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UENF – Universidade Estadual do Norte Fluminense
PROEX - Pró-Reitoria de Exensão - UENF
FAPERJ - (Auxílio ao Projeto Extensão - Processo E-26/111.109/2010)
Arte:
ASCOM - UENF
INTRODUÇÃO .................................................................................................. 1
4. MICROPROPAGAÇÃO .................................................................................................................20
4.1. Estágios da micropropagação .................................................................................................20
4.2. Vantagens da micropropagação ..............................................................................................22
4.3. Desvantagens da micropropagação ........................................................................................22
iv
3.2.1. Os objetivos e o conceito de transgênese animal .............................................................49
3.2.2. Transferência do gene nos gametas .................................................................................50
3.2.2.1. Transferência do gene no esperma ............................................................................50
1. INTRODUÇÃO ...............................................................................................................................60
v
3.1.2.1. Antibióticos .................................................................................................................68
3.1.2.2. Agentes antitumorais ..................................................................................................69
3.1.2.3. Agentes redutores de colesterol .................................................................................69
3.1.2.4. Agentes usados no transplante de órgãos ..................................................................69
3.1.2.5. Agentes antiparasitários .............................................................................................69
3.1.2.6. Bioinseticidas .............................................................................................................70
3.1.3. Produtos alimentícios e bebidas........................................................................................70
3.1.3.1. Biomassa microbiana .................................................................................................70
3.1.3.2. Queijos e leites fermentados ......................................................................................71
3.1.3.3. Vegetais fermentados .................................................................................................71
3.1.3.4. Bebidas alcoólicas ......................................................................................................71
3.1.4. Produtos voltados para o Meio Ambiente ..........................................................................71
3.1.4.1. Produção de compostos químicos a partir de matérias-primas renováveis .................71
3.1.4.2. Geração de energia: biocombustíveis .........................................................................72
3.1.4.3. Produção de inoculantes agrícolas .............................................................................72
3.1.4.4. Produção de biopolímeros: plásticos biodegradáveis .................................................73
3.1.5. Produtos obtidos por bioconversões microbianas .............................................................73
3.1.6. Produtos da Biotecnologia Industrial Moderna ..................................................................73
3.1.6.1. Biofármacos ...............................................................................................................73
vi
Introdução
INTRODUÇÃO
O homem utiliza a biotecnologia há muito tempo, desde que fez o primeiro pão, produziu a
primeira taça de vinho e selecionou os melhores grãos de milho para o replantio da nova safra. Na
atualidade, o pão e cerveja são os componentes mais abundantes na dieta, tanto social e em rituais.
No século da biotecnologia, convive-se com biotecnologias tradicionais (as antigas
biotécnicas) e modernas (engenharia genética, genômica, proteômica e clonagem – manipulação
biológica do DNA). É correto afirmar que incluindo a manipulação genética, a biotecnologia é tão
antiga quanto a história da humanidade, no entanto a manipulação possibilitada por técnicas de
engenharia genética data de 1971, com a manipulação do DNA/engenharia genética – técnicas que
permitem manipular o gene (pedaço ou unidade funcional do gene).
O anúncio, em 2001, da finalização de uma primeira versão de todo o genoma humano foi
saudado pela mídia com uma série de especulações sobre o significado desta informação, que iam
desde a vitória sobre o câncer até bebês fabricados geneticamente sob eliminação da obesidade e
juventude eterna. É claro que, para alcançar essas metas, é necessário muito mais do que apenas o
conhecimento do genoma humano.
Ao longo das últimas décadas houve uma intensa expansão da biotecnologia, em ambos,
aquisição de conhecimentos e desenvolvimento de processos tecnológicos e na sua aplicação nas
diferentes áreas (Tabela 1). Atualmente, destacam-se várias áreas dentro da biotecnologia, as quais
são frequentemente complementares:
- A biotecnologia voltada para a agropecuária e de produção de alimentos com estudos de
novos produtos alimentares, de aplicação de microrganismos geneticamente modificados, animais e
plantas transgênicos, bem como melhoria da qualidade de vegetais e animais relevantes para a
indústria. Essa área liga-se também à biotecnologia da preservação e melhoria ambiental e o estudo
da biodegradação de poluentes gasosos, líquidos e sólidos do solo. A biotecnologia que utiliza
biologia molecular, como a química combinatorial de biomoléculas, os processos de
biotransformação e aplicação de biocatalisadores, a tecnologia de ácidos nucléicos, a engenharia de
proteínas, a aplicação de moléculas menores em controles de metabolismo e em farmacologia. Suas
aplicações são essencialmente dirigidas para a área de obtenção de produtos industriais de alto valor
agregado. Na área de saúde, incluem-se nessa vertente a construção e produção de moléculas
recombinantes de ácidos nucléicos e de proteínas, usadas em vacinação humana e animal e em
terapia molecular na medicina, e de moléculas estruturais usadas em engenharia tecidual.
- A biotecnologia voltada para a biologia celular aplicada à medicina e saúde refere-se à
genômica, com extensão para a terapia gênica, o diagnóstico, o prognóstico, o tratamento e a
prevenção de doenças e de modulação de defeitos metabólicos. Uma área emergente da
biotecnologia médica é a engenharia de tecidos e órgãos, associada com a biologia estrutural e a
1
Introdução
2
Introdução
3
Introdução
Ou seja, para qualquer definição de Biotecnologia todos estes aspectos devem ser levados
em conta. Adicionalmente, a biotecnologia tem um caráter multidisciplinar, a qual tem por base vários
ramos do conhecimento, que podem ser divididos em 2 grupos:
FUNDAMENTAIS: o qual inclui a bioquímica, fisiologia, genética, microbiologia, biologia
molecular, virologia, botânica, zoologia, ecologia, matemática, física, entre outras.
ENGENHARIAS: principalmente a atuação da Engenharia Química.
Desta forma, a Biotecnologia apóia-se em várias disciplinas científicas - principalmente a
biologia molecular e celular, bioquímica, genética, microbiologia, imunologia, química, engenharia
industrial e informática. Seu campo é tão vasto que seria mais correto falar em “biotecnologias”, no
plural. Simples ou sofisticadas, baratas ou caras, elas abrangem processos tão antigos como a
fermentação a técnicas tão avançadas como a engenharia genética, que permite transferir certos
caracteres genéticos de um a outro organismo e assim criar vegetais, animais transgênicos e
microrganismos com as características desejadas.
De uma forma mais abrangente e na tentativa de englobar diferentes áreas do conhecimento
sobre o que é a biotecnologia pode-se definir este termo como “conjunto de técnicas e métodos
industriais que viabilizam a obtenção de BENS E SERVIÇOS de interesse para o ser humano, tendo
como agentes de transformação, de uma forma integral ou parcial, células animais e vegetais,
microrganismos e vírus” (OTA, Office of Technology Assessment, 1984; Pós-graduação em
Biotecnologia - UFSC, 1995).
Como BENS E SERVIÇOS, podemos citar:
a) Produtos – Temos vários produtos no nosso cotidiano que são oriundos tanto da
Biotecnologia clássica quanto da moderna. Pela Biotecnologia clássica temos vários alimentos,
bebidas fermentadas e fermento-destiladas, fármacos, enzimas para aplicações diversas,
combustíveis, ácidos orgânicos e outros químicos, pão, queijos, iogurte, chucrute, cogumelos,
biomassa microbiana, vinagre, vinho, cerveja, ácidos orgânicos (acético, cítrico, lático, etc), álcool
etílico, glicerol, n-butanol, aminoácidos (lisina, ácido glutâmico), vitaminas (C, B12, riboflavina),
antibióticos (penicilina, cefalosporina), metano, polissacarídeos (dextrana, xantana, alginatos),
vacinas bacterianas e virais (tuberculose, poliomielite, rubéola), enzimas (proteases, lipase, lactase,
lacase, pectinase, amiloglicosidase, glicose isomerase, inulinases), bioinseticidas, etc.
Pela Biotecnologia moderna incluem-se as novas tecnologias, geradas a partir de organismos
geneticamente modificados ou transgênicos. Pode-se citar a insulina e hormônio de crescimento
humano produzidos pela bactéria Escherichia coli geneticamente modificada; proteínas terapêuticas
(usadas na produção de fármacos) obtidas a partir do leite de animais (ovinos, bovinos e caprinos)
modificados geneticamente pela inserção, em seu genoma, de genes humanos que codificam estas
proteínas; plantas agronomicamente importantes (milho, soja, arroz, etc) alteradas geneticamente
pela inserção de genes de resistência a herbicidas e insetos, dentre outros.
4
Introdução
Tabela 1. Quadro mostrando a evolução da biotecnologia desde a antiguidade até a presente data.
Período Descobertas e Avanços
Primeiros agricultores no Oriente Médio, Ásia e Américas iniciam o processo de
10.000 – 8.000 a.C.
domesticação das espécies vegetais.
4.000 a.C. Indícios mais antigos do uso da fermentação para produção de pão e cerveja.
Louis Pasteur iniciou os estudos sobre o papel dos microrganismos na fermentação
1857-65
e o processo de esterilização, hoje conhecido como “pasteurização”.
Charles Darwin publica o livro “Origem das espécies”, no qual dedica um capítulo ao
1859
estudo dos processos de seleção artificial em animais domésticos.
O monge austríaco Gregor Mendel publica seus trabalhos sobre hereditariedade,
1866
descrevendo como as características são passadas de uma geração a outra.
5
Introdução
Moritz Traube propõe que fermentação e outras reações químicas são catalisadas
1877
por substâncias tipo proteínas, que não são modificadas na reação.
A mosca da fruta, Drosofila melanogaster, foi usada nos primeiros estudos de genes
1900
1906: surge o termo “genética”.
1906
Primeiro híbrido de milho é produzido por George H. Shull, no Instituto Carnegie,
1908
EUA.
Necessidade de glicerol para produzir munição (explosivos); óleos vegetais não
1914-19
podiam ser importados. Bioquímicos e engenheiros alemães adaptaram processo
fermentativo com leveduras para converter açúcar em glicerol (> 100 ton/mês)
1919 O termo Biotecnologia foi cunhado pelo húngaro Karl Ereky.
1920 Descoberta da Penicilina - Penicillium notatum
1940 Descoberta das propriedades antibacterianas e produção em escala durante 2ª
Guerra Mundial, desenvolvimento de biorreatores.
1944 Descoberto que DNA é a estrutura responsável pela transmissão das informações
genéticas
Watson e Crick descrevem a hélice dupla do DNA, elucidando a estrutura
1953
tridimensional dessa molécula. Demonstraram mecanismo para a cópia do material
genético responsável pela perpetuação das espécies. Explosão de pesquisas em
biologia molecular, com rápido avanço das “técnicas de DNA recombinante”
(engenharia genética).
