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A VIOLÊNCIA CONTRA A PESSOA IDOSA DEMANDA PARA A FORMAÇÃO

PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL.

Autores: Suzaneide Ferreira da Silva Menezes1, Ana Livia Fontes da Silva2, Hissa
Hamylle Meneses Mota3, Thaís da Silva Aguiar4,

RESUMO

A violência contra a pessoa idosa se apresenta como demanda a formação profissional


do assistente social por ser uma problemática social de negação da cidadania da
pessoa idosa, contrariando os princípios constitucionais e a política de defesa e
proteção a esta população. Nesta perspectiva cabe ao processo de formação
profissional a aproximação a esta temática, de forma que o discente possa construir um
referencial teórico que dê conta desta problemática, apreendendo suas contradições e
ao mesmo tempo mediar ações em prol da sua superação. Para tal, a Faculdade de
Serviço Social dispõe do Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre a Terceira Idade
(NEPTI), que viabiliza a inserção do discente nesse cenário, através do qual os
acadêmicos desenvolvem competências e habilidades de pesquisa e intervenção
pautadas no aparato legal específico a Política de Defesa e Proteção a Pessoa Idosa e
da Rede Nacional de Proteção e Defesa da Pessoa Idosa (RENADI), bem como através
do projeto de pesquisa “A política de proteção e defesa da pessoa idosa no município
de Mossoró: um estudo das práticas assistenciais desenvolvidas pela Gerência
Executiva de Desenvolvimento Social (GEDS)”, submetido ao Programa Institucional de
Bolsas de Iniciação Científica, da UERN. A violência contra os idosos é uma das
temáticas abordada no NEPTI, enquanto fenômeno universal, que apresenta várias
expressões, as quais se apresentam de forma equivocada quando é tratada forma de
naturalizada, independente de ser rico ou pobre, de questões de gênero e de
composição familiar.

Palavras-chave: Política pública, idoso, violência.

