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Parasitoses intestinais:
diagnóstico e tratamento
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Parasitoses intestinais: diagnóstico e tratamento
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mínticas. Atualmente, nosso país se encontra em permaneçam abaixo dos limiares de eliminação
vigilância para garantir que os níveis de infecção comunitária (tabela 1)6-9.
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Parasitoses intestinais: diagnóstico e tratamento
agente etiológico. Devido à eliminação intermi- útil em levantamentos epidemiológicos para de-
tente de ovos e/ou larvas e à variação da carga terminação da carga de parasitas, além da sim-
da infestação, várias amostras (pelo menos três) plicidade e do baixo custo. Esse método se ba-
coletadas durante o período de 10 dias são mais seia na concentração dos ovos de helmintos pela
sensíveis para detectar parasitas10. Amostras fe- filtração em uma malha que, ao reter os detritos
cais frescas de quantidade aproximadamente de maiores, permite a passagem somente dos de-
uma colher das de chá grande ou cerca de 10 mL tritos menores e dos ovos. A OMS recomenda a
de amostra de fezes líquidas devem chegar ao la- realização desse exame com lâminas duplicadas
boratório idealmente dentro de uma hora após a ao se utilizar esse método13.
coleta11. Além da análise direta das fezes, o diag-
Técnicas FLOTAC e mini-FLOTAC - São méto-
nóstico de algumas helmintíases pode ser rea-
dos de contagem de ovos fecais desenvolvidos
lizado ou inferido por outros exames, tais como
mais recentemente. FLOTAC determina a flutua-
hemograma, sorologia e testes moleculares.
ção da amostra em uma centrífuga, seguida pelo
corte da suspensão flutuante e quantificação de
ovos. A principal vantagem é poder ser usado
Técnicas baseadas em microscopia para a detecção de diferentes helmintos, bem
como protozoários intestinais simultaneamen-
A. Microscopia direta te. Alto custo e necessidade do uso de centrífu-
ga são os principais fatores limitantes para sua
Permite a observação de ovos e larvas de utilização14. O método Mini-FLOTAC, uma forma
helmintos em lâmina de microscópio contendo simplificada do FLOTAC, foi desenvolvido para
esfregaço de amostra das fezes. Nos casos de in- locais com recursos limitados, com a vantagem
festação leve a sensibilidade é baixa. de poder avaliar amostras fecais preservadas15.
A sensibilidade do mini-FLOTAC é comparável à
Métodos de concentração fecal – Quando é
do Kato-Katz, mas inferior à do FLOTAC16.
pequena a quantidade de organismos, as téc-
nicas de concentração fecal podem aumentar
a sensibilidade diagnóstica. O método de Ho- B. Método de Graham (Fita Adesiva)
ffman, Pons e Janer, também conhecido como
É um método específico para pesquisa de
método de Lutz, pela sedimentação espontânea,
ovos de Taenia sp. e Enterobius vermicularis, si-
permite o encontro de ovos e larvas de helmin-
tuação na qual o prurido anal leva à suspeita
tos e de cistos de protozoários. Os métodos de
diagnóstica. A técnica é simples, recolhendo-se
Blagg (também conhecido por método de MIFC),
os ovos que ficam na região anal, perianal e pe-
de Ritchie e Coprotest, pela sedimentação por
rineal pela parte adesiva, aplicando-se a seguir
centrifugação, são usados para a pesquisa de
sobre uma lâmina para visualização por micros-
ovos e larvas de helmintos, cistos e alguns oo-
copia17.
cistos de protozoários. Já o método de Willis,
baseado no princípio de flutuação espontânea,
é mais indicado para a pesquisa de ovos leves, C. Cultura
principalmente de ancilostomídeos. Por sua vez,
A cultura é usada principalmente para recu-
o método de Faust, combina centrifugação e flu-
perar S. stercoralis, que é vivíparo. Ancilostoma
tuação, usado para a pesquisa de cistos e alguns
pode ser artificialmente cultivado em labora-
oocistos de protozoários, permite, também, o en-
tório para produzir larvas rabdiformes. Existem
contro de ovos leves12.
muitos métodos, alguns dos quais são obsoletos,
Contagem de ovos (Método de Kato – Katz) enquanto outros são usados em ambientes de
- Este é o método mais comumente empregado pesquisa: Harada-Mori (cultura em tiras de pa-
para quantificação de ovos de helmintos, muito pel de filtro); técnica de cultura de inclinação em
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papel de filtro usando placa de Petri; cultura em a demora. Além disso, amostras antigas e refrige-
carvão; técnica de cultura de Baermann-Morais e radas não são adequadas18.
de Rugai. As desvantagens das técnicas de cultu- A tabela 2 resume os exames parasitológicos
ra incluem a necessidade de perícia técnica, difi- de fezes mais utilizados na helmintíases e suas
culdade de execução sob condições de campo e principais indicações.