Francis Crick e George Gamov elaboraram o “dogma central” sobre como funciona o
1957
DNA para produzir proteínas. Matthew Meselson e Frank Sthal demonstraram
mecanismo de replicação do DNA.
Após décadas de trabalho, Norman E. Borlaug desenvolve o trigo semi-anão
1960
iniciando a Revolução Verde, que salva milhões de pessoas de morte por fome.
Marshall Nieremberg e Gobind Korana decifram o código genético, isto é, convertem
1961
a informação contida no DNA em uma sequência de aminoácidos da proteína.
Howard Temin e David Baltimore isolaram as enzimas de restrição - cortam a
1970
molécula de DNA em regiões específicas. Abriu caminho para a clonagem molecular
dos genes com a criação de clones de bactérias.
Paul Berg isolou e empregou uma enzima de restrição para cortar o DNA e a DNA
1972
ligase para unir duas fitas de DNA e formar uma molécula circular híbrida. Esta foi a
primeira molécula de DNA.
Cohen e Boyer fazem a primeira experiência de engenharia genética unindo dois
1973 genes de dois organismos diferentes produzindo o primeiro Plasmídeo com DNA
recombinante, usando enzimas de restrição, o que dá início à biotecnologia
moderna.
Walter Gilbert e Allan Maxam, na Universidade de Harvard e Frederick Sanger, na
1977 Inglaterra, desenvolveram o método de sequenciamento de DNA. Genentech Inc.
mostrou a produção da primeira proteína humana (somatostatina) sintetizada em
uma bactéria.
1978 Boyer sintetiza a primeira versão recombinante do gene humano da insulina.
Gentech Inc. anunciou a produção do primeiro biofármaco produzido por bactérias –
a insulina humana - usando a tecnologia do DNA recombinante em laboratório.
1982 Produção da primeira planta transgênica, tabaco resistente a antibiótico.
A Gentech Inc. recebeu aprovação da FDA (Food and Drug Administration) para
comercializar insulina humana modificada geneticamente.
1983 Kary B. Mullis desenvolveu a técnica de reação de polimerização em cadeia (PCR) -
permite amplificar o material genético (genes) em tubos de ensaio. Aprovação de
patentes de plantas geneticamente modificadas.
1984 Foi clonado o vírus HIV e seu genoma foi totalmente sequenciado.
Primeiros experimentos de campo como plantas transgênicas resistentes a insetos,
1985
vírus e bactérias são realizados nos EUA.
O EPA (United States Environmental Protection Agency) aprovou a liberação da
1986
primeira planta de tabaco geneticamente modificada.
Foi produzida a primeira vacina recombinante para humanos contra hepatite B e a
primeira droga anticâncer produzida por meio da biotecnologia.
Calgene Inc. obteve a patente da sequência de DNA da poligalacturonase de tomate
1987
- usada para desenvolver técnica que aumenta o tempo de vida dos frutos.
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Introdução
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Introdução
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Almeida, M.R., Borém, A. (2004) Biotecnologia e Saúde. In: Biotecnologia e Saúde. Almeida, M.R., Borém, A.,
Franco, G.R. (Eds). UFV. Cap. 1, p. 9-30.
Borém, A., Santos, F.R. (2007) Entendendo a Biotecnologia. UFV. 342 p.
Ferreira, C., Aguiar, J.; Pessanha, L.; Rangel, P.; Berbert-Molina, M.; Flores, V. M. Q. (2009).
Valverde, S.R., Neiva, S.A., Soares, N.S. (2007) Biotecnologia e Competitividade das Plantações Florestais.
In: Biotecnologia Florestal. Borém, A. (Ed). UFV. Cap. 17, p. 363-374.
http://users.rcn.com/jkimball.ma.ultranet/BiologyPages/A/Arabidopsis.html, acesso em 29/08/2011.
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Sasson, A., da Silva, E.J. (1994) Revista O Correio da Unesco, n.8.
Ferreira, C., Aguiar, J., Pessanha, L., Rangel, P., Berbert-Molina, M., Flores, V. M. Q. (2009).
Tópicos em Biotecnologia – Material de Consulta. CEDERJ-UENF.
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Biotecnologia Vegetal
Os ganhos que se podem atingir pela biotecnologia vegetal têm reflexo sobre a agricultura, a
indústria alimentar, os consumidores e, sobretudo, o meio ambiente. Por exemplo, a produção de
plantas recorrendo a menores gastos de energia, pesticidas, fertilizantes e água, ou a produção de
plantas com níveis mais reduzidos de compostos alergénicos ou tóxicos, ou com melhores
qualidades para armazenamento ou processamento, ou ainda melhores qualidades nutricionais, são
alguns dos numerosos exemplos de aplicações da biotecnologia vegetal.
Na biotecnologia vegetal, o domínio da cultura in vitro (ou cultura de tecidos) de plantas teve
importância crucial para a micropropagação de espécies de interesse econômico-social e ecológico,
especialmente as espécies ameaçadas de extinção.
Desde seu início, até a atualidade, a cultura de células e tecidos vegetais passou por
diferentes descobertas, que envolvem desde a biotecnologia clássica e também a moderna. Destaca-
se abaixo a sequência histórica:
- 1838 – Schleinden & Schwann: estabelecem a Teoria celular, na qual os pesquisadores
mostram que as células são capazes de se manterem viáveis quando isoladas do organismo íntegro.
- 1902 – Haberlandt demonstrou a Totipotencialidade celular em células isoladas, sendo
denominado o “pai da cultura de tecidos”. A Totipotencialidade está baseada na teoria celular
descrita em 1838.
- 1922 – Robbins & Kotté demonstraram o cultivo isolado de raízes de gramíneas.
- 1926 – Went realizou o bioensaio com coleóptile de aveia, demonstrando a descoberta das
auxinas.
- 1934 – White realizou a primeira cultura contínua de raiz de tomateiro em meio líquido com
sais inorgânicos, extrato de levadura e sacarose.
- 1934-7 – Gautheret estabeleceu a primeira proliferação de tecido cambial em plantas
lenhosas, demonstrando a importância de vitaminas do complexo B.
- 1939 – Gautheret também demonstrou o primeiro crescimento contínuo de células de
cenoura. Neste mesmo ano, White estabeleceu cultura de medula de Nicotiana tabacum, e
Nobecourt demonstrou a diferenciação de raízes em calos de cenoura.
- 1946 – Ball obteve cultura de ápices meristemáticos caulinares.
- 1949 – Morel mostrou a evidência de ausência de vírus em estruturas meristemáticas.
1
Bolsista UAB. Pós-graduanda em Biociências e Biotecnologia – CBB/UENF.
2
Bolsista de extensão. Graduanda em Ciências Biológicas – CBB/UENF.
3
Eng. Agrônomo, Doutor, Professor Associado da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro.
4
Eng. Agrônoma, Doutora, Professora Associada da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro.
Biotecnologia Vegetal
10
Biotecnologia Vegetal
está baseada inicialmente na Teoria Celular de Schleiden e Schwan (1838), os quais mostraram que
algumas células eram capazes de serem separadas do organismo de origem e continuar a crescer
independentemente.
Ao retirarmos um pedaço da planta utilizada para a cultura in vitro, chamado de explante,
obtem-se uma alteração da harmonia estabelecida, interrompendo parte do sistema sinais/
receptores e o sistema de controle da divisão celular e expressão gênica estabelecida, sendo
introduzindo novos sinais (reguladores de crescimento, por exemplo) no sistema, que permitirão a
expressão da totipotencialidade.
Dentre vários fatores importantes para a expressão da totipotencialidade destaca-se a o
balanço de auxina:citocinina, que modula as várias respostas morfogenéticas in vitro, obtendo-se
desde a formação de raízes in vitro e indução de culturas embriogênicas quando em maior
concentração de auxina, à obtenção de brotações quando em maior concentração de citocinina
(Figura 1). Desta forma, pode-se destacar que na cultura de tecidos vegetais a relação dos
compostos adicionados ao meio de cultura regula a resposta morfogenética in vitro.
12
Biotecnologia Vegetal
13
Biotecnologia Vegetal
Figura 2. Principais métodos de micropropagação utilizados na cultura in vitro. (Modificado de George, 2008).
2.1. Explantes
A cultura de tecidos é iniciada a partir de partes de plantas inteiras, onde pequenos órgãos ou
pedaços de tecido que são excisados da planta-matriz, chamados de explantes, são introduzidos in
vitro.
A escolha do explante é uma etapa fundamental, representando um efeito importante no
sucesso da cultura de tecidos. Explantes podem ser dos mais variados tipos, e por isso, a escolha do
explante para ser iniciada uma cultura in vitro vai depender de:
a) do tipo de cultura a ser iniciada - para cada tipo de cultura um determinado tipo de
explante pode ser mais adequado;
14
Biotecnologia Vegetal
2.2. Assepsia
As plantas cultivadas no ambiente natural são invariavelmente contaminadas com
microorganismos e pragas. Estes contaminantes estão presentes, principalmente, na superfície da
planta, embora, alguns microrganismos possam se encontrar distribuídos de forma sistêmica dentro
dos tecidos.
Os explantes são mantidos em meios de cultura nutritivos que também são favoráveis ao
crescimento desses microorganismos. Assim sendo, a cultura de tecidos vegetais deve ser
estabelecida e mantida em condições assépticas, uma vez que o crescimento de bactérias e fungos
estabelece uma competição com o crescimento do material vegetal in vitro.
Portanto, os explantes utilizados no cultivo in vitro devem ser o mais asséptico possível. Para
tanto, alguns cuidados devem ser tomados desde a planta-matriz ao estabelecimento da cultura in
vitro. Destaca-se a importância de manter as plantas matrizes, quando possível, em locais
adequados como estufas de crescimento para que se possa realizar o manejo fitossanitário
adequado para posterior coleta dos explantes.
Uma vez obtidos, os explantes passarão por um processo de assepsia antes de sua
transferência in vitro, em meio de cultura nutritivo. Para a assepsia utiliza-se a lavagem do explante
em água corrente e pequena quantidade de detergente, seguido de lavagem com substâncias
químicas como hipoclorito de sódio, hipoclorito de cálcio, peróxido de hidrogênio e etanol, utilizados
para eliminar os microrganismos superficiais presentes nos explantes, seguido de enxágüe com água
destilada autoclavada, em câmara de fluxo laminar, para a retirada destas substâncias químicas.