1
Professora da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, doutora em Ciências Sociais, mestra
em administração, assistente social; pertencente ao Grupo de Estudos Pesquisa em Políticas Públicas,
da Faculdade de Serviço Social, da UERN e do Grupo de Pesquisa Gênero, Planejamento, Meio
Ambiente e Desenvolvimento, da UFRN. Contato email: suzaneidemenezes@uern.br ou
suzam_silva@hotmail.com.
2
Graduanda em Serviço Social da UERN, voluntária no NEPTI e no Projeto “A política de proteção e
defesa da pessoa idosa no município de Mossoró: um estudo das práticas assistenciais desenvolvidas
pela Gerência Executiva de Desenvolvimento Social (GEDS)”, submetido ao Programa Institucional de
Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC), da UERN.
3
Graduanda em Serviço Social da UERN, voluntária no NAPTI e no Projeto “A política de proteção e
defesa da pessoa idosa no município de Mossoró: um estudo das práticas assistenciais desenvolvidas
pela Gerência Executiva de Desenvolvimento Social (GEDS)”, submetido ao Programa Institucional de
Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC), da UERN.
4
Graduanda em Serviço Social da UERN, voluntária no NEPTI e no Projeto “A política de proteção e
defesa da pessoa idosa no município de Mossoró: um estudo das práticas assistenciais desenvolvidas
pela Gerência Executiva de Desenvolvimento Social (GEDS)”, submetido ao Programa Institucional de
Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC), da UERN.
1 - INTRODUÇÃO
A violência contra o idoso se constitui um problema de política pública ao
mesmo tempo em que se configura um desafio a formação profissional do assistente
social, por isso passou-se a priorizar essa temática nos estudos realizados pelo Núcleo
de Estudos e Pesquisa sobre a Terceira Idade (NEPTI), da Faculdade de Serviço Social
(FASSO), da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), na cidade de
Mossoró (RN).
Este estudo é fruto de reflexões realizadas a partir de ciclo de palestras
realizadas por acadêmicas do Curso de Serviço Social, através de projeto de
intervenção, com o objetivo de capacitar profissionais da assistência social, que atuam
na Gerência Executiva de Desenvolvimento Social (GEDS); bem como processo
investigativo realizado através do projeto “A política de proteção e defesa da pessoa
idosa no município de Mossoró: um estudo das práticas assistenciais desenvolvidas
pela Gerência Executiva de Desenvolvimento Social (GEDS)”, submetido ao Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação Científica, da UERN, com o objetivo de “identificar o
processo de caracterização da vulnerabilidade, as relações sociofamilair, os tipos de
violência sofrida pelo idoso, os preconceitos sentidos e sofridos pela população
beneficiária dessa política”, realizada no período de junho de 2010 a junho de 2011.
Nesse processo investigativo optamos por realizar entrevista junto a 71
idosos cadastrados na GEDS, mas especificamente atendidos pelas Casas da Nossa
Gente e pelos CRAS do município de Mossoró. Os idosos em sua maioria se
encontram em condição de vulnerabilidade, por ser um desafio que interroga e põe em
questão a capacidade das pessoas em reconhecer e admitir a existência dessa
problemática, enquanto um processo que vem crescendo. Por outro lado percebe-se a
ausência de política pública de combate a violência de forma efetiva, contínua e
sistemática. É notória a existência de ações pontuais, que possibilitam a publicização
de informações e canais de atendimento a pessoa idosa, mas que não provoca uma
ruptura da realidade posta.
Portanto, há uma demanda latente na sociedade por um conjunto
interligado de ações e relações institucionais para o combate aos diversos tipos ou
manifestações de violências contra a pessoa idosa, que podem se manifestar de forma:
estrutural (aquela que ocorre pela desigualdade social e é naturalizada nas
manifestações de pobreza, de miséria e de discriminação); interpessoal (que se refere
às interações e relações cotidianas) e institucional (que diz respeito à aplicação ou à
omissão na gestão das políticas sociais e pelas instituições de assistência) (MINAYO,
2004). A partir dessas manifestações é possível compreender o quanto é complexa
essa problemática e o quanto ela pode ser manifestada de formas variadas, o que
dificulta sua identificação, até mesmo por aqueles que são vitimizados.
Este entendimento está associado à conjuntura atual em que os gestores
públicos são exigidos pela sociedade a dar respostas e soluções às especificidades da
questão social, cujo entendimento se encontra nas contradições entre o
desenvolvimento econômico e o desenvolvimento social. A discussão em evidência
está associada a forma de governança com que o poder público, principalmente o
municipal percebe e gerencia a política do idoso, isto é, a violência contra a pessoa
idosa é uma questão de política pública, em que há a necessidade de se redefinir a
compreensão dos governantes sobre esta problemática, cuja visibilidade é obscura
diante das inúmeras problemáticas sociais que compreendem objeto de intervenção da
assistência social.
Sendo assim, a violência é uma questão social que não pode ser
ignorada, por isso os profissionais da assistência social devem ter postura política,
técnica e ética, assim como devem atuar de forma multiprofissional, como é o caso dos
trabalhadores da saúde, para que sejam identificadas as agressões, abusos e maus
tratos contra a pessoa idosa, para que haja a denuncia e a punição de seus agressores.
Em consonância a esse processo é preciso que a gestão da política do idoso no âmbito
municipal esteja comprometida com essa questão, para que não fique apenas no
âmbito das intenções. Portanto, faz-se necessário fazer breve comentário acerca do
novo arranjo institucional de gestão das políticas sociais, a partir da reforma
administrativa ocorrida em 200, que tem como centralidade a intersetorialidade do
planejamento, gestão e execução das políticas públicas.

1. ARRANJO INSTITUCIONAL DA GESTÃO DA POLÍTICA DO IDOSO NO


MUNICÍPIO DE MOSSORÓ
Cabe aos gestores públicos conhecer e efetivar a Rede Nacional de
Defesa e Proteção da Pessoa Idosa (RENADI), que por ser uma rede em processo de
construção para a maioria dos municípios, ainda se encontra no estágio de formulação
da rede de atendimento para pessoas da terceira idade ou de redefinição ou adequação
para que as pessoas idosas possam usufruir os seus direitos de uma maneira mais
justa e igualitária. No caso, do município de Mossoró, a política de assistência social
assumiu uma nova roupagem a partir da reforma administrativa, regulamentada pela Lei
Complementar nº. 001/2000 – GP/PMM, homologada em 30 de dezembro de 2000, a
implantada a partir janeiro de 2001. Essa reforma tinha como finalidade redesenhar a
capacidade governativa das políticas públicas municipais, o que requereu de seus
gestores e demais servidores o desenvolvimento de práticas administrativas inovadoras,
assim como novo desenho institucional capaz de redefinir a hierarquia de poder entre os níveis:
institucional, intermediário e operacional da estrutura funcional, na qual as políticas públicas
fossem gerenciadas a partir de uma nova cultura pautada em relações intersetoriais e de novo
arranjo institucional (MENEZES,2009).
Com a homologação desta reforma as políticas sociais de âmbito
municipal ficaram subordinadas a Secretaria Municipal de Cidadania (SMC), em que
exerce papel de liderança, na qual articula institucionalmente gerencias executivas
denominadas de programáticas. No caso da Secretaria Municipal de Cidadania5,
apenas a Gerência Executiva de Desenvolvimento Social tem as características
necessárias a sua implantação, ao contrário das demais Gerências, a de educação e de
saúde, que atuam como sistemas (MENEZES,2009,p. 117).
A GEDS é uma gerência que está para além da política de assistência
social, incorporando vários tipos de práticas, dentre essas vinculadas a habitação, a
trabalho, a artesanato, a cidadania, a atenção a grupos específicos da população, como
idosos, portadores de deficiência, crianças em situação de risco pessoal e social.
Apesar de ser a assistência social a centralidade, a diversidade acaba por atribuir a
essa gerência o caráter de faz tudo, agregando uma série de atribuições que dificultam

