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Die For You - Lovely Loser
Die For You - Lovely Loser
1ª Edição
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte dessa obra poderá ser reproduzida ou
transmitida por qualquer forma, meios eletrônicos ou mecânico sem consentimento e
autorização por escrito do autor/editor.
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são
produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com fatos reais é mera
coincidência. Nenhuma parte desse livro pode ser utilizada ou reproduzida sob quaisquer
meios existentes – tangíveis ou intangíveis – sem prévia autorização da autora. A violação
dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº 9.610/98, punido pelo artigo 184 do
código penal.
Resposta errada.
O cara parado na minha frente me prensou com mais força contra a
parede. Parecia que queria me esfolar vivo, mas não o culpava. Se eu
— Para com isso, John. Ele não tem culpa. — Sua voz não passava de
um fiapo. — Eu não disse que tinha alguém.
O prédio onde eu vivia há apenas cinco dias ficava situado em uma área
consideravelmente movimentada de Massachusetts, também tinha ótima
localização porque ficava perto do campus da Harvard, onde eu estudava.
Vinte minutos de distância. Era prático em dias em que queria dormir por uns
momentos a mais ou estava com preguiça de sair da cama.
esquerda. Com pressa, tomei o banho mais rápido da minha vida, depois vesti
as primeiras duas peças de roupas que achei: uma regata e uma calça jeans
rasgada nos joelhos. Estava tão atordoado que nem percebi que estava
chovendo, só quando cheguei ao hall do prédio, após descer alguns lances de
escadas, e olhei para fora através das portas de vidro.
Uma tempestade.
Tinha uma prova e, se não chegasse em alguns momentos, ficaria
encrencado. Empurrei uma das portas e fiquei sob o toldo do edifício,
Por que diabos eu tinha uma moto? Se tivesse ouvido minha mãe, seria
O cabelo longo dela era liso e preto feito nanquim. Por alguns
momentos, me prendi aos seus detalhes. O rosto delicado, a pele clara feito
lua, a franja que caía sobre sua visão. E, ao contrário de mim, estava vestindo
um casaco pesado e calçando botas, além de segurar um guarda-chuva
fechado nas mãos. Estava na cara que ela tinha se preparado para o temporal.
Seus olhos escuros finalmente se conectaram aos meus.
Mas foi só por uma ou duas frações de segundo e ela não demonstrou
nada que não fosse indiferença. Logo depois, a garota abriu o guarda-chuva e
fez uma corrida lenta/caminhada depressa até um honda novo estacionado a
alguns metros de distância. Por algum motivo, esperei com que ela
manobrasse e saísse do estacionamento para me enfiar sob a chuva e subir na
minha moto.
Perdi o teste.
Ela mal percebeu minha presença atrás de si, só quando girou para
fechar a porta. Sua mão congelou na maçaneta e seus olhos me fitaram com
um misto de surpresa e reconhecimento. O momento durou cerca de três
segundos, até eu dar um passo para frente.
Estava pronto para dizer que era o vizinho novo e que me chamava
Hunt Finley, mas, em um rompante, ela fechou a porta bem no meu rosto.
Franzi o cenho com força, nada de "boas-vindas" para o vizinho novo?
encontrando com o novo vizinho estranho pela segunda vez, que também
parecia estar de saída. Com pressa, enfiei as chaves na minha bolsa e dei um
passo em direção às escadas ao mesmo tempo em que ele deu um passo em
minha direção.
"Meu nome é Humano Frito" foi a primeira frase que ele disse para
mim. "Somos inimigos" foi a segunda. Arqueei as sobrancelhas, ajeitando a
alça da bolsa em meu ombro.
Senti vontade de dar risada porque sabia que não era aquilo que ele
queria dizer, só que eu era péssima em fazer leitura labial. Suspirando, abri
minha bolsa e busquei por meu caderno e uma caneta. Apoiei-o contra a
Seu rosto foi preenchido por surpresa e compreensão quando ele leu a
frase que havia escrito com pressa. "Eu sou surda".
bolsa. Estava prestes a guardar minha caneta e dar o fora dali quando ele se
Meu coração disparou. Com a mão livre, ele pegou o tubinho de tinta
preta e começou a escrever algo no interior de meu pulso. Quando ele
terminou, fixei meus olhos nas letras tortas. Hunt Finley. Fazia mais sentido
que Humano Frito. Ele se afastou, o local em que havia tocado queimava um
pouco. Que esquisito.
Ele sinalizou.
Nem tentei esconder o meu choque. Sabia que meus lábios deviam
estar entreabertos no momento e minhas íris cheias de incredibilidade. Hunt
meio de todas as outras pessoas, indicando o lugar vago ao seu lado. Desabei
na cadeira livre, afundando-me nela e juntando os joelhos. Ela começou a
sinalizar rapidamente, quase não consegui acompanhar:
— Pensei que você não fosse vir. Aconteceu alguma coisa? Você
assistiu a nova temporada daquela série francesa? Você viu a nova tatuagem
daquela cantora do cabelo cor-de-rosa? — E o resto dos seus movimentos de
mãos foram uma confusão.
London era como um furacão. Ela era a pessoa mais falante que eu já
havia conhecido. Nós éramos opostos, mas até que funcionávamos bem
juntas.
Levantei o braço para tirar uma mecha de cabelo do rosto, ainda fitando
Franzi as sobrancelhas.
— Quem?
interior do meu pulso. — Fiz uma pausa, pensativa. — O que não fez sentido
já que ele sabia a língua de sinais. De qualquer forma, por que diabos eu seria
fã desse cara? Ele é quem? O Justin Bieber disfarçado?
Ele estava dando uma festa numa quinta-feira logo depois do almoço?
London apertou meu ombro quando Hunt apareceu na porta. Ele ainda
vestia as mesmas roupas de mais cedo. Só que agora tinha uma guitarra
atravessando seu corpo, como um escudo. O instrumento era bem bonito.
Preto e cheio de desenhos feitos com caneta permanente. Uns eram bem
rudes, palavrões ou mulheres seminuas. Outros pareciam pessoais, como o
coração empunhado com uma adaga, jorrando sangue.
Suas íris negras encontraram as minhas e o cigarro que pendia em seus
lábios dançou para um canto de sua boca. Ele chutou um copo plástico
— Você não me falou o seu nome — foi a primeira coisa que Hunt
disse.
— É Evelyn.
intimidada.
Antes que ele pudesse dizer algo, puxei London pela mão, abri a porta
— Eu não adotei.
Ela parecia ainda mais indignada e nem a culpava. Droga. Por que é
que eu era tão ruim em inventar mentiras convenientes?
Entrei em pânico.
meu apartamento. Pretendia trazer uma garota para cá. Na verdade, ainda
traria. Só que talvez nós tivéssemos uma pequena plateia: os dois outros
integrantes da minha banda. Ian e Atticus estavam muito à vontade, o que me
deixava menos à vontade. Estava no meu apartamento e fazia um tempo que
eu não tinha estado sozinho. Trouxe gente para cá a semana inteira, inclusive
ontem. Dei uma pequena festa, logo depois do almoço. Privacidade era algo
que eu gostava às vezes e eu queria ficar sozinho naquele momento.
— Tira a porra do pé do meu sofá — cuspi para Atticus, que tinha as
mãos cruzadas atrás da cabeça raspada e os coturnos sobre meu estofado
novo.
— Vaidoso e sem nada para comer. Não tem nada aqui além de leite e
suco de laranja. — Ian fechou a geladeira, debruçando-se sobre o balcão que
dividia a cozinha da sala. — O que você come? Se alimenta através de
fotossíntese?
Estava prestes a respondê-lo com uma frase bem feia quando duas
batidas calculadas foram dadas em minha porta. Eram leves, quase tímidas.
Virando-me, puxei a maçaneta bruscamente, com raiva não intencional.
Tinha certeza de que meu rosto devia estar sério e que meu olhar transmitia
irritação.
Evelyn pareceu ficar meio ultrajada quando captou o movimento
inesperado. Seus olhos escuros analisaram meu rosto com cuidado. Ela
sinalizou algo. Não reparei porque estava ocupado demais observando seu
rosto: as bochechas coradas, o cabelo preso num coque elegante, expondo seu
pescoço delicado e longo. Os lábios estavam comprimidos em linha reta. Ela
esperou e eu pisquei, suavizando a expressão.
— Disse que esta noite alguns amigos da faculdade vão vir para cá.
Não é nada demais. Apenas noite da pizza. Mas queria avisar porque eles vão
passar pelo corredor e fazer um pouco de barulho. Não queria incomodá-lo.
Eve era bem-educada. Éramos opostos até nisso. Fiz uma festa e não
avisei nada a ela. Devia ter levado em consideração já que tinha um monte de
babaca chapado por aqui. Algum deles poderia incomodá-la se ela estivesse
lado de fora.
— Ela é muito bonita. Talvez você possa ser a ponte entre nós dois já
que consegue usar ASL. — Ele estava se referindo à Língua de Sinais
Americana.
— Cara, você não viu a expressão de otário que o Hunt ficou quando
começou a falar com ela? Ele quer transar com ela. Obviamente não vai ser
ponte nenhuma entre vocês.
Ok, talvez não estivesse sendo legal só porque ela era minha vizinha.
Talvez quisesse beijá-la até que ela ficasse inconsciente, sem ar. Talvez
quisesse vê-la nua algum dia. Mas eram só probabilidades distantes.
Nenhuma delas iria acontecer. Até mesmo alguém idiota como eu entendia
que garotas como a Eve estavam fora do meu limite. Só que eu não estava
pensando bem. Uma parte de mim queria aparecer no apartamento dela hoje à
Não respondi, talvez ele estivesse certo. Eu partiria o coração dela? Ian
e Atticus entraram numa discussão desinteressante sobre algo que eu não
estava prestando atenção enquanto enviava mensagem para a garota gostosa
de uma das minhas turmas. Ela respondeu um momento depois, dizendo que
estava a caminho. Expulsei meus amigos antes que ela chegasse.
Hana apareceu dez minutos mais tarde. Ela estava usando um cropped
vermelho, uma minissaia jeans e um pouco de maquiagem no rosto, o cabelo
longo e dourado preso num rabo de cavalo. Eu não era um cavalheiro.
Também não gostava de conversar. Na verdade, eu era bem objetivo.
Fui tomar banho enquanto Hana se vestia para sair. Quando voltei para
sala, ela já tinha desaparecido. Eram sete e meia, quase oito horas. Com os
cabelos ainda úmidos, saí de casa e dei seis passos até estar em frente a porta
de Eve. Apertei a campainha. Ela apareceu um segundo depois, uma escova
de cabelos nas mãos enquanto penteava os fios longos cor de ébano. Ela
parou no meio de um movimento, congelando. Parecia que ainda estava se
arrumando.
— Meus amigos devem chegar daqui a pouco. Não achei que você
fosse vir.
ao redor.
Eve travou.
— Peixe.
Tive que esconder o sorriso em meu rosto, estava na cara que ela não
tinha um peixe e tinha inventado aquilo só para fugir de mim. Resolvi mudar
de assunto:
— Pedagogia. E você?
— Música.
— Harvard — respondi.
— Eu sei. Estou mais para o tipo criminoso, não é? — Meu rosto era
completamente sério, mas eu estava brincando, tentando constrangê-la.
Parecia tão constrangida e envergonhada que fiquei com pena. Não pude
evitar o riso que escapou por meus lábios. Ela pareceu ficar confusa enquanto
me observava.
Nós nos fitamos por alguns segundos sem dizer nada. O relógio de Eve
acendeu em seu pulso, chamando sua atenção. Ela andou até a porta, girando
a maçaneta. A amiga de Eve, que tinha a acompanhado por dez minutos em
minha festa, e um garoto desconhecido atravessaram a porta. Após se
Ela encheu uma taça de vinho, não percebendo minha presença. Fiquei
escorado contra o balcão de mármore.
Evelyn saiu da cozinha, deixando-me para trás. Não sem antes me dar
um rolar de olhos petulante, é claro. Entornando o resto do conteúdo da
garrafa de cerveja, silenciosamente, aceitei o desafio.
Depois que me endireitei, entrei no refrão, que era para ser tocado a
todo vapor. As pessoas pareceram ser incapazes de manterem os pés no chão
naquela hora. Então quando o estrondo dos tênis esmagando o piso encardido
do bar num ritmo constante quase sobressaiu o som de minha guitarra, tentei
subir as notas para que ficassem mais agudas. A bateria entrou no momento
corredor que ficava ao lado do palco. Era discreto e escuro. Dava para ter
privacidade ali porque tinha menos barulho. O burburinho ficou abafado.
— Vou. Estou morto. Hoje foi intenso. — Fiz uma pausa para abrir a
tampa da cerveja com os dentes, descartando-a. — Precisa de uma carona? —
indaguei, enquanto dava alguns goles em minha long neck, o líquido amargo
e gelado refrescando-me um pouco. Quase soltei um suspiro.
— Não, valeu, cara. Atticus vai ficar aqui mais um pouco. Marquei
com alguém. Ele vai esperar e depois me levar embora.
Quando anunciei para eles que iria me mudar para Massachusetts, meus
companheiros de banda nem ficaram apreensivos. Disseram que dariam um
jeito de continuarmos com a banda desde que todos nós — exceto Ian —
tínhamos meios de transporte, além de que o metrô sempre era uma opção
bem-vinda, então desfazermos a banda por conta de distância nunca foi uma
opção. A dona do bar veio até nós um momento depois com o dinheiro
enrolado em maços nas mãos.
da minha música naquele dia, eu sabia que também haveria muitas garotas
dispostas a me fazerem levá-las para casa. Por mais que eu adorasse sexo,
não estava a fim naquela noite. Só queria deitar em minha cama e recuperar
algumas horas de sono para a aula do dia seguinte na Harvard.
Acho que já tinha pressionado o botão umas trinta vezes quando Evelyn
apareceu na porta.
Coelhos. Foi a primeira coisa que reparei quando Eve surgiu em meu
campo de visão. Seu pijama de mangas longas e short curto era estampado
Seus lábios se entreabriram. Evelyn parecia ter sido pega no flagra. Ela
entendeu a ironia porque um dos cantos de sua boca se ergueram de maneira
quase imperceptível para cima. Então, me deu espaço para entrar e foi o que
eu fiz. O interior do apartamento estava limpo, escuro e calmo, como sempre
deveria ser. Segui Eve até a cozinha, sentei numa das banquetas do balcão e
fiquei observando enquanto ela se movia pelo cômodo.
intenso.
Ela ergueu um dos ombros, pareceu pensar por alguns segundos e então
sinalizou:
Assenti. Evelyn pareceu ficar perplexa, mas não disse mais nada, então
voltei para a minha receita. Coloquei tudo numa tigela que havia encontrado
no armário e fiz uma mistura da massa com o restante dos ingredientes que
havia achado revirando os armários da cozinha. Em algum momento, Eve se
juntou a mim e me entregou uma forma com o espaçamento específico dos
bolinhos. Agradeci a ela que também tinha aquecido o forno para mim e
girado o timer nos vinte minutos. O silêncio entre nós era reconfortante.
Limpei a bagunça que tinha feito e depois me recostei contra a pia atrás de
mim.
Evelyn estava sentada atrás do balcão, de forma que tinha muito espaço
entre nós.
— Você tem vinte anos? — Ignorei todos seus pontos, meu cérebro só
foi capaz de processar aquela parte. Eve não parecia ter vinte. Chutaria
dezoito, talvez dezenove.
— Sim. E você?
Não parecia se sentir intimidada por mim. Ela só me evitava na maior parte
do tempo, como no dia da escada.
— Assim como?
— Não sei, você parece estar se divertindo. Com o quê?
atrás de mim, espiando sobre meu ombro. Seus passos tinham sido leves
como pluma, porque não fui capaz de perceber enquanto ela se aproximava.
Seu braço acabou esbarrando no meu quando ela se moveu para meu lado e
senti um calor disparar por meu tronco. Suas íris se conectaram às minhas e
ela ergueu o polegar, como se aprovasse os meus muffins. Pelo menos a
aparência deles.
— Bom.
Sorri torto.
café da manhã. Eve me acompanhou até a porta e antes de ela fechar a porta,
quando estávamos frente-a-frente, movi as mãos e sinalizei:
— Boa noite.
cupcakes bonitos e com camadas generosas de glacê. Parecia ter sido caro.
Confirmei minhas suspeitas ao avistar o cartãozinho que estava jogado no
fundo da caixa com o logo de uma confeitaria famosa e chique da cidade.
para cada vez em que toquei sua campainha enquanto você dormia. Me
desculpe" naquela letra torta e familiar. Meu queixo quase caiu. Não tinha
assinatura nenhuma, nem precisava também. Estava óbvio quem havia me
enviado as caixas.
rindo. E a maldita bolinha de metal em sua língua estava lá, dando-me boas-
vindas. Pisquei, parecendo voltar para o eixo. Fiz cara feia, questionando-o
silenciosamente o que era tão engraçado.
Como se Hunt pudesse ler minha mente, ele fez um sinal com a mão.
Um sinal que significava ''fofa''. Se possível, fiquei ainda mais constrangida.
Ele deu de ombros e então disse: "Estava rindo porque você é fofa, me
desculpe. Eu amo os seus pijamas". Meu rosto ardeu. Lancei um breve olhar
para baixo, para as roupas estampadas com dinossauros que estava usando.
— Não posso aceitar. — Sinalizei para ele agora que estava com as
mãos livres.
Hunt baixou as sobrancelhas, provavelmente em reprovação.
— Por favor, eu os comprei para você. — Ele teve que dizer em voz
alta, porque agora estava ocupado segurando as caixas. Me concentrei o
máximo em seus lábios para que conseguisse ler. Ajudou que ele proferisse
tudo sem pressa.
Troquei o peso de uma perna para a outra, analisando seu rosto calmo.
Quando voltei para a tela do computador um "Ai meu Deus, ele tem
uma tatuagem em coreano" ocupava o espaço entre um parágrafo e outro.
Pressionei a tecla de deletar por alguns segundos, apagando-a.
— Depois.
— Sim.
Disse a ele que Evelyn Rose era meu nome no Facebook. Hunt pareceu
satisfeito enquanto tirava o celular do bolso e se recostava contra a poltrona
atrás de si, relaxado. Seus dedos eram ágeis pela tela do aparelho. Abri uma
nova aba, entrando na rede social esquecida por mim há alguns anos. Quando
a notificação da solicitação chegou, deixando a tela piscando, cliquei sobre
ela. Hunt Finley deseja ser seu novo amigo. Aceitei.
Hunt: oi
Eu: oi
Eu: eu sei
Eu: muito
Fiz uma pausa para clicar em sua página. Hunt era bem popular, o que
eu já esperava. Suas fotos tinham centenas de curtidas e a mais recente que
ele havia postado era uma sobre o palco, segurando uma guitarra. Cliquei na
foto que ele usava atualmente de perfil. Também uma fotografia dele nos
shows. Só que nessa seu torso estava nu, exposto para Deus e o mundo. As
tatuagens espalhadas por seu tronco, tinta preta se contrastando com pele
branca. Prendi um sorriso entre os dentes, aquela foto era a cara dele.
Provocadora e chamativa.
Hunt: pi pi pi
Eu: o q é isso?
Dessa vez, não fui capaz de conter o riso. Foi quase involuntário.
Hunt: nossa
Eu: o que foi?
como se disse "Fala sério" só que ele estava concentrado na tela do celular.
"Você se sente atraído (a) pela pessoa com quem está jogando?" foi a
primeira coisa que apareceu na tela.
enorme e ridículo tomou conta do monitor com os dizeres "Seu parceiro tem
apareceu na tela.