Adicionalmente, é importante a esterilização de todo o material utilizado no processo, como vidrarias,
objetos para manipulação das culturas e o próprio meio de cultura.
O trabalho de isolar e transferir o material vegetal cultivado é realizado geralmente em salas
especiais ou cabines (câmaras de fluxo laminar) que permitem a manuseio dos materiais sem a
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Biotecnologia Vegetal
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Biotecnologia Vegetal
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Biotecnologia Vegetal
agentes que promovem a geleificação do meio de cultura, dentre elas o Agar, sendo este o agente
solidificante mais comumente utilizado na cultura in vitro. Outros agentes como fitagel e agarose
também podem ser utilizados. Entretanto, devido ao algo grau de purificação, estes agentes
geleificantes são utilizado em menor concentração (faixa de 1,8 a 2,0 g.L-1) comparativamente ao
Agar (faixa de 6 a 8 g.L-1), dependendo da espécie vegetal e da marca do produto.
de cultura chega até o explante por difusão, fornecendo os nutrientes necessários para o
desenvolvimento da morfogênese.
Além dos fatores citados acima, outros fatores como oxidação fenólica e densidade mínima
para o início da cultura também são fatores importantes que influenciam o estabelecimento da cultura
in vitro.
4. MICROPROPAGAÇÃO
As plantas podem ser propagadas através de dois ciclos de vida: o sexuado e o assexuado.
No ciclo sexuado, novas plantas são originadas após a fusão dos gametas parentais desenvolvendo
os embriões zigóticos contidos dentro de sementes e frutos. Na maioria dos casos, ocorre a
polinização cruzada que resulta em plantas com variação genética, cada uma representará uma nova
combinação de genes, durante a formação de gametas (meiose) e sua fusão destes gametas. Por
outro lado, no ciclo assexuado, as características genéticas da planta individual selecionada para
propagação (também chamada planta-mãe ou planta-estoque) são mantidas nas plântulas formadas,
sendo os genes copiados de forma idêntica em cada divisão mitótica. Um grupo de plantas
reproduzidas assexuadamente é chamado de clones, tanto aquelas obtidas por métodos tradicionais
(por mergulhia, estaquia) ou na micropropagação utilizando a cultura in vitro.
Através da micropropagação pode-se obter a propagação clonal massal de um genótipo
selecionado por técnicas de cultura in vitro, sendo empregado para definir os processos de
propagação vegetativa (assexuada) na cultura de tecidos.
A micropropagação é utilizada para a propagação de plantas in vitro especialmente através da:
multiplicação de brotos a partir de gemas axilares.
formação de brotos adventícios e/ou embriões somáticos, tanto diretamente em pedaços de
tecidos ou órgãos (explantes) removidos da planta-matriz ou indiretamente de células
desorganizadas (culturas em suspensão) ou tecidos (culturas de calos) estabelecidos pela
proliferação de células internas dos explantes.
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Biotecnologia Vegetal
Figura 3. Estágios da organogênese direta a partir de meristemas ou segmentos nodais. (Modificada de George, 2008)
originados de determinadas espécies ou tipos de explantes podem não ser responsivos à sinalização
celular, não resultando na morfogênese. Esta resposta é dependente do tipo de explante utilizado e
da espécie a ser estudada. Usualmente, denomina-se calo não-morfogenético para aquele que não
resulta em resposta morfogenética quando submetido à sinalização celular, ou pode ser um calo
morfogenético, que contrariamente, resulta na resposta morfogenética uma vez submetido à
sinalização adequada. Na cultura in vitro, pode-se obter várias linhagens de calos com diferentes
características morfogenéticas. Em alguns casos, linhagens de calos com diferentes aparências
(textura, coloração etc) e/ou capacidades morfogenéticas podem ser isolados do mesmo explante.
Essas diferenças podem refletir o potencial epigenético das células ou ser causado pela variabilidade
genética entre as células da cultura. De acordo com Street (1979), explantes primários podem ser
compostos de células ou tecidos capazes de regenerarem a resposta morfogenética, sendo
designado de células competentes, e outros que são incapazes, sendo, portanto, chamado de
células não-competentes. Neste sentido, é fundamental o estudo para estabelecer as melhores
condições in vitro, como meio de cultura e seus componentes, para que ocorra a expressão do
potencial morfogenético das células do explante.
6. EMBRIOGÊNESE SOMÁTICA
sequencialmente como globular, cordiforme, torpedo e cotiledonar. Por outro lado, a embriogênese
somática é um processo análogo à embriogênese zigótica, no qual uma célula somática isolada ou
um pequeno grupo de células somáticas são os precursores da formação de embriões somáticos
(Tautorus et al., 1991). Os embriões somáticos se assemelham morfologicamente aos embriões
zigóticos, passando pelos estágios similares, sendo bipolares, ou seja, meristema apical do caule e
da raiz em pólos contrários.
A embriogênse somática ocorre naturalmente em poucas espécies, dentro de óvulos (por
exemplo, Paeonia) e mais raramente em folhas (por exemplo, Asplenium e Kalanchoe). Desde a
primeira observação de formação de embriões somáticos em suspensões de Daucus carota celular
por Steward et al. (1958) e Reinert (1958) o potencial para a embriogênese somática na cultura in
vitro foi mostrado para uma grande quantidade de espécies. Durante os últimos 40 anos, a
embriogênese somática tem sido descrita em um grande número de espécies, e métodos
modificados utilizados para a indução de culturas embriogênicas são continuamente relatados.
Ressalta-se que embriões somáticos são utilizados como um sistema modelo em vários
estudos morfogenéticos. Porém, o maior interesse na obtenção destes embriões somáticos está na
sua aplicação prática para a propagação vegetativa em larga escala, principalmente por causa da
possibilidade de ampliar a propagação usando biorreatores. Além disso, na maioria dos casos, os
embriões somáticos ou culturas embriogênicas podem ser criopreservados, o que torna possível
estabelecer bancos de linhagens celulares e germoplasma. Culturas embriogênicas também são um
alvo atraente para a transformação genética.
A embriogênese somática pode ser obtida para todas as espécies de plantas, desde que seja
utilizado o explante apropriado, e sejam utilizados os meios de cultura e as condições ambientais
adequadas. Desta forma, a embriogênese somática pode ser direta, quando os embriões somáticos
se diferenciam diretamente do explante sem a fase de calos, ou indireta quando os embriões
somáticos se diferenciam após a indução de calos no explante. Os explantes dos quais a
embriogênese direta é induzida incluem micrósporos, óvulos e embriões zigóticos. Um caso especial
de embriogênese somática direta é o processo que geralmente é classificado como embriogênese
secundária, também chamada de contínua ou acessória, em que o primeiro embrião somático
formado falha em se desenvolver em uma plântula e dá origem a ciclos sucessivos de produção de
embriões secundários, terciários etc. Se embriões somáticos formados diretamente sob o explante
são convertidos em plântulas não é possível a sua multiplicação.
Na embriogênese indireta, os calos formados podem ser embriogênicos ou não-
embriogênicos, os quais podem ser facilmente distinguidos baseados na morfologia e coloração.
Figura 4. Estágios de desenvolvimento da embriogênese somática e sua modulação. (Modificado de Steiner et al., 2008).
A regeneração de plantas via embriogênese somática inclui cinco estágios, de acordo com
George (2008):
Estágio I: Indução de culturas embriogênicas - Início das culturas embriogênicas pelo
cultivo de explantes primários em meio de cultura suplementado com reguladores de crescimento
vegetal como auxina em grandes concentrações, principalmente o ácido 2,4-diclorofenoxiacético
(2,4-D) sendo algumas vezes balanceado com concentrações de citocinina, dentre elas
benziladeninopurina (BAP). A indução de embriogênese somática deve consistir no encerramento de
um padrão atual de expressão gênica no tecido do explante e sua substituição por um programa de
expressão gênica embriogênico. Os reguladores de crescimento vegetal e estresse têm um papel
central na mediação da cascata de transdução de sinal que leva à reprogramação da expressão
gênica. Isso resulta em uma série de divisões celulares que induzem o crescimento tanto do calo
desorganizado ou no crescimento polarizado levando a embriogênese somática. O início da via
embriogênica é restrito apenas a determinadas células sensíveis que têm o potencial para ativar os
genes envolvidos na geração de células embriogênicas. Apenas algumas células do explante
primário são competentes para a indução embriogênica, que segundo Dudits et al. (1995) pode ser o
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Biotecnologia Vegetal
resultado de sensibilidade dessas células à diferentes auxina. Auxinas sintéticas são normalmente
utilizadas para iniciar culturas embriogênicas, e um provavelmente mecanismo pelo qual auxina pode
regular a embriogênese é através da acidificação do citoplasma e da parede celular (Kutschera,
1994). Mais comumente usado é 2,4-D (ácido 2,4-diclorofenoxiacético). No entanto, em alguns
casos, é necessário combinar diferentes auxinas e citocinina (baixa concentração).
Estágio II: Proliferação das culturas embriogênicas - Esta fase é obtida em meio semi-
sólido ou em suspensões celulares suplementado com auxinas em baixas concentrações.
Uma vez que as células embriogênicas são formados, eles continuam a proliferar. Calos
embriogênicos são mantidos em um meio semelhante ao utilizado para a indução. A auxina é
necessária para a proliferação mas é um inibidor para o desenvolvimento de embriões somáticos. O
grau de diferenciação do embrião na presença de auxina varia em diferentes espécies, e a depleção
de auxina no meio de cultura que inicia-se após alguns dias promoverá o desenvolvimento dos
embriões se as culturas não são transferidas para meio novo a cada semana. As culturas podem ser
mantidas em meio semi-sólido para seu aumento, porém, para a multiplicação em grande escala é
recomendado estabelecer suspensões celulares. Além do fato de que a taxa de proliferação é maior
em culturas em suspensão, outra vantagem é que as culturas tornam-se mais sincronizados. O pH
baixo do meio de cultura é essencial para manter as culturas em fase de proliferação. Culturas
embriogênicas de algumas espécies e alguns genótipos podem ser repicadas por um período
prolongado em meio contendo reguladores de crescimento vegetal, e ainda manter o seu potencial
embriogênico, ou seja, a capacidade para produzir embriões somáticos maduros que podem se
desenvolver em plantas. No entanto, o risco de aumentar a taxa de variação somaclonal aumenta.
