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COLABORAÇÃO INTERNACIONAL

o PLANEJAMENTO DO SEU SISTEMA DE


APRENDIZAGEM EMPRESARIAL:
IDENTIFIQUE UMA VISÃO E AVALIE O
SEU SISTEMA DE REIAÇÕES~

• Louis Jacques Filion, PhD.


Professor do Departamento de Administração e
* PALA VRAS-CHA VE: Pequenas empresas, empreen-
dedor, visão de negocio, sistemas de aprendizado.

* ABSTRACT: Based on his own and cited research, the


Economia da Universidade de Québec em Trois-
Rivieres.
author proposes a learning approach for working with
Tradução de Gledson Luiz Coutinho, professor do people who want to become entrepreneurs. The basis is the
Departamento de Engenharia de Produção da Escola
identification of the "tnsion" the person has of personal and
de Engenharia da UFMG.
business goals. It is suggested that the principal factor in
creating and developing this vision is the potential
* RESUMO: O autor se baseia em suas pesquisas e nas de
outros estudiosos para propor um sistema de aprendizagem
entrepreneurs system of "relaiions", Three other factors are
also highlighted for their influence: leadership, energy and
individual perception. The latter is seen as being condi-
àqueles que se pretendem tornar empresários. O programa cioned by personal values and is given the German designa-
de aprendizagem somente poderá ser delineado a partir de tion of "Weltanschauung".
uma visão que a pessoa consiga adquirir daquilo que ela
pretenda ser e que a sua empresa seja. O principal fator de
suporte tanto da criação como do desenvolvimento da visão
*nessKEYvision,WORDS: Small business, entrepreneurship,
learning systems.
busi-
é, aparentemente, o sistema de relações do empreendedor.
Três outros fatores influem também no processo de formação
da visão: a liderança, a energia e a percepção individual, esta • Comunicação apresentada na "Terceira Conferência Canadense
condicionada pelos valores de cada um. Este último fator é de Estudos Empresariais", Universidade de Calgary, 28 a 30 de
designado pela palavra alemã Weltanschauung. setembro de 1989.

