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Nº 7, Novembro de 2020

Guia Prático de Atualização


Departamentos Científicos de
G a s t r o e n t e r o l o g i a e I n f e c t o l o g i a (2019-2021)

Parasitoses intestinais:
diagnóstico e tratamento

Departamento Científico de Gastroenterologia


Presidente: Cristina Helena Targa Ferreira
Secretária: Marise Helena Cardoso Tófoli
Conselho Científico: Elisa de Carvalho, Maria do Carmo Barros de Melo, Mauro Batista de Morais,
Matias Epifânio, Roberta Paranhos Fragoso, Rose Terezinha Marcelino,
Silvio da Rocha Carvalho

Departamento Científico de Infectologia


Presidente: Marco Aurélio Palazzi Sáfadi
Secretária: Cristina de Oliveira Rodrigues
Conselho Científico: Analíria Morais Pimentel, Aroldo Prohmann de Carvalho,
Eitan Naaman Berezin, Euzanete Maria Coser, Maria Angela Wanderley Rocha,
Silvia Regina Marques
Relatores: Ana Daniela Sadovsky, Aristides Schier da Cruz, Christiane Leite,
Silvia Regina Marques, Robério Dias

Este documento científico oferece ao leitor A. Helmintos


uma atualização sobre diagnóstico e tratamento Nematelmintos:
das parasitoses intestinais (helmintos e proto- – Ascaris lumbricoides (ascaridíse)
zoários). Inicia com descrição da epidemiologia – Ancilostoma duodenale ou Necator americanus
e atuais estratégias de intervenção coletiva e (ancilostomíase)
comunitária. Em seguida descreve os métodos – Strongyloides stercoralis (estrongiloidíase)
diagnósticos das parasitoses e os medicamen- – Enterobius vermiculares (enterobíase ou oxiuríse)
tos de primeira e segunda escolhas. Diante do – Trichuris trichiura (trichiuríase ou tricocefalíase)
interesse a respeito do diagnóstico ou tratamen- Platelmintos:
to de determinada parasitose, recomenda-se a – Taenia saginata e Taenia solium (teníase)
leitura da parte final, que apresenta a descrição – Hymenolepis nana (himenolepíase)
das parasitoses e enfatiza situações específicas, – Diphylobothrium latum (difilobotríase)
tais como complicações graves da ascaridíase,
estrongiloidíase disseminada em pacientes imu- B. Protozoários:
nodeprimidos, formas sintomáticas de protozoá- – Entamoeba histolytica e Entamoeba dispar (ame-
rios comuns e oportunistas, entre outros1-5. bíase)

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Parasitoses intestinais: diagnóstico e tratamento

– Balantidium coli (balantidíase) das no segundo e terceiro trimestres e mulheres


– Giardia lamblia (giardíase) que amamentam], adultos em certas ocupações
– Isospora belli (isosporíase) de alto risco, como apanhadores de chá ou mi-
– Cryptosporidium sp. (criptosporidiose) neiros) vivendo em áreas de risco, apoiadas com
– Blastocystis hominis (blastocistose) estratégias para melhorar o saneamento básico
– Cyclospora cayetanensis (ciclosporose) e a educação para saúde. A estratégia de trata-
mento comunitário requer o levantamento da
prevalência e intensidade da infecção na comu-
nidade para determinar a carga parasitária da
Epidemiologia no mundo e no Brasil população e o planejamento (Tabela 3). A OMS
não recomenda o rastreamento individual, já que
As helmintíases transmitidas pelo solo (HTS) o custo deste é de quatro a dez vezes maior do
são de grande preocupação na saúde pública que o tratamento em si. Recomenda que haja
mundial. São causadas por um grupo de parasi- tratamento comunitário empírico anual somente
tas intestinais compreendendo Ascaris lumbri- em áreas onde a prevalência de HTS esteja entre
coides, Trichuris trichiura, Necator americanus e 20% e 50% da população, e tratamento duas ve-
Ancylostoma duodenale, transmitidos por conta- zes por ano em áreas com mais de 50%6,7.
minação fecal do solo.
Os medicamentos recomendados pela OMS -
As infecções por HTS são mais prevalentes albendazol (400 mg – dose única) e mebendazol
nas áreas tropicais e subtropicais, com os maio- (500 mg – dose única) - são eficazes, baratos e
res números ocorrendo na África subsaariana, nas fáceis de administrar). Estes medicamentos pas-
Américas, na China e no leste da Ásia, diretamen- saram por extensos testes de segurança e foram
te ligadas à falta de saneamento e baixas condi- usados em milhões de pessoas com poucos e pe-
ções socioeconômicas, vinculadas à pobreza6. quenos efeitos colaterais. Recomenda-se a dis-
ponibilização aos ministérios da saúde nacionais
As últimas estimativas mundiais indicam que
em todos os países endêmicos o tratamento com
mais de 1,5 bilhão de pessoas, ou 24% da popu-
estas doses para todas as crianças pré-escolares
lação mundial, sendo cerca de 880 milhões de
com idade entre 24 e 60 meses e crianças em
crianças precisam de tratamento e intervenções
idade escolar. Meia dose de albendazol (isso é,
preventivas para estes parasitas6,7.
200 mg) é recomendada para crianças com 12 a
No Brasil há uma tendência para o declínio 24 meses de idade.
na prevalência de HTS, com número atual de
A quimioterapia preventiva (desverminação),
9,3 milhões de pré-escolares e escolares que se-
usando uma dose de albendazol (400 mg) ou
riam candidatas a receberem quimioterapia pro-
mebendazol (500 mg) é recomendada como in-
filática. Estes números significariam quase 11%
tervenção de saúde pública para gestantes, após
da população (tabela 1)6-8
o primeiro trimestre de gestação, que habitem
áreas onde: (i) a linha de base da prevalência de
infecções por ancilostomídeos e/ou T. trichiura
Recomendações de estratégias seja 20% ou superior para mulheres gestantes,
coletivas de combate e tratamento e (ii) a anemia seja um problema grave de saúde
pública, com prevalência de 40% ou mais entre
as mulheres gestantes, para reduzir a carga de
A Organização Mundial da Saúde (OMS) pro- infecção por ancilostomídeos e T. trichiura.
põe intervenções de controle baseadas na admi-
nistração periódica de anti-helmínticos em gru- O Brasil, a partir de 2016, saiu da situação
pos de pessoas (pré-escolar, escolar, mulheres endêmica de HTS, não necessitando mais de ad-
em idade reprodutiva [incluindo mulheres grávi- ministração em massa de medicações anti-hel-

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mínticas. Atualmente, nosso país se encontra em permaneçam abaixo dos limiares de eliminação
vigilância para garantir que os níveis de infecção comunitária (tabela 1)6-9.

Tabela 1. Quimioterapia preventiva para comunidade por categoria de risco

Classificação da região Prevalência Frequência recomendada


quanto ao risco de helmintíases para terapia em massa

Alto risco ≥ 50% 2 X por ano

Risco moderado ≥ 20% e <50% 1 X por ano

Baixo risco < 20% Individualizada

Medidas de precaução e de controle Além das precauções padrão, recomenda-se


as de contato para as crianças com fraldas ou
incontinentes durante o período da doença ou
É importante analisar os aspectos coletivos
para controlar surtos institucionais. Na desin-
e individuais. As boas condições sanitárias (edu-
fecção do ambiente, o peróxido de hidrogênio é
cação da comunidade; controle e vigilância dos
preferível ao cloro para limpeza ambiental.
alimentos, lixo e esgoto; oferta de água tratada)
e de moradia, assim como a boa saúde da popu- Para evitar alguns helmintos é importante
lação contribuem para a profilaxia geral. não consumir carne crua ou defumadas e verifi-
car a procedência destes alimentos. Além disso,
Para protozoários a disseminação da infec-
evitar o contato íntimo com terra contaminada
ção poderá ser controlada pela higienização das
com fezes humanas ou de animais.
mãos após a defecação e o manuseio de alimen-
tos, lavagem de frutas e vegetais antes do con- No caso da amebíase, a transmissão sexual
sumo, saneamento básico e tratamento da água pode ser evitada pelo uso de preservativos e evi-
potável. tar práticas sexuais que podem permitir a trans-
missão fecal-oral.
Nas creches, devem ser enfatizados o sa-
neamento adequado e os cuidados pessoais. A Em pessoas imunocompetentes, a excreção
higienização das mãos com água e sabão pela de oocistos geralmente cessa dentro de duas se-
equipe e pelas crianças deve ser enfatizada, es- manas após a resolução completa dos sintomas.
pecialmente no uso do banheiro ou no manuseio
de fraldas sujas, ação preventiva fundamental
para a disseminação da giardíase. Quando há
Diagnóstico das helmintíases
suspeita de um surto, o serviço de vigilância epi-
demiológica deve ser contatado e a investigação
deve ser realizada para tratar todas as crianças Habitualmente, as helmintíases são diag-
com sintomas, cuidadores de crianças e familia- nosticadas pelo exame de amostras fecais ou de
res infectados com Giardia. Crianças infectadas outras amostras com presença de ovos, larvas
devem ser excluídas da creche até que as fezes ou, às vezes, vermes adultos ou seus segmentos.
fiquem na fralda ou na criança continente, que O exame macroscópico das fezes quanto à sua
a frequência das evacuações não seja supe- cor, consistência, a visualização da presença de
rior a duas vezes da frequência normal daquela qualquer verme ou seus segmentos, ou de san-
criança. gue ou de muco podem dar uma pista sobre o

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Parasitoses intestinais: diagnóstico e tratamento

agente etiológico. Devido à eliminação intermi- útil em levantamentos epidemiológicos para de-
tente de ovos e/ou larvas e à variação da carga terminação da carga de parasitas, além da sim-
da infestação, várias amostras (pelo menos três) plicidade e do baixo custo. Esse método se ba-
coletadas durante o período de 10 dias são mais seia na concentração dos ovos de helmintos pela
sensíveis para detectar parasitas10. Amostras fe- filtração em uma malha que, ao reter os detritos
cais frescas de quantidade aproximadamente de maiores, permite a passagem somente dos de-
uma colher das de chá grande ou cerca de 10 mL tritos menores e dos ovos. A OMS recomenda a
de amostra de fezes líquidas devem chegar ao la- realização desse exame com lâminas duplicadas
boratório idealmente dentro de uma hora após a ao se utilizar esse método13.
coleta11. Além da análise direta das fezes, o diag-
Técnicas FLOTAC e mini-FLOTAC - São méto-
nóstico de algumas helmintíases pode ser rea-
dos de contagem de ovos fecais desenvolvidos
lizado ou inferido por outros exames, tais como
mais recentemente. FLOTAC determina a flutua-
hemograma, sorologia e testes moleculares.
ção da amostra em uma centrífuga, seguida pelo
corte da suspensão flutuante e quantificação de
ovos. A principal vantagem é poder ser usado
Técnicas baseadas em microscopia para a detecção de diferentes helmintos, bem
como protozoários intestinais simultaneamen-
A. Microscopia direta te. Alto custo e necessidade do uso de centrífu-
ga são os principais fatores limitantes para sua
Permite a observação de ovos e larvas de utilização14. O método Mini-FLOTAC, uma forma
helmintos em lâmina de microscópio contendo simplificada do FLOTAC, foi desenvolvido para
esfregaço de amostra das fezes. Nos casos de in- locais com recursos limitados, com a vantagem
festação leve a sensibilidade é baixa. de poder avaliar amostras fecais preservadas15.
A sensibilidade do mini-FLOTAC é comparável à
Métodos de concentração fecal – Quando é
do Kato-Katz, mas inferior à do FLOTAC16.
pequena a quantidade de organismos, as téc-
nicas de concentração fecal podem aumentar
a sensibilidade diagnóstica. O método de Ho- B. Método de Graham (Fita Adesiva)
ffman, Pons e Janer, também conhecido como
É um método específico para pesquisa de
método de Lutz, pela sedimentação espontânea,
ovos de Taenia sp. e Enterobius vermicularis, si-
permite o encontro de ovos e larvas de helmin-
tuação na qual o prurido anal leva à suspeita
tos e de cistos de protozoários. Os métodos de
diagnóstica. A técnica é simples, recolhendo-se
Blagg (também conhecido por método de MIFC),
os ovos que ficam na região anal, perianal e pe-
de Ritchie e Coprotest, pela sedimentação por
rineal pela parte adesiva, aplicando-se a seguir
centrifugação, são usados para a pesquisa de
sobre uma lâmina para visualização por micros-
ovos e larvas de helmintos, cistos e alguns oo-
copia17.
cistos de protozoários. Já o método de Willis,
baseado no princípio de flutuação espontânea,
é mais indicado para a pesquisa de ovos leves, C. Cultura
principalmente de ancilostomídeos. Por sua vez,
A cultura é usada principalmente para recu-
o método de Faust, combina centrifugação e flu-
perar S. stercoralis, que é vivíparo. Ancilostoma
tuação, usado para a pesquisa de cistos e alguns
pode ser artificialmente cultivado em labora-
oocistos de protozoários, permite, também, o en-
tório para produzir larvas rabdiformes. Existem
contro de ovos leves12.
muitos métodos, alguns dos quais são obsoletos,
Contagem de ovos (Método de Kato – Katz) enquanto outros são usados em ambientes de
- Este é o método mais comumente empregado pesquisa: Harada-Mori (cultura em tiras de pa-
para quantificação de ovos de helmintos, muito pel de filtro); técnica de cultura de inclinação em

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papel de filtro usando placa de Petri; cultura em a demora. Além disso, amostras antigas e refrige-
carvão; técnica de cultura de Baermann-Morais e radas não são adequadas18.
de Rugai. As desvantagens das técnicas de cultu- A tabela 2 resume os exames parasitológicos
ra incluem a necessidade de perícia técnica, difi- de fezes mais utilizados na helmintíases e suas
culdade de execução sob condições de campo e principais indicações.