Estágio III: Pré-maturação de embriões somáticos – iniciada em meio sem regulador de
crescimento, o que inibe a proliferação e estimula a formação de embriões somáticos e o início do
desenvolvimento. A compreensão da transição de massas pró-embriogênicas para embriões
somáticos, entre a proliferação de culturas embriogênicas e o desenvolvimento embrionário
organizado, desempenha um papel importante. Parece provável que a incapacidade de muitas
linhagens de células embriogênicas se desenvolverem em embriões somáticos está na grande
maioria associada a esta transição. Auxinas sintéticas, tais como 2,4-D, que são particularmente
eficazes para promover a criação e proliferação de culturas embriogênicas, geralmente não são
metabolizadas pelas células da mesma forma como auxinas natural. Assim, para estimular um maior
crescimento dos embriões somáticos é necessário transferir as culturas embriogênicas para meio
sem auxina por um período para posterior transferência para a maturação dos embriões (estágio IV).
Esta etapa auxilia também na sincronização do desenvolvimento dos embriões somáticos.
Estágio IV - Maturação de embriões somáticos - este estágio ocorre pelo cultivo das
culturas embriogênicas em meio suplementado com agentes promotores de maturação como ácido
abscísico (ABA) e/ou redução do potencial osmótico, com o uso de polietilenoglicol (PEG) e maltose.
Durante o estágio de maturação de embriões somáticos estes sofrem alterações morfológicas e
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Biotecnologia Vegetal
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Biotecnologia Vegetal
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Biotecnologia Vegetal
desdiferenciadas, mas existe um grande interesse na cultura de pelos radiculares e de outros órgãos.
A utilização de biorreatores representa a etapa crucial que leva a possibilidade da produção
comercial em larga escala de metabólitos secundários a partir de culturas celulares vegetais.
Muitas vias metabólicas têm sido investigadas na cultura in vitro de plantas de interesse
farmacológico, mas os alcalóides tem recebido maior atenção devido à sua relevância farmacêutica.
No caso da indústria de papéis, a separação da lignina da celulose traz um custo considerável ao
meio ambiente. Portanto, reduzir o conteúdo de lignina ou modificar a composição da lignina por
meio de um processo químico aprimorado poderia tornar a extração mais fácil.
Outra vertente dessa engenharia metabólica é a modificação das cores das flores, muito
utilizada em plantas ornamentais, que é alcançada por uma alteração nas vias metabólicas de
flavonóides, betalaínas e carotenóides.
germinação. No Brasil, esta propagação em escala vem sendo realizada por várias empresas
privadas, com a SBW do Brasil (http://www.sbwbrasil.com.br/), a Biofábrica de Cacau
(http://www.biofabricadecacau.com.br/).
Adicionalmente, protocolos estabelecidos para a micropropagação de espécies de interesse
econômico são importantes para dar suporte a transgenia de plantas, que dependem destas
metodologias estabelecidas para obter as plântulas transformadas com os genes de interesse.
8. TRANSGÊNESE EM PLANTAS
Há muitos anos, plantas cultivadas vêm sendo manipuladas geneticamente pelo homem, por
meio de melhoramento clássico. Características fenotípicas de interesse, determinadas por genes, são
transferidas à progênie, através de cruzamentos. No entanto, esses métodos convencionais de
melhoramento esbarram em uma série de problemas, como a redução de pool gênico, a ligação
gênica e a incompatibilidade sexual, além do tempo necessário para se transferirem caracteres
desejáveis para cultivares de interesse que podem durar décadas em espécies bienais e em perenes
ou em espécies altamente heterozigotas. Atualmente o melhoramento de plantas pode recorrer às
técnicas de engenharia genética.
A combinação de técnicas de biologia molecular, cultura de tecidos e transferência de genes
representa uma ferramenta poderosa para introduzir novas características em uma determinada
planta. Genes oriundos de diferentes espécies vegetais, animais ou microorganismos podem ser
introduzidos de forma controlada em um genoma vegetal receptor, de modo independente da
fecundação. A variabilidade genética existente na natureza é a fonte desses genes. Entretanto, sua
utilização no processo de transformação de plantas exige o desenvolvimento da pesquisa básica em
biologia molecular e celular. O gene responsável pela característica de interesse deve ser localizado e
isolado dos demais genes do genoma. De posse do gene, ele será então caracterizado e introduzido
em vetores para transformação de plantas (Figura 5).
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Biotecnologia Vegetal
Figura 5. Etapas na obtenção de plantas transgênicas (Adaptado de Brasileiro & Carneiro, 1998).
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Biotecnologia Vegetal
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Biotecnologia Vegetal
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Biotecnologia Vegetal
introduzido pela primeira vez um DNA exógeno em células de camundongo por Neumann e
colaboradores em 1982. A eletroporação de protoplastos é realizada imediatamente após a purificação
dos mesmos. Adiciona-se à suspensão de protoplastos, o plasmídeo no qual estão clonados os genes
de interesse a ser incorporado na planta e os genes marcadores, que são utilizados para a seleção
das células transformadas. Dentre os genes de interesse mais visados estão os genes que conferem
resistência a herbicidas, o gene Bt que confere ao vegetal a capacidade de produzir a delta toxina
atuando na proteção contra insetos da classe dos lepdópteros, mais recentemente genes
responsáveis pelo aumento da produção de determinados compostos e ainda em fases de teste genes
que induzem a produção de anticorpos, hormônios, soroalbumina humana, antígenos vacinais e
enzimas.
A seleção é feita no início da cultura, quando a maioria das células derivadas dos protoplastos
está na segunda divisão, Essa seleção precoce é bastante eficiente, evita o aparecimento de falsos
transformantes ou quimeras, o que é um problema em outras técnicas de transformação, nas quais a
seleção é realizada em tecidos ou órgãos intactos.
8.4. Biobalística
O processo de biobalística foi inicialmente proposto por Sanford et al. (1987), com o objetivo
de introduzir material genético no genoma nuclear de plantas superiores. Desde então sua
universalidade de aplicações tem sido avaliada, demonstrando ser um processo também efetivo e
simples para a introdução e expressão de genes em bactérias, protozoários, fungos, algas, insetos e
tecidos animais.
A biobalística utiliza microprojéteis em alta velocidade para introduzir ácidos nucléicos e
outras moléculas em células e tecidos in vivo. Esse processo também é chamado de
bombardeamento com microprojéteis, aceleração de partículas, entre outros. Foi demonstrado que as
partículas (de ouro ou tungstênio) penetram a parede e a membrana plasmática das células vegetais
de maneira não-letal, alojando-se aleatoriamente nas organelas celulares. Posteriormente, o DNA é
dissociado das micropartículas pela ação do líquido celular e integrado no genoma nuclear do
organismo receptor, resultando na transformação genética.
A maioria das variedades transgênicas comerciais hoje disponíveis foi desenvolvida com o
uso da biobalística. Entretanto devido ao custo do uso desta tecnologia e ao fato de o padrão de
integração do transgene aparentemente muito complexo, vários grupos de pesquisa estão usando,
preferindo a transformação gênica via A. tumefaciens.
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Biotecnologia Vegetal
não com outras espécies, limitando o espectro daquelas que podem ser transformadas. Nesses casos,
o procedimento tem sido a transferência dos transgenes via genética clássica, por meio de
cruzamentos, a partir do indivíduo transformado com a característica desejada.
Outra dificuldade associada com o uso da cultura de tecidos na transformação gênica envolve
as variações somaclonais (aparecimento de tipos distintos decorrentes de mutações e outras
anomalias inerentes à cultura de tecidos). A frequência de variação somaclonal ou mutações nos
indivíduos regenerados por cultura de tecidos é relativamente alta.
Os métodos de transformação gênica que ainda estão em fase de desenvolvimento e que,
provavelmente, revolucionarão a maneira de se introduzirem genes em plantas são bastante
promissores, alguns dos quais já estão sendo utilizados com a planta-modelo Arabidopsis thaliana.
Um desses métodos envolve a submersão dos botões florais da planta em uma solução contendo os
plasmídios portadores dos transgenes. Outra opção é a transformação de sementes mediada por
Agrobacterium tumefaciens. Embora esses métodos tenham sido utilizados com sucesso em
Arabidopsis, a literatura científica apenas começou a registrar seu uso em outras espécies vegetais de
importância agronômica. Uma importante vantagem desses métodos é a transformação sem
necessidade de uso da cultura de tecidos.
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Biotecnologia Vegetal
dupla, que bloqueia o processo de tradução. Teoricamente, o RNAm anti-senso pode ser utilizado
para inibir a expressão de quaisquer genes.
8.6.3. Biorremediação
Introdução de genes que codificam para a produção de princípios ativos utilizados na
produção de medicamentos.
8.6.4. Fármacos
Introdução de genes que codificam para a produção de princípios ativos utilizados na
produção de medicamentos.
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Barros, L.M.G., Carneiro, V.C. (1998) Eletroporação de Protoplastos. In: Manual de Transformação Genética de
Plantas. Brasileiro, A.C.M. Carneiro, V.C. (Eds). Brasilia: Embrapa – SPI/Embrapa – Cenargen. Cap. 2, p.
35-49.
Bourgaud, F., Gravot, A., Milesi, S., Gontier, E. (2001) Production of plant secondary metabolites: a historical
perspective. Plant Science, 161: 839-851.
Brasileiro, A.C.M. Carneiro, V.C. (1998) Introdução à Transformação Genética de Plantas. In: Manual de
Transformação Genética de Plantas. Brasileiro, A.C.M. Carneiro, V.C. (Eds). Brasilia: Embrapa –
SPI/Embrapa – Cenargen. Cap. 1, p. 13-16.
Duditis, D., Gyorgyeyj., Bogre, L., Bako, L. (1995) Molecular biology of somatic embryogenesis. Pp 267-308 in
Thorpe, T.A. (ed) In vitro embryogenesis in plants Kluwer Academic Publishers, Dordrecht, Boston, London.
George, E.F., Debergh, P.C. (2008) Micropropagation: Uses and Methods. In: Plant Propagation by Tissue
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Culture 3 Edition. George, E.F., Hall, M.A., De Klerk, G.J. (Eds). Springer. v. 1. Cap. 2, p. 29-64.
Guerra, M.P., Torres, A.C., Teixeira, J.B. (1999) Embriogênese somática e sementes sintéticas. In: Torres,
A.C., Caldas, L.S., Buso, J.A. Cultura de tecidos e transformação genética de plantas. Brasília: Embrapa, v.
3, p. 533-568.
Gupta, P.K., Pullman, G. S. (1991) Method for reproducing coniferous plants by somatic embryogenesis using
abscisic acid and osmotic potential variation. US patent 5,036,007.
http://www.biofabricadecacau.com.br/, acesso em 28/07/2011.
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Biotecnologia Vegetal
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Biotecnologia Animal
1
Bolsista UAB. Pós-graduanda em Biociências e Biotecnologia.
2
Bolsista de extensão. Graduanda em Ciências Biológicas.