Apertei em "não". Hunt já sabia que era bonito. Todo mundo que podia
enxergar sabia. Ele não precisava que o ego fosse mais alimentado. Olhei
para ele. Seus ombros chacoalhavam um pouco enquanto ele dava risada,
achando graça da minha resposta.
bônus" cruzaram-na. Depois de cinco segundos, outra frase surgiu: “Você tem
o direto de tocar ou ver de perto alguma parte do corpo de seu parceiro de
jogo e vice-versa, se ambos estiverem de acordo”. Franzi as sobrancelhas,
ponderando por um segundo se eu estava de acordo ou não antes que minha
mente gritasse um "É óbvio que você não está de acordo!".
humor e seus orbes estavam opacos, banhados por divertimento. Ele arqueou
Dei de ombros.
para nosso idioma, ela dizia "Morra com memórias e não sonhos".
movimento inocente, que Hunt nem havia se dado conta, só que seu olhar me
dizia que ele sabia o que estava fazendo. Surpreendendo-me, ele empurrou
meu cabelo com cuidado para trás. Quase pulei no sofá, sendo pega de
surpresa. Mantendo os olhos nos meus, capturei o movimento de seus lábios
quando ele disse "Minha vez".
inclinando-o para cima de forma que meu pescoço todo estava exposto para
ele. Hunt percorreu os olhos por aquela parte da minha anatomia em especial
e finalmente notei o que ele estava fazendo; era o que ele tinha escolhido do
jogo dos dados. O meu pescoço.
Ignorei o quanto aquilo era estranho e deixei com que ele terminasse de
perscrutar cada centímetro daquela área. Seus olhos pareciam pedaços de
carvão acesos em brasa, queimando e prestes a me queimar também.
Ignorando os limites, Hunt passou o polegar na parte da frente de minha
garganta e um tremor se arrastou por meu tronco. Ele moveu o dedo de
olhos nos meus, analisando se era seguro ou não. Ele se afastou três segundos
depois, lançando-me um sorriso polido, como se pedisse desculpas. Não
soube como reagir, porque queria que ele me beijasse e aquele fato me
assustou. Depois de longos momentos de silêncio constrangedor e
desconfortável, Hunt sinalizou que iria embora e não debati porque era o
melhor a se fazer. Quase tínhamos cruzado uma linha proibida.
Franzi as sobrancelhas.
Eu: não
Hesitei com os dedos pairando sobre o teclado. Finalmente enviei a
mensagem.
Emoji sugestivo.
Hoje, quando acordei, por exemplo, o dia estava nublado. Bastou uma
olhada para o céu através das janelas do meu apartamento para que soubesse
que deixá-las abertas durante a manhã não seria uma boa ideia. Então agora,
enquanto dirigia com meu carro de volta para meu prédio após as aulas e
observava a chuva cair do céu e respingar em meu para-brisa, agradeci a mim
mesma por seguir meus instintos.
evitar um resfriado.
fiz nada além de ficar parada feito um espantalho em sua frente, horrorizada
por tê-lo interrompido em um momento íntimo.
Como ela estava com o corpo virado para mim, fui capaz de fazer
leitura labial quando ela respondeu a o que ele disse com um "Está
chovendo". Eu estava pronta para sair dali quando Hunt olhou para mim com
uma expressão séria e indagou através da língua de sinais:
volta para sua casa". Depois disso, ele jogou um dos braços sobre meus
ombros, deixando-me enrijecida de tensão e forçou-me em direção às
escadas, onde começamos a subir os degraus juntos.
Todo meu plano de evitá-lo para sempre tinha ido por água abaixo
outra vez. Precisava manter a distância, ainda mais depois do que aconteceu
entre a gente na sala do meu apartamento. Não sabia o que tinha passado na
minha cabeça naquele dia por aceitar jogar aquela porcaria de dados on-line
com ele. Depois quase deixei ele me enforcar e pior que isso foi que apreciei
a ideia na minha mente. Parecia que Hunt Finley me deixava burra e
completamente irracional.
— Errou.
Ninguém disse mais nada. Talvez porque o que tinha acontecido entre
nós devia ter anulado todas as chances que tínhamos de sermos amigos — o
que já era meio improvável, já que claramente éramos opostos. Hunt tentou
conversar comigo nos últimos dias, só que fiz um bom trabalho em evitá-lo
no Facebook e até mesmo pessoalmente.
Me remexi, desconfortável.
Sinalizei que tinha que trocar de roupa, pois tinha me molhado muito lá
fora e ele pareceu compreender depois de me perscrutar de cima a baixo,
como se estivesse se dando conta do fato só naquele momento. Nos
despedimos, ainda com um clima meio estranho e entrei em meu
apartamento, aliviada.
vestir uma calça jeans e uma das minhas blusas preferidas com mangas
longas, fui para o banheiro passar um pouco de maquiagem.
Soltei um suspiro.
um "oi", os olhos um pouco suaves desta vez. Ela havia finalmente posto sua
nenhum plano até agora. Não gostava de planejar muita coisa antes da hora,
ainda era setembro. Chegamos em um assunto proibido — pelo menos para
mim — que era meu vizinho mega gostoso (palavras de Landon, não
minhas).
circuito.
Tudo que fiz foi erguer os ombros e levantar as palmas das mãos em
direção ao céu pateticamente. London pareceu esquecer que sua comida
estava esfriando e que estava com fome. Sua atenção desconcertante estava
inoportunamente centrada somente em mim, como se eu fosse uma atração
bizarra de circo e ela não pudesse perder nenhum segundo do show.
Hunt cheirava bem, só que eu não ia dizer isso a ela. Era estranho.
London tinha esquecido que eu disse que a gente quase tinha se beijado e não
tínhamos tido estrelado um filme pornô. Expliquei isso a ela, que pareceu
murchar um pouco. Nos despedimos e fomos embora porque já estava tarde e
ainda era só quinta-feira.
levar o lixo até lá embaixo. Coloquei a cabeça para fora da porta, espiando o
corredor. Tudo silencioso como sempre era em meu mundo, só que também
estava vazio e parecia que não tinha nenhuma alma rondando por aí.
errado.
Se ele fosse um vizinho como qualquer outro, teria acenado para mim e
fechado a porta em meu rosto. Só que estávamos falando sobre Hunt Finley,
o cara sexy que dispensava garotas de maneira rude e adorava a si mesmo
como se adorava a um deus.
Meu escrutínio em Hunt começou por seus pés. Como sempre, coturnos
Hunt pareceu ficar feliz em me ver ali, parada em sua frente. Ele até
mesmo abriu um sorriso torto e charmoso, que me fez suspirar
Achei que daria certo até ver que ele estava falando comigo. Suas mãos
começaram a se mover e eu engoli um gemido em frustração, virando-me
novamente para encará-lo.
Não dava para negar que eu estava evitando-o. Hunt já tinha percebido
há um tempinho, o que me deixava ainda mais confusa já que eu estava
claramente dispensando-o (o que parecia deixá-lo ainda mais motivado a vir
atrás de mim).
Troquei o peso de uma perna para outra, os calcanhares sendo retesados
confortavelmente em minhas pantufas. Só naquele momento me dei conta de
que estava de pijama e que era um daqueles que Hunt costumava me caçoar
por usar, para variar.
Suas íris desceram por meu tronco de uma maneira íntima e um tanto
desconcertante. Depois de terminar a sua análise, notei que estava tentando
conter um sorriso em sua boca.
mais que eu adore a sua companhia e goste muito de falar com você, preciso
dormir. Teve um show da banda de última hora ontem à noite e acabou super
tarde. Depois teve essa festa... — Ele parou, esfregando um dos olhos com o
punho cerrado e deixando-o vermelho. — Essa festa que os caras me
obrigaram a ir. Preciso dormir, podemos continuar isso aqui depois?
Nem fiz questão de dizer que era dia, ele devia estar ciente do fato.
forma louca que indicava que era ele quem estava por trás da porta.
Não sabia por que tinha dito aquilo a ele. Estava desesperada para
quebrar aquela tensão esquisita entre nós desde o dia do jogo on-line que
falaria qualquer coisa para que Hunt agisse de uma forma que me deixasse
menos nervosa.
— Sabe o que isso significa, Evelyn? — Seu rosto inteiro estava sério
— O quê?
— Que você na verdade tem vinte e dois anos. Não é assim que
funciona por lá?
— Sim. Só que me adaptei aos Estados Unidos. Não morei por muito
tempo na Coreia, vim para cá quando tinha seis anos.
Ele parecia querer me perguntar algo, dava para ver na expressão dele.
Só que preferiu não dizer nada. Hunt apenas assentiu e depois passou dois
dedos embaixo do maxilar e voltou a sinalizar:
— Bulgogi.
— Também gosto.
Acho que fazia algumas semanas que eu não comia nada que tivesse
sido originado na Coreia. Hunt ligou para um restaurante e começou a falar.
Enquanto eu observava seus lábios se moverem, me questionei como seria o
som da sua voz. Nunca tinha pensado naquilo até agora. Devia ser bem bonita
— Quer jogar?
Abri a rede social e fiz login. O chat com ele já estava piscando,
indicando que tinha mensagem nova.
Hunt: castores?
Eu: lontras
Hunt: lontras
Hunt: legal
Hunt: mandando o link para vc em 5...
Hunt: 4...
Rolei os olhos.
Hunt: 3...
Eu: é sério?????
Hunt: 2...
Hunt: 1
pouco para pegar o jeito. Depois de perdemos várias vezes, comecei a vencer
junto com ele.
Fizemos uma pausa quando Hunt levantou para pegar a comida que
chegou. Ele colocou as sacolas sobre a mesinha central e se ajoelhou no
tapete ao lado dela.
Hunt sorriu.
Levantei-me e fui até a cozinha para pegar copos, pratos e duas garrafas
minha direção.
estava em minha casa. O segundo ponto era que tinha algo pressionado contra
meu peitoral e terceiro; que meu corpo todo doía como se eu tivesse sido
atropelado por três carros.
Pisquei várias vezes, tentando ajustar meus olhos aos raios de luz que
atravessavam o cômodo, iluminando-o. Ao notar o braço enrolado ao redor
de minha cintura, fiquei estático. Movi a cabeça para fazer uma análise ao
redor e algo fez cócegas embaixo de meu queixo. Dei-me conta de que era o
topo da cabeça de Evelyn e que eram seus fios de cabelo esbarrando em
mim.
Seu peito subia e descia em um ritmo lento e calmo, ela parecia estar
em um sono tão profundo que não fui capaz de acordá-la. Então fiquei
enjaulado por Evelyn, deixando com que ela me usasse como um travesseiro
fajuto.
Sabia que ela ficaria horrorizada quando acordasse, mas não me mexi.
Ela não demorou tanto para despertar, foram cerca de dez ou quinze minutos
depois. Eve se moveu, o braço dela foi puxado para trás e logo depois sua
mão mergulhou sob minha camiseta e eu segurei uma risadinha. Seus dedos
macios deslizaram sobre meu abdômen inconscientemente e a diversão sumiu
de meu corpo e enrijeci lentamente porque ela estava perto de áreas
proibidas.
Estava pronto para tirar sua mão de lá quando ela se remexeu contra
mim e ergueu o rosto em direção ao meu. Suas pálpebras estavam baixas,
mas ela me fitou nos olhos e piscou algumas vezes, finalmente despertando.
Seu rosto foi de super relaxado para super horrorizado em uma fração de
segundos.
Um sorriso torto de "bom dia" deslizou por meus lábios. Uma mecha de
cabelo caiu sobre minha visão no mesmo segundo, mas não me preocupei em
afastá-la.
Ela não precisava dizer mais que isso para que eu soubesse que estava
dizendo sobre nós termos acabado dormindo juntos.
Ergui as palmas das mãos para cima e pisquei inocentemente para ela.
Evelyn tirou uma mecha de cabelo que caía sobre seu rosto
furiosamente e andou até a porta, seus pés descalços esmagando o assoalho
abaixo dos calcanhares. Ela abriu a porta em um convite silencioso para que
me retirasse.
sinais.
Dei de ombros.
Ellen não falou mais nada e depois de alguns momentos nós voltamos a
estudar o que ela precisava. Sua mãe trouxe alguns brownies e fizemos uma
pausa.
Ellen era uma réplica da tia Courtney, as duas eram mulheres quietas,
inteligentes e gentis. A aparência também era idêntica. Elas tinham os
cabelos castanhos longos e espessos, olhos avelãs grandes demais, maçãs
saltadas e pele branca como a lua.
Quando Ellen estava por perto sempre fazíamos isso. Dizíamos tudo o
que falávamos a ela, usando os sinais. Não gostávamos da possibilidade de
ela se sentir excluída.
Minha tia abriu um pequeno sorriso gentil. Apesar de estar na casa dos
quarenta e ter algumas rugas no rosto, ela era uma mulher muito bela.
— Bom, vou sair para que vocês consigam estudar melhor. — Ela
acenou com a mão em uma despedida e se foi, fechando a porta atrás de si.
Nunca tinha contado nada para Ellen e ela não tinha como saber de
Evelyn e de nossa situação embaraçosa. Enquanto tentava ter alguma relação
com ela, ela me empurrava para longe como se eu fosse uma bomba atômica
qualquer um que partisse o seu coração, mesmo que seja meu amigo.
Ellen desviou o olhar para longe e um rosa pálido tomou conta de suas
bochechas e isso denunciava tudo. Ela estava envergonhada, o que indicava
que tinha algo rolando entre eles dois ou iria rolar em breve.
Quando seus olhos se conectaram aos meus novamente, ela sinalizou:
Desviei o olhar para longe e foquei em algum ponto entre uma estante
mais que o tipo de música fizesse sucesso, eu não apreciava, precisava ser
mais que farra. A segunda estava na cara que era de Ian, porque tinha o lance
de misturar poesia com trocadilhos e era boa. Com um lápis, fiz alguns
ajustes em algumas frases e substituí uma palavra por outra e dei para Atticus
ler em seguida.
— Ele está estranho, não está? — Ian disse, quebrando o silêncio após
minha porta ter batido.
— Puta merda, é verdade. Agora faz sentido. Ele some a maioria das
vezes depois dos shows e sempre está com a cara enfiada no celular, também
não parece mais tão empenhado nos ensaios. Está aéreo, com a cabeça
— Você sabe que não faço o tipo romance — ele disse, tentando
desviar o foco.
por uma rosa negra, que atraía ainda mais atenção. Assim como eu, ele era
cheio de tatuagens.
Podia jurar que ele corou e eu nunca o tinha visto corar antes.
— Você sabe que Ellen é como uma irmã para mim e eu ficaria furioso
com qualquer idiota que tentasse brincar com seus sentimentos... — O rosto
de Ian ficou sério também, seus olhos azuis virando duas pedras de gelo. —
Então mantenha sua cabeça longe dela. — Fiz uma pausa, o silêncio
Ian não disse nada, mas tinha entendido o recado. Ele murmurou sobre
precisar ir embora também e concordei. Quando ele saiu pela porta e o
silêncio reinou novamente em meu apartamento, pensei em Evelyn e forcei a
manter minha mente longe dela.
ajeitei a camiseta de linho branco. Era meu primeiro dia no estágio do colégio
infantil de crianças com deficiência auditiva de Massachusetts e eu tinha me
esforçado para parecer formal.
— Você está sendo ótima — Sra. Emma disse para mim, através da
Uma lufada de ar que eu nem sabia que estava prendendo nos pulmões
escapou por meus lábios e permiti que um sorriso tomasse conta deles.
Apenas dei um aceno com a cabeça em reconhecimento, esperando que ela
notasse a gratidão transbordando através de meus olhos. O sorriso polido
continuou em seu rosto quando ela moveu as mãos e disse que eu poderia
fazer uma pausa enquanto as crianças comiam. Então ela se virou e sumiu do
meu campo de visão, tirando seu tempo também.
Emma era uma mulher de trinta e cinco anos que podia escutar
perfeitamente bem. Nós duas compartilhávamos o mesmo amor por crianças.
Ela já tinha se formado há um tempo e era professora há anos. Dei sorte em
conseguir uma vaga em sua turma. Fiz a entrevista meses atrás e depois de
todo este tempo, achei que tinha sido rejeitada, então quando recebi um e-
mail hoje pela manhã perguntando quando eu poderia começar, não hesitei
antes de responder com um "agora mesmo".
Por mais que eu tivesse ficado feliz e até mesmo dançado sozinha ao
redor de meu apartamento, não pude evitar ficar nervosa. O horário era bem
flexível e se ajustava com a minha rotina, de forma que agora eu ia para a
faculdade pela manhã e passaria a tarde com as crianças. Sobraria menos
tempo para estudar, mas daria um jeito.
Ela me apresentou para sua turma. Não era tão cheia, quinze crianças
entre seis e sete anos. Elas não sabiam muito sobre a língua de sinais e
falavam na maior parte do tempo, porque nenhuma delas tinha cem por cento
de perda de audição. Teria que ler lábios por aqui, então fiz uma nota mental
para aumentar a minha grade de horários na Goldring e ir até as classes de
leitura labial ao menos três vezes por semana — atualmente só tinha uma
aula a cada sete dias.
no Facebook. Mordi meu lábio inferior, pairando meu dedo sobre o ícone
azul.
Me sentia levemente culpada por ignorar Hunt. Sabia que minha reação
ao expulsá-lo tinha sido levemente exagerada porque termos adormecido
juntos tinha sido algo inesperado. Só que eu não conseguia ir muito longe,
toda vez que o sentimento aparecia, me lembrava das garotas com quem ele
dormia e expulsava para fora sem ressentimento algum. Era babaca de sua
parte e me perguntava como ele reagiria se uma delas fosse sua irmã e algum
cara as tratasse daquela forma. Ele parecia do tipo superprotetor, com certeza
não gostaria.
Abri-as para checar e vi que Hunt tinha me seguido há seis horas. Jesus
Cristo, o cara estava em absolutamente todos os lugares.
por ter uma criança favorita aqui dentro no meu primeiro dia e ignorei que
aquilo provavelmente me tornava uma péssima educadora. É que ela tinha
aqueles enormes olhos castanhos espirituosos e era superinteligente.
das mesas coloridas, afastada do restante das crianças. Agachei-me até que
nossos olhares estivessem nivelados e percebi o ar tristonho em seu
semblante. Ela usava aparelhos auditivos em suas duas orelhas.
confiar em mim.
cheguei em meu andar, parei por alguns momentos para respirar. Após abrir a
porta, girei para fechá-la e estanquei ao erguer os olhos para o outro lado do
corredor.
Apertei a minha pasta contra o peito, querendo sair correndo dali. Não
gostava de chamar atenção usando saltos. Eu ficava com mais de um metro e
oitenta de altura e era inevitável não atrair os olhares para mim. Hunt se
aproximou cautelosamente, como se fosse um leão prestes a degolar sua
presa. Tentei não parecer a ovelha indefesa e endireitei a postura, não me
retorcendo de vergonha.
Foi difícil forçar meu olhar para cima novamente e travar nossos orbes.
Hunt se aproximou mais alguns centímetros e meu coração trovejou dentro
do meu peito. Todos os alarmes dispararam em minha mente porque eu sabia
o que ele estava prestes a fazer. Assim que sua boca se chocasse contra a
minha, tudo se complicaria.
Forcei minhas pernas trêmulas a darem passos para trás, pisando em
falso. Me desiquilibrei por uma fração de segundos antes que Hunt
— Por que está vestida assim? — ele continuou, tentando fazer a tensão
entre nós sumir.
sinalizou:
Quase.
Outra semana se passou sem que Evelyn falasse comigo. Sabia que
tinha algo de errado, mas não tinha como abordá-la visto que a garota me
evitava como o Diabo fugia da cruz. Toda vez que parecíamos avançar um ou
dois passos, ela me empurrava para longe e acrescentava mais três
continentes de distância entre nós.
Nunca me senti tão frustrado antes por ser ignorado por uma garota. Na
verdade, isso meio que nunca tinha acontecido.
Obviamente já conheci garotas difíceis antes de Evelyn, só que ela
parecia estar em um patamar inalcançável, o que me deixava ainda mais
esmorecido. O jogo não era de conquista, mas sim uma prova de resistência.
