Você está na página 1de 9

Capítulo 7

O que é autocontrole, tomada de decisão e


solução de problemas na perspectiva de
B.F. Skinner1

Yara d a m Nico
n/c-sn

A deflnlçAo skmnerlana de autocontrole, tomada de decisAo e solução de problemas é discutida a partir do compromisso
educacional com a formação para o futuro Por mero destes três comportamentos, o indivíduo rnanipula variáveis ambientais
das quais outro comportamento seu é funçAo De acordo com Skinner (1953), estes comportamento» constituem o repertório
especial que prepara os estudantes para o futuro As definições de autocontrole, tomada de decisão e soluçAo de problemas
sAo apresentada» ressaltando as características que permitem agrupar e diferenciar estes comportamentos No autocontrole,
o indivíduo A capa/ de identificar as respostas e conseqüências antes de manipular as variáveis que alteram a probabilidade
de um comportamento especifico Na tomada de decisáo, o indivíduo identifica as respostas possíveis, mas nAo suas
conseqüências. Neste caso, a manipulação de variáveis aumenta o conhecimento acerca das conseqüências envolvidas
nos cursos de açAo alternativos. Jé na soluçAo de problemas, o Indivíduo nêo é capa/ de identificar qual a resposta que
produz um determinado reforçador. Portanto, identifica o reforço, mas nAo a resposta.
Palavras-chave: autocontrole, tomada de decisAo, soluçAo de problemas, B.F. Skinner, oducaçAo

With consldoration to the educational compromise of preparlng individuais to future contingências, the current pnper
dlscusses Skinner'8 defimtions of self-control, decision-maklng and problem solving. Individuais manipulato envlronmental
variables of other behaviors through these three behaviors. According to Skinner (1953), these aro behaviors that constítute
a spocial repertoire that wlll prepare students for the future. The definitions of self-control, decislon-making and problem
solving are presented in such a way that characteristics allowmg them to be grouped and differentiated are highlightod.
Regarding self-control, the individual is able to identify the responses and consequences before he manlpulates the variables
that will change the probability of a specific behavior. Regarding decision-making, the individual identifies the possible
responses but doesn't Identlfy its consequences In this case, the manipulatlon of variables Increases the knowledge of
consequences Involved in the process of taking alternatlve actions. Regarding problem solving, the individual is not ablo to
identify whlch response produces a specific remforcer, yet, that individual Is able to identlfy the relnforcer
Key w o rd t: self-control, decision-making, problem solution, B.F. Skinner, education.

Antes de definir o que ó autocontrole, tomada de decisão e solução de problemas


na perspectiva de B.F. Skinner, vafe discutir qual enfoque torna importante compreender
estes três comportamentos em conjunto. Certamente, há uma gama de condições sob as
quais um analista do comportamento poderia vir a abordar o conjunto destes três
'VersAo modificada de trabalho apresentado na atividade “primeiros passos’ no IX Encontro da Associaçflo Brasllolra de
Modicina e Psicoterapla Comportamental. As alterações presentes nesta versAo foram reall/adas com baso na dissertaçAo
da autora ‘ A contrlbuiçAo de B.F Skinner para o ensino do autocontrole como objetivo da educaçAo’ (2001) orientada pelo
Prof Dr Serglo Vasconcelos de Luna e elaborada na vigência de Bolsa de Mestrado Capes-Demanda Social.