3
Biólogo, Doutor, Professor Associado da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro.
Biotecnologia Animal
1
Bolsista UAB. Pós-graduanda em Biociências e Biotecnologia.
2
Bolsista de extensão. Graduanda em Ciências Biológicas.
3
Biólogo, Doutor, Professor Associado da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro.
Biotecnologia Animal
A maioria das mensagens contidas no DNA são lineares. Esse é o caso das mensagens
genéticas baseadas na sucessão de códons, que definem a ordem dos aminoácidos nas proteínas
correspondentes. O mesmo pode ser definido em certo grau para as regiões regulatórias. Os sítios
que ligam fatores de transcrição são compostos de cerca de 12 nucleotídeos adjacentes. Os outros
sinais também contam com sequências de DNA, tendo cada categoria de sinal seu tipo de linguagem
específica, sempre baseado no alfabeto de quatro letras ATGC, correspondente às quatro bases do
DNA.
transcriptase reversa viral. O DNA fita única obtido dessa forma é então convertido em DNA fita-
dupla por uma DNA polimerase. Os fragmentos de DNA resultante são clonados em plasmídeos para
gerar um banco de cDNA. Por fim, o clone contendo o cDNA em questão pode ser identificado e
isolado para o uso na transgênese.
inteiros. As regiões transcritas podem conter um gene repórter que codifica uma proteína que pode
ser facilmente visualizada ou quantificada por sua atividade enzimática específica. Isto revela em
quais células e em que proporção o gene repórter é expresso.
A engenharia genética também pode ser usada numa escala industrial para reprogramar
células ou organismos inteiros para produzir DNAs recombinantes de interesse farmacêutico e para
prevenir a rejeição imunológica de órgãos transplantados.
Em todos os casos, os genes devem ser construídos experimentalmente. A construção gênica
contem pelo menos uma região promotora, uma região transcrita e um terminador da transcrição. O
gene construído é, então inserido um vetor de expressão.
A construção de um gene implica no uso de enzimas de restrição, as quais clivam o DNA em
sítios específicos, a síntese química de oligonucleotídeos, a amplificação in vitro de fragmentos de
DNA por PCR e a associação covalente dos diferentes fragmentos de DNA por uma ligase. Na
maioria das vezes, esses fragmentos são adicionados em plasmídeos, que são transferidos para o
interior de bactérias. Os clones bacterianos são selecionados e amplificados.
A escolha dos elementos a serem adicionados na construção gênica depende do objetivo do
experimento e particularmente do tipo celular no qual o gene em questão deve ser expresso. O
código genético é universal mesmo se alguns códons são mais utilizados em um determinado tipo
celular que outros. O código que define a atividade das seqüências regulatórias é específico a cada
tipo de organismo. O promotor de um gene bacteriano não está ativo em uma célula vegetal ou
animal, assim como o contrário.
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Biotecnologia Animal
O DNA é uma molécula grande e carregada negativamente e, portanto, não pode atravessar
espontaneamente a membrana plasmática. Essa é uma forma das células de se protegerem do DNA
estranho que pode estar na vizinhança. Oligonucleotídeos adicionados ao meio de cultura ou
injetados em animais podem entrar nas células em condições em que eles estão presentes em
concentração relativamente alta.
Várias técnicas foram desenhadas para forçar o DNA a entrar nas células e atingir seu
núcleo. Essas diferentes formas de transferir o gene para dentro das células foram agrupadas e
denominadas transfecção.
3.1. Clonagem
3.1.1. As principais etapas da diferenciação
A clonagem é, por definição, a reprodução de uma célula e, de forma mais geral, de um
organismo inteiro sem qualquer modificação de seu genótipo. Esse fenômeno ocorre amplamente na
natureza uma vez que bactérias e fungos se reproduzem de acordo com esse processo. A mesma
situação é encontrada em células somáticas de organismos pluricelulares, com exceção daquelas do
sistema imune que sintetizam anticorpos e receptores T. Um número de plantas pode se multiplicar
independentemente da reprodução sexuada. Estacas são estratégias utilizadas pelos jardineiros para
a reprodução de muitas plantas e os organismos resultantes são clones.
Nenhum fenômeno desse tipo foi observado em vertebrados. Os mecanismos de
desenvolvimento em plantas e animais são bem diferentes. Isso explica por que a clonagem em
plantas pode ser obtida a partir do simples prolongamento do estado diferenciado, enquanto para
animais isso não ocorre. Em animais superiores, sabe-se que a célula inicial do zigoto formada logo
após a fertilização é totipotente. Isso significa que a célula pode gerar todas as células daquele
organismo. O mesmo acontece para duas ou quatro células do início do embrião em
desenvolvimento. Essas células podem se desenvolver em um organismo vivo se introduzidas na
zona pelúcida de um oócito. Essas células, portanto, ainda são totipotentes. Após esse estágio, as
células embrionárias começam a perder a totipotência e se tornam pluripotentes. Essas células,
conhecidas como blastômeros, não são diferenciadas. Essas células perdem a capacidade de gerar
um organismo vivo após serem transferidas para a zona pelúcida.
Após alguns dias, dependendo da espécie, o embrião, conhecido como blastocisto, pode ser
dividido em duas categorias de células: a) as células que formam uma camada unicelular ao longo da
zona pelúcida, que dará origem à placenta e; b) as células que formam um bloco compacto,
conhecido como massa de células internas, que é precursor do próprio embrião.
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Biotecnologia Animal
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Biotecnologia Animal
Figura 1: Princípios da clonagem animal por transferência nuclear (Modificada de Houdebine, 2003).
Cerca de 15 anos atrás, parecia importante estender a técnica de clonagem para animais de
fazenda para acelerar a seleção genética como era o caso das plantas. O protocolo definido para
Xenopus também foi utilizado em ovelha e os cordeiros clonados foram obtidos dessa forma.
A taxa de sucesso desses experimentos foi e ainda é baixa, e foi levemente melhorada ao
longo dos últimos 15 anos. Cerca de 1 % dos embriões reconstituídos por transferência nuclear deu
origem a animais normais. Esse número é insuficiente para acelerar a seleção genética. Na verdade,
o genótipo do embrião do qual as células doadoras foram isoladas não é conhecido. Apenas o
genótipo e o fenótipo de seus progenitores são conhecidos.
Para melhorar os resultados da clonagem, protocolos modificados foram adotados, mas com
sucesso moderado. Uma das razões pela qual a clonagem falha tão frequentemente pode resultar da
discordância entre os estágios do ciclo de divisão das células doadoras e os oócitos recipientes. Na
verdade, é fácil imaginar que uma célula doadora na fase mitótica não entregue seus cromossomos
ao oócito recipiente de uma forma apropriada. A fase da célula doadora é desconhecida na maioria
dos casos e a transferência nuclear gera provavelmente embriões não viáveis.
Um número crescente de estudos está progredindo para descrever os fenômenos que são
regularmente observados após a clonagem. Uma das descobertas mais marcantes é a discrepância
entre o número de blastocistos obtidos após a transferência nuclear seguido pelo desenvolvimento in
vitro e o número de recém-nascidos que sobrevivem. Outra descoberta surpreendente é o grande
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número de abortos tardios que ocorrem após a transferência nuclear e a morte de cerca de 40 % dos
fetos e recém-nascidos. Diversas anormalidades são comumente observadas, tais como grande
embrião com uma placenta pouco desenvolvida. Outras observações têm sido constatadas como:
aplasia tímica, atrofia do rim, flutuações da temperatura corporal, hipertrofia do fígado ou do coração,
concentração alta de leptina, imunossupressão parcial etc.
3.2. Transgênese
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transgênicos, as quais podem ser observadas ou medidas. Mutantes do gene substituído podem
fornecer informação de uma forma mais sutil.
O DNA exógeno deve atingir o núcleo da célula para se tornar integrada ao seu genoma. O
destino do DNA exógeno não é o mesmo dependendo se ele foi introduzido no citoplasma ou
diretamente no núcleo.
O DNA transferido em células cultivadas está geralmente na forma de um plasmídeo circular.
O plasmídeo é clivado pela DNAse citoplasmática em sítios aleatórios. A principal parte do DNA é
destruída no citoplasma. Uma pequena parte migra para o núcleo, onde ele pode ser transcrito.
Dessa forma, o DNA exógeno é instável e é eliminado assim que as células se dividem. Uma
pequena proporção do DNA exógeno se torna integrado no genoma. Durante a transferência do
citoplasma para o núcleo, os fragmentos de DNA exógeno se associam para formar polímeros
chamados concatâmeros. No citoplasma, as associações covalentes dos fragmentos do DNA
ocorrem aleatoriamente, gerando algumas vezes genes rearranjados em sequência ou posição
cabeça-cauda.
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Biotecnologia Animal
Uma possível interpretação para esse fenômeno é que a DNAse é um meio de proteger o esperma
da contaminação por DNA exógeno do epidídimo ao oócito.
4. APLICAÇÕES DA TRANSGÊNESE
A transgênese é mais utilizada por pesquisadores, mas também pela indústria para diferentes
propósitos. Por uma questão de conveniência, é possível dividir as aplicações da transgênese animal
em três categorias. A primeira, e a principal, razão para utilizar animais transgênicos é para obter
informação fundamental sobre os organismos vivos e as doenças humanas. A segunda razão é usar
animais como uma fonte de proteínas farmacêuticas, células e órgãos. A terceira é melhorar a
produção animal.
humana é essencialmente causada por mutações do gene CFTR. Camundongos cujo gene CFTR foi
bloqueado não desenvolve a doença. Sabe-se que a ação do canal de cloro CFTR não mais
funcional é compensada pelo efeito de outro gene que não possui o mesmo padrão de expressão em
humanos.
Muitos camundongos transgênicos são modelos candidatos para o estudo de doenças
humanas, sejam elas genéticas ou infecciosas. Na prática, apenas um número limitado de
camundongos parece relevante. Isso ocorre devido o fato de o transgene ou gene bloqueado nem
sempre gere uma doença que se assemelha a patologia humana. O background genético do
camundongo é também muito importante. Isso, às vezes, implica que a modificação genética obtida
em uma linhagem de camundongo tem que ser transferida para outra linhagem por cruzamento.
elevado foi obtido. Esses animais carregando o gene do hormônio de crescimento de rato ou humano
exibiram crescimento acelerado e alguns deles tiveram uma concentração alta de hormônio de
crescimento no seu sangue (acima de 50 µg/mL). Esse fato originou a ideia de que o sangue de
animais transgênicos poderia ser uma fonte de proteínas recombinantes.
