RESUMO
O presente artigo objetivou identificar a maneira como a prática do futsal contribui para
o desenvolvimento das Inteligências Múltiplas (IM) na infância e adolescência. Além
de explorar os diferentes tipos de inteligência e suas ligações com o esporte e
descrever a importância e os benefícios que envolvem a modalidade, colocou em
pauta a reflexão de como poderíamos explorar de maneira mais assertiva o esporte
futsal, como ferramenta de amplo desenvolvimento na infância e adolescência,
através do ensino-aprendizagem de seus elementos. Diante das características
pesquisadas da modalidade abordamos de que maneira a teoria das Inteligências
Múltiplas poderia nortear nossa busca por uma intervenção cada vez mais qualificada,
sendo que através da pesquisa bibliográfica que neste artigo foi realizada, o futsal
mostrou-se uma importante ferramenta geradora de estímulos às Inteligências
Múltiplas, e ao amplo desenvolvimento do indivíduo, mediante uma intervenção
profissional qualificada.
1. INTRODUÇÃO
Este estudo pretende mostrar como o professor da iniciação e formação
esportiva tem a responsabilidade, e a oportunidade de desenvolver vários conteúdos,
através de abordagens estruturadas, promovendo práticas pedagógicas que
complementam a educação. As atividades que fazem uso da linguagem corporal como
elemento de aprendizagem podem vir a ser um recurso essencial para proporcionar
novas experiências, como o desenvolvimento e aprendizado de capacidades de
acordo com a Teoria das Inteligências Múltiplas (IM) de Gardner. (GARDNER et al.,
2009; BALBINO, 2001).
Com um enfoque nas múltiplas capacidades e habilidades que os indivíduos
possuem, e de sua competência em resolver problemas perante os estímulos que o
ambiente dos jogos proporciona, este artigo traz a reflexão de como temos estimulado
nossos alunos nas escolinhas de futsal e nos ambientes de prática esportiva dentro
das escolas, revelando críticas à especialização precoce e propondo uma maior
potencialização do esporte no âmbito da educação.
Dentro do contexto de educação, no qual se insere o pressuposto do
desenvolvimento das oito inteligências e a ideia testada e já bastante difundida
mundialmente de considera-las como aspectos relevantes e norteadores nos
processos de ensino-aprendizagem de crianças e adolescentes conforme nos aponta
Gardner et al. (2009) a prática de esportes orientados por profissionais devidamente
qualificados, se mostra uma ferramenta de grande importância para o
desenvolvimento das mesmas, através da pedagogia do esporte e seu ideal de
desenvolvimento global dos indivíduos em idade escolar (GARGANTA, 1998).
O alto grau de imprevisibilidade, os elementos e suas possibilidades permitem
aos praticantes do futsal, resoluções de situações problema a todo instante, onde é
gerada grande riqueza de estímulos propícios ao desenvolvimento dos diferentes tipos
de inteligência. (BALBINO, 2001).
Introduzindo-nos ao conceito da teoria das Inteligências Múltiplas, Gardner
(1994) descreve que cada pessoa teria todos os potenciais de inteligência, e
acrescenta que alguns são mais desenvolvidos que outros no decorrer das nossas
vidas por vários fatores, especialmente pelos estímulos recebidos.
Neste Artigo, destacaremos o Futsal como ferramenta Pedagógica, a ser
utilizada desde a infância, que para Garganta (1998) deve objetivar o bom
desenvolvimento do ser humano de forma global, preparando-o para o futuro.
2. INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS
A teoria das (IM) foi criada em 1983 por Howard Gardner, pesquisador e
psicólogo do desenvolvimento humano, ao trabalhar com indivíduos com lesões
cerebrais, questões de desenvolvimento humano e cognição nos centros de pesquisa
de Boston Veterans Administration Medical Center e na Escola de Pós Graduação em
Educação de Harvard, se perguntou o que se sabia sobre a natureza e o potencial
humano? O que já se havia determinado na época sobre cognição humana a partir
das ciências biológicas, psicológicas e sociais (GARDNER et al., 2009)?
Gardner et al. (1994, 2009) relata que foram realizados estudos em genética,
neurociência, psicologia, educação, antropologia entre outras disciplinas e
subdisciplinas, chegou-se a uma definição sobre inteligência, onde a considera um
potencial biopsicológico de processar informações de determinadas maneiras para
resolver problemas ou criar produtos por, pelo menos, uma cultura ou comunidade.