Revista de Administração de Empresas São Paulo, 31 (3): 63-71 Jul./Set. 1991 63


o PLANEJAMENTO DO SEU SISTEMA DE APRENDIZAGEM EMPRESARIAL
RAE

INTRODUÇÃO produção acolá, e assim por diante. Essa ob-


servação leva à conclusão de que, na maior
squisas anteriores identificaram o sis- parte dos casos, a carreira do empreendedor
ema de relações do empreendedor se compõe de uma seqüência de empregos que
como sendo o elemento que melhor ex- lhe permite aprender o que ele considera ne-
plica o desenvolvimento de sua visão'. Nas cessário para implantar a sua própria empresa.
páginas que se seguem, serão apresentados, A forma de atuação do empreendedor é
primeiramente, o enfoque baseado na visão essencialmente proativa, já que ele identifica
do empreendimento e, em seguida, o modelo coisas novas que deverá aprender, tendo em
do sistema de relações que lhe serve de vista as coisas novas que deseja realizar. De
suporte', Por último, sugerem-se alguns exer- fato, quanto mais bem-sucedido ele for, mais
cícios capazes de colaborar para o desen- se poderá imaginar que ele terá feito essa
volvimento dessa visão e de proporcionar a aprendizagem antecipada'.
cada empreendedor condições para planejar A forma da aprendizagem parece ser tão
o seu próprio sistema ideal de relações, con- importante quanto o que deve ser aprendido.
siderada a visão em direção à qual ele pre- Segundo Marshall Mcl.uhan" "o meio é a men-
tende caminhar. Essas atividades são apresen- sagem". No treinamento para as atividades
tadas como parte do sistema de aprendizagem empresariais, pode-se dizer que "o frasco" é
do empreendedor. mais importante do que o conteúdo. Para um
empreendedor, a coisa mais importante é es-
O PLANEJAMENTO DE UM SISTEMA DE tar num processo dinâmico de aprendizagem,
APRENDIZAGEM DA ATIVIDADE EMPRESARIAL em que possa continuar a aprender indefinida-
mente. Ele continuará a aprender coisas que
Neste texto, define-se empreendedor como considerar interessantes ou que tenha identi-
alguém que concebe, desenvolve e realiza ficado como necessárias para o seu objetivo.
visões. Deve-se lembrar, também, que um Assim, o planejamento do sistema de aprendi-
empreendedor, usualmente, trabalha sozinho. zagem é uma tarefa que será melhor executada
Ele terá que aprender a ser diferente, se de- pelo próprio empreendedor, pois somente ele
sejar ocupar e manter ocupado o nicho que conhece as suas necessidades pessoais. A for-
tiver escolhido no mercado. Terá, ainda, que mulação e o desenvolvimento de uma visão
adquirir conhecimento ou, mais especifi- facilitarão essa tarefa para ele.
camente, conhecimento relacionado com o que
ele deseja realizar. Collins e Moore", assim O PROCESSO DE CRIAÇÃO DA VISÃO: UM
como outros que vieram depois, observaram METAMODELO
que muitos empreendedores têm saltado de
um emprego para outro, aprendendo sobre o termo metamodelo é empregado aqui no
vendas aqui, sobre contabilidade ali, sobre mesmo sentido em que foi usado por Stafford
1. FILlON, L.J. The Strategy of
Successful Entrepreneurs in
Small Business: vision, rela- Figura 1: O processo de criaçlo da vislo
tions and Anticipatory leam-
ing. Tese de Doutorado, Uni-
versity of Lancaster (G.B),
1988.

2. FILlON, L.J. "Le dével-


oppment d'une vision: un outil
stratégique à maitriser". Ges-
tion, 14(3), set., 1989.
3. COLLlNS, O. & MOORE,
D.G. The Organization Makers:
a behavioral study of inae-
pendent entrepreneurs. New
York, Appleton-Century-Crofts,
1970.

4. FILlON, L.J. The Strategy of


Successful Entrepreneurs in
Small Business: vlston, rela-
tions and anticipatory leaming.
Op. cit.

5. McLUHAN, Marshall. Under-


standing Media: the extensions
of Man. Toronto, Signet Books,
1964.