4.4. Melhoramento genético
A seleção genética é um dos métodos principais usados para melhorar a produção animal.
Essa técnica tem se tornado mais poderosa desde a descoberta das leis da hereditariedade e ainda
vem sendo melhorada pelo uso de marcadores genéticos. Com a transgênese, se espera gerar
mutantes de interesse que não poderiam ser obtidos pela seleção clássica, pelo menos dentro de um
intervalo de tempo considerável.
A transgênese em plantas, que é baseada somente na adição do gene por razões técnicas e,
em hipótese alguma, na substituição do gene, tem gerado algumas novas variedades amplamente
apreciadas por agricultores. O mesmo é teoricamente possível para animais. Na prática, isso é
parcialmente verdadeiro. Na verdade, a transgênese é ainda mais complexa e custosa em animais
do que em plantas. Além disso, a introgressão das características genéticas introduzidas pelos
transgenes pode não ser um processo rápido, até mesmo se a clonagem dos fundadores é
implementada. O número de repetições possíveis em animais é e continuará sendo menor em
animais do que em plantas. Os genes candidatos para melhorar a produção animal por transgênese
deve, portanto, ser cuidadosamente selecionados.
Resistência a doenças: Na agricultura, mais de 40 por cento do que é colhido pode ser
perdido com resultado de diferentes doenças. No melhoramento, a perda pode atingir 20 por cento.
Os genes capazes de prevenir doenças em animais são teroricamente muito diversos. Esses genes
podem inibir a infecção ou replicação. Alguns alelos naturais são conhecidos por proteger os
indivíduos contra doenças. Esses genes são raramente identificados. O estudo sistemático do
genoma de animais de fazenda contribuirá progressivamente para identificar esses genes, que
podem ser transferidos para animais da mesma espécie e, possivelmente de outra espécie para
protegê-los contra determinada doença.
Digestão e metabolismo: Otimizar a digestão em animais de fazenda pode ter diversas
vantagens. Ela pode diminuir o risco de rejeição e poluição, reduzir o consumo de alimento e
acentuar a produção. Modificações metabólicas podem gerar animais melhores adaptados à
alimentação disponível ou de baixo-custo.
Composição do leite: O leite é fonte de cerca de 30 por cento das proteínas consumidas por
humanos em países desenvolvidos. A produção de leite tem sido melhorada pela seleção e
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Biotecnologia Animal
alimentação otimizada. A composição do leite foi levemente modificada. A concentração lipídica foi
essencialmente acentuada.
6. APLICAÇÕES DA CLONAGEM
clonagem e não por fertilização normal. Subsequentemente, muitos genes não são reativados pela
desmetilação do DNA e indisponibilizados para o desenvolvimento do embrião. Uma identificação
sistemática dos genes metilados em clones que se desenvolvem normalmente ou não poderia
explicar porque tantos clones são anormais. Esse estudo poderia revelar a função de alguns genes
na organogênese. Isso não implica necessariamente que a metilação do gene nos clones poderia ser
controlada e que isso acentuaria os resultados da clonagem. A metilação do DNA parece ser um
processo sutil, que pode não ser facilmente modificado em alguns genes específicos. O defeito na
reprogramação do genoma e a metilação anormal do DNA pode justificar os efeitos da clonagem na
vida dos animais.
ruminantes selvagens. Células foram coletadas de muflões encontrados mortos na pastagem. Seus
núcleos foram transferidos para oócitos de ovelhas enucleados. Aparentemente um muflão normal
nasceu. Outras tentativas estão sendo aplicadas com outras espécies ameaçadas. A eficiência da
técnica de clonagem bem como o limitado apoio financeiro atualmente reduzem a chance desta
abordagem alcançar algum sucesso significativo.
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Biotecnologia Animal
Uma alternativa é gerar embriões por transferência nuclear usando células doadoras dos
pacientes. Nessas condições, as células pluripotentes e diferenciadas derivadas de embriões
clonados são, inerentemente, histocompatíveis com o paciente.
Esse protocolo foi chamado de clonagem terapêutica antes de ser implementado. Esse
método ainda é apenas teórico. Na verdade, condições experimentais para clonagem em humanos
são ainda essencialmente desconhecidas. Não se sabe se as células pluripotentes e diferenciadas
teriam as propriedades biológicas esperadas para recuperar o tecido lesionado. Os defeitos
observados em embriões clonados, que severamente alteram o seu desenvolvimento, podem não
ser problemas reais para a terapia celular. Na verdade, um número mais limitado de genes funcionais
é requerido para assegurar a atividade normal de uma célula diferenciada do que o desenvolvimento
completo de um embrião.
6.5. Transplante
O número de pacientes que precisam de células ou órgãos está crescendo e sabe-se que as
fontes de células e órgãos humanos são e continuarão sendo insuficientes. A ideia de utilizar órgãos
de animais surgiu a um século atrás. Essa ideia foi seguida por transplantes experimentais de órgãos
de diferentes espécies aos pacientes. Em diversos casos, os experimentos resultaram em
transplantes com sucesso seguidos de uma resposta de rejeição rápida e severa. Dois órgãos, os
testículos e a câmara interna do olho, foram rejeitados muito mais lentamente. Hoje, se sabe que
esses tecidos expressam uma molécula chamada ligante Fas na sua superfície, o qual induz a morte
de células imune ativadas.
Diferentes espécies animais foram testadas como fonte de órgãos humanos. Os primatas
incluindo os chimpanzés foram originalmente considerados os mais apropriados. Rapidamente, essa
escolha foi descartada. Órgãos de primatas são rejeitados. Os primatas são espécies protegidas e
seu melhoramento genético é extremamente caro. Além disso, primatas tem o maior risco de
transferir patógenos a humanos.
Após descartar os primatas como doadores, os porcos foram escolhidos por constituírem uma
espécie próxima aos humanos, serem onívoros e com tamanho similar. E ao mesmo tempo, serem
considerados tão diferentes dos humanos para transferirem seus patógenos. Além disso, o
melhoramento genético do porco pode ser realizado em condições livres de patógenos por um custo
moderado e ainda, o porco é utilizado com abundância como alimento para humanos, o que reduziria
o sacrifício adicional deste animal.
No futuro, a clonagem pode ser muito útil para gerar animais geneticamente idênticos. Os
indivíduos com o melhor genótipo para transplante em humanos pode ser obtido dessa forma.
Existem diferentes possíveis métodos de obtenção de células ou órgãos de humanos ou
porcos para o transplante em pacientes. Mas é impossível prever qual deles será o mais apropriado,
pois um método parecerá solucionar um determinado problema, enquanto outro método será mais
eficiente em outra questão.
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Biotecnologia Animal
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Folch, J., Cocero, M.J., Chesné, P., Alabart, J.L., Domínguez, V., Cognié, Y., Roche, A., Fernández-Arias, A.,
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58
Biotecnologia Animal
59
Biotecnologia Industrial
1. INTRODUÇÃO
1
Bolsista UAB. Pós-graduanda em Biociências e Biotecnologia – CBB/UENF.
2
Bolsista de extensão. Graduanda em Ciências Biológicas – CBB/UENF.
3
Eng. de alimentos, Doutora, Professora Associada da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy
Ribeiro.
Biotecnologia Industrial
A era pré-tecnologia do DNA recombinante, que compreende todo o período até 1982, no qual as
atividades metabólicas de alguns microrganismos eram exploradas para a produção de bebidas
alcoólicas e alimentos fermentados ou outras transformações microbianas (Tabela 1). Neste
período os produtos alimentícios representavam cerca de 80% do mercado de todas as
aplicações biotecnológicas.
A era pós- tecnologia do DNA recombinante, que compreende o período de 1982 até os dias de
hoje, é marcada pelo rápido desenvolvimento de proteínas de uso terapêutico pelo uso da
engenharia genética. O primeiro grande fruto da produção em larga escala de proteínas
codificadas por genes humanos clonados em microrganismos foi a insulina recombinante
humana, produzida através da inserção de genes humanos em plasmídeos e expressão destes
na bactéria Escherichia coli, aprovada para uso clínico em 1982. O segundo produto a chegar ao
mercado foi o hormônio de crescimento humano (hGH). Nos últimos anos cresce o número de
produtos de genes humanos expressos em bactérias e um número expressivo de produtos
voltados para a saúde humana vem sendo desenvolvidos, como será visto mais adiante. Mas, é
preciso destacar que, mesmo com os avanços da moderna biotecnologia industrial, a indústria
de alimentos continua a dominar economicamente o mercado biotecnológico e todos os produtos
listados na Tabela 1 continuam sendo importantes, embora os métodos de fabricação venham
sendo melhorados para incorporar avanços obtidos com a engenharia genética.
2. PROCESSOS FERMENTATIVOS
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Biotecnologia Industrial
estado sólido). Os processos submersos são caracterizados pela presença de água livre no
biorreator e constituem a maioria dos processos industriais utilizados atualmente. O processo em
estado sólido é caracterizado pela ausência de água livre no meio, acarretando num menor teor de
umidade em comparação aos processos submersos. Neste caso, o cultivo do microrganismo é
realizado sobre ou dentro de partículas de matriz sólida, que pode ser o próprio substrato ou um
material inerte impregnado com nutrientes. O teor de umidade deve assegurar o crescimento e o
metabolismo microbiano, mas não exceder a capacidade de ligação da água com a matriz sólida. Em
geral este sistema é utilizado para a realização de processos envolvendo fungos filamentosos,
devido ao seu crescimento em condições aeróbicas e à sua forma de crescimento em micélios que é
favorecida nessas condições. É principalmente utilizado para a produção de enzimas, mas também
empregado para processos tradicionais como a produção de molho de soja (shoyo) e alguns tipos de
queijos, como o Gorgonzola e o Camembert.
A obtenção de produtos do metabolismo microbiano nem sempre é feita com o uso de células
íntegras dos microrganismos. Nos chamados Processos Enzimáticos, enzimas microbianas são
utilizadas para catalisar reações de transformação de diferentes substratos para obtenção de
diferentes produtos. As enzimas são catalisadores muito eficientes. Ao contrário dos catalisadores
inorgânicos, as enzimas têm alta especificidade, ou seja, formam produtos seletivamente. Esta é uma
característica muito útil nos processos industriais, uma vez que quantidades mínimas de produtos
secundários são formadas, trazendo benefícios econômicos e ambientais. Outras vantagens do ponto
de vista industrial incluem os rendimentos elevados alcançados e as condições brandas de operação. O
consumo energético requerido nos processos enzimáticos é também muito menor em comparação com
os de via química.
