de forma parecida?

- “Primeiro a obrigação, depois a diversão”.

- “Estuda que a caneta é mais leve que a enxada”.

- “Estuda que eu não tive essa oportunidade”.

Percebe agora que conscientemente ou não, aquilo que os seus 15

pais, biológicos ou adotivos, avós ou pessoas importantes, lhe


disseram ou lhe mostraram pelo exemplo, exerce influência
sobre você? Se você nunca parou para pensar sobre isso antes,
este é o momento. Será que para você, hoje, estudar é algo
chato, ossos do ofício, um mal necessário?
Escreva a que tipo de frases, pensamentos, e comportamentos
sobre estudar você foi exposto enquanto crescia:

__________________________________________________________

__________________________________________________________

__________________________________________________________

__________________________________________________________

Diante disso tudo, você consegue perceber o quanto esses


pensamentos, ideias e concepções sobre o que é estudar e
como estudar, de uma forma ou de outra, tem impactado a
maneira como você estuda? É bem simples, na verdade: se essa
mentalidade tem, de fato, afetado como você estuda, ela tem
influenciado seus resultados também, de um jeito ou de outro.

Por consequência, se você consegue entender a forma como


você estuda hoje e o que motivou essa mentalidade, tenho
uma boa notícia: você pode continuar acreditando no que lhe
disseram, mostraram, ou fizeram pensar sobre estudar, ou você
pode escolher acreditar que estudar, na verdade, pode ser uma
experiência completamente diferente, melhor e mais produtiva
do que aquela que você tem vivenciado hoje.
16
Lembra do kiwi? Pois é, dá pra comer de colher ao invés de se
sujar todo. Independentemente do que aconteça, uma vez ciente
do que falamos acima, você ganha liberdade para escolher se
vai continuar a acreditar no que outras pessoas definiram como
verdade, ou se vai começar a acreditar na sua própria verdade:
a de que você é inteligente, focado, estudioso, capaz de estudar,
de evocar informações eficientemente, de correlacionar dados
com qualidade, merecedor de notas altas, de descobrir coisas
novas e de ter prazer estudando.
Mas, calma. Não aja como um goiaba. Isso é um processo. “Uhul, eu
posso, eu mereço, vou lá conquistar tudo em um piscar de olhos”?
Não.

Ajustar, de acordo com sua vontade, a forma como você pensa é


só um dos primeiro passo para o seu desenvolvimento - existem
outros tão importantes quanto ele. Tudo pode ser bem simples,
mas vai depender de você, do quanto você está, em primeiro
lugar, disposto a repensar suas convicções sobre estudos.

Preto no branco? Não existe técnica perfeita, grande segredo ou


comprimido mágico que vai torná-lo no estudante ideal e dar a
você resultados que você sempre quis. Tudo é um processo, e o
primeiro passo deste processo é escolher se você vai continuar
agarrado à mentalidade sobre estudos que já tinha e que tem
dado os resultados colhidos hoje, ou se você decide abdicar
dessas “verdades” e construir agora uma nova percepção.

Amigo e amiga, estudar não é memorizar informações rapidamente,


nem tirar notas boas nas provas, tampouco é perda de tempo,
um mal necessário ou algo para qual você não nasceu ou tem
dificuldade. Estudar é o que você quiser que estudar seja.

Agora que você sabe o que estudar não é, vamos descobrir o


que de fato é estudar. Antes do próximo exercício, já vou avisar, 17

para não ter marmotagem: existem três tipos de pessoas que


vão ler este livro. Aquelas que vão abrir o livro e nem vão chegar
nesta página porque vão parar lá no comecinho, aquelas que
vão ler até o final, mas sem fazer qualquer exercício proposto
e aquelas que realmente aproveitarão o conteúdo deste livro,
porque vão ler, fazer todos os exercícios de forma consistente
e aplicar o que aprenderam. Que tipo de postura você escolhe
ter hoje?

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__________________________________________________________

Escreva no espaço abaixo a sua nova mentalidade de estudos.


Elenque suas características positivas como estudante, bem
como as suas habilidades de estudante, o que você se sente
feliz em alcançar através dos seus estudos e por que você
estuda. Aproveite o espaço para escrever o máximo que puder
- lembre-se de que você está começando agora a definir uma
nova percepção sobre seus estudos, então, faça esse exercício
com atenção.

Vou dar um empurrãozinho inicial com alguns exemplos, beleza?

- Eu sou um estudante focado.

- Eu estudo porque tenho muito interesse no que leio e aprendo.

- Eu estudo porque sou inteligente e gosto de estudar.

- Eu sou capaz de entender os mais complexos conceitos e


18 explicá- los de forma didática.

- Eu estudo porque vou proporcionar conforto e as melhores


experiências de vida para as pessoas que eu amo.

__________________________________________________________

__________________________________________________________

__________________________________________________________

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Estudos indicam que repetições espaçadas1, bem como nossas
emoções2, impactam nossa retenção dos fatos, em outras palavras,
nossa memória. É mais ou menos como esta história aqui:

Quando eu estava no Ensino Fundamental, tirei um 7 em


Matemática. Nenhum fim do mundo, certo? Errado. Na minha
cabeça da época, tirar um 7 em Matemática era tão grave quanto
não encher as garrafas de água da geladeira antes da minha mãe
voltar para casa. Em outras palavras, deu o maior xabu.

Lembro até hoje que a questão da prova era entender o relógio.


Entender que 22 horas significava 10 horas da noite, que 20, 8
e assim por diante. Depois de receber a nota, liguei para minha
mãe e dei a desculpa de que não entendia o conteúdo. Mais
fácil que assumir a responsabilidade, né?

Perdoem, eu era criança e menino faz coisas de menino. Moral da


história: fortemente impactado por aquela nota, ou, em português
mais acessível, com um medão, aprendi que, para descobrir o que
“22 horas” significava, eu só precisava subtrair 12. Tem a ver com
o dia ter 24 horas e a divisão dele em dois períodos de 12 horas.
Lembro da explicação tim tim por tim tim? Não. Mas essa memória
está pregada em mim.
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Como não vou ser eu quem vai causar um forte impacto
emocional em você agora, vamos utilizar o método de
repetição. Se não funcionar, eu chamo a minha mãe. Ela sabe
criar impactos emocionais rapidinho. Desapegar-se do que
você acreditava ser verdade sobre aprender é um processo,
e processo invariavelmente pressupõe repetição. O primeiro
passo é reconhecer como você está se sentindo e o que você
está pensando à medida que estuda, especialmente quando
você não alcança o resultado que esperava. Avalie o quanto sua
antiga mentalidade está presente e leve consigo suas anotações
do que você deseja que seja sua nova percepção e, com alguma
frequência, examine-se. Você pode se surpreender com a
diferença que a simples percepção de si mesmo pode fazer.

É MAIS DO QUE VOCÊ IMAGINA


Para que estudar? Qual é o seu objetivo ao ler este livro?

Discutiremos, no próximo capítulo, a definição de objetivos:


como estabelecer metas alcançáveis e como, além de traçar um
plano, desenvolver habilidades para realizar ações específicas
em prol de uma meta. No entanto, antes de buscar a clareza de
saber o que você quer alcançar, é muito importante conhecer
seu ponto de partida: saber exatamente onde você se encontra
hoje. De maneira simples? Quais são suas fraquezas e fortalezas
em relação ao seu estudo.

Você sabe como você estuda hoje? Sabe mesmo? Assim, sabe
de verdade? Estudar é muito parecido com treinar em uma
academia: seus resultados são, em grande parte, determinados
por aquilo que você faz.
20
Assim como na academia, quando se treina da maneira correta,
alimenta-se de forma balanceada e há descanso adequado, a
tendência é que os músculos comecem a aparecer. Nos estudos,
esse mesmo mecanismo é verdadeiro. Os seus resultados
aparecem a partir do momento em que o seu processo está bem
definido e é executado primorosamente. Quando você sabe e
aplica a sua melhor forma de estudar, bem como quando você
come bem, descansa, assiste aulas de forma atenciosa, revisa
conteúdo, resolve provas antigas e realiza de forma consistente
seu plano de estudos, resultados positivos começam a aparecer.
Frase bonita para colocar de legenda em foto? “A realização
intencional diária de atividades culmina nos resultados que você
deseja para seu futuro”. Ok, talvez não tenha sido uma frase
“chavão” tão boa assim, mas a moral é: não se engane. É aquele
velho ditado da vó Maria: “tudo o que você planta, você colhe”.

Os seus resultados são, em grande parte, determinados


por aquilo que você faz ou aquilo que deixa de fazer. Sim,
diferentes pessoas têm diferentes graus de dificuldade para
realizar determinadas ações, infelizmente não vivemos em uma
sociedade em que todas as pessoas partem do mesmo ponto.
Dessa forma, não necessariamente as pessoas que fizerem as
mesmas ações terão os mesmos resultados, mas, ainda assim,
boa parte do seu resultado futuro depende do que você faz.

Mesmo que você imagine diferentes situações que não


dependam de você, o quanto delas são completamente
independentes e o quanto delas, de uma forma direta ou não,
podem mudar com alguma ação que você possa executar?

Nas próximas linhas, escreva as suas maiores dificuldades


em relação aos seus estudos hoje, aquilo que mais tem o
atrapalhado a alcançar os resultados desejados:

__________________________________________________________ 21

__________________________________________________________

Agora, escreva ao menos uma ação que você pode realizar para
contornar esse desafio ou resolver essa dificuldade:

__________________________________________________________

__________________________________________________________
Em muitas vezes, mesmo em relação àquelas situações que
aparentemente fogem do nosso controle, temos a oportunidade
de realizar uma pequena ação que contribua para a sua
resolução. Quem nunca pediu para diminuir a temperatura do
ar condicionado da sala de aula? A temperatura está sob seu
controle? A menos que você seja o Avatar, provavelmente não.
Mas uma açãozinha pequena como a de pedir para o professor
diminui-la já muda completamente a situação.

Por outro lado, quanto àquilo que realmente não depende de


você de forma alguma, tudo certo; verdadeiramente não existe
nada que você possa fazer. Não vale gastar recursos nessas
situações. Pergunte-se: o quanto você tem focado do seu tempo
e energia em situações que não dependem de você?

Focar em algo que você não pode mudar provavelmente gera


a você mais sentimentos de impotência e incapacidade para
resolução de problemas do que, de fato, crescimento. Você vai
deixar seus resultados à mercê daquilo que não depende de
você ou vai tomar coragem de ser protagonista e realizar as
ações consistentes que realmente importam? Aquelas que vão,
de verdade, o impelir rumo aos seus objetivos.

22 Você sabe exatamente onde você se encontra hoje em relação


aos seus estudos? Atenção ao “exatamente”, essa palavra é
importante. Não? Tranquilo, eu já sabia. Segure as pontas que
vou propor a você um exercício que vai ajudá-lo a compreender
exatamente o seu momento atual como estudante.

O ASA, Avaliação Sistêmica de Aprendizagem, tem como


objetivo mapear a maior parte dos fatores que influenciam os
seus estudos hoje. Ele leva em consideração componentes
importantes de um estudo de alto desempenho. A partir dele,
você será capaz de entender seu rendimento acadêmico sob
uma ótica setorizada, e assim poderá avaliar cuidadosamente
cada um desses fatores importantes e tomar decisões que
aumentem seu rendimento de forma geral.