5
De acordo com a Lei Complementar nº. 002/2002 - GP/PMM, a Secretaria Municipal de Cidadania, que
antes tinha três gerências, ficou assim, instituída: Gerência Executiva de Educação e Desporto; Gerência
Executiva de Saúde; Gerência Executiva de Desenvolvimento Social e Gerência Executiva da Juventude,
Esporte e Lazer e a Fundação Municipal de Cultura.
a construção de uma estrutura interna que dê conta da especificidade dos serviços
prestados e da demanda de seus usuários.
A lógica do desenvolvimento social amplia o leque de demandas a
efetivação da política social diante da diversidade de problemáticas sociais e da
natureza dos serviços prestados, além da lógica da intersetorialidade que dá uma nova
roupagem e complexidade a resolutividade das problemáticas sociais. Entre as
competências da GEDS é possível identificar alguns procedimentos específicos quanto
a proteção social, que é a centralidade de sua estruturação funcional, ou seja, proteção
social especial6 e proteção social básica7, conforme a Política Nacional de Assistência
Social (PNAS, 2004). Em meio a esse novo arranjo institucional a política do idoso fica
sem visibilidade no trato da proteção social básica, mesmo tendo hegemonicamente a
presença de assistentes sociais.
Percebe-se que o Serviço Social no âmbito das políticas sociais
desenvolvidas no âmbito do município de Mossoró é desafiado a se aproximar dessa
realidade, sem perder o foco no objetivo do Curso de Serviço Social, que é
formar assistente social capaz de apreender o significado social e histórico da
profissão e intervir de forma crítica e qualificada nos espaços de atuação
profissional, com fundamentação teórico-metodológica e posicionamento ético-
político de acordo com a Lei de Regulamentação da Profissão(nº. 8.662/93) e
com o Código de Ética do Assistente Social (Resolução CFESS – 273/93)
(PROJETO PEDAGÓGICO DO CURSO DE SERVIÇO SOCIAL/FASSO/UERN)

Portanto o processo de formação profissional é desafiado a dotar o


discente de conhecimento investigativo e interventivo, tendo por base um referencial
teórico-metodológico, ético-político e técnico-operacional capaz de dar conta dessa
demanda que se apresenta em forma de questão social, requerendo o
comprometimento e envolvimento dos discentes e docentes nesse cenário, mediante a
formulação, gestão e execução de propostas construídas a partir da apreensão da
realidade posta. Com essa perspectiva é possível avançar na compreensão dessa

6
Serviços de proteção social especial (de média complexidade) – ofertar através de rede própria ou de
consórcios intermunicipais, cuja função prioritária seja de proteger as famílias, seus membros e
indivíduos, cujos direitos fundamentais já se encontram violados, mas que mantém os vínculos e, ou,
laços de pertencimento, e, também, de inseri-las em outras políticas públicas, de forma sustentável
(PNAS, 2004, p.12).
7
Serviços de proteção social básica: promove atenção às situações de vulnerabilidade, apresentadas e
prevenir situações de potencial risco pessoal ou social, contribuindo para a inclusão social e a autonomia
das famílias, seus membros e indivíduos, bem como a redução dos índices de eventos (PNAS, 2004,
p.12).
problemática e na proposição de políticas de proteção e defesa da pessoa idosa, ao
mesmo tempo, em que contribui para que de forma científica e sistemática se possa
mudar uma realidade posta, porém, negada pela sociedade e pelas pessoas
vitimizadas, constituindo-se um desafio a formação profissional e uma nova
institucionalização da rede de proteção e defesa da pessoa idosa no âmbito municipal,
mas precisamente no combate a violência contra o idoso.

