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Prova-modelo 1
GRUPO I
1. A partir da proposição «Alguns homens não são mortais», pode inferir-se que
(A) a proposição «Alguns homens são mortais» é verdadeira.
(B) a proposição «Alguns homens são mortais» é falsa.
(C) a proposição «Nenhum homem é mortal» é falsa.
(D) a proposição «Todos os homens são mortais» é falsa.
4.
Suponha que um membro de um grupo neonazi afirma que «o racismo é um bem». Segundo a
perspetiva subjetivista sobre os juízos morais, este juízo
(A) é objetivamente verdadeiro.
(B) é verdadeiro ou falso consoante a sinceridade da pessoa que formula o juízo.
(C) é objetivamente falso.
(D) não é verdadeiro nem falso.
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6. Imagine que para evitar roubar alguém tem de quebrar uma promessa que fez. De acordo com
a ética kantiana,
(A) deve evitar roubar, pois não temos a obrigação de manter as nossas promessas.
(B) deve manter a promessa, pois não temos a obrigação de evitar roubar.
(C) deve manter a promessa, mesmo que isso implique não cumprir a obrigação de evitar roubar.
(D) faça o que fizer, vai agir erradamente.
7. De acordo com a definição tradicional de conhecimento proposicional, uma crença é conheci-
mento
(A) se for verdadeira.
(B) só se for verdadeira.
(C) só se for justificada de forma infalível.
(D) se for justificada de forma infalível.
8. Uma proposição que não corresponda aos factos não constitui conhecimento, porque
(A) pode saber-se que algo é falso.
(B) é um facto que há conhecimento.
(C) tem de ser muito bem justificada.
(D) só se conhece o que é verdadeiro.
10. De acordo com o falsificacionismo de Popper, qual dos seguintes enunciados é mais falsificável?
(A) Todos os metais dilatam por ação do calor.
(B) Nenhum metal dilata por ação do calor.
(C) Alguns metais não dilatam por ação do calor.
(D) Alguns metais dilatam por ação do calor.
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GRUPO II
1. Indique se a proposição que se segue é uma tautologia, uma contradição ou uma contingência:
((P → Q) ˅ (P ˄ ¬ Q))
As nossas crenças justificam-se com base noutras crenças. Se as nossas crenças se justifi-
cam com base noutras crenças, então de cada vez que tentamos justificar uma crença caímos
numa regressão infinita da justificação. Se de cada vez que tentamos justificar uma crença
caímos numa regressão infinita da justificação, então não temos crenças justificadas. Portan-
to, não temos crenças justificadas.
GRUPO III
1.1
De acordo com a perspetiva libertarista de Robert Nozick, a imposição desta restrição sobre
as liberdades individuais dos senhorios é aceitável? Porquê?
1.2 De acordo com a perspetiva comunitarista de Michael Sandel, a imposição desta restrição
sobre as liberdades individuais dos senhorios é aceitável? Porquê?
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GRUPO IV
«Depois disto, tendo refletido que duvidava e que, por consequência, o meu ser não era in-
teiramente perfeito, pois via claramente que conhecer é uma maior perfeição do que duvidar,
lembrei-me de procurar de onde me teria vindo o pensamento de alguma coisa mais perfeita
do que eu; e conheci, com evidência, que se devia a alguma natureza que fosse, efetivamente,
mais perfeita. […] De maneira que restava apenas que ela tivesse sido posta em mim por uma
natureza que fosse verdadeiramente mais perfeita do que eu, e que até tivesse em si todas as
perfeições de que eu podia ter alguma ideia, isto é, para me explicar com uma só palavra, que
fosse Deus.»
René Descartes, Discurso do Método, Trad. João Gama, Lisboa, Edições 70 (2013), pp. 52-53
«Para Hume, a ideia de causa [segundo a resposta tradicional] é a ideia de “conexão ne-
cessária”. O seu argumento aponta em duas direções: primeiro, para a demolição da ideia de
que existem conexões necessárias na realidade; segundo, para uma explicação do facto de nós
termos, não obstante, a ideia de conexão necessária. […]
A ideia de conexão necessária não se pode derivar de uma impressão de conexão necessá-
ria, pois tal impressão não existe. […] Não podemos observar nada da relação entre os aconte-
cimentos particulares A e B, a não ser a sua contiguidade no espaço ou no tempo e o facto de
A preceder B. Dizemos que A causa B apenas quando a conjunção de acontecimentos do tipo
A e do tipo B é constante ‒ ou seja, quando há uma conexão regular de acontecimentos do tipo
A e do tipo B, levando-nos a esperar B sempre que observamos um caso de A. Tirando esta
conjunção constante, nada mais há que observemos, e nada mais que pudéssemos observar,
na relação entre A e B que pudesse constituir um vínculo de “conexão necessária”».
Roger Scruton, Breve História da Filosofia Moderna, Lisboa, Guerra e Paz (2010), pp. 165-166
3.
Hume mostra que «a ideia de conexão necessária não se pode derivar de uma impressão de
conexão necessária, pois tal impressão não existe».
Qual é, então, para Hume, a origem da ideia de conexão necessária?
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GRUPO V
1. Qual é a tese defendida pelo autor do texto? Concorda com essa tese? Porquê?
Na sua resposta deve:
• Identificar o problema subjacente ao texto.
• Identificar justificadamente a tese defendida pelo autor do texto.
• Formular explicitamente a sua tese pessoal em relação ao mesmo problema.
• Argumentar a favor da sua tese.
FIM
Item
Grupo
Cotação (em pontos)
1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10.