Para este exercício, é muito importante que você seja


completamente sincero nas suas respostas, pois ele o ajudará
a enxergar com clareza o seu cenário atual. Vamos com calma,
vamos por partes. Com base nas seguintes perguntas, escreva
no campo “HOJE” do ASA uma nota de 0 a 10 para o seu
rendimento nos fatores a seguir explicitados:

ASA - AVALIAÇÃO SISTÊMICA DE APRENDIZAGEM

FATORES HOJE

Aulas
Leituras de conteúdo
Resolução de exercícios
Plano de estudos
Sono
Alimentação
23
Atividade física
Senso de propósito
Emoções
Lazer
Muito geral? Vamos, então, item a item. Vou colocar exemplos
extremos de tipos de nota 0 e nota 10 em cada um dos quesitos
para ajudá-lo a entender com que polo você mais se identifica hoje
em dia, mas gostaria de reforçar que eles são extremos: ninguém
costumar ficar em um desses polos o tempo todo. Então, sem
pressão, reflita sobre si mesmo e complete o quadro acima.

- AULAS: o quanto, de 0 a 10, você tem verdadeiramente prestado


atenção, absorvido informações e aproveitado as oportunidades
para aprender durante seu horário de aula?

Aluno que nao presta muita


atencao, mexe no celular na Aluno dedicado que sempre
maior parte do tempo de faz perguntas aos professores,
aula, nao faz as atividades atentamente faz as questoes
propostas e aproveita o propostas, usa o tempo de
aula para explorar ainda mais o
tempo em sala de aula para conteudo e sai da sala so
conversar com os amigos e depois de ter certeza de ter
checar as redes sociais em sanado todas as suas duvidas.
momentos inapropriados.
Nota 0 5 10

- LEITURA DE CONTEÚDO: o quanto, de 0 a 10, você tem


verdadeiramente se dedicado a ler com atenção os conteúdos
importantes para o seu aprendizado?
24

Aluno que nao se dedica a Estudante que le livros, artigos,


leitura e, se chega a comecar apostilas focadas no seu objetivo,
a ler, para no meio do caminho que le a todo momento que pode,
para acessar redes sociais, que aproveita momentos com
professores e amigos para
conversar ou aproveitar debater sobre a leitura e sanar
qualquer fonte de distracao. duvidas do conteudo.

Nota 0 5 10
- RESOLUÇÃO DE EXERCÍCIOS: o quanto, de 0 a 10, você tem
verdadeiramente dedicado tempo e energia para praticar seus
conhecimentos com questões e exercícios?

Estudante que so le uma vez Estudante que


o conteudo e ja acha que e consistentemente testa seus
mais que suficiente, que nao conhecimentos fazendo
resolve questoes, nem testa exercicios e entende que todo
seus conhecimentos, que erro durante um exercicio e
nao sabe se organizar uma oportunidade de
estrategicamente para um aprendizado, que tira duvidas
modelo de prova e acredita de exercicios em sala de aula,
que passar e apenas uma e conhece exatamente o
questao de sorte no dia. modelo de prova a ser realizado.
Nota 0 5 10

- PLANO DE ESTUDOS: o quanto, de 0 a 10, você tem


verdadeiramente organizado a sua rotina de estudos e realizado
ações para conquistar seus objetivos?
Estudante que organiza, com
Estudante que acorda todos antecedencia, a sua semana
os dias sem uma agenda de estudos e sabe exatamente
definida, que estuda quando o que estudar, quando estudar
da vontade ou quando sente e como estudar, que sabe
que precisa e diligentemente ignorar
constantemente se ve distracoes, revisar conteudos
atrasado em varios e seguir fielmente seu plano
conteudos. de estudos e agenda diaria
previamente planejados.
Nota 0 5 10
- SONO: o quanto, de 0 a 10, você tem verdadeiramente aproveitado 25

seu tempo de descanso e dormido nos momentos certos?

Aluno que negligencia seu Estudante que cuida do seu sono


tempo de sono, que dorme e entende a importancia de
pouco e acorda todos os dias dormir uma quantidade adequada
com mais vontade de voltar de horas, e, assim, organiza seu
pra cama do que levantar dia para dormir cedo, sem virar
e seguir o dia, que costuma noites, e acorda revigorado,
virar noites estudando por sentindo que descansou o que
ma organizacao de tempo, precisava e que tem a energia
motivado sempre por cafe ou necessaria para cumprir com
outros estimulantes. suas atividades do dia.
Nota 0 5 10
- ALIMENTAÇÃO: o quanto, de 0 a 10, você tem verdadeiramente
cuidado do que você come?

Estudante que come Estudante que come de forma


exclusivamente pelo prazer balanceada, valorizando
de comer ou pela necessidade elementos que favorecam sua
de energia rapida pelo cansaco, energia durante o dia e o
que constantemente abusa de bem-estar fisico e mental, que
doces, alimentos ultraprocessados cultiva uma dieta rica em
ou gordurosos em demasia, que castanhas, frutas, legumes,
prejudicam o seu rendimento verduras, proteinas,
nos estudos por prejudicar a carboidratos e todos os outros
saude do seu corpo. componentes de uma dieta saudavel.
Nota 0 5 10

- ATIVIDADE FÍSICA: o quanto, de 0 a 10, você tem verdadeiramente


estimulado o seu corpo e a sua mente por meio de atividades
físicas?
Estudante que, na
justificativa de ter pouco Estudante que entende a
tempo para estudar ou de importancia do bem estar
nao ser a prioridade no fisico para os seus estudos
momento, e sedentario e e que, portanto, realiza
exercicios fisicos
se sente, com alguma moderadamente durante
frequencia, cansado a semana.
durante a semana.

Nota 0 5 10

- SENSO DE PROPÓSITO: o quanto, de 0 a 10, você tem


26 verdadeiramente clareza a respeito do porquê de você estar
estudando?

Estudante que nao tem


clareza do que quer, nem do Aluno que acorda motivado
porque quer, e estuda a estudar porque sabe
exatamente as razoes
motivado por pressao dos pelas quais estuda.
pais ou de outras pessoas.

Nota 0 5 10
- EMOÇÕES: o quanto, de 0 a 10, você tem verdadeiramente
cuidado da sua saúde mental?

Aluno que vivencia com


certa frequencia emocoes Estudante que entende
que atrapalham seu suas emocoes e cuida de
desempenho e qualidade de seu bem-estar, que tem
vida, que nao detem uma suporte emocional de uma
rede de suporte que o auxilia rede de amigos, familiares
a contornar situacoes e, quando necessario,
delicadas da vida. profissionais de saude.

Nota 0 5 10

- LAZER: o quanto, de 0 a 10, você tem verdadeiramente aproveitado


momentos de lazer em meio a temporada de estudos?

Aluno exageradamente Estudante capaz de


focado nos estudos, que organizar seu horario e,
jamais tira momentos de de forma consciente, reserva
descanso, ou que tem tempo para encontrar com
momentos de lazer em amigos, praticar um hobby
demasia, o que prejudica o ou alguma atividade
seu rendimento academico. puramente por lazer.

Nota 0 5 10
27

E aí, ficou mais fácil agora saber onde você se encontra em termos
dos seus estudos? Logo em seguida, anote no campo “META” do
ASA a nota de 0 a 10 que você verdadeiramente gostaria de ter
em cada um desses fatores.
ASA - AVALIAÇÃO SISTÊMICA DE APRENDIZAGEM

FATORES META

Aulas
Leituras de conteúdo
Resolução de exercícios
Plano de estudos
Sono
Alimentação
Atividade física
Senso de propósito
Emoções
Lazer

Está fazendo sentido? Você percebe agora o que é preciso


desenvolver e o quanto deve ser desenvolvido? Os fatores que
são mais urgentes de serem trabalhados, aqueles que já estão
em alto desempenho? Perceba que é importante que todos os
fatores sejam desenvolvidos e caminhem juntos. É como se
cada um deles exercesse uma força específica: os fatores mais
28
desenvolvidos o puxam para perto dos seus objetivos, enquanto
aqueles mais fracos o afastam da conquista das suas metas. Se
você tiver forças que o levem para seu objetivo, mas, ao mesmo
tempo, cultivar fatores que o afastam dele, você corre o risco de
não sair do lugar.

É cabo de guerra mesmo. Lembra da brincadeira de infância? Está


todo mundo lá, puxa de um lado, puxa de outro, a corda nem se
mexe. Puxão vai, puxão vem, e nada. A corda está lá, tranquila,
parada, na dela? Não, muito puxa-puxa está acontecendo, mas ela
só vai se mexer para um lado quando a força de um time for maior
do que a do outro. Não precisa de muita física para entender isso, é
só se lembrar do momento em que chegava o colega fortão da sala.
Aquele que todo mundo queria no time. Chegou, puxou, ganhou.
Simples assim. É mais ou menos por aí com os seus estudos.

Com base nisso, você percebe o que, de fato, tem o atrapalhado


no alcance dos seus objetivos acadêmicos? O que você tem
negligenciado? Escreva agora, no campo “DECISÕES” do ASA,
decisões específicas que você toma hoje para melhorar seus
fatores mais críticos para que, assim que aplicadas, mudem seus
rendimentos nos estudos.

ASA - AVALIAÇÃO SISTÊMICA DE APRENDIZAGEM

FATORES DECISÕES

Aulas
Leituras de conteúdo
Resolução de exercícios
Plano de estudos
Sono
Alimentação
29
Atividade física
Senso de propósito
Emoções
Lazer

Se você quiser refazer o ASA de tempos em tempos, agora você


pode, porque já entendeu o raciocínio por trás do exercício.
QUEM VIVE DE PASSADO É MUSEU
Agora que você já entendeu onde está hoje em relação aos seus
estudos, antes de começar a estabelecer metas, é importante
entender: não existe fracasso, tudo é resultado. Ter muitas dívidas,
por exemplo, não é fracasso financeiro, mas é, em geral, resultado
de pouca oportunidade de crescimento profissional, falta de
capacitação para trabalhar com melhor remuneração, pouca
educação financeira e por aí vai. Só uma pequena observação:
quando escrevo “em geral”, leia “bem em geral mesmo”.

Qual o real benefício de entender que não existem fracassos,


somente resultados? Você só se torna capaz de se desenvolver
e alcançar novos resultados se e somente se for capaz de
focar no seu presente de maneira diligente e no futuro de forma
esperançosa, e deixar o que ficou para trás realmente no passado.

Vou contar uma história: a primeira vez que fiz uma prova de
vestibular para valer, a vez em que eu realmente queria passar,
foi uma loucura. Com 15 anos saí de casa, fui morar sozinho
a 3.079km de distância da minha cidade para estudar para o
vestibular. Morei em um alojamento, fiquei longe da família, de
amigos de tempos e de tudo que me era familiar. Estudei bastante.
30
Acordava de manhã cedo, passava o dia estudando e dormia não
tão tarde para voltar a estudar no dia seguinte. Finalmente depois
de tanto esforço, chegou o dia do vestibular. Prova feita, tempos
depois saiu o resultado e adivinha só? Isso mesmo, se você
adivinhou que eu não passei, certa resposta. Depois de ter saído
de casa, passado um ano estudando diligentemente, abdicando
de bastante coisa, não passei.