3. VIOLÊNCIA CONTRA O IDOSO E SUAS MÚLTIPLAS CONFIGURAÇÕES


Etimologicamente, o termo violência vem do latim violentia, isto é, força
aplicada de forma direta ou indireta que possa produzir algum tipo de agressão.
Portanto, é preciso entender que esta problemática tem como suporte o medo social
enquanto instrumento alimentador do ciclo da violência, que pode ser visto como algo
natural do ser humano, se analisado pelo aspecto biológico, porém as causas do medo
fazem a diferença, podendo esta atitude gerar a lei do silêncio ou atitudes passivas
diante de seus agressores (BAIERL & ALMENDRA,2002). Para o Serviço social essa
discussão está muito presente no âmbito desta profissão, principalmente no que se
refere a violência urbana e o medo social, isto é, uma questão social que atinge a toda
a sociedade independente de ser vitimizado ou não, porém se sentir inclusa nessa
categoria é outra questão. Isto é, assumir que é vítima da violência é uma questão a ser
encarada, pois culturalmente somos favoráveis a mascarar essa relação ou torná-la
naturalizada, principalmente quando essa acontece no seio familiar.
O fenômeno da violência é visto por várias óticas, dentre estas a
naturalização da violência, as desigualdades sociais e a miséria da maioria da
população. A institucionalização da violência enquanto pauta da política social é uma
necessidade urgente, visto que a pessoa idosa, assim como de outras pessoas que
constitui as populações vulneráveis socialmente ou em situação de risco, são pessoas
sujeitas de direito, de cidadania, que não podem e nem devem ser submetidas a
situações discriminatórias ou de marginalização, seja esta de qualquer natureza.
Frente ao combate a violência, discriminação e/ou marginalização sofridas
pela pessoa idosa o poder público deve implementar ações que atendam as urgências
sociais urgentes e emergenciais, com ações que transcendam os limites institucionais.
No caso das pessoas idosas que são atendidas pela GEDS, através das Casas da
Nossa Gente e dos Centros de Referência da Assistência Social (CRAS) estas se
apresentam desconhecedora dos tipos de violência, reconhecendo apenas a violência
física, exercida por pessoas que não são da família. Essa constatação é decorrente da
realização de palestras com a temática “combate a violência contra a pessoa idosa”, na
qual explicou-se o que era violência e os tipos de violência; quem são os agressores,
sendo em sua maioria pessoas da família ou do convívio familiar; o que as legislações
específicas a política do idoso trazem como punição aos agressores, bem como o que
fazer em caso de violência sofrida ou identificada em outra pessoa.
Como primeira aproximação essa ação mostrou-se bastante intrigante
quando a preocupação destes em se referir a violência sofrida por outras pessoas, em
nenhum momento esses se colocaram na condição de vitimizados. Emergiu a partir daí
uma preocupação quanto à existência ou não de violência entre as pessoas idosas
atendidas pelos programas desenvolvidos na GEDS. Quando se tem conhecimento de
denuncias efetivado nos CRAS, no Plantão social ou mesmo no Conselho Municipal de
Defesa da Pessoa Idosa. Diante desse hiato optamos por entrevistar alguns idosos,
num total de 71 pessoas, frequentadores dos CRAS e das Casas da Nossa Gente,
entre homens e mulheres.
Para esta reflexão acerca da violência da qual a pessoa idosa é vitimada
está ligada a forma de ver e compreender o mundo, a interpretação que tem do
envelhecimento e da própria condição deste na sociedade. Não é algo fácil de ser
entendido e nem pode transitar apenas pelo foco do julgar, é preciso situar essa
discussão para além do querer e não querer denunciar. Há uma carga muito forte de
subjetividade nesse contexto, é a própria relação familiar que está em jogo, é o
desnudar da esfera privada, que se torna pública, e nem sempre entendida sob os
valores de quem a vivencia. Esta atinge, também, o
[...]. O conjunto das relações sociais vem sofrendo profundas mudanças nas
inter-relações entre sociedade civil e demais organizações públicas e privadas,
que articulam um conjunto de personagens que, ao tecerem relações entre si,
constroem as possibilidades de ampliar, reduzir ou, às vezes, escamotear essas
formas de criminalidade por total impotência e pela própria difusão do medo
social (BAIERL,2004, p.73).
Desta forma, esse tipo de violência deve ser abordado no seio familiar, ou
a partir de sua relação intrafamiliar, haja vista ser espaço de relações sociais, em que
se expressam contradições e conflitos, muitas vezes conciliáveis ou não. As
fragilizações das relações familiares resultam em dilacerações na rede de proteção a
pessoa idosa, em que aqueles com vínculos parentais não querem se responsabilizar
por seus idosos. Salvo quando esse se torna provedor da casa, não significando
autonomia, nem poder de mando para a pessoa idosa, já que é apenas o dinheiro o elo
que perpassa essas relações e não a afetiva, em sua maioria.
Entre os entrevistados foi identificado que no lar em sua maioria são bem
tratados, sendo estes 43, porém, dos 71 entrevistados, 04 (quatro) não são bem tratado
e 09 (nove) dizem que às vezes são maus tratados, os demais 15 entrevistados mora
só por opção ou por não ter com quem morar, já que eles omitiram se é porque os
familiares não querem morar com eles. Compreende-se que o vinculo financeiro está
agregado a ausência de outros suportes sócio-institucionais, bem como é fruto do