Evelyn me empurrava e eu continuava em seu pé. Ela recuava e eu avançava.
Não era cansativo, por enquanto, mas me dava nos nervos.
pátio, a céu aberto. Como o usual, tinha gente por todo canto e o burburinho
de conversa estava presente no ar. A chama pálida do isqueiro falhou
algumas vezes antes que eu conseguisse acender o cigarro em meus lábios.
Uma rajada de vento gélido me atingiu e olhei para cima, observando a
amplidão azul sobrecarregada de nuvens cinzentas. Aparentemente iria
chover mais tarde. O clima estava maluco em Massachusetts ultimamente.
em meus ouvidos. Teve uma hora que até parei, para me certificar de que não
estava ficando maluco e ouvindo coisas. A próxima sequência de notas foi
lenta e um pouco agonizante. Meu coração trovejou no peito e comecei a
pular os degraus de dois em dois. Quando cheguei no corredor, lancei um
olhar para a porta fechada de Evelyn.
Evelyn começou uma nova música, depois outra e mais uma. Escutei-a
em todas. Não sabia quanto tempo havia se passado, mas meu tronco já
estava doendo por estar sentado ali no chão duro com as costas escoradas na
parede. Quando a última música acabou, me levantei e toquei a campainha
uma única vez e esperei.
Levou alguns momentos até que a porta finalmente fosse aberta. Eve
estava como imaginei que encontraria. O cabelo comprido bagunçado e seus
olhos meio vermelhos. Ela vestia um blusão com uma frase em coreano e
meias que iam até a metade dos seu joelho. A ponta do nariz delicado estava
vermelha.
contra meu peito. O impacto fez com que eu cambaleasse um pouco para trás.
Surpreso com o contato inesperado, levei alguns segundos para envolvê-la
com os braços.
— Por quê?
— Não é importante.
Ela adormeceu por cerca de dez minutos. Um raio cruzou o céu lá fora,
trovejando em seguida e ela continuou no sono profundo. Eve despertou
cozinha e pediu para que eu esperasse alguns momentos. Ela voltou com uma
Dizer tudo aquilo para ela foi um pouco constrangedor porque percebi
o quão estranho era. Eve não disse nada. Seus olhos iluminaram, assim como
uma parte de sua expressão. Ela parecia meio em choque, meio lisonjeada.
Um pouco dos dois.
Eve mordeu a isca e seu olhar caiu para minha boca e permaneceu ali
por dois ou três segundos — como ela tinha feito da última vez que nos
esbarramos no corredor. Era difícil reunir autocontrole dentro de mim. Não
podia avançar porque ela não queria eu avançasse. Só iria beijá-la quando ela
me desse permissão explícita.
O calor habitual correu por meu tronco. Da última vez a tensão entre
nós era densa e palpável, o ar ficava difícil de inalar quando Evelyn tinha que
ler meus lábios. Eu devia parar de dizer coisas em voz alta para o bem de nós
dois, só que não conseguia. Provavelmente me tornava um otário, mas eu
tinha fantasiado sobre Evelyn enquanto tomava banho depois que a vi
daquela maneira: a saia lápis, os saltos altos e o cabelo amarrado no topo de
sua cabeça, expondo o pescoço longo dela. Merda, o pescoço de Evelyn,
maldito fosse. Deus sabia tudo o que eu queria fazer com ele. Arrastar meus
lábios, envolvê-lo com a mão. Gozar sobre ele (não necessariamente nesta
ordem).
passasse em sua casa hoje e achava que já estava atrasado. Confirmei minhas
suspeitas quando vi o horário na tela do meu celular antes de enfrentar a
chuva lá fora e correr até o táxi que tinha solicitado parado no meio-fio. Não
dava para andar na Harley com esse temporal.
comigo.
Balancei a cabeça, respingando água para todo lado. Meu cabelo voou
para frente no movimento, cobrindo minha visão. O penteei para trás com os
dedos, ignorando o olhar de reprovação de Ellen e o seu nariz um pouco
franzido.
Ellen fazia natação desde que se conhecia por gente. Ela tinha algumas
medalhas de campeonatos, inclusive. Ela me deu um rolar de olhos petulante
e mordeu o lábio inferior em seguida. Parecia estar nervosa com algo e aquilo
me deixou apreensivo.
Sabia que meu rosto devia demonstrar choque, não estava esperando
por nenhuma das informações. Ellen era uma irmã para mim e eu sabia que
era difícil para ela se expressar na maioria das vezes, tanto que tinha um
círculo íntimo limitado com duas ou três pessoas dentro, no máximo. Meu tio
Só estou um pouco surpreso. Não sabia que garotas faziam seu tipo.
Assenti.
— Mas quem é a garota de sorte? Aposto que ela deve ser bem legal.
— Isso não vai acontecer — garanti para ela. Pensei por alguns
momentos e fui cauteloso ao escolher o que diria em seguida, mas precisava
saber: — E o Ian?
Ellen piscou algumas vezes, como se tivesse lembrado que ele existia
só agora. Eu sabia que havia mais do que eles tinham me contato, não era um
idiota que não percebia as coisas que aconteciam ao meu redor.
— Eu gosto do Ian, ele é um cara legal e não posso negar que me senti
atraída por ele e nós flertamos um pouco, só que era inofensivo. — Ela deu
de ombros outra vez. Fiquei em silêncio, não sabia se Ian pensava da mesma
forma. — Não pude evitar com a Ava. Nunca me senti assim antes com
ninguém. Desta vez é especial.
tentado me fazer ficar. Quando cheguei no prédio, sabia porque tinha voltado
tão depressa, só não queria admitir a mim mesmo que era por conta de
Evelyn. Não queria que ela estivesse sozinha, tampouco sozinha e no escuro.
Fiquei estático.
— Quero vê-la.
morte de minha mãe, a dor aumentava, além da saudade diária de sempre. Era
muita coisa para lidar de uma vez enquanto os professores da faculdade
exigiam artigos e testes preparatórios e faltavam algumas semanas antes das
provas começaram, além do estágio na escola. Estava parecendo uma morta
viva em meu apartamento, nos corredores da Goldring e em qualquer outro
lugar.
ou lugar. Era meio que um ritual nosso. Uma vez toquei algumas notas de
madrugada, quando a casa inteira estava assombrosamente silenciosa e ele
me surpreendeu aparecendo com a flor em suas mãos, deixando-a sobre o
tampo de madeira. Então ele subiu as escadas de volta para seu quarto e foi
dormir.
novamente para outro abraço. Sean era meu irmão por parte de mãe. Quatro
anos antes de meu pai tê-la conhecido, ela estava em um relacionamento com
o pai de Sean e engravidou. Eles se separaram dois anos depois e ele arranjou
outra família, conseguindo a guarda de meu irmão e levando-o consigo.
E é aí que meu pai, americano, entra em cena. Ele foi transferido para a
Coreia do Sul a trabalho e encontrou minha mãe. Eles se apaixonaram e
depois me tiveram. Por mais que Sean e eu tenhamos crescido em lares
Isso durou até minha mãe ficar doente e morrer. Sean tinha nove anos e
eu seis. Nós não entendíamos muita coisa e foi difícil nos despedirmos
quando meu pai foi transferido de volta para os EUA. Mesmo criança,
lembro-me de que havia sido uma época turbulenta e difícil. Não consegui
manter contato com Sean e se não fosse pelas visitas até a Coreia uma vez
por ano que meu pai propunha, teríamos cortado laços de maneira drástica.
— Vou fazer café para gente, estou congelando — falei, e me virei para
andar até a cozinha. Liguei o fogão com um fósforo e coloquei o fervedor em
uma das bocas.
Fiquei estática.
— Qual o nome dele? — Sean voltou a disparar, os resquícios de
diversão e relaxamento sumindo de seu rosto agora sério.
A verdade era que eu não queria ter que admitir que Hunt me fazia ter
— Mentirosa.
— Hunt.
— Hunt o quê?
Sean me ignorou.
Não estava falando sério, mas um brilho frio atravessou o olhar de meu
irmão e ele deu de ombros.
— Ok, desculpa. Não quis ser um otário, mas é só que... — Ele soltou
um suspiro inaudível e continuou sinalizando depois de uma pausa. — Estou
com ciúmes mesmo. Parece que era ontem que você era minha irmãzinha e
precisava ser salva do escuro ou das tempestades. Agora você é uma mulher
adulta de vinte anos e não sei se posso lidar com isso. Preferia quando você
Depois que terminei, lavei as mãos e voltei para a sala. Meu irmão estava
parado na porta, a luz de emergência do corredor de lá fora era bem fraca,
mas vi que tinha a silhueta de alguém com Sean e ele parecia tenso, sua
estrutura bloqueava minha visão de quem estava em sua frente.
Ele me observou por dois ou três segundos antes que Sean plantasse um
beijo em meu rosto. Dei uma cotovelada em suas costelas e o lancei um olhar
sério. Meu irmão rolou os olhos e um sorriso torto se puxou em seus lábios.
Seu olhar alternou entre mim e Sean, e na mão de meu irmão pousada
possessivamente em minha cintura. O rosto de Hunt estava inexpressivo.
Franzi as sobrancelhas.
— Vamos entrar, Evy. O café vai esfriar. — Sean sinalizou para mim,
ignorando Hunt.
— Que foi?
Vou para casa" e me deu uma piscadela antes de se virar. Fiquei observando-
o destrancar a porta do seu apartamento até que a fechasse atrás de si e
sumisse completamente do meu campo de visão.
Pisquei, incrédula.
Sean não retrucou. Estávamos os dois com raiva demais para não se dar
vezes. Esperei alguns momentos até que a porta fosse aberta. O ar deixou
meus pulmões lentamente quando o avistei.
sua visão. O peitoral inteiro estava exposto, as tatuagens espalhadas por cada
centímetro de sua pele lisa. Gotículas de água se espalhavam por seu
abdômen e desci meu olhar até as linhas que formavam um "V". Uma toalha
branca pendia em seu quadril e seus pés estavam descalços. Aparentemente
ele tinha acabado de tomar um banho.
Voltei meu olhar para seu rosto confuso e surpreso. Hunt engoliu em
seco, baixando o olhar para minha boca. Meu coração parou. Ele fitou-me
novamente, o braço tensionado de tanta força que ele estava colocando na
Era um aviso.
única opção de água naquele momento era gelada por conta da falta de
energia, não esperava pelas batidas na porta. Confuso, a abri depois de alguns
momentos e quando me deparei com Evelyn, nem tentei esconder a surpresa.
Foi o olhar em seu rosto que me deixou tenso e sem ar. Havia um
brilho selvagem em suas íris escuras e foi difícil não atacá-la enquanto
perscrutava todo o meu corpo daquela maneira. Ela não vestia nada além do
que aquela blusa longa que expunha suas pernas. O cabelo estava meio
bagunçado também. Eve estava mais bonita do que nunca e aquilo tornou
tudo mais difícil.
Então a alertei.
arrependida.
Todo mundo ficava curioso sobre beijar alguém com piercing e algo me dizia
que Eve também queria descobrir. A maneira como ela suspirou e me puxou
para perto fez com que minhas dúvidas se transformassem em certeza.
Soltei um riso baixo e a prensei mais contra a porta. Eve abriu a boca,
permitindo que eu a beijasse. Deixei com que ela ditasse o ritmo inicialmente.
Ela era lenta e cuidadosa, as mãos pousadas em cada lado de meu quadril. Os
polegares se movendo para frente e para trás em carícias ociosas. Parecia
querer explorar cada canto da minha boca com os movimentos tímidos de sua
língua aveludada.
ainda mais meu quadril contra o seu, desejando que ela sentisse o quão
excitado ela tinha me deixado. Eve soltou um som baixo que bateu no fundo
de minha garganta. Queria deitá-la na superfície mais próxima disponível, só
que não sei se seria uma boa ideia.
Moldei seu rosto com as duas mãos. Eve me empurrou para trás. Nós
não paramos de nós beijar enquanto ela nos guiava em direção ao sofá.
Evelyn se afastou para me encarar. O apartamento estava escuro, a chuva um
pouco mais abrangente soando lá fora, mas as velas que tinha acendido
Empurrei minha ereção contra seu sexo. Eve entreabriu os lábios, mas
nenhum som saiu de sua boca. Ela me lançou um olhar um pouco assustado e
plantei um beijo suave em seu pescoço. Seu suspiro bateu contra meu rosto e
ela se moveu, desta vez testando a fricção entre nossos corpos de maneira
hesitante e tímida.
Não podia acreditar que estava tão excitado como nunca estive antes
com uma quase transa com roupa.
sua blusa e soltei um palavrão quando encontrei seus seios livres, sem sutiã.
Passei o polegar sobre seu mamilo. O roçar quase inexiste fez com que Eve
tombasse a testa em meu pescoço enquanto tremia sobre mim. Quando ela se
recompôs e endireitou-se, vi que seu lábio inferior estava com marcas
profundas de dentes. Ela tinha mordido ali na hora que alcançou o orgasmo.
Passei os dedos em haste sobre elas. Um segundo depois começou a sangrar.
Ela saiu de cima de mim com pressa, parecendo finalmente se dar conta
de onde e com quem estava. Ela quase tropeçou nos próprios pés quando
começou fugir. Eve abriu a porta e nem lançou um olhar sobre o ombro antes
de fechá-la e ir embora, deixando-me sozinho e com uma ereção. E desta vez,
a deixei partir. Aparentemente as coisas entre nós tinham desabado.
As bolas azuis eram terríveis. Foi preciso me aliviar por conta própria
três vezes após Evelyn ter ido embora. Eu me sentia um adolescente
novamente tendo que usar a palma de minha mão com tanta frequência. Era
sempre áspero, forte e rápido para compensar a falta de Eve sobre mim.
Sentia que eu tinha me enfiado em um grande problema porque passei as
próximas vinte e quatro horas pensando nela e nas trinta posições em que a
queria.
Nunca me irritei ou perdi a linha com os caras da banda antes. Mas hoje
em especial eu estava em um estado crítico de amargor e não conseguia
suportar a mim mesmo. Antes que minha mente explodisse, perguntei para
Ian:
Ele sabia o que eu queria dizer com alguma coisa. Ian sinalizou para a
mochila jogada sobre o piso de ladrilho e me abaixei para pegá-la. Comecei a
revirá-la com a mão direita. Meus dedos tocaram em um exemplar pesado de
ASL (língua de sinais americana), lancei um olhar sobre o ombro. Ian estava
distraído afinando seu instrumento e eu soltei um gemido abafado. O idiota
estava mesmo caído por minha prima, tanto que estava aprendendo a como se
comunicar com ela. Enfiei o livro de volta na bolsa e tateei o bolso frontal,
finalmente encontrando o saquinho plástico de maconha.
murmurar uma sequência de palavrões. Esqueci que ele não sabia que eu
tinha transado com sua irmã mais velha. Tinha acabado de me denunciar. Ash
já estava no último ano da faculdade e em minha defesa, era bem gostosa e
gente boa. Morava no campus e quase nunca estava aqui.
Atticus voltou para o porão cerca de vinte minutos depois. Ele ainda
estava puto, mas precisávamos mesmo ensaiar. Daquela vez foquei na música
e no que eu estava fazendo com a minha guitarra.
Quando deu a hora, entramos na van dos pais de Atticus e fomos para o
lugar do show: uma boate bem famosa e badalada de Boston. O camarim era
um quarto meio apertado, padronizado com todos os outros. Me sentei em
uma cadeira e fiquei esperando. Faltavam cinco minutos, dava para ouvir o
burburinho de onde estávamos, o que indicava que o local devia estar bem
lotado.
carro em movimento.
O som das sirenes vindo do lado de fora da casa ficava cada vez mais
alto, fazendo meu coração trovejar em meu peito e me deixando sem ar,
projetando luzes azuis e vermelhas dentro do cômodo. A sensação era de
sufoco. Medo. Pavor. As pancadas na porta de madeira da frente começaram
até que cedesse e fosse derrubada. Os passos pesados ecoaram pelo corredor,
o som misturando-se os murmúrios de várias vozes.
palma de minha mão. Ian se levantou e andou até minha cozinha, procurando
por algo na geladeira. Eu odiava quando ele fazia isso e acho que era
justamente por esse motivo que ele continuava xeretando em minhas coisas.
— Ele deve ficar com receio. Imagina só a pobre coitada entre a gente.
Iríamos assustá-la.
— Qual é, a Ash é inteligente e super linda. Nós nos atraímos feito ímã.
Ficamos em silêncio até que ele percebeu o que tinha feito e virou o
rosto para mim, os lábios entreabertos e os olhos um pouco arregalados. Um
sorriso torto se puxou no canto de minha boca e eu balancei a cabeça,
incrédulo.
— Esse foi o dia em que vocês transaram também, não foi? — ele me
questionou, pegando tudo no ar.
— Foi — concordei, massageando o maxilar. — Caramba, Ash... —
resmunguei, impressionado.
— Caramba mesmo.
jantávamos na casa de Atticus com seus pais. Percebi que Ian estava meio
inquieto na mesa, mas achei que não fosse nada demais, mas agora fazia
sentido. Ele só estava nervoso porque tinha fodido a irmã de Atticus. Ash foi
até o quarto de hóspedes em algum momento da madrugada e foi a transa
mais silenciosa e cuidadosa da minha vida, porque não queríamos acordar
ninguém.
enlouquecida, até mesmo mandou uma piscadela para uma fã que estava
quase pulando a grade na qual ele estava próximo. Soltei um riso baixo.
Tinha uma época em que ele sempre ia para Boston, ao menos uma vez
na semana, e nós formávamos uma dupla destrutiva entre as garotas. O cara
era o maior cafajeste de todos os tempos, mas era o típico garoto de ouro. Até
que ele se apaixonou e as noites de farra acabaram. Não consegui mais falar
com ele, porque se mudou para Nova Iorque e se transformou em uma
superestrela do dia para noite.
em que meu relógio começou a vibrar em meu pulso. Engoli com certa
dificuldade, desviando os olhos da tevê, onde estava passando A Última
Música — um dos meus filmes prediletos — e fixei-os na porta, como se
pudesse ver através da madeira.
Eu não sabia o que ele estava fazendo ali. A gente tinha se beijado há
uma semana, supostamente era para ter cortado aquela tensão sexual e o
interesse estranho de Hunt por mim. Mas aqui estava ele, parado na minha
— Sim.
Dei um passo para o lado e depois outro, até que tivesse passagem.
Hunt atravessou para dentro e parou alguns passos antes do sofá. Ele analisou
o cobertor amassado sobre o estofado, o pote do sorvete que estava
Assenti.
— Presta atenção, Eve — ele começou a falar em voz alta e fixei minha
atenção na sua boca. — Não se preocupe comigo. E não precisa ficar
envergonhada por estar na TPM, eu cresci em uma casa com duas mulheres.
— Um sorriso torto e divertido tomou conta de seus lábios. — Às vezes elas
ficavam na TPM ao mesmo tempo, então eu tinha que lidar com uma onda de
progesterona enorme.
— Não.
pescoço, ele parecia sem jeito. O clima entre nós estava estranho e eu não
sabia o que fazer. Não achava que ele fosse me procurar depois... daquilo.
— Onde, Eve? Não está nas suas pernas. Nem nos braços, ou pescoço.
Costelas, talvez?
Não sei o que Hunt respondeu, do ângulo que estava, encaixada sob um
de seus braços, só dava para vê-lo de perfil. O maxilar bem-marcado dele se
moveu de uma forma que achei estranhamente atraente e um segundo depois
ele se afastou para sinalizar:
— Ela acha que você é minha prima e eu respondi que éramos amigos
de infância e agora estamos namorando.
Frostblues.
Ele me ignorou e disse que o cara tatuado se chamava Will. Will nos
levou até uma sala vazia e bem montada. Era profissional e cheirava a tinta e
couro. Ajeitei as mangas da camiseta fina de botões e cruzei os braços em
frente ao peito, observando o homem colocar um par de luvas.
