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Alda Bernardes
University of Lisbon
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Alda Bernardes
aldabernardes@gmail.com
Doutoranda em Ciências da Educação, área de especialização
em Formação de Adultos (FPCE‑UL)
Resumo:
O presente artigo visa traçar uma primeira perspectiva da situação da formação nas gran‑
des empresas e dar um contributo crítico para a compreensão das lógicas subjacentes às
suas políticas e práticas de formação. Baseia‑se nos resultados de um estudo explorató‑
rio realizado em 26 grandes empresas Nacionais e Transnacionais a operar em Portugal.
Com a informação recolhida, obtiveram‑se conhecimentos sobre o que se está a passar
no campo da formação nas empresas e foi possível identificar um conjunto de tendências.
Para ajudar a compreender a realidade observada, apresenta‑se uma proposta tipológica
que fornece elementos iniciais para orientar na caracterização das políticas e práticas de
formação nas empresas. Os tipos de formação encontrados classificaram‑se em: Formação
tradicional e utilitarista, Formação estratégica e orientada para a resolução de problemas,
Formação orientada para o desenvolvimento pessoal e social.
Palavras‑chave:
Educação de adultos, Formação contínua, Políticas de formação, Recursos Humanos.
Bernardes, Alda (2008). Políticas e práticas de formação em grandes empresas —Situação actual
e perspectivas futuras. Sísifo. Revista de Ciências da Educação, 06, pp. 57-70.
Consultado em [mês, ano] em http://sisifo.fpce.ul.pt
57
Este estudo enquadra‑se numa investigação em Educação e formação profissional:
curso, no âmbito do doutoramento em Ciências da perspectivas
Educação, na área da Formação de Adultos. Visa
compreender as lógicas da formação que é propor‑ A problemática da formação remete para a discussão
cionada pelas empresas aos trabalhadores. Os estu‑ dos conceitos de educação e de formação. Se a edu‑
dos e a investigação produzida sobre formação nas cação se refere ao “desenvolvimento do indivíduo no
empresas, nos últimos anos, caracterizam‑se por sentido global, sem nenhuma relação específica com
conclusões gerais desenhadas a partir de análises o trabalho” (Pineda, 1995, p. 23), parece‑nos interes‑
estatísticas e de dados quantitativos. Este estudo sante que a formação possa conter essa dimensão de
propõe explorar o conceito de formação contínua educação, de formação geral e de desenvolvimento
e as lógicas e práticas de formação nas grandes em‑ pessoal. O termo formação compreende, normal‑
presas, com base numa abordagem qualitativa. mente, mudanças ao nível profissional. Parece‑nos,
No âmbito da investigação em curso, começámos no entanto, que desejavelmente a formação pode ter
por realizar um estudo exploratório, cuja proble‑ também um cariz de desenvolvimento pessoal e so‑
mática, metodologia e resultados são apresentados cial que, de alguma forma, se relacione depois com
neste artigo, em que foram feitas 26 entrevistas semi o trabalho actual ou futuro das pessoas.
‑estruturadas junto de responsáveis de Recursos Relativamente ao conceito formação, algumas
Humanos (RH) e de formação de grandes empre‑ definições são mesmo muito restritivas e demasiado
sas. Na primeira parte do artigo, aborda‑se a proble‑ simplistas em termos das dimensões que o conceito
mática da formação contínua, no contexto das gran‑ pode encerrar. É o caso da que é dada pelo Thesau‑
des empresas, considerando várias perspectivas que rus do Cedefop que refere que “a formação na em‑
podem existir de acordo com diferentes estratégias presa é toda a formação profissional (…) dada nos
empresariais. Na segunda parte, procede‑se a uma locais de uma empresa e a uma pessoa que tem o
apresentação da metodologia e dos resultados da status de trabalhador ou de empregado” (Viet, 1988,
pesquisa exploratória, sugerindo‑se uma proposta p. 72). Esta perspectiva situa‑se numa visão simplis‑
de tipologia para diferentes lógicas de formação. Fi‑ ta que não considera, por exemplo, os objectivos ou
nalmente, prospectiva‑se a continuidade do estudo, os resultados que se supõem com a formação. Uma
apontam‑se algumas linhas para o aprofundamento outra abordagem, igualmente circunscrita e funcio‑
do trabalho a realizar num conjunto reduzido de nalista, é a que considera que a formação contínua
empresas. dos trabalhadores se refere à sua capacitação para
exercer correctamente a sua profissão e as tarefas
exigidas para o seu posto de trabalho (Buckley &
pessoal e social
Estrutura e recursos Formação centralizada. Formação descentralizada. Formação descentralizada.
para a formação Estrutura reduzida Estrutura variável. Estrutura variável.