“Nossa, que fracassão hein, quero meu dinheiro de volta”, você


pode estar pensando, mas continue lendo que você vai entender.
Uma das lições que aprendi sobre esse momento é a seguinte:
enquanto você continuar agarrado aos “fracassos” do passado, é
inviável construir uma nova forma de estudar. Se eu me agarrasse
ao fato não ter passado em um vestibular, se eu continuasse
nutrindo os sentimentos e pensamentos do momento que eu não
passei, provavelmente eu não estaria na faculdade hoje.

No capítulo 5, discutiremos sobre o foco e como persistir nos


seus objetivos, mas aqui, para ser capaz de desenvolver certo
protagonismo nos estudos, é essencial abordarmos uma certa
habilidade: perdoar.

Perdoar? Isso mesmo, perdoar.

Perdoar é o ato que o permite olhar para trás e se liberar de


sentimentos que podem prejudicar seus rendimentos acadêmicos,
por exemplo, culpa por não ter estudado, inferioridade em relação
aos outros, ressentimento pelas oportunidades que não teve,
impotência em relação a conquista de um objetivo e a lista segue.
Perdoar é a habilidade de observar todos os resultados negativos
do passado e escolher adotar uma postura diferente em relação
às perdas, não aquela que constantemente diz que você não é
capaz, nem merece conquistar seus sonhos, mas uma de amor
próprio e compaixão, de quem vê os resultados negativos como 31

eles de fato são: resultados de problemas externos, ações mal


pensadas e pobremente executadas ou simplesmente de falta
de ações. Tanto se perdoar pelos erros cometidos no passado,
que fizeram com que você colhesse os resultados de hoje, quanto
perdoar outras pessoas que eventualmente o prejudicaram faz
parte do processo.

Perdoar não é esquecer, nem passar panos quentes sobre


outras pessoas e sobre si mesmo. Você perdoa à medida que
é capaz de entender que tudo e todos são passíveis de erro e
escolhe conscientemente deixar o passado a fim de atentar-se
consistentemente ao seu presente e futuro. Perdoar é ter a
ciência completa de quem você é, do que você é capaz e do que
você merece. É não ser comandado pelos seus sentimentos, mas
ter a maturidade de escolher como lidar com eles. Fica mais fácil
crescer e gerar resultados perenes quando se perdoa.

Por isso, um dos primeiros passos para atingir metas é perdoar o


que ficou para trás. Responda sinceramente às próximas perguntas:

- Como você se sente quando se lembra daquela vez em que não


passou em uma prova importante ou não teve um rendimento
esperado? Quão frequentemente você traz à memória essas
lembranças?

_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
________________________________________________________________

- Como você se sente quando se lembra do comentário maldoso


que fizeram sobre você, sobre seus estudos ou sobre sua
inteligência? Será que você ainda ressente as pessoas terem
32
falado mal de você? Você sente que estuda porque quer provar
que essas pessoas estão erradas?

_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
________________________________________________________________

- Como você se sente quando se lembra de todas as vezes em que


você poderia ter estudado, mas preferiu ficar nas redes sociais
ou aproveitar outras distrações? Você carrega o peso de não
ter se dedicado quando deveria? Você se julga ou se desaprova
rigidamente?

_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
________________________________________________________________

- Sinceramente, você carrega diariamente seus resultados


negativos como grandes guias da sua vida, deixando que
determinem quem você é, o que você é capaz de fazer e os
resultados que você merece ou não alcançar?

_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
________________________________________________________________

Perdoar é uma atitude consciente, é uma escolha. Se você


decide render mais nos seus estudos e abandonar os possíveis
“fracassos” do passado, faça este próximo exercício:

Nas linhas abaixo, escreva todos os seus resultados negativos


em relação aos estudos, tudo o que você antes percebia como
fracasso e entende que o atrapalha hoje. Liste com o máximo de
precisão todos esses resultados: 33

_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
________________________________________________________________

Em seguida, em relação ao que foi escrito acima, liste tudo o que


você acredita ter feito de errado, ou que tenha deixado de fazer,
bem como o que eventualmente outras pessoas lhe fizeram, que
de alguma forma culminou naqueles resultados.

_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
________________________________________________________________

Por fim, comece ativamente a se perdoar. Uma forma simples de


fazer isso é, literalmente, conversar consigo mesmo. Que tal usar
um espelho? Parece loucura, mas, olhe, para quem nunca fez nada
igual, esse negócio do espelho pode ser um pequeno começo.
Olhar para nós mesmos com honestidade e entender nossas
limitações é uma experiência, em algum grau, engrandecedora.
Olhe para si mesmo nos olhos e conte os resultados que você
teve com as ações escritas e como você decide se perdoar: que
você decide entender sua humanidade e opta por olhar para si
com compaixão.

Uma vez entendido que aquele resultado negativo não determina


quem você é, nem suas capacidades, tampouco o que você
merece, você começa a ter a autonomia para cultivar novos
resultados. Que maravilha, não? É hora de largar os pesos, fera.

34

NÃO É COISA DA SUA CABEÇA.


OU SERÁ QUE É?
Imagine o seguinte: primeira prova de matemática do ano. Você
estuda muito porque tirar um notão naquela matéria é importante
para você. Então, depois de muitos estudos, uma semana depois
da prova, o resultado da avaliação chega e… surpresa: você tirou
a menor nota da sala de aula. Ao chegar em casa, você conta para
os seus pais o seu resultado e eles, enxergando sua frustração, na
tentativa de amenizá-la, olham no fundo dos seus olhos e falam:
“filho, está tudo bem, é que matemática não é o seu forte”, ou
“filha, você tem outras qualidades, é só que matemática realmente
não é pra você, você nasceu pra outras coisas”.

Imagine comigo também outra situação: durante uma aula de


geografia, de repente, seu professor começa a explicar o conceito
de bacias hidrográficas e pede para alguém mencionar uma
importante bacia brasileira. Você então se lembra do que tinha
estudado com antecedência, levanta a mão e responde na frente
da sala inteira. Depois de acertar a pergunta, o professor olha
para você com bastante orgulho e responde “parabéns, caraca,
você é muito inteligente!”.

Consegue perceber o que há de comum entre os comentários:


“você não nasceu pra matemática” e “você é muito inteligente”?
Esses elogios têm entre si a seguinte semelhança: ambos
determinam uma mentalidade fixa em relação aos estudos.

Senta que lá vem conceito.

A psicóloga e professora de Stanford Carol Dweck desenvolveu


muitas pesquisas sobre teorias implícitas, ou, como cunhado, 35
diferentes formas de mentalidade. Por meio de diferentes
estudos, pôde-se perceber que, embora todas as pessoas no seu
processo de aprendizagem tenham de lidar com obstáculos, um
fator importante para se alcançar bons resultados, ou não, é a
sua mentalidade, isto é, a forma com que as pessoas enxergam e
internamente processam adversidades.

Existem duas formas principais de se lidar com adversidades:


a mentalidade fixa e a mentalidade de crescimento. A primeira
traduz-se como um modelo de enxergar o mundo em que as
habilidades para lidar com obstáculos são inatas, ou seja, ou
você nasce bom naquilo, ou não. Na prática, é tirar uma nota
10 e acreditar que isso se deve a um talento natural. É acreditar
piamente nos pais e no professor de Geografia dos exemplos
acima. Nesse cenário, os recursos internos para lidar com
determinada adversidade são limitados e não há possibilidade de
desenvolvimento de novas habilidades.

Por outro lado, a mentalidade de crescimento é aquela em que


as pessoas acreditam que habilidades podem ser desenvolvidas
e, com dedicação, diferentes estratégias e auxílio de outras
pessoas, pode-se alcançar novos patamares de competências.
Na prática, quando uma pessoa com esse tipo de mentalidade
não vai bem em uma prova, ela entende que é possível se esforçar
mais, utilizar-se de estratégias diferentes e contar com o apoio de
outras pessoas para mandar bem em uma próxima tentativa. Não
é o fim do mundo, é só uma prova que não deu certo, mas que vai
dar certo da próxima, porque ela vai fazer algo diferente.

Carol Dweck, nos seus estudos, percebeu diferenças no


rendimento acadêmico de estudantes de vários cenários,
desde escolas ao nível universitário, relacionadas aos tipos de
36
mentalidade. Um estudo realizado por Dweck e Mueller em 1998,
publicado na revista científica “Journal of Personality and Social
Psychology”3, evidencia esse fenômeno:

Estudantes de ensino fundamental foram divididos em dois


grupos para a resolução de problemas de lógica. Ao final da
resolução, uma parte do grupo recebia elogios que valorizavam
um modelo de mentalidade fixa: “você tirou uma nota muito alta,
você deve ser muito inteligente em resolver esses problemas”,
já a outra parte recebia elogios que valorizavam um modelo de
mentalidade de crescimento: “você tirou uma nota muito alta,
você deve ter trabalhado bastante nesse problema”. Em seguida,
os estudantes foram expostos a outro conjunto de problemas
mais difícil; nessa atividade, todos foram mal. Ao final, a eles
foi dado um terceiro conjunto de problemas, cuja dificuldade era
similar a do primeiro e, então, pôde-se perceber o impacto dos
diferentes tipos de mentalidade.

As crianças que receberam elogios que valorizavam uma


mentalidade fixa resolveram 30% menos problemas à terceira vez
quando comparados à primeira e insistiram em resolver somente
problemas fáceis, não desafiadores. Sabe aquela história de “vou
nem tentar, vai que eu não acerto” e “isso aqui é muito difícil, tem de
ser gênio pra resolver”? Pois é. Os diferentes tipos de mentalidade,
por consequência, exerceram um impacto significativo nos
rendimentos acadêmicos e na resiliência das crianças.

Achou que os conceitos tinham acabado? Um bônus: vamos para


mais um. O que é resiliência? Ela pode ser entendida de várias
formas, mas aqui vamos defini-la como basicamente a habilidade
de buscar alternativas para a conquista de um resultado positivo
a despeito da existência de adversidades. Por exemplo, quando
uma pessoa resiliente vai fazer uma prova sabidamente muito
mais difícil que o usual, ela provavelmente procurará formas de 37
estudar melhor, diferentes estratégias de resolução de prova ou
apoio de outros colegas. Já uma pessoa não resiliente poderá,
possivelmente, evitar fazer essa prova ou, até mesmo em casos
extremos, tentar trapacear.

Estudantes com uma mentalidade de crescimento, segundo


Dweck4, têm a tendência de serem mais resilientes frente a
situações desafiadoras - eles tendem a ver o esforço, de certa
forma, como algo necessário para o desenvolvimento de
habilidades e desafios como oportunidades de aprendizado.

Outro estudo recente, uma metanálise publicada em 2018 na


revista científica “Frontiers in Psychology”5, reuniu dados de 46
pesquisas, com um total de 412.022 estudantes envolvidos,
e concluiu que ambas teorias implícitas de inteligência, ou
modelos de mentalidade, influenciam os resultados acadêmicos
de estudantes.

Qual é a base neurocientífica de uma mentalidade de


crescimento? Pessoas nascem com habilidades limitadas ou
existe a possibilidade de desenvolver novas capacidades por
meio da persistência, por meio de novos estímulos? Estudos do
campo das neurociências indicam a existência de um fenômeno
importante para esse processo, o fenômeno da neuroplasticidade
cerebral. No entanto, antes de entender o que isso significa,
precisamos primeiro entender um pouco de neurociência básica.