Hunt foi primeiro, até porque já estava acostumado. Ele colocou uma
argola prateada no lado esquerdo do nariz que o deixou três vezes mais
bonito e atraente. Estava quase fugindo quando Will sinalizou para que eu me
aproximasse e sentasse na cadeira de couro. Hesitante, desabei sobre ela e
fechei os olhos com força, ignorando o olhar de diversão de Hunt sobre mim.
Ao contrário de Hunt, meu piercing tinha sido feito do lado direito e era
uma pedrinha de diamante bem sofisticada. Me encarei no espelho que Will
empurrou na minha frente e me surpreendi com o resultado. Hunt estava me
fitando com um olhar estranho. Ele se aproximou muito de repente e Will
saiu da sala, entendendo como uma deixa.
Não disse nada, então ele só afundou as mãos nos bolsos da calça jeans
conhecida na portaria, então não tive problemas. Mandei uma mensagem para
London avisando que estava do lado de fora e ela apareceu na porta um
momento depois.
— É um piercing.
— Adorei. Nunca imaginei que você fosse fazer qualquer coisa do tipo.
Você parece aquelas garotas imaculadas que os pais exibem como troféus.
começar a sinalizar.
de lugares, ela sem sombra de dúvidas seria algo entre Paris e Las Vegas.
— Mas e a faculdade?
— Meus pais. Acho que eles vão enlouquecer se eu disser que vou
largar a Goldring depois de dois anos estudando nela. — Seus ombros
despencaram um pouco e seu semblante foi tomado por frustração. — O que
você acha que eu devia fazer?
Nós acabamos a noite bebendo o vinho que devia ter custado uns
novecentos dólares enquanto ela me mostrava fotos de quando tinha
dezessete anos no celular na última vez que tinha ido para Paris, em um
porque lá fora estivesse chovendo forte e os pais não quiseram enviar seus
filhos para cá durante um temporal. Fechei alguns botões a mais do casaco
fino que estava usando e me repreendi mentalmente por não ter posto uma
meia-calça por baixo da saia lápis azul royal. Agora eu estava tremendo de
frio feito uma idiota.
Ela não tinha perca de audição completa, ouvia cerca de vinte por cento
em cada ouvido com a ajuda dos aparelhos auditivos. Bati com um pouco de
força na porta da cabine, esperando que ela escutasse as pancadas ou as
sentisse. Um momento depois, a cabine foi aberta de maneira receosa e lenta.
Molly surgiu de pé em minha frente, os olhos assustados.
Sabia que ela já estava ciente disso porque a Sra. Emma havia me
apresentado no primeiro dia que me anunciou como sua ajudante. Era
diferente eu mesma me apresentar para ela. Queria ganhar confiança, que ela
me visse como uma boa amiga.
vez.
— Foram as garotas.
— Quais garotas?
boneca do chão, depois pousei uma das mãos no ombro de Molly e a guiei de
volta para a sala de aula. Fiquei na soleira observando-a traçar um caminho
até sua mesa no fim do cômodo enquanto segurava Sky entre os punhos. Fitei
com atenção os movimentos da turma. Até que Erica, uma garota que sempre
usava tiaras, disse algo para um grupo de outras três meninas e elas todas
lançaram olhares estranhos para Molly em seguida.
cabeça. Eu e meu irmão estávamos meio distantes depois que mandei ele ir
embora de minha casa. Não pedi desculpas e nem ele. E por mais que eu
ainda estivesse chateada, não podia deixar de convidá-lo para o Chuseok.
Fazia mais de oito anos que não tínhamos comemorado-o juntos. Chamei
London também, mas ela disse que não poderia vir porque ia estar na casa
dos pais. Então seria apenas Sean e eu.
Abri a porta do apartamento depois de pegar as chaves do carro, passei
aqui só para trocar a sandália de cinco centímetros por um par de All Star
— Sério, Evelyn.
— Não.
— É só que não entendo onde você quer chegar. Nós nos beijamos e
não dá para fingir que isso não aconteceu. Eu te beijei porque achei que
depois disso você largaria do meu pé, porque é assim que caras como você
agem, não é? Vocês são apenas o caso de uma noite. E eu posso lidar com
isso. Posso lidar com o momento em que você vai embora e nunca mais me
procura novamente. Só que esse roteiro que estamos traçando é diferente e
— Então deixa eu ver se entendi bem, você queria meio que uma
amizade que te beneficiasse?
Hunt assentiu.
— Eu sei.
Hunt avançou um passo para frente, as íris presas em meu rosto com
atenção. Eu devia ter recuado para trás, mas não recuei, o que fez Hunt
entender como uma permissão. Talvez fosse uma permissão. Sua boca se
chocou contra a minha violentamente e ele enroscou os dedos na parte de trás
de meu cabelo, trazendo-me para junto de seu peito. Sua língua invadiu meus
lábios e aquele piercing maldito fez com que uma corrente elétrica
Fechei meus punhos em sua camiseta, trazendo-o mais para perto. Seus
lábios macios moldavam os meus com maestria. Parecia terem sido feitos
para encaixarem-se. Contive o gemido no fundo da minha garganta quando
ele puxou meu lábio superior entre os dentes. O próximo beijo foi em um
ponto abaixo do meu maxilar. O outro na clavícula, na pele exposta que a
gola canoa do casaco deixava à mostra. Seus lábios se moveram lentamente
no meu pescoço, ali era uma área supersensível e entreabri a boca, minhas
pudesse saber o que eu precisava, sua mão que estava em minha cintura
escorregou para minha barriga e então foi um pouco mais para baixo, até que
estivesse entre minhas pernas e sob a saia. Meu peito parou, prendi a
respiração nos pulmões e o fitei com expectativa.
Sua boca se moveu e ele disse "A última vez" em voz alta.
meu queixo. Meu corpo tremeu quando ele inseriu outro dedo. Os
movimentos começaram lentos e torturantes. Ele estava brincando comigo. O
puxei mais para perto e ele riu em resposta. Quando ele aumentou a
velocidade, o rosto ficou sério de repente. Hunt parecia atento a cada reação
minha, como se quisesse gravá-las bem. A mão que estava sob meu queixo
deslizou um pouco para cima e seu polegar mergulhou dentro da minha boca,
pressionando minha língua.
O ponto entre minhas pernas latejou mais ainda e senti meus joelhos
fraquejarem. Um "chupa" escapou por seus lábios e o obedeci, raspando
Hunt não esperou por uma reação minha. Ele aproveitou que meus
lábios estavam entreabertos em surpresa para passar a língua entre eles e
alcançar o céu da minha boca, lambendo-o. O meu próprio gostou invadiu
meu paladar. A bolinha de metal bateu em meus dentes no processo. O
contato foi fugaz e durou uns três segundos. Ele se distanciou e me deu um
sorrisinho cheio de segundas intenções.
mesma que tinha sido a última vez, como Hunt também tinha tido no
corredor antes de começar a me tocar.
Depois que terminei, enrolei uma toalha em volta da cintura e fui até
meu quarto, pegando roupas limpas no armário. Tentei corrigir algumas
coisas da faculdade, mas minha pele ainda estava pegando fogo. Apertei meu
punho com força ao redor da caneta e fechei o livro.
dedicado. Eu acho. Sempre dava um jeito de associar algo que lia com a
Evelyn.
Isso durou até que uma batida em minha porta me fez levantar do sofá e
deixar os livros jogados lá de qualquer jeito. Eu não tinha concentração para
estudar no momento, de qualquer forma. Quando girei a maçaneta, nem tentei
esconder o choque no meu rosto por encontrar Evelyn ali, de pé na minha
frente. Fazia mais ou menos duas horas desde que meus dedos estiveram
dentro dela.
esquecido de como se usava ASL. Achei graça. — Você nem deve saber o
que é o Chuseok, não é? Mas eu queria convidar você, de qualquer forma.
Achei que seria falta de educação não vir até aqui. Minha mãe sempre incluía
a maior quantidade de pessoas que conseguia e este ano está meio vazio.
Seu pescoço também começou a ficar vermelho e tentei não rir, porque
aquilo só a deixaria ainda mais nervosa e sem graça.
Evelyn?
— Acho que seu irmão não vai ficar muito feliz comigo lá.
Era o dever dele mantê-la longe de otários como eu, por isso não fiquei com
raiva e nem nada do tipo. Me tranquilizava saber que ela tinha alguém que
realmente se importava.
Evelyn trocou o peso de uma perna para a outra daquele jeito que ela
fazia sempre que estava perplexa sobre algo e seus lábios se pressionaram em
uma linha reta. Um quê de aborrecimento e culpa se misturou em seu olhar.
cada um dos lados de seu rosto. Ela estava tão bonita que me achei
desleixado na minha camiseta branca sem estampa e jeans casuais.
Evelyn parou ao meu lado no corredor estreito e nós dois viramos para
— Senta.
— Não achei que ela fosse chamar você para o Chuseok. É coisa de
família — Sean disse, perplexo.
Ele definitivamente não estava feliz com a minha presença.
Foi a vez dele de abrir um sorriso torto. Ele deu um gole longo na long
neck.
— Amigos? — perguntou-me.
— Amigos — concordei.
— Não estou nem aí, Finley. — Ignorei a parte de que ele sabia meu
sobrenome sem eu ter dito. — Se você a machucar, juro por Deus que venho
atrás de você. Eu vou te machucar tanto, cara. Esse seu rostinho bonito vai
ficar irreconhecível e você não vai ter a mesma facilidade para entrar nas
calcinhas das garotas. Eu conheço esse seu tipo.
— Aham.
minhas veias. Ela pareceu causar o mesmo efeito em Sean. Sua expressão
mudou tão drasticamente que ele pareceu outra pessoa sem a expressão
perpétua de raiva e seriedade.
Odiei a sensação.
O clima na mesa não era lá dos melhores e meu irmão estava sendo o
maior contribuinte para aquilo. O rosto dele estava torcido em uma careta
quase imperceptível de contrariedade enquanto eu colocava o prato de Hunt
na mesa e o servia com minibolos, conhecidos como Songpyeon na Coreia.
Eles tinham formato de lua crescente e eram preenchidos com sementes de
gergelim, feijão vermelho e outros ingredientes. O elemento principal do
prato era o pó de arroz.
Lancei um olhar para Hunt. Ele estava bebendo um pouco do chá doce.
Seus olhos já estavam presos em meu rosto então fiquei meio surpresa ao
pegá-lo me encarando. Ele piscou inocentemente e colocou o copo sobre o
tampo da mesa.
— Aposto que você foi uma criança difícil. — Eu sinalizei para Hunt,
em uma tentativa de incluí-lo na conversa.
Fiz um escrutínio longo por seu rosto. Podia imaginar ele com
dezessete anos, partindo mais corações do que poderia contar com o meio
sorriso sacana, jaqueta de couro e coturnos.
— Aposto que sim.
ele sugeriu que você cursasse uma faculdade da Ivy League com o dinheiro
que ele guardou em uma poupança especialmente para isso a vida toda?
Sean tinha acabado de cutucar uma ferida de Hunt. Soube daquilo pelo
jeito que seus ombros ficaram enrijecidos e ele se endireitou na cadeira, o
rosto ficando um pouco sombrio e as mandíbulas travadas.
porta. Sem pensar muito, joguei meu travesseiro em sua estatura larga e alta.
Ele bateu contra seu peitoral e caiu no chão. Não tinha feito nem cócegas e eu
sabia daquilo, mas me senti um pouco melhor, então joguei outro nele, só
pela satisfação de ver seu rosto torcido em uma careta de descrença e os olhos
arrependidos.
— Aposto que você tem umas histórias legais para contar — meu
vizinho disse em voz alta, sinalizando para que eu entendesse também.
Dava para ver no rosto dele. Não era um cara que deixava as coisas passarem
batido.
Engraçadinho.
era bem ciumento. Ganhei um furão e ele foi embora no dia seguinte. Fiquei
arrasado por duas semanas e o procurando por todo lugar na vizinhança. Aí
descobri que o Pringles estava na casa em frente à minha. — Ele começou a
balançar a cabeça negativamente. — Ele era um baita ingrato.
acabar morto. Eu o resgatei. Nós dois tínhamos isso em comum, sabe? Rolou
uma conexão. Eu, pelo menos, me sentia conectado com ele. Nós dois fomos
deixados para morrer na sarjeta e adotados por alguém que estava disposto a
nos amar logo depois. Eu achava que éramos iguais.
Hunt falou que havia sido deixado para morrer na sarjeta com tanta
naturalidade que nem levei a sério. Devia ser apenas uma forma de expressão,
certo? Contive a vontade de perguntá-lo sobre isso, porque parecia um
território meio perigoso. Fiz bem o trabalho de esconder a preocupação.
— Eu até tentei. Fiquei furioso naquele dia, Eve. Ele estava na casa do
inimigo. O garoto que morava na frente costumava me esnobar pelo fato de
— Nossa, que otário. Me diz que você deu um soco nele ou algo do
tipo.
— É, ele era dois anos mais velho que eu e quinze centímetros mais
alto. Toquei a campainha de sua casa por três minutos inteiros depois de ter
visto Pringles no parapeito de uma das janelas do segundo andar. Aí ele
apareceu e eu só soquei o nariz dele. Depois ele devolveu o soco. E mais
outros. Um chute também.
— Ele estava blefando. Ele amava o Pringles tanto quanto eu. O idiota
só queria me calar.
— Não, não torna. — Hunt fez uma pausa. — O que você me diz sobre
o nosso gato?
— Nosso gato?
— Eu sei. — Hunt sorriu. — Ele pode ficar uma semana na minha casa
e uma semana na sua. Essa dinâmica deve funcionar. Quando você quiser
sair, pode deixá-lo comigo. E vou fazer o mesmo, para que ele não fique
sozinho. Exceto quando nós dois estivermos fora, aí ele vai ter que se
acostumar com a solidão mesmo. O que você me diz?
— Ok, agora a gente precisa achá-lo. Vem cá. — Hunt deu um tapinha
no lugar vago do sofá ao seu lado e eu arqueei uma sobrancelha.
mãos longe de mim agora e vice-versa. Sentei-me ao seu lado e percebi que
tinha sido um erro no mesmo segundo. Seu cheiro me fez querer passar o
nariz em seu pescoço para inalá-lo, ou os lábios. E o calor corporal que
emanava de sua estrutura quase me fez soltar um ruído baixo e com que eu
pulasse nele. Os pensamentos invadiram minha mente com uma naturalidade
que me deixou espantada. Hunt provocava instintos em mim que faziam com
que eu mesma não me reconhecesse.
Outro erro.
desproporcional.
restante de sua pequena estrutura. Mas aquilo não me fez recuar, só que algo
se acendesse dentro de mim e me sentisse mais fascinada.
— Você não vai ser um bom pai. Estou repensando sobre a guarda
Ele levantou a mão direita com a palma para frente, o polegar pousado
sobre a unha do mindinho e os outros dedos esticados e apontados para cima.
na tela para dar zoom, de forma que abri a mensagem sem querer. Foi
inevitável, meu queixo caiu quando um par de peitos tomou conta da tela.
constrangimento, mas tudo que encontrei foi seu corpo tremendo enquanto
ele parecia rir a ponto de hiperventilar.
imprudente que tinha acabado de conhecer o rock. Foi meu primeiro contato
com música e decidi que precisava me tornar um super astro e conquistar
sexo e mulheres. Consegui a última parte, ainda estava trabalhando na
primeira. Antes de me vestir, ainda só com uma toalha enrolada na cintura e o
peito nu, acendi um baseado e dei cinco tragadas antes de atirá-lo no lixo da
cozinha.
Quando cheguei em frente à casa dos meus tios, enfiei as mãos nos
bolsos e tracei meu caminho até a entrada. Dei três batidas na porta e esperei
pela governanta, que abriu a porta para mim.
faculdade, que respondi vagamente. Não gostava muito dele. Não sabia como
tia Courtney tinha se casado com alguém assim. Sempre estava focado
demais no trabalho, ou mal-humorado.
Aquele era o jeito dele de falar para ela não enrolar e ir direto ao ponto.
Aquilo me fez travar as mandíbulas. Sorte que não estava olhando para mim.
Ellen olhou para a mãe, e depois para o pai. Por fim, seu olhar pesou
em mim. A encorajei com um maneio de cabeça, como se dissesse para ir em
frente.
quarto se fechando.
O rosto da tia Courtney estava tão pálido que achei que ela desmaiaria a
qualquer momento.
— Vou falar com ela — murmurei, sem esperar por uma resposta, já a
seguindo.
— Você quem devia sentir vergonha por ser quem é. Não Ellen —
resmunguei as palavras, com raiva.
Observei seu corpo ficar tenso com satisfação e o deixei para trás, indo
atrás de minha prima. A porta não estava trancada, então entrei em seu
quarto. Ela estava colocando algumas roupas em uma mochila, o rosto
vermelho e manchado por lágrimas. Ela não chorava mais, só que parecia
péssima. E com ódio.
— Claro, Elly.
— Obrigada.
encontramos minha tia na sala. Ela pareceu ficar três vezes mais preocupada
quando viu a bagagem.
Como ela estava com o corpo virado na minha direção, pareceu ficar
tão surpresa quanto eu ao me ver. Os olhos tinham formato de amêndoas e
eram de um castanho profundo. O rosto dela estava limpo de maquiagem e o
cabelo longo e espesso da mesma cor das íris emolduravam suas maçãs
saltadas. Era bonita. Acho que fazia o tipo dele mesmo. Não sei quem devia
parecer mais atônita no momento, eu ou ela.
Senti o pescoço começar a arder. Hunt esteve ocupado com uma garota,
então? Respirei fundo e forcei-me a me mover, dando alguns passos para trás
e de volta para o interior de meu apartamento, mas, antes que pudesse bater à
porta, a garota se ergueu, tirando poeira dos joelhos. Então ela moveu as
mãos:
Pisquei rápido.
desconfiada.
— Eu sei que não, o Hunt não gosta desse tipo. Já você é exatamente o
ideal dele.
Ellen passou por mim quando a dei passagem e nós seguimos para a
cozinha. A caneca de café que eu tinha abandonado sobre a bancada da pia
estava fria e coloquei no micro-ondas sessenta segundos para aquecer. Girei
nos calcanhares e deparei-me com a prima de Hunt meio debruçada na ilha
que separava os cômodos.
— Por que você acha que o Hunt gosta de mim e que faço exatamente o
tipo dele? — Resolvi ir direto ao ponto.
— Ele gosta dos desafios. — Ela deu de ombros. — Pelo que eu soube,
você o evita ao extremo. Ao invés de isso afastá-lo, tem efeito oposto.
Engraçado, não é?
— É ridículo.
— Eu sei.
— Não, mas obrigada. Acho que seu café está pronto — Ellen disse a
mim e me virei, tirando a caneca fumegante de dentro do micro-ondas e
assoprando sobre a borda.
Franzi o cenho.
— Que estranho. Será que ele ficou irritado porque te convidei para
entrar aqui? — Comecei a mexer os pés, alternando o peso do meu corpo
entre um calcanhar e outro.
— Bom dia, Eve — ele disse em voz alta, forçando-me a ler seus
lábios.
Ergui as mãos, pronta para dá-lo uma resposta, só que meu cérebro
— Deixa para lá, a Ellen está na cozinha, se é isso o que você quer
saber.
— Não estou.
olhar intenso.
— Não.
Arqueei as sobrancelhas.
— Não?
— Eu sei — foi tudo o que ele respondeu, com uma postura de quem
— Porque aí não teria uma desculpa para ir te ver, ou fazer com que
você viesse até aqui.
Pisquei rápido, depois desviei o olhar para longe. Após analisar sua sala
inteira e absorver os detalhes, me pus de pé e mordi os lábios. Eu odiava
como Hunt fazia com que me sentisse uma adolescente outra vez. Finalmente
ousei o encarar.
Rolei os olhos.
— É falta de educação.