Produtos biotecnológicos podem também ser obtidos através de processos chamados
Bioconversões ou Biotransformações microbianas, que são muito semelhantes aos processos
enzimáticos. A diferença fundamental é que nas bioconversões a enzima (ou enzimas) responsável
pela transformação do substrato em produto não é separada da célula produtora. Neste caso, a
vantagem adicional é que as enzimas contidas nas células já estão naturalmente imobilizadas, o que
facilita sua recuperação e reutilização.
3.1.1.1. Aminoácidos
Um grande número de aminoácidos essenciais não é sintetizado por animais e pelo homem,
devendo ser introduzidos na alimentação humana e no enriquecimento de ração animal. Os
aminoácidos são também empregados na medicina como componentes de soluções usadas no
tratamento pós-operatório e como desintoxicantes nas disfunções hepáticas e gastrointestinais. São
empregadas como matéria-prima na indústria química para a produção de fibras e resinas, na
fabricação de cosméticos e como substâncias surfactantes. São utilizados para realçar o sabor de
um alimento ou conferir-lhe um sabor característico, caracterizando o chamado efeito flavorizante.
São exemplos de flavorizantes o ácido glutâmico, o ácido aspártico e L-alanina. Cerca de 725 mil
toneladas de glutamato monossódico são fabricadas anualmente por fermentação usando várias
espécies de bactérias dos gêneros Corynebacterium e Brevibacterium. A maior parte dos cereais
consumidos no mundo é deficiente em L-lisina e por isso este aminoácido essencial se tornou um
importante produto industrial. Cepas mutantes de Corynebacterium glutamicum têm sido utilizadas na
sua produção.
O mercado mundial de aminoácidos chega a US$ 1,5 bilhão para L-glutamato e L-lisina, US$
198 milhões para a L-fenilalanina e US$ 43 milhões para L-aspartato (Demain e Adrio, 2008).
3.1.1.2. Vitaminas
Os fungos Eremothecium ashbyii e Ashbya gossypii são capazes de produzir Riboflavina
(vitamina B2) em concentrações acima de 20 g/L. Novos processos de produção foram
desenvolvidos nos anos recentes usando leveduras do gênero Candida, que produzem até 30 g/L de
vitamina B2. A vitamina B12, cujo mercado mundial é de mais de $70 milhões, é produzida
industrialmente por Propionibacterium shermanii e Pseudomonas denitrificans.
3.1.1.3. Nucleotídeos
O interesse comercial em nucleotídeos produzidos por fermentação está voltado para dois
produtos: ácido guanílico (GMP) e ácido iosínico (IMP), que agem como flavorizantes (realçadores de
sabor em alimentos). Cerca de 2.500 toneladas de GMP e IMP são produzidas anualmente no
Japão, com um mercado de US$ 350 milhões.
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Biotecnologia Industrial
Ácido cítrico: aproximadamente 450 mil toneladas deste ácido são produzidas anualmente
utilizando o fungo Aspergillus niger, com um mercado de US$ 2 bilhões. Processos alternativos
de produção com leveduras do gênero Candida vêm sendo desenvolvidos, principalmente a
partir de hidrocarbonetos.
Ácido itacônico: Dentre outras coisas, ácido itacônico (AI) pode ser incorporados em
polímeros para melhorar as propriedades do produto final. Os campos de aplicação são
múltiplos: revestimentos, adesivos, capas, enchimentos, vidro sintético, etc. Mas, uma série de
outros produtos biologicamente ativos derivados de AI estão sendo desenvolvidos para
aplicação na indústria farmacêutica e na agricultura. Fungos do do gênero Aspergillus produzem
AI com altos rendimentos usando substratos como glicose, sacarose, amido hidrolisado ou
melaço. Aspergillus terreus é a espécie tradicionalmente empregada, mas linhagens com miaor
potencial de produção estão sendo isoladas. Atualmente, o mercado deste ácido é de cerca de
10.000-15.000 t/ano, sendo a maior parte voltada para a produção de polímeros.
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Biotecnologia Industrial
3.1.1.5. Etanol
O etanol (álcool etílico) é produzido é produzido em processo fermentativo com leveduras
(Saccharomyces cerevisiae, Kluyveromyces fragilis ou espécies de Candida) ou bactérias. A rota
clássica usando leveduras é conhecida há milhares de anos e representa um dos o mais antigos
processos biotecnológicos aplicados pela humanidade. Atualmente, todas as bebidas alcoólicas são
feitas por fermentação e etanol combustível produzido a partir de biomassa já é uma realidade em
vários países. O uso de bioetanol permite a redução da poluição do ar e não contribui para o efeito
estufa, mas a principal dificuldade para a sua comercialização como substituto integral da gasolina é
o custo relativamente elevado de produção. No entanto, avanços na engenharia química e na
genética têm permitido melhora em diferentes etapas de produção. As pesquisas estão voltadas para
o desenvolvimento de pré-tratamentos (hidrólise) da biomassa, visando a despolimerização para
obtenção de açúcares fermentescíveis, e para o uso da tecnologia do DNA recombinante para obter
microrganismos mais eficientes na produção de etanol.
Em 2001, a produção anual mundial de etanol chegou a mais de 30 bilhões de litros. No Brasil
o bioetanol da cana-de-açúcar tem sido usado há mais de 25 anos e o país desempenha um papel
de liderança no setor. Nos Estados Unidos a produção de etanol é feita principalmente a partir de
amido de milho ou trigo.
3.1.1.6. Enzimas
Mais de 500 produtos comerciais são feitos usando enzimas microbianas. Este mercado
abrange uma vasta gama de produtos enzimáticos, desde os de custo muito baixo, comercializados
em grandes volumes, como o malte para cervejaria e outras bebidas alcoólicas, até as preparações
altamente purificadas, de elevado custo, usadas com finalidade analítica, científica e médica. O preço
destes produtos pode variar de centavos/kg a milhares de dólares/g. O mercado mundial de enzimas
atingiu US$3,6 bilhões em 2004, divididos nas seguintes áreas de aplicação: alimentos, detergentes,
têxteis, couro, papel e celulose.
As enzimas vêm sendo cada vez mais usadas nas indústrias de papel e têxtil, visando
processos mais limpos e redução do uso de matérias-primas e produção de resíduos. Um processo
enzimático alternativo na manufatura de algodão foi recentemente desenvolvido com base na enzima
pectato liase. O processo é realizado em temperaturas muito mais baixas e usa menos água do que
o método clássico. Outra aplicação de importância crescente é o uso de lipases para remoção de
componentes hidrofóbicos da madeira, principalmente triglicerídeos e ceras, na industrial de papel e
celulose. Lipase de Candida rugosa é usada para remover até 90% destes compostos. O uso de
enzimas como alternativas a produtos químicos no processamento do couro tem sido bem sucedido
para melhorar a qualidade do material e para redução de poluição ambiental. Lipases alcalinas a
partir de cepas de Bacillus ou neutras estão sendo usados atualmente nesta indústria.
3.1.2.1. Antibióticos
Os antibióticos são os metabólitos secundários mais conhecidos e mais amplamente
comercializados. São definidos como produtos naturais orgânicos de baixo peso molecular
produzidos por microrganismos e que são ativos em baixa concentração contra outros
microrganismos. Dos 12.000 antibióticos conhecidos em 1995, 55% eram produzidas pelo gênero
Streptomyces, 11% a partir de outros actinomicetos, 12% por bactérias não-filamentosas e 22% por
fungos filamentosos. A busca de novos antibióticos é contínua e tem os seguintes objetivos: obter
compostos voltados a combater patógenos em evolução, bactérias e fungos naturalmente resistentes
ou microrganismos anteriormente suscetíveis que desenvolveram resistência; melhorar a
propriedades farmacológicas; descobrir compostos mais seguros, mais potentes e de mais amplo
espectro. O mercado global de antibióticos inclui cerca de 160 antibióticos e derivados, chegando a
US$35 bilhões no ano 2000.
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Biotecnologia Industrial
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Biotecnologia Industrial
3.1.2.6. Bioinseticidas
Muitos insetos são considerados pragas na agricultura e muitos são vetores de importantes
doenças para humanos. Pesticidas e inseticidas químicos sintéticos usados no controle destes
insetos têm sido usados indiscriminadamente, levando ao desequilíbrio nos ecossistemas, à
contaminação dos lençóis freáticos e do próprio solo. Outro problema é a capacidade destes insetos
de se adaptarem aos pesticidas e se tornarem resistentes, o que obriga a utilização de novos
produtos químicos, que são cada vez mais tóxicos e prejudiciais ao meio ambiente. O controle
biológico, utilizando-se bioinseticidas produzidos com bactérias, fungos e outros microrganismos
entomopatogênicos, representa uma importante e eficiente alternativa ao uso de controle químico.
Os microrganismos entomopatogênicos produzem substâncias que os tornam capazes de causar
algum tipo de dano a insetos específicos. A vantagem é que eles são quase sempre específicos, com
baixa ou nenhuma toxicidade para vertebrados e insetos benéficos.
O agente microbiano mais importante e mais amplamente utilizado no controle de vetores de
doenças e pestes agrícolas em todo o mundo é Bacillus thuringiensis (Bt). Esta bactéria produz
proteínas na forma de cristais que são altamente tóxicas para as larvas de insetos suscetíveis. Ao
contrário dos inseticidas químicos, os larvicidas produzidos com Bt são extremamente específicos
quanto à espécie-alvo, apresentando baixa ou nenhuma toxicidade para insetos benéficos e animais
vertebrados, incluindo pássaros e mamíferos. Preparações de Bt são altamente potentes: cerca de
300 vezes mais ativas que piretróides sintéticos e 80.000 vezes mais ativas que inseticidas
organofosforados. Constituem, além disso, uma alternativa viável ao problema do desenvolvimento
de resistência, por parte dos insetos, aos inseticidas sintéticos. Bioinseticidas à base de Bt têm sido
aplicados há décadas para controle de pragas agrícolas e insetos de importância para a saúde
pública, como Aedes aegypti, vetor da dengue, e Anopheles vetores da malária.
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Biotecnologia Industrial
de SCP (single cell protein), ou seja, usada diretamente na alimentação humana ou na formulação de
ração animal como fonte de proteínas. Um exemplo de produto alimentício para consumo humano, o
Quorn, foi desenvolvido no Reino Unido e lançado no mercado em 1985, sendo constituído de
biomassa do fungo filamentoso Fusarium venenatum.
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3.1.6.1. Biofármacos
As proteínas e outras moléculas biológicas recombinantes para uso terapêutico, como as
citocinas, fatores de crescimento, enzimas, imunoterápicos, esteróides, dentre outros, representam
hoje uma parcela importante da indústria farmacêutica mundial.