Tabela 2. Princípios e indicações dos principais exames parasitológicos de fezes

Exame Princípio Principais indicações

Hoffman, Pons e Sedimentação Ovos e larvas de helmintos, cistos de


Janer e Lutz espontânea protozoários

Blagg (MIFC), Sedimentação por Ovos e larvas de helmintos, cistos e oocistos de


Ritchie e Coprotest centrifugação protozoários

Willis Flutuação espontânea Ovos leves (Ancilostomídeos)

Flutuação e Cistos e oocistos de protozoários, ovos leves


Faust
centrifugação (Ancilostomídeos)

Baermann-Morais
Cultura Larvas (Strongyloides)
e Rugai

Kato-Katz Filtração Ovos de helmintos

Graham (fita adesiva) Adesão Enterobius vermicularis, Taenia sp

Outros exames relevantes maior sensibilidade em comparação com os tes-


tes parasitológicos convencionais20. Uma outra
opção são os testes de detecção de coproantí-
A. Testes sorológicos
genos, estando disponíveis principalmente para
Em situações em que amostras fecais não es- Strongyloides e ancilostomídeos11.
tão disponíveis, a sorologia pode ter um papel
no diagnóstico. Existem duas categorias de tes- B. Testes de biologia molecular
tes sorológicos: detecção de antígenos e ensaios
de detecção de anticorpos. Estes incluem ELISA, Os avanços nas técnicas de biologia molecu-
imunofluorescência indireta, imunofluorescên- lar proporcionaram uma grande vantagem de de-
cia direta, imunoblot e imunocromatografia19. As tecção rápida, bem como quantificação de ovos
desvantagens associadas ao diagnóstico soroló- de helmintos. A sensibilidade muito melhor das
gico são: sua natureza mais invasiva; persistên- técnicas moleculares as torna especialmente
cia dos anticorpos após o tratamento e, portanto, úteis para monitorar o efeito do tratamento ou
resultados positivos não serem necessariamente estratégias de controle. Estão disponíveis vários
indicativos de infecção ativa; e reação cruzada métodos diferentes de reação em cadeia da po-
com outros nematódeos. No entanto, a sorolo- limerase (PCR), tais como PCR convencional, PCR
gia desempenha um papel importante no diag- quantitativo (qPCR) e PCR multiplex. Esse último
nóstico de infecção por S. stercoralis, pois tem tem como superioridade a possibilidade de de-

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Parasitoses intestinais: diagnóstico e tratamento

tectar múltiplos parasitas de uma só vez. Muitos (60%) e baixa concentração de ferritina (33%)
estudos compararam as sensibilidades dos mé- podem ser vistas em pacientes com infestação
todos moleculares e tradicionais. Para A. lumbri- maciça por ancilóstomo21.
coides, a microscopia teve sensibilidade de 70%
a 88% versus 85% a 100% nos métodos mole- D. Escarro
culares, e de 30% a 88% versus 75% a 100%,
16% a 50% versus 76% a 93% e de 88% ver- Em caso de ascaridíase, ancilostomose ou S.
sus 100% para ancilostomídeos, S. stercoralis e sterocoralis, durante a fase de migração larval da
T. trichiura respectivamente21. infecção, o diagnóstico pode ser feito encontran-
do-se as larvas no escarro ou nas lavagens gástri-
cas. Na ascaridíase, cristais de Charcot-Leyden e
C. Hemograma
eosinófilos podem ser encontrados no escarro22.
A eosinofilia (>600/mm3 ou > 6%) pode ser
usada como marcador de possível infecção por
helmintos. Muitos estudos mostraram correla-
ção entre a presença de eosinofilia e helmintí-
Diagnóstico das infecções
intestinais por protozoários
ase, que é geralmente observada em cerca de
47% dos casos de ascaridíase, 78% dos casos
de tricuríase e 82% dos casos de estrongiloidía- A tabela 3 resume os principais exames la-
se, até 60% dos casos de infecção por ancilósto- boratoriais para diagnóstico das infecções intes-
mo. Além de eosinofilia, hemoglobina de ≤ 5g/dL tinais por protozoários36.

Tabela 3. Exames laboratoriais para o diagnóstico das infecções intestinais por protozoários.

Parasito Diagnóstico Laboratorial

Exame microscópico direto das fezes (60% a 70% do diagnóstico, com duas ou
mais amostras).
Giardia lamblia
Técnicas de ELISA ou imunofluorescência para a detecção de antígenos nas
fezes (90% a 100% de sensibilidade e especificidade); Técnica de PCR.

Exame microscópico das fezes.


Entamoeba
Técnicas de PCR, métodos enzimáticos (antígenos e anticorpos) e o uso de
histolytica
anticorpos monoclonais ajudam a fazer a distinção com Entamoeba dispar

Exame histológico das lesões, por biópsia, via sigmoidoscopia ou colonoscopia


Balantidium ou parasitológico das fezes, com a presença de trofozoítos (menos
frequentemente, cistos) nas fezes ou espécimes de tecido

Detecção de oocistos nas fezes pelo método de anticorpo fluorescente direto


Cryptosporidium
por microscopia, ou ensaio imunoenzimático (ELISA) para pesquisa do antígeno
parvum
do Cryptosporidium sp PCR

Identificação dos oocistos nas fezes, em aspirados duodenais ou amostras de


Cystoisospora
biópsia (intestino delgado).
belli
Técnicas de Kinyoun (método Ziehl-Neelsen modificado) e Auramina-Rodamina

Blastomycis
Espécimes do parasita nas fezes podem ser vistas por microscopia óptica
hominis

Cyclosporidium
Técnicas de Kinyoun (método Ziehl-Neelsen modificado)
cayetanensis

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ma duodenale, Necator americanus, Trichuris


Tratamento das helmintíases
trichiura, Taenia sp e Hymenolepis nana. A
dose recomendada por idade varia: 12-47
Dependendo do seu mecanismo de ação, as meses: 100 mg, VO, 2x/dia por 3 dias; 4-11
drogas anti-helmínticas podem ser amplamente anos: 200mg VO, 2x/dia por 3 dias; maiores
classificadas nas seguintes categorias: de 11 anos: 500mg, VO, 2x/dia por 3 dias.
1) Ligantes de beta-tubulina: os benzimidazóli- O albendazol é metabolizado após a absor-
cos, incluindo mebendazol e albendazol, que ção, e o metabólito bioativo resultante pode se
são drogas comumente usadas nesta catego- distribuir amplamente nos tecidos humanos,
ria. Ao se ligarem seletivamente à beta-tubu- tornando-se a droga de escolha para as infec-
lina dos nematoides, eles inibem a formação ções por larvas de toxocara e de cisticerco, bem
dos microtúbulos, causando a ruptura do ci- como para a maioria das infecções por helmintos
toesqueleto, bem como má captação intesti- intestinais. Por sua vez, o mebendazol, que não
nal de glicose, e determina então inanição do é absorvido de forma apreciável fora do intes-
verme; tino, pode ser considerado um medicamento de
2) Agentes espásticos paralisantes: incluem o primeira linha quando utilizado em dose única,
palmoato de pirantel e o levamisol, que são apenas para ascaridíase e enterobíase. Cursos
agonistas dos receptores nicotínicos de ace- prolongados de albendazol ou mebendazol são
tilcolina necessários para tratar a tricuríase e o mebenda-
zol para ancilostomídeos. Terapias combinadas
3) Agente indutores de paralisia flácida: a droga
com albendazol e ivermectina também podem
clássica é piperazina que inibe reversivel-
ser usadas para tricuríase. Tanto o albendazol
mente a transmissão neuromuscular no ver-
quanto o mebendazol podem causar dor abdo-
me, sendo um agonista de GABA23.
minal transitória, náusea ou diarreia em crianças
4) Nitazoxanida: é um novo composto de nitro- infectadas com grande quantidade de vermes.
tiazol benzamida com atividade no tratamen- A ivermectina representa hoje o tratamento de
to de várias infecções intestinais por protozo- primeira linha para a estrongiloidíase. Crianças
ários e helmintos24. No Brasil, está aprovada que necessitam de doses elevadas ou prolon-
em bula pela ANVISA para crianças maiores gadas de corticosteroides devem ser rastreados
de 12 meses de idade para os seguintes hel- para avaliação de risco de hiperinfecção por
mintos: Enterobius vermicularis, Ascaris lum- Strongyloides e tratados com ivermectina antes
bricoides, Strongyloides stercolaris, Ancylosto- de começar a imunossupressão25.

Tabela 4. Tratamento das helmintíases intestinais

Tratamento
Helmintíase
1ª linha dose 2ª linha dose
Ascaridíase Albendazola 400 mg (200 mg em < 2 anos), VO, dose única Ivermectinab,c 150-200 mcg/kg, VO, dose única
Mebendazol 100 mg, VO, 1x/dia por 3 dias Pamoato de pirantel 11 mg/kg (máximo 1g), VO,
1x/dia por 3 dias
Nitazoxanida 7,5 mg/kg/dose (máximo 500mg),
2x/dia por 3 dias
Tricuríase Albendazola 400 mg, VO, 1x/dia por 3-7 dias Ivermectinab,c 200 mcg/kg, VO, por 3 dias
Mebendazol 100 mg, VO, 1x/dia por 3-7 dias Sinergismo com Albendazol relatado na
literatura para essa indicação
Nitazoxanida 7,5 mg/kg/dose (máximo 500mg),
2x/dia por 3 dias

continua...

7
Parasitoses intestinais: diagnóstico e tratamento

... continuação

Tratamento
Helmintíase
1ª linha dose 2ª linha dose
Ancilostomíase Albendazol 400 mg, VO, dose única (200 mg em < 2 anos) Pamoato de pirantel 11 mg/kg (máximo 1g), VO, 1x/dia por 3 dias
a

ou Necatoríase
Mebendazol 100 mg, VO, 1x/dia por 3 dias Nitazoxanida 7,5 mg/kg/dose (máximo 500mg),
2x/dia por 3 dias
Estrongiloidíase Ivermectinab,c 200 mcg/kg, VO, por 2 dias Albendazola 400 mg, VO, 2x/dia, 10-14 dias
Na hiperinfecção por Strongyloides, Na hiperinfecção por Strongyloides associar
prolongar para 7-14 dias após a depuração Ivermectinab,c
do parasita ou repetições podem ser
necessárias Tiabendazol 25mg/kg, VO, 2x/dia por 3 dias
Nitazoxanida 7,5 mg/kg/dose (máximo 500mg),
2x/dia por 3 dias
Enterobíased Albendazola 400 mg, VO, dose única; Pamoato de pirantel 11 mg/kg (máximo 1g), VO,
repetir em 2 semanas 1x/dia por 3 dias
Mebendazol 100 mg, VO, dose única; Nitazoxanida 7,5 mg/kg/dose (máximo 500mg),
repetir em 2 semanas 2x/dia por 3 dias
Toxocaríase Albendazola 400 mg, VO, 2x/dia, 5 dias – –
Toxocaríase ocular: 400-800 mg – –
2x/dia por 28 dias; pode ser
necessário associar corticoide
Cisticercose Albendazola 15mg/kg/dia ou 400mg 2x/dia, VO, Praziquantel 50mg/kg/dia, VO, 1x/dia, 15 dias
2x/dia, 2-4 semanas, associado com
corticosteroide administrado antes, durante
e após o tratamento para diminuir os riscos
de convulsão. Excluir cisticercose ocular
antes de iniciar a terapia sistêmica
Triquinose Albendazola 400 mg VO, 2x/dia, 8-14 dias Mebendazol 200 a 400 mg VO, 3x/dia, 3 dias;
depois 400 a 500 mg, VO, 3x/dia, 10 dias
Teníase Praziquantel 5-10 mg, VO, dose única Niclosamida 50mg/kg, VO, dose única
Após o tratamento, as fezes devem ser
Nitazoxanida 7,5 mg/kg/dose (máximo 500mg),
coletadas por 3 dias para procurar proglotes
2x/dia por 3 dias
de tênia para identificação das espécies.
As fezes devem ser reexaminadas para
os ovos de Taenia 1 e 3 meses após o
tratamento para controle de cura
Himenolepíase Praziquantel 25mg/kg/dia, VO, dose única Niclosamida 11-34 kg: 1 g, VO, seguido por 500 mg/dia,
6 dias;
> 34 kg: 1,5 g, VO, seguido por 1 g/dia, 6 dias.
Nitazoxanida 7,5 mg/kg/dose (máximo 500mg),
2x/dia por 3 dias
Equinococose Albendazola 10-15 mg/kg/dia (máximo 800 mg) VO, Praziquantel pode ser útil no pré-operatório ou em caso
(Hidatidose) 2x/dia, 1-6 meses. Cirurgia pode ser de derrame do conteúdo do cisto durante a
necessária. cirurgia
a Ingerir com alimento; b Segurança não estabelecida em < 15kg e na gestação; c deve ser tomado com o estômago vazio com água; Reinfecções são
comuns, sendo necessário indicar tratamento para todos os indivíduos da mesma residência acima de 6 meses de idade. A infecção dos dedos e de ob-
jetos contaminados é fácil e os pacientes devem ser aconselhados a limpar bem sob as unhas evitar se coçarem. Roupas pessoais e de cama devem ser
lavadas em água quente ou passadas com ferro quente para matar os ovos; VO = via oral