Se você tiver um jaleco em casa, este é o seu momento. Fique à


vontade para se vestir de cientista e continuar lendo:

Nosso corpo é constituído por trilhões de células, literalmente


38
pequenas unidades de vida que possuem cada uma diferentes
funções, e a interação entre elas, bem como seu funcionamento,
promovem nosso bem estar. Por exemplo, nosso intestino possui
células específicas responsáveis por absorver nutrientes, nossos
músculos possuem células específicas responsáveis por relaxar e
contrair para promover a movimentação e nossos olhos possuem
retinas com células específicas cuja função é transformar
estímulos visuais em ondas elétricas processáveis pelo cérebro.
Fez sentido até aí?
As células se agrupam em tecidos, que originam os órgãos
como conhecemos, os quais, por fim, constituem os diferentes
sistemas do nosso corpo, cada um com sua função: sistema
cardiovascular, respiratório, endócrino e vários outros. Dentre
eles, destaca-se o sistema nervoso, que, durante a evolução, teve
como função primitiva permitir que organismos se ajustassem
ao meio externo ao reconhecer estímulos desse meio e gerar
adaptações fisiológicas com base neles6.

Sendo assim, o sistema nervoso tem a função primordial de


regulação do corpo. Ele é o grande centro de tomada de decisões
conscientes e inconscientes do organismo. Como isso acontece?
Basicamente por meio da comunicação entre células.

Embora exista uma variedade tremenda de células envolvidas


nesse processo, uma das principais representantes desse
mecanismo são os neurônios, células capazes de secretar
neurotransmissores, pequenos pacotinhos de mensagem
que transitam de um neurônio a outro. Por meio desses
neurotransmissores, as células provocam correntes elétricas que
funcionam como uma forma de troca de informações.

Assim, quando células “conversam” umas com as outras, por


meio das sinapses, decisões são tomadas: desde decisões que 39

nem percebemos, como controle da respiração, até decisões


propriamente ditas, como fazer uma escolha consciente. De
maneira simples: o controle da sua movimentação? São seus
neurônios conversando. O controle da sua respiração? São seus
neurônios conversando. Sua capacidade de pensar e falar? Opa,
isso também são seus neurônios conversando. Suas habilidades
de memória e aprendizagem? Bingo. Neurônios conversando.

Tudo bem até aí? Continue com o jaleco só mais um pouco.


A crença de que o cérebro é uma estrutura fixa remonta aos
primórdios da neurociência. Entretanto, com a evolução científica,
de tecnologias e métodos de mensuração de fenômenos
biológicos, tem-se percebido que o cérebro possui capacidades
de alterar conexões neuronais e até mesmo de gerar novas células
integrantes do sistema nervoso, como neurônios.

Uma revisão recente sobre mais de 40 anos de pesquisa sobre


neuroplasticidade em adultos publicada na revista científica
“Neural Plasticity” em 2014 indica: “Hoje se é geralmente
aceito que o cérebro adulto está longe de ser fixo. Um número
de fatores como estresse, hormônios gonadais e adrenais,
neurotransmissores, fatores de crescimento, certas drogas,
estímulos ambientais, aprendizado e envelhecimento alteram
estruturas e funções neuronais”7. Há, inclusive, relatos na
literatura científica de que esse processo de neuroplasticidade,
especificamente, a criação de novos neurônios, pode ter uma
relação com aprendizagem8.

Deixe-me contar a você mais dois estudos que podem ajudá-lo a


entender melhor o que é esse negócio de o cérebro ser mutável.

O primeiro deles é um estudo feito com ratos9. 36 roedores foram


separados em três grupos e alocados em diferentes tipos de
40 gaiolas: uma grande com vários objetos para explorar, outra menor,
sem objetos, e outra em que cada rato ficava isolado, também
sem oportunidades de exploração. Depois de 30 dias nesses
ambientes, estudou-se o cérebro desses ratinhos. Resultado?
O córtex, camada mais externa do cérebro, do primeiro grupo,
aquele com vários objetos para explorar, tinha uma espessura
maior em comparação aos outros grupos, devido a inúmeros
fatores que foram investigados a posteriori, como aumento do
tamanho e número de células nervosas, entre outros. Em palavras
bem simples, é como se o cérebro dos ratinhos tivesse dado uma
“crescidinha” quando eles foram expostos a oportunidades de
interação com o ambiente. Interessantíssimo, não?

Já o segundo, foi feito com uma galera que manja muito de


localização: taxistas. Taxistas em Londres passam por um
extenso treinamento para fazer um bom trabalho. Eles aprendem,
por um período de cerca de dois anos, sobre as ruas londrinas e
como fazer os melhores caminhos entre elas. Dá para imaginar
o quanto de esforço está envolvido em criar um “GPS interno”?
Pois é, o senso de navegação espacial deles é muito afiado. Uma
pesquisa mostrou que regiões do hipocampo, parte do cérebro
que tem como habilidades de localização espacial uma de suas
responsabilidades, eram maiores em taxistas do que em não
taxistas para a população testada10. Esse aumento de volume
hipocampal também estava positivamente correlacionado com o
tempo de trabalho como taxista, ou seja, quanto mais tempo uma
pessoa passava dirigindo e aprendendo sobre possíveis caminhos,
maior volume de certa região do hipocampo ela apresentava.

Percebe o que tudo isso quer dizer? Seu cérebro não é limitado:
você pode, com esforço, apoio e oportunidades, desenvolver
novas habilidades.

Assim, qual é o seu modelo de mentalidade hoje? Será que você


acredita completamente em talento natural ou pensa que tudo é 41

possível de se aprender? Se você percebeu ter uma mentalidade


fixa, o que, de fato, o impede de começar a cultivar o oposto
hoje? Entenda que, se você ainda não conseguiu atingir o nível
desejado de competência em uma certa habilidade, é porque
provavelmente você ainda não a treinou suficientemente, ou a
treinou sem estratégias eficientes, ou até mesmo pode ter treinado
eficientemente, mas sem uma rede de suporte nesse processo.
Se você escolhe adotar uma mentalidade de crescimento para os
seus estudos, faça o seguinte exercício com bastante atenção.
Faça-o até o final, porque ele é bem importante.

Escreva nas linhas abaixo um resumo sobre o que você aprendeu


de mentalidade fixa e mentalidade de crescimento. Em seguida,
escreva uma carta para um amigo que esteja passando por
resultados acadêmicos negativos, explicando sobre os diferentes
tipos de mentalidade e convença-o a adotar uma nova mentalidade
para colher melhores resultados nos estudos. Você pode escolher
entregar esta carta ou não, mas é importante que você a escreva de
forma empenhada. Acredite, nenhum exercício está aqui por acaso.

_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
________________________________________________________________

PROTAGONISTA DE VERDADE
Já estamos chegando ao final do primeiro capítulo. Foi rápido,
42
mas olhe o tanto que você já viu: você já aprendeu que a sua
mentalidade de estudos provavelmente foi influenciada pelo que
você viu ou ouviu no passado sobre estudar, seja por meio de
exemplos ou por interação direta, mas que é possível decidir entre
replicá-la, ou começar a cultivar uma nova mentalidade.

Você também já aprendeu que fracassos não existem; o que existe


são resultados de ações mal planejadas, pobremente executadas
ou sem apoio externo. Além disso, você entendeu que resultados
negativos não ditam quem você é, do que você é capaz e o que
você merece com seus estudos, e que, através do perdão aos
outros e a si próprio, é possível focar no seu presente e futuro a
fim de realizar ações consistentes em direção aos seus objetivos.

Calma, tem mais.

Você também já entendeu que nossas capacidades não são fixas,


que a sua mente é capaz de desenvolver novas habilidades, por
isso, desafios podem ser vencidos com bastante determinação,
estratégias eficientes e uma rede de suporte.

Se você de fato já entendeu que a forma como você estuda é


definida por você, que os resultados do passado não determinam
os resultados do futuro, e que é possível desenvolver novas
habilidades, o que ainda lhe falta para começar a agir? Um plano
de ação. Entretanto, antes de abordarmos a definição de metas
alcançáveis, planejamento e como executar seus planos no
próximo capítulo, precisamos discutir um último conceito que, se
mal aplicado, pode ser uma grande armadilha para o protagonismo
nos estudos: a responsabilidade sobre seus próprios resultados.
O que significa isso? Vamos lá:

Nosso comportamento é, de certa forma, baseado em um sistema


de feedbacks positivos e negativos. De forma simples, se uma 43

determinada ação gera um feedback negativo, a tendência é que


essa ação não seja repetida pela pessoa que a cometeu em primeiro
lugar. Por outro lado, se outra determinada ação gera um feedback
positivo, a tendência é a contrária, que tal ação seja repetida em
uma futura oportunidade. Tudo com chocolate fica mais fácil,
então vamos entender melhor essa ideia usando chocolate:
Se eu levo uma barra de chocolate para me alimentar durante
uma prova e no meio da resolução de questões começo a ter
dor de barriga, provavelmente na próxima vez que eu tiver uma
prova não levarei uma barra de chocolate como lanche. Uma
vez que entendo que minha ação, levar chocolate para a prova,
teve um feedback negativo, dor de barriga, a tendência é que eu
aprenda e module meu comportamento para que, da próxima
vez, um resultado diferente seja alcançado. Se, na próxima prova,
meu lanche for uma barra de cereais e castanhas e isso me
proporcionar bem-estar durante a resolução das questões, isto é,
houver um feedback positivo para a minha ação, a tendência é
que esse comportamento seja reforçado e eu continue levando
barra de cereais e castanhas para futuras provas.

Dor de Nao vou levar


Prova Chocolate barriga chocolate na
proxima
Vou levar
Prova Castanhas e Nenhuma dor castanhas e
barra de cereais de barriga barra de cereais
na proxima
Fez sentido? Não muito? Continue lendo.
44
Existem outras variáveis importantes do aprendizado de
comportamentos além desse sistema de feedbacks. Um fator bem
relevante foi estudado pelo psicólogo e professor da Universidade
de Connecticut, Julian B. Rotter. Em um de seus trabalhos11,
investigou-se o quanto nossas percepções sobre relações de
causalidade entre esses feedbacks e as ações pré-existentes
alteram nossa curva de aprendizado comportamental. Em outras
palavras, o quanto acreditamos ser responsáveis pelos nossos
resultados, por meio de nossas ações, impacta nossa tendência
a mudar, ou não, o nosso comportamento.
Resumo da ópera: se você entende que um resultado foi alcançado
apenas por uma questão de sorte, ou por outras causas que não
simplesmente as suas ações, é mais provável que, se você tiver um
comportamento negativo, não o extinga, e, se o comportamento
for positivo, não o repita.

É mais ou menos o seguinte: imagine que você esteja com uma


gripe forte e precise tomar um remédio. Você decide então ir
ao hospital, passar em uma consulta médica e, possivelmente,
receber alguma medicação. Depois de sua tia lhe preparar um
chá quebra-gripe com alho, limão, mel, abacaxi e sementes rosas
de toranja das dunas do Maranhão, você chega ao ambulatório
e passa pela recepção. Espera a sua vez no atendimento. Logo
seu nome é chamado e, enquanto você caminha em direção ao
consultório, encontra uma nota de 100 reais perdida no chão.
Nesse momento, você faz o quê? Recolhe a nota, pergunta para
todos se alguém a havia perdido e, como ninguém responde, você
clama propriedade: guarda sua nova nota no bolso e acredita que
deu sorte. Sucesso, mais saúde e mais dinheiro, que combo.

