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SOLOS II

AULA 1

Profa. Dra. Suzana Pereira de Melo


ICET/UFMT
CONSTITUIÇÃO,
ORIGEM DAS
PROPRIEDADES E
CARGAS DO SOLO
CLASSIFICAÇÃO DE SOLOS
“ Fração coloidal do solo” referem-se a maior parte das
partículas de argila e a porção orgânica do solo altamente
decomposta chamada “humus”. São partículas
extremamente pequenas (< 0,002 mm), alta superfície
específica e presença de cargas elétricas na superfície que
atraem íons e moléculas polares como a água.
- Ca++
-
Húmus, - H+
M = Na+, K+, NH4+, Mg
Argila - Al+++
- M
- De onde vem as cargas negativas do solo?

- Estas cargas são todas negativas?

- O pH do solo influência a natureza das

cargas dos colóides?


1 – SUBSTITUIÇÃO ISOMÓRFICA (IÔNICA)
Ex: Al+++ entra no lugar do Si++++, no tetraedro
Fe++ entra no lugar do Al+++ , no octaedro.
2 – Como as laminas dos tetraedros e octaedros não se
prolongam indefinidamente, na quebra (beirada), pode haver
um desequilíbrio de cargas não satisfeitas, conferindo carga
negativa às partículas.
Octaedro de Al
-
Al - OH + H2O  Al - O + H3O-
3 – Na borda dos octaedros, há presença de hidroxilas as
quais por dissociação originam cargas.
OH  O- + H+
Dados sobre componentes das frações argila, silte e areia dos solos
Mineral ou Estrutura Área Capacidade de
Partícula Específica troca catiônica
(m2.g-1) (cmol/Kg)
Caulinita 1:1 10 - 20 3 – 15
Halloisita 1:1 21 - 43 5 – 50
Illita 2:1 70 – 120 10 – 40
Clorita 2:1 79 – 150 10 – 40
Vermiculita 2:1 300 – 500 100 – 150
Esmectita 2:1 700 – 800 60 – 150
Alofana amorfa 70 – 300 25 – 70
Silte <1 Muito pequena
Areia fina < 0,1 Muito pequena
Areia grossa <0,01 Muito pequena
Pergunta:
Pode haver diferentes CTC em sistemas de mesmo
teor de argila? Por que?

SIM. O teor de CTC depende da qualidade da argila.


As argilas de grade 2:1 e 1:1 desenvolvem solos de
maior CTC.
SOLO A SOLO B
80% de argila 80% de argila
Argila 2:1 e 1:1 Tipo Oxídica
CTC = 25 meq/100g CTC = 5 meq/100g
Capacidade de Troca Aniônica (CTA)
1 – Dissociação de OH dos compostos de Fe e Al e dos octaedros
das argilas.
CARGA POSITIVA

R OH + H+  R+ + H2O
Aumenta o
pH
R OH + OH-  RO- + H2O
CARGA NEGATIVA

2 – Quebra (beirada) das laminas dos octaedros e tetraedros


Carga negativa
Magnitude de cargas Carga positiva

Alguns
Latossolos

Idade do solo
Fenômenos de retenção em solos

Íons e moléculas da solução do solo – retidos na


superfície das partículas da fase sólida e podem ser
liberados da fase sólida para a solução do solo.

Existência de cargas elétricas na


Retenção
superfície
Origem das cargas elétricas do solo

Cargas permanentes x cargas dependentes de pH

• Cargas permanentes:

- originadas durante a formação dos minerais;

- substituições isomórficas;

- tetraedros: Si+4 substituídos por Al+3;

- octaedros: Al+3 substituídos por Mg+2

- resulta em cargas negativas;

- de menor importância nos solos tropicais.


• Cargas variáveis ou dependentes de pH:

-São as principais nos solos brasileiros;

-Manifestam nos minerais 1:1 e na matéria orgânica;

-Resultam da variação do pH;

-Pode ocorrer a dissociação ou protonação dos grupos


funcionais de superfície;

- Podem ser positivas ou negativas;


Principais grupos de superfície que geram cargas dependentes
de pH.

Grupos funcionais Localização


-COOH (carboxil)
-OH (fenólico) Matéria Orgânica
-NH2 (amina)
-OH (hidroxil) Óxidos de alumínio
-OH (hidroxil) Óxidos de ferro
-OH (hidroxil) Argilominerais
-Solos tropicais: predominância de cargas negativas
(CTC), devido a matéria orgânica.

- Alguns solos – grande quantidade de óxidos –


predominância de cargas positivas (CTA).
Estimativa do tipo de carga predominante:

pH = pH (KCl) – pH (H2O)

pH (KCl) – pH medido em solução de KCl 1N;


pH (H2O) – pH medido em água.

Se pH for positivo – predomínio de cargas positivas;

Se pH for negativo – predomínio de cargas negativas.