62 Vuw Cldro Nico


comportamentos. Neste trabalho, os comportamentos de autocontrole, tomada de decisão
e solução de problemas são agrupados tendo como ponto de partida a definição skinneriana
de educação, a saber; "o estabelecimento de comportamentos que serão vantajosos para
o indivíduo e para outros em algum tempo futuro" (1953, p.402).
Desta definição podem ser retiradas duas grandes considerações a respeito da
formulação de Skinner (1953) sobre educação. A primeira delas é que os comportamentos
a ser estabelecidos pela agência educacional devem ser vantajosos não apenas para o
indivíduo como tambóm para outros - portanto, qualquer prática educacional que defenda
a promoção de interesses individualistas não se enquadra na definição skinneriana de
educação, é preciso que os comportamentos definidos como alvo do ensino tragam
benefícios tanto para o indivíduo quanto para os membros do grupo no qual ele se insere;
a segunda consideração refere-se à formação para o futuro. Não basta que a educação
estabeleça comportamentos vantajosos para o indivíduo e para o grupo. Se tais vantagens
forem apenas imediatas, a educação não terá cumprido sua função. Assim, discutir a
definição de Skinner sobre educação implica discutir um duplo compromisso: um
compromisso com o grupo e um compromisso com a formação para o futuro.
Apesar de entender que abordar o objetivo educacional proposto por Skinner implica
ponderar sobre estes dois grandes parâmetros, o presente trabalho atém-se, apenas, â
discussão de algumas implicações decorrentes do compromisso com a formação para o
futuro.
Uma vertente de análise sobre as maneiras de que uma instituição de ensino
dispõe para preparar seus alunos para o futuro seria a consideração de quais contingências
de ensino são planejadas para aumentar a probabilidade de que o comportamento adquirido
sob as condições de ensino formal continue a ocorrer em ocasiões temporalmente distantes
da formação do aluno. Entretanto, este planejamento de contingências não resolve
completamente o desafio de formar para o futuro, na medida em que isto implica,
necessariamente, preparar para contingências que não podem ser previstas no momento
do ensino. Portanto, além de preparar o estudante para se comportar, no futuro, na ausência
dos membros da agência educacional, uma instituição de ensino deveria prepará-los para
assim o fazer sob contingências completamente novas e imprevisíveis.
A discussão sobre a definição skinneriana de autocontrole, tomada de decisão e
solução de problemas torna-se particularmente relevante quando se considera a formação
para contingências desconhecidas no momento do ensino. De acordo com Skinner (1953),
estes são os três comportamentos que compõem o repertório especial por meio do qual
os próprios alunos podem chegar à emissão das respostas certas sob novas contingências
e sem o auxílio dos membros da agência educacional.
O repertório composto pelos comportamentos de autocontrole, tomada de decisão
e solução de problemas ó tido por Skinner (1953) como especial justamente porque, por
meio dele, o próprio sujeito poderá chegar ás respostas adequadas em momentos futuros.
Mas, o que significa dizer que ó o próprio sujeito quem vai chegar a estas respostas?
Sem mais explicações, seria possível concluir, indevidamente, que o autor defende
a possibilidade de existir um repertório por meio do qual o sujeito seja completamente
independente e autônomo em relação ao ambiente e, portanto, que defende a possibilidade

Sobre Comportamento c CojjmçJo 63


do próprio indivíduo, a despeito de sua interação com o mundo, chegar ás respostas
adequadas sob as contingências do futuro.

Como Skinner parte da concepção de que o comportamento é produzido,


construído, em função de seus determinantes ambientais, os quais, por sua vez, são
produzidos e construídos pela própria ação do comportamento sobre o ambiente, não faz
sentido supor a possibilidade de um repertório comportamental que seja especial pelo fato
de manter uma relação autônoma com o mundo, no sentido de ser livre de suas
determinações.
Na medida em que a Análise do Comportamento tem como pressuposto que todo
e qualquer comportamento estará, sempre, sujeito a determinações ambientais seria no
m ínim o contra-senso supor que Skinner, ao tratar deste repertório especial, estivesse
propondo o desenvolvimento de comportamentos independentes e autônomos no sentido
destes prescindirem da determinação de variáveis ambientais.
Mas, então, em que sentido o próprio sujeito poderá chegar às respostas que
serão adequadas no futuro? Como Skinner caracteriza este repertório especial? Responder
tais questões é o objetivo deste trabalho.
De acordo com Skinner (1953), o repertório que prepara para o futuro é especial
porque envolve um tipo peculiar de interação do indivíduo com o ambiente na qual o próprio
indivíduo, e não um outro agente, arranja as condições necessárias para a emissão de
uma determinada resposta.
Arranjar as condições necessárias para alterar a probabilidade de seu próprio
comportamento é comportar-se; comportar-se manipulando variáveis ambientais das quais
um outro comportamento seu é função. Analisando mais de perto, há sempre duas
respostas envolvidas num episódio deste tipo: R1 e R2. R1 ó a manipulação de variáveis
que produz modificações ambientais responsáveis pela alteração na probabilidade de R2.
A emissão de R2, por sua vez, reforça R1.

