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O Primeiro Damismo
O Primeiro Damismo
Muito embora este entendimento seja fruto de estudos muito anteriores ao SUAS, de
embates e lutas históricas para o reconhecimento da política de Assistência Social
como direito e de militância política de diversos segmentos da sociedade, bem como
de profissionais, com destaque aos assistentes sociais, o movimento para a
implantação deste sistema é ainda incipiente, pois temos mais um modelo do que um
sistema propriamente instalado, o que não invalida, de forma alguma, os avanços
reais conquistados. Avanços oriundos especialmente dos movimentos organizados de
trabalhadoras/es e de usuários, seja na militância diária em seus equipamentos de
trabalho ou em fóruns, grupos e conselhos destinados à discussões, deliberações e
construções da política.
O avanço do SUAS – mesmo que não esteja nivelado, pois a cobertura para os riscos
sociais não é universalizada e há um descompasso entre as formas e o tempo
histórico de incorporação desta política pela união, estados e municípios – é inegável,
principalmente, pelo potencial, já demonstrado pelas pesquisas e pelos indicadores
existentes, de impactar a existência de grupos de pessoas, atuando na proteção a
vida, na prevenção da incidência de riscos sociais, na identificação e superação de
desproteções sociais e na redução de danos.
Ainda assim, o desafio cotidiano que nós, das diversas categorias profissionais – que
hoje, graças ao conjunto normativo do SUAS, compõem a política de assistência social
– enfrentamos é superar a tradição de práticas assistencialistas pautadas sempre pelo
controle e adestramento das famílias e pela criminalização da pobreza como forma de
manter “a ordem e o progresso” do país, bem como o poder sobre os pobres, tratando
os como desvalidos, carentes e não como cidadãos ativos de direitos.
Nós, profissionais que compomos o SUAS e que defendemos este modelo de política
pública, trabalhamos em uma direção que tem o Estado como principal responsável
pelo bem-estar social e assim tendo como competência a promoção da proteção social
que, no âmbito do SUAS, se materializa por meio dos serviços e benefícios
socioassistenciais. Nesta direção o Estado atua como agente executivo (PAIF e
PAEFI, programas e benefícios), agente regulador (dos serviços socioassistenciais
prestados por entidades e organizações sociais) e agente de defesa de direitos e da
participação social e esta direção, que preza a assistência como um direito e não
como uma benesse, nos faz posicionarmos contrárias/os às propostas que venham
reforçar o primeiro-damismo, estatuto que representa tudo aquilo que procuramos
romper, ou seja, com o clientelismo, com o cerceamento de famílias e com o uso das
pessoas que necessitam da assistência social para a promoção da imagem do político.
Por saber que nós, trabalhadoras/es do SUAS, nos constituímos como a “tecnologia
básica” deste sistema, uma vez que “a mediação principal é o próprio profissional”
(BRASIL, 2008), não podemos nos calar, pois o trabalho social que realizamos exige
conhecimento, formação técnica e perfil e não é possível que para um cargo de
condução de uma política pública o critério seja o casamento e não o currículo
profissional ou concurso público.
Bibliografia
ALONSO, Angela. A república das Marcelas, o reino das princesas e o sonho das
meninas. Folha de São Paulo, São Paulo, 23 de Outubro de 2016. Disponível para
assinantes em: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/angela-alonso/2016/10/1825018-
a-republica-das-marcelas-o-reino-das-princesas-e-o-sonho-das-meninas.shtml?
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