Tratamentos das infecções


intestinais por protozoários

Os medicamentos utilizados para tratamen-


to das parasitoses por protozoários estão esque-
matizados na tabela 535.

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Tabela 5. Tratamento das infecções intestinais por protozoários.

Parasita Antiparasitário Dose

Giardia lamblia Metronidazol 15 mg/kg/dia, 3x/dia, por 5 a 7 dias

Albendazol 400mg/dia, 5 dias

Tinidazol ≥3 anos 50mg/kg, dose única

Secnidazol 30 mg/kg, dose única

Nitazoxanida ≥1 ano 7,5mg/kg /dose, 2x/dia por 3 dias

Entamoeba histolytica Etofamida 500mg, 2x/dia, 3 dias ou


Forma intestinal assintomática Teclosan 100mg, 3x/dia, 5 dias

Forma Intestinal sintomática Metronidazol 500 a 750mg. 3x/dia, 10 dias ou


ou extra-intestinal 35 a 50mg/kg/dia, em 3 doses, 10 dias
Tinidazol ≥3 anos: 2g ou 50mg/kg, dose única
Secnidazol 2g ou 30mg/kg, dose única

A Forma intestinal ou Etofamida 500mg, 2x/dia, 3 dias ou


extraintestinal sintomática Teclosan 100mg, 3x/dia, 5 dias
após o tratamento com os
nitrimidazólicos devem sempre
ser seguidos da administração
de Etofamida ou Teclosan

Cryptosporidium parvum Nitazoxanida 1-3 anos: 100mg, 2x/d;


4-11 anos: 200mg, 2x/d;
≥12 anos: 500mg, 2x/d ou 7,5mg/kg 2x/dia.
Por 3 dias.

Cystoisospora belli Sulfametoxazol- 8-10mg/kg/d/TMP, 2x/d, por 7-10 dias


trimetropim (TMP)

Balantidium coli Tetraciclina ≥8 anos, 40mg/kg/d, 4x/d, 10 dias,


Metronidazol 35-50mg/kg/d, 3x/d, 5 dias
Nitazoxanida Idem Cryptosporidium

Blastomycis hominis Metronidazol 250 a 750mg ou 35 a 50mg/kg/dia,


3x/dia, 10 dias
Nitazoxanida Idem Cryptosporidium
Tiniodazole ≥3 anos 50mg/kg, dose única

Cyclosporidium cayetanensis Sulfametoxazol- 8-10mg/kg/d/TMP, 2x/d, por 7-10d


trimetropim (TMP)

Descrição das helmintíases


intestinais e formas sintomáticas
maior letalidade no Brasil, devido às suas com-
plicações graves.
1. Ascaridíase (Ascaris lumbricoides):
Morfologia: é o maior dos nematelmintos: fê-
Epidemiologia: é o helminto mais prevalente meas com 30 a 40 cm, machos com 15 a 30 cm,
no mundo (mais de 1 bilhão de pessoas) e o de coloração leitosa.

9
Parasitoses intestinais: diagnóstico e tratamento

Local da infestação: intestino delgado, prin- men do intestino delgado. O paciente, em


cipalmente jejuno e íleo. De grande força mus- geral desnutrido, apresenta cólicas, dis-
cular, prende-se no lúmen intestinal por assumir tensão abdominal, anorexia, vômitos bi-
postura em U e exercer pressão contra as pare- liosos, desidratação e às vezes diarreia no
des. início do quadro. É comum a criança eli-
minar as lombrigas pela boca, narinas ou
Ciclo biológico: os ovos são eliminados com
ânus, antes ou durante a vigência do qua-
as fezes e contaminam o solo. A transmissão se
dro. Palpa-se massa cilíndrica na região
dá pela ingestão do ovo com larva madura, pela
periumbilical ou próximo aos flancos. Os
contaminação das mãos na terra, geofagia, con-
ruídos hidroaéreos podem desaparecer,
taminação de água e alimentos. O ovo eclode
caso ocorra oclusão intestinal total ou íleo
no intestino delgado, libera a larva, que no ceco
adinâmico. Pode ocorrer isquemia de alça,
atravessa a mucosa e por via linfática ou venosa
necrose, perfuração ou volvo do intestino.
passa pelo fígado, atinge o átrio direito, artérias
A radiografia de abdome pode mostrar ní-
pulmonares e se aloja nos alvéolos. Sofre evo-
veis hidroaéreos no intestino delgado ou
luções larvárias, ascende pelas vias aéreas até a
sinais de perfuração intestinal, sombra ra-
faringe, é deglutida e vai se alojar no lúmen do
dio-lúcida na forma de aparência de “fei-
intestino delgado. O ciclo é de 15 a 30 dias até
xe de charuto” ou “efeito de redemoinho”
este momento e vai demorar mais 30 a 60 dias
devido ao contraste da massa de vermes
para se tornar adulto e a fêmea iniciar a postura
contra o ar intestinal na radiografia sim-
de ovos.
ples. A visualização direta de vermes é
Patogenia e manifestações clínicas: possível na ultrassonografia abdominal. O
corpo espiralado do verme do Ascaris no
1) Pelas larvas: quando em infestações mais
trato biliar dá um sinal clássico na imagem
intensas, pode ocorrer migração de larvas para
no ultrassom, chamado “sinal do olho de
o parênquima hepático, com necrose focal e fi-
boi” ou “sinal de dupla sonda”26.
brose (semelhante ao quadro de toxocaríase).
c) Migração do áscaris – pode causar qua-
A principal ação das larvas é no pulmão: pneu-
dros graves: 1) apendicite, por invasão
monite larvária, com febre, tosse, expectoração,
do apêndice cecal; 2) pancreatite hemor-
dispneia, eosinofilia periférica moderada ou in-
rágica, por obstrução da ampola de Vater
tensa (síndrome de Löeffler – duração de uma ou
e ducto de Wirsung; 3) colestase e colan-
duas semanas)11;
gite, por obstrução da ampola de Vater
2) Vermes adultos: no intestino o quadro é e árvore biliar; 4) abcesso hepático, pela
assintomático, ou há sintomas inespecíficos. subida dos vermes até o interior do parên-
Quando ocorre infestação média (mais de 30 quima do fígado; 5) asfixia, por obstrução
vermes), ou maciça (mais de 100 vermes) as ma- de vias aéreas ou cânula traqueal.
nifestações são perigosas:
a) Ação espoliadora – consumo de grande A ultrassonografia continua sendo uma fer-
parte dos macronutrientes e micronu- ramenta diagnóstica de escolha para ascaridíase
trientes ingeridos pela criança, desnutri- hepatobiliar e pancreática, embora sua sensibili-
ção proteico-energética, baixa estatura, dade possa ser ruim. A endoscopia digestiva alta
desenvolvimento comprometido; pode identificar áscaris duodenal e a colangio-
pancreatografia endoscópica retrógrada pode
b) Sub-oclusão ou obstrução intestinal – é
ser usada para remover vermes de ductos e duo-
um quadro grave, letal em muitos casos e
deno27.
de incidência inaceitavelmente ainda ele-
vada em nosso país. O enovelamento de Diagnóstico: microscopia direta, exame pa-
grande número de parasitas obstrui o lú- rasitológico de fezes (método de concentração

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ou método da avaliação quantitativa). Os vermes mum de desobstrução mecânica é a laparotomia


adultos são ocasionalmente visualizados direta- e a massagem do bolo de vermes impactados em
mente nas fezes, boca ou nariz e são reconhecí- direção ao cólon32. Quando a causa da obstrução
veis pelas suas características macroscópicas28. é o volvo, o tratamento é diferente. A ordenha
do intestino em volvo pode danificar o intestino
Tratamento: ver tabela de tratamento das delgado e, portanto, a enterotomia é o método
helmintíases intestinais preferido de tratamento cirúrgico33.

O tratamento da obstrução intestinal rela- O tratamento inicial da cólica biliar, cole-


cionada ao Ascaris depende se a condição é su- cistite e pancreatite aguda associadas à ascari-
baguda ou aguda. A terapia inicial convencional díase consiste na restrição da ingestão oral, hi-
conservadora para obstrução subaguda envolve dratação, uso de antibióticos e de analgésicos.
a hidratação venosa e aspiração nasogástrica A terapia anti-helmíntica é iniciada após a re-
por 48 a 72 horas. A administração de óleo mi- missão dos sintomas agudos34. A colangite agu-
neral, na dose de 15 a 30ml a cada duas horas, da é muito mais grave e requer descompressão
tem o objetivo de lubrificar o lúmen e facilitar e drenagem biliares cirúrgicas ou endoscópicas
a eliminação dos vermes29. O uso de ascaricida urgentes. O abscesso hepático é controlado por
neste momento exige cautela, pois a morte e de- aspiração guiada por ultrassonografia e remoção
gradação maciça dos vermes libera toxinas que de pus, juntamente com antibióticos, analgési-
podem provocar inflamação de parede intesti- cos e agentes anti-helmínticos27.
nal, paralisia, necrose e perfuração. O citrato de
piperazina, na dose de 75 mg/kg era adminis-
2. Ancilostomíase
trado após reidratação intravenosa e colocação
de sonda nasogástrica, pois promovia paralisia Epidemiologia: Necator americanus nas Amé-
dos vermes, sem destruí-los. No entanto, este ricas, África, sul da Índia e China; Ancylostoma
medicamento foi retirado do mercado em 1999 duodenale na Europa, costa do Mediterrâneo,
pela ANVISA, devido à sua toxicidade. Caso não Japão, norte da China e Índia. As duas espécies
haja resolução da obstrução, enema com salina coexistem em alguns locais do Brasil e América
hipertônica pode ser eficaz, pois a concentração Latina. Infectam mais de 400 milhões de pessoas
salina serve como um irritante para o bolo de no mundo.
vermes, que costuma se romper, deslocando os
Morfologia: Medem de 5 a 18mm de compri-
áscaris para o intestino grosso e o reto30. Como
mento; a fêmea é maior que o macho, e a espécie
opção tem sido utilizado a gastrografina (con-
A. duodenale é quase o dobro do tamanho da es-
traste hiperosmolar), que determina condução
pécie N. americanus.
de água para o lúmen intestinal, causa a sepa-
ração dos áscaris e os torna mais escorregadi- Ciclo biológico: os ovos eliminados com as
ços. Além disso, quando ingerido pelos vermes, fezes contaminam o solo; as larvas evoluem em
pode causar desidratação e redução do tamanho 5 estágios. A larva filarioide L3 é a infectante.
dos mesmos. A dose varia de 15 a 30 mL e a di- Consegue penetrar na pele do hospedeiro e por
luição depende da faixa etária (recém nascidos via linfática ou venosa é transportada até os pul-
e lactentes utilizar 3 vezes o volume de água; mões. Na evolução sobe dos alvéolos, pela ár-
crianças duas vezes)31. O tratamento cirúrgico vore respiratória, até ser deglutida. No intestino
da obstrução intestinal é indicado em pacientes delgado origina o verme adulto. Transcorrem 35
com sangramento retal e toxemia ou naqueles a 60 dias desde a infecção até o início da elimi-
que não respondem ao tratamento médico. A nação de ovos nas fezes do hospedeiro. Vivem
ressecção com anastomose de ponta a ponta do no intestino de 1 a 10 anos. Pode haver infesta-
intestino afetado não é necessária, a menos que ção direta, sem ciclo pulmonar, a partir da inges-
haja perfuração ou gangrena. A técnica mais co- tão da larva L3.