Ele analisou meu rosto com calma, os olhos cintilantes e o cabelo preto
caindo sobre a testa e cobrindo as orelhas. Deu outro passo em minha
direção. Quase prendi a respiração. Havia menos de um metro entre nós.
Idiota.
O olhar de Hunt foi atraído para um ponto atrás de minha cabeça e ele
parecia repentinamente aborrecido. Virei-me e senti o rosto arder quando
avistei Ellen parada na soleira da porta, os olhos meio arregalados e os lábios
entreabertos.
Ela deu um passo para trás e ergueu as mãos em rendição, sem jeito.
Sinalizei para ela que não tinha problemas e que já estava de saída.
Envolvi meus braços ao redor de mim mesma e lancei um breve olhar sobre o
ombro, para Hunt. Ele me encarava com uma promessa implícita nos olhos.
Uma promessa de que ele tomaria o que quisesse de mim e que se deleitaria
enquanto eu cedesse feito uma marionete.
Foi aquele olhar que fez com que eu fizesse algo que eu não fazia há
muito tempo. No meu quarto, em minha cama, eu deslizei a mão para dentro
do meu short de algodão e o imaginei sobre mim. Ele devia ser dominante na
cama, então visualizei-o por todo lugar. Sua língua, seus dentes, sua boca, de
uma forma nenhum pouco gentil. E quando eu atingi o ápice, abri os olhos e
fitei o teto, sentindo-me meio ressentida.
apontada para o chão, o que permitia que eu visse o suficiente, apesar das
sombras. A eletricidade não funcionava no cômodo.
Dez segundos se passaram, depois vinte. Não disse nada, meu corpo
estava imóvel.
meu caderno. — A.H. — Leu as iniciais gravadas sobre ela, depois ergueu as
íris para mim. — É seu nome — concluiu.
minha camiseta, grudando-a ao meu tronco feito uma segunda pele. Não
entendia o que estava acontecendo e antes que pudesse continuar espiando, o
xerife fechou as cortinas.
— Não olhe para o lago quando estivermos saindo — ele disse, com
um olhar inexpressivo.
Franzi o cenho, confuso. Por que eu não devia olhar? Quem era toda
aquela gente? Eles não deviam me ajudar? Nos ajudar? Não entendia.
Como se o xerife pudesse ler todas as perguntas por de trás das minhas
íris, ele colocou uma das mãos sobre meu ombro direito, apertando-o de
maneira desajeitada que devia ser reconfortante.
— Sinto muito, garoto. Ele está morto — a voz de barítono ecoou por
meus tímpanos.
O Natal estava próximo, o que significava que faria mais um ano desde
o dia em que minha vida mudou completamente e desde que ele se foi. Na
maioria dos anos, eu tinha esses sonhos como flashbacks do meu passado e
era sempre angustiante. Precisei passar por anos de terapia para aprender a
lidar com eles, entendê-los, mas agora estavam de volta e a todo vapor.
Meu apartamento estava vazio outra vez sem Ellen, que tinha voltado
para casa dos pais logo depois de ter interrompido o meu quase beijo com
Virei-me para ela, parada na porta com os braços cruzados na altura dos
peitos. Ela estava bonita, como o habitual. Cabelo preso em rabo de cavalo
alto, jaqueta jeans e um vestido floral por baixo. Pés em um par de All Star
pretos e rosto livre de maquiagem, exceto pelo gloss nos lábios.
— O que você vai fazer no Halloween? — Sinalizei para Evelyn,
acomodando-me em seu sofá.
Eu sorri.
— Vai sim.
— Vou nada.
— Vai — eu insisti.
— Não vou.
Eu a ignorei.
Parei, sem saber por que estava a convidando ou por que eu de repente
a queria lá, me assistindo, mesmo que ela não pudesse me ouvir.
— Eu não posso ouvir sua música. — Eve sinalizou calmamente,
parecendo intrigada. — Por que você me quer lá?
— Eu apareço na sua porta às oito e tem uma coisa que você precisa
saber... — Um sorrisinho sacana começou a crescer em meus lábios. — A
entrada só é permitida para pessoas fantasiadas.
Erica parecia receosa, mas foi a primeira a ceder. Ela ficou parada em
frente a caixa, os olhos verdes presos no fundo dela. Seus lábios se torceram
para baixo e ela levantou o rosto para mim, a confusão brilhando em suas íris.
meu vizinho, ou seja, ninguém menos que Hunt Finley (o cara que me
deixava nervosa).
Ele apareceu na soleira cinco minutos depois e esqueci o que tinha ido
fazer ali. O cabelo de Hunt, que da última vez que eu o vi era longo e
enroscava em suas orelhas e caía na testa agora tinha sido cortado. Ainda
dava para enrolar nos dedos, mas não era a mesma coisa. Estava aparado nas
laterais e comprido em cima, os fios despontados em direção ao teto em um
penteado desleixado. As maçãs de seu rosto pareciam mais altas e agora os
perplexa. Ele parecia sem jeito, meio sem graça, meio sem reação. Sorriu um
pouco para mim e sinalizou:
— Oi, Eve.
desceram por seu torso nu. Pele branca feito alabastro e tinta preta por toda
extensão percorrida com o olhar. Ergui o rosto novamente, em chamas.
— Eu... — Tentei dizer outra vez, mas minha mente estava dando um
daqueles curto-circuito malditos.
— Eu já entendi isso. — Hunt tombou a cabeça para o lado daquele
jeito assemelhado a um filhote de cachorro e um sorriso torto começou a se
— Tá emperrada? Posso dar uma olhada para você. E isso não explica
você estar encharcada.
mim, parado perto da porta. Ele sinalizou que buscaria algumas toalhas e
assenti, depois sumiu no corredor. Fiquei alguns momentos em pé e sem
jeito, trocando o peso sobre os calcanhares até que ele voltasse.
Hunt estava vestindo uma camiseta azul marinho agora. Observei seu
rosto, ainda era meio esquisito vê-lo sem o cabelo comprido, mas acho que eu
nunca tinha o visto tão bonito antes. O corte deu meio que um upgrade em
sua aparência (algo que achei que seria impossível de acontecer antes).
Deixei a gata para trás e me levantei. Não falei nada sobre o zelador
estar fora, só peguei o que Hunt tinha estendido em minha direção e fui para
o banheiro. Depois de fechar a porta, tirei a blusa que estava usando e joguei
na pia, fiz o mesmo com a calça jeans, que grudava na minha perna. Minha
calcinha, de alguma forma, continuava seca. Seria embaraçoso se não
estivesse.
— Obrigada — agradeci, antes que ele viesse até onde eu estava parada
e colocasse a caneca em minhas mãos.
— Não sei. Tudo da minha faculdade já está em dia, então acho que eu
ia ler.
— Por mim, tudo bem — ele disse movendo a boca, então pegou
Mimosa no colo. Ela se aninhou em seus braços e ficou quieta.
Escondi bem meu choque. Mimosa era uma traidora. Em todas as vezes
em que ela esteve na minha casa até agora, ou estava tentando comer a
almofado do meu sofá ou meus sapatos. Ela nunca me deixava abraçá-la por
muito tempo, ou se aninhava a mim do jeito que estava fazendo com Hunt
neste momento. Não podia acreditar que estava ficando com ciúmes por
causa disso.
Não me movi.
— Vem, Eve. Eu não vou morder você, por mais que seja tentador.
eu estava apertada contra ele. Nossos lados estavam se tocando além de que
Luke: tô em Massachusetts
Luke: beleza
— Cara, quanto tempo — Luke disse, com um sorriso torto no rosto,
depois de atravessar a porta da cafeteria e me alcançar.
— Thirteen? — questionei.
— Eu sei que você já dormiu com ela. — Luke foi direto ao ponto e eu
só dei de ombros, não tinha significado muita coisa. Nós estávamos afim, foi
bom e simples. Ela não pegou no meu pé depois daquilo e nós seguimos
nossas vidas.
bloco de notas.
Ele não precisava me dizer quem era ela, porque eu já sabia. Faith, a
garota loira que o tinha nas mãos. Lembro do jeito como eles se olhavam
quando os vi juntos pela primeira e única vez, antes de me mudar para
Massachusetts. Pareciam muito apaixonados.
— Você é uma superestrela agora, não devia estar triste por causa de
uma garota — brinquei, usando tom de voz sério.
— Você não entende, Hunt. Ela não é só mais uma garota. Ela é A
garota. Minha garota.
— Não entendo mesmo, é por isso que tudo o que eu faço é sexo
casual.
— Hunt, você vai ver, cara. Ela vai partir seu coração.
Ele riu.
Eu o ignorei.
mais vezes por aqui, a gente precisa sair para relembrar os velhos tempos.
Até parece.
Eve não estava mais dormindo quando voltei. Na verdade, ela já não
estava mais em meu apartamento. Havia uma mensagem sua em meu celular,
que tinha sido enviada há dez minutos.
Eve: obrigada por ontem, tinha um teste importante hoje
Por algum motivo, estava envergonhado demais para admitir que tinha
saído para comprar o café da manhã de Eve. Que merda eu estava pensando?
Joguei o celular no sofá e fitei um ponto fixo. Veria Eve daqui algumas
horas, para a noite de Halloween. Ela não tinha permitido que eu visse a
fantasia que ela tinha reservado para mim, que me entregou em uma caixa e
tinha me feito prometer que não abriria até a hora de vesti-la. Foi o único
jeito para que ela topasse me acompanhar. Eu também não sabia o que Eve
vestiria, mas mal podia esperar para ver.
Ele estava usando um blazer preto e uma calça jeans da mesma cor. O
rosto estava coberto por tinta branca e preta em um desenho realístico, era
como se sua pele tivesse se decomposto e seu crânio visível. Os fios
castanhos do cabelo estavam jogados para trás e seus olhos azuis dele
cintilando mais que nunca.
Dava para ver que ele estava se divertindo muito com a ideia da
Evelyn.
Travei as mandíbulas.
Eve sorriu, o rosto divertido enquanto ela analisava o que tinha exigido
de mim: chapéu cartola de veludo com orelhas compridas, blazer azul por
cima de uma blusa branca com mangas longas bufantes e babados sob o
colarinho. A calça era meio estranha e acabava um pouco abaixo nos joelhos
— da mesma cor da jaqueta — e eu usava mocassins e luvas. Me sentia algo
entre Shakespeare e X-Men.
Um pequeno sorriso ousava delinear seus lábios toda vez que ela
olhava para a minha fantasia, parecia mesmo estar contente com o resultado.
De repente, me senti satisfeito. Não importava se eu estava ridículo ou não.
Eve estava feliz.
Quando chegamos na van, abri a porta para Eve e ela entrou depois de
acenar para Ian e Atticus através do retrovisor frontal. Apontei um dedo
enluvado para meus amigos e me curvei até que estivesse no vão entre seus
assentos.
— Não se preocupem, ela vai saber disso agora mesmo — cuspi para
— Oi — Eve respondeu.
Aquele era o jeito dela de me dizer que não estava mais a fim de
conversar e respeitei sua vontade e espaço. Durante o restante do trajeto, Ian
passou resmungando sobre o quanto o proprietário do lugar devia estar com
raiva de nós pelo atraso imprevisto por conta do trânsito.
Eu: tenho
Ash: ok
Ash voltou alguns momentos depois, com uma garrafa de cerveja. Ela
estava vestida de bruxa. Era uma fantasia boa. Vestido de couro, chapéu
comprido com a ponta fina e uma maquiagem bonita no rosto. Ela sorriu na
minha direção. Dava para ver que ela era uma garota legal.
Ash: enfermagem
Eu: isso ñ significa mta coisa, qlqr um que tem dinheiro pode estudar
lá
Eu: touché
conectou ao meu. Ele sorriu torto e então começaram a tocar e cantar. Não
escutei nada, é claro. Mas sentia o chão estremecer, como tudo ao meu redor.
Até mesmo o banco onde eu estava sentada.
Inveja de todos que podiam ouvi-lo. De todo mundo que podia saber
como era a sua voz. Tentava não seguir por este caminho na maioria das
vezes, mas eu era humana e, droga, eu me frustrava.
Sem esperar por uma resposta sua, me virei e me enfiei entre o mar de
pessoas, traçando caminho até um corredor onde havia uma pequena fila com
Bloqueei o aparelho e não o chequei nem uma outra vez, nem mesmo
quando o visor iluminou, notificando-me sobre outra mensagem de Ash. O
banheiro ficou livre em cinco minutos. Eu precisava mesmo fazer xixi, mas
também precisava respirar um pouco, só que o cheiro no banheiro estava
Quase passei por ele diretamente. Hunt estava parado ao lado da porta,
atraindo mais atenção para si do que poderia notar, já que seus olhos estavam
me analisando com cuidado e hesitação. Soltei um suspiro e tentei sorrir um
pouco, só que não deu certo.
— Eu... — Comecei a sinalizar, mas Hunt me interrompeu, segurando
as minhas mãos.
— Não precisa dizer — disse ele, em voz alta. Li seus lábios. — Dança
comigo.
dança. Não tive reação imediata quando ele colocou os braços ao meu redor e
me ajustou contra seu corpo. O calor que irradiava por baixo da fantasia que
ele usava era desconcertante e me deixou inquieta. Sentia meu coração pulsar
violentamente contra as minhas costelas.
A música que estava tocando agora era agitada, pelas vibrações. Só que
Hunt não parecia se importar enquanto dançava de maneira lenta comigo. Ao
nosso redor, as pessoas nos lançavam olhares esquisitos, mas tudo o que
importava agora era o momento entre nós.
Não sei por quanto tempo ficamos dançando valsa no meio da boate.
Em algum momento, Hunt me levou até a porta dos fundos e nós saímos do
estabelecimento. A van estava parada a alguns metros de distância e o lugar
estava vazio, a luz fraca de um poste iluminando parcialmente a rua.
Ele me interrompeu:
— Não sei.
Não era uma resposta boa o suficiente.
— Por quê? — Foi a vez dele de exigir uma resposta. Havia um vinco
profundo entre suas sobrancelhas e o um quê de frustração preenchia seu
olhar.
— Não significa muita coisa. São só... as minhas mães. E nós somos
amigos, não somos?
Amigos não olham um para o outro do jeito que você olha para mim,
pensei.
Eu sabia que Hunt me convenceria mais tarde de que não era apenas
um encontro de amigos. Quando eu colocasse meus pés na porta da sua casa,
o lugar onde ele cresceu, onde havia memórias e amor, não teria mais volta.
Quando ele me apresentasse para suas mães, tudo estaria arruinado. Minhas
barreiras cederiam uma por uma e eu ficaria vulnerável.
Aceitei o convite.
Sábado pela manhã, eu e Hunt estávamos indo para sua casa em
Connecticut. Como era uma viagem de mais ou menos duas horas e eu odiava
motos, nós optamos por ir no meu carro. Hunt dirigia o Honda com um certo
entusiasmo, ele parecia mesmo animado para visitar as mães. Parte de mim
queria pensar que era por minha causa, porque ele iria me apresentar a elas,
só que me senti meio tola um segundo depois. Ele devia estar mesmo com
saudades de seu lar. Eu também sentia saudades de casa.
Tentei não observá-lo por muito tempo, mas senti que falhei
miseravelmente. Hunt estava tão bonito, com uma camiseta azul de mangas
longas e o cabelo sedoso sendo agitado pelo vento que invadia o automóvel
por uma fresta da janela que não consegui ser discreta na tarefa de admirá-lo
secretamente. Seu olhar se conectou ao meu por um momento, ele tocou no
meu queixo com a ponta dos dedos e o empurrou suavemente para cima. A
expressão prepotente em seu rosto dizia: você está babando.
suficiente para as mulheres que criaram Hunt. Por algum motivo, sentia que
precisava causar uma boa impressão a elas.
Um momento depois, outra mulher surgiu na sala. Ela era alta, uns três
centímetros mais baixa que eu. Seu cabelo preto era longo. Ao contrário de
Reagan, sua presença era marcante. Parecia ter personalidade forte. Eu dizia
aquilo pelas roupas de couro e o batom vermelho.
bonito.
— Você é meu único filho — Kira sinalizou, com uma expressão meio
entediada e muito séria.
Hunt tentou parecer ofendido, só que ele falhou e acabou rindo. Mordi
os lábios para conter o sorriso. Não tive mais tempo para falar com as mães
de Hunt, porque ele me puxou escada acima, até o segundo andar. Fiquei
meio nervosa, mas sabia que ele não tentaria nada com sua família aqui. Eu
acho. De qualquer forma, me sentia invasiva.
Olhei para frente, de volta para o outro lado da rua, por mais que não
quisesse afastar meu rosto do seu. A casa tinha o mesmo padrão da de Hunt,
era até mesmo tão elegante quanto. Nos afastamos da janela quando um Jeep
estacionou em frente à propriedade.
Fiquei tímida sob seu olhar e desviei o olhar para longe, virando o rosto
em direção à janela. Bem, havia muita coisa para dizer a Hunt.
1 - Conhecer suas mães não tinha sido uma boa ideia, por mais que elas
claramente fossem pessoas boas e gentis.
contra a minha com aquele maldito piercing de metal, o que me deixou ainda
mais extasiada. Era patético como ele podia me deixar maluca só com um
contato.
Engoli em seco.
— Vamos ser silenciosos. A porta está fechada, minhas mães não vão
aparecer aqui.
— Você é covarde.
Hunt me ignorou.
Recuei.
— Somos, sim.
— Não somos. Nós queremos coisas que amigos não querem. Ou não
deviam querer.
— Posso não saber sobre as coisas que você almeja, mas tenho certeza
sobre algo, Eve. Sei que você me quer tanto quanto eu te quero.
Sua pele estava quente e era macia e firme sob meu toque, ele deslizou
minha mão para baixo contra a sua, fazendo-me traçar uma linha em sentido
ao sul. Meus dedos deslizaram sobre seu abdômen definido e depois pararam
no cós de sua calça. Hunt me fez ir além e não o impedi, até que minha palma
estivesse sobre sua protuberância através do tecido jeans.
Havia uma súplica silenciosa e urgente em suas íris que dizia me toque.
decorar seu rosto quando ele gozasse, entender seu corpo e saber como
poderia satisfazê-lo. Meus dedos trêmulos abriram os botões de sua calça, um
por um.
Fixei meus olhos no seu rosto. Hunt franziu o cenho com força e
baixou o olhar para minha mão. Fiz outro movimento cauteloso e suave. O
coração dele errou uma batida. Hunt soltou o ar com força, fazendo minha
palma aberta em seu peito acompanhar o movimento ao estufar e esvaziar.
Seus olhos encontraram os meus.
Não era macia, nem aveludada, era lisa e sólida, gélida. Um piercing. Hunt
Quando ele gozou, deixei com que fosse do seu jeito: na minha boca.
Deixei que ele derramasse cada gota do seu líquido em mim e engoli
— Acho que nunca terminei tão rápido antes. — Hunt sinalizou, com
naturalidade.
Era engraçado como ele estava agindo, como se fosse a coisa mais
Eu devia dizer não, devia ter me afastado, só que eu não fiz nada disso.
Eu o deixei se aproximar, deixei com que sua mão deslizasse para dentro da
minha calcinha, deixei com que dois dedos seus afundassem em mim.
— Você se toca?
— Responde, Evelyn.
— Pensando em mim?
Hunt voltou a me tocar. Daquela vez, ele foi até o fim e me deu o que eu
queria. Foi devastador e intenso, como das outras vezes, mas dessa vez tinha
algo estranho. Aquela conexão estranha pairava sobre nós.
Decidi ignorá-la.
— Você devia chamá-la para sair — Reagan ressoou sobre a borda da
Eu ri.
Eu: piano?
Minha mãe tinha o estranho hábito de querer ouvir piano sempre que
tinha enxaquecas. De preferência, ela gostava de que eu tocasse para ela.