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RAE o PLANEJAMENTO DO SEU SISTEMA DE APRENDIZAGEM EMPRESARIAL

Beer e John P. Van Cigch". Refere-se a um sua vida profissionaL A energia despendida
modelo com um certo nível de abstração, que pode conferir mais liderança, pode levar um
integra as propriedades de modelos sistêmi- empreendedor a dedicar mais tempo para
cos de nível inferior: neste caso, modelos criar e preservar relacionamentos ou para
sistêmicos de atividades humanas. Este meta- completar uma visão, e todas essas atividades
modelo é a superposição de modelos revela- reunidas podem resultar em alteração nas suas
dos pelo estudo de empreendedores bem- Ws. Além disso, a energia investida para as-
sucedidos", sumir a liderança deverá ser devolvida ao em-
O modelo proposto incorpora quatro ele- preendedor, pelo menos em parte, de uma
mentos de sustentação da visão, que se influ- forma ou outra, e, às vezes em quantidade
enciam reciprocamente. Um deles, o sistema maior do que ele investiu.
de relações, desempenha um papel mais im- A energia despendida na criação e na
portante e será discutido com maior profun- manutenção de relacionamentos é compensa-
didade, depois da apresentação sumária dos dora, porque um empreendedor que esteja
outros três. bem situado num sistema de relações benefi-
ciar-se-á de um fluxo constante de infor-
WeltanschauungB mações, que lhe permitirá reajustamentos
A Weltanschauung (W)é a maneira pela qual continuados. Também, quanto mais tempo e
o indivíduo vê o mundo reaL Ela contém os energia ele despender no desenvolvimento de
valores, as atitudes, o humor e as intenções sua visão, tanto mais benefício receberá,
subjacentes à percepção. Noutras palavras, é porque as diretrizes que ele desenvolver vão
o que é percebido como significativo, quando gerar motivação e energia naqueles que o cer-
a realidade que cerca a pessoa é vista através cam.
de filtros como as atitudes, os valores e as in-
tenções. O termo está sempre associado a Liderança
imagens, modelos e outras formas de repre- A liderança resulta das Ws, da energia e
sentação da realidade. Assim como os valores, das relações, mas, reciprocamente, exerce in-
a Weltanschauung (W) não é definitiva, mas fluência sobre esses três elementos. Sua im-
evolui continuamente, reformulada à luz do portância para o desenvolvimento da visão
contexto em que o indivíduo opera ou pre- decorre do seu impacto sobre o nível da visão
tende operar. e da extensão daquilo que o empreendedor
As Weltanschauungen (Ws) constituem a pretende realizar. A liderança afeta o seu de- 6. VAN GIGCH, John P.(Org.)
base sobre a qual se desenvolve o processo sejo de realizar e isto, por sua vez, determina, Decision Making About Deci-
de estabelecimento da visão do empreendedor. em grande parte, até onde a sua visão alcança. sion Making: metamodels and
metasystems. Cambridge,
Um processo que consiste, essencialmente, em Na realidade, é muito pouco provável que um Mass. e Tunbridge Wells, Kent
projetar Ws sobre o futuro ou em escolher, líder vá além da sua visão, embora, como (G.B), Abacus Press, 1987.
imediatamente, as Ws ou as Imagens que o ocorre às Ws, ela seja parte de um processo
7. FILlON, L.J. The Strategy of
empreendedor e a sua empresa vão perseguir contínuo, passível de reformulações periódi- Successful Entrepreneurs in
no futuro. Evidentemente, é difícil para um cas. Small Business: vision, rela-
empreendedor decidir se deseja ser alguma A esta altura, podemos até mesmo ques- tions and anticipatory learning.
Op. cít,
coisa, sem saber antes o que significa ser essa tionar a origem da liderança: o que é que
coisa. Portanto, um dos primeiros exercícios transforma uma pessoa em líder? Muita coisa 8. Weltanschauung. Esta pa-
no processo de desenvolvimento da visão con- pode ser mencionada, mas, no que tange aos lavra é da língua alemã, e o
siste em descrever os elementos que estão por empreendedores, a liderança parece surgir conceito tem sido usado, de
há muito, por autores alemães,
trás das suas Ws ou imagens, isto é, por trás numa evolução gradual, que requer a aqui- como, por exemplo, Max
da sua maneira de perceber o mundo reaL Isto sição de uma habilidade particular, num setor Weber. Peter Drucker ocasio-
o empreendedor pode fazer procurando en- particular de atividade. A habilidade para de- nalmente a emprega, assim
como autores britânicos que
tender a sua própria história, os valores e os senvolver uma visão parece conferir liderança, têm participado do desen-
modelos resultantes do seu passado familiar, e esta, para o empreendedor, parece depender volvimento de enfoques
a sua experiência profissional, sua educaçlo do desenvolvimento da visão. sistêmicos, como Boulding -
formal, sua educação informal (leitura, BOULDING, Kenneth E. The
Image. Ann Arbour, University
viagens, filmes etc.), suas crenças, seu sistema Relações of Michigan Press, 1956. Não
de relações etc. O sistema de relações, aparentemente, é o existe corresponde exato para
fator mais influente para explicar a evolução esta palavra (em inglês), a
mais próxima talvez seja
Energia da visão. O sistema básico de relações de um "imagem". Kenneth Boulding
Energia é o tempo alocado para atividades empreendedor, a família, com certeza moldará examinou o conceito e suas
profissionais e a intensidade com que elas do OS tipos de visão inicial que ele possa ter. De- implicações para aquele que
executadas. As Ws ou valores do empreen- pois, as relações que ele estabelece, com a fi- toma decisões. "Nota da Edi-
tora: A tradução corrente de
dedor vão certamente influenciar na defi.niçio nalidade de desenvolver as suas visões se- Weltanschauung no Brasil tem
do que ele estará preparado para investir em cundárias, serão de importância fundamental sido visão de mundo.

