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Pensamento e Linguagem
Pensamento e Linguagem
Edição
Ridendo Castigat Mores
Fonte Digital
www.jahr.org
“Todas as obras são de acesso gratuito. Estudei sempre por conta do Estado,
ou melhor, da Sociedade que paga impostos; tenho a obrigação de retribuir
ao menos uma gota do que ela me proporcionou.” — Nélson Jahr Garcia
(1947-2002)
Copyright:
Autor: Lev S. Vygotsky
Edição eletrônica: Ed Ridendo Castigat Mores
(www.jahr.org)
ÍNDICE
Apresentação
Nélson Jahr Garcia
Prefácio
1. O problema e a abordagem
2. A teoria de Piaget sobre a linguagem e o pensamento das
crianças
3. A teoria de Stern sobre o desenvolvimento da linguagem
4. As raízes genéticas do pensamento e da linguagem
5. Gênese e estudo experimental da formação dos conceitos
6. O desenvolvimento dos conceitos científicos na infância
7. Pensamento e linguagem
Notas
Bibliografia (notas biliográficas)
PENSAMENTO
E LINGUAGEM
II
III
É certo que Stern não diz isto assim por estas palavras. Ele
entrou em polêmica não só com os proponentes das teorias
anti-intelectualistas que vão buscar as raízes e os inícios da
linguagem das crianças a processos exclusivamente afetivos-
conativos, mas também com aqueles psicólogos que sobrestimam a
capacidade de pensamento lógico das crianças. Stern não repete
este erro, mas comete outro ainda mais grave ao consignar ao
intelecto uma posição quase metafísica de primazia, como origem,
como causa primeira indecomponível da fala significante.
Paradoxalmente este tipo de intelectualismo mostra-se
particularmente inadequado ao estudo do processo intelectual, que
à primeira vista deveria ser a sua esfera de aplicação legítima. Por
exemplo poderíamos esperar que o fato de se encarar a significação
da fala como resultado de uma operação intelectual trouxesse muita
luz à relação entre a linguagem e o pensamento. Na realidade, tal
abordagem, ao estipular como estipula um intelecto já formado,
bloqueia toda e qualquer investigação sobre as interações dialéticas
implícitas do pensamento e da linguagem. O tratamento que Stern
dá a este aspecto fundamental do problema da linguagem
encontra-se repleto de incoerências e é a parte mais débil do seu
livro. (38)(38).
Este método ainda não foi posto à prova e não podemos ter a
certeza dos resultados que daria, mas tudo o que conhecemos do
comportamento dos chimpanzés, incluindo os dados de Yerkes. nos
obriga a arredar a esperança de que pudessem aprender a
linguagem funcional. Nunca ouvimos falar de que houvesse
qualquer indício de utilização sua dos signos. A única coisa que
sabemos com certeza objetiva e, não que possuem “ideação”, mas
que, em determinadas circunstâncias são capazes de executar
utensílios muito simples e recorrer a “desvios” e que estas
circunstâncias exigem uma situação global perfeitamente visível e
clara. Em todos os problemas em que não se verificava a existência
de estruturas visuais imediatamente perceptíveis, e que se
centravam num outro tipo de estrutura diferente, — um tipo de
estrutura mecânica, por exemplo — os chimpanzés abandonavam o
comportamento de tipo intuitivo para adotarem muito pura e
simplesmente o método de tentativas e erros.
II
III
IV
Podemos agora resumir os resultados da nossa análise.
Começamos por tentar seguir a genealogia do pensamento e da
linguagem até às suas raízes, utilizando os dados da psicologia
comparativa. Estes dados são insuficientes para detectarmos as
trajetórias de desenvolvimento do pensamento e da linguagem
pré-humanos com um grau mínimo de certeza. A questão
fundamental, a de saber-se se os antropóides possuem ou não o
mesmo tipo de intelecto do que o homem, é ainda controversa.
Koehler responde afirmativamente, outros respondem pela negativa.
Mas seja qual for a solução que as futuras investigações derem a
este problema, uma coisa é já clara: no mundo animal, o percurso
para um intelecto de tipo humano não é igual à trajetória para uma
linguagem de tipo humano; o pensamento e a linguagem não
brotam da mesma raiz.
II
III
IV
VI
VII
VIII
IX
XI
XII
XIII
XIV
XV
XVI
Temos que admitir que tentamos por diversas vezes ... fazer
isto e que sempre nos defrontamos com uma insuperável aversão
por parte das crianças, fato que mostra que seguíamos um caminho
errado. Estas experiências transmitiram-me a certeza de que é
perfeitamente impossível explicar o significado de uma palavra ...
Quando tentamos explicar qualquer palavra, a palavra “impressão”,
por exemplo, substituímo-la por outra palavra igualmente
incompreensível, ou toda uma série de palavras cuja conexão
interna é tão incompreensível como a própria palavra.
II
III
IV
Este método não é uma verdadeira análise que nos seja útil
para resolver problemas concretos, antes conduz à generalização.
II
— Têm.
— Mas então não te lembras que os cães é que são vacas?
Ora vê bem: os cães têm cornos?
III
IV
— Faça favor.
TEXTO DA PEÇA
MOTIVOS SUBJACENTES
Sofia:
Ah, Chatsky, como estou contente por teres vindo!
Tente ocultar a atrapalhação.
Chatsky:
Estás tão contente! Que simpático! Mas alegrias dessas não entendo
bem! Pois antes me parece que ao fim e ao cabo. Ao vir por aí à
chuva mais o meu cavalo. A mim me contentei e a mais ninguém.
Tenta fazê-la sentir-se culpada.
“Não tens vergonha?!”
Tenta forçá-la a ser franca!
Liza:
Senhor se aqui estivesses neste mesmo lugar. Há uns cinco
minutos, não, nem há tanto, não. Vosso nome ouviríeis bem alto
soar!
Ah Menina! Dizei-lhe que tenho razão!
Tenta acalmá-lo. Tenta ajudar Sofia numa situação difícil.
Sofia:
Assim é, nem mais, nem menos!
Que quanto a isso, sei que não tendes nada que me censurar!
Tenta serenar Chatsky.
Não sou culpada de nada.
Chatsky:
Pronto, aceitemos que assim é, deixai estar!
Três vezes louvado quem tiver fé!
Pois a fé o coração aquece!
Acabemos com esta conversa, etc..
10. Frisch, K. v., “Ueber die 'Sprache' der Bienen.” Zoo!. Jb.,
Abt. Physlol., 40,1923.
46. Vygotsky, L., Luria, A., Leontiev, A., Levina, A., e outros.
Studies of egocentric speech.
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Setembro 2001
Revisto em 20.07.2009