Modificação ambiental R2

manipular variáveis probabilidade


ambientais alterada

Sr

Figura 1: Esquema da interação sujeito-ambiente quando o indivíduo manipula


variáveis ambientais das quais outro comportamento seu ó função

Assim, o que caracteriza este repertório especial ó a emissão de respostas (R1)


que, ao manipularem variáveis ambientais, alteram a probabilidade de outras respostas
(R2) do próprio indivíduo que efetuou a manipulação, sendo a alteração na probabilidade
de R2, o reforço que mantém a ocorrência de R1. É nesse sentido que o desenvolvimento
de um repertório deste tipo pode capacitar o indivíduo a chegar, por ele mesmo, à emissão

64 Ydra l'luro Nico


das respostas adequadas no futuro. Se tiver aprendido a manipular variáveis ambientais
das quais seu próprio comportamento ó função, ele será capaz de modificar o ambiente de
modo a alterar a probabilidade de tal comportamento.
Tendo feito este percurso, pode-se começar a definir os comportamentos de
autocontrole, tomada de decisão e solução de problemas os quais, segundo Skinner
(1953), constituem o repertório especial de manipular variáveis das quais seu próprio
comportamento é função. Estes três comportamentos serão apresentados apenas com
base nas definições fornecidas por Skinner em 19532, visto que os "primeiros passos"
exigem mais uma aproximação do que um aprofundamento no tema.

Autocontrole
O conceito de autocontrole, segundo Skinner (1953), considera "a possibilidade
de que o indivíduo possa controlar seu próprio comportamento" (p.228). Por controlar seu
próprio comportamento, entenda-se emitir resposta de manipular as variáveis ambientais
(resposta controladora) das quais uma outra resposta (resposta controlada) é função.
Portanto, a resposta controladora (R1) provê estímulos que alteram a probabilidade da
resposta controlada (R2) e esta, por sua vez, reforça e mantém a resposta controladora.
Vale destacar que um indivíduo pode manipular variáveis ambientais tanto para aumentar
quanto para diminuir a probabilidade da resposta controlada.

RESPOSTA --------   Modificação ambiental --------   RESPOSTA


CONTROLADORA CONTROLADA

manipular variáveis probabilidade


ambientais alterada
 
Sr

Figura 2: Esquema da interação sujeito-ambiente no autocontrole.

Para começar a analisar quais as contingências envolvidas no autocontrole é


necessário ter como ponto de partida a seguinte pergunta: "Por que alguém se
autocontrola?”.
A análise de um exemplo pode ajudar a identificar as variáveis críticas no autocontrole.
Considere um indivíduo que, nos últimos anos, ao chegar a este congresso sai à noite com
amigos que não vê há tempos, toma bebidas alcoólicas e, numa determinada hora,
simplesmente paga sua conta e volta de carona. Suponha que este mesmo sujeito chegou ao
presente congresso na noite anterior e saiu, como de costume, com seus colegas. Entretanto,
para conseguir ir embora, ele precisou programar o relógio para tocar numa hora determinada,
precisou ir com o seu próprio carro e precisou, também, recusar bebidas alcoólicas.

'Para uma discussfio pormenorizada das formulações skinneriarms sobra autocontrole e resolução de problemas recomenda-
se, respectivamente, Nico (2001) e Moro? (1991).