Baermann-Morais
Cultura Larvas (Strongyloides)
e Rugai
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Parasitoses intestinais: diagnóstico e tratamento
tectar múltiplos parasitas de uma só vez. Muitos (60%) e baixa concentração de ferritina (33%)
estudos compararam as sensibilidades dos mé- podem ser vistas em pacientes com infestação
todos moleculares e tradicionais. Para A. lumbri- maciça por ancilóstomo21.
coides, a microscopia teve sensibilidade de 70%
a 88% versus 85% a 100% nos métodos mole- D. Escarro
culares, e de 30% a 88% versus 75% a 100%,
16% a 50% versus 76% a 93% e de 88% ver- Em caso de ascaridíase, ancilostomose ou S.
sus 100% para ancilostomídeos, S. stercoralis e sterocoralis, durante a fase de migração larval da
T. trichiura respectivamente21. infecção, o diagnóstico pode ser feito encontran-
do-se as larvas no escarro ou nas lavagens gástri-
cas. Na ascaridíase, cristais de Charcot-Leyden e
C. Hemograma
eosinófilos podem ser encontrados no escarro22.
A eosinofilia (>600/mm3 ou > 6%) pode ser
usada como marcador de possível infecção por
helmintos. Muitos estudos mostraram correla-
ção entre a presença de eosinofilia e helmintí-
Diagnóstico das infecções
intestinais por protozoários
ase, que é geralmente observada em cerca de
47% dos casos de ascaridíase, 78% dos casos
de tricuríase e 82% dos casos de estrongiloidía- A tabela 3 resume os principais exames la-
se, até 60% dos casos de infecção por ancilósto- boratoriais para diagnóstico das infecções intes-
mo. Além de eosinofilia, hemoglobina de ≤ 5g/dL tinais por protozoários36.
Tabela 3. Exames laboratoriais para o diagnóstico das infecções intestinais por protozoários.
Exame microscópico direto das fezes (60% a 70% do diagnóstico, com duas ou
mais amostras).
Giardia lamblia
Técnicas de ELISA ou imunofluorescência para a detecção de antígenos nas
fezes (90% a 100% de sensibilidade e especificidade); Técnica de PCR.
Blastomycis
Espécimes do parasita nas fezes podem ser vistas por microscopia óptica
hominis
Cyclosporidium
Técnicas de Kinyoun (método Ziehl-Neelsen modificado)
cayetanensis
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Tratamento
Helmintíase
1ª linha dose 2ª linha dose
Ascaridíase Albendazola 400 mg (200 mg em < 2 anos), VO, dose única Ivermectinab,c 150-200 mcg/kg, VO, dose única
Mebendazol 100 mg, VO, 1x/dia por 3 dias Pamoato de pirantel 11 mg/kg (máximo 1g), VO,
1x/dia por 3 dias
Nitazoxanida 7,5 mg/kg/dose (máximo 500mg),
2x/dia por 3 dias
Tricuríase Albendazola 400 mg, VO, 1x/dia por 3-7 dias Ivermectinab,c 200 mcg/kg, VO, por 3 dias
Mebendazol 100 mg, VO, 1x/dia por 3-7 dias Sinergismo com Albendazol relatado na
literatura para essa indicação
Nitazoxanida 7,5 mg/kg/dose (máximo 500mg),
2x/dia por 3 dias
continua...