desemprego estrutural que provoca a aglomeração familiar, num mesmo espaço,
independente da formação de novas famílias, o que ocorre com a união de outros
membros da família, mas que permanecem na casa dos pais, por falta de emprego, ou
baixos salários, entre outros fatores, já mencionados que são os vários arranjos
familiares8.
Corroborando com esse hiato apresentamos as respostas ao
questionamento: sofre ou já sofreu algum tipo de violência? Obtivemos a partir dessa
indagação os seguintes resultados: dos 71 entrevistados, 51 disseram não ter sofrido
nenhum tipo de violência, sendo que 20 assumiram sofrer ou já terem sofrido algum tipo
de violência. A fim de complementar as respostas indagamos, de que tipo?
Responderam: 12 do tipo físico, 06 emocional e dois de ordem financeira. Vejamos das
71 entrevistas apenas 12 especificaram o tipo de violência sofrida, porém, 20
anteriormente disseram já ter sofrido algum tipo de violência. Tais respostas reforçam a
dificuldade de tratar de um assunto tão delicado para eles, em sua maioria as pessoas
8
Principais arranjos familiares: famílias com base em uniões livres; famílias monoparentais, dirigida só
pela mulher ou só pelo homem; divorciados gerando novas uniões; famílias constituídas por
homossexuais; mães/adolescentes solteiras que assumem seus filhos, e mulheres que decidem ter filhos
através da “produção independente”, ou seja, sem companheiro estável. (JOSÉ FILHO, Mário, Pe. A
família como espaço privilegiado para A construção da cidadania. São Paulo: UNESP, 2002. (Série
Dissertações e Teses 5).
idosas têm vergonha e medo de abertamente falar de tal problemática, para estes é
expor suas vidas, servir de comentários para vizinhos ou familiares, ou até mesmo
temem represálias posteriormente, apesar de ter sido garantido o anonimato.
Ainda com relação à violência questionamos aos idosos quem cometeu o
ato da violência? Dos 71 entrevistados, 12 responderam de parentes, quatro de amigos
e quatro de estranhos. Diante desses dados, perguntamos se denunciariam a violência
acontecida? Destes, 43 disseram que denunciariam a violência, 25 não denunciariam e
três não responderam. Aproveitando o momento, indagamos porque não denunciariam?
Obtivemos os seguintes dados: 19 responderam por medo e 06 não especificaram
porque não denunciariam.
Frente ao exposto, compreendemos que o medo social é reinante, além
do fato de não saberem a quem recorrer em caso de denúncia, ou como proceder, ou o
que resultará desse processo, enfim o desconhecimento e a desinformação são as
causas maiores desse medo. Além de existir um descrédito no sistema público seja ele
executivo ou judiciário. Por fim indagamos a quem denunciariam? 15 responderam à
política, 14 as autoridades em geral, cinco não souberam especificar a quem e nove
não deram respostas.
Compreende-se que a análise ora realizada está repleta de significados
que demandariam maior aprofundamento em virtude da complexidade dessa
problemática, entretanto é possível entender que esta se associa aos laços familiares
como forma de mascaramento da violência contra a pessoa idosa.
Além dessas identificamos a própria fragilidade da política de proteção e
defesa da pessoa idosa que embora encontre-se inserida em programas de assistência
social, que tenhamos órgãos para denuncias, como é o caso do Centro Referência
Especializado da Assistência Social (CREAS); Plantão social; Promotoria do Idoso e
Conselho Municipal de Defesa da Pessoa Idosa, ainda há desconhecimento de sua
existência.
Identificamos à existência de ações específicas e sistemáticas de combate
a violência, porém são insuficientes para que seja efetiva, mesmo existindo o setor de
Plantão Social que tem a competência de fazer trabalho de visitas domiciliares, a fim de
identificar e atuar nos casos em fique constatada a violência contra os idosos. Por outro
lado, os idosos que sofrem agressões não às externam com facilidade, em sua maioria
adotam o silêncio ou negam essas agressões reportando-se a casos ocorridos com
vizinhos, parentes ou conhecidos, independente de suas configurações, tipo: abusos
físicos, psicológicos e sexuais, abandono, negligências, abusos financeiros e
autonegligências9. A ausência de denuncias dificulta ainda mais o desenvolvimento de
ações punitivas.
De acordo com os dados fornecidos pelo CREAS durante todo o ano de
2010, foram denunciados apenas seis casos de violência contra o idoso, sendo que de
janeiro à maio de 2011 já foram atendidos na instituição 19 idosos vitimas de agressão.
Com isso, fica comprovado que apesar do número de denuncias terem aumentado
ainda há um grande desafio para combater o medo enfrentado pela população, o que
tem levado a GEDS a investir em parceria com o NEPTI/UERN em ações
sócioeducativas em que os profissionais e os idosos possam identificar essas práticas e
ao mesmo tempo denunciá-las.
Lembramos que essa não é uma problemática apenas da assistência
social, também é uma preocupação de outras políticas sociais, sendo de destaque a da
saúde que através da Política Nacional de Redução da Morbimortalidade por Acidentes
e violências, em seu artigo 2º, busca
determinar que os órgãos e entidades do Ministério da saúde, cujas ações se
relacionem com o tema objeto da política, promovam a elaboração ou a
readequação de seus planos, programas e projetos e atividades com as
responsabilidades nela estabelecidas (2001,p.2).