PONTO DE CARGA ZERO (PCZ) de um

colóide pode ser definido como o pH no qual a carga

elétrica do colóide é nula ou o pH no qual o número de

cargas positivas é igual ao número de cargas negativas,

dando uma carga líquida igual a zero, isso não significa

portanto, que o solo no PCZ não apresenta cargas.


- Quando o pH do solo estiver abaixo do PCZ, há
predomínio de cargas positivas e, quando o pH do solo
estiver acima do PCZ, predominam cargas negativas
nas superfícies das partículas do solo.

- Os óxidos de Fe e Al apresentam altos valores de PCZ


enquanto os argilominerais apresentam valores baixos.

- Por esse motivo, a carga elétrica líquida do solo depende


de sua composição, isto é, das proporções em que ocorrem
seus diversos constituintes.
PONTO DE CARGA ZERO (PCZ)
►Cargas podem aumentar ou diminuir em função do
pH. Deve-se acrescentar, entretanto dois fatos:

• Um mesmo colóide pode ter cargas positivas


quando o pH do meio é baixo, e cargas negativas
quando os valores de pH são mais altos; e

• Sob um mesmo valor de pH, um colóide poderá


acrescentar cargas positivas e negativas ao mesmo
tempo.
PONTO DE CARGA ZERO (PCZ)

Existe um valor intermediário onde a carga


é nula – PCZ
Ponto de Carga Zero de alguns minerais que ocorrem
em solos (adaptado de Sparks, 1995)

MINERAIS PONTO DE CARGA


ZERO (PCZ)
Hematita 9,5
Goethita 7,8 – 8,9
Gibbsita 7,8 – 9,5
Caulinita 4,6
Montmorilonita 2,5
Ponto de Carga Zero de alguns grandes Grupos de Solos

MATERIAL PONTO DE
CARGA ZERO
Solo Horiz. A Horiz. B
Argissolo Vermelho Amarelo 1,6 4,0
Nitossolo Vermelho 1,9 2,7
Latossolo Vermelho 3,3 5,5
Latossolo Amarelo 3,1 6,3
Latossolo Vermelho 3,5 6,0
distroférrico
Quanto maior o PCZ

 Maior teor de minerais de cargas variáveis;

 Mais intemperizado é o solo;

 Maior é o pH necessário para desenvolver


carga negativa.
 pH e Ponto de Carga Zero (PCZ)

 pH = pH (KCl) - pH (H2O)

• Quando o pH for (+); isto é pH (KCl) > pH (H2O),


o balanço de cargas do solo é positivo (CTA)

• Quando o pH for (-); isto é pH (KCl) < pH (H2O),


o balanço de cargas do solo é negativo (CTC)
Solos tropicais  Solos
ácidos  altas
quantidades de Óxidos de
Ferro e Alumínio

PCZ elevado,
Atraindo ânions,
com superfícies
principalmente ânion
carregadas
fosfato (H2PO4-)
positivamente
• Sistema Silicatado (cargas permanentes)

• Sistema Oxídico
Cargas
• Sistema Silicatado recoberto Dependentes
de pH
por Óxidos
Solo A
Solo B

cargas (-)
b
PCZ

cargas (+)

pH (fase líquida)
2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0 8,0

SOLO A
No ponto a - o solo apresenta um balanço de cargas positivas
(CTA) no pH 4,0.
No ponto b - o solo apresenta um balanço de cargas negativas (CTC)
no pH 4,5
Espera-se para este solo, o predomínio de minerais de cargas
variáveis com o pH (Gt, Hm, Gb). Se a carga fosse constante,
desenvolveria-se somente CTC (minerais silicatados).

SOLO B
pH > 6 e PCZ maior do que no solo A
Tem maior quantidade de minerais de cargas variáveis.
Campinas Ribeirão Preto
(Orthox, Latossol Roxo) (Udalf, Terra Roxa Estruturada)
- 16
Balanço das cargas de
superfície (e.mg/100g)

A A
-8
B
B
0

+4

+8
3 4 5 6 7 8 9 2 3 4 5 6 7 8 9
pH em 0,01 N NaCl

Balanço de cargas na superfície do colóide dos horizontes A e B


de dois solos com elevado teor de óxidos.
Sistema silicatado recoberto pelos óxidos
Recobrimento de
óxido

++ + 0
- -
+ OH + OH
Camada de - -
Silicato

pH 2 pH 4 pH 8
Balanço Balanço Balanço
positivo zero negativo
Características de cargas de alguns minerais da fração (eqmg/100g argila)
de solos de Kenya
MINERAL Capacidade de troca catiônica Capacidade
de
Permanente Variável Total troca
aniônica
Montmorilonita 112 6 118 1
Vermiculita 85 0 85 0
Ilita 11 8 19 3
Haloisita 8 12 18 15
Caulinita 1 3 4 2
Gibbsita 0 5 5 5
Goethita 0 4 4 4
Alofana 10 41 51 17
Turfa 38 98 136 6
Menor PCZ:
•Solos pouco intemperizados;
•Solos com minerais de argila 1:1 e 2:1;
•Solos ricos em matéria orgânica;
•Horizontes superficiais.
Maior PCZ:
•Solos muito intemperizados;
•Solos ricos em óxidos de Fe e Al;
•Solos pobres em matéria orgânica;
•Horizontes subsuperficiais.
PONTO DE CARGA ZERO (PCZ)
pH e Ponto De Carga Zero

► Balanço de cargas determinado através da


medição de seu pH em água e em solução neutra,
tal como o KCl 1N.

pH = pH em KCL - pH em água

- Se for negativo, o balanço de cargas será negativo (CTC)


A M.O. pode se ligar nas cargas positivas dos
argilominerais – resultando na redução de cargas
positivas – aumentando as cargas negativas.

