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DISCIPLINA: Introdução ao Direito Ambiental

Profa. Ana Paula Liberato


Aluna: Isadora Palhano

1. A proteção ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, conforme


preceituado nos Art.3º.,I da Lei 6938/1981 e Art.225 da Constituição Federal
apresentam para o sistema jurídico brasileiro uma proteção ambiental
antropocêntrica, ecocêntrica ou holística? Justifique.

Assim como no âmbito mundial, o Direito Ambiental brasileiro e o pensamento


jurídico-ambiental passaram por várias alterações ao longo do tempo e
evoluíram de acordo com as várias mudanças de conceitos das sociedades.
Nesse processo evolutivo, novas concepções foram desenvolvidas, novos
conceitos inseridos e paradigmas alterados com o surgimento de novas escolas
de pensamento ambiental (Abreu, 2013).

A primeira escola de pensamento acerca da proteção do meio ambiente foi a


escola antropocêntrica. Segundo essa abordagem, as regras de conduta do
direito ambiental orientam a relação entre indivíduo e natureza apenas enquanto
necessária à racional utilização de bens e recursos essenciais para a sadia
qualidade da vida humana. A proteção e a conservação do meio ambiente, nesse
caso, justificam-se apenas enquanto intervenção necessária à garantia de
padrões de qualidade e bem-estar dos indivíduos que compõem determinada
sociedade (Sampaio, 2013).

Posteriormente, adveio a escola ecocêntrica, em que a vida, em todas as


suas formas e, ressalte-se, não apenas a humana, tornou-se o valor mais
expressivo do ecossistema planetário, reconhecendo-se a importância de todos
os seres vivos por si mesmos e para a mantença do equilíbrio dos ecossistemas
e, consequentemente, do meio ambiente. A proteção da vida das demais
espécies – e não humana – se tornou o foco principal.

Por fim, surgiu a visão holística, que firmou a tutela imediata e direta do bem
ambiental com a preocupação de se protegerem os meios biótico e abiótico e
suas inter-relações com vistas à manutenção do equilíbrio ambiental. A
concepção holística esteou a proteção integral do ambiente, como sistema
integrado de relações e processos dos quais advém e depende toda a vida na
terra e segundo (Silva, 2017), houve seguramente uma grande evolução com a
passagem do crescimento econômico a qualquer custo para as formas de
desenvolvimento menos agressivas ao meio.

É nesse pensamento, holístico, que origina-se o texto da Lei nº 6938/81 da


Política Nacional do Meio Ambiente, recepcionado pela constituição Federal de
1988, o princípio do desenvolvimento sustentável encontra-se esculpido no
caput do artigo 225:

“Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem
de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao
Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações”. (BRASIL, 1988)”

Segundo Antunes, 2021, o mesmo artigo, após estabelecer o direito de todos,


determinou uma obrigação exigível do poder público e da coletividade, o “dever
de defendê-lo e preservá-lo”. Assim, do ponto de vista constitucional e, na
medida de suas possibilidades, todas as pessoas naturais e jurídicas devem agir
de forma a defender e preservar o ambiente.

Já a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente, Lei nº 6.938 de 1981, buscou


em seu âmago, reconhecer a indispensabilidade da importância do meio
ambiente para existência humana, bem como demonstrar que sua tutela gera
efeitos para toda a coletividade. Ainda segundo Antunes, 2021, tal dispositivo
jurídico uniu os pilares da proteção ao meio ambiente, apresentou conceitos e
definições ambientais até então não mencionados em nenhuma outra legislação
brasileira, concatenou os órgãos integrantes do Sistema Nacional do Meio
Ambiente e dispôs instrumentos da política nacional do meio ambiente, além de
fixar os objetivos da proteção ambiental.

2. A regulamentação do desenvolvimento sustentável consagrada na


Agenda 21, como resultado da Conferência das Nações Unidas para
o meio ambiente e desenvolvimento sediada no Rio de Janeiro em
1992, consagrou a proteção ao desenvolvimento sustentável em uma
perspectiva ecocêntrica ou holística? Justifique

Contextualizando, a Agenda 21 foi um documento assinado em 14 de junho


de 1992 na cidade do Rio de Janeiro por 179 países, sendo resultado da
“Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento” –
Rio 92, podendo ser definida como um “instrumento de planejamento
participativo visando o desenvolvimento sustentável”. Além disso, esse
documento se constitui num instrumento de reconversão da sociedade industrial
rumo a um novo paradigma, que exige a reinterpretação do conceito de
progresso, contemplando maior harmonia e equilíbrio holístico entre o todo e as
partes, promovendo a qualidade, não apenas a quantidade do crescimento.