Sobre Comportamento e Coflnivílo 65


Porque este indivíduo teve que programar o relógio, recusar bebidas alcoólicas e
ir com seu próprio carro para conseguir ir embora? Quais as razões que o levaram a
manipular variáveis ambientais para emitira resposta de "ir embora"? Porque, neste dia,
ele nào se comportou da forma que se comportara no passado?
Como analistas do comportamento, devemos responder que, muito provavelmente,
as condições presentes neste dia não eram suficientes para evocar a resposta de “ir
embora". Não fosse a manipulação de variáveis (programar o relógio, recusar bebidas
alcoólicas e ir com seu próprio carro), a resposta “ir embora" não seria emitida. Assim,
uma das razões que levou á manipulação de variáveis foi a baixa probabilidade de emitir a
resposta controlada, “ir embora".
Mas, se a resposta de "ficar com os colegas" tinha maior probabilidade de ocorrer,
por que o sujeito não ficou com eles até o momento em que a resposta de "ir embora”
tivesse sua probabilidade aumentada? Como analistas do comportamento, devemos
suspeitar que as conseqüências de emitir a resposta com maior força (ficar com os amigos)
eram, provavelmente, aversivas.
Esta breve análise permite concluir que tal comportamento de autocontrole tem
sua origem no conflito entre conseqüências: a resposta com maior probabilidade (ficar
com os amigos) produzia tanto reforçadores positivos imediatos (provenientes do contato
com os colegas) quanto aversivos atrasados (que ainda não se sabe quais são).
Uma análise mais cuidadosa do exemplo ajuda a esclarecer esta defesa: suponha
que o indivíduo soubesse que ontem, chegando ao congresso, encontraria amigos que
não vê há muito tempo e com os quais costuma sair à noite e conversar por muitas horas
(atividade para ele extremamente reforçadora). Entretanto, ele também sabia que deveria
apresentar um trabalho, neste congresso, logo hoje, no primeiro horário da manhã. Portanto,
caso ficasse conversando e bebendo com seus colegas, não produziria uma boa
apresentação (falaria sem muita voz, cansado, com baixa capacidade de concentração
etc.).
Aqui estão as razões de seu autocontrole! A resposta de “ficar com os amigos"
tinha alta probabilidade porque implicava produção imediata de reforços positivos (contato
com os amigos) mas, ao mesmo tempo, sua emissão implicava punição atrasada (ter
desempenho ruim na fala da manhã seguinte). Este conflito originou a possibilidade de
manipular variáveis ambientais (comportamento de autocontrole) para aumentar a
probabilidade de uma resposta pouco provável (ir embora). O que está se defendendo é
que não há outra razão para justificar porque alguém se autocontrola a não ser que se
considere a existência de conseqüências conflitantes. Caso a resposta de “ficar com os
amigos" produzisse apenas reforçadores positivos, o sujeito não precisaria manipular
variáveis ambientais para aumentar a probabilidade de uma resposta incompatível com
esta (ir embora): por outro lado, caso a resposta de "ficar com os amigos" produzisse
apenas conseqüências aversivas, a probabilidade de emitir a resposta de “ir embora" seria
aíta, não dependendo da manipulação de variáveis ambientais.
Sobre este ponto, vale a seguinte observação: o autocontrole será tanto mais
necessário quanto maior for o conflito entre as contingências de reforço. Assim, sob
condições nas quais a punição for branda e o reforçador extremamente poderoso, o indivíduo
não precisará se autocontrolar: ele irá comportar-se sob controle preponderante do

66 Vdfj Claro Nico


reforçador. Se a condição for oposta, ou seja, a punição for extremamente poderosa e o
reforçador não for tão valioso naquele momento, não haverá necessidade de autocontrole:
o indivíduo irá fugir, esquivar-se ou contracontrolar-se, sob controle preponderante das
punições.
Tendo feito a análise das variáveis que levam ao autocontrole, pode-se apresentar
a característica que, segundo Skinner (1953), diferencia o autocontrole da tomada de
decisão e solução de problemas, ou seja, diferencia autocontrole das outras duas formas
de manipulação de variáveis: apenas no autocontrole o indivíduo conhece, antecipadamente,
tanto as respostas possíveis quanto as conseqüências a serem produzidas por cada uma
delas.
Retornando ao exemplo, o sujeito apenas emite o comportamento de autocontrole
(programar o relógio, recusar bebidas alcoólicas e ir com o próprio carro) para aumentar a
probabilidade de “ir embora", porque tem conhecimento prévio tanto das duas respostas
possíveis (“ficar" e “ir embora") quanto das conseqüências que seriam produzidas por cada
uma destas respostas. É apenas porque o indivíduo sabe que se ficar com os amigos até
tarde terá um desempenho ruim na palestra é que ele se autocontrola.

Tom ada de d e cisã o


No autocontrole o indivíduo é capaz de identificar as respostas e conseqüências
antes de manipular as variáveis que alteram a probabilidade de um comportamento
específico. Entretanto, há momentos em que não se sabe quais são as conseqüências
envolvidas, caso o comportamento seja um ou outro. Diante de tal situação, diz-se que o
indivíduo toma decisão, manipulando variáveis que aumentam a probabilidade de "escolher"
este ou aquele curso de ação. Portanto, o que caracteriza a tomada de decisão é o
desconhecimento prévio, por parte do sujeito que se comporta, das conseqüências a
serem produzidas por um e outro comportamento. Assim, diferentemente do autocontrole,
o comportamento de tomar uma decisão não consiste na aplicação de um conjunto de
técnicas de modo a tornar mais provável uma resposta antecipadamente identificada. O
que define a tomada de decisão é a emissão de certos comportamentos que aumentam a
probabilidade de "optar por", decidir qual curso de ação será tomado. Dessa forma, um
indivíduo torna-se mais capaz de tomar uma decisão quando se comporta de modo a
produzir conhecimento acerca das conseqüências envolvidas em um e outro comportamento.
Assim, na tomada de decisão, o indivíduo conhece as respostas alternativas,
mas não as conseqüências a serem produzidas por uma e outra resposta. Se, no
autocontrole, há duas respostas possíveis, sendo que uma tem maior probabilidade que a
outra, e a manipulação de variáveis ajuda a alterar, aumentar ou diminuir, a probabilidade
da resposta controlada, na tomada de decisão, as duas respostas possíveis têm
relativamente a mesma probabilidade de ocorrer e a manipulação de variáveis consiste em
produzir conhecimento adicional sobre as conseqüências, tornando mais provável uma
ação em relação a outra.
Inúmeros exemplos cotidianos ilustram comportamentos de tomar decisões. Por
exemplo, alguns de vocês podem ter ficados indecisos entre assistir este ou outro "primeiros
passos”. O que significa ter ficado indeciso? Significa que estes dois, ou mais, cursos de