Nesse contexto, percebe-se que o envolvimento dos discentes nas ações


investigativas ora elencadas favoreceu a formação acadêmica e profissional da equipe
envolvida nesse processo, visto que realizou ações em que a indissociabilidade entre o
ensino, pesquisa e extensão. O NEPTI é visto como um espaço privilegiado de
discussões sobre a política do idoso.

4. SERVIÇO SOCIAL, FORMAÇÃO PROFISSIONAL ERELAÇÕES INSTITUCIONAIS


Esta compreensão remete a discussão para o foco da seguridade social,
articulando as políticas de saúde, previdência social e assistência social em prol do

9
Maiores esclarecimentos ver ALMENDRA, Carlos Alberto da; BAIERL, Luzia Fátima. A violência:
realidade cotidiana IN Sociedade e Cultura, v.. 10, nº. 2, Jul./Dez. 2007, p. 267-279.
fortalecimento da rede de proteção e defesa da pessoa idosa. A violência contra o idoso
é sem dúvida uma questão de políticas públicas. Trata-se de negação de direitos
constitucionais, que prejudicam a sua compreensão em termos de cidadania, que é um
conceito histórico, cujo entendimento tem variado no tempo e no espaço.
A partir desse exercício de indissociabilidade entre o ensino, pesquisa e
extensão as acadêmicas tiveram a oportunidade de se aproximar a esta temática,
compreendendo seu significado e complexidade, bem como a necessidade de tornar
visível essa problemática, para que seja inserida na agenda pública, enquanto
prioridade, de forma que a pessoa idosa se sinta segura em exercer sua cidadania,
denunciando práticas de violência, discriminação ou marginalização. O fato é que para
o Serviço Social precisar fortalecer e ampliar a aproximação teórico-metodológica a
questão da violência e o medo social acerca do idoso, que vem se tornando uma
demanda recorrente. É, portanto, necessário despertar no seio acadêmico o interesse
pela temática, por se constituir um desafio e demanda posta ao serviço social,
principalmente para o NEPIT, que além de um espaço de discussão da temática é
espaço de estágio é, também, espaço de mediações entre formação e exercício
profissional.
Entendemos que, uma formação orientada para a heterogeneidade,
característica presente em qualquer grupo humano, passa a ser percebida como
componente pedagógico-político imprescindível para as interações no cotidiano
acadêmico. Seguindo essa linha de pensamento, entende-se que os distintos ritmos,
comportamentos, experiências, trajetórias pessoais, contextos familiares, valores e
níveis de conhecimentos de cada um (discente e docente) imprimem ao cotidiano
acadêmico a possibilidade de troca de conhecimentos, não só acadêmicos e científicos,
mas oriundos dos idosos, garantindo a dialogicidade entre saberes diferentes, de visão
de mundo, confronto, ajuda mútua e, consequentemente, ampliação das capacidades
individuais (LEWGOY, 2009).
É, portanto, na dinâmica da construção e reflexão do conhecimento que se
desenrola o estudo acerca da Política Nacional do Idoso, do Estatuto do Idoso, da
Política Nacional de Assistência Social e mais recentemente do Conselho Municipal do
Idoso (CMI), que em sua criação teve como objetivo principal a fiscalização da política
do idoso para que de fato seja efetivada, com a participação de organizações
representativas do governo e da sociedade civil, mediante a efetivação do controle
social. A partir do elo institucional entre a GEDS e o NEPTI/UERN, a rede de proteção e
defesa a pessoa idosa foi sendo discutida, em função da apreensão das expectativas
dos usuários desses serviços, chegando-se a um consenso de que a violência requer
uma atenção maior, não só por parte dos profissionais, mas também, da academia que
provocou a ampliação a discussão acerca da violência contra o idoso.
A violência enquanto espaço de mediação não pode ser vista dissociada
da Rede Nacional de Proteção e Defesa da Pessoa Idosa (RENADI), assim como das
discussões realizadas desde 2006, com a I Conferência Nacional de Direitos do Idoso,
cuja temática central era “Construindo a Rede Nacional de Proteção e Defesa da
Pessoa Idosa (RENADI), na qual aflorou a discussão acerca da violação de direitos,
assim como se tornou visível à vulnerabilidade teórica metodológico dos assistentes
sociais em lidar com essa problemática, não só no nível do saber, mas também do
fazer profissional. É certo que no espaço institucional há outros profissionais, compondo
equipes interdisciplinares, porém nem sempre são orientados pelo mesmo veio teórico,
no caso comprometido com a afirmação dos direitos fundamentais.
Em Mossoró percebe-se que a rede enquanto a materialização da política
pública requer uma nova institucionalidade compreendida por órgãos governamentais e
não governamentais, a qual perpassa por um novo arranjo institucional formulado a
partir do conhecimento das várias instituições, que embora tenham competências
específicas, não podem estar distantes, apesar de serem autônomas, como é o caso da
Promotoria do Idoso, do Conselho de Direito do Idoso, dos CRAS, do CREAS, e outras