Papel dos RH/ Dar formação Promover formação Suporte às chefias
{2. 3. 4. 5. 6.}
Formação
Recurso a empresas/ Frequente Frequente Muito frequente
formadores externos
Formadores internos Pouco frequente Pouco frequente Pouco frequente
permanentes
Formadores internos Frequente Frequente Frequente
eventuais
Formação e Desenvol- Formação para o exercício Formação orientada para o futuro e Formação orientada para o desen-
vimento de carreiras da actividade actual para a carreira volvimento pessoal e social
Política de estágios/ Reduzida ou inexistente Activa/o estágio deve apresentar desen- Activa/o estágio deve apresentar
parcerias volvimento para ambas as partes desenvolvimento para a pessoa
Destinatários da Grupos directamente ligados Grupos directamente ligados à actividade Todos os grupos
-alvo
Diagnósticos para São consideradas as lacunas e São identificadas áreas de melhoria para É considerado o potencial que
tico
a formação detectadas carências, num cada pessoa, em contínuo existe em cada pessoa, em contínuo
momento dado
Integração na empresa Formação técnica e específica Formação para conhecimento de proce- Formação sobre os valores, a missão
práticas e estratégias na
formação inicial {9. 10. 11.}
Formação contínua Conhecimento do produto e Sistemas e processos ligados a uma pro- Actividades com aspecto educativo
formação contínua {12. 13. 14.}
práticas e estratégias na
técnica relac. com o mesmo fissão que visem resolução de problemas e com objectivos alargados
Execução da Recurso a especialistas inter- No âmbito das unidades de negócios Recurso a especialistas e recursos
formação contínua nos, externos, fornecedores ou de trabalho de projecto internos ou externos
Práticas de formação Pouco relevantes Mobilidade/Estágios noutros Mobilidade/Internet e Intranet/
não formal e informal departamentos/países Centros de Documentação
Modalidades de Formação on-the-job, formação Formação on-the-job, formação-acção, Formação on-the-job, self-learning,
formação em sala formação interna em sala e posto de participação de uma equipa de
trabalho com colegas experientes, parti- projecto; conhecer práticas noutro
cipação em grupos de trabalho país, fóruns de debate
avalia‑
Formar para o saber fazer Formar para o saber fazer e o saber ser Formar para o saber ser
*
1. No original: “training is defined as the sys‑ Buckley, Robert & Caple, Jim (1991). La Forma‑
tematic acquisition of skills, rules, concepts, or atti‑ ción. Teoría y Práctica. Madrid: Diaz de Santos.
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ferência dos meios em relação aos fins. Os teóricos crí‑ des educativas. Formar, 54 (Jan/Mar). Lisboa:
ticos afirmam que a racionalidade instrumental/téc‑ IEFP, pp. 28‑34.
nica se interessa mais pelo método e pela eficiência do Canário, Rui (2006b). A Escola e a Abordagem
que pelo propósito. Limita as suas questões ao ‘como’, Comparada. Novas realidades e novos olha‑
em lugar do ‘porquê’ ” (Kincheloe, 2006, p. 160). res. Sísifo. Revista de Ciências da Educação, 1,
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mação que é relevante em si, mas é a significação Finger, Matthias & Asún, José Manuel (2003). A
social que importa. Para Weber, a tarefa da sociolo‑ Educação de Adultos numa encruzilhada. Apren‑
gia é interpretar a acção social, captando o sentido da der a nossa saída. Porto: Porto Editora.
acção e não a acção em si. Goldstein, Irwin (1993). Training in Organiza‑
10. A sua relação é lógica e não tem a ver com uma tions: needs assessment, development and evalua‑
apreciação avaliativa ou com um modelo que o termo tion. 3ª ed. California: Books Cole Publ.
tipo‑ideal poderia supor. Por isso Weber e outros Kincheloe, Joe (2006). Construtivismo Crítico.
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