A partir daí, Gardner (1994) passa a contestar entendimentos culturais sobre a
inteligência como o fator hereditariedade, onde a pessoa nasce mais ou menos
inteligente, os estudos da psicometria da inteligência e os testes de Quociente
Inteligente (QI) onde ao se medir a “inteligência” do indivíduo poderia
consequentemente separá-los entre mais ou menos inteligentes.
Corroborando com essa ideia Antunes (2010, p.11) descreve a inteligência
como “capacidade cerebral pela qual conseguimos penetrar na compreensão das
coisas escolhendo o melhor caminho”, e ainda nos traz a origem da palavra
inteligência que vem da junção de duas palavras latinas: inter = entre e eligere =
escolher, nos dando uma boa noção do que de fato significa.
A ciência do cérebro evolui a cada ano que passa, e Balbino (2001) falando
sobre a teoria das (IM) de Gardner, relembra que o cérebro e seu complexo
funcionamento, em muitos aspectos é um mundo a ser descoberto, e continua sendo
ainda hoje, e Gardner (1994) destaca sua grande capacidade de adaptação,
combinação dos neurônios, sua capacidade de reter memória e sua adaptabilidade
de determinadas áreas a novas funções quando lesadas.
O criador da teoria, Gardner et al. (1994, 2009) contrapunha a clássica visão
sobre inteligência, onde somente eram valorizadas como tal, as habilidades lógico-
matemática e verbal-linguística, deixando de lado tantas outras possíveis a serem
utilizadas para a resolução de problemas. Com base nos seus estudos, ele cria então
alguns critérios, para que se pudesse considerar ou não um conjunto de determinadas
habilidades como inteligência de fato, que seriam: Isolamento potencial por dano
cerebral; Existência de pessoas com perfil de inteligência inusitados que sem
nenhuma lesão cerebral apresentem desempenho excepcional em determinada
habilidade e desempenho medíocre em outras áreas, prodígios e outros indivíduos
excepcionais; Operação central ou conjunto de operações identificáveis; Trajetória de
desenvolvimento característica, culminando em desempenho especializado; História
e plausibilidade evolutivas; Apoio de tarefas psicológicas experimentais; Apoio de
dados psicométricos; Suscetibilidade à codificação em um sistema simbólico.
2.2 FUTSAL
O futsal é um dos esportes mais praticados no Brasil, se somados ao Futebol
(modalidade da qual é oriunda) somam-se mais de 40 milhões de praticantes segundo
(SEBRAE, 2014). É perceptível que futsal e futebol se misturam no imaginário das
pessoas, especialmente nos das crianças, com a tradição de “jogar bola” sofrendo
influência do grande apelo midiático que estes esportes oferecem somados ao seu
amplo contexto histórico e cultural, principalmente em nosso país.
Conforme relatam Raschka e Costa (2011) assim como outros esportes que
antigamente surgiram somente como atividades lúdicas de lazer, o futebol e
posteriormente também o futsal acompanharam a tendência das sociedades
modernas industriais e se tornaram atividades profissionais, não só para atletas e
técnicos, mas para toda uma gama de profissionais envolvidos no processo. Para
Pinto e Santana (2005) a forte relação afetiva destas modalidades com a sociedade
gera uma grande demanda da prática, principalmente das crianças, em clubes,
escolinhas esportivas e dentro do próprio contexto escolar. Ao analisarmos futsal e
futebol, considerando a crescente urbanização das cidades, neste sentido da prática
o futsal sai na frente pela sua maior facilidade em termos de adequação de espaço e
estrutura quando se comparado ao futebol, assim como no número reduzido de
jogadores e sua dinâmica organizacional mais acessível. O jogo futsal assim como
toda atividade física promove a saúde de quem a pratica, quanto aos benefícios
relacionados diretamente a esta modalidade, podemos destacar o aumento da
capacidade cardiorrespiratória, da força/resistência muscular, da flexibilidade e a
diminuição da gordura corporal (RASCHKA e COSTA, 2011).
O futsal, assim como o esporte em geral, tem como suas principais dimensões
sociais de aplicação o lazer, a performance e a educação (DE ALMEIDA MORENO,
2007). Em nossa pesquisa iremos abordar mais especificamente o futsal como
ferramenta educativa, e para isso adentraremos em seus aspectos mais relevantes a
este cenário.
A prática do jogo futsal consiste em duas equipes com cinco jogadores cada,
sendo que quatro são jogadores de linha e um, o goleiro. O objetivo do jogo de forma
geral está em marcar gols na baliza adversária ao passo que se tenta impedir seus
oponentes de marcar gols na sua própria (RASCHKA e COSTA, 2011).