O pulo do gato está nas próximas perguntas: da próxima vez


que ficar doente e precisar de algum medicamento, qual a
probabilidade de você ir ao hospital? No entanto, da próxima vez
que precisar de dinheiro, qual a probabilidade de você também 45

ir ao hospital? Percebe que as probabilidades são diferentes?


Quando você enxerga que sua ação é a causa de um resultado, ou
seja, “ir ao hospital” e “ser medicado”, existe uma chance maior
que você aprenda que esse comportamento é positivo e o repita.
Isso não acontece quando essa correlação entre ação e resultado
é inexistente, como “ir ao hospital” e “ganhar 100 reais”.

Agora fez sentido?


Dessa forma, quando uma pessoa não entende suas ações como
causa dos seus resultados, seu aprendizado em relação aos seus
comportamentos pode ser prejudicado. Afinal, por que mudar um
comportamento se ele não me faz mal, se não me causa resultados
negativos? Ou por que continuar realizando determinada ação se
ela não me resulta em benefícios?

Uma grande armadilha, portanto, para o desenvolvimento de


um estilo protagonista de estudos é não acreditar que você, em
grande parte, é responsável pelos seus resultados acadêmicos.
Por essa razão, responda sinceramente às seguintes perguntas:

- Você acredita que resultados negativos acontecem por uma


questão de azar, conspirações contra determinada pessoa, ou
simplesmente por ações específicas previamente realizadas?

_______________________________________________________________
________________________________________________________________

- Você acredita que existem dias em que a vida realmente não


sorriu para você, dias em que tudo dá errado, ou que você tem
controle sobre muitos aspectos da sua vida e pode executar
ações em prol de um dia bom?

_______________________________________________________________
46 ________________________________________________________________

- O quanto você tem cuidadosamente analisado seus hábitos e


comportamentos e entendido o que você tem acertado e errado
em termos de estudos?

_______________________________________________________________
________________________________________________________________
- Quais são as principais ações que você tem realizado hoje que
sabidamente podem atrapalhar os seus resultados no futuro?

_______________________________________________________________
________________________________________________________________

- O que você tem deixado de fazer que tem provocado resultados


negativos em seus estudos hoje?

_______________________________________________________________
________________________________________________________________

- Em que momentos, nos seus estudos, você tem preferido


atribuir a causa dos seus resultados a outras pessoas ou a outras
situações?

_______________________________________________________________
________________________________________________________________

- O quanto você verdadeiramente se sente responsável pelos seus


estudos?

_______________________________________________________________
________________________________________________________________

- O quanto você acredita que pode construir seu futuro por meio
de ações realizadas hoje? 47

_______________________________________________________________
________________________________________________________________

Agora que você definiu sua mentalidade de estudos e está ciente


de que pode desenvolver novas habilidades, este é o momento
certo de começar a agir. Qual o primeiro passo? Saber onde você
quer chegar e, claro, ter um planinho, né?
Escreva nas linhas abaixo as decisões que você tomou ao final
deste capítulo:

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_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
________________________________________________________________

48
CAPÍTULO 2 -
“PLANEJAÇÃO”
E ESSE NOME?
Um momento, o substantivo derivado do verbo planejar, se minha
professora Gláucia da 5a série estava certa, é “planejamento”, não?
Certo. Mas o objetivo deste capítulo não é ensiná-lo a planejar
melhor o seu tempo, mas como planejar e, concomitantemente,
executar esse plano. Planejar e entrar em ação. Planejamento e
ação. Planejamento ação. “Planejação”. Pronto. Assim fica mais
fácil de guardar na cabeça as informações todas que estão nas
próximas páginas. Já está no nome o primeiro aprendizado deste
capítulo: não adianta planejar e definir a mais perfeita agenda se
as ações nela estabelecidas não forem cumpridas.

É muito comum as pessoas planejarem mil coisas, mas não


concretizá-las por ações consistentes. Sendo assim, como
planejar o seu dia e ao mesmo tempo realizar aquilo que você
definiu para o seu tempo?
49

Organização de tempo é uma questão muito importante que


atinge muita gente. Sabe aquele negócio de falar “casa suja, chão
sujo” em voz alta, em que quase todo mundo se embanana? Pois
é, organização de tempo é tipo isso: quase todo mundo sofre em
algum grau pela má gestão do seu tempo. As queixas variam: “me
falta tempo”, “tenho muito o que fazer”, “não sou café, mas ‘tô’ só
o pó de tanto cansaço”, “estuda e trabalha, legal, mas e as séries?
‘Tão’ em dia?”, e por aí vai.
Nosso tempo é um recurso não renovável. Não volta. Perdeu 100
reais? Tudo bem, trabalha um pouco mais e consegue de volta.
Perdeu 2 horas mexendo no celular? Já era, goiaba. Não existe
um Serviço de Atendimento ao Consumidor do tempo. Não tem
como reclamar. Todo mundo tem 24 horas e todos os dias temos a
oportunidade, alguns em maior ou menor grau, de escolher como
vamos empregar cada um desses mil quatrocentos e quarenta
minutos.

Valorize seu tempo, valorize o tempo das outras pessoas,


permita-se investir seu tempo em ações que vão, realmente,
proporcionar experiências e oportunidades boas para a sua vida.
Você tem alguma dificuldade em organizar o seu tempo? Se sim,
tranquilidade, você veio ao capítulo certo. Estique as pernas,
pegue uma pipoquinha e continue a leitura, porque só por meio
de uma rotina minimamente bem determinada e bem executada é
possível conquistar objetivos.

ANTES É PRECISO SE CONHECER


Você sabe quais são seus objetivos acadêmicos? Para que você
50
verdadeiramente estuda? Não? Opa, alerta vermelho. Estudar é
como investir dinheiro: quando você investe, o faz porque espera
obter resultados muito específicos por aquela aplicação, por
isso faz sentido abdicar de prazeres momentâneos para poupar
dinheiro e investir. Se você não sabe bem para o que está estudando
e quais resultados deseja que o estudo lhe proporcione, o que
vai mantê-lo motivado durante sua jornada de dedicação? Pode
acreditar que, sem algo que o motive do contrário, ficar deitado ou
passar horas nas redes sociais pode ser bem mais prazeroso que
ler uma penca de livrões.
O princípio do estabelecimento de objetivos reside no
conhecimento dos seus valores como indivíduo. Aquilo que é
importante para você e que, de alguma forma, rege a sua vida.

Valores, como integridade, solidariedade, amor, família, utilidade,


e conforto, são representações do que realmente importa para
nossa vida e servem como base para tomarmos decisões. Se
um valor importante para você for família, por exemplo, é muito
provável que você sinta prazer ao passar um tempo de qualidade
com seus pais, irmãos e parentes e, em vários momentos, priorize
ficar com a sua família sobre outras atividades.

Sem saber o que é importante pra você e, por consequência, quais


são os seus valores, é um grande desafio estabelecer objetivos que
sejam de fato cumpridos. Já dizia aquele gatinho roxo da Alice no
País das Maravilhas: “se você não sabe para onde quer ir, qualquer
caminho serve”1. Primeiramente, você precisa ter clareza sobre o
que é importante para você, porque, se você estabelece objetivos
que não vão ao encontro dos seus valores, é muito provável que
a jornada para a conquista dessa meta perca o sentido com o
tempo, e você desista no meio do caminho.

Por exemplo, se um valor importante para você for segurança,


baixo risco, e seu objetivo for empreender, sua jornada deve 51

provavelmente ser mais desafiadora, porque você não vai usufruir


de momentos com muita segurança logo de cara. Não que se
você realmente tiver segurança como um valor importante seja
impossível empreender, mas, se você tem clareza dos seus
valores de antemão, é mais provável que você defina objetivos
condizentes a eles e que façam sua jornada mais prazerosa.

Você sabe quais são seus valores hoje, o que de fato importa para
você e é imprescindível para o seu bem estar de forma geral? Não?
Calma, me deixe apresentar a você uma pessoa. Conheça o Zé:

O Zé é fictício. Este aqui não existe, é só para ajudá-lo a entender


esses conceitos melhor mesmo.

52

É fictício mas tem um ouvido afiado. Bom, vamos continuar. O


Zé tem 19 anos, é carioca, acabou de terminar o Ensino Médio,
mas não conseguiu entrar na universidade por errar apenas
duas questões no vestibular. Ele não sabe muito bem se não ter
passado na prova na verdade não foi um golpe de sorte, porque
ele não tinha noção do que queria cursar na faculdade e, meio
que, secretamente, acha que esse ano de cursinho vai ser uma
oportunidade de pensar melhor no que ele quer cursar. Por isso, ele
decidiu começar o ano de um jeito diferente, não já se preparando
para estudar, devorando livros e questões de vestibulares antigos,
mas se conhecendo.

Depois de pensar, ele elencou quais são os seus principais valores


de vida:

- Segurança: ele preza por estabilidade;

- Serviço: ajudar pessoas voluntariamente é muito importante


para ele;

- Reconhecimento: ser reconhecido é algo relevante;

- Conhecimento: muito curioso, ele valoriza entender como tudo


funciona;

- Pessoas: para ele, quanto mais pessoas ao seu redor, melhor;

- Espiritualidade: a fé é algo marcante da sua identidade;

- Ambição: desafios e crescimento são sua marca registrada;

- Saúde: estar bem com seu corpo e ver os outros bem é


53
imprescindível para ele.

Agora é a sua vez. Nas próximas linhas, descreva quais são os seus
principais valores de vida, o que sinceramente importa para você:

_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
________________________________________________________________

Uma vez que se tem seguramente quais são os seus valores,


podemos passar para um segundo ponto importante para a
definição de suas metas: checar se o que você faz ou quer fazer
realmente lhe traz bem-estar. Vai parecer frase de bom dia do
grupo da família, mas não posso deixar de lembrá-lo que é bom
que você esteja indo em direção àquilo que faz o seu coração
bater mais forte, sabe?

54

Voltemos ao Zé, o fictício.


Uma hora ele se acostuma.

Depois de entender sobre seus valores, ele percebeu que talvez


tornar-se médico fizesse muito sentido para a pessoa que ele é.
Ele percebeu que amava estudar ciências e cuidar de pessoas,
ficaria muito feliz em se dedicar a isso no dia a dia e sentia
que contribuir para a qualidade de vida das pessoas era o que
realmente importava para ele. Bingo!

Demorou um tempo para que ele pensasse sobre si e chegasse a


55
essa conclusão, mas o que importa é que ele chegou lá. E você?
Você tem clareza a respeito do que realmente gosta de fazer?
Daquilo em que você já tem prática ou que quer muito aprender?
Do que realmente o move? Como é possível definir um objetivo, um
alvo a ser alcançado, sem antes ter a ciência desses parâmetros?

É mais interessante dedicar-se a se conhecer mais para tomar


uma decisão assertiva do que decidir já de antemão um objetivo
que pode ou não satisfazê-lo e correr o risco de ter investido
tempo e energia em algo que não o faça feliz - se é que você
alcance esse objetivo, já que a jornada para conquistá-lo seria
bem mais dura.

Tome o tempo necessário para refletir sobre as seguintes


perguntas e respondê-las de forma sincera:

- O que você ama fazer?

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_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
________________________________________________________________

- O que você gostaria de aprender a fazer?