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Parasitoses intestinais: diagnóstico e tratamento
... continuação
Tratamento
Helmintíase
1ª linha dose 2ª linha dose
Ancilostomíase Albendazol 400 mg, VO, dose única (200 mg em < 2 anos) Pamoato de pirantel 11 mg/kg (máximo 1g), VO, 1x/dia por 3 dias
a
ou Necatoríase
Mebendazol 100 mg, VO, 1x/dia por 3 dias Nitazoxanida 7,5 mg/kg/dose (máximo 500mg),
2x/dia por 3 dias
Estrongiloidíase Ivermectinab,c 200 mcg/kg, VO, por 2 dias Albendazola 400 mg, VO, 2x/dia, 10-14 dias
Na hiperinfecção por Strongyloides, Na hiperinfecção por Strongyloides associar
prolongar para 7-14 dias após a depuração Ivermectinab,c
do parasita ou repetições podem ser
necessárias Tiabendazol 25mg/kg, VO, 2x/dia por 3 dias
Nitazoxanida 7,5 mg/kg/dose (máximo 500mg),
2x/dia por 3 dias
Enterobíased Albendazola 400 mg, VO, dose única; Pamoato de pirantel 11 mg/kg (máximo 1g), VO,
repetir em 2 semanas 1x/dia por 3 dias
Mebendazol 100 mg, VO, dose única; Nitazoxanida 7,5 mg/kg/dose (máximo 500mg),
repetir em 2 semanas 2x/dia por 3 dias
Toxocaríase Albendazola 400 mg, VO, 2x/dia, 5 dias – –
Toxocaríase ocular: 400-800 mg – –
2x/dia por 28 dias; pode ser
necessário associar corticoide
Cisticercose Albendazola 15mg/kg/dia ou 400mg 2x/dia, VO, Praziquantel 50mg/kg/dia, VO, 1x/dia, 15 dias
2x/dia, 2-4 semanas, associado com
corticosteroide administrado antes, durante
e após o tratamento para diminuir os riscos
de convulsão. Excluir cisticercose ocular
antes de iniciar a terapia sistêmica
Triquinose Albendazola 400 mg VO, 2x/dia, 8-14 dias Mebendazol 200 a 400 mg VO, 3x/dia, 3 dias;
depois 400 a 500 mg, VO, 3x/dia, 10 dias
Teníase Praziquantel 5-10 mg, VO, dose única Niclosamida 50mg/kg, VO, dose única
Após o tratamento, as fezes devem ser
Nitazoxanida 7,5 mg/kg/dose (máximo 500mg),
coletadas por 3 dias para procurar proglotes
2x/dia por 3 dias
de tênia para identificação das espécies.
As fezes devem ser reexaminadas para
os ovos de Taenia 1 e 3 meses após o
tratamento para controle de cura
Himenolepíase Praziquantel 25mg/kg/dia, VO, dose única Niclosamida 11-34 kg: 1 g, VO, seguido por 500 mg/dia,
6 dias;
> 34 kg: 1,5 g, VO, seguido por 1 g/dia, 6 dias.
Nitazoxanida 7,5 mg/kg/dose (máximo 500mg),
2x/dia por 3 dias
Equinococose Albendazola 10-15 mg/kg/dia (máximo 800 mg) VO, Praziquantel pode ser útil no pré-operatório ou em caso
(Hidatidose) 2x/dia, 1-6 meses. Cirurgia pode ser de derrame do conteúdo do cisto durante a
necessária. cirurgia
a Ingerir com alimento; b Segurança não estabelecida em < 15kg e na gestação; c deve ser tomado com o estômago vazio com água; Reinfecções são
comuns, sendo necessário indicar tratamento para todos os indivíduos da mesma residência acima de 6 meses de idade. A infecção dos dedos e de ob-
jetos contaminados é fácil e os pacientes devem ser aconselhados a limpar bem sob as unhas evitar se coçarem. Roupas pessoais e de cama devem ser
lavadas em água quente ou passadas com ferro quente para matar os ovos; VO = via oral
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midos por doenças crônicas debilitantes, como nhecida ou suspeita, relatos de casos publicados
desnutrição, neoplasias, doença inflamatórias demonstraram eficácia com a administração por
intestinais, doenças autoimunes, nefropatias, via retal. Se as administrações orais e/ou retais
alcoolismo, os vermes infectam todo o intestino não forem possíveis, o uso da formulação subcu-
e a autoinfecção interna ocorre maciçamente. tânea veterinária de Ivermectina já foi concedida
As larvas filarioides migram para o fígado, pul- pelo FDA como isenção de Medicamentos Novos
mões e inúmeras outras vísceras e glândulas, ge- Investigatórios28.
ralmente originando bacteremia, pois carregam
consigo as enterobactérias intestinais. Assim se
desenvolve a estrongiloidíase disseminada, gra- 4. Trichiuríase ou Tricocefalíase
ve e de alta mortalidade. Associa sintomas intes- (Trichuris trichiura)
tinais, respiratórios e de sepse ou meningite por Epidemiologia: 700 milhões de portadores
coliformes. Alguns infectados não conseguem no mundo, na grande maioria crianças.
eliminar o parasita espontaneamente, por força
de seu próprio sistema imune. Permanecem por- Morfologia: medem entre 3 e 5 cm de com-
tadores crônicos, graças à autoinfecção interna. primento e as fêmeas são um pouco maiores que
os machos. A extremidade anterior é mais fina do
Diagnóstico: o padrão ouro é o exame pa- que a posterior.
rasitológico de fezes seriado, até sete amostras
para atingir sensibilidade de 100%; exame de Local da infestação: intestino grosso, espe-
detecção de larvas; cultura de larvas. O aspirado cialmente o ceco.
duodenal é mais sensível que o exame de fezes,
Ciclo biológico: os ovos são eliminados
e a biópsia duodenal pode revelar parasitas nas
com as fezes e demoram de 13 a 20 dias para
criptas gástricas, nas glândulas duodenais ou in-
se tornar infectantes. O homem ingere os ovos,
filtração eosinofílica na lâmina própria. Frequen-
que sofrem ação de sucos digestivos e libertam
temente, as larvas podem ser vistas por meio de
as larvas. Estas sofrem várias mudas e somente
um suporte simples em líquido a partir de uma
90 dias após a contaminação tornam-se vermes
lavagem bronco-alveolar28.
adultos e iniciam a oviposição.