I 80
8 8 8 8 8 8 8 8 8 8
1. 2.
II 24
12 12
1.1 1.2
III 32
16 16
1. 2. 3.
IV 48
16 16 16
1.
V 16
16
Total 200
287
Grupo III
1.1 A imposição dessa restrição sobre as liberdades individuais
dos senhorios não é aceitável na teoria da justiça de Robert
Nozick porque isso implica uma interferência ilegítima do Es-
tado na propriedade do indivíduo. De acordo com Nozick, há
apenas um princípio da justiça fundamental: a liberdade para
possuir e transferir a propriedade legitimamente adquirida.
Ora, a notícia revela uma violação deste princípio, dado que
impede os senhorios de utilizarem as suas propriedades como
bem entenderem.
1.2 Para Michael Sandel esta restrição sobre as liberdades
individuais dos senhorios poderia ser aceitável na medida
PROVA-MODELO 1 em que há uma prioridade do bem comum, social, sobre as
nossas liberdades individuais. Isto porque Sandel defende o
Pág. 283 comunitarismo como teoria da justiça em que os laços comu-
nitários e o bem comum são princípios fundamentais.
Grupo I
Grupo IV
1. D 2. C 3. B 4. B 5. A 6. D 7. B 8. D 9. A 10. A
1. O argumento é a posteriori porque pelo menos uma das
Grupo II suas premissas só pode ser conhecida com recurso à expe-
riência. Nomeadamente a premissa de que o menos perfeito
1. Tautologia, dado que em todas as suas circunstâncias apre- não pode dar origem ao mais perfeito. Este tipo de premissa
senta o valor V. não é conceptual, como no caso de «Nenhum solteiro é ca-
sado». Pelo contrário, só podemos determinar o seu valor de
P Q (( P → Q) ˅ (P ˄ ¬ Q)) verdade ao usar os sentidos.
2. Hume não concorda. Descartes pensava que, uma vez que
V V V V V V V F FV somos imperfeitos, não podemos ser nós próprios a origem
dessa ideia de perfeição; ao passo que Hume diria que a
V F V F F V V V VF ideia de Deus poderia ter origem na nossa imaginação pela
combinação de várias ideias simples de poder, conhecimento,
F V F V V V F F FV
bondade, elevadas à máxima potência. Por exemplo, posso
F F F V F V F F VF não ser perfeitamente pontual e ainda assim formar a ideia de
um ser perfeitamente pontual completando as minhas falhas
através da imaginação (seria um ser que, ao contrário de mim,
2. Representação canónica: nunca chegaria cedo, nem tarde a nenhum compromisso).
3. Para Hume, a origem da conexão necessária não pode ser
(1) As nossas crenças justificam-se com base noutras crenças.
as impressões externas, dado que não percecionamos qual-
(2) Se as nossas crenças se justificam com base noutras cren- quer conexão necessária entre dois acontecimentos; pelo
ças, então de cada vez que tentamos justificar uma crença contrário, só percecionamos conjunções constantes. Por um
caímos numa regressão infinita da justificação. lado, temos uma conexão necessária quando dois eventos
não podem ocorrer um sem o outro; por outro lado, temos
(3) Se de cada vez que tentamos justificar uma crença caímos
uma conjunção constante quando sempre que um sujeito tem
numa regressão infinita da justificação, então não temos
a experiência de um evento A também tem a experiência de
crenças justificadas.
um evento B. Ora, a ideia de conexão necessária nada mais
(4) Logo, não temos crenças justificadas. é do que a expectativa, ou seja, impressão interna, de que irá
ocorrer o evento B dada a ocorrência do evento A, devido
Dicionário:
ao hábito de observar esses dois acontecimentos ocorrerem
P = As nossas crenças justificam-se com base noutras crenças. sempre um a seguir ao outro, ou seja, devido ao facto de estes
aparecerem constantemente conjugados.
Q = Cada vez que tentamos justificar uma crença caímos numa
regressão infinita da justificação. Grupo V
R= Temos crenças justificadas. 1. O problema subjacente ao texto é o problema da compatibi-
Formalização: lidade entre livre-arbítrio e determinismo. Este problema pode
ser formulado da seguinte forma: Será o livre-arbítrio compa-
(1) P tível com o determinismo? Dizer que temos livre-arbítrio é o
(2) (P → Q) mesmo que dizer que pelo menos algumas das coisas que
acontecem dependem fundamentalmente de nós. O determi-
(3) (Q → ¬ R) nismo é a tese de que tudo o que acontece é a consequência
(4) ¬ R necessária do passado e das leis da natureza.
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Soluções
Opção de resposta A
Concordo com a perspetiva defendida pelo autor do texto,
pois considero que, ainda que o determinismo seja verda-
deiro, há situações em que temos possibilidades alterna-
tivas, uma vez que se tivéssemos escolhido agir de outro
modo, teríamos agido de outro modo, ou seja, não teríamos
sido impedidos de o fazer por nada nem ninguém.
Opção de resposta B
Ao contrário do autor, defendo a tese incompatibilista, dado
que se analisarmos os conceitos de livre-arbítrio e de deter-
minismo podemos constatar que eles são inconsistentes.
Pois, se o determinismo for verdadeiro, tudo o que aconte-
ce (incluindo as nossas ações) é consequência do passado
e das leis da natureza; mas se é assim, então há apenas um
único futuro possível e não há várias alternativas realmente
disponíveis para a nossa escolha, o que significa que não
temos livre-arbítrio. Por isso, se o determinismo for verda-
deiro, não somos livres.
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