instituições prestadoras de serviços a pessoas idosas, no qual se incluem o
atendimento domiciliar ao idoso, a residência temporária para idosas vítimas de
violência, entre outras.
É nesse cenário que o Serviço Social se depara com a contrariedade entre
a política de proteção e defesa do idoso e as reais condições de vivencia dos idosos.
Culturalmente as pessoas não estão aptas a trabalhar com as relações
intergeracionais, nem com a perspectiva da família em sua matricialidade. É necessário
articular e conhecer a legislação pertinente, os planos de direitos da pessoa idosa;
definir orçamento, além de elaborar planos estratégicos de fortalecimento das
instituições protetivas, de fortalecimento da sociedade civil organizada para que possa
de forma sistêmica formular, executar, monitorar e avaliar essa política em nível de
município.
Com base na Lei que Regulamenta a Profissão estamos aptos a exercer
ações de planejamento, gestão, avaliação, monitoramento seja em nível de órgãos
gestores da rede ou ações políticas de direito da pessoa idosa, ou programas de
proteção e defesa da pessoa idosa. Sendo assim, fazemos parte do grupo de pressão:
idosos, profissionais, políticos, enfim todos aqueles que têm contribuído para melhoria
dessa política. Em meio a essas argüições e situações, o Serviço Social estuda a
problemática da violência contra a pessoa idosa baseada na investigação e intervenção
das dificuldades que se apresentam como demandas a esta profissão. Combatendo a
negação de direitos, capacitando profissionais da assistência social para que através da
intersetorialidade e da interdisciplinaridade possam integralizar outras políticas sociais,
bem como dotar aos acadêmicos de aporte teórico-metodológico, ético-político e
técnico-operacional capaz de intervir nesse espaço contraditório em que possibilita
avanços e recuos a esta política, assim como se constitui espaço de aprendizagem
para os acadêmicos do Serviço Social.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A experiência prática obtida a partir da atuação do NEPTI via grupo de
discentes voluntários possibilitou o desnudar da efetivação da política de proteção e
defesa do idoso em Mossoró, que tem enfrentado algumas limitações diante da
ausência de um diagnóstico acerca de como se encontra essa população vulnerável na
cidade, como esta tem enfrentado as várias situações de violência e quais as
estratégias de enfrentamento se tem instituído para que de fato haja a
institucionalização de uma política de defesa e proteção.
A equipe coube a aproximação as múltiplas configurações da violência
contra a pessoa idosa a partir do acompanhamento as ações das Casas de Nossa
Gente e CRAS, bem como capacitando profissionais da área em seu cotidiano
institucional, objetivando desenvolver amplo processo de socialização de
conhecimentos capazes de torná-los suficientemente aptos a identificar e denunciar
práticas de violência, bem como possibilitar que esta ação possa ser desenvolvida,
também pelas pessoas vitimizadas.
É nesse sentido que se institucionalizou a parceria entre a GEDS e o
NEPTI/FASSO/UERN, isto é, foi realizado um trabalho conjunto de difusão de como
combater a violência, como identificá-la e que caminhos adotar para a denúncia e
punição de seus agressores. Nesse processo foi importante a associação das
atividades de investigação e intervenção, de forma complementar, envolvendo
dinâmicas de grupo, com auxílio de material audiovisual, visto que em sua maioria, no
caso dos idosos, são pessoas analfabetas. Portanto atuar junto aos idosos e aos
profissionais possibilitou a efetivação de resultados positivos.
Por outro lado, ainda continuamos a manter distanciamento com a
promotoria pública o que tem dificultado o processo de credibilidade quanto ao que
preconiza o Estatuto do Idoso quanto aos seus aspectos punitivos aqueles que causam
ações consideradas objeto de negligência, discriminação, violência, crueldade ou
opressão. A ausência de informações acerca dos processos e a aplicabilidade da Lei
deixam os idosos duvidosos quanto aos benefícios da denuncia, assim como provoca
um descontentamento quanto a atuação do assistente social frente a esse processo.
Diante do exposto, consideramos ser necessário desenvolver trabalho
investigativo e interventivo junto ao Conselho Municipal de Proteção a Pessoa Idosa,
capacitando-os para o exercício do controle social, ao mesmo tempo, em que
investimos na aproximação da GEDS e do NEPTI à Promotoria Pública e Defesa do
Idoso. Significando reconstruir relações institucionais capazes de minimizar o silêncio
que perpassa o hiato entre falar ou calar diante da violência contra o idoso. Por fim,
consideramos que este ensaio ainda não está concluído, é preciso continuar a refletir e
agir sobre essa realidade, manter e ampliar vínculos institucionais, e sobre tudo
fiscalizar e monitorar através do controle social a política do idoso em Mossoró.