Tratamento: A terapia de primeira escolha é
Patogenia e manifestações clínicas: o verme
a Ivermectina, em dose única, 200 mcg/kg por
adulto introduz a extremidade anterior na muco-
via oral por 1-2 dias. A alternativa terapêutica
sa intestinal para se fixar. Diariamente muda de
é o Albendazol, 400 mg por via oral duas vezes
lugar e assim provoca erosões e ulcerações múl-
ao dia por 7 dias. Para pacientes com exame de
tiplas. Cada verme ingere até 0,005ml de sangue
fezes positivo para Strongyloides e sintomas per-
por dia. A intensidade do quadro clínico varia
sistentes, exames de acompanhamento devem
de acordo com a carga parasitária. Geralmente é
ser realizados 2 a 4 semanas após o tratamento
assintomática ou de manifestações leves, quan-
para confirmar a eliminação da infecção. Se o re-
do a criança possui poucos vermes no ceco. No
crudescimento das larvas for observado, o retra-
entanto, em crianças desnutridas, especialmen-
tamento é indicado28.
te pré-escolares, que vivem em comunidades
Na síndrome de hiperinfecção/estrongiloidí- aglomeradas e com ausência total de saneamen-
ase disseminada, se possível, a terapia imunos- to básico, pode se instalar a trichiuríase maciça.
supressora deve ser interrompida ou reduzida, O intestino grosso inteiro, do ceco ao reto, pode
indicando-se Ivermectina, 200 mcg/kg por dia, estar infectado com vermes em número de 2 a
por via oral por duas semanas, até exames de 5 mil. Em quase todos os casos ocorre distensão
fezes e/ou expectoração negativos. Para os pa- abdominal e cólicas, vômitos, disenteria crôni-
cientes incapazes de tolerar a terapia oral, como ca com fezes mucossanguinolentas, tenesmo,
aqueles com íleo, obstrução ou má absorção co- anemia hipocrômica e microcítica e desnutrição
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proteico-energética. Prolapso retal ocorre em al- pior à noite, pela presença das fêmeas no local.
guns pacientes. Pode causar apendicite aguda. A criança pode ficar em desespero e apresentar
Há boa recuperação de peso e estatura nas crian- insônia, tal o sofrimento induzido pelo prurido.
ças com trichiuríase maciça após o tratamento Ocorre processo inflamatório na região anal. Nas
específico. meninas o verme pode migrar para a região ge-
nital e pode ser encontrado na vulva, uretra, va-
Diagnóstico: Exame parasitológico de fezes
gina e até na cavidade peritoneal. Causa intenso
(método de concentração; método de quantifica-
prurido vulvar, corrimento, estimulação erótica e
ção). O exame da mucosa retal por proctoscopia
até complicações anexiais.
ou colonoscopia (ou diretamente no caso de pro-
lapsos) revelam vermes adultos na trichiuríase Diagnóstico: A confirmação diagnóstica da
maciça35. oxiuríase pode ser feita a partir de três técnicas
simples: 1) procurar os vermes na região peria-
Tratamento: ver a tabela de tratamento das
nal duas a três horas após o indivíduo infectado
helmintíases intestinais. Na trichiuríase maciça o
estar dormindo; 2) tocar a pele perianal com fita
tratamento precisa ser realizado três vezes, com
adesiva transparente para coletar possíveis ovos
intervalos de 15 dias.
de E. vermicularis ao redor do ânus na primeira
hora da manhã, para observação em microsco-
5. Enterobíase ou Oxiuríase (Enterobius pia direta. O método da fita deve ser conduzido
vermicularis ou Oxyurus vermicularis) em três manhãs consecutivas logo após a pessoa
infectada acordar e antes de fazer qualquer hi-
Epidemiologia: ocorre no mundo todo e nos giene; 3) devido ao prurido anal pode-se analisar
países desenvolvidos é a helmintíase de maior amostras obtidas sob as unhas por microscopia.
prevalência. Os ovos e os vermes são muitas vezes escassos
Morfologia: o macho tem menos de 5 mm de nas fezes, e assim o exame de amostras de fezes
comprimento e a fêmea perto de 10 mm. poucas vezes resulta positivo28.