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o PLANEJAMENTO DO SEU SISTEMA DE APRENDIZAGEM EMPRESARIAL
RAE

para o desenvolvimento de sua visão central. TREINAMENTO DO EMPREENDEDOR


Por outro lado, quanto mais articulada seja a
sua visão, tanto mais importante será o papel a modelo pode ser usado também no trei-
por ela desempenhado na escolha dos critérios namento do empreendedor.
para o estabelecimento de um sistema de re- a processo a ser seguido é o tema da parte
lações. a velho ditado "dize-me com quem tu restante deste trabalho.
andas e eu te direi quem és" não poderia ser
mais verdadeiro do que aqui. Para o enfoque Identificação da visão
baseado na visão, o ditado poderá até mesmo a primeiro passo do empreendedor, para
ser mudado para "dize-me quem tu queres que definir o que necessita aprender, deve ser no
seja teu amigo e eu te direi quem tu serás". sentido de identificar e desenvolver uma visão
a metamodelo proposto aqui é apenas um daquilo que pretende realizar. Tal visão será
dentre os vários que incorporam os principais uma referência tanto para as suas reflexões
elementos dos modelos empregados por em- como para a sua ação. a quadro 2 sugere aos
preendedores bem-sucedidos. Ele representa estudantes desse tema os passos para disparar
o mais acessível denominador comum. Uma esse processo.
vez entendido, a pergunta que se faz é: como No início, o estudante poderá julgar van-
ele poderá ser usado para desenvolver uma tajoso trabalhar com apenas uma pessoa.
visão, uma visão coerente? Nas páginas que Chegando ao último passo desse processo pre-
se seguem, esta questão vai ser examinada. liminar de desenvolvimento da visão, isto é,
uma vez que tenha executado todos os pas-
o desenvolvimento da visão sos preliminares do processo, sua visão
a desenvolvimento de uma visao exige, começa a tomar forma.
desde o início, que certas condições sejam sa-
tisfeitas e certos passos sejam dados. As par- Passos do processo de desenvolvimento da
tes principais de um processo que se pode visão
sugerir para isto serão apresentadas a seguir. Uma pergunta comum, a esta altura, refere-
As principais condições para que se realize o se à diferença entre visão, sonho e alucinação.
desenvolvimento da visão estão relacionadas A visão, naturalmente, inclui alguma intuição
no quadro 1. e, acima de tudo, imaginação; mas, ao con-
a desenvolvimento e a subseqüente apre- trário do sonho, ela diz respeito a ações reais
sentação de uma visão pressupõem a exis- a serem executadas. Aquele que possui uma
tência de habilidade tanto de articulação como visão, portanto, pode ser definido como um
de comunicação. Para um empreendedor ex- sonhador que deseja realizar um trabalho. De
plicar a sua visão, terá que saber como per- fato, os empreendedores que conseguiram
suadir e, logo, terá que possuir um bom co- desenvolver uma visão parecem tê-lo feito
nhecimento básico dos principais elementos com auxílio de sua imaginação, sua reflexão e
envolvidos. seu bom senso. Depois dos passos que cons-

Quadro 1: Condições necessárias para o desenvolvimento de uma visão

Perseverança para trabalhar por resultado a longo prazo.