— Tenho que lembrar que você era obcecado por este filme e até fingia
ser um vampi...
que minha mãe havia insistido, pincelando as teclas com suavidade. Tinha
um tempo que eu não punha as mãos nisso aqui. Quando terminei, ela pediu
outra. E mais uma. Estava na metade da quarta quando lancei um olhar para
cima. Para a minha surpresa, Eve estava sentada no topo das escadas, em um
Me perguntei quando ela tinha chegado, já que não tinha ouvido e nem
visto, e há quanto tempo devia estar ali me observando. Parei de tocar, o que
fez com que minha mãe soltasse um barulho em protesto com a boca. Pensei
que ela já estivesse dormindo àquela altura e nem se importaria com a
interrupção abrupta.
Ela pareceu ter sido pega de surpresa com minha pergunta e hesitou.
Estava vestindo um pijama de mangas longas e calça com estampa de
patinhos. Nunca conheci alguém antes que tivesse tanta roupa para dormir
como Evelyn tinha.
— Anos.
Senti o canto dos meus lábios se erguer sutilmente e dei espaço para
toquei algumas vezes, mas não a dominei. Aceitei o desafio (depois de pegar
a partitura do dueto na internet).
velocidade das minhas mãos com um único olhar, o que dizia muito sobre o
quão perspicaz sobre o instrumento e a música ela era. Eve era habilidosa,
algo que eu já sabia, mas fiquei ainda mais impressionado quando fui deixado
para trás.
Ela não pareceu notar que eu já não estava mais tocando, porque seus
olhos tinham se fechado. Em algum momento, Eve tinha se teletransportado
para seu próprio mundo e começado a mudar a partitura que visualizava
mentalmente para que fosse um solo. Aconteceu de forma tão natural e
mecânica que duvidei que Evelyn sequer tivesse cogitado isso antes só para
me sacanear. Ela tinha se absorvido no piano.
Quando a música terminou, Eve levou uns três segundos para levantar
as pálpebras. E, quando ela me encarou, observei sua expressão de choque.
Era como eu tinha imaginado: ela havia ido para o seu próprio mundo.
Observei o rosto de Evelyn corar. Ela sinalizou um pedido de desculpas que
eu ignorei.
— Eu acho que vou dormir, estou meio cansada — Eve disse, na língua
de sinais, já se pondo de pé.
— Ela é tão expressiva e sensível. Parece ser uma boa garota. — Fez
uma pausa. — Não quebre o coração dela.
Me senti incomodado com essa frase, mas não falei nada. Eu só dei de
ombros outra vez, como quem não se importava, e desejei boa noite. Subi as
escadas e saí da sala de música.
— Oi. — Sinalizei.
— Oi — Eve respondeu.
— Sim.
Pela forma que ela hesitou em mover as mãos, soube que tinha algo
acontecendo. Algo que Eve não estava dizendo.
— Me conta — falei, aproximando-me um pouco mais.
Evelyn pareceu ficar meio ultrajada, ela desviou o olhar para longe e
endireitou os ombros. Me sentei em sua frente e ergui o braço para que
pudesse tocar seu queixo. Virei seu rosto em minha direção gentilmente com
os dedos.
— O que foi, Evelyn? — falei em voz alta, com calma e da forma lenta
de sempre para que ela pudesse me entender.
— Todos os dias.
— Eu sinto muito.
— Está tudo bem, faz muito tempo. É que às vezes eu não consigo me
lembrar de como ela era. Ou de como era estar nos seus braços, só me
recordo dessa presença fraca e reconfortante, essa sensação esquisita de
segurança. De estar em casa. Sinto falta disso, sabe? Sinto falta de Seul
também. Tocar essa música trouxe muita coisa à tona.
— E por que você não vai para lá? Fazer uma visita, sei lá. Acho que
vai fazer você se sentir mais próxima da sua mãe, de alguma forma.
Não falei mais nada, porque não sabia o que dizer. Entendia um pouco
do que Evelyn estava sentindo. Às vezes, eu me pegava pensando sobre a
minha mãe biológica. Ela não tinha feito o melhor papel como protetora, mas
eu a amava por motivos óbvios que eram confusos. Eu nunca poderia me
desfazer daquele laço materno, mas o que ela fez para me proteger e me amar
quando eu era uma criança carente e frágil? Nada. E, mesmo assim, o
sentimento continuava. Era estranho.
Tive sorte de ter sido encontrado por minhas mães, Reagan e Kira. Às
— Vai ser bom — eu disse para Evelyn, sobre a visita para Seul. —
Um dia quero ir para lá.
— Acho que você vai gostar. Principalmente da culinária.
— Eu já gosto da culinária.
— Eu amo a Coreia, mas acho que não moraria lá porque meu pai está
aqui, nos Estados Unidos. E eu gosto daqui, só não gosto muito das pessoas
que vivem aqui...
— Algum motivo específico para isso? Claro que eu sei que existe
gente babaca em todo lugar, mas...
— Sinto muito mesmo, Eve. Eu não queria que essa fosse a experiência
que você tivesse tido aqui — me corrigi. — Que você tenha aqui. Entendo
sobre você gostar mais da Coreia, eu também gosto e ainda nem estive lá.
— Por quê?
— Sufocado?
— Uma condição.
— O quê?
— Beijo de boa noite.
Evelyn encostou a boca na minha, foi tão rápido e breve que quase nem
Agora estava extasiado. Não pensei que Evelyn fosse aceitar o beijo de
boa noite, mesmo o mais breve dos contatos. Foi como atiçar carvão em
brasa, agora eu precisava de mais.
— Não.
— Eu te odeio.
Evelyn beijou meus lábios outra vez. Um, dois, três, quatro, cinco
segundos. Ela se afastou, mas ainda não fiquei satisfeito.
Ela não protestou desta vez, voltou a tocar os lábios nos meus. Desta
vez, sua língua forçou passagem para dentro de minha boca e ela puxou a
gola da minha camiseta com força, fazendo com que ela quase rasgasse, pude
ouvir o som de tecido se esgarçando. Fiquei tão surpreso com o beijo que dei
alguns passos para trás.
Ela espalmou uma das mãos no meu peito quando fiz menção de voltar
a beijá-la e a deixou lá. Parecia que queria estar no controle, me deixar à sua
mercê. Esse seu lado era novo e eu mal esperava para poder explorá-lo.
Naquele momento, nenhum de nós dois parecia se importar que estávamos no
corredor, que poderíamos ser vistos a qualquer momento.
— Evelyn.
um "boa noite" e "tenha bons sonhos" para mim. Quando me recompus, tentei
girar a maçaneta do quarto, mas a porta estava trancada. Praguejei baixinho.
Aceitando a derrota, fui para meu próprio quarto, antes que uma das
minhas mães me encontrassem em estado deplorável no meio do corredor.
Enquanto tomava o primeiro banho gelado da noite, pensei em como puniria
Evelyn no dia seguinte.
Eu não iria deixar barato.
Eve e eu retornamos para Massachusetts no fim da tarde. O caminho
todo foi silencioso exceto pelo ruído baixo do rádio enquanto eu dirigia. A
garota estava dormindo ao meu lado serenamente. Às vezes, quando
parávamos em semáforos, observava seu rosto em paz e sua respiração lenta e
profunda. Evelyn dormia na mesma posição, até agora não havia se movido;
estava com as mãos cruzadas sobre o colo, a nuca escorada contra o estofado
do banco e o queixo levemente inclinado para baixo.
Por mais que não quisesse arrancá-la do seu sono profundo, precisei
acordá-la quando chegamos em casa. Desliguei o carro e sacudi seu ombro
com cuidado. Eve despertou lentamente, como uma flor desabrochando numa
Por mais que Evelyn dissesse isso, não havia dúvidas da causa de sua
sonolência. Minhas mães nos acordaram antes das seis da manhã para assar
cookies. Depois, Kira mostrou toda a coleção de instrumentos que havia lá
em casa para Eve. E em seguida, Reagan a levou para o jardim e a ensinou a
como plantar peônias. Foi um dia agitado, onde as minhas duas mães
disputavam entre si pela atenção de Eve. Tentei esconder o sorriso, mas não
Não se importando, Eve desceu do carro. Imitei seu gesto. Nós subimos
as escadas juntos e, quando chegamos no corredor, senti a atmosfera mudar
drasticamente entre nós. Fiquei em pé em frente a Evelyn enquanto
trocávamos olhares estranhos.
Sabia que algo havia mudado. Algo tinha mudado neste fim de semana
e eu não queria fingir que não tinha, não queria voltar a fingir que éramos só
bons amigos, não queria negar a parte de mim que queria que Eve fosse algo
mais, mas também tinha medo do que fosse acontecer se eu entregasse meu
coração todo para ela.
Evelyn também sabia. Dava para perceber pelo jeito que era retraiu os
— Boa noite, Hunt. — Eve moveu as mãos. — Foi legal, obrigada por
me convidar. Suas mães são incríveis. Acho que vou dormir um pouco, tô
cansada.
Não sabia o motivo de toda aquela irritação que eu sentia. Parecia que
um bloco de cimento havia se alojado em minha garganta e me sentia
inquieto, estalando os dedos e mexendo o piercing na língua pela boca.
Não conseguia, eu tinha que confrontar Evelyn. Não dava para fingir
mais. Com pressa, coloquei a jaqueta e abri a porta. Meus pés estancaram ao
ver que Eve estava vindo em direção ao meu apartamento, os braços cruzados
sobre o peito. Seu semblante passou de agitado para surpreso. Soltei um
sopro em alívio.
Houve um momento de pausa, onde nós nos encaramos sem dizer nada.
Então, Eve cortou a distância entre a gente antes que eu pudesse tomar
iniciativa e colidiu com a boca contra a minha, separando-se um momento
depois.
Eve não respondeu, ao invés disso ela voltou a me beijar. Desta vez,
sua língua invadiu minha boca e enlacei um braço ao redor de sua cintura,
colando-a a mim enquanto dava passos para trás, para dentro de meu
apartamento. A prensei contra a porta, fechando-a em um baque alto. Evelyn
arfou quando seu corpo colidiu contra a madeira de forma abrupta,
expulsando o ar dos seus pulmões.
arrepio subisse por minha espinha. Mordi seu lábio superior em resposta, com
força, esperando que a desse algum indício do quanto eu a queria naquele
momento.
melodioso atrás de mim, que acertou meu coração feito uma flecha.
gola da minha camiseta, fazendo com que meu rosto fosse em direção ao seu
e nossos lábios se juntassem outra vez.
Enquanto me apoiava sobre Eve com uma das mãos para que não a
esmagasse contra a cama, levei a outra para baixo da sua saia. Fiz uma oração
silenciosa por ela estar vestindo aquela peça. A garota arqueou os quadris
quando meus dedos tocaram sua intimidade sobre o pedaço fino da calcinha.
Brinquei com os dedos naquele ponto sensível. Dava para sentir sua
Eve esperou e quando notou que eu não faria nada, socou meu flanco
direito com um pouco de força como se eu fosse uma daquelas máquinas de
refrigerantes quebradas que, após você colocar uma moeda, ficava
empenhada.
Pelo jeito que Evelyn se remexia abaixo de mim, sabia que minha falta
de pressa e ociosidade estava a torturando. Insatisfeita, fechou uma das mãos
ao redor de meu pulso com força que parecia intencional. Eu ri, deleitando-
me desta vez. Em Connecticut, na casa de minhas mães, prometi a mim
mesmo que ela se arrependeria. Agora, estava a dando o troco.
Quando ela fez menção de tirar a saia, segurei sua mão. Eve me lançou
um olhar confuso e eu só balancei a cabeça negativamente. Não se
importando, ela se ergueu nos joelhos, sem ao menos tirar a calcinha e
encaixou a ponta do meu pau em sua entrada muito úmida. Seria fácil para
ela deslizar até a base.
Parecia que ela queria testar seus limites, explorar com calma. Não
dava. Eu tinha que tomar as rédeas ou Evelyn me mataria. Primeiro,
perguntei a ela se estava tudo bem mudar nossas posições. Ela acabou
cedendo e pediu para que não fosse delicado. Então, quis ir por trás. Só a
Passei as palmas das mãos pela parte de trás de suas coxas e mantive a
sua saia no lugar. Com uma das mãos, encaixei meu pênis em sua entrada.
Ela estava muito molhada, a primeira investida foi quase automática. Evelyn
soltou um gemido alto. Cerrando os dentes, recuei e me enterrei em Eve outra
vez. Os meus movimentos começaram lentos e à medida que ouvia os
barulhos que escapavam da boca da garota sob mim, ficava cada vez mais
motivado. Rápido, forte, desesperado.
Não duramos muito tempo. Eve alcançou o ápice primeiro, notei pela
forma que ela apertou os punhos em meus lençóis e como contraiu em volta
do meu pau. Me movimentei mais quatro vezes antes de gozar. Me debrucei
sobre Evelyn, quase me deitando sobre suas costas enquanto tremia.
Com uma das mãos, virei seu rosto em minha direção. Eve piscou para
mim, observando minha expressão, então seus olhos escureceram de desejo
outra vez. No momento seguinte, sua boca estava de volta a minha. Ela
capturou meus lábios em um beijo delicado e doce. Enfiei minha mão em sua
saia, sob sua calcinha, enfiando dois dedos em si e pressionando seu clitóris
Rolei sobre Eve, que abriu um espaço para mim entre suas pernas sem
hesitar, cruzando-as no fim de minhas costas quase que automaticamente.
Estiquei o braço sobre sua cabeça e peguei uma camisinha nova.
Lentamente, a tomei para mim outra vez. Fui gentil, a adorei em cada
momento.
contava os minutos já havia dado cerca de vinte e quatro voltas desde que
eles me trouxeram para cá. Eu contei. Não sei o que eu estava fazendo na
delegacia da cidade. Eu sabia que era uma delegacia porque era para cá aonde
minha mãe vinha nos fins de semana quando meu pai se metia em encrencas.
Ela dizia para nós esperarmos no carro enquanto ela conversava com os
policiais e, um tempo depois, eles saiam lá de dentro. Minha mãe com o rosto
inexpressivo e olhos vazios acompanhada do meu pai, com olheiras e o
maxilar travado, além de algumas concussões no rosto.
viraram sem-teto.
O ponteiro se moveu.
— Uma hora, vai precisar comer ou beber algo. — Sua voz era suave,
parecia o tom que minha professora usava na escola.
— Eles não vão vir — Deana disse, atraindo minha atenção para seu
rosto novamente. Comecei a sentir o desespero crescer em meu peito. Como
assim não voltariam? — Sinto muito — ela murmurou, antes de se levantar.
— Quer biscoitos?
— Isso é impossível, querido. Você não irá mais vê-lo outra vez.
meus olhos. A primeira coisa que avistei foram os olhos dela. Preocupados,
afáveis, escuros. Uma das mãos de Eve estavam em torno do meu ombro
esquerdo nu. A outra, contra minha bochecha. Me sentei, sentindo a umidade
em minha testa e na parte de trás do meu pescoço. Como de praxe, precisaria
de um banho matinal.
olhei para Evelyn, não consegui encará-la enquanto tinha que lidar com meus
— Não.
— Tem certeza?
Nunca me senti tão idiota e filho da puta em toda minha vida, mas se
tinha algo que eu não conversava com ninguém, nem mesmo com minhas
mães, era sobre meu passado. Eu não gostava que ele invadisse o presente e o
bagunçasse. Eu queria mantê-lo para trás, por mais que soubesse que era uma
alternativa ruim. Minha psicóloga costumava dizer que escondê-lo das
pessoas ao meu redor era uma opção, mas que não o faria sumir. Ela disse
que se me abrisse com alguém com quem me sentisse à vontade, então,
Soltei um suspiro.
— Não precisa pedir desculpas, Eve. Você não fez nada de errado.
Ela não disse nada, só perscrutou meu rosto por alguns momentos,
comprimiu os lábios em linha reta e se levantou. Ela disse que precisava fazer
um artigo da faculdade que eu sabia que era desculpa barata para não ter que
admitir que tinha ficado chateada comigo e foi embora após agradecer pelos
ovos e torradas. No meu apartamento vazio, murmurei uma sequência de
palavrões.
Por que é que eu sempre fodia com tudo? Parece que eu tinha um dom
especial para isso. Sentindo-me um completo idiota, não fui capaz de ir atrás
de Eve, até porque nós dois devíamos estar chateados demais para termos
uma conversa coerente. Meu passado era uma parte restrita de mim, uma que
eu ainda não estava pronto para exibir para Evelyn e nem sabia se um dia
estaria, mas talvez os segredos não fossem bons entre a gente. Era como
entregar apenas partes de si e sentia que desta forma não funcionaria entre
nós.
Mais tarde, fui para a casa da minha prima, Ellen, que havia me
mandado duas mensagens dizendo sobre sorvete e brownies. Me questionei
diversas vezes mentalmente como Diabos ela sabia que eu precisava de
conforto. Mesmo não sendo irmãos, diria que nós tínhamos instintos
— Não, porque elas sempre estão certas e você foge da verdade como o
Diabo foge da cruz.
— Eu estou meio com raiva de mim mesmo e frustrado, mas não acho
que rotular isso como coração partido seja certo. Eu fui um idiota com a
Evelyn e ela não merece nada dessa merda, mas não consegui. Não consigo
me abrir com ela e acho que isso a chateia. Ela já desabafou comigo diversas
vezes, o que quer dizer que ela confia em mim. Se eu não conseguir retribuir,
parece que não confio nela de volta e isso de alguma forma faz com que
— Nossa, eu vivi para isso. Sério. Eu esperei tanto por esse momento.
— Porque quer dizer que você tem coração. Sabe, eu cresci vendo você
— Pensei que esse momento fosse pra você me consolar e não fazer
piada com minha cara.
personalidade dela. Acho que se você quer mesmo dar certo com ela, devia
tentar se abrir. — Pela expressão séria de Ellen, sabia que ela estava sendo
cautelosa ao sinalizar cada palavra. Ela sabia o quão delicado o assunto era
para mim. — Não precisa vomitar tudo de uma vez. Só… tenta. Aos poucos.
Eu sei que é difícil para você, não tiro sua razão, mas… Há quanto tempo
isso te sufoca, Hunt? Talvez seja hora de seguir em frente.
Suas palavras me deixaram em silêncio, pensando. Ellen estava certa,
por algum lado. Há quanto tempo meu passado me sufocava? Por quanto
Eu: oi
— Que pena.
ansioso por trocar mensagens com uma garota antes. Parecia que Eve tinha
desistido de me responder, então comecei a digitar.
Eu: me desculpa
A tela apitou.
Eve: ok
Eve: ok
Eve: eu tô dizendo
Eve: eu te desculpo
A ignorei.
Fechei o notebook e dei tchau para Ellen. Depois que vesti minha
jaqueta de couro que havia deixado no hall e despedir-me da tia Courtney,
parecia certo. Nada naquela cena parecia certo. O olhar terno no rosto de Eve,
a proximidade deles, a forma como Ian tocava o braço dela, como se fossem
íntimos…
Ela disse.
Em voz alta.
Hunt?
Quando meu nome foi citado, voltei à órbita. Era como se meu corpo
tivesse sido reiniciado. Dando um passo para frente, entrei no campo de vista
de Evelyn. Seu rosto, de apreensivo, passou a ficar surpreso. Pude ver o
choque tomar conta do seu olhar e seu rosto ficar pálido como se tivesse visto
um fantasma. Seguindo seu olhar, Ian olhou sobre o ombro, também me
encontrando. Agora, os dois pareciam horrorizados, como se tivessem sido
pegos no flagra.
— Cara, desculpa, posso explicar… — Ian começou a vir até mim, mas
eu o interrompi:
— Não se aproxima ou juro que vou quebrar a porra dos seus dentes.
Minha mão livre estava fechada em punho, estava pressionando meus
dedos com tanta força que achei que iria quebrá-los.
dos meus melhores amigos e a garota por quem estou apaixonado. Tem como
essa merda ficar melhor? — perguntei, então apontei para Eve. — Você é
surda mesmo ou é mais uma das suas mentiras?
queria nunca ter conhecido você. Era simples antes de você partir a porra do
meu coração.