A adição de fosfato ao solo, devido a sua forte retenção,


também reduz as cargas positivas.
Capacidade de Troca de Cátions (CTC)

-É uma importante propriedade que os solos


apresentam;

-Representa a quantidade de cátions que o solo pode


reter na forma de complexos de esfera externa;

Ligações eletrostáticas – podem ser trocados por


outros íons da solução do solo ou ainda podem ser
dessorvidos para repor os nutrientes que são
absorvidos pelas plantas ou que sofrem lixiviação.
- Os íons da superfície das partículas – equilíbrio com
os da solução.
- As reações de trocas são rápidas, reversíveis,
estequiométricas e em muitos casos, há seletividade
de um íon sobre outro íon.

Reversíveis: porque as reações podem ocorrer nos dois


sentidos, da superfície da partícula para a solução do
solo ou o inverso;

Estequiométricas: os íons são deslocados por uma


quantidade equivalente, em termos de carga, por
outros íons.
Ex. dois íons K+ (monovalente) da solução do
solo são necessários para deslocar um íon Ca2+ da
fase sólida.
Seletividade: alguns íons são preferencialmente
retidos na superfície sólida que outros.

Para elementos com a mesma valência, os íons com


menor raio, serão preferidos. Por exemplo:
Cs+ > Rb+ > K+ > Na+ > Li+

Para o caso de íons com valência diferente, aqueles


de mais alta carga serão preferidos:

Al3+ > Ca2+ > Mg2+ > K+ = NH4+ > Na+

O aumento da concentração de um íon na solução do


solo pode provocar o deslocamento de íons
adsorvidos, pelo princípio de ação das massas.

Ex. adubações com altas doses de potássio podem


deslocar cátions, como o cálcio, magnésio e o
alumínio para a solução.
• Fatores que afetam a CTC do solo

a) Área superficial específica (ASE):

- Os colóides dos solos – grande ASE;


- É dependente do tamanho da partícula (areia < 0,1
m2g-1; silte  1 m2g-1 e argila pode atingir até 800 m2g-1);
- Nos argilominerais do tipo 2:1 a ASE é maior que nos
1:1 e óxidos.

Partículas ASE (m2 g-1) CTC (cmolc kg-1)


Caulinita 7 - 30 0–1
Óxidos - 2–4
Micas 40 – 150 10 – 40
Vermiculita 500 – 800 100 – 150
Matéria 800 - 900 200 - 300
orgânica
b) pH da solução do solo

A quantidade de cargas positivas e negativas é


diretamente dependente do pH da solução do solo.

c) Adsorção específica de íons

Pode resultar em um aumento da CTC.


Exemplo tem-se o fosfato.
d) Matéria orgânica

-Quanto maior o teor de MO em um solo, maior a CTC;

- A interação da MO com os argilominerais e óxidos do


solo altera as cargas superficiais, pois reduz as cargas
positivas e aumenta as negativas.
CTC solos tropicais x solos temperados

• Solos temperados: argilomineral 2:1 – Alta CTC;

• Solos tropicais: argilomineral 1:1 e elevados teores de


óxidos de ferro e alumínio – baixa CTC.

Solos brasileiros a MO pela sua alta ASE é a


responsável pela maioria da CTC dos solos, pois
normalmente o argilomineral predominante é a
caulinita.
Características de cargas de alguns minerais da fração
(eqmg/100g argila) de solos de Kenya
MINERAL Capacidade de troca catiônica Capacidade
de
Permanente Variável Total troca
aniônica
Montmorilonita 112 6 118 1
Vermiculita 85 0 85 0
Ilita 11 8 19 3
Haloisita 8 12 18 15
Caulinita 1 3 4 2
Gibbsita 0 5 5 5
Goethita 0 4 4 4
Alofana 10 41 51 17
Turfa 38 98 136 6
Uma visão esquemática da CTC (adaptada de
PPI, 1979) é mostrada na figura que segue:

CTC = 25 meq/100 cm3 CTC = 5 meq/100 cm3


mais argila, mais posições menos argila, poucas
para reter cátions posições para reter cátions

H+
Ca2+
Mg2+
NH4+
Na+
K+

Areia
H+ H+ Argila H+ K+
“Feliz aquele que transfere o
que sabe e aprende o que
ensina”

Cora Coralina

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