11
Parasitoses intestinais: diagnóstico e tratamento

Local da infestação: principalmente o duo- Morfologia: fêmeas partenogenéticas com


deno e jejuno, onde se fixam pela cápsula bucal. aproximadamente 2mm de comprimento.
Cada exemplar adulto de A. duodenale ocasiona
perda diária de 0,05 a 0,3ml de sangue, sendo Ciclo evolutivo: é complexo e envolve uma
esta perda de 0,01 a 0,04ml por dia na espécie N. fase no intestino delgado do hospedeiro, pro-
americanus. A perda de sangue ocorre porque o tagonizada por fêmeas, e uma fase estercoral
verme suga o sangue da mucosa e porque muda (daí a origem do nome), com machos e fêmeas
de lugar 4 ou 5 vezes por dia e lesiona a mucosa exercendo reprodução em vida livre, no solo. As
a cada vez em que se fixa. larvas originárias dos ovos provenientes das fê-
meas de vida livre ou das fêmeas existentes no
Patogenia e manifestações clínicas: na maio- intestino humano evoluem rapidamente para a
ria das vezes são ausentes, mas dependendo do forma infectante filarioide. Existe mais de uma
número de vermes, da espécie de ancilostomí- forma de transmissão. Na primo-infecção, as lar-
deo, ou das condições do hospedeiro, são possí- vas presentes no solo penetram o homem atra-
veis os seguintes sintomas: vés da pele e depois migram para o ciclo pulmo-
1) Dermatite Larvária: prurido, eritema, ede- nar igual aos ancilostomídeos. Na autoinfecção,
ma, erupção papulovesicular durante até os ovos provenientes das fêmeas habitantes do
duas semanas; mais frequente com a es- intestino eclodem e rapidamente as larvas evo-
pécie N. americanus; 2) Pneumonite Lar- luem em etapas até a forma infectante e, antes
vária: menos intensa do que na infecção de serem excretadas com as fezes, penetram a
por áscaris; mucosa no íleo, nos cólons ou penetram a pele
na região perianal. Por via linfática ou venosa
2) Parasitismo Intestinal: na fase aguda pode
atingem o coração direito, para em seguida fa-
ocorrer dor epigástrica, náuseas, vômitos,
zer o ciclo pulmonar. As larvas deglutidas vão
anorexia ou bulemia, flatulência ou diar-
se tornar fêmeas adultas no duodeno e jejuno,
reia; na fase crônica, que é a mais compli-
onde se alojam no interior das criptas da muco-
cada e pode demorar vários anos para se
sa. Transcorrem cerca de 20 dias entre a pene-
estabelecer, pode ocorrer anemia hipo-
tração das larvas na pele ou mucosa e o início
crômica e microcítica, que é mais grave na
da oviposição.
infestação por A. duodenale, anorexia, fra-
queza, cefaleia, palpitações, sopro cardía- Patogenia e manifestações clínicas: a es-
co, hipoproteinemia e edema por entero- trongiloidíase pode ser assintomática, oligos-
patia perdedora de proteínas. Tornam-se sintomática ou com formas graves. Dermatite
indivíduos de baixa produtividade. larvária pode ocorrer nos pés, mãos, nádegas
ou região anogenital. Pneumonite larvária, com
Diagnóstico: exame parasitológico de fezes;
dispneia, tosse, febre e eosinofilia podem ocor-
método de cultura de larvas28. Também a endos-
rer, porém são menos frequentes do que na as-
copia digestiva alta e biópsias de duodeno pode
caridíase. A infecção por vermes localizados nas
ser o exame de confirmação20.
criptas do intestino delgado proximal determi-
Tratamento: ver a tabela de tratamento das na manifestações diversas, tais como anorexia,
helmintíases intestinais náuseas, vômitos, distensão abdominal, dor em
cólica ou queimação, muitas vezes no epigástrio
(síndrome pseudo-ulcerosa). O paciente pode
3. Estrogiloidíase (Strongyloides stercoralis)
apresentar síndrome de má absorção exube-
Epidemiologia: geo-helminto responsável rante (diarreia secretora ou estatorreica e des-
por mais de 50 milhões de infectados no mundo. nutrição proteico-energética), com duração de
Causa doença grave em indivíduos imunossupri- várias semanas ou meses. Nos pacientes que
midos. recebem corticosteroides, ou nos imunodepri-

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midos por doenças crônicas debilitantes, como nhecida ou suspeita, relatos de casos publicados
desnutrição, neoplasias, doença inflamatórias demonstraram eficácia com a administração por
intestinais, doenças autoimunes, nefropatias, via retal. Se as administrações orais e/ou retais
alcoolismo, os vermes infectam todo o intestino não forem possíveis, o uso da formulação subcu-
e a autoinfecção interna ocorre maciçamente. tânea veterinária de Ivermectina já foi concedida
As larvas filarioides migram para o fígado, pul- pelo FDA como isenção de Medicamentos Novos
mões e inúmeras outras vísceras e glândulas, ge- Investigatórios28.
ralmente originando bacteremia, pois carregam
consigo as enterobactérias intestinais. Assim se
desenvolve a estrongiloidíase disseminada, gra- 4. Trichiuríase ou Tricocefalíase
ve e de alta mortalidade. Associa sintomas intes- (Trichuris trichiura)
tinais, respiratórios e de sepse ou meningite por Epidemiologia: 700 milhões de portadores
coliformes. Alguns infectados não conseguem no mundo, na grande maioria crianças.
eliminar o parasita espontaneamente, por força
de seu próprio sistema imune. Permanecem por- Morfologia: medem entre 3 e 5 cm de com-
tadores crônicos, graças à autoinfecção interna. primento e as fêmeas são um pouco maiores que
os machos. A extremidade anterior é mais fina do
Diagnóstico: o padrão ouro é o exame pa- que a posterior.
rasitológico de fezes seriado, até sete amostras
para atingir sensibilidade de 100%; exame de Local da infestação: intestino grosso, espe-
detecção de larvas; cultura de larvas. O aspirado cialmente o ceco.
duodenal é mais sensível que o exame de fezes,
Ciclo biológico: os ovos são eliminados
e a biópsia duodenal pode revelar parasitas nas
com as fezes e demoram de 13 a 20 dias para
criptas gástricas, nas glândulas duodenais ou in-
se tornar infectantes. O homem ingere os ovos,
filtração eosinofílica na lâmina própria. Frequen-
que sofrem ação de sucos digestivos e libertam
temente, as larvas podem ser vistas por meio de
as larvas. Estas sofrem várias mudas e somente
um suporte simples em líquido a partir de uma
90 dias após a contaminação tornam-se vermes
lavagem bronco-alveolar28.
adultos e iniciam a oviposição.
Tratamento: A terapia de primeira escolha é
Patogenia e manifestações clínicas: o verme
a Ivermectina, em dose única, 200 mcg/kg por
adulto introduz a extremidade anterior na muco-
via oral por 1-2 dias. A alternativa terapêutica
sa intestinal para se fixar. Diariamente muda de
é o Albendazol, 400 mg por via oral duas vezes
lugar e assim provoca erosões e ulcerações múl-
ao dia por 7 dias. Para pacientes com exame de
tiplas. Cada verme ingere até 0,005ml de sangue
fezes positivo para Strongyloides e sintomas per-
por dia. A intensidade do quadro clínico varia
sistentes, exames de acompanhamento devem
de acordo com a carga parasitária. Geralmente é
ser realizados 2 a 4 semanas após o tratamento
assintomática ou de manifestações leves, quan-
para confirmar a eliminação da infecção. Se o re-
do a criança possui poucos vermes no ceco. No
crudescimento das larvas for observado, o retra-
entanto, em crianças desnutridas, especialmen-
tamento é indicado28.
te pré-escolares, que vivem em comunidades
Na síndrome de hiperinfecção/estrongiloidí- aglomeradas e com ausência total de saneamen-
ase disseminada, se possível, a terapia imunos- to básico, pode se instalar a trichiuríase maciça.
supressora deve ser interrompida ou reduzida, O intestino grosso inteiro, do ceco ao reto, pode
indicando-se Ivermectina, 200 mcg/kg por dia, estar infectado com vermes em número de 2 a
por via oral por duas semanas, até exames de 5 mil. Em quase todos os casos ocorre distensão
fezes e/ou expectoração negativos. Para os pa- abdominal e cólicas, vômitos, disenteria crôni-
cientes incapazes de tolerar a terapia oral, como ca com fezes mucossanguinolentas, tenesmo,
aqueles com íleo, obstrução ou má absorção co- anemia hipocrômica e microcítica e desnutrição

13
Parasitoses intestinais: diagnóstico e tratamento

proteico-energética. Prolapso retal ocorre em al- pior à noite, pela presença das fêmeas no local.
guns pacientes. Pode causar apendicite aguda. A criança pode ficar em desespero e apresentar
Há boa recuperação de peso e estatura nas crian- insônia, tal o sofrimento induzido pelo prurido.
ças com trichiuríase maciça após o tratamento Ocorre processo inflamatório na região anal. Nas
específico. meninas o verme pode migrar para a região ge-
nital e pode ser encontrado na vulva, uretra, va-
Diagnóstico: Exame parasitológico de fezes
gina e até na cavidade peritoneal. Causa intenso
(método de concentração; método de quantifica-
prurido vulvar, corrimento, estimulação erótica e
ção). O exame da mucosa retal por proctoscopia
até complicações anexiais.
ou colonoscopia (ou diretamente no caso de pro-
lapsos) revelam vermes adultos na trichiuríase Diagnóstico: A confirmação diagnóstica da
maciça35. oxiuríase pode ser feita a partir de três técnicas
simples: 1) procurar os vermes na região peria-
Tratamento: ver a tabela de tratamento das
nal duas a três horas após o indivíduo infectado
helmintíases intestinais. Na trichiuríase maciça o
estar dormindo; 2) tocar a pele perianal com fita
tratamento precisa ser realizado três vezes, com
adesiva transparente para coletar possíveis ovos
intervalos de 15 dias.
de E. vermicularis ao redor do ânus na primeira
hora da manhã, para observação em microsco-
5. Enterobíase ou Oxiuríase (Enterobius pia direta. O método da fita deve ser conduzido
vermicularis ou Oxyurus vermicularis) em três manhãs consecutivas logo após a pessoa
infectada acordar e antes de fazer qualquer hi-
Epidemiologia: ocorre no mundo todo e nos giene; 3) devido ao prurido anal pode-se analisar
países desenvolvidos é a helmintíase de maior amostras obtidas sob as unhas por microscopia.
prevalência. Os ovos e os vermes são muitas vezes escassos
Morfologia: o macho tem menos de 5 mm de nas fezes, e assim o exame de amostras de fezes
comprimento e a fêmea perto de 10 mm. poucas vezes resulta positivo28.