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RAE o PLANEJAMENTO DO SEU SISTEMA DE APRENDIZAGEM EMPRESARTAL

Quadro 2: Passos para iniciar o processo de desenvolvimento de uma visão


"C . ... . . cc; 'c

1. Avaliação de suas erõpnas áreas de interesse, .,.

2. Avaliação de seus próprios pontos fortes e fracos.


. c .. c. ~ =':

3. Estimulação da imaginação pela feitura de estudo de casos biográficos .. '


4. Focalização de uma área de interesse que apresente efeitos sinérgicos com algum dos
seus pontos fortes.
c.

5. Desejo de iniciar o processo de desenVOlVimento


., de uma vrsão.
"

tituem a fase preliminar, o desenvolvimento bastante útil oferecer a esses orientadores


propríamente dito da visão se inicia. (Ver algumas diretrizes para o seu trabalho, sobre-
quadro 3.) tudo para que saibam o que é esperado deles.
E verdade que a capacidade de articular O treinamento para a atividade empresa-
uma visão requer a habilidade de conceber rial é similar, em muitos aspectos, ao trei-
um ou mais cenários futuros. Os dois pri- namento para a liderança e, quando o trei-
meiros passos, o embrião e o desenvolvimento, namento está voltado para o desenvolvimento
relacionam-se com visões iniciais. A decisão da visão, a similaridade é ainda maior. Au-
ou (série de decisões) a ser tomada no ter- tores interessados em pesquisa sobre liderança
ceiro passo é uma peça-chave para formar ou em treinamento e desenvolvimento de
uma visão centraL Finalmente, o quarto passo líderes têm observado o relacionamento pes-
exige que as visões secundárias sejam utili- soal, às vezes até afetivo, que surge entre o
zadas, se a visão central deve ser realizada. orientador e o seu orientado", Diz-se, com
Como se vê, em quase todos os passos, mas freqüência, que Alexandre, o Grande, não teria
principalmente nos de números 2 e 3, o sido Alexandre, o Grande, se não tivesse tido
processo requer a orientação por outras pes- Aristóteles corno seu orientador. O progresso
soas. O instrutor pode desempenhar, ele pessoal do estudante, no seu próprio ritmo e
mesmo, o papel de orientador ou pode pedir à sua maneira, fará com que ele se torne re-
a cooperação de empresários competentes, almente ,envolvido no processo de aprendi-
para isso. Cada aluno será designado para zagem. E bom lembrar que, numa parte ini-
buscar orientação junto a um deles. Pode ser cial deste texto, foi dito com toda a clareza

Quadro 3: Passos do processo de desenvolvimento da visão

Idéia do
produto Imaginação
Embrião Inicial
e/ou
serviço
Estudos:
Desenvol- do mercado,
2 vimento do produto, Inlbial~ Reflexão
de viabilidade •.
Orientação por
Idéias de Avaliação, outras pessoas.
3 Forma empresa Central
bom senso Estudos de casos,
discussão em grupo. 9. ZALEZNIK, A. "Managers
and leaders: are they differ-
ent?" Harvard Business Revi-
Objetivos eW,maio/junho, 1977, pp.67-
precisos Conte rêncías 78; ZALEZNIK, A. The Mana-
4 . Alvo Secundária
'a serem .Feedback geria! Mystique: resforing lead-
alcançados ership in business. New York,
Harper and Row, 1989.

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o PLANEJAMENTO DO SEU SISTEMA DE APRENDIZAGEM EMPRESARIAL
RAE

que, no que tange à aprendizagem, do ponto Figura 2: As ligações entre o sistema de


de vista do empreendedor, "o frasco" parece relações, as visões e as ações
ser mais importante do que o seu conteúdo e
que deve ser permitido ao candidato a em-
preendedor estabelecer seu próprio método de
aprendizagem, para que ele o possa continuar
usando no futuro. O progresso na aprendi-
zagem será mais fácil, se se fizer na linha da
visão identificada. O quadro 4 apresenta um
exercício destinado a facilitar o desen-
volvimento da visão.