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_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
________________________________________________________________

- Que problema você gostaria de resolver no mundo?

_______________________________________________________________
56
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
________________________________________________________________

Assim que você se assegurar de que encontrou uma atividade


que faça sentido para os seus critérios, é mais provável que,
ao realizá-la, você viva a jornada de conquista do seu objetivo
de forma mais feliz, e, por consequência, mais sustentável.
Com essa mentalidade, a sua felicidade não está condicionada
necessariamente à conquista de determinado objetivo, mas à
jornada de conquista em si.

Lembrete: sem estresse. Você não precisa saber disso agora. A


vida nos dá a oportunidade de testar nossos gostos, habilidades e
perspectivas. Se você sentiu dificuldade em responder às últimas
perguntas, está tudo bem. Às vezes, é só que ainda não deu tempo
de você testar algumas dessas possibilidades. Procure essas
oportunidades de teste, não perca tempo. Se você acha que gosta
de falar em público, por exemplo, procure maneiras de testar isso
de verdade até que você tenha mais clareza se isso é realmente
algo de que você gosta. Se você acredita que proteger animais
seja a missão da sua vida, não perca muito tempo só pensando
nisso, aja. Teste, envolva-se com iniciativas do gênero e, pouco a
pouco, vá se conhecendo.

Uma vez que você tenha os seus valores mais claros e saiba que
atividades realizar para potencializar a satisfação do dia a dia, é
tempo de definir seus objetivos acadêmicos.

E AGORA, COMO FAZ? 57

Você sabe como construir objetivos? Muitas pessoas acham que


têm objetivos, mas, na verdade, elas têm desejos e sonhos, o que
é completamente diferente. Ter metas é saber traçar exatamente
o que você quer conquistar, quando quer e de que jeito quer,
de forma detalhada e temporal. Isso é o completo contrário de
um sonho ou desejo. Um sonho ou desejo é basicamente uma
aspiração, um pensamento do tipo: “como seria bacana ter um
carro novo”, ou “caramba, meu sonho é viajar pra Disney”. O
simples fato de ter um sonho não o impele a uma atitude, a ter
uma ação que o encaminhe em direção à sua realização. Ele é
simplesmente um desejo, um pensamento positivo jogado para o
universo na esperança de que um dia aconteça. Perceba agora um
objetivo: “Meu objetivo é viajar para Disney no dia 12 de Dezembro
de 2021 e participar do desafio Dunga de corrida com sucesso”. O
simples fato de determinar uma data limite para o acontecimento
do objetivo já tem maior poder de impeli-lo a agir.

Existe um guia definitivo para a criação de objetivos? Não. No


entanto, um acrônimo bem conhecido pode ajudar a gente nisso:
metas SMART2. Pessoalmente, gosto muito desse termo porque ele
é bem prático e passa informações importantes. Acho que serve
bem para o que estamos conversando aqui. Se você realmente
quer alcançar algo, é importante que esse desejo cada vez mais
se afaste de ser um mero sonho para tornar-se um objetivo, já que
o último é aquele que de fato nos impulsiona a agir.

O que são as metas SMART? SMART é um acrônimo para cinco


parâmetros que caracterizam objetivos. Sabe aquela história de,
“tem pena igual galinha, pia que nem galinha, bota ovo como
galinha, então, deve ser galinha”? O SMART é quase a mesma
coisa. Se um objetivo tem cada uma das características que você
58
já vai ler, é porque ele deve ser um objetivo mesmo. Em inglês,
as letras desse acrônimo, no artigo mencionado, significam,
respectivamente: specific, measurable, assignable, relevant,
time-related. Podemos traduzir esses termos para o português
desta maneira: específico, mensurável, atribuível, relevante e
temporal. Para o nosso caso, vamos adaptar um pouquinho
esse terceiro conceito para: alcançável, como rotineiramente se
conhece, e você logo vai entender porque esse parâmetro pode
ser importante para você.

Específico. Quanto mais específico, melhor. O seu objetivo é


basicamente o que você quer alcançar. Quando, por exemplo, você
vai dirigir para um lugar novo, que você nunca tinha ido antes, é
importante saber a localização exata do destino, para que o GPS
possa guiá-lo até tal local. Se você não souber exatamente para
onde está indo, é muito mais difícil chegar lá.

É preferível um mapa que indique exatamente: “Vá até a Rua


dos Alpistes 3.323, CEP 06309000. Siga reto depois de sair de
casa por 3km, depois vire à primeira direita e, na saída 47, vire
à esquerda e chegará ao seu destino após 800m.”, ou um que
afirme: “Vá mais ou menos para perto do supermercado do centro
da cidade, seu destino vai estar logo ali. Não achou? Problema
seu”? Provavelmente você terá de dar algumas voltas a mais se o
segundo mapa é o que estiver em suas mãos.

O mesmo acontece com seus objetivos. Se você não sabe


exatamente onde quer chegar, é mais provável que seu plano para
chegar lá não seja eficiente. De forma prática, seu objetivo pode
ser “entrar na faculdade”, o que já indica a você a necessidade
de estudar, talvez entrar em um cursinho preparatório, ou algo do 59

gênero. Mas e se seu objetivo fosse “estudar direito na Faculdade


X no próximo ano e passar no vestibular entre os 20 primeiros
colocados”? Não que a sua colocação no vestibular faça diferença,
mas com esse objetivo específico, você já sabe a faculdade em
que quer estudar, quando prestar o vestibular e como quer se sair
nele, portanto, é mais fácil traçar planos.
Lembre-se, no fim das contas, um objetivo é o seu norte para
traçar seus planos, portanto, quanto mais específico ele for, mais
informações você terá para construir seu plano de ação de forma
direta e eficiente.

O que você objetiva alcançar com seus estudos? Escreva


detalhadamente seu objetivo de estudos nas próximas linhas:

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_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
________________________________________________________________

Mensurável. Como você será capaz de saber se está chegando


mais perto dos seus objetivos, ou até mesmo se já chegou lá,
se o objetivo em si não for mensurável? Como medir se suas
ações estão sendo efetivas, ou se você está parado no meio do
caminho? Para ser capaz de fazer isso, seu objetivo e sua jornada
em direção a ele precisam ser mensuráveis.

Por exemplo, se seu objetivo for ser um bom aluno, qualquer


pessoa pode subjetivamente acreditar ser um bom aluno, mas se
seu objetivo é ser um dos 5 primeiros colocados na sua turma
60
de estudos e ter uma média ponderada acima de 9,0, você tem
critérios para mensurar se as ações tomadas até agora estão
sendo efetivas.

Muito provavelmente, você já tomou ações que, em um primeiro


momento, pareceram eficientes, mas, no fim das contas, não
fizeram diferença alguma ou até mesmo atrapalharam a sua
conquista. Imagine que você decidiu ser um bom aluno e, para
isso, acredita que é necessário estudar mais que todo mundo.
Show de bola, né? Só que todos já estão estudando muito, então,
o que você faz? Decide dormir menos horas para estudar mais, até
virar noites estudando. Se você estivesse olhando para a minha
cara agora, provavelmente eu estaria olhando feio para você por
essa decisão. Mas tudo bem, siga lendo que você vai entender o
pulo do gato.

Dormir menos proporcionaria a você mais tempo de estudo,


mas, por outro lado, o deixaria mais cansado. Esse cansaço,
por fim, prejudicaria seus estudos, já que suas capacidades
mentais de adquirir novas informações e de produzir raciocínios
lógicos estariam afetados pela sua privação de sono. Olha que
eu não estou nem comentando sobre essa ideia esquisita de
necessariamente ter que estudar mais que todo mundo.

Se seu objetivo é somente ser um bom aluno, não


necessariamente você terá critérios que o indiquem se aquelas
ações que você estava tomando estão te desfavorecendo.
No entanto, se seu objetivo é ter uma média ponderada de 9,
com o passar do tempo, se seus rendimentos caem, é possível
mensurar que seus resultados não estão sendo positivos,
portanto, é uma oportunidade de avaliar sua ações e, assim,
mudar a atitude de dormir menos para estudar.

Se você não for capaz de mensurar a sua jornada, é muito mais 61


desafiador monitorar seu plano e ser capaz de tomar decisões
acertadas no meio do caminho para definir quais ações devem
ser mantidas e quais, por serem ineficientes ou até mesmo
prejudiciais, devem ser extintas.

Quais são os indicadores que você vai utilizar para entender se


está progredindo, ou não, na conquista dos seus objetivos?

_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
________________________________________________________________

Alcançável. Muitas pessoas se perdem nesse parâmetro: seu


objetivo precisa ser possível e desafiador de se alcançar. Existem
dois extremos de desvio dessa métrica: aqueles que acreditam
que o impossível é uma questão de opinião e que, portanto,
traçam objetivos quase impossíveis ou alcançáveis somente a
longuíssimo prazo e aqueles que traçam objetivos muito fáceis,
que serão alcançados sem esforço algum.

O grande perigo do primeiro grupo de pessoas é desanimar no meio


do caminho. Sabe resolução de ano novo? “É nesse ano que eu
vou ficar sarado, Dwayne Johnson que me segure”. Passa janeiro,
ok. Academia, dieta, sono, tudo em cima. Passa fevereiro, a dieta
desanda um pouco, mas ok. Passa março, a dieta descambou de
vez, academia não aparece nem para dar “oi”, mas o sono está firme
e forte. Chega abril, bagunça total. Como o objetivo é mensurável e
específico, parece estar tudo certo, mas por se tratar de um objetivo
de mais longo prazo, passa um mês, dois meses e, embora possa
haver progresso, como essa visão é raramente alcançável em um
prazo aceitável, desiste-se no meio do processo.

62 Já o segundo grupo corre o risco de não cultivar a energia necessária


para alcançar o objetivo pela falta de desafio. As pessoas, em
diferentes graus, são motivadas por desafios. É muito importante
que os objetivos sejam desafiadores na medida certa, porque, se
não, vai ser mais interessante perder tempo com distrações, do que
realmente cumprir seus planos. É preciso haver um estímulo que,
por exemplo, o impulsione a deixar as redes sociais de lado para
começar a ler um capítulo de livro importante para sua formação.
Isso aqui tem de ser que nem sal: nem de mais, nem de menos;
na medida certa. Quais objetivos acadêmicos desafiadores na
proporção certa você define hoje? Atingíveis, mas, ao mesmo
tempo, não tão fáceis.

_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
________________________________________________________________

Relevante. Seus objetivos precisam ser importantes e positivos


para você. Para que o óbvio não deixe de ser escrito: alcançar seu
objetivo tem, necessariamente, de fazer bem para você.

Não deixe que suas metas sejam ditadas por outras pessoas,
pelas expectativas de pais, de amigos, pela pressão que você
acredita que a sociedade imponha sobre você ou por qualquer
outra questão que não o simples fato de você querer conquistá-las.
É preciso sentir que ter essa conquista vá ser algo importante na
sua vida.

Faça questão de se assegurar de que quem está sonhando e


traçando seu objetivo é você mesmo, pelo que você quer e pelo 63
que você entende que é positivo para sua vida e para o seu
desenvolvimento.

O que você verdadeiramente deseja alcançar?

_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
________________________________________________________________
Temporal. A primeira diferença entre sonhos e objetivos talvez
seja a diferença mais importante de todas: um objetivo tem uma
data de validade, um prazo específico para acontecer.