Tratamento: Qualquer um dos medicamentos


Locais de infestação: principalmente o ceco
(ver tabela) é administrado como dose única ini-
e o reto.
cial e repetida em duas semanas. A segunda dose
Ciclo biológico: após a cópula o macho é eli- é para eliminar a reinfecção por vermes adultos
minado e morre. A fêmea fecundada não solta os que eclodem de quaisquer ovos não mortos pelo
ovos até que seu útero esteja repleto. Então ela primeiro tratamento28.
migra para a região anal, onde faz a postura. Sua
As infecções repetidas devem ser tratadas
presença nesta região causa intenso prurido, o
pelo mesmo método que a primeira infecção. Nos
que favorece a transmissão direta do ânus para
domicílios onde mais de um membro está infec-
a boca, principalmente por crianças, adultos sem
tado ou onde ocorrem repetidas infecções sinto-
cuidados de higiene e doentes mentais. A trans-
máticas, recomenda-se que todos os membros do
missão indireta também é possível, com a inala-
domicílio sejam tratados ao mesmo tempo. Nas
ção de ovos presentes na poeira e utensílios do-
instituições, o tratamento em massa e simultâ-
mésticos. Os ovos ingeridos liberam as larvas no
neo, repetido em duas semanas, pode ser eficaz28.
intestino e estas se fixam no ceco. O ciclo é de
30 a 50 dias até a evolução para a forma adulta.
6. Teníase (Taenia solium e Taenia saginata)
Patogenia e manifestações clínicas: o pa-
rasita pode provocar inflamação superficial na Epidemiologia: o homem é o hospedeiro de-
mucosa colônica e alguns sintomas, como náu- finitivo destes citoides platelmintos, conheci-
sea, cólica abdominal, tenesmo e puxo. Mas o dos como solitária. O hospedeiro intermediário
sintoma predominante é o intenso prurido anal, é o porco para o embrião da T. solium, e o gado

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bovino doméstico para o embrião da T. sagina- vômitos, dor abdominal (“dor de fome”), perda
ta. Na fase adulta, as tênias habitam o intestino de peso, diarreia e/ou constipação, urticária, eo-
delgado do homem, onde podem viver por 3 a sinofilia moderada ou intensa. Há inflamação no
25 anos. A maior prevalência ocorre em adultos local de fixação do verme, no duodeno ou jejuno.
jovens e nas regiões rurais da América Latina, É raro, mas pode ocorrer sub-oclusão intestinal,
África e Ásia. Os hábitos culturais de consumo apendicite, colangite ou pancreatite. Todas es-
de carnes cruas ou malcozidas nestas comunida- tas manifestações são quase que exclusivas da
des, além do destino inadequado das fezes hu- teníase por T. saginata. O grande problema da
manas, favorecem sua disseminação. As teníases T. solium é quando o homem se torna o hospe-
são subdiagnosticadas e em geral as notificações deiro intermediário. Isto ocorre pela ingestão
não são espécie-específicas. A OMS estimou a dos ovos do meio externo ou pela autoinfesta-
existência de 70 milhões de pessoas contamina- ção, na qual as proglotes refluem ao estômago e
das, com 50 mil mortes anuais, geralmente pe- liberam os ovos e estes liberam o embrião, ocor-
las complicações da neurocisticercose induzida rendo então a migração por via circulatória até
pela T. solium. Inspeções veterinárias em aba- os tecidos. Assim é gerada a neurocisticercose e
tedouros na América Latina estimam a presença suas complicações.
de cisticercose em menos de 1% dos suínos e
Diagnóstico: A identificação de ovos e pro-
aproximadamente 5% dos bovinos. Isto induz a
glótides nas fezes por microscopia é diagnóstica
uma substancial perda econômica anual para a
para a teníase. Exames repetidos e técnicas de
pecuária na América Latina.
concentração aumentarão a probabilidade de
Morfologia e ciclo biológico: As tênias são detectar infecções leves. O exame de três amos-
achatadas dorsoventralmente e chegam ao com- tras de fezes coletadas em dias diferentes é re-
primento de 3 a 10 metros, sendo a T. saginata comendado para aumentar a sensibilidade dos
mais longa que a T. solium. O escólex possui ven- métodos microscópicos. Ovos de Taenia spp. não
tosas, e com estas o verme se fixa à mucosa do podem ser diferenciados; uma determinação de
duodeno ou jejuno. A tênia é hermafrodita e em espécie pode ser possível se proglótides madu-
geral vive solitária no intestino do homem. Os ros e gravídicos (ou, mais raramente, exame do
anéis ou proglotes distais são maduros e abar- escólex) estiverem presentes.
rotados com 30 a 80 mil ovos. Então eles se des- Coproantígeno e ensaios moleculares nas fe-
prendem e sua eliminação é passiva, com as fe- zes, além de métodos sorológicos, estão em de-
zes, no caso da T. solium ou forçando ativamente senvolvimento e no futuro serão mais sensíveis
a passagem anal, no caso da T. saginata. Os ovos que o exame de fezes. Os contatos domiciliares
contaminam as pastagens e após serem ingeri- dos casos de neurocisticercose devem ser ava-
dos pelos animais hospedeiros intermediários liados quanto à teníase para reduzir o risco de
os embriões migram até o tecido conjuntivo dos também desenvolverem cisticercose28.
músculos, onde formam os cisticercos, com 2 a
5 mm de diâmetro (canjiquinhas). A carne in- Tratamento: O praziquantel é o medicamen-
gerida pelo homem determina a contaminação. to mais usado para tratar a teníase ativa, admi-
Os sucos digestivos fazem o cisticerco liberar o nistrado na dose de 5-10 mg/kg por via oral em
escólex, que irá se fixar à mucosa e iniciar seu dose única. Se o doente tiver cisticercose, além
desenvolvimento. Demora mais de 3 meses para de teníase, o praziquantel deve ser utilizado com
ter início a eliminação das proglotes maduras. precaução. O praziquantel é cisticida e pode cau-
sar inflamação ao redor dos cistos em morte nos
Patogenia e manifestações clínicas: a teníase pacientes com cisticercose, o que pode levar a
é muitas vezes assintomática. Porém, vários tipos convulsões ou outros sintomas. A niclosamida
de sintomas são a ela atribuídos: fadiga, irrita- é uma alternativa, administrada em dose única
ção, cefaleia, tontura, bulimia, anorexia, náuseas, 50mg/kg (máximo 2g) por via oral. Após o trata-

15
Parasitoses intestinais: diagnóstico e tratamento

mento, as fezes devem ser coletadas por 3 dias podos (pulgas, besouros, borboletas, baratas),
para procurar proglotes de tênia para identifica- que são os hospedeiros intermediários e pos-
ção das espécies. As fezes devem ser reexamina- suem as larvas cisticercoides no seu interior. O
das para os ovos de tênia um e três meses após verme mede 10 a 60 cm. O rato é o hospedeiro
o tratamento para garantir que a infecção foi re- definitivo habitual.
solvida28.
Diagnóstico: microscopia direta

Tratamento: O tratamento de escolha é fei-


7. Himenolepíase
to com praziquantel. Nitazoxanida é a segunda
Epidemiologia: É a infestação intestinal pelo opção terapêutica. É comum a infecção persistir
cestoide Hymenolepis nana (conhecida como após o tratamento inicial, e o tratamento com
“tênia anã”), parasita habitual do homem e sem praziquantel a cada 20 dias precisa ser repetido
hospedeiro intermediário, ou eventualmente mais vezes28.
Hymenolepis diminuta, parasita habitual do rato.
É o cestoide mais comum em humanos. No Brasil
predomina nos estados do sul, com prevalência 8. Difilobotríase
de 3% a 10%, o mesmo ocorrendo nos países É a parasitose causada pelo cestoide Dyphylo-
da América Latina de clima mais temperado. Em botrium latum, conhecido como “tênia do peixe”.
clima tropical a prevalência é inferior a 1%. Pre- É o maior parasita intestinal humano e pode che-
domina entre os 2 e 15 anos de idade. Deveria gar a 10 metros de comprimento. O hábito de
ser de pouca importância, mas realmente é ca- ingerir peixe defumado ou cru (sushi, sashimi,
paz de provocar sintomas e sua erradicação total ceviche) favorece a transmissão, que é endêmi-
é difícil. ca em certas regiões do Chile, Peru, América do
Morfologia e ciclo biológico: O H. nana atin- Norte, Europa, Rússia e Japão. Os parasitas in-
ge 2 a 10 cm de comprimento e se fixa na região festam o intestino delgado e são consumidores
do íleo. A infestação se dá a partir da ingestão de vitamina B12. Em casos esporádicos chegam
dos ovos do meio externo ou por auto infesta- e desencadear o quadro completo de anemia
ção a partir da liberação intraluminal de ovos. perniciosa e, então, a anemia megaloblástica ou
As larvas cisticercoides se alojam nos linfáticos manifestações neurológicas podem ocorrer. Ra-
das vilosidades intestinais. Depois retornam ao ramente provocam obstrução intestinal. O trata-
lúmen e se tornam adultos. O ciclo é de 20 a 30 mento é feito com niclosamida ou praziquantel,
dias. A forma adulta vive só 14 dias, mas é uma associado à suplementação de vitamina B12 e
verminose que se perpetua, por meio da auto in- ácido fólico. Foram registrados casos de difilo-
festação contínua. botríase no Brasil em 2005 e 2006, em consu-
midores de sushi e sashimi, quando houve falha
Patogenia e manifestações clínicas: geral- na profilaxia (peixes importados de áreas endê-
mente a himenolepíase é assintomática, devido micas precisam ficar congelados a -20°C durante
ao pequeno número de parasitas. No entanto, 7 dias).
em crianças que sofrem grande contaminação e
que são desnutridas ou imunodeficientes, a auto
infestação se acelera e assim se dá a hiperinfes-
Protozoários
tação. No local infectado ocorre processo infla-
matório na mucosa e podem surgir sintomas ge-
rais, associados a cólicas abdominais e diarreia 1. Amebíase (Entamoeba histolytica)
crônica.
Agente e Epidemiologia: são duas espécies
A infestação por H. diminuta é rara e ocorre morfologicamente idênticas de protozoários:
pela ingestão acidental ou proposital de artró- 1) E. histolytica propriamente dita, patogênica

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e invasiva, capaz de causar diversas síndromes camadas mais profundas da parede do có-
clínicas graves, é responsável por milhares de lon, principalmente no hemi-cólon direito,
mortes anuais. Das mortes causadas por proto- ocorrendo úlceras profundas, isquemia, he-
zoários, só é superada pela malária; 2) E. dispar, morragia, megacólon tóxico, colite fulmi-
patógeno de baixa virulência e não invasivo, nante e às vezes perfuração. A mortalidade
responsável por 90% dos casos de amebíase no do quadro necrosante é elevada. Sua ocor-
mundo, especialmente as formas assintomáticas rência parece depender de debilidades
e a colite não disentérica. A primeira é a forma imunológicas e uso de imunossupressores.
predominante na Região Norte do Brasil e a se- O quadro é fulminante, com febre alta, fá-
gunda na Região Nordeste. cies toxêmica, sinais de choque hipovolê-
mico, sinais de peritonite, diarreia profusa
Ciclo biológico: a contaminação se dá pela
sanguinolenta e com odor de ovo podre,
ingestão de cistos maduros presentes em ali-
mais de 20.000 leucócitos no hemograma
mentos ou água contaminada. O desencistamen-
e distúrbios metabólicos; 4) ameboma: é
to ocorre pouco antes de alcançar o intestino
a formação de granuloma na mucosa no
grosso. Os cistos se multiplicam até se trans-
ceco, cólon ascendente ou anorretal, com
formar em trofozoítos. Por terem metabolismo
edema e estreitamento do lúmen. As mani-
anaeróbico são adaptados para viver nos cólons,
festações alternam momentos de diarréia
onde se alimentam de detritos e bactérias. Em
e constipação intestinal.
condições adversas, sofrem encistamento e são
c) Amebíase extra-intestinal: ocorre mais nos
eliminados com as fezes, contaminando o meio
adultos. Os trofozoítos de E. histolytica po-
ambiente. Quando o equilíbrio parasito-hospe-
dem migrar através da veia mesentérica
deiro é rompido, os trofozoítos invadem a muco-
superior e chegar ao fígado, promovendo
sa dos cólons e formam úlceras. Pela circulação
inflamação difusa, degeneração celular e
porta podem invadir outros órgãos, como fígado,
necrose. Assim se forma o abscesso hepá-
pulmão, pele e cérebro. Na intimidade dos teci-
tico amebiano, em geral no lobo direito. O
dos invadidos os trofozoítos são hematófagos.
paciente apresenta febre alta, dor intensa
Manifestações clínicas: são diversas formas no hipocôndrio direito com irradiações tí-
clínicas: picas de cólica biliar e hepatomegalia mui-
a) Amebíase assintomática: a grande maioria to dolorosa à palpação. Em geral não há ic-
dos portadores de amebíase terícia. Esta doença grave pode complicar
com infecção bacteriana secundária, rup-
b) Amebíase intestinal: 1) colite não disenté-
tura para a cavidade abdominal, com ele-
rica: cólicas abdominais, períodos de diar-
vada mortalidade, ruptura para o pulmão
reia com fezes líquidas ou semi-líquidas,
e pleura ou pericárdio. A disseminação he-
raramente com muco ou sangue, interca-
matogênica do trofozoíto pode determinar
lados com períodos de acalmia; 2) colite
localização da inflamação ou abscessos no
disentérica (disenteria amebiana): após
pulmão, pericárdio, pele, aparelho genitu-
período de incubação em média de um
rinário e cérebro.
mês, inicia-se febre moderada, distensão
abdominal, flatulência, cólicas abdominais Diagnóstico: o diagnóstico definitivo da in-
difusas ou na fossa ilíaca direita, disenteria fecção do trato intestinal depende da identifi-
com mais de 10 evacuações mucossangui- cação de trofozoítas ou cistos nas amostras de
nolentas por dia, tenesmo. Há inflamação e fezes. Pode ser feito o exame microscópico di-
úlceras na mucosa colônica. Podem ocorrer reto de fezes colhidas até 30 minutos ou com
distúrbios hidroeletrolíticos e desnutrição fixação em formol ou álcool polivinílico (dispo-
proteico-energética; 3) colite necrosante: nível em kits) para coloração permanente e sub-
a invasão do protozoário se estende para sequente exame microscópico. Não diferencia a