— Hunt.
você depois e não nos falávamos há meses. Depois que soube que vocês eram
amigos, disse para ele manter o que aconteceu somente entre a gente, porque
não queria que você achasse que eu e ele tínhamos algo. Não significou
muito para mim, não como deve ter significado para ele. Sinto muito ter
Suas palavras pareciam ser honestas e eu sabia que Evelyn estava sendo
honesta, mas ainda não sabia como deveria me sentir com toda aquela
informação.
— Por que você nunca falou comigo em voz alta? — questionei, dando
mais dois goles na garrafa.
não pude evitar vê-lo pessoalmente. Fingi que nada tinha acontecido e o
cumprimentei normalmente, por mais que minha vontade fosse de dá-lo um
soco no rosto e quebrar seu nariz bonitinho. Na pausa, Atticus saiu para usar
o banheiro e nós ficamos sozinhos. Comecei a enrolar um baseado e o
ignorei.
— Por que você tá agindo feito criança? Que merda! Só quero falar
com você sobre tudo o que aconteceu, você não pode me evitar para sempre e
sabe disso porque estamos na porra da mesma banda e ensaiamos o tempo
todo, além de que temos uma agenda enorme de shows para fazermos.
Vamos dividir a mesma porra de porão para ensaiar e o mesmo palco para
tocar nos próximos meses. Vamos lidar com isso logo, Hunt.
— Me desculpa. Eu estava bêbado. Sei que isso não apaga nada do que
aconteceu, nem que escondi que a conhecia para você, mas achei que se
fingisse que nada tinha rolado entre mim e Evelyn, seria mais fácil ter que ver
vocês dois juntos. Eu pisei na bola feio, cara. Eu sei disso. Eu sinto muito e tô
arrependido porque você é como um irmão para mim. Prometo que nunca
mais vou olhar para Eve, ou chegar perto dela, mas preciso que você me
desculpe. Ela é uma garota incrível e… — Seus ombros caíram. — Você
sabe disso. Eu fiquei apaixonado e ela me dispensou. Faz tempo e já lidei
com isso, não sei por que fiz o que fiz naquela noite. Se você não vai me
perdoar, tudo bem, mas precisava que você me escutasse.
teimosa e fofa ao mesmo tempo. Sabia o quanto ela era incrível e entendia o
porquê de ele não tê-la esquecido mas ainda me sentia apunhalado pelas
costas.
era que eu sabia que estava fazendo uma música sobre Evelyn e mesmo
odiando a ideia, não conseguia parar. Quando terminei, a reli. Apaguei
algumas frases e substituí repetições. Quando me senti satisfeito, era mais de
meia noite.
Sem sono, fui para a cozinha e enchi um copo de leite. No terceiro gole,
comecei a ouvir as melodias do piano. Quase engasguei. Tossindo, murmurei
um palavrão antes de colocar o copo na bancada e prestar atenção na música.
Evelyn interpretava peças melancólicas como ninguém. Quando ela terminou,
quase saí do meu apartamento e fui bater em sua porta apenas para me
certificar de que estava tudo bem, mas contive meus impulsos.
Naquela noite, sonhei com Alec. Seu rosto — que também era o meu
rosto — me encarava. Nós estávamos no lago e era dia. Ele era uma criança,
— Vou fazer um chá para você — M.R. (mãe Reagan) disse, afagando
minhas costas com uma das mãos antes de ir para a cozinha.
M.K (mãe Kira) atrás de mim, então mãos envolveram ambos os meus
ombros.
— Entendo.
Eu soltei uma risadinha. Acho que era o dever dela como mãe dizer
algo assim.
consigo salvá-lo.
Ela ficou em silêncio por alguns momentos. Minha mãe sabia o quanto
o assunto era delicado para mim e que era raro eu conversar sobre ele.
momentos. Sentei-me na cama, para encará-la. Seu rosto estava sério e seu
ombro apoiado no batente da porta. Eu sabia da trágica história do tio que eu
nunca havia tido a chance de conhecer. Ele havia morrido num acidente, mas
minhas mães evitavam falar sobre isso. Mas sempre que visitávamos Whitley
River, sua cidade natal, deixávamos flores em seu túmulo. — Perder um
irmão já é horrível, mas perder um gêmeo é como perder uma parte de si.
Nunca me esqueci do meu irmão. De como ele era incrível e meu confidente.
Demorou um pouco para aceitar que ele se foi, mas não dava para ficar
remoendo sua morte. É claro que sinto sua falta. Todos os dias, o tempo todo,
mas eu sabia que ele odiaria me ver triste e nunca seguindo em frente, então
aprendi a conviver com as saudades.
— Você não precisa ser forte o tempo todo, Hunt. Não tem que ser
forte o tempo todo. Você é um ser humano e nunca pode se despedir de seu
irmão. — Kira se aproximou antes que a primeira lágrima deslizasse pela
— Você foi uma das melhores coisas que aconteceu para mim e para
Reagan. Nós temos orgulho de quem você é.
as suas. — Agora vamos lá para baixo antes que a Reagan suba para ver por
que estamos demorando tanto e te encontre chorando feito um bebê.
que havia alguém por trás da porta do meu apartamento. Forçando-me a sair
debaixo dos cobertores, não me preocupei com a aparência horrível que eu
devia estar. Assim que girei a maçaneta, entretanto, meu coração parou de
funcionar. Foi um daqueles momentos em que o mundo para, você não sente
o chão sob seus pés e seu corpo retesa. Um daqueles momentos em que a
vida não parece real. E, com Hunt parado em minha frente, a realidade não
parecia a minha realidade.
A minha realidade era que ele estava me ignorando já havia uma
semana, não respondia minhas mensagens e me evitava nos corredores do
prédio. Seu desprezo doía mais que eu imaginei um dia que pudesse doer,
mas sabia que ele tinha motivos para tratar-me daquela forma. Continuei
olhando dentro de seus olhos escuros feito obsidianas, sem saber como reagir.
Meus lábios se separaram em surpresa.
Não estava esperando por ninguém e Hunt era a visita mais inusitada de
todas.
ainda estava chateado comigo, pois estava nítido em seu olhar, mas também
dava para perceber em seu rosto que ele parecia desolado e que precisava de
amparo. Me perguntei mentalmente se, de alguma forma, ele havia vindo
buscar conforto em mim.
— Você quer ouvir minha voz, mas não quer que eu converse com
você? — Sinalizei de volta, tentando entender o que estava acontecendo.
— Sim. Comprei um livro e queria que você lesse para mim. Quero
ouvir sua voz. — Sua perna começou a balançar e notei que ele parecia
impaciente, meio com pressa. Quase… desesperado. — Por favor, Evelyn.
Leia para mim.
Não o contrariei daquela vez, peguei o livro que ele estendeu em minha
direção e passei os dedos em haste sobre o título gravado na capa. Tratava-se
de uma cópia de Alice no País das Maravilhas, o meu favorito. Senti um
aperto no coração e então, comecei a folheá-lo até que estivesse na primeira
forma desajeitada em sua testa e suas mãos estavam cruzadas atrás de sua
cabeça.
Hunt parecia infantil naquela posição enquanto eu lia para ele. Como se
pudesse sentir que eu o observava descaradamente, seu rosto se virou em
minha direção. Suas íris se prenderam às minhas e eu engoli em seco.
— Nada.
Não gostava do jeito que ele me olhava agora, era um olhar frio e
distante. Não parecia mais o cara para quem eu estava lendo há dois minutos
atrás, não parecia o Hunt que era sempre brincalhão e sarcástico. Não parecia
a mesma pessoa para quem eu havia dado meu corpo e, quase, meu coração.
— Por que você tem que ser um babaca? — Espalmei seu peitoral, mas
ele não se moveu um centímetro. — Eu já disse para você que Ian e eu não
nos envolvemos mais muito tempo antes de eu ter conhecido você, Hunt. E,
mesmo se tivesse acontecido algo, a gente não tinha nada. — Fiz uma pausa,
pensando melhor. — A gente não tem nada! — Senti meus lábios começarem
a tremer. — Eu errei em ter escondido isso de você porque vocês são amigos,
mas você tá agindo como se eu fosse a pior pessoa da porra do planeta terra.
— Desculpe, Eve. — Ele segurou minhas mãos entre as suas sobre seu
peito, em seu coração. — Eu não queria que você chorasse. Fui idiota
mesmo.
Baixando minha guarda, deixei com que ele me abraçasse. Depois, ele me
arrastou para o sofá e nós nos sentamos lado-a-lado. Meu corpo tombou
contra seu peitoral e ele continuou me segurando, mantendo-me perto e me
envolvendo com seu calor corporal. Não soube por quanto tempo ficamos
naquela posição, mas quando nos afastamos, Hunt começou a sinalizar:
Ele pareceu meio surpreso, mas não me ignorou como a maioria dos caras
faziam quando descobriam isso. — O maxilar do Hunt travou neste momento
e achei fofo. — Aí ele pediu meu número e nós ficamos trocando mensagens
no bar, enquanto estávamos um ao lado do outro. Em algum momento, ele
perguntou se podia me beijar e eu disse que sim. — Dei de ombros. — Então
começamos a sair. Ele era sempre muito gentil e eu gostava dele, mas não o
suficiente. Por mais que nós nos beijássemos, eu não conseguia sentir mais
que atração e um carinho inofensivo por ele. Acho que sempre o vi mais
como amigo do que tudo. Quando percebi que ele não queria levar mais
nosso lance com casualidade, parei de vê-lo. Nós queríamos coisas diferentes.
— Não. É diferente.
Sua mão deslizou sobre meu joelho e senti meu corpo se arrepiar.
— Nem pensar. A gente não vai assistir pornô. — Fiz uma careta. —
Que nojo.
— Você é tão chata e sem graça, por que é que me apaixonei por você?
— Hunt sinalizou, fingindo estar triste.
— Parece que você quer ficar solteiro nos vinte primeiros minutos de
namoro. — Ergui uma sobrancelha em sua direção.
negar que tinha ficado… ousado. Por algum motivo, queria que Hunt
pensasse somente em mim durante a noite e na droga do vestido.
abri uma exceção, fiz um delineado e passei rímel e batom. Quando me olhei
no espelho, após colocar o vestido e saltos médios, quase não me reconheci.
Parecia que eu estava pronta para uma passarela da Victoria’s Secret.
Seus olhos se fixaram no meu rosto e, depois, desceram por meu corpo,
Eu sorri.
Rolei os olhos.
— Tô brincando.
— Por causa das suas carícias durante o trajeto ela ficou meio que
molhada.
passar as mãos nos cabelos sedosos, escovando-os para trás, meio frustrado.
— É um restaurante que tem inclusão para surdos, parece que ele é bem
famoso. Achei na internet.
— Mas eu queria.
olhar curioso do garoto ao meu lado, nós caminhamos até a porta — que
Hunt abriu para mim — e adentramos no lugar. Impressionada com a
decoração moderna e chique, não fiquei surpresa quando fomos parados para
checar o número da reserva. A mulher sinalizou ao mesmo tempo em que
movia os lábios:
cadeira para eu me sentar, o que achei atencioso. Naquela noite ele estava se
esforçando muito para ser gentil. Parecia que queria me impressionar, o que
me deixava ainda mais apaixonada.
— Acertou.
— Sei lá. Não sou exigente. Se tiver algum prato coreano, está ótimo.
— Mas dá para tocar música agitada em todos esses que você citou.
— Eu sei, mas… Não dá para explicar, Eve. Não é a mesma coisa tocar
Beethoven na guitarra e no piano.
— Sei.
Me perguntei outra vez como seria ouvir Hunt. Sua voz, sua risada…
Como ele era no palco. Ou entre os lençóis. Como seria a música dele? Ele
realmente tocava bem? Me perguntava isso várias vezes, quase todos os dias.
Ele não disse nada, apenas ficou me encarando por vários segundos. No
próximo momento, dois pratos de Bulgogi foram postos na mesa, assim como
uma garrafa cara e cheia de vinho e duas taças. Com os hashis em mãos,
— O que foi?
— Não estou.
— Não — ele disse em voz alta, fazendo-me ler seus lábios. — Não vá
dormir estando chateada comigo.
que vê-la escutando-a. Muita gente vai nos shows da banda. Muita gente já
me ouviu. Mas eu queria que você me ouvisse, Eve. Você é a única pessoa
que eu queria que me ouvisse. E você não pode. Isso me deixa triste. Aí fico
ainda mais triste quando lembro que esse pensamento provavelmente é
horrível e que…
— Desculpa, Eve. Não devia ter dito nada disso para você. Não queria
que você se sentisse mal.
Atenciosamente,
Eve.
habitual. Faltavam apenas dois minutos para que eu entrasse na sala do Sr.
Kopler. Não sabia dizer qual foi a última vez que estive ali e aquilo me
desencadeava alguns sentimentos estranhos. As palmas das minhas mãos
suavam e eu tentava respirar e inspirar lentamente para acalmar as batidas do
meu coração.
Podia sentir a hesitação dele por trás da tela, mesmo estando a milhares
de quilômetros de distância.
Eu: tenho
— Porra, onde foi que eu pus as malditas chaves? Será que… — Pausa.
— Não. Não deixei no banheiro.
Hunt estava dando voltas por sua sala, tirando almofadas do sofá e
revirando todos os cantos possíveis em busca das suas chaves. Pelo visto, ele
Engoli em seco.
— Hunt — falei, dando um passo para frente. — Leia para mim —
murmurei, segurando o livro com força entre as mãos. Até que os nós dos
fechou. Repetiu o movimento pelo menos umas três vezes antes de dizer:
Meu coração parecia bater asas dentro do meu peito. A cada palavra
que Hunt dizia, me sentia mais maravilhada. O som não era tão alto, nem
definido, mas podia escutá-lo e era incrível. Seu tom de voz grave e rouco
transmitia paz. Era como fogo crepitante na lareira nos invernos, arrastar de
— Está falando sério? — Hunt ainda parecia incrédulo. Ele deu alguns
passos em minha direção. Tum. Tum. Tum. Parou. — Se podia pôr os
aparelhos antes, por que não fez isso?
suas músicas. Também quero que você toque para mim. Quero que você diga
meu nome até que eu canse de ouvi-lo e que me mostre a música que fez para
mim.
Hunt se virou e correu para o corredor. Voltou muito rápido, com seu
notebook.
— Acho que não vai dar para ouvir todas, então vou pôr as minhas
preferidas.
Quando me mostro a letra da música que havia feito para mim, foi
quase impossível impedir a umidade nos olhos. Era sobre a primeira vez que
ele havia se apaixonado e sobre o mundo inteiro podê-lo ouvir, menos quem
realmente importava. Beijei seus lábios e fui honesta quando disse a ele que
amei. Depois, voltamos a ouvir as músicas.
Mesmo sentindo algumas palpitações nas têmporas, não deixei com que
a dor estragasse minha experiência.
Hunt riu.
Foi maravilhoso.
Ele riu.
— Eve…
meu sutiã de renda. — Tão bonita — ele repetiu, antes de deslizá-la por meu
ombro. Repetiu o mesmo movimento com a outra alça, até que meus seios
estivessem à mostra.
o que me fez apertar seus ombros com força e jogar a cabeça para trás. Mordi
o lábio com força. Seus lábios subiram por meu colo, até que estavam em
meu pescoço. Deixando uma trilha de beijos até minha mandíbula, sua boca
finalmente pairou sobre a minha.
— Não — concordei.
o para a minha entrada, ele a circulou com a cabeça de seu pênis. Nós dois
gememos com o contato cru. Não havia nada entre nós.
minha pele. Observei-o fechar os olhos por alguns momentos, lutando para se
apoiar nos próprios braços. Fitando seu rosto corado e os cabelos
desgrenhados, murmurei:
— Mesmo.
— Claro.
— Hunt — chamei-o.
— O quê?
— Você quer vir para casa comigo no Natal? Onde cresci. Em Idaho.
— É claro que eu quero. Obrigado por me convidar, espero que seu pai
não me odeie.
— Ele não vai odiá-lo — prometi a ele, mas nem eu me convenci com
as minhas próprias palavras.
que fosse apenas dois dias —, puxei o celular do meu bolso e chequei as
mensagens no grupo com minhas mães.
Eu: o pai dela me odiou e a viagem foi ok, sem muita turbulência e
tinham biscoitos deliciosos no avião
Bloqueei o celular quando percebi que o pai de Eve e ela estavam tendo
Passaram-se alguns minutos até que ouvi a porta sendo aberta atrás de
mim, o rangido pairando no ar. Não precisei me virar para saber quem era, o
ritmo dos passos leves e cautelosos diziam muita coisa.
olhando para longe assim como eu estava fazendo há uns momentos atrás.
Hoje, excepcionalmente, eu estava achando-a radiante. Com um sobretudo
para o inverno, calça legging e botas de camurça e o cabelo longo resvalando
no fim de suas costas, Eve era uma das garotas mais bonitas que eu já tinha
visto.
pintadas de preto e havia cartazes de The Rolling Stone e Led Zeppelin sobre
elas, além de discos de vinil enquadrados.
tinha catorze ou quinze anos, usava sombra roxa nos olhos e um batom
vermelho gritante. Além da maquiagem carregada, vestia roupas de couro e
botas com spikes. Nada do que eu havia imaginado. Ainda atônito, virei-me
para ela, que tinha um sorrisinho divertido nos lábios.
— Você tem irmã gêmea? Porque esta não pode ser você — falei,
através da língua de sinais.
Eve riu.
— É claro que sou eu. Mudei bastante, como você pode ver. Nesta
época eu tinha me rebelado contra meu pai e abandonado o piano. Aí
comecei a ser influenciada pelo bom e velho rock and roll.
— Ainda é difícil de acreditar que você não foi abduzida ou que não
tem uma irmã gêmea, mas vou aceitar essa justificativa. Por ora. — Fiz uma
pausa. — A Eve adolescente se interessaria pelo Hunt adolescente.
Evelyn arqueou uma sobrancelha, parecendo divertida.
conhecido agora.
suas bolas". Garrett tentou sorrir para amenizar o clima, mas deu para
— Porque ele é seu pai. Acho que é normal os pais nos tratarem assim.
Minhas mães, por exemplo, elas agem como se eu ainda fosse um bebê.
— Mas manter a porta aberta, fala sério. Até parece que a gente vai
— Oi! — ela saudou, parecendo animada, mas, mesmo assim, fui capaz
de detectar o tom de cautela em sua voz. — Eu ia perguntar isso para você.
Está tudo bem aí? Li suas mensagens agora e fiquei um pouco…
— Nervosa?
Eu ri.
mas acho que já tô grande demais para você ter que lidar com meus
problemas. Sua preocupação me faz amá-la mais, mas não precisa fazer isso
por mim. Vou desligar, ok?
— Nada, é que você fica fofo falando com as suas mães. Sua expressão
— Fico feliz em saber que sou útil, mas vou dispensar a lambida
porque estamos na minha casa e acho que não acabaria por aí, se é que você
me entende.
— Claro que entendo. Você teria que descer porque não tem a menor
chance de a gente ficar só nos beijinhos. Um boquete, talvez? Ou uma
trepada rápida.
— Prometo.
A ignorei.
— Promete.
Eve riu.
— Continue — pediu.
basquete no banheiro.
— Eu tirei uma foto deles e enviei para os pais dela. — Fiz uma careta.
— Não me orgulho disso porque eles surtaram e mandaram ela para um
daqueles colégios religiosos em outro estado. A família de Daphne era muito
prestigiada e ela era considerada uma filha troféu. Acho que estraguei o
relacionamento familiar deles para sempre.
— Não, não tenho nada para dizer sobre algo que você fez aos quinze
anos e se arrepende. Não estamos aqui para nos julgarmos. Só fazendo
confissões.