O prazo é justamente um dos grandes motivadores da criação


de um plano de ação para a conquista de uma meta. Quando
você tem uma tarefa e sabe exatamente o momento em que essa
tarefa deve ser terminada, é muito mais provável que você a faça
do que quando simplesmente sabe que uma tarefa pode ser feita
a qualquer momento.

Se meu objetivo for exatamente finalizar um curso de nível


superior, por exemplo, posso começar a faculdade assim que
terminar o ensino médio, ou depois de trabalhar uns anos, ou
depois de casar, ou depois dos meus filhos casarem, ou já na
velhice. Já ouviu “deixa a vida me levar, vida leva eu”? Pois é. Posso
também, diferentemente, definir que meu objetivo é começar um
curso de nível superior no próximo ano. Por consequência, se
quero começar a estudar no ano que vem, devo realizar ações
que sejam condizentes com esse objetivo neste ano para que eu
consiga alcançá-lo. Dessa forma, decido conscientemente o que
conquistar e, estabelecendo datas, realizo ações para tanto.

64 Muitos sabotam seus objetivos de duas formas opostas: datas


muito curtas ou muito longas. Na primeira, já dá para imaginar:
altos níveis de estresse pela grande demanda de ações em um
curto período de tempo. Sabe aquilo de estudar em véspera de
prova? Você está cansado, então, dá-lhe café. Acontece o quê?
Você continua cansado, só que agora, “tcharam”, taquicárdico. É
desse tipo de estresse que estou falando. Na segunda forma, o
vilão é outro. É o sofá. Procrastina-se, porque é bem possível adiar
ações quando se tem um prazo muito grande. Por essa razão, é
importante que sua data estabelecida seja justamente definida
com base nas suas possibilidades temporais de execução: seja
realista e sincero com o seu próprio tempo.

Outro armadilha neste ponto é a falta de comprometimento com


seu objetivo determinado. Muitas pessoas têm mais facilidade
de cumprir compromissos firmados com outras pessoas do que
aqueles firmados consigo mesmas.

Vamos abordar esse assunto com um pouco mais de detalhe nos


capítulos 5 e 7, mas, se esse cenário lhe soa familiar, responda
sinceramente às seguintes perguntas. Se essa questão já for algo
resolvido para você, responda unicamente à última pergunta:

- O que o motiva, verdadeiramente, a se comprometer tão


fortemente com as necessidades de outras pessoas e, por essa
razão, muitas vezes negligenciar seus próprios objetivos?

_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
________________________________________________________________

- Você, por alguma razão, já chegou a pensar que os seus


objetivos têm menos valor que os das outras pessoas?
65

_______________________________________________________________
________________________________________________________________

- Se isso já aconteceu, o que o levou a pensar assim?

_______________________________________________________________
________________________________________________________________

- O que você pode fazer hoje para reconhecer a importância dos


seus objetivos e se comprometer com eles?
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_______________________________________________________________
_______________________________________________________________

- Por fim, qual é a data específica em que você vai alcançar seu
objetivo acadêmico?

_______________________________________________________________
________________________________________________________________

Entendidos todos os parâmetros que constituem um objetivo,


escreva, então, a sua meta SMART nas próximas linhas :

_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
________________________________________________________________

Depois de fazer esse exercício, o Zé fictício...

66
Sai, Zé, me deixa continuar aqui.

Como eu estava escrevendo antes, depois de fazer esse exercício, o


Zé fictício definiu seu objetivo acadêmico SMART para este ano: ser
um dos 10 primeiros colocados nas provas simuladas do seu curso
preparatório para o vestibular durante o ano inteiro e ser aprovado
em medicina na Faculdade de Medicina da USP este ano. Chique,
né? Também acho.

MÃO NA MASSA 67

A consequência de um objetivo bem definido, que respeita seus


valores e propósito, é a ação. Assim, como agir de forma eficiente?
Comece, rapidamente, com um bom planejamento e parta logo
para a ação. Uma ferramenta eficiente muito conhecida para o
planejamento de objetivos é o “plano de ação 5W2H”.

“5W2H” advém da língua inglesa: “when, where, what, who, why,


how, how much”, que se traduzem como “quando, onde, o quê,
quem, por que, como, quanto”.
O QUÊ? QUANDO? ONDE? QUEM? POR QUÊ? COMO? QUANTO?

Ação 1
Ação 2
Ação 3
Ação 4
Ação 5
...
Ação N

Esse modelo de plano de ação nos ajuda a definir que ações


devemos realizar para alcançar um determinado objetivo ao
esclarecer os parâmetros relacionados a elas.

Responda às seguintes perguntas e preencha o seu próprio plano


de ação:

- O que você deve fazer para alcançar a sua meta SMART na data
definida?

_______________________________________________________________
________________________________________________________________

- Quando você deve executar cada uma dessas ações para


alcançar a sua meta SMART na data definida?
68

_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
________________________________________________________________

- Onde você deve realizar cada uma dessas ações para alcançar a
sua meta SMART na data definida?

_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
________________________________________________________________
- Quem deve realizar cada uma dessas ações para alcançar a sua
meta SMART na data definida?

_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
________________________________________________________________

- Por que cada uma dessas ações deve ser realizada para alcançar
a sua meta SMART na data definida?

_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
________________________________________________________________

- Como cada uma dessas ações deve ser realizada para alcançar
a sua meta SMART na data definida?

_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
________________________________________________________________

- Quanto custa realizar cada uma dessas ações para alcançar a


sua meta SMART na data definida?

_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
69
________________________________________________________________

Depois de responder cada uma dessas perguntas, você poderá


ter uma ideia mais clara das ações que devem ser realizadas,
suas especificidades e, a partir daí, monitorar a realização
dessas ações por meio de uma rotina. Entretanto, utilizar
somente seu plano de ação isoladamente e ser guiado com
base nas macroações lá descritas não é muito eficiente.
As pessoas tendem a lidar melhor com ações pequenas que
podem ser começadas, mensuradas e terminadas no seu dia a dia,
literalmente microações. Seu plano de ação, portanto, deve ser
transformado em uma rotina. Uma vez que o plano esteja pronto,
você será capaz de definir quais ações devem ser realizadas
agora, depois ou ainda mais tarde, e, com base nisso, definir a
sua rotina como no seguinte exemplo:

Comece definindo os horários em que você dorme. É muito


importante cultivar sua saúde física nesse processo, porque o bom
funcionamento do seu corpo é um importante determinante da sua
conquista: sem a sua saúde é muito mais desafiador conquistar
objetivos, quaisquer que eles sejam. Definido o seu horário de sono,
você sabe em quais horas do dia você estará acordado, portanto,
capaz de produzir ações com o propósito de conquista.

Em seguida, defina quais são suas atividades obrigatórias,


aquelas com as quais você já tem um comprometimento prévio.
O resto do seu tempo, fora sono, cuidados de saúde e atividades
obrigatórias é, de forma geral, o seu tempo livre. Palavra
importante: livre. Esse tempo é exatamente aquele que pode ser
utilizado para a conquista dos seus objetivos principais. Planeje,
a partir daí, sua ações.
70

Escreva rapidamente a sua rotina para o alcance de seus objetivos


acadêmicos. Não se preocupe em detalhá-la, você terá espaço
para descrever uma rotina mais definitiva ao final do capítulo:
SEGUNDA TERÇA QUARTA QUINTA SEXTA SÁBADO DOMINGO

5:00
6:00
7:00
8:00
9:00
10:00
11:00
12:00
13:00
14:00
15:00
16:00
17:00
18:00
19:00
20:00
21:00

22:00

Uma vez que temos uma rotina eficiente, que faz com que 71

caminhemos para o nosso objetivo, alcançá-lo é só uma questão


de tempo e de disciplina. No entanto, uma ressalva: a rotina,
desse jeito, pode parecer muito simples. Simples demais. Quem
nunca planejou uma agenda semanal antes e no fim da semana
percebeu que cumpriu bem menos do que havia planejado? Mais
vida real ainda: quem nunca começou a academia na segunda e
na sexta já estava no sofazão assistindo a um filminho com um
pacotão de pipoca doce do lado? Só eu? Tudo bem, segue o jogo.
Na vida real, existem certos desafios para o cumprimento
adequado de um planejamento, por isso, apresento a você, então,
7 maneiras de trabalhar com o tempo a seu favor durante o seu
dia a dia.

Porém, preste atenção a um detalhe importante: cada uma delas


só poderá ser aplicada depois que você já tiver preenchido a sua
agenda e organizado em antemão seus horários da semana.
Então, se você ainda não preencheu o último exercício, pare um
pouco a leitura, pense nos seus objetivos e nas atividades que
você já realiza hoje, bem como naquelas que você quer começar
a realizar, e, depois de preencher sua rotina, prossiga daqui.

SEJA SINCERO: TEMPO NÃO SOME


Você já se esqueceu de um compromisso muito importante que
não poderia ter deixado passar em hipótese alguma? Já percebeu
que seu dia parece durar bem menos do que imaginava? Já
começou a fazer algo importante e, de repente, duas horas se
passaram e parecia que não fazia nem 10 minutos desde o início
daquela atividade?

Tudo toma tempo, desde as atividades mais produtivas


72
necessárias para alcançar um objetivo até as menos produtivas,
que, em geral, não o levam a lugar algum. Isso mesmo: aquela
uma horinha gasta no celular entre uma atividade e outra está
contando e nunca mais vai voltar. Outro ponto importante: isso
também significa que, se sair da faculdade para chegar em casa
toma uma hora do seu tempo, é preciso ter ciência de que essa
uma hora foi subtraída do seu tempo produtivo.

O objetivo da sua rotina é ser cada vez mais verdadeira. Quanto


mais a rotina do papel se aproxima da vivida no dia a dia, melhor
será sua noção de como seu tempo está sendo utilizado. Trate,
então, tudo como um compromisso. Agende na rotina o tempo
que você gasta de deslocamento para almoçar, para o trabalho,
o tempo gasto assistindo a uma série na internet, o tempo para
um cochilo durante o dia. Assim, você vai ter uma noção maior do
tempo que você tem, de verdade, para realizar ações produtivas.

Quanto mais claro for o tempo que você de fato tem para agir em
direção aos seus objetivos, mais fácil será aplicar o seu plano
de ação na sua rotina. Dessa forma, é menos provável que você
agende ações que não poderão ser realizadas simplesmente por
um deslocamento, ou um período de lazer, não terem sido levados
em consideração no início do planejamento.

DÁ PRA PREVER O IMPREVISÍVEL?


Em poucas palavras: reserve tempo para o não planejado.