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bovino doméstico para o embrião da T. sagina- vômitos, dor abdominal (“dor de fome”), perda
ta. Na fase adulta, as tênias habitam o intestino de peso, diarreia e/ou constipação, urticária, eo-
delgado do homem, onde podem viver por 3 a sinofilia moderada ou intensa. Há inflamação no
25 anos. A maior prevalência ocorre em adultos local de fixação do verme, no duodeno ou jejuno.
jovens e nas regiões rurais da América Latina, É raro, mas pode ocorrer sub-oclusão intestinal,
África e Ásia. Os hábitos culturais de consumo apendicite, colangite ou pancreatite. Todas es-
de carnes cruas ou malcozidas nestas comunida- tas manifestações são quase que exclusivas da
des, além do destino inadequado das fezes hu- teníase por T. saginata. O grande problema da
manas, favorecem sua disseminação. As teníases T. solium é quando o homem se torna o hospe-
são subdiagnosticadas e em geral as notificações deiro intermediário. Isto ocorre pela ingestão
não são espécie-específicas. A OMS estimou a dos ovos do meio externo ou pela autoinfesta-
existência de 70 milhões de pessoas contamina- ção, na qual as proglotes refluem ao estômago e
das, com 50 mil mortes anuais, geralmente pe- liberam os ovos e estes liberam o embrião, ocor-
las complicações da neurocisticercose induzida rendo então a migração por via circulatória até
pela T. solium. Inspeções veterinárias em aba- os tecidos. Assim é gerada a neurocisticercose e
tedouros na América Latina estimam a presença suas complicações.
de cisticercose em menos de 1% dos suínos e
Diagnóstico: A identificação de ovos e pro-
aproximadamente 5% dos bovinos. Isto induz a
glótides nas fezes por microscopia é diagnóstica
uma substancial perda econômica anual para a
para a teníase. Exames repetidos e técnicas de
pecuária na América Latina.
concentração aumentarão a probabilidade de
Morfologia e ciclo biológico: As tênias são detectar infecções leves. O exame de três amos-
achatadas dorsoventralmente e chegam ao com- tras de fezes coletadas em dias diferentes é re-
primento de 3 a 10 metros, sendo a T. saginata comendado para aumentar a sensibilidade dos
mais longa que a T. solium. O escólex possui ven- métodos microscópicos. Ovos de Taenia spp. não
tosas, e com estas o verme se fixa à mucosa do podem ser diferenciados; uma determinação de
duodeno ou jejuno. A tênia é hermafrodita e em espécie pode ser possível se proglótides madu-
geral vive solitária no intestino do homem. Os ros e gravídicos (ou, mais raramente, exame do
anéis ou proglotes distais são maduros e abar- escólex) estiverem presentes.
rotados com 30 a 80 mil ovos. Então eles se des- Coproantígeno e ensaios moleculares nas fe-
prendem e sua eliminação é passiva, com as fe- zes, além de métodos sorológicos, estão em de-
zes, no caso da T. solium ou forçando ativamente senvolvimento e no futuro serão mais sensíveis
a passagem anal, no caso da T. saginata. Os ovos que o exame de fezes. Os contatos domiciliares
contaminam as pastagens e após serem ingeri- dos casos de neurocisticercose devem ser ava-
dos pelos animais hospedeiros intermediários liados quanto à teníase para reduzir o risco de
os embriões migram até o tecido conjuntivo dos também desenvolverem cisticercose28.
músculos, onde formam os cisticercos, com 2 a
5 mm de diâmetro (canjiquinhas). A carne in- Tratamento: O praziquantel é o medicamen-
gerida pelo homem determina a contaminação. to mais usado para tratar a teníase ativa, admi-
Os sucos digestivos fazem o cisticerco liberar o nistrado na dose de 5-10 mg/kg por via oral em
escólex, que irá se fixar à mucosa e iniciar seu dose única. Se o doente tiver cisticercose, além
desenvolvimento. Demora mais de 3 meses para de teníase, o praziquantel deve ser utilizado com
ter início a eliminação das proglotes maduras. precaução. O praziquantel é cisticida e pode cau-
sar inflamação ao redor dos cistos em morte nos
Patogenia e manifestações clínicas: a teníase pacientes com cisticercose, o que pode levar a
é muitas vezes assintomática. Porém, vários tipos convulsões ou outros sintomas. A niclosamida
de sintomas são a ela atribuídos: fadiga, irrita- é uma alternativa, administrada em dose única
ção, cefaleia, tontura, bulimia, anorexia, náuseas, 50mg/kg (máximo 2g) por via oral. Após o trata-
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Parasitoses intestinais: diagnóstico e tratamento
mento, as fezes devem ser coletadas por 3 dias podos (pulgas, besouros, borboletas, baratas),
para procurar proglotes de tênia para identifica- que são os hospedeiros intermediários e pos-
ção das espécies. As fezes devem ser reexamina- suem as larvas cisticercoides no seu interior. O
das para os ovos de tênia um e três meses após verme mede 10 a 60 cm. O rato é o hospedeiro
o tratamento para garantir que a infecção foi re- definitivo habitual.
solvida28.