Eve suspirou. Seu corpo ficou tenso e ela desviou o olhar para longe,
suas mãos começaram a se movimentar:
— A pior coisa que eu já fiz está ligada ao acidente que me deixou
surda. Era Halloween e eu estava prestes a fazer dezesseis anos e tendo aulas
Desde que passávamos noites juntos, notava que ele se agitava algumas
vezes, como neste momento. Preocupada, me sentei na borda do colchão e,
devagar, entrelacei nossos dedos. Seu peito subia e descia rapidamente e,
como um passe de mágica, sua respiração começou a se acalmar e o vinco
profundo entre suas sobrancelhas desapareceu. Suspirando, deslizei para a
cama e me espremi contra seu corpo, tomando cuidado para que ele não
despertasse.
meu quarto.
Quando desci para o café da manhã, algumas horas mais tarde, Hunt
estava na sala assistindo uma partida de futebol americano. Sinalizando um
"bom dia", fui para a cozinha pegar café. Meu pai estava começando a
preparar o jantar, pois era naquele dia em que a ceia aconteceria. Ele apontou
para o frango.
— Quer me ajudar? — disse, na língua de sinais. — Você costumava
ser uma boa cozinheira.
agravada. Ele desviou o olhar para longe e odiei aquilo, significava que ele
não queria falar comigo, porque eu não podia fazer sinais sem que ele os
visse. Esquecendo-me sobre o café, deixei a caneca na bancada de mármore e
retornei para a sala. A tevê estava legendada e me sentei ao lado de Hunt,
sentindo uma onda de frustração remoer meu interior.
— Não acho que irritada seja a palavra certa, mas eu e meu pai estamos
entrando em conflitos.
Continuei em silêncio.
fui para o banheiro. Demorou mais do que eu esperava para lavar o cabelo e
escová-lo. Quando desci, um tempo depois, Hunt já não estava mais na sala.
Fui para a cozinha, meu pai estava aquecendo o forno. Voltei e fui até a
varanda. Nada. Subi as escadas e olhei no quarto dos hóspedes. Sua mala
Hunt: Eve, obrigado por ter me convidado para o Natal em sua casa,
mas senti q era um momento seu e de seu pai
Hunt: não fique chateada, consegui adiantar meu voo e quando chegar
em Massachusetts te aviso
na cozinha. Meu pai agora lavava a louça que havia se acumulado na pia.
Engoli em seco e disse em voz alta:
— Pai.
Ele se virou, o rosto surpreso. Fazia um tempo desde que ele não ouvia
minha voz.
Sentindo raiva pela primeira vez na vida do meu pai, saí da cozinha e
subi as escadas. Bati a porta do meu quarto com força e desejei que pudesse
ter escutado o estrondo, mas a vibração pelo chão e as paredes foi satisfatória
e suficiente por uns momentos. Então, senti-me como uma adolescente
rebelde outra vez e me odiei. Sentando-me na cama, desbloqueei o celular e
enviei uma mensagem para Hunt.
Hunt: desculpa
Hunt: n fica com raiva do seu pai, ele deve estar com saudades de vc
— Ele disse que nós devíamos ter um momento juntos. Ele não é um
criminoso, pai. Eu sei que você odeia tatuagens, mas é idiota definir alguém a
partir disso.
— Eu sei, acho que fui influenciado por conta disso também. Tenho
que admitir. Me perdoe, Eve. Não queria que você tivesse uma experiência
ruim neste Natal. Guardei seu prato no micro-ondas. Achei que acordaria
com fome.
— Tudo bem, pai. Perdoo você. Mas, acho que pra compensar,
devemos fazer algo divertido. Tipo maratonar filmes natalinos. O que acha?
A noite de ontem, no entanto, havia sido boa para mim. Eu e meu pai
confortamos um ao outro com memórias da minha mãe depois de assistirmos
a três filmes. Quando fomos finalmente dormir, o sol já havia despontado no
horizonte, anunciando o fim do feriado e o início de um novo dia. Ao me
deixar no aeroporto, frisou outra vez para que eu pedisse desculpas para Hunt
Mas, não foi uma boa viagem. Durante o voo, não consegui pegar no
sono — por mais que estivesse sonolenta e não dormido quase nada. Tudo
aquilo estava ligado com o fato de Hunt estar me ignorando. Ele havia
visualizado minha mensagem perguntado como ele estava oito horas depois
de ter sido enviada e não obtive uma resposta de volta. Queria saber que
droga estava acontecendo.
Ele mantinha distância delas e parecia que nem as notava ali, mas eu
sabia que estavam muito cientes de sua presença. Até porque Hunt estava
Dando as costas para Hunt, tentei fazer meu caminho para porta o mais
rápido possível, mas acabei esbarrando violentamente num cara que derrubou
metade da garrafa de cerveja na minhas roupas. Não ouvi o que ele disse, não
tinha certeza de que estava se desculpando ou murmurando uma enxurrada de
Como sabia que Hunt não desistiria, deixei com que ele me arrastasse
de volta para o caos de pessoas em direção ao seu quarto. Quando a porta se
fechou e tínhamos privacidade, ele começou a sinalizar:
festa idiota e… — Fiz uma pausa, inalando o ar. — Que cheiro é esse?
— Ótimo, maconha!
Esperei com que ele terminasse a frase, mas suas mãos pararam no ar.
— Deixa para lá. Não é nada. — Seu rosto ficou muito sério de repente
e balancei a cabeça, descrente.
Com o sangue correndo feito lava nas veias, mandei-o se foder antes de
empurrá-lo da frente da porta e sair do seu quarto e, depois, do seu
apartamento. Uma parte minha esperava que ele viesse até mim para se
explicar e dizer o que estava acontecendo, mas consegui abrir minha porta e
entrar na minha sala sem interrupções.
Eram três horas da manhã quando ele apareceu na minha porta. Com o
cabelo mais desgrenhado que o habitual, olheiras sob os olhos e postura
derrotada, quase fez com que minha raiva dissipasse, mas o cheiro de álcool
fez com que meu sangue fervesse outra vez. Hunt não pareceu se abalar com
meu olhar mortal. Ele apoiou o braço no batente da porta e se inclinou sobre
mim. Com o rosto pairando sobre o meu, captei quando seus lábios disseram:
— Oi.
Sério? Oi?
— Vai embora, Hunt. Você está bêbado — falei, em voz alta, cansada.
Só queria dormir o suficiente para ter que enfrentar o último dia de aula e no
meu estágio antes que o recesso do ano novo acontecesse.
quando era normal que casais tivessem desavenças que começavam por
motivos simples como ciúmes de alguma amiga de infância até complicações
como manter segredos graves para si mesmo.
— Não. Não vou embora. Não posso dormir sabendo que você está
chateada comigo. Quero contar tudo para você, então, por favor, me deixa
fazer isso.
— Isso não é verdade. Assim que você foi embora, coloquei todo
mundo para fora do meu apartamento. Só estava pensando no que ia te dizer e
tomando coragem. Nunca conversei sobre meu passado com ninguém, Eve.
Você é a primeira pessoa que eu quero que saiba tudo. — O rosto de Hunt
estava muito sério, assim como seus olhos. Minhas armaduras começaram a
cair. — Então, por favor, me deixa te contar.
Nós ficamos fazendo contato visual por alguns momentos até que cedi
completamente. Hunt foi até a poltrona e fechei a porta. Como ele parecia
nervoso e não parava de bater o pé contra o carpete, fui para a cozinha e
esquentei uma caneca de chá para ele. Quando voltei para sala, alguns
minutos mais tarde, sua inquietação não havia desaparecido.
— Meu sonho?
minha guitarra. Acho que é maluquice, não é? Mas é assim que me sinto.
— Não é maluquice. Eu sei como você se sente. Por muito tempo, senti
que a música também foi a grande paixão da minha vida. Mas, depois do
acidente, minha mente expandiu. Não tinha interesse por língua de sinais,
nem sabia quais dificuldades as pessoas surdas enfrentam. Tanto na questão
da falta de acessibilidade quanto na de representatividade. Aprendi a
interpretar o mundo de uma nova forma e a escutar, só que do meu jeito. Não
deixei que isso fosse um empecilho para nunca mais tocar piano. Agora quero
ser professora. De crianças surdas.
no meu quadril e me puxou para baixo, de forma que me sentei em seu colo.
Com uma das mãos afundadas nos meus cabelos, ele me deu um beijo longo.
Foi difícil me separar dele, por mais que sua língua estivesse com gosto de
uísque que eu desprezava. Para não sairmos do controle, voltei a me sentar no
— Eu não pedi pra você transar comigo. Tem tanta coisa que a gente
podia fazer, Eve. Tipo, eu posso chupar você.
— Não.
favor.
Um favor.
Adultos deviam pedir favores para crianças? Era algo que eu sempre
pedia a mesma coisa a ela. Mamãe nunca levava Alec e eu até a sorveteria,
mas, se eu tentasse convencê-la um pouco mais, acreditava que um dia ela
mudaria de ideia. — Agora vá. Não conte para Alec. Você é meu garoto
especial e compreensivo.
frequentado só por gente mais velha. Então, após o garçom dizer quem eu
devia abordar, entregava o bilhete de mamãe. O bilhete sempre tinha alguns
dólares. Voltava para casa com o pacote nas mãos, sentindo-me mais
próximo da minha mãe e esperançoso que daquela vez iríamos para uma
sorveteria.
"Estou com dor de cabeça", foi o que ela disse daquela vez antes de ir
para o andar de cima.
Fiquei triste, mas não disse nada. Talvez ela só estivesse se sentindo
mal mesmo. Alec estava na sala, assistindo um desenho. Me juntei a ele em
frente ao tapete. Não dava para entender muita coisa porque a tela estava
meio rachada, consequência de uma briga que meus pais tiveram um mês
atrás quando minha mãe o questionou sobre passar muito tempo fora de casa.
Houveram gritos e as coisas saíram do controle.
Não respondi.
Abri a boca para retrucar, mas Alec se levantou e saiu pisando duro até
o quintal. Quando saiu, bateu a porta com força. Continuei na sala e terminei
de assistir ao desenho. Se fosse atrás dele no mesmo momento, brigaríamos
mais. Tinha que dar um tempo para que o meu irmão deixasse a raiva de lado,
não que eu achasse que ele fosse agir de uma maneira muito diferente. E
sabia que ele não entraria no lago, Alec não era tão imprudente. Mamãe
desceu as escadas e pegou as chaves do carro. Pela maneira como ela se
movia, eu sabia que tinha algo errado.
— Vou sair para buscar seu pai, ele se meteu em problemas outra vez.
Cuide de Alec.
Demorei para entender que aquele era meu irmão e comecei a gritar seu
nome. Ele não me respondeu de volta nenhuma vez e, como eu também não
sabia nadar, corri até o telefone na cozinha e disquei o número da
emergência. O único que eu sabia de cor e o que sempre diziam para ligar
— Ele não se mexe. Por favor, nos ajude… — O pânico que eu sentia
começou a crescer. Outro soluço sacudiu meu corpo violentamente. — Meus
pais estão fora.
— Por que diabos você precisa saber o meu nome? — Elevei o tom de
voz. Eu nunca tinha falado palavrão antes, mas minha mãe sempre usava
aquela palavra em situações em que estava tensa. — Meu irmão precisa de
O som das sirenes vindo do lado de fora da casa ficava cada vez mais
alto, fazendo meu coração trovejar no meu peito e me deixando sem ar,
amigas, até Molly e as garotas que haviam a chateado um dia. Quando saí
pela porta, estava ocupada tentando reunir as flores que havia ganho junto ao
peito enquanto lutava para não deixar minha bolsa cair no chão.
Sorri involuntariamente.
— O que é?
fechadura e entrou junto comigo. Coloquei as flores num vaso, sentindo seu
olhar preso em mim. Quando me virei, encontrando-o sentado no sofá, li seus
lábios:
— As crianças te adoram.
— Amanhã?
— Sim, Eve. Preciso fazer isso o mais rápido possível. Não pude ir até
o enterro de Alec, e nunca tive coragem de visitar o lugar. Até agora.
aquele.
Uma hora, sugeri que saíssemos para almoçar e Hunt disse que não
estava com fome e que precisava ficar um pouco sozinho. Não mostrei a ele
que fiquei chateada e depois que ele saiu do meu apartamento, me senti
envergonhada por me sentir mal. Será que eu estava sendo egoísta? Ou talvez
só estivesse com saudades do antigo Hunt e querendo-o de volta.
Pela manhã do dia seguinte, Hunt apareceu na minha porta. Tinha
aproveitado a noite anterior sozinha para mandar mensagens para London,
que estava muito bem em Paris e meu irmão, que estava em Seul,
aproveitando sua folga. Conversei muito com eles e mandei fotos da Mimosa,
que ficaria outra vez na casa de Atticus, amigo de Hunt. Ele amava gatos,
então sempre gostava quando pedíamos um favor. Como no Natal, ele tinha
até comprado meias para ela, mesmo que felinos não usassem meias.
Ele inspirou com força. Exalou. Inspirou outra vez. Exalou, parecendo
um pouco aliviado.
Hunt assentiu. Nós descemos do carro e segurei sua mão ao ficar do seu
lado. Nós entramos no cemitério. Na administração, Hunt teve que dar as
informações. Enquanto observava ele e um homem de meia idade
conversarem, não afastei meus dedos que estavam entrelaçados nos dos meu
namorado. Depois de alguns momentos, parece que o senhor que trabalhava
lá finalmente conseguiu achar a localização do túmulo do irmão de Hunt.
— Que coisa?
Sentei-me em sua frente, sem me importar que minha calça ficaria suja
de terra.
— Eu sei perder, mas não quer dizer que eu goste. — Dei de ombros.
— Não sei o que aconteceu comigo nesta época, mas acho que devo minhas
habilidades à esta Eve de nove anos. Depois disso, foi como se as partituras
ficassem gravadas em meu cérebro. Nunca esqueci de nenhuma nota.
— Se a gente tiver um filho um dia, será que ele vai ser obcecado por
música? Tipo, eu amo guitarra. Você ama piano. Somos ótimos nisso. Ele
tem que, no mínimo, ser o próximo Chopin.
Eu ri.
— Sério? Nossa, vocês devem ser almas gêmeas. Fico feliz que a tenha
encontrado.
— É. Eu também.
como o garoto cerrou a mandíbula, soube que ele estava pensando a mesma
coisa que eu.
enrolou no punho antes de abaixar a cabeça, apoiar uma das mãos na pedra
retangular e fechar os olhos. Quando sua boca começou a se mover, soube
que aquela era sua despedida. Com o coração partido, distanciei-me alguns
metros. Parecia pessoal demais, era um momento exclusivamente seu. Não
queria atrapalhá-lo.
Não sei quanto tempo levou, nem me importei. Esperei que Hunt se
levantasse, enfim. Quando finalmente fez, eu estava sentada sob uma árvore à
alguns metros longe. Ele deixou o amuleto sobre a lápide. Olhando sobre o
Não havia mais confusão, nem dor. Eram só os olhos dele. Os olhos de
Hunt, do cara por quem eu havia me apaixonado há um tempo.
que eu pudesse lê-los. — Mas meu primeiro nome é Aidan. — Cada uma das
letras ditas separadamente, para que eu entendesse.
Ian ficou rígido quando entramos na sala. O ignorei, porque saber que
Eve e ele já tinham estado juntos um dia não significava nada para mim. Ela
era minha agora e era o que importava. Dei uma garrafa de água para ela.
— Agora não, por favor. A gente não ia sair para jantar com seu
amigo?
Eve deixou a cartaz perto da minha guitarra e nós saímos pelos fundos.
Luke estava parado em frente a uma SUV, com os braços cruzados em frente
ao peito. Ele sorriu assim que me avistou e nós demos aquele abraço de caras
com tapinhas nas costas.
— Cara, você tá em tudo que é jornal. Cansei de ver seu rosto — falei,
olhando para seus olhos azuis que deviam deixar as garotas aos suspiros.
— Boa sorte, então. Você lembra daquela garota que você disse que
partiria meu coração? — Eu maneei a cabeça em direção a Eve
discretamente, que estava atrás de mim, provavelmente tímida. — Ela é
minha namorada agora.
Luke olhou para Eve e a reação dela foi corar e fitar os próprios pés.
Empurrei o ombro dele.
— Não pisca esses olhos azuis para minha garota ou vou perdê-la.
Ergui uma sobrancelha. Era isso que notei de diferente em Luke. Ele
parecia muito feliz, muito radiante. Era irritante. A qualquer momento sentia
que ele fosse sair saltitando pela rua cantando uma balada romântica dos anos
oitenta. Antes que pudesse perguntá-lo quem era a garota, o vidro do carro
atrás dele baixou e uma cabeça loira despontou para fora.
Ah, é claro. A garota, era Faith. Devia ser uma longa história sobre
como eles haviam reatado. E agora entendia o porquê de ele parecer tão feliz.
Ela era meio que sua alma gêmea.
um mês…
na segunda-feira.
Um anel de prata com uma pedra simples de diamante. Parecia algo que
Eve gostaria quando o vi na vitrine de uma loja.
— Vou tomar banho. — Eve sinalizou para mim. Ela analisou meu
rosto com cuidado. — Está tudo bem? Seus pesadelos voltaram? — Agora,
ela parecia muito preocupada.
Desde que Eve havia ido até o túmulo de Alec comigo, eu não havia
tido mais pesadelos com ele. Foi como se eu finalmente pudesse respirar
depois de anos com uma corda ao redor do meu pescoço. Naquele dia, disse a
ele tudo que eu queria dizer, a forma como eu me sentia, como eu queria ter
feito as coisas diferentes. Pedi desculpas. Me despedi. Deixei o amuleto que
ele havia me dado em um de nossos aniversários lá, para que sempre tivesse
algo meu. Foi bom e esclarecedor.
Meu Deus, por que é que ela tinha que me conhecer tão bem?
Caí de joelhos.
pessoa que não seja você. Eu sei que posso estar sendo precipitado mas,
nossa, Eve. Nunca senti com ninguém o que eu sinto com você e acho que
essa é uma daquelas conexões raras. Não estou nem aí se estou soando brega
demais, mas eu amo você. Como amiga, como namorada, como pessoa.
Admiro cada parte de você. Um dia, quero que você carregue meus filhos.
Puxei-a para uma dança. Mesmo sem música, mesmo sem batida, colei
seu corpo junto ao meu e dançamos uma valsa que só fluía em nossas mentes.
Foi mágico. Ainda aprenderíamos muito um com o outro, teríamos brigas e
alguns desentendimentos, mas eu poderia morrer por Evelyn, viver por ela.
Respirar para ela. Esperar mais vinte e um anos para encontrá-la. Fazer tudo
motivos para ele me odiar outra vez. Se ele nos encontrasse sozinho numa
sala, muita coisa podia dar errado.
Ela suspirou.
— Sei que o que tivemos significou algo para você, mas nós já tivemos
essa conversa várias vezes. Eu não estava pronta para um relacionamento na
época e não correspondia aos seus sentimentos. Não vou pedir desculpas por
isso, porque sempre deixei claro para você que não envolveria sentimentos no
que estávamos fazendo… Bom, nós dois somos próximos de Hunt, e você
sabe que agora estamos noivos. Vamos conviver no mesmo ambiente sempre,
porque ambos fazemos parte da sua vida agora. Não quero ficar tendo que te
evitar a todo custo e enfrentando climas constrangedores. Quero que
possamos ser amigos. Acha que podemos fazer isso?
Ela sorriu.
Seu rosto ficou pálido, perdendo a cor. Ela continuava linda, os lábios
cheios e os olhos grandes e verdes. Quais eram as possibilidades de Blakely,
meu primeiro amor, estar em Boston, num bar, no mesmo momento que eu?
Lembrava da forma como ela partiu meu coração e foi embora no momento
em que mais precisei. Lembrava-me de tudo.
Obrigada por tudo, vocês me inspiram. E claro, agradeço a Deus por nunca
ter me deixado desistir de dar vida a novos mundos.
parte de novidades.