Sobre Comportamento e Co^niçâo 67


ação alternativos tinham probabilidade semelhante. Ou seja, suponha que no momento
em que vocês entraram em contato com a programação para este horário, duas ou mais
atividades sinalizavam semelhante probabilidade de reforço.
Aqueles de vocês que "escolheram" prontamente qual resposta emitir, qual atividade
assistir, não entraram num processo de tomada de decisão, pois já havia uma resposta
com maior probabilidade que outras. Aqueles que, mesmo abrindo a programação e lendo
os temas das atividades ainda encontravam-se na condição de não saber as conseqüências
relevantes a serem produzidas pelas respostas de Ir assistira atividade A ou B, podem ter
manipulado variáveis ambientais de modo a produzir conhecimento das conseqüências.
Por exemplo, "olhar na programação se existe outra mesa, palestra em que algum destes
temas vai ser discutido novamente"; “ler os resumos novamente"; "ler o nome das pessoas
que irão falar”; "verificar se um colega vai ver aquela outra atividade" etc. Todas estas são
respostas que manipulam variáveis ambientais das quais o comportamento de ir ver esta
ou aquela atividade é função.
Estes exemplos seriam de “tomada de decisão" se as respostas de manipular
variáveis alterassem a probabilidade da resposta de ir assistir A ou B. Vale ressaltar que o
termo "tomar uma decisão" não se refere à emissão do ato decidido (vou ver A), mas sim
ao conjunto de respostas (olhar na programação, ler os resumos, verificar se o colega vai
assistir a outra atividade) que, ao manipular variáveis (R1), produz fontes suplementares
de estimulação, levando ao aumento na probabilidade de emitir a resposta de decidir (R2).

RESPOSTA DE   Modificação ambiental   RESPOSTA DE


TOMAR DECISÕES DECIDIR

manipular variáveis probabilidade


ambientais alterada
 

Sr

Figura 3: Esquema da interação sujeito-ambiente na tomada de decisão.

Assim, se alguém estava indeciso até o último instante e fez “minha mãe mandou
escolher este daqui, mas como eu sou teimoso escolho este daqui!", pode ter emitido
uma resposta "de decidir" mas, com certeza, não de "tomar uma decisão".
Como qualquer outro comportamento, também o de tomar uma decisão deve ser
explicado em função das conseqüências por ele produzidas. A manipulação de variáveis,
neste caso, pode ter como conseqüência reforçadora a remoção de uma estimulação
aversiva, no caso a remoção do conflito envolvido na indecisão (vou ver este ou aquele
"primeiros passos"), ou a produção de conseqüências reforçadoras (decidi ver A ou B e,
desta forma, produzir reforços). Este dois tipos de reforçamentos, negativo e positivo,
aumentariam a probabilidade não apenas da resposta final (no próximo congresso voltar a
ver A ou B), como também do comportamento de "tomar decisões” (quando passar por
uma indecisão semelhante, emitir estas respostas de manipulação de variáveis).