Segundo o documento intitulado “Agenda 21 Brasileira, avaliação e


resultados”, 2012, o Brasil como um dos signatários da Agenda 21 Global,
assumiu compromisso junto à comunidade internacional e investiu recursos na
elaboração de sua agenda nacional e no fomento das ações locais. Após um
longo processo participativo iniciado em 1999, envolvendo consultas temáticas
e aos Estados da federação e encontros regionais, a Agenda 21 Brasileira foi
lançada em julho de 2002. O documento representa uma plataforma de ações
prioritárias com 21 objetivos divididos em cinco blocos. O texto descreve
políticas, recomendações de ações e medidas (inclusive legais e institucionais).

Os cinco blocos são:

A economia da poupança na sociedade do conhecimento;


Inclusão social para uma sociedade solidária;
Estratégias para a sustentabilidade urbana e rural;
Recursos naturais estratégicos: água, biodiversidade e florestas; e
Governança e ética para a promoção da sustentabilidade.

A Agenda 21 brasileira foi elaborada para ter papel particularmente


destacado na concepção e na coordenação da execução de “uma nova geração
de políticas públicas”, que venham a reduzir o quadro de desigualdades e
discriminações sociais prevalecentes no País, levando a uma melhoria dos
componentes do desenvolvimento humano. Nesse sentido, a Agenda 21
brasileira busca ser um documento que extrapola a preocupação com a
dimensão eminentemente ambiental, constituindo-se então como um marco de
referência para um modelo de desenvolvimento sustentável. Tal
desenvolvimento pressupõe um processo de inclusão social, com uma vasta
gama de oportunidades e opções para as pessoas, zelando-se para que as
formas de apropriação e de uso dos recursos naturais não comprometam os
níveis de bem-estar das gerações futuras. (Agenda 21 Brasileira, avaliação e
resultados, 2012).

Isto posto, pode-se considerar que a regulamentação do desenvolvimento


sustentável consagrada na Agenda 21 consagrou a proteção ao
desenvolvimento sustentável em uma perspectiva holística na qual busca-se
estabelecer uma nova relação com o meio ambiente.
3. As obrigações ambientais possuem natureza jurídica de limitação
administrativa imposta ao exercício do direito de propriedade? Justifique

Sim. Segundo Rangel, 2016, as limitações administrativas são


determinações de aspecto geral, por meio dos quais o Poder Público impõe a
proprietários indeterminados obrigações positivas, negativas ou permissivas,
para o fim de condicionar as propriedades no atendimento da função social.

Em decorrência de tal aspecto, incabível é, aos proprietários, a utilização de


qualquer medida administrativa ou judicial, com o escopo de obstar a imposição
das limitações sobre as propriedades. Insta acrescentar, também, que “as
limitações ou estarão estampadas na própria lei, ou em atos normativos
fundados em lei. Implicam, pois, o exercício do poder estatal para assegurar o
bem-estar comum” (Carvalho, 2011).

4. Referências Bibliográficas

ABREU, I. S., BUSSINGUER, E. C. A., 2013, ANTROPOCENTRISMO,


ECOCENTRISMO E HOLISMO: UMA BREVE ANÁLISE DAS ESCOLAS DE
PENSAMENTO AMBIENTAL. BIOGEPE – Grupo de Estudos, Pesquisa e
Extensão em Políticas Públicas, Direito a Saúde e Bioética da Faculdade de
Direito de Vitória – FDV
Antunes, P. B. 2021. Direito ambiental – 22. ed. – São Paulo: Atlas, 2021.
CARVALHO FILHO, 2011, p. 733.
CRESPO, S. 2012. “Agenda 21 Brasileira, avaliação e resultados”. Secretaria
de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental.
SAMPAIO, R., 2013. DIREITO AMBIENTAL, FGV
SILVA, D. M. RANGEL, T. L. V., 2017. Do antropocentrismo ao holismo
ambiental: uma análise das escolas de pensamento ambiental.

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