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GRUPO I
Apresente as suas respostas de forma bem estruturada.
A
Leia com atenção o poema «Sou um evadido», de Fernando Pessoa.
Sou um evadido.
Logo que nasci
Fecharam-me em mim,
Ah, mas eu fugi.
5 Se a gente se cansa
Do mesmo lugar,
Do mesmo ser
Por que não se cansar?
15 Ser um é cadeia,
Ser eu não é ser.
Viverei fugindo
Mas vivo a valer.
Fernando Pessoa,
Poesias inéditas (1930-1935),
Lisboa, Ática, 1955
Mód PD1003
1. Explique a metáfora presente no primeiro verso, relacionando-a com o sentido
global do poema.
2. Indique o valor expressivo da interrogação retórica que constitui a segunda estrofe.
3. Considerando os versos «Ser um é cadeia, / Ser eu é não ser.» (vv. 13-14),
explicite o modo como o sujeito poético concebe a sua existência.
B
1. Classifique cada uma das afirmações como verdadeiras (V) ou falsas (F),
considerando a poesia de Alberto Caeiro. [15 itens x 5 pontos = 75 pontos]
GRUPO II
Mód PD1003
Vila Nova, 7 de novembro de 1934 — Acabou hoje tudo. Como sempre, fiquei
derrotado. Quando já não era possível ter ilusões, agarrava-me a uma ilusão ainda
maior e... esperava. É coisa que nunca pude destruir em mim: a ideia de que um ser,
desde que nasce, fica logo com direito (e obrigação) de viver os sessenta anos da
média. Pelo menos os sessenta anos da média. Muitas vezes me aconteceu ir a férias
e assistir a uma sementeira de meu Pai. Depois, ver o milhão ou o linho a despontar.
E, embora sabendo que aquelas vidas eram efémeras, voltar à leira nas férias
seguintes e ficar desolado ao ver lá, em vez de linho ou milhão, um batatal espesso. E
dizer a meu Pai: «— Então o linho que havia aqui? — Colheu-se em agosto, filho.» Em
agosto, realmente, o linho amadurece. Nos curtos meses que a natureza determina,
tira ao sol o mais calor que pode e enche-se dele. Depois dá sinais de cansaço, e
morre.
Mas este pequenito ainda não tinha bebido nenhum sol. Ainda estava na
primeira semana. Nem o caule sobriamente fibroso, nem a flor azul e delicada, nem a
semente parda e madura. E foi por tudo isto que, ao chegar ao quarto, tive a sensação
mais dolorosa da minha vida. Ali estava, ainda não substituído por cevada ou centeio,
mas prestes. A mãe lavada em pranto. E ele, muito branco, muito discreto, voltado
para a parede, a renegar de costas os remédios inúteis espalhados pela mesa-
de--cabeceira.
Um médico nem sequer pode chorar. Só pode pegar no bracito magro e morno,
apertar a artéria inerte e ficar uns segundos a trincar os dentes. Depois sair sem dizer
nada.
Quem saberá por aí uma palavra para estes momentos? Uma palavra para um
médico dizer a esta mãe, que entregou à vida um filho vivo e recebeu da vida um filho
morto.
Miguel Torga, Diário, vols. I-VIII (1941-1959),
Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1995.
Mód PD1003
GRUPO III
«Viverei fugindo / Mas vivo a valer»
Fernando Pessoa
Mód PD1003
Proposta de correcção
Grupo I
A
1. O sonhador vive com uma «constante corrente de devaneios» (l. 4) no seu espírito,
dedicando a sua existência à atividade de sonhar: «uma vida devotada ao sonho, de uma
alma educada só em sonhar» (l. 9). A inaptidão para a ação traduz-se na dificuldade em
agir e em movimentar-se no mundo físico — «ter que dar passos e fazer gestos» (l. 11) —,
em falar com os outros e em encontrar formas de entretenimento. A relação entre o sonho
e esta inaptidão explica-se pelo facto de, na perspetiva do sonhador, a realidade ser
motivo de perturbação — «toda a realidade me perturba» (ll. 15-16) — e as ações dos
outros surgirem como algo absurdo e incoerente.
2. O sonhador adquire um conhecimento da Humanidade porque consegue realizar uma
introspeção profunda de si mesmo, a qual lhe permite compreender, com grande lucidez,
«ideias», «sentimentos», «impulsos» e «atitudes» (ll. 26-27). Este poder de autoanálise
permite que o sonhador identifique nos outros os gestos que correspondem a
determinados factos do mundo interior, dado que, devido à introspeção que realiza
constantemente, sabe perfeitamente como é que eles se manifestam: «Não há baixo
impulso, como não há nobre intuito que me não tenha sido relâmpago na alma; e eu sei
com que gestos cada um se mostra» (ll. 33-34). Concluindo, a análise interior e a
capacidade de ver nitidamente os acontecimentos do seu mundo interior permitem que o
sonhador domine os mecanismos do seu «psiquismo» (l. 38) e o dos outros.
3. Segundo a metáfora do último período do texto, a «máquina do devaneio» permite tirar
fotografias à vida, captando o mais importante, que, segundo o sonhador, são os aspetos
imateriais. Por outras palavras, o sonho permite compreender a vida sem considerar a
dimensão real, racional e pragmática que a maior parte da humanidade conhece; o
devaneio dá a conhecer a vida abstraindo do «pesado, do útil e do circunscrito» (ll. 54-55).
Assim, na afirmação de que «saber escrever» é «ver em sonho a vida» (ll. 51-52), está
presente a conceção de que a escrita, a literatura, é a expressão daquilo que é a vida na
sua imaterialidade, na dimensão que só os sonhadores conhecem.
B
1. a. F; b. V; c. V; d. F; e. V; f. V; g. F; h. V; i. F; j. V; k. V; l. V;
m. F; n. F.
2. GRUPO II
3. 1. (A).
4. 2. (D).
5. 3. (C).
6. 4. (A).
7. 5. (D).
8. 6. (A).
9. 7. (B).
10.8. Coesão referencial.
11.9. Sujeito simples.
12. 10. Oração subordinada adverbial concessiva.
Mód PD1003