68 Y.ir.i Claro Nico


S o lu çã o de p ro blem a

Segundo Skinner (1953): "Há situações nas quais manipulamos variáveis para
alterar a probabilidade de uma resposta que não pode ser identificada até que seja emitida"
(p. 245). Este ó, justamente, o caso da solução de problemas.
Assim, no autocontrole o indivíduo conhece, antecipadamente, as respostas e as
conseqüências de uma e outra ação e na tomada de decisão, o indivíduo conhece as
respostas alternativas mas não suas conseqüências. Já na solução de problemas, o
indivíduo não é capaz de identificar qual a resposta que produz um determinado reforçador;
portanto, identifica o reforço mas não a resposta.
Para entender de que modo um indivíduo manipula variáveis na solução de
problemas, é preciso definir, em primeiro lugar, o que é uma situação-problema: aquela
diante da qual um indivíduo não dispõe da resposta que produz reforço. O importante é que
esta resposta faz parte do repertório comportamental do indivíduo e ele apenas não a
emite porque é incapaz de identificá-la.
Suponha que alguém saia daqui e encontre uma pessoa que conhece mas, ao
apresentá-la para um colega, esqueça seu nome. Aqui está uma situação-problema! O
indivíduo: 1) identifica o reforço (apresentar corretamente o conhecido para o amigo); 2) a
resposta que produz o reforço faz parte de seu repertório comportamental (já disse alguma
vez aquele nome, "sabe" dizê-lo) mas, por qualquer razão, 3) não dispõe prontamente da
resposta que produz o reforço (não é capaz de identificar o nome prontamente; não "lembra"
do nome).
Imagine que, diante de tal situação, o indivíduo comece a manipular variáveis de
modo a aumentar a probabilidade da resposta de dizer o nome correto, ou seja, aumentar
a probabilidade da resposta-solução. Para aumentar a probabilidade desta resposta começa,
por exemplo, a perguntar: "qual foi a última vez que nos vimos?"; "quem nos apresentou
mesmo?". As alterações ambientais produzidas por estas perguntas, ou seja, as respostas
da outra pessoa, podem funcionar como estimulações que levam á resposta solução:
lembrar o nome. Se mesmo assim, o nome não for lembrado, o indivíduo pode começar a
emitir uma série de outras manipulações, por exemplo, encobertas: percorrer repetidamente
o alfabeto para ver se lembra com que letra começa o nome, pensar em vários acentos
tônicos, percorrer as nacionalidades "o nome é alemão, italiano, francês, brasileiro...?".
Se o conjunto de todas estas manipulação de variáveis, neste caso, abertas e
encobertas, alterassem a situação-problema, levando ao aparecimento da resposta-solução
(lembrar o nome), diríamos que o problema foi resolvido.
Deste modo, na solução de problemas, a resposta-solução (R2) deve ser sempre
analisada em conjunto com as interações predecessoras que tornaram mais provável sua
emissão. Estas interações envolvem, necessariamente, comportamentos de manipular
variáveis. Na solução de problemas, os comportamentos de manipular variáveis são
denominados comportamentos precorrentes ou preliminares (R1). Vale ressaltar que a
relação entre precorrentes e o aparecimento da solução é, simplesmente, a relação entre
a manipulação de variáveis e a emissão de uma resposta solução.

Sobre ComportimciJlo c CottnifAo 69


RESPOSTA ^ Modificação ambiental »> RESPOSTA-
PRÉCORRENTE SOLUÇÃO

manipular variáveis probabilidade


a m bie nta is altera da
 

Sr

Figura 4: Esquema da interação sujeito-ambiente na solução de problemas

Vale destacar que, assim como decidir não é emitir o ato decidido, mas sim um
conjunto de comportamentos que levam à emissão deste ato, solucionar um problema
não é emitira resposta ftnaf (dizer o nome), mas sim emitir um conjunto de comportamentos
precorrentes que aumentem a probabilidade da resposta-solução. Este trabalho teve como
objetivo descrever os comportamentos que compõem o repertório especial por meio do
qual os indivíduos podem estar preparados para o futuro. Tais comportamentos estão
envolvidos num tipo de repertório que ó, usualmente, tido como evidência de autonomia.
Em nossa cultura, os comportamentos de autocontrole, tomada de decisão e solução de
problemas são tidos como exemplos máximos da autonomia e independência do sujeito.
Espera-se ter esclarecido que, para Skinner, o sujeito pode ser independente quando
emite um destes três comportamentos na medida em que ele próprio, e não outra pessoa,
arranja as condições necessárias para a emissão de outra resposta sua. Além disso,
espera-se ter esclarecido que esta independência irá envolver, sempre, uma constante
interação com o ambiente.

R e fe rê n c ia s

Moroz, M. (1991). Resolução de problemas: problema a ser solucionado conceituai e


empiricamente - uma análise da interpretação de B. F. Skinner. Tese de Doutorado.
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Sâo Paulo.
Nico, Y. C. (2001). A contribuição de B. F. Skinner para o ensino do autocontrole como objetivo
da educação. Dissertação de mestrado. Pontifícia Universidade Católica de Sâo Paulo.
Sâo Pauio.

Skinner, B.F. (1953). Science and Human Behavior. New York: Macmillan.

70 Yara Claro Nico

Você também pode gostar