Diagnóstico: microscopia direta
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e invasiva, capaz de causar diversas síndromes camadas mais profundas da parede do có-
clínicas graves, é responsável por milhares de lon, principalmente no hemi-cólon direito,
mortes anuais. Das mortes causadas por proto- ocorrendo úlceras profundas, isquemia, he-
zoários, só é superada pela malária; 2) E. dispar, morragia, megacólon tóxico, colite fulmi-
patógeno de baixa virulência e não invasivo, nante e às vezes perfuração. A mortalidade
responsável por 90% dos casos de amebíase no do quadro necrosante é elevada. Sua ocor-
mundo, especialmente as formas assintomáticas rência parece depender de debilidades
e a colite não disentérica. A primeira é a forma imunológicas e uso de imunossupressores.
predominante na Região Norte do Brasil e a se- O quadro é fulminante, com febre alta, fá-
gunda na Região Nordeste. cies toxêmica, sinais de choque hipovolê-
mico, sinais de peritonite, diarreia profusa
Ciclo biológico: a contaminação se dá pela
sanguinolenta e com odor de ovo podre,
ingestão de cistos maduros presentes em ali-
mais de 20.000 leucócitos no hemograma
mentos ou água contaminada. O desencistamen-
e distúrbios metabólicos; 4) ameboma: é
to ocorre pouco antes de alcançar o intestino
a formação de granuloma na mucosa no
grosso. Os cistos se multiplicam até se trans-
ceco, cólon ascendente ou anorretal, com
formar em trofozoítos. Por terem metabolismo
edema e estreitamento do lúmen. As mani-
anaeróbico são adaptados para viver nos cólons,
festações alternam momentos de diarréia
onde se alimentam de detritos e bactérias. Em
e constipação intestinal.
condições adversas, sofrem encistamento e são
c) Amebíase extra-intestinal: ocorre mais nos
eliminados com as fezes, contaminando o meio
adultos. Os trofozoítos de E. histolytica po-
ambiente. Quando o equilíbrio parasito-hospe-
dem migrar através da veia mesentérica
deiro é rompido, os trofozoítos invadem a muco-
superior e chegar ao fígado, promovendo
sa dos cólons e formam úlceras. Pela circulação
inflamação difusa, degeneração celular e
porta podem invadir outros órgãos, como fígado,
necrose. Assim se forma o abscesso hepá-
pulmão, pele e cérebro. Na intimidade dos teci-
tico amebiano, em geral no lobo direito. O
dos invadidos os trofozoítos são hematófagos.
paciente apresenta febre alta, dor intensa
Manifestações clínicas: são diversas formas no hipocôndrio direito com irradiações tí-
clínicas: picas de cólica biliar e hepatomegalia mui-
a) Amebíase assintomática: a grande maioria to dolorosa à palpação. Em geral não há ic-
dos portadores de amebíase terícia. Esta doença grave pode complicar
com infecção bacteriana secundária, rup-
b) Amebíase intestinal: 1) colite não disenté-
tura para a cavidade abdominal, com ele-
rica: cólicas abdominais, períodos de diar-
vada mortalidade, ruptura para o pulmão
reia com fezes líquidas ou semi-líquidas,
e pleura ou pericárdio. A disseminação he-
raramente com muco ou sangue, interca-
matogênica do trofozoíto pode determinar
lados com períodos de acalmia; 2) colite
localização da inflamação ou abscessos no
disentérica (disenteria amebiana): após
pulmão, pericárdio, pele, aparelho genitu-
período de incubação em média de um
rinário e cérebro.
mês, inicia-se febre moderada, distensão
abdominal, flatulência, cólicas abdominais Diagnóstico: o diagnóstico definitivo da in-
difusas ou na fossa ilíaca direita, disenteria fecção do trato intestinal depende da identifi-
com mais de 10 evacuações mucossangui- cação de trofozoítas ou cistos nas amostras de
nolentas por dia, tenesmo. Há inflamação e fezes. Pode ser feito o exame microscópico di-
úlceras na mucosa colônica. Podem ocorrer reto de fezes colhidas até 30 minutos ou com
distúrbios hidroeletrolíticos e desnutrição fixação em formol ou álcool polivinílico (dispo-
proteico-energética; 3) colite necrosante: nível em kits) para coloração permanente e sub-
a invasão do protozoário se estende para sequente exame microscópico. Não diferencia a
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Parasitoses intestinais: diagnóstico e tratamento
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O diagnóstico da infecção pode ser feito atra- Manifestações clínicas: a maioria das crian-
vés do exame histológico das lesões, por biópsia, ças infectadas com Giardia não manifesta qual-
via sigmoidoscopia ou colonoscopia ou parasito- quer sintoma. Na dependência de se tratar de
lógico das fezes. criança desnutrida, fisicamente debilitada por
doenças primárias, ou exposta a contaminação
Tratamento: a droga de escolha é a tetracicli-
ambiental intensa, então os sintomas aparecem.