o Sistema de Relações
O sistema de relações permanece como o
elemento que, aparentemente, constitui o me-
lhor suporte para o desenvolvimento da visão.
As principais ligações entre o sistema de re-
lações, as visões e as ações são apresentadas
na figura 2.
Ali se vê que as relações condicionam as
visões e as visões condicionam a escolha das
relações. As relações e as visões dão origem

Quadro 4: Origem e desenvolvimento da visão - Exercício 1

Quadro 5: Os três níveis de relações

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RIIE o PLANEJA1'v1.ENTO DO SEU SiSTEMA DE APRENDIZAGEM EMPRESARIAL
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às ações; as ações requerem, freqüentemente, das para satisfazerem uma necessidade bem
o estabelecimento de novas relações, que, por definida. Elas não implicam, necessariamente,
sua vez, influenciam o surgimento de novas contato pessoal, mas apenas contato com a
visões. área de interesse.
Três níveis de relações foram identificados A atenção dedicada ao gerenciamento des-
e são apresentados no quadro 5. As relações sas relações parece constituir um dos princi-
primárias são as que envolvem pessoas próxi- pais elementos que permitem ao empreen-
mas do empreendedor, usualmente os mem- dedor formar urna visão central coerente. Em-
bros de sua família, com quem ele mantém preendedores que possuem uma visão e que
vínculos variados: afetivos, intelectuais, espor- contruíram sua empresa sempre dizem: "Para
tivos, recreativos etc. Essas relações são as chegar 0?Zdequeria, eu precisava aprender isso e
mais influentes, no que dizem respeito às Ws aquilo. E por isto que eu queria um emprego em
básicas do empreendedor e às escolhas que, tal empresa ou estudar em tal escola". Comen-
mais tarde, ele fará, noutros níveis, no sistema tários assim ilustram uma forma típica de ge-
de relações. renciamento de relações terciárias, que ge-
À medida que o tempo passa, o empreen- ralmente conduzem ao desenvolvimento de
dedor tenderá cada vez mais a desenvolver relações secundárias, ambas úteis e capazes
relações secundárias e terciárias. As relações de estimular o desenvolvimento da visão.
secundárias desenvolvem-se a partir de Os três níveis de relacionamento, apresen-
atividades bem definidas: clubes sociais, tados na figura 3, assumem aspectos de três
grupos religiosos, negócios e política. Algumas subsistemas: família, relacionamentos externos
acabam se transformando em relações e relacionamentos internos à empresa.
primárias. As relações terciárias são escolhi- Os fatores a serem administrados pelo em-

Figura 3: O sistema de relações

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o PLANEJAMENTO DO SEU SISTEMA DE APRENDIZAGEM EMPRESARIAL
RAE

Figura 4: O empreendedor e as combinaçi:ies visio x relaçi:ies

SONHADOR EMPREENDEDOR
ESTRATEGISTA DE
EMPRESA GRANDE

PROPRIETÁRIO
EMPREENDEDOR DE
EMPRESA MÉDIA

PROPRIETÁRIO
ADMINISTRADOR DE
PEQUENA EMPRESA ·CORTESÃ"

RELAÇOES ----t~.