17
Parasitoses intestinais: diagnóstico e tratamento

E. histolytica de cepas menos patogênicas e tem trato intestinal ou doença extraintestinal


uma positividade somente de 72% a 76% dos (incluindo abscesso hepático): tratar com
casos, mesmo após a execução de seis exames amebicina tissular (metronidazol, tinida-
protoparasitológicos. zol ou secnidazol), seguido por um amebi-
cida intraluminal (teclosan ou etofamida).
Para auxiliar o diagnóstico foi desenvolvido
A nitazoxanida pode ser eficaz para ame-
um teste imunoenzimático (ELISA) para a pes-
bíase intestinal leve a moderada, embora
quisa do antígeno da E. histolytica nas fezes.
não seja aprovada pela Food and Drug Ad-
O método é capaz de diferenciar a infecção cau-
ministration (FDA) dos EUA para essa indi-
sada pela E. histolytica (patogênica) da E. díspar
cação.
(não-patogênica), sendo significativamente mais
sensível (97%), específico (99%) e rápido que • A aspiração percutânea ou cirúrgica de
os recursos tradicionais de investigação. grandes abscessos hepáticos pode ser oca-
sionalmente necessária quando a resposta
Reação em cadeia da polimerase (PCR) e rea- do abscesso à terapia medicamentosa é in-
ção com anticorpos monoclonais podem diferen- satisfatória ou existe risco de ruptura.
ciar a infecção por E. histolytica (patogênica) das
não-patogênicas. O exame de fezes de acompanhamento é re-
comendado após o término da terapia, porque
Outro método diagnóstico imunoenzimático nenhum esquema farmacológico é completa-
detecta anticorpos específico para E. histolytica mente efetivo na erradicação da infecção do tra-
em 95% ou mais em pacientes com amebíase to intestinal.
extraintestinal, 70% dos pacientes com infecção
intestinal ativa e 10% de pessoas assintomáti-
cas que estão eliminando cistos de E. histolytica. 2. Balantidíase (Balantidium coli)
Os pacientes podem continuar a ter resultados
É o maior protozoário causador de infecção
sorológicos positivos, mesmo após terapia ade-
intestinal humana e o único ciliado. É parasita
quada.
natural do porco, mas pode ser encontrado em
Tratamento: o tratamento deve ser priori- vários outros animais. A incidência da balantidí-
zado para todos os pacientes com E. histolytica, ase humana é baixa, porém a contaminação pode
incluindo aqueles que são assintomáticos, dada ocorrer no meio rural, principalmente entre cria-
a possibilidade desse parasito causar infecção dores de suínos. O local preferencial da infecção
invasiva e disseminar-se entre os membros da é o intestino grosso, especialmente o ceco. Pode
família. causar inflamação, invasão da submucosa e úl-
ceras, semelhantes às encontradas na amebía-
Nos locais em que os testes para distinguir
se. É uma infecção quase sempre assintomática.
espécies patogênicas de não-patogênicas não
Quando chega a causar sintomas, o quadro é se-
estão disponíveis, o tratamento deve ser admi-
melhante ao da colite amebiana. Pode eventual-
nistrado às crianças sintomáticas com base em
mente se tornar grave e letal.
resultados positivos de exame microscópico.
Diagnóstico: o diagnóstico é estabelecido
Os seguintes regimes são recomendados:
com a presença de trofozoítos (menos frequen-
• Paciente assintomático com excreção de temente, cistos) nas fezes ou espécimes de te-
cistos (infecções intraluminais): tratar ape- cido. Os exames de fezes são menos sensíveis,
nas com um amebicida intraluminal (teclo- e várias amostras podem ser necessárias, para o
san ou etofamida). O metronidazol não é diagnóstico, pois a eliminação do parasita pode
eficaz contra cistos. ser intermitente. O exame microscópico do ma-
• Pacientes com colite invasiva com sín- terial diarreico deve ser feito prontamente, por-
dromes leves a moderadas ou graves do que os trofozoítos degeneram rapidamente.

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O diagnóstico da infecção pode ser feito atra- Manifestações clínicas: a maioria das crian-
vés do exame histológico das lesões, por biópsia, ças infectadas com Giardia não manifesta qual-
via sigmoidoscopia ou colonoscopia ou parasito- quer sintoma. Na dependência de se tratar de
lógico das fezes. criança desnutrida, fisicamente debilitada por
doenças primárias, ou exposta a contaminação
Tratamento: a droga de escolha é a tetracicli-
ambiental intensa, então os sintomas aparecem.
na para crianças maiores de oito anos. As drogas
Há indícios de que a giardíase sintomática é mais
alternativas são metronidazol, iodoquinol e nita-
provável de ocorrer na primeira infecção por este
zoxanida.
protozoário, sendo assintomáticas as recidivas
posteriores. O segundo ano de vida parece ser
3. Giardíase o mais vulnerável para as formas graves da giar-
(Giardia duodenalis, Giardia lamblia) díase. O quadro clínico pode variar desde uma
diarreia aguda, com fezes líquidas, autolimitada,
Epidemiologia: protozoário flagelado, en- até um quadro arrastado por semanas ou meses
contrado principalmente em pré-escolares e es- e de intensidade variável. A criança pode mani-
colares e de distribuição cosmopolita. Parece ser festar apenas sintomas dispépticos gerais, como
o parasita intestinal mais prevalente no mundo náuseas, vômitos, distensão abdominal alta, dor
(4% a 8%), mesmo em famílias com renda fami- abdominal difusa ou epigástrica, flatulência e
liar média ou alta. Água não potável é uma das anorexia, ou pode manifestar uma síndrome de
maiores fontes de transmissão. Dissemina-se fa- má absorção muito semelhante à doença celíaca,
cilmente entre crianças de creche ou de abrigo. que inclui diarreia crônica esteatorreica ou cons-
Estima-se em 200 milhões os portadores de giar- tipação, perda de peso, parada de crescimento,
díase sintomática em todo o mundo. desnutrição proteico-energética, má absorção
secundária de lactose, enteropatia perdedora de
Ciclo biológico e Patogenia: a localização
proteínas, edema, hipoproteinemía, deficiência
preferida é o duodeno e jejuno. Os cistos pre-
de ferro, zinco, vitamina B12, ácido fólico, vita-
sentes no meio externo são ingeridos pela água
minas A e E.
ou alimentos contaminados. Transformam-se em
trofozoítos no duodeno, onde se multiplicam ra- Diagnóstico: os testes imunoenzimáticos
pidamente e se fixam à mucosa pelo disco suc- específicos (ELISA) e de imunofluorescência di-
torial. Em ocasiões imprevisíveis, os trofozoítos reta (IFD) nas fezes são os testes atualmente
se transformam em cistos e são eliminados com usados para o diagnóstico de giardíase. Esses
as fezes. A patogenia da giardíase inclui diversos testes baseados em antígeno têm substituído o
efeitos adversos induzidos por este protozoário, exame microscópico (MO) direto de ovos e pa-
nem todos comprovados: 1) atapetamento da rasitas como diagnóstico de primeira linha para
mucosa duodenal com formação de barreira me- giardíase. O ELISA tem uma sensibilidade de até
cânica; 2) atrofia vilositária de variados graus no 95% e especificidade de 98% a 100% com uma
intestino delgado, associada a infiltrado inflama- a duas amostras de fezes, melhor do que exame
tório e hipertrofia de criptas; 3) lesão nas estru- MO com três amostras.
turas do enterócito, vista em microscopia óptica
Também de ótimo desempenho são os testes
e eletrônica; 4) invasão da mucosa (fenômeno
moleculares de amplificação de antígeno ou áci-
raramente visto); 5) sobrecrescimento bacteria-
dos nucleicos (reação em cadeia da polimerase-
no no intestino delgado; 6) desconjugação de
-PCR) nas fezes.
ácidos biliares; 7) diminuição da atividade das
dissacaridases. Como consequência destes me- Tradicionalmente, o diagnóstico na prática
canismos a criança desenvolve má absorção de tem sido baseado na identificação microscópica
açúcares, gorduras, vitaminas A, D, E, K, B12, áci- de trofozoítos ou cistos em amostras de fezes.
do fólico e ferro, entre outros nutrientes. No entanto, a sensibilidade é baixa se a amos-

19
Parasitoses intestinais: diagnóstico e tratamento

tra contiver um pequeno número de parasitos. fratária para esses pacientes, maior duração do
Quando a giardíase é suspeita, mas o organismo tratamento ou combinação de terapia antipara-
não é encontrado em exames repetidos de fezes, sitária, por exemplo, metronidazol mais uma das
a análise de conteúdos duodenais obtidos por seguintes: paromomicina ou albendazol pode
aspiração direta pode ser diagnóstica. Eventual- ser necessária.
mente o diagnóstico é feito por biópsia duode-
O tratamento de portadores assintomáticos
nal ou intestinal em pacientes com sintomas clí-
não é recomendado, a não ser em domicílio de
nicos característicos que apresentam resultados
paciente com hipogamaglobulinemia, fibrose
negativos de fezes. Giardíase não está associada
cística ou outras imunodeficiências.
à eosinofilia.

Tratamento: algumas infecções são autoli-


mitadas e o tratamento não é necessário. O me- 4. Criptosporidiose (Cryptosporidium spp)
tronidazol, albendazol, nitazoxanida, tinidazol e A infecção por este protozoário ganhou gran-
secnidazol são os medicamentos de escolha. O de importância a partir da observação de que a
metronidazol é a terapia mais barata em relação criptosporidiose é frequente entre portadores da
às outras drogas. Pode ser usado por sete dias síndrome de imunodeficiência adquirida (AIDS).
com eficácia de 80% a 100% em pacientes pe- São várias espécies hoje reconhecidas como
diátricos. Uma dose de tinidazol ou secnidazol, causadoras de infecção humana (C. parvum,
tem eficácia de 80% a 100% e menos efeitos C. hominis e C. meleagridis). Apesar de ser um mi-
colaterais que o metronidazol. Um ciclo de três crorganismo oportunista, provoca também infec-
dias de suspensão oral de nitazoxanida tem efei- ção em pessoas imunocompetentes. A infecção
to semelhante ao metronidazol e a vantagem de é adquirida a partir da ingestão de água ou ali-
tratar outros parasitas intestinais sendo aprova- mentos contaminados com os oocistos. O local
do para uso em crianças a partir de um ano de preferencial da infecção é o intestino delgado,
idade. O mesmo se aplica para o albendazol. A onde os protozoários invadem os enterócitos e
paromomicina (aminoglicosídeo) é recomenda- se localizam em vacúolos parasitóforos superfi-
da para o tratamento de infecção sintomática em ciais extracitoplasmáticos. São capazes de inten-
mulheres grávidas no segundo e terceiro trimes- sa multiplicação, o que gera danos à morfologia
tre, com eficácia de 50% a 70%. dos enterócitos, atrofia vilositária intestinal e in-
A recorrência de sintomas após o término do tenso infiltrado inflamatório na mucosa.
tratamento pode ser atribuída a reinfecção, imu- A criptosporidiose é assintomática na maio-
nossupressão, tratamento insuficiente ou resis- ria dos infectados imunocompetentes, mas pode
tência a droga. Se há suspeita de reinfecção, um ocorrer quadro de diarreia aguda aquosa, volu-
segundo curso de tratamento pode ser eficaz. O mosa e autolimitada, com 3 a 12 dias de duração.
tratamento com classe diferente de droga é re- Em lactentes e pré-escolares pode evoluir para
comendado para giardíase resistente. diarreia persistente, desnutrição e desidratação.
Pacientes imunocomprometidos apresentam Nas pessoas imunodeprimidas por AIDS, neopla-
maior risco de giardíase, sendo difícil tratar es- sias, hipogamaglobulinemia ou uso de imuno-
ses pacientes. Nas crianças infectadas pelo vírus supressores, ocorre diarreia grave, prolongada
da imunodeficiência humana (HIV) a terapia an- e recidivante. Esta diarréia pode cursar com sín-
tiretroviral combinada com a terapia antiparasi- drome de má absorção e grande perda de peso, o
tária são primordiais para o tratamento dessas que é mais provável quando o número de linfóci-
infecções. tos CD4+ está abaixo de 200 por mm3. A criptos-
poridiose pode cursar com colecistite, colangite
Pacientes com AIDS frequentemente res- esclerosante, estenose de colédoco distal, hepa-
pondem à terapia padrão. Se a giardíase for re- tite ou pancreatite.