na para crianças maiores de oito anos. As drogas
Há indícios de que a giardíase sintomática é mais
alternativas são metronidazol, iodoquinol e nita-
provável de ocorrer na primeira infecção por este
zoxanida.
protozoário, sendo assintomáticas as recidivas
posteriores. O segundo ano de vida parece ser
3. Giardíase o mais vulnerável para as formas graves da giar-
(Giardia duodenalis, Giardia lamblia) díase. O quadro clínico pode variar desde uma
diarreia aguda, com fezes líquidas, autolimitada,
Epidemiologia: protozoário flagelado, en- até um quadro arrastado por semanas ou meses
contrado principalmente em pré-escolares e es- e de intensidade variável. A criança pode mani-
colares e de distribuição cosmopolita. Parece ser festar apenas sintomas dispépticos gerais, como
o parasita intestinal mais prevalente no mundo náuseas, vômitos, distensão abdominal alta, dor
(4% a 8%), mesmo em famílias com renda fami- abdominal difusa ou epigástrica, flatulência e
liar média ou alta. Água não potável é uma das anorexia, ou pode manifestar uma síndrome de
maiores fontes de transmissão. Dissemina-se fa- má absorção muito semelhante à doença celíaca,
cilmente entre crianças de creche ou de abrigo. que inclui diarreia crônica esteatorreica ou cons-
Estima-se em 200 milhões os portadores de giar- tipação, perda de peso, parada de crescimento,
díase sintomática em todo o mundo. desnutrição proteico-energética, má absorção
secundária de lactose, enteropatia perdedora de
Ciclo biológico e Patogenia: a localização
proteínas, edema, hipoproteinemía, deficiência
preferida é o duodeno e jejuno. Os cistos pre-
de ferro, zinco, vitamina B12, ácido fólico, vita-
sentes no meio externo são ingeridos pela água
minas A e E.
ou alimentos contaminados. Transformam-se em
trofozoítos no duodeno, onde se multiplicam ra- Diagnóstico: os testes imunoenzimáticos
pidamente e se fixam à mucosa pelo disco suc- específicos (ELISA) e de imunofluorescência di-
torial. Em ocasiões imprevisíveis, os trofozoítos reta (IFD) nas fezes são os testes atualmente
se transformam em cistos e são eliminados com usados para o diagnóstico de giardíase. Esses
as fezes. A patogenia da giardíase inclui diversos testes baseados em antígeno têm substituído o
efeitos adversos induzidos por este protozoário, exame microscópico (MO) direto de ovos e pa-
nem todos comprovados: 1) atapetamento da rasitas como diagnóstico de primeira linha para
mucosa duodenal com formação de barreira me- giardíase. O ELISA tem uma sensibilidade de até
cânica; 2) atrofia vilositária de variados graus no 95% e especificidade de 98% a 100% com uma
intestino delgado, associada a infiltrado inflama- a duas amostras de fezes, melhor do que exame
tório e hipertrofia de criptas; 3) lesão nas estru- MO com três amostras.
turas do enterócito, vista em microscopia óptica
Também de ótimo desempenho são os testes
e eletrônica; 4) invasão da mucosa (fenômeno
moleculares de amplificação de antígeno ou áci-
raramente visto); 5) sobrecrescimento bacteria-
dos nucleicos (reação em cadeia da polimerase-
no no intestino delgado; 6) desconjugação de
-PCR) nas fezes.
ácidos biliares; 7) diminuição da atividade das
dissacaridases. Como consequência destes me- Tradicionalmente, o diagnóstico na prática
canismos a criança desenvolve má absorção de tem sido baseado na identificação microscópica
açúcares, gorduras, vitaminas A, D, E, K, B12, áci- de trofozoítos ou cistos em amostras de fezes.
do fólico e ferro, entre outros nutrientes. No entanto, a sensibilidade é baixa se a amos-
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Parasitoses intestinais: diagnóstico e tratamento
tra contiver um pequeno número de parasitos. fratária para esses pacientes, maior duração do
Quando a giardíase é suspeita, mas o organismo tratamento ou combinação de terapia antipara-
não é encontrado em exames repetidos de fezes, sitária, por exemplo, metronidazol mais uma das
a análise de conteúdos duodenais obtidos por seguintes: paromomicina ou albendazol pode
aspiração direta pode ser diagnóstica. Eventual- ser necessária.
mente o diagnóstico é feito por biópsia duode-
O tratamento de portadores assintomáticos
nal ou intestinal em pacientes com sintomas clí-
não é recomendado, a não ser em domicílio de
nicos característicos que apresentam resultados
paciente com hipogamaglobulinemia, fibrose
negativos de fezes. Giardíase não está associada
cística ou outras imunodeficiências.