O desenvolvimento de um bioprocesso para produção de proteínas ou outras moléculas
recombinantes até a escala industrial passa por diferentes estágios. O primeiro deles está
relacionado à manipulação genética do microrganismo hospedeiro do gene exógeno, ou seja, aquele
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Biotecnologia Industrial
no qual o gene (ou genes) originário de uma planta ou um animal será clonado (integrado ao seu
genoma). Os microrganismos receptores desses genes são chamados de sistema de expressão. A
engenharia genética aplicada para desenvolver esses microrganismos recombinantes é feita em
laboratórios por cientistas treinados em biologia molecular e bioquímica.
A tecnologia de DNA recombinante tem avançado notavelmente em consequência do
desenvolvimento de sistemas de expressão eficientes. Os seguintes microrganismos têm sido
empregados com os seguintes objetivos:
Escherichia coli
Escherichia coli tem sido amplamente utilizada como hospedeiro recombinante pelas seguintes
razões: facilidade e rapidez para modificar o genoma de forma precisa; rápido crescimento e
facilidade de obtenção de culturas em altas concentrações; facilidade de cultivo em meios
baratos. E. coli pode acumular proteínas heterólogas até 50% do seu peso seco de células. Os
seguintes produtos recombinantes são obtidos em E. Coli: insulina, hormônio de crescimento
humano, interferon , e , e fatores estimulantes de colônias de granulócitos (G-CSF).
Saccharomyces cerevisiae
Esta levedura pode ser cultivada rapidamente em meios de cultivo simples, com altas
densidades de células, podendo secretar várias proteínas heterólogas no meio de cultivo. Além
disso, o conhecimento sobre sua genética é mais avançado do que o de qualquer outro
eucarioto. Apesar destas vantagens, S. cerevisiae é considerado inadequado para produção em
larga escala de algumas proteínas de mamíferos por causa da formação de compostos que
podem causar resposta antigênica em pacientes. Genes humanos já foram clonados e
expressos em S. cerevisiae para produzir interferon, fator de crescimento epidérmico,
hemoglobina, superóxido dismutase e interleucina-6. O maior sucesso comercial usando
leveduras recombinantes a vacina contra hepatite B.
Pichia pastoris
Pichia pastoris tornou-se um dos sistemas de expressão mais amplamente utilizados, em função
das seguintes vantagens em relação à S. cerevisiae: capacidade de integrar múltiplas cópias do
DNA exógeno em seu DNA cromossômico, gerando transformantes estáveis; capacidade de
secretar altos níveis de proteínas exógenas. Exemplos de produtos recombinantes feitas em P.
pastoris incluem fator de necrose tumoral, toxina tetânica, proteína do invólucro do HIV-1,
interleucina-2, albumina sérica humana e hirudina.
Hansenula polymorpha
Altos níveis de expressão de certos genes heterólogos têm sido alcançados com a levedura H.
Polymorpha. São exemplos os seguintes produtos: antígeno para hepatite B, albumina sérica
humana e hirudina.
Fungos filamentosos
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Biotecnologia Industrial
drogas tradicionais, como o câncer ou outras doenças multifatoriais. As potenciais aplicações são
numerosas e algumas já foram avaliadas em bactérias e leveduras (Tabela 3).
Dois diferentes protocolos ou maneiras de administrar as células vivas estão sendo avaliadas:
a bioconversão ou a biossíntese.
Bioconversão
Três tipos de aplicação potenciais destes microrganismos recombinantes podem ser
considerados:
Fornecimento de enzimas deficientes no organismo hospedeiro, por exemplo para aumentar a
proteção do contra xenobióticos ambientais, particularmente aqueles veiculados pelos alimentos
(por exemplo, pesticidas e aditivos químicos). As células recombinantes também podem criar
vias alternativas para a desintoxicação, por exemplo, expressando proteínas anti-estresse
oxidativo, como a glutationa redutase ou glutationa peroxidase.
Biossíntese
Várias proteínas terapêuticas, como a insulina, interleucinas, fatores de crescimento e fatores
de coagulação poderiam ser produzidos por microrganismos geneticamente modificados
diretamente no trato digestivo. Em comparação com os sistemas clássicos, tal sistema de entrega
seria vantajoso nos seguintes casos:
Outra aplicação potencial é o desenvolvimento de vacinas orais, que são baseadas no uso de
microrganismos recombinantes que liberam antígenos diretamente no trato digestivo para estimular
uma resposta imune local (produção de imunoglobulinas) e prevenir doenças. Estes MGM poderiam
ser usados para vacinas contra bactérias patogênicas, toxinas bacterianas, vírus e parasitas ou
para controlar alergias alimentares (por exemplo, beta-lactoglobulina bovina, o maior alérgeno do
leite de vaca). Por exemplo, leveduras que expressam antígenos contra hepatite B têm sido
sugeridas como uma possível vacina oral contra o vírus.
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Biotecnologia Industrial
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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conventional chemistry. Applied Microbiology and Biotechnology, (66): 131-142.
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Glossário
GLOSSÁRIO DE BIOTECNOLOGIA
Agrobacterium tumefaciens: agente causal do tumor do colo em certas espécies vegetais, uma
doença que leva a formação de uma galha na coroa da planta. A bactéria é atraída por compostos
fenólicos secretados pela superfície ferida da planta, e daí um conjunto de genes bacterianos
(operon vir) é ativado, levando à transferência de um segmento de DNA do plasmídeo Ti
bacteriano para o genoma hospedeiro. O DNA bacteriano integrado à célula do vegetal (T-DNA)
sintetiza precursores e fitorreguladores (oncogenes), e o tecido afetado cresce, formando um
tumor. Linhagens desarmadas de A. tumefaciens (sem os oncogenes) são usadas, em laboratório,
para transferir genes exógenos para células vegetais e, mais raramente, para fungos.
Adventícia: estrutura que surge em locais (sítios) diferentes do habitual, como a formação de raízes
na superfície de partes aéreas da planta.
Angiosperma: no reino vegetal, classe que inclui as plantas que florescem; plantas vasculares nas
quais ocorre fertilização dupla no saco embrionário, resultando no desenvolvimento de fruto com
sementes. Há duas subclasses: a de plantas monocotiledôneas e a de dicotiledôneas.
Autoclave: câmara utilizada para esterilizar materiais diversos, incluindo vidrarias e meios de
cultura, usando-se vapor e alta pressão (em geral, 120 psi por 20 min.).
Banco de germoplasma: local onde são armazenadas coleções do material genético de uma
espécie, constituídas de sementes ou outras partes da planta, como órgãos (tubérculos, por ex.)
ou embriões encapsulados.
Biobalística: técnica para produzir células transformadas na qual o DNA é aderido a esferas de
tungstênio ou ouro, que são impelidas por pressão de gás (He, por exemplo), perfurando um
tecido-alvo. O DNA é integrado ao genoma da célula hospedeira ou de organelas (mitocôndrias e
cloroplastos), as quais são submetidas à seleção em meio de cultura contendo o agente
apropriado. Tem sido usada para transformar animais, plantas e fungos. São sinônimos os termos
bombardeio de micropartículas e biolística.
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Glossário
Biocontrole: controle de pragas ou doenças por meios biológicos. Qualquer procedimento que usa
organismos vivos deliberadamente introduzidos para conter o crescimento e o desenvolvimento de
outros organismos, como a introdução de insetos predadores ou a pulverização de esporos de
fungos em uma lavoura para controlar uma praga. O mesmo que controle biológico.
Bioconversão: conversão de uma substância química em outra por organismos vivos, à diferença
da conversão por enzimas isoladas, células fixadas ou processos químicos. Particularmente útil
para introduzir mudanças químicas pontuais em moléculas grandes e complexas.
Bioprocesso: qualquer processe que usa células vivas ou os seus componentes, como enzimas e
cloroplastos, para provocar mudanças físicas ou químicas desejadas.
Biorreator: 1. Tanque no qual células ou enzimas levam a termo de reação biológica. 2. Tanque
onde se processa a fermentação praticada por microorganismos. 3. Recipiente estéril no qual se
cultivam células, com agitação, para exploração comercial de seus metabólitos secundários. 4.
Recipiente usado para propagação de plântulas em larga escala.
Biorremediação: processo que utiliza organismos vivos para remover contaminantes, poluentes ou
substâncias não desejadas no solo, da água ou do ambiente.
Biossegurança: matéria que estuda os riscos potenciais da biotecnologia para a saúde humana e
animal, bem como para o ambiente. Às Comissões de Biossegurança compete regulamentar e
monitorar esses riscos.
Câmara de fluxo laminar: câmara projetada para manipulações em culturas de c´clulas e tecidos
que requerem um ambiente estéril, alcançado por um fluxo contínuo e não-turbulento de ar
esterilizado sobre a área de funcionamento.
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Glossário
Carvão ativado: carvão tratado para remover os hidrocarbonos e aumentar suas propriedades de
adsorção. Age capturando um gás ou soluto sobre sua superfície. Usado em cultura de tecidos
para adsorver substâncias inibitórias, fitorreguladores em excesso, fenóis, e com isso evitar a
oxidação dos explantes.
Célula: unidade dos seres vivos. Em procariotos, é formada pro uma dupla membrana especializada
onde se processa a respiração. Contém um cromossomo principal, circular, unido à membrana
interna, podendo haver cópias de um DNA extra, também circular, dito plasmídeo. Em eucariotos,
a célula é formada por várias organelas, ou seja, compartimentos que respondem por funções
específicas, como o núcleo que guarda os cromossomos.
Célula somática: célula não envolvida na reprodução sexual, célula do corpo ou soma (em grego,
corpo), dos organismos.
Clone: do grego, klón, broto. 1. Parte da planta que dá origem a um novo indivíduo por brotação e,
por isso, é igual à planta-mãe. 2. Grupo de células ou indivíduos geneticamente idênticos e que
são resultado de reprodução assexual, ou por manipulação em laboratório. 3. Variedade derivada
da seleção de um ou poucos indivíduos e que dá origem, pro propagação vegetativa, a uma
população geneticamente uniforme, como ocorre em cana-de-açúcar e mandioca. 4. Conjunto de
células idênticas nas quais foi inserido um vetor ou um cromossomo hospedeiro. 5. Segmento de
DNA (inserto) do qual se obtêm múltiplas cópias por multiplicação das células transformadas com
o segmento.
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Glossário
Cultura axênica: cultivo livre de contaminantes externos e endofíticos. Difere de cultura asséptica.
Cultura contínua: cultivo em suspensão continuamente suprimida com nutrientes pelo influxo de
meio nutritivo fresco e cujo volume é mantido constante. Na cultura contínua fechada