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Diagnóstico: o exame protoparasitológico mentos contaminados. No intestino delgado in-


de rotina não inclui a pesquisa para Cryptospo- vadem os enterócitos e multiplicam-se, causan-
ridium, assim a pesquisa desse parasita deve ser do danos na estrutura das células absortivas, na
solicitada especificamente. A detecção de oocis- arquitetura das vilosidades intestinais e proces-
tos nas fezes é feita pelo método de anticorpo so inflamatório. Na maioria das vezes a infecção
fluorescente direto pela microscopia, bem como é assintomática ou provoca diarreia aguda auto-
o ensaio imunoenzimático (ELISA) para pesqui- limitada. Em portadores de imunodeficiência o
sa do antígeno do Cryptosporidium sp. Esse úl- quadro é mais grave e arrastado, cursando com
timo método é significativamente mais sensível desidratação e síndrome de má absorção. Pode
(97%), específico (99%) e rápido do que as téc- levar a adenite mesentérica, invasão do baço e
nicas anteriormente usadas. Além disso, não há fígado e colecistite.
descrição de reação cruzada (falso-positivo) com
Diagnóstico: o diagnóstico é feito pela iden-
outros parasitas.
tificação dos oocistos nas fezes, em aspirados
Métodos moleculares (PCR) têm sido usados, duodenais ou em amostras de biópsia de intes-
aumentando a detecção do parasita. tino delgado.

Como a eliminação pode ser intermitente pelo Os oocistos podem ser eliminados em baixo
menos 3 amostras de fezes devem ser analisadas número, mesmo com diarreia abundante, necessi-
antes de considerar os resultados negativos. tando a investigação em pelo menos três amostras
de fezes. São necessários métodos mais sensíveis
Tratamento: a terapia específica geralmente
e métodos que destaquem os oocistos (microsco-
não está indicada para as pessoas imunocompe-
pia de fluorescência ultravioleta). Tem-se utiliza-
tentes. O tratamento indicado é com a nitazoxa-
do as técnicas de Kinyoun (método Ziehl-Neelsen
nida durante 3 a 14 dias na diarreia associada à
modificado) e Auramina-Rodamina, corando-se
criptosporidiose em pacientes com um ano ou
em vermelho intenso o esporoblasto da Isospo-
mais. Cursos de nitazoxanida por períodos maio-
ra belli. O laboratório deve ser notificado que há
res que 14 dias estão recomendados em pacien-
suspeita clínica de parasita coccídio, para que se-
tes receptores de transplantes de órgãos sóli-
jam utilizados métodos específicos, além do exa-
dos para o tratamento da diarreia causada por
me tradicional de ovos e parasitas.
Cryptosporidium, apesar da baixa eficácia.
Tratamento: Sulfametoxazol-trimetoprim, por
Em pacientes infectados pelo HIV, a melhora
7 a 10 dias, tem sido a droga de escolha. A pirime-
na contagem de linfócitos T CD4+ associada à te-
tamina pode ser uma opção para pacientes com
rapia antirretroviral pode levar à resolução dos
intolerância ao sulfametoxazol-trimetoprim. A
sintomas e à cessação da eliminação dos oocistos.
nitazoxanida tem sido estudada, mas com resul-
Assim, a administração da terapia antirretroviral
tados limitados.
combinada é o principal tratamento para a crip-
tosporidiose em pacientes com infecção pelo HIV. Os pacientes imunocomprometidos podem
precisar de doses mais altas e tratamentos mais
prolongados. Em crianças e adolescentes coin-
5. Isosporíase (Isospora belli) fectados com HIV a terapia de manutenção de-
Protozoário da classe dos esporozoários e pende da situação imunológica (contagem de
subclasse dos coccídeos. No Haiti a prevalência linfócitos CD4/CD8).
é de 15%, enquanto que na população brasileira
é menor que 1%. Entre portadores de AIDS é de
6. Blastomicose (Blastocystis hominis)
2%, chegando a 7% entre os doentes de AIDS
com diarreia. Estes protozoários são adquiridos Microrganismo comensal, é talvez o proto-
pela ingestão de oocistos através da água e ali- zoário mais presente nas fezes humanas. Even-

21
Parasitoses intestinais: diagnóstico e tratamento

tualmente em pessoas imunodeprimidas, espe- do. Passou a ser diagnosticado a partir do apa-
cialmente com AIDS, pode causar infecção tanto recimento da AIDS. É mais um enteropatógeno
no intestino delgado quanto no intestino grosso. predominante em indivíduos imunodeficientes.
As manifestações clínicas envolvem desde sinto- Ocasiona processo inflamatório e atrofia vilosi-
mas gastrointestinais inespecíficos até um qua- tária no intestino delgado. Os sintomas de diar-
dro de diarreia aguda e eventualmente crônica. reia e má absorção intestinal podem ser graves
nos portadores da AIDS e, por outro lado, leves
Diagnóstico: espécimes do parasita nas fezes
e autolimitados ou ausentes em pessoas imuno-
podem ser vistas por MO. O estágio do trofozoita
competentes.
é muito difícil de identificar e raramente é visto.
Diagnóstico: o diagnóstico é feito pela
Tratamento: as indicações para tratamento
identificação microscópica de oocistos (8 a 10
não estão estabelecidas. Alguns especialistas
μm) nas fezes, fluídos/aspirados intestinais, ou
recomendam o tratamento para pacientes que
biopsias. O diâmetro do oocisto é o dobro do
apresentam sintomas persistentes. As drogas in-
Criptosporidium. Tem-se utilizado as técnicas
dicadas são a nitazoxanida e o metronidazol. O
de Kinyoun (método Ziehl-Neelsen modificado)
tinidazol pode ser uma opção nos pacientes com
onde os oocistos tingem-se de vermelho pálido
intolerância ao metronidazol.
ou róseo.

Tratamento: a droga de escolha é o sulfa-


7. Ciclosporose (Cyclospora cayetanensis)
metoxazol-trimetoprim, por 7 a 10 dias. Pacien-
É um coccídio intracelular parecido com o tes imunocomprometidos necessitam períodos
Cryptosporidium spp., com o qual é confundi- maiores de tratamento.

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Diretoria
Triênio 2019/2021

PRESIDENTE: MEMBROS: Dirceu Solé (SP) Luciana Rodrigues Silva (BA)