à eosinofilia.
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Como a eliminação pode ser intermitente pelo Os oocistos podem ser eliminados em baixo
menos 3 amostras de fezes devem ser analisadas número, mesmo com diarreia abundante, necessi-
antes de considerar os resultados negativos. tando a investigação em pelo menos três amostras
de fezes. São necessários métodos mais sensíveis
Tratamento: a terapia específica geralmente
e métodos que destaquem os oocistos (microsco-
não está indicada para as pessoas imunocompe-
pia de fluorescência ultravioleta). Tem-se utiliza-
tentes. O tratamento indicado é com a nitazoxa-
do as técnicas de Kinyoun (método Ziehl-Neelsen
nida durante 3 a 14 dias na diarreia associada à
modificado) e Auramina-Rodamina, corando-se
criptosporidiose em pacientes com um ano ou
em vermelho intenso o esporoblasto da Isospo-
mais. Cursos de nitazoxanida por períodos maio-
ra belli. O laboratório deve ser notificado que há
res que 14 dias estão recomendados em pacien-
suspeita clínica de parasita coccídio, para que se-
tes receptores de transplantes de órgãos sóli-
jam utilizados métodos específicos, além do exa-
dos para o tratamento da diarreia causada por
me tradicional de ovos e parasitas.
Cryptosporidium, apesar da baixa eficácia.
Tratamento: Sulfametoxazol-trimetoprim, por
Em pacientes infectados pelo HIV, a melhora
7 a 10 dias, tem sido a droga de escolha. A pirime-
na contagem de linfócitos T CD4+ associada à te-
tamina pode ser uma opção para pacientes com
rapia antirretroviral pode levar à resolução dos
intolerância ao sulfametoxazol-trimetoprim. A
sintomas e à cessação da eliminação dos oocistos.
nitazoxanida tem sido estudada, mas com resul-
Assim, a administração da terapia antirretroviral
tados limitados.
combinada é o principal tratamento para a crip-
tosporidiose em pacientes com infecção pelo HIV. Os pacientes imunocomprometidos podem
precisar de doses mais altas e tratamentos mais
prolongados. Em crianças e adolescentes coin-
5. Isosporíase (Isospora belli) fectados com HIV a terapia de manutenção de-
Protozoário da classe dos esporozoários e pende da situação imunológica (contagem de
subclasse dos coccídeos. No Haiti a prevalência linfócitos CD4/CD8).
é de 15%, enquanto que na população brasileira
é menor que 1%. Entre portadores de AIDS é de
6. Blastomicose (Blastocystis hominis)
2%, chegando a 7% entre os doentes de AIDS
com diarreia. Estes protozoários são adquiridos Microrganismo comensal, é talvez o proto-
pela ingestão de oocistos através da água e ali- zoário mais presente nas fezes humanas. Even-
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Parasitoses intestinais: diagnóstico e tratamento
tualmente em pessoas imunodeprimidas, espe- do. Passou a ser diagnosticado a partir do apa-
cialmente com AIDS, pode causar infecção tanto recimento da AIDS. É mais um enteropatógeno
no intestino delgado quanto no intestino grosso. predominante em indivíduos imunodeficientes.
As manifestações clínicas envolvem desde sinto- Ocasiona processo inflamatório e atrofia vilosi-
mas gastrointestinais inespecíficos até um qua- tária no intestino delgado. Os sintomas de diar-
dro de diarreia aguda e eventualmente crônica. reia e má absorção intestinal podem ser graves
nos portadores da AIDS e, por outro lado, leves
Diagnóstico: espécimes do parasita nas fezes
e autolimitados ou ausentes em pessoas imuno-
podem ser vistas por MO. O estágio do trofozoita
competentes.
é muito difícil de identificar e raramente é visto.
Diagnóstico: o diagnóstico é feito pela
Tratamento: as indicações para tratamento
identificação microscópica de oocistos (8 a 10
não estão estabelecidas. Alguns especialistas
μm) nas fezes, fluídos/aspirados intestinais, ou
recomendam o tratamento para pacientes que
biopsias. O diâmetro do oocisto é o dobro do
apresentam sintomas persistentes. As drogas in-
Criptosporidium. Tem-se utilizado as técnicas
dicadas são a nitazoxanida e o metronidazol. O
de Kinyoun (método Ziehl-Neelsen modificado)
tinidazol pode ser uma opção nos pacientes com
onde os oocistos tingem-se de vermelho pálido
intolerância ao metronidazol.
ou róseo.
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Triênio 2019/2021
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