preendedor, em suas relações, aparecem no qual essas duas variáveis se combinam explica
nível de cada subsistema. Essa estrutura torna- como será a estratégia de empresa.
se particularmente útil, se examinarmos as
atividades do empreendedor segundo a sua AVALIAÇÃO DO SISTEMA DE RELAÇOES
visão, uma vez que ela nos leva a identificar
a administração do sistema de relações como O ponto crítico do desenvolvimento de
um elemento essencial para a evolução da visão é, sem dúvida, um bom gerenciamento
visão. A figura 4 apresenta uma grade do em- do sistema de relações. O quadro 6 contém
preendedor, que mostra a ligação entre visão um exercício para esta finalidade.
e relações.
O empreendedor que consegue adquirir
uma visão clara e consistente, sem desen- Quadro 6: Avaliaçio do sistema de relações -
volver simultaneamente um sistema de re- Exercrcio 2
lações que o ajude a tomá-lo uma realidade,
corre o risco de permanecer como um mero
sonhador ou, pelo menos, de não progredir
muito rumo à sua visão. No outro extremo,
encontra-se a "cortesã", pessoa que sabe de
tudo, tem uma imensa rede de relacionamen-
tos, mas não possui uma visão ou um sonho.
Tem que haver coerência entre a qualifi-
cação das pessoas que figuram no sistema de
relações e as pretensões do empreendedor.
Quanto mais ambiciosa for sua visão, tanto
maior deverá ser a sua capacidade de atrair
pessoas capazes. Na verdade, isto se toma in-
dispensável, se ele pretender realizar, de fato,
a visão. Pessoas há que desejam manter suas
empresas num porte menor, enquanto outras
desejam fazê-las crescer, assumindo porte
médio ou grande. A partir dessa decisão é que
elas efetuam a sua escolha de visão e, con-
seqüentemente, das relações. A forma pela

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RAE o PLANEJAMENTO DO SEU SISTEMA DE APRENDIZAGEM EMPRESARIAL

Quadro 7: Definindo contextos - Exercício 3

6. Planejamento do seu próprio sistema de aprendizagem empresarial.

parte restante do exercício deverá ser execu-


tada de modo idêntico, sempre tentando esta-
belecer os efeitos recíprocos entre os elemen-
tos.
Um exercício como esse pode tornar-se fas-
cinante, porque o participante poderá desco-
brir fatores que o levaram a formular questões
fundamentais, e até mesmo reconsiderar a
forma de organizar a sua vida.

Definindo Contextos
O terceiro exercício, que está no quadro 7,
toma a forma de um plano de ação, no qual
coisas a serem feitas, conhecimentos a serem
adquiridos, relações a serem suspendidas ou
desenvolvidas, necessidade de energia etc.
deverão ser listadas.
Durante esse exercício, os participantes ob-
servarão a utilidade de trabalhar em cenários
que, segundo a avaliação do seu atual sistema
de relações, vão levá-los a desenhar um sis-
tema ideal de relações, de acordo com a visão
identificada.
Os três exercícios, em conjunto, deverão
A finalidade desse exercício é alertar o em- levar os participantes a refletirem sobre o seu
preendedor iniciante para os efeitos do seu progresso, de modo a entenderem a evolução
sistema de relações sobre a evolução da sua de sua visão até aquele momento e a melhor
visão. Ws são valores, formas pessoais de se orientarem, pelo gerenciamento do contexto
enxergar o mundo. O exercício consiste em em que se encontram.
descrever o sistema de relações, os efeitos
recíprocos entre certos elementos, a começar CONCLUSÃO
dos que aparecem no metamodelo (figura 1),
e as relações. Como exemplo, o estudante de- As atividades de treinamento têm que ser
verá analisar como as suas Ws ou valores le- planejadas e!p consonância com o assunto a
varam-no a selecionar as suas relações (passo ser tratado. E importante não confundir ad-
2) e, inversamente, como algumas dessas re- ministradores com empreendedores. O em-
lações fizeram-no modificar as suas Ws (passo preendedor precisa identificar visões, antes
3). Ele deverá perguntar a si mesmo quanta que possa gerenciar recursos. Ele é proativo.
energia ele despende na criação e na preser- Tal característica deve ser respeitada e usada
vação dos relacionamentos e, depois, quanta no processo de treinamento, permitindo-lhe
energia despendeu em cada relacionamento definir o seu próprio padrão de aprendizagem
(passo 4). O nível de energia gerado em cada e, assim, reforçando a sua maneira de traba-
elemento do sistema é, então examinado. A lhar. Q

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