Luciana Rodrigues Silva (BA) Henrique Mochida Takase (SP) Joel Alves Lamounier (MG) Dirceu Solé (SP)
1º VICE-PRESIDENTE: João Carlos Batista Santana (RS) EDITORES ASSOCIADOS: Evelyn Eisenstein (RJ)
Clóvis Francisco Constantino (SP) Luciana Cordeiro Souza (PE) Danilo Blank (RS) Daniel Becker (RJ)
2º VICE-PRESIDENTE: Luciano Amedée Péret Filho (MG) Paulo Roberto Antonacci Carvalho (RJ) Ricardo do Rêgo Barros (RJ)
Edson Ferreira Liberal (RJ) Mara Morelo Rocha Felix (RJ) Renata Dejtiar Waksman (SP) OFTALMOLOGIA PEDIÁTRICA:
Marilucia Rocha de Almeida Picanço (DF) COORDENAÇÃO:
SECRETÁRIO GERAL: Vera Hermina Kalika Koch (SP) COORDENAÇÃO DO PRONAP
Sidnei Ferreira (RJ) Fernanda Luísa Ceragioli Oliveira (SP) Fábio Ejzenbaum (SP)
DIRETORIA DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS Tulio Konstantyner (SP) MEMBROS:
1º SECRETÁRIO: Nelson Augusto Rosário Filho (PR)
Ana Cristina Ribeiro Zöllner (SP) Cláudia Bezerra de Almeida (SP) Luciana Rodrigues Silva (BA)
Sergio Augusto Cabral (RJ) Dirceu Solé (SP)
2º SECRETÁRIO: COORDENAÇÃO DO TRATADO DE PEDIATRIA
REPRESENTANTE NA AMÉRICA LATINA Luciana Rodrigues Silva (BA) Galton Carvalho Vasconcelos (MG)
Paulo de Jesus Hartmann Nader (RS) Ricardo do Rego Barros (RJ) Julia Dutra Rossetto (RJ)
Fábio Ancona Lopez (SP)
3º SECRETÁRIO: DIRETORIA DE DEFESA PROFISSIONAL Luisa Moreira Hopker (PR)
Virgínia Resende Silva Weffort (MG) DIRETORIA DE ENSINO E PESQUISA
COORDENAÇÃO: Joel Alves Lamounier (MG) Rosa Maria Graziano (SP)
DIRETORIA FINANCEIRA: Fabio Augusto de Castro Guerra (MG) Celia Regina Nakanami (SP)
Maria Tereza Fonseca da Costa (RJ) COORDENAÇÃO DE PESQUISA
MEMBROS: Cláudio Leone (SP) SAÚDE MENTAL
2ª DIRETORIA FINANCEIRA: Gilberto Pascolat (PR) COORDENAÇÃO:
Cláudio Hoineff (RJ) Paulo Tadeu Falanghe (SP) COORDENAÇÃO DE GRADUAÇÃO Roberto Santoro P. de Carvalho Almeida (RJ)
Cláudio Orestes Britto Filho (PB) COORDENAÇÃO:
3ª DIRETORIA FINANCEIRA: Rosana Fiorini Puccini (SP) MEMBROS:
Hans Walter Ferreira Greve (BA) João Cândido de Souza Borges (CE) Daniele Wanderley (BA)
Anenisia Coelho de Andrade (PI) MEMBROS: Vera Lucia Afonso Ferrari (SP)
DIRETORIA DE INTEGRAÇÃO REGIONAL Rosana Alves (ES)
Fernando Antônio Castro Barreiro (BA) Isabel Rey Madeira (RJ) Rossano Cabral Lima (RJ)
Donizetti Dimer Giamberardino Filho (PR) Suzy Santana Cavalcante (BA) Gabriela Judith Crenzel (RJ)
COORDENADORES REGIONAIS Jocileide Sales Campos (CE) Angélica Maria Bicudo-Zeferino (SP) Cecy Dunshee de Abranches (RJ)
NORTE: Maria Nazareth Ramos Silva (RJ) Silvia Wanick Sarinho (PE) Adriana Rocha Brito (RJ)
Bruno Acatauassu Paes Barreto (PA) Gloria Tereza Lima Barreto Lopes (SE) COORDENAÇÃO DE RESIDÊNCIA E ESTÁGIOS
Adelma Alves de Figueiredo (RR) MUSEU DA PEDIATRIA
Corina Maria Nina Viana Batista (AM) EM PEDIATRIA COORDENAÇÃO:
NORDESTE: DIRETORIA DOS DEPARTAMENTOS CIENTÍFICOS E COORDENAÇÃO: Edson Ferreira Liberal (RJ)
Anamaria Cavalcante e Silva (CE) COORDENAÇÃO DE DOCUMENTOS CIENTÍFICOS Ana Cristina Ribeiro Zöllner (SP)
Eduardo Jorge da Fonseca Lima (PE) MEMBROS:
Dirceu Solé (SP) MEMBROS: Mario Santoro Junior (SP)
SUDESTE: DIRETORIA-ADJUNTA DOS DEPARTAMENTOS Eduardo Jorge da Fonseca Lima (PE) José Hugo de Lins Pessoa (SP)
Rodrigo Aboudib Ferreira Pinto (ES) CIENTÍFICOS Fátima Maria Lindoso da Silva Lima (GO)
Isabel Rey Madeira (RJ) Paulo de Jesus Hartmann Nader (RS) REDE DA PEDIATRIA
Emanuel Savio Cavalcanti Sarinho (PE) COORDENAÇÃO:
SUL: DIRETORIA DE CURSOS, EVENTOS E PROMOÇÕES Victor Horácio da Costa Junior (PR)
Silvio da Rocha Carvalho (RJ) Luciana Rodrigues Silva (BA)
Darci Vieira Silva Bonetto (PR) COORDENAÇÃO: Rubem Couto (MT)
Helena Maria Correa de Souza Vieira (SC) Lilian dos Santos Rodrigues Sadeck (SP) Tânia Denise Resener (RS)
Delia Maria de Moura Lima Herrmann (AL) MEMBROS:
CENTRO-OESTE: MEMBROS:
Regina Maria Santos Marques (GO) Helita Regina F. Cardoso de Azevedo (BA) SOCIEDADE ACREANA DE PEDIATRA:
Ricardo Queiroz Gurgel (SE) Jefferson Pedro Piva (RS) Ana Isabel Coelho Montero
Natasha Slhessarenko Fraife Barreto (MT) Paulo César Guimarães (RJ) Sérgio Luís Amantéa (RS) SOCIEDADE ALAGOANA DE PEDIATRIA:
COMISSÃO DE SINDICÂNCIA Cléa Rodrigues Leone (SP) Susana Maciel Wuillaume (RJ)
TITULARES: Ana Carolina de Carvalho Ruela Pires
COORDENAÇÃO DO PROGRAMA DE REANIMAÇÃO Aurimery Gomes Chermont (PA)
Gilberto Pascolat (PR) NEONATAL Luciano Amedée Péret Filho (MG) SOCIEDADE AMAZONENSE DE PEDIATRIA:
Aníbal Augusto Gaudêncio de Melo (PE) Maria Fernanda Branco de Almeida (SP) Elena Marta Amaral dos Santos
Maria Sidneuma de Melo Ventura (CE) COORDENAÇÃO DE DOUTRINA PEDIÁTRICA
Ruth Guinsburg (SP) Luciana Rodrigues Silva (BA) SOCIEDADE AMAPAENSE DE PEDIATRIA:
Isabel Rey Madeira (RJ) Rosenilda Rosete de Barros
Valmin Ramos da Silva (ES) COORDENAÇÃO PALS – REANIMAÇÃO PEDIÁTRICA Hélcio Maranhão (RN)
Alexandre Rodrigues Ferreira (MG) COORDENAÇÃO DAS LIGAS DOS ESTUDANTES SOCIEDADE BAIANA DE PEDIATRIA:
SUPLENTES: Kátia Laureano dos Santos (PB) Dolores Fernandez Fernandez
Paulo Tadeu Falanghe (SP) Adelma Figueiredo (RR)
COORDENAÇÃO BLS – SUPORTE BÁSICO DE VIDA André Luis Santos Carmo (PR) SOCIEDADE CEARENSE DE PEDIATRIA:
Tânia Denise Resener (RS) Anamaria Cavalcante e Silva
João Coriolano Rego Barros (SP) Valéria Maria Bezerra Silva (PE) Marynea Silva do Vale (MA)
Marisa Lopes Miranda (SP) COORDENAÇÃO DO CURSO DE APRIMORAMENTO Fernanda Wagner Fredo dos Santos (PR) SOCIEDADE DE PEDIATRIA DO DISTRITO FEDERAL:
Joaquim João Caetano Menezes (SP) EM NUTROLOGIA PEDIÁTRICA (CANP) GRUPOS DE TRABALHO Dennis Alexander Rabelo Burns
CONSELHO FISCAL Virgínia Weffort (MG) DROGAS E VIOLÊNCIA NA ADOLESCÊNCIA SOCIEDADE ESPIRITOSSANTENSE DE PEDIATRIA:
TITULARES: PEDIATRIA PARA FAMÍLIAS COORDENAÇÃO: Roberta Paranhos Fragoso
Núbia Mendonça (SE) Nilza Maria Medeiros Perin (SC) João Paulo Becker Lotufo (SP) SOCIEDADE GOIANA DE PEDIATRIA:
Nelson Grisard (SC) Normeide Pedreira dos Santos (BA) MEMBROS: Marise Helena Cardoso Tófoli
Antônio Márcio Junqueira Lisboa (DF) Marcia de Freitas (SP) Evelyn Eisenstein (RJ) SOCIEDADE DE PUERICULTURA E PEDIATRIA
SUPLENTES: PORTAL SBP Alberto Araujo (RJ) DO MARANHÃO: Marynea Silva do Vale
Adelma Alves de Figueiredo (RR) Luciana Rodrigues Silva (BA) Sidnei Ferreira (RJ) SOCIEDADE MINEIRA DE PEDIATRIA:
João de Melo Régis Filho (PE) PROGRAMA DE ATUALIZAÇÃO CONTINUADA Adelma Alves de Figueiredo (RR) Marisa Lages Ribeiro
Darci Vieira da Silva Bonetto (PR) À DISTÂNCIA Nivaldo Sereno de Noronha Júnior (RN) SOCIEDADE DE PEDIATRIA DO MATO GROSSO
ASSESSORES DA PRESIDÊNCIA PARA POLÍTICAS Luciana Rodrigues Silva (BA) Suzana Maria Ramos Costa (PE) DO SUL: Carmen Lucia de Almeida Santos
PÚBLICAS: Edson Ferreira Liberal (RJ) Iolanda Novadski (PR)
Beatriz Bagatin Bermudez (PR) SOCIEDADE MATOGROSEENSE DE PEDIATRIA:
COORDENAÇÃO: Natasha Slhessarenko Fraife Barreto (MT) Mohamed Kassen Omais
Maria Tereza Fonseca da Costa (RJ) Ana Alice Ibiapina Amaral Parente (RJ) Darci Vieira Silva Bonetto (PR)
Carlos Eduardo Reis da Silva (MG) SOCIEDADE PARAENSE DE PEDIATRIA:
MEMBROS: DOCUMENTOS CIENTÍFICOS Vilma Francisca Hutim Gondim de Souza
Luciana Rodrigues Silva (BA) Paulo César Pinho Ribeiro (MG)
Clóvis Francisco Constantino (SP) Milane Cristina De Araújo Miranda (MA) SOCIEDADE PARAIBANA DE PEDIATRIA:
Maria Albertina Santiago Rego (MG) Dirceu Solé (SP)
Emanuel Sávio Cavalcanti Sarinho (PE) Ana Marcia Guimarães Alves (GO) Leonardo Cabral Cavalcante
Donizetti Dimer Giamberardino Filho (PR) Camila dos Santos Salomão (AP)
Sérgio Tadeu Martins Marba (SP) Joel Alves Lamounier (MG) SOCIEDADE DE PEDIATRIA DE PERNAMBUCO:
Alda Elizabeth Boehler Iglesias Azevedo (MT) DIRETORIA DE PUBLICAÇÕES DOENÇAS RARAS Katia Galeão Brandt
Evelyn Eisenstein (RJ) Fábio Ancona Lopez (SP) COORDENAÇÃO: SOCIEDADE DE PEDIATRIA DO PIAUÍ:
Paulo Augusto Moreira Camargos (MG) Salmo Raskin (PR) Anenisia Coelho de Andrade
EDITORES DA REVISTA SBP CIÊNCIA
João Coriolano Rego Barros (SP) Joel Alves Lamounier (MG) MEMBROS: SOCIEDADE PARANAENSE DE PEDIATRIA:
Alexandre Lopes Miralha (AM) Altacílio Aparecido Nunes (SP) Magda Maria Sales Carneiro Sampaio (SP) Kerstin Taniguchi Abagge
Virgínia Weffort (MG) Paulo Cesar Pinho Ribeiro (MG) Ana Maria Martins (SP)
Claudio Cordovil (RJ) SOCIEDADE DE PEDIATRIA DO ESTADO
Themis Reverbel da Silveira (RS) Flávio Diniz Capanema (MG) DO RIO DE JANEIRO: Katia Telles Nogueira
DIRETORIA E COORDENAÇÕES Lavinia Schuler Faccini (RS)
EDITORES DO JORNAL DE PEDIATRIA (JPED) SOCIEDADE DE PEDIATRIA DO RIO GRANDE
DIRETORIA DE QUALIFICAÇÃO E CERTIFICAÇÃO COORDENAÇÃO: ATIVIDADE FÍSICA
COORDENAÇÃO: DO NORTE: Katia Correia Lima
PROFISSIONAL Renato Procianoy (RS) SOCIEDADE DE PEDIATRIA DE RONDÔNIA:
Maria Marluce dos Santos Vilela (SP) Ricardo do Rêgo Barros (RJ)
MEMBROS: Luciana Rodrigues Silva (BA) José Roberto Vasques de Miranda
Edson Ferreira Liberal (RJ) Crésio de Aragão Dantas Alves (BA)
MEMBROS: SOCIEDADE RORAIMENSE DE PEDIATRIA:
COORDENAÇÃO DE CERTIFICAÇÃO PROFISSONAL Paulo Augusto Moreira Camargos (MG) Adelma Alves de Figueiredo
José Hugo de Lins Pessoa (SP) João Guilherme Bezerra Alves (PE) Helita Regina F. Cardoso de Azevedo (BA)
Marco Aurelio Palazzi Safadi (SP) Patrícia Guedes de Souza (BA) SOCIEDADE DE PEDIATRIA DO RIO GRANDE DO SUL:
COORDENAÇÃO DE ÁREA DE ATUAÇÃO Teresa Maria Bianchini de Quadros (BA) Sérgio Luis Amantea
Mauro Batista de Morais (SP) Magda Lahorgue Nunes (RS)
Giselia Alves Pontes da Silva (PE) Alex Pinheiro Gordia (BA) SOCIEDADE CATARINENSE DE PEDIATRIA:
Kerstin Tanigushi Abagge (PR) Isabel Guimarães (BA)
Ana Alice Ibiapina Amaral Parente (RJ) Dirceu Solé (SP) Rosamaria Medeiros e Silva
Antonio Jose Ledo Alves da Cunha (RJ) Jorge Mota (Portugal)
COORDENAÇÃO DO CEXTEP Mauro Virgílio Gomes de Barros (PE) SOCIEDADE SERGIPANA DE PEDIATRIA:
(COMISSÃO EXECUTIVA DO TÍTULO DE EDITORES REVISTA RESIDÊNCIA PEDIÁTRICA Dirceu Solé (SP) Ana Jovina Barreto Bispo
ESPECIALISTA EM PEDIATRIA) EDITORES CIENTÍFICOS: SOCIEDADE DE PEDIATRIA DE SÃO PAULO:
Clémax Couto Sant’Anna (RJ) METODOLOGIA CIENTÍFICA
COORDENAÇÃO: COORDENAÇÃO: Sulim Abramovici
Hélcio Villaça Simões (RJ) Marilene Augusta Rocha Crispino Santos (RJ) SOCIEDADE TOCANTINENSE DE PEDIATRIA:
Marilene Augusta Rocha Crispino Santos (RJ)
MEMBROS: EDITORA ADJUNTA: Elaine Carneiro Lobo
Márcia Garcia Alves Galvão (RJ) MEMBROS:
Ricardo do Rego Barros (RJ) Gisélia Alves Pontes da Silva (PE) DIRETORIA DE PATRIMÔNIO
Clovis Francisco Constantino (SP) CONSELHO EDITORIAL EXECUTIVO: Cláudio Leone (SP) COORDENAÇÃO:
Ana Cristina Ribeiro Zöllner (SP) Sidnei Ferreira (RJ) Fernando Antônio Castro Barreiro (BA)
Carla Príncipe Pires C. Vianna Braga (RJ) Isabel Rey Madeira (RJ) PEDIATRIA E HUMANIDADE
COORDENAÇÃO: Cláudio Barsanti (SP)
Flavia Nardes dos Santos (RJ) Sandra Mara Moreira Amaral (RJ) Edson Ferreira Liberal (RJ)
Cristina Ortiz Sobrinho Valete (RJ) Maria de Fátima Bazhuni Pombo March (RJ) Álvaro Jorge Madeiro Leite (CE)
Luciana Rodrigues Silva (BA) Sergio Antônio Bastos Sarrubo (SP)
Grant Wall Barbosa de Carvalho Filho (RJ) Silvio da Rocha Carvalho (RJ) Maria Tereza Fonseca da Costa (RJ)
Sidnei Ferreira (RJ) Rafaela Baroni Aurílio (RJ) Clóvis Francisco Constantino (SP)
João de Melo Régis Filho (PE) ACADEMIA BRASILEIRA DE PEDIATRIA
Silvio Rocha Carvalho (RJ) Leonardo Rodrigues Campos (RJ) PRESIDENTE:
Álvaro Jorge Madeiro Leite (CE) Dilza Teresinha Ambros Ribeiro (AC)
COMISSÃO EXECUTIVA DO EXAME PARA Aníbal Augusto Gaudêncio de Melo (PE) Mario Santoro Júnior (SP)
OBTENÇÃO DO TÍTULO DE ESPECIALISTA EM Eduardo Jorge da Fonseca Lima (PE)
Marcia C. Bellotti de Oliveira (RJ) Crésio de Aragão Dantas Alves (BA) VICE-PRESIDENTE:
PEDIATRIA AVALIAÇÃO SERIADA Luiz Eduardo Vaz Miranda (RJ)
COORDENAÇÃO: CONSULTORIA EDITORIAL: CRIANÇA, ADOLESCENTE E NATUREZA
Eduardo Jorge da Fonseca Lima (PE) Ana Cristina Ribeiro Zöllner (SP) COORDENAÇÃO: SECRETÁRIO GERAL:
Victor Horácio de Souza Costa Junior (PR) Fábio Ancona Lopez (SP) Laís Fleury (RJ) Jefferson Pedro Piva (RS)

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