O jogo acontece em uma quadra retangular com dimensões que oficialmente
tem 20 metros de largura e comprimento de 40 metros que resultam em 800 m² como
regulamenta a Confederação Brasileira de futsal, a CBFS (2021) porém esse
tamanho pode variar um pouco, principalmente quando se trata de quadras que não
são utilizadas para jogos e competições oficiais.
O futsal se enquadra no conceito de jogos esportivos coletivos (JEC) do qual
fazem parte esportes como o voleibol, o basquete e o handebol como nos diz Balbino
(2001) e Teodorescu (1984), se destacam pela atividade cooperativa dentro de uma
mesma equipe que de forma conjunta, busca um objetivo em comum no campo de
jogo.
Além da cooperação, o futsal também tem como aspecto muito importante a
oposição de seus adversários, ao mesmo tempo em que acontece a cooperação de
seus companheiros de equipe, as tantas variáveis, são o que tornam este esporte tão
imprevisível, dinâmico e apaixonante (GRECO E SILVA, 2009).
Greco e Silva (2009) ainda apontam que este confronto acontece em um
mesmo espaço comum, caracterizando-o como esporte de invasão, onde
defensivamente os objetivos são baseados em proteger o alvo, impedir a progressão
adversária e recuperar a posse de bola. Enquanto os objetivos ofensivos são
conservar a posse de bola, progredir em direção ao alvo e finalizar em gol.
No ponto de vista estratégico-tático do jogo para Silva (2018) a organização de
uma equipe busca constantemente a desorganização da outra, com o intuito de
alcançar os objetivos aqui já citados. Tal complexidade envolve todos os elementos
do jogo, como tempo, espaço, companheiros, adversários, bola, balizas. Pensando
nestas interações, podemos perceber uma alta demanda cognitiva de exigência.
Neste sentido, Santana (2006) retrata que enquanto se tem a bola, o seu
portador busca escolher a melhor opção de jogo dentre as muitas possíveis, sejam as
mais simples ou até mesmo as mais inimagináveis, pois o futsal permite uma grande
liberdade de ações a serem realizadas, possibilitando um processo de ensino-
aprendizagem extremamente rico em estímulos à criatividade do praticante.
Esta imensa variável de interações e possíveis ações a serem realizadas,
dependem de algo para norteá-las, e Silva (2018) aponta que a organização de jogo
se busca dentro de regras estabelecidas, e que elas podem ser explícitas, implícitas,
flexíveis ou rígidas e são elas que permitem a ordem em meio a desordem. Podemos
perceber que as regras, tanto as do próprio jogo formal, quanto outras possivelmente
criadas em jogos adaptados, podem inclusive ser extremamente úteis para o
desenvolvimento disciplinar dos alunos.
Para subsidiar toda essa demanda tática e estratégica do jogo, o futsal exige e
desenvolve em seus praticantes, nos momentos de posse de bola ou não, tanto na
fase ofensiva quanto na defensiva, grande coordenação motora, e como argumenta
Scaglia (1996), na iniciação o esporte é um meio de aquisição e ampliação do
vocabulário motor das crianças. Podemos destacar entre as habilidades
desenvolvidas, as locomotoras, como saltar e correr em todas as direções,
estabilizadoras para se equilibrar principalmente nos confrontos de disputa de bola e
em especial as manipulativas, em todo o contato com bola, sejam dos goleiros ou dos
jogadores de linha.
São nas habilidades manipulativas que se encontram os domínios técnicos do
jogo, que podem ser referidos como fundamentos, Scaglia (1996) ressalta que são
nos fundamentos técnicos básicos que se constrói uma base sólida para alicerçar os
aprendizados posteriores do jogo. São considerados como fundamentos básicos do
futsal, o passe, o domínio de bola, a condução, o drible, o chute, o cabeceio e o
desarme.
O mesmo autor destaca também como fundamentos técnicos derivados, ou
seja, que pedem um bom domínio dos fundamentos básicos para sua execução, o
cruzamento, o lançamento, as tabelinhas, as cobranças de falta, de pênalti, lateral e
escanteio.