Eventualidades acontecem e, se não houver flexibilidade


suficiente para adaptar sua rotina a imprevistos, é muito provável
que o seu dia a dia acabe por ser bastante improdutivo. Imagina o
seguinte cenário: é terça-feira, 18h30. Você acabou de chegar em
casa, e, checando sua agenda semanal, você percebeu que pelas
próximas cinco horas já estava planejado o término da leitura de 73
um capítulo de livro muito importante para o seu trabalho amanhã.
SEGUNDA TERÇA QUARTA QUINTA SEXTA SÁBADO DOMINGO

5:00 dormir
6:00 livre
7:00 estudos estudos estudos estudos estudos
8:00 aula aula aula aula aula estudos
9:00 aula aula aula aula aula estudos
10:00 aula aula aula aula aula estudos
11:00 aula aula aula aula aula estudos
12:00 descanso
13:00 trabalho trabalho trabalho trabalho trabalho estudos estudos
14:00 trabalho trabalho trabalho trabalho trabalho estudos estudos
15:00 trabalho trabalho trabalho trabalho trabalho estudos estudos
16:00 trabalho trabalho trabalho trabalho trabalho estudos estudos
17:00 trabalho trabalho trabalho trabalho trabalho
18:00 estudos estudos
19:00 estudos estudos
20:00 estudos estudos estudos estudos estudos
21:00 estudos estudos estudos estudos estudos

22:00 estudos

74 Só que, ao chegar em casa, você percebe que não tem comida


na geladeira e que maior do que a vontade de estudar é o ronco
do estômago vazio. Rapidamente, você para a leitura para fazer
uma compra básica no mercado e volta para casa. 19h30. Hora
de comer e começar a estudar logo mais. De repente, sua tia
liga, é muito importante: sua prima, de quem você gosta muito,
descobriu que está grávida e quer compartilhar a notícia com
você. Emoções vão e vêm pelo telefone. 20h00. Já preocupado
com os seus estudos para amanhã, você decide começar a
estudar quando - PLAU! - você ouve um barulho forte vindo da rua:
a caixa elétrica do poste explodiu por um pico de tensão e acabou
a energia elétrica na sua vizinhança inteira. 22h00 a energia volta
e, então, você consegue estudar uma horinha antes de dormir.

Percebe como o fato de ter planejado um dia cheio e estar


comprometido com as ações definidas não necessariamente
determinam o sucesso do seu planejamento? Eventualidades
acontecem e, para que o seu rendimento não seja prejudicado, é
importante reservar tempo para lidar com essas eventualidades.

Não necessariamente todo dia vai faltar comida em casa, sua


prima vai descobrir uma gravidez e a energia elétrica da quadra
vai acabar, mas provavelmente você deve conseguir lembrar
de episódios em que eventualidades, literalmente urgências
inesperadas, atrapalharam seu planejamento. Para que isso não
aconteça, defina um horário durante a sua semana como tempo
reserva para eventualidades.

Não que você vá prever o imprevisível, mas caso você tenha de,
inesperadamente, gastar duas horas em algum momento da sua
semana com uma eventualidade, não há problema, pois você já
reservou um horário da sua semana a ser utilizado caso uma
eventualidade acontecesse. Dessa forma, os horários que você já 75

havia definido como produtivos assim serão, mesmo que sejam


repostos em outro dia, já que existe essa possibilidade.

Ok, eu sei o que você está pensando: “mas como eu sei o quanto
do meu tempo vou reservar para eventualidades?”. Não era isso?
Me ajuda a te ajudar, confie e siga com a leitura.

Basicamente, lembre-se de quantas vezes surgiram eventualidades


nas suas últimas semanas e de quanto tempo você gastou com
elas. Faça uma média desse tempo gasto e a defina como o seu
tempo reservado para lidar com eventualidades. Observe sua
produtividade nas próximas semanas e vá ajustando esse tempo
reservado de acordo. Caso não surja nenhuma eventualidade,
ótimo, aproveite esse tempo para executar outras ações
produtivas.

DEIXA A GORDURINHA LÁ
Quando chefs, e até mesmo o meu tio que depois do Masterchef
começou a se achar profissional, fazem um churrasco, é muito
comum deixarem uma parte da gordura assando na brasa junto
com a carne. A ideia é que, mesmo que o cliente não vá comer a
gordura da carne, ela fique mais suculenta e, por consequência,
mais saborosa. Daria para tirá-la, ora, às vezes, o cliente nem a
usa, mas, sem ela, o resultado não é o mesmo.

Também é mais ou menos assim com o seu tempo: se você


estima que vai realizar uma tarefa em 40 minutos, agende 1 hora
para essa atividade. Coloque um tempinho extra na sua rotina em
cada atividade, uma gordurinha, para caso você necessite. Desse
jeito, você é capaz de manter sua produtividade durante as tarefas:
imagine que você atrase 20 minutos em um estudo, e, por isso,
76 ainda sem terminá-lo, decide parar e começar outra atividade, só
que está estressado com a atividade anterior ainda não terminada
e acaba ficando ainda mais tenso para fazer as que estão por vir.

A sensação de terminar uma atividade com uma folga de tempo


é positiva, pois o leva a crer que sua produtividade é alta e
estimula seu senso de capacidade própria, afinal, se você já
conseguiu terminar uma tarefa difícil mais rapidamente que o
tempo determinado, porque não conseguiria terminar a próxima
da mesma forma? Nem sempre vai ser assim, mas a sensação
provocada por esse término antecipado faz um bem danado.

As consequências do estresse no dia a dia podem não ser muito


boas para seus estudos. Entenderemos, com mais profundidade,
o efeito do estresse no nosso corpo nos próximos capítulos,
mas, de forma simplificada, esse estado de alerta provocado
por, por exemplo, não terminar algo a tempo, se em excesso
e de maneira contínua, pode não facilitar o seu aprendizado.
Segure essa ideia que logo mais você vai entender um pouco
mais sobre isso. Planeje, então, um pouco mais de tempo que o
necessário para finalizar suas atividades.

PRODUZ? ‘TÁ’, LEGAL,


MAS EM QUANTO TEMPO?
Sabe quanto tempo você demora para ler alguma coisa? Quanto
você lê em um minuto? Sabe quanto você escreve em dez
minutos? Se acontece uma emergência, quanto do seu tempo de
sono você pode reduzir sem prejudicar sua produtividade? Sabe
em quanto tempo a sua concentração começa a cair? Você tem
essas medidas das suas capacidades? Como você vai organizar o
seu tempo se você não tem a noção de quanto tempo a realização
de cada uma dessas atividades demora? 77

Ter uma noção do quanto você produz e, principalmente, em


quanto tempo produz é fundamental para organizar o seu tempo
de forma eficiente. Lembre-se: o objetivo do seu planejamento de
rotina é ser cada vez mais parecido com o que você, de fato, vive
no dia a dia, assim, quanto mais acurada forem as suas medidas
de tempo gasto, mais facilmente você poderá organizar a sua
rotina de forma a segui-la na prática.
Como medir isso? Se hoje você não sabe com precisão o tempo
que toma para cada atividade, comece a cultivar a sensibilidade
para observar o seu dia a dia e contabilizar o tempo gasto com
suas ações.

A partir de agora, quando você começar a ler um capítulo de livro,


cronometre e use essa medida como base para organizar o seu
cronograma das próximas semanas de forma mais verossímil.
Se agora você sabe que demora uma hora para ler 30 páginas,
da próxima vez que for organizar o seu tempo de leitura, defina,
então, um tempo similar para essa ação. Desse jeito, é menos
provável que você caia na armadilha de, de repente, definir que vai
ler 30 páginas em 20 minutos e sofrer o estresse e o sentimento
de improdutividade de uma tarefa inacabada simplesmente por
não haver tempo suficiente para o seu cumprimento.

UMA COISA DE CADA VEZ


Quem nunca parou uma atividade para responder uma mensagem
no celular? Hoje em dia é comum receber diferentes estímulos
de informação de uma só vez: seja conversar com sua mãe ao
mesmo tempo em que digita uma mensagem no celular, ler ao
78
mesmo tempo em que assiste à televisão, ou fazer quaisquer
outras atividades concomitantemente.

Foque em uma atividade e consistentemente comece e termine


antes de passar para uma próxima. Uma revisão publicada
na revista científica “Proceedings of the National Academy of
Sciences” avaliou o impacto que usar vários tipos de mídia
ao mesmo tempo tem sobre as capacidades cognitivas das
pessoas3. Sabe o famoso multitasking moderno? Assiste filme
enquanto responde mensagem, acessa rede social enquanto
joga videogame, ouve música enquanto navega na internet e
por aí vai. Nessa revisão, embora a literatura científica tenha
resultados díspares, concluiu-se que pessoas que faziam esse
“multitasking moderno” apresentavam um pior desempenho em
vários domínios cognitivos, especialmente quando as tarefas
avaliadas dependiam de atenção de maneira sustentada.

Outro estudo avaliou a relação entre o multitasking e alguns


domínios de vida importantes para jovens4. O resultado? Essa
prática estava, de maneira pequena a moderada, negativamente
relacionada a controle cognitivo, desempenho acadêmico e
funcionamento socioemocional nessa população.

Comece uma atividade, e então, ao terminá-la, passe para a próxima.


Evite fazer muito ao mesmo tempo, porque, apesar de parecer que
se está realizando mais, suas capacidades de concentração e
memória podem, de alguma forma, ser prejudicadas.

SEJA FLEXÍVEL
Todo mundo tem uma lista de afazeres diária em que consta
aquilo que se deve, quer e pode fazer diariamente. Cheque essa
lista com o passar do dia, assegurando-se de que as ações
definidas estão sendo realizadas com o passar do tempo.

No entanto, não seja radical. Permita-se ter flexibilidade para 79

alterar sua agenda e lista de afazeres, porque estamos sujeitos a


mudar de prioridades ou simplesmente não terminar uma tarefa
no seu tempo determinado. Entenda que a sua rotina planejada é
apenas um guia das atividades do seu dia; você sempre está no
controle e pode alterar datas e horários. Sem estresse.
PARCEIROS DE PRODUTIVIDADE
Tenha uma pessoa de confiança com objetivos e valores muito
similares aos seus que possa ajudá-lo nos momentos mais
improdutivos da sua semana.

Por exemplo: pense que você tem um objetivo específico e, para


que ele seja alcançado, você precise estudar a tarde inteira de
terça. Somos todos humanos, então, é provável que às 14h, dê
em você aquela moleza de depois do almoço, e, se você não está
conseguindo se motivar por conta própria, o que é ideal, você
pode pegar seu celular e contactar seu parceiro de produtividade:
“parça, não estou rendendo, ajude aí”.

Se vocês estiverem alinhados e existir o compromisso de


um motivar o outro nos momentos difíceis, ele ou ela vai ser
responsável por fazer aquelas perguntas chaves que o ajudarão
a aumentar a sua produtividade a fim de terminar a tarefa que
precisa ser terminada no momento: “se você continuar fazendo
exatamente o que você está fazendo agora, onde você vai chegar
80 daqui a um ano?”, ou simplesmente “meu queridão, toma jeito, sai
desse celular e vai estudar”.

Com base nessas sete maneiras de organizar o seu tempo a seu


favor, defina detalhadamente sua agenda de ações para a próxima
semana:
SEGUNDA TERÇA QUARTA QUINTA SEXTA SÁBADO DOMINGO

5:00
6:00
7:00
8:00
9:00
10:00
11:00
12:00
13:00
14:00
15:00
16:00
17:00
18:00
19:00
20:00
21:00

22:00

Agora que você já determinou seus objetivos de forma a corroborar 81

a vivência dos seus valores e propósito, escreveu um bom plano


de execução para conquistá-los e definiu uma rotina muito
bem organizada, de forma bastante aplicável, você já pode agir
consistentemente em direção às suas metas. Que tal acelerar a
sua conquista? É tempo de potencializar seus estudos com novos
métodos de aprendizagem.
Escreva nas linhas abaixo as decisões que você tomou ao final
deste capítulo:

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Este conteúdo é parte do livro
Guia da Aprovação.
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