6. REFERÊNCIAS
ALMENDRA, Carlos Alberto da; BAIERL, Luzia Fátima. A violência: realidade cotidiana
IN Sociedade e Cultura, v.. 10, nº.. 2, Jul./Dez. 2007, p. 267-279.
BAIERL, Luzia Fátima & ALMENDRA, Carlos Alberto da Cunha. A dinâmica perversa do
medo e da violência urbana. In Revista Serviço Social e Sociedade, nº. 70, Ano XXIII,
julho, 2002, p.59-74.
BAIERL, Luzia Fátima. Medo social: da violência visível ao invisível da violência. São
Paulo: Cortez, 2004
I CONFERÊNCIA NACIONAL DE DIREITOS DO IDOSO. CONSTRUINDO A REDE
NACIONAL DE PROTEÇÃO E DEFESA DA PESSOA IDOSA – RENADI - TEXTO
BASE/Brasília, 23 a 26 de maio de 2006.
LEWGOY, Alzira maria Baptista. Supervisão de estágio em serviço social: desafios
para a formação e exercício profissional. São Paulo: Cortez 2009.
MENEZES, 2009.
MINAYO, Maria Cecília de Souza. Violência contra os idosos: o avesso do respeito à
experiência e a sabedoria. Brasília, Secretaria Especial dos Direitos Humanos. 2004.
hipte//www.observatorionacionaldoidoso.fiocruz.Br/biblioteca/_manual/4.PDF. (acesso
16/06/2010)
PLANO NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (PNAS), 2004.
POLÍTICA NACIONAL DE REDUÇÃO DA MORBIMORTALIDADE POR ACIDENTES
E VIOLÊNCIAS. Ministério da Saúde, PORTARIA GM/MS Nº 737 DE 16/05/01, PUBLI-
CADA NO DOU Nº 96, SEÇÃO 1e – DE 18/05/01
PROJETO PEDAGÓGICO DO CURSO DE SERVIÇO SOCIAL/FASSO/UERN, 2007

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