Scaglia (1996) considera ainda como fundamento, desta vez como fundamento
específico, as posições táticas dos jogadores, que no futsal são: goleiro, fixo, alas e
pivô. Cada posição traz consigo determinadas funções e características próprias, que
através de Carvalho Filho (2017) podemos exemplificar:
O goleiro é a posição que mais se difere das demais, tem como principal função
defender sua baliza além de iniciar a saída de bola, e como características próprias a
agilidade, tempo de reação, deslocamento lateral, força explosiva, liderança e
equilíbrio emocional. Ele é o único jogador que pode tocar os braços na bola, dentro
da sua área, tanto para defender quanto para arremessar com as mãos, quando
recebe um passe de um deus companheiros, só pode utilizar os pés, e somente
poderá receber novo passe após sua equipe ultrapassar a linha de meio da quadra ou
em uma nova posse de bola da equipe.
O fixo é o jogador mais defensivo da equipe, deve ser bom na marcação,
impedir a finalização dos adversários, ter bom desarme e sentido de cobertura, além
de ter bom passe e visão de jogo.
Os alas costumam ser os jogadores mais velozes da equipe, são os principais
responsáveis pela construção ofensiva da equipe, e devem ter muita qualidade nos
fundamentos de drible e finalização, além de boa recuperação e sentido de cobertura.
O pivô é o principal responsável pelas finalizações e pelas distribuições para
finalizações dos outros jogadores, ele precisa ter boa recepção e saber jogar de costas
para o gol, saber proteger a bola e girar para os dois lados para finalizar. Ele pode ser
um pivô forte de referência ou um pivô de velocidade.
Estas características apesar de serem as mais marcantes e procuradas para
cada posição, podem variar muito entre as equipes e cada jogador e para Carvalho
Filho (2017) cabe aos treinadores desenvolverem a melhor forma de jogar
coletivamente com as características individuais de cada jogador.
3. METODOLOGIA
A metodologia aplicada no presente estudo foi uma pesquisa bibliográfica
buscando referências nos âmbitos do futsal, das (IM), da aprendizagem e do
desenvolvimento. Sendo coletados dados em artigos, teses, dissertações e outras
publicações, utilizando ferramentas de pesquisa como o Google acadêmico, Scientific
Eletronic Library Online (SciELO), Minha Biblioteca Integrada (Uninter) e palavras-
chave como: esporte, futsal, inteligências múltiplas, cognição, aprendizagem e
desenvolvimento. Foi adotado como critério a abordagem qualitativa na busca por
trabalhos atuais e relevantes de autores prioritariamente reconhecidos que
agregassem valor ao presente artigo (FONTENELLE, 2017).
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os estudos aqui apresentados sintetizam a máxima importância da evolução
do processo educacional, e o esporte, em especial a modalidade futsal diante de toda
a riqueza afetiva e cultural do “jogar bola”, se revela como importante ferramenta e
forte aliado neste objetivo de desenvolvimento da criança e do adolescente.
Como a própria pesquisa apontou a atuação do profissional de educação física,
como agente pedagógico transformador que estimula todos os aspectos de
desenvolvimento dos seus alunos, pode sim proporcionar o desenvolvimento de todas
as inteligências através desta ferramenta tão poderosa, que é o futsal.
As (IM) como conceito educacional, tem se espalhado pelo mundo, e seu
desenvolvimento mostrado resultados positivos, novos estudos precisam, de fato,
serem realizados, afim de melhor aferir os impactos do ensino – aprendizagem do
futsal ao desenvolvimento de cada inteligência e assim serem criados instrumentos
que possam melhor direcionar o professor.
Acredito intimamente, que a ação pedagógica transcende ao método, e que a
profissão professor, exija flexibilidade além do preparo técnico, pois quando
trabalhamos com crianças e jovens, lidamos com o desenvolvimento, e esse parece
não acontecer de forma segmentada no indivíduo, mais de forma global.
Existem inúmeras maneiras de se aprender, e essas devem ser
disponibilizadas da melhor forma aos alunos, para proporcionar o melhor e mais amplo
desenvolvimento possível, produzindo autoestima, valores e estimulando habilidades.
Com isso, há a necessidade de grande preparo profissional, para utilizar as
ferramentas necessárias para que cada criança e cada jovem descubram e busquem
seus próprios caminhos, essa deve ser a missão de cada professor.
5. REFERÊNCIAS
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física para o desenvolvimento das inteligências múltiplas. Joaçaba: Unoesc &
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BALBINO, Hermes Ferreira. Jogos Desportivos Coletivos e os Estímulos das
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(P.07) Campinas: UNICAMP, 2001.
CARVALHO FILHO, José Veiga de. METODOLOGIA DO ENSINO DO FUTEBOL E
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