Você está na página 1de 6

Ano Letivo 2021 / 2022

INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO / RECUPERAÇÃO


Curso CP TC19 3 ºAno
Disciplina: Português
Designação do Módulo / UFCD: Fernando Pessoa (Ortónimo e Heterónimos)
Instrumentos de avaliação / recuperação:
Teste diagnóstico Ficha de trabalho
Teste sumativo x Trabalho de grupo Outro:___________________
Teste de recuperação PAR

Data: 04/ 03 / 2022 Classificação:___________ valores Docente: _______________________

Aluno:_______________________________________ Nº ___ Tomei conhecimento: _____________

GRUPO I
Apresente as suas respostas de forma bem estruturada.

A
Leia com atenção o poema «Sou um evadido», de Fernando Pessoa.
Sou um evadido.
Logo que nasci
Fecharam-me em mim,
Ah, mas eu fugi.

5 Se a gente se cansa
Do mesmo lugar,
Do mesmo ser
Por que não se cansar?

10 Minha alma procura-me


Mas eu ando a monte,
Oxalá que ela
Nunca me encontre.

15 Ser um é cadeia,
Ser eu não é ser.
Viverei fugindo
Mas vivo a valer.
Fernando Pessoa,
Poesias inéditas (1930-1935),
Lisboa, Ática, 1955

Mód PD1003
1. Explique a metáfora presente no primeiro verso, relacionando-a com o sentido
global do poema.
2. Indique o valor expressivo da interrogação retórica que constitui a segunda estrofe.
3. Considerando os versos «Ser um é cadeia, / Ser eu é não ser.» (vv. 13-14),
explicite o modo como o sujeito poético concebe a sua existência.

B
1. Classifique cada uma das afirmações como verdadeiras (V) ou falsas (F),
considerando a poesia de Alberto Caeiro. [15 itens x 5 pontos = 75 pontos]

 a. Caeiro é o heterónimo pessoano mais instruído.


 b. Alberto Caeiro é o poeta da Natureza.
 c. Este heterónimo tem tendências neopagãs.
 d. Caeiro é considerado o mestre apenas para heterónimos pessoanos.
 e. Caeiro apresenta-se como um mero guardador de rebanhos, que vê de forma
objetiva e natural a realidade circundante.
 f. A Natureza, para Caeiro, está em constante renovação.
 g. Caeiro utiliza uma linguagem erudita e construções frásicas complexas.
 h. Caeiro é sensacionista porque privilegia aquilo que capta pelas sensações.
 i. A realidade é captada pelo recurso à sensação visual, a única que interessa a
Caeiro.
 j. O verdadeiro sensacionismo resulta da supremacia das sensações oferecidas
pelos órgãos sensoriais.
 k. Caeiro rejeita o pensamento e vive pelas sensações.
 l. “Pensar incomoda como andar à chuva” significa que o pensamento gera mal-
estar, infelicidade.
 m. A apologia da simplicidade da vida rural é uma atitude exclusiva do
heterónimo Caeiro.
 n. O uso do pensamento traz felicidade a este heterónimo.

GRUPO II

Nas respostas aos itens de escolha múltipla, selecione a opção correta.


Escreva, na folha de respostas, o número do item e a letra que identifica a opção
escolhida.
Leia o excerto que se segue, do Diário de Miguel Torga.

Mód PD1003
Vila Nova, 7 de novembro de 1934 — Acabou hoje tudo. Como sempre, fiquei
derrotado. Quando já não era possível ter ilusões, agarrava-me a uma ilusão ainda
maior e... esperava. É coisa que nunca pude destruir em mim: a ideia de que um ser,
desde que nasce, fica logo com direito (e obrigação) de viver os sessenta anos da
média. Pelo menos os sessenta anos da média. Muitas vezes me aconteceu ir a férias
e assistir a uma sementeira de meu Pai. Depois, ver o milhão ou o linho a despontar.
E, embora sabendo que aquelas vidas eram efémeras, voltar à leira nas férias
seguintes e ficar desolado ao ver lá, em vez de linho ou milhão, um batatal espesso. E
dizer a meu Pai: «— Então o linho que havia aqui? — Colheu-se em agosto, filho.» Em
agosto, realmente, o linho amadurece. Nos curtos meses que a natureza determina,
tira ao sol o mais calor que pode e enche-se dele. Depois dá sinais de cansaço, e
morre.
Mas este pequenito ainda não tinha bebido nenhum sol. Ainda estava na
primeira semana. Nem o caule sobriamente fibroso, nem a flor azul e delicada, nem a
semente parda e madura. E foi por tudo isto que, ao chegar ao quarto, tive a sensação
mais dolorosa da minha vida. Ali estava, ainda não substituído por cevada ou centeio,
mas prestes. A mãe lavada em pranto. E ele, muito branco, muito discreto, voltado
para a parede, a renegar de costas os remédios inúteis espalhados pela mesa-
de--cabeceira.
Um médico nem sequer pode chorar. Só pode pegar no bracito magro e morno,
apertar a artéria inerte e ficar uns segundos a trincar os dentes. Depois sair sem dizer
nada.
Quem saberá por aí uma palavra para estes momentos? Uma palavra para um
médico dizer a esta mãe, que entregou à vida um filho vivo e recebeu da vida um filho
morto.
Miguel Torga, Diário, vols. I-VIII (1941-1959),
Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1995.

1. Além da presença da data, outras características do género diarístico evidenciadas


no texto apresentado são
(A) o relato de um acontecimento do quotidiano e a existência de marcas de
subjetividade nessa narrativa.
(B) a descrição sucinta de um objeto e a presença de um comentário crítico acerca
do mesmo.
(C) o relato de um acontecimento do quotidiano e a preocupação de omitir juízos de
valor.
(D) a explicitação de um ponto de vista e a apresentação de argumentos e
exemplos.
2. Com a referência à «sementeira» (l. 6), é narrado um acontecimento anterior. O
propósito da introdução do relato deste acontecimento é
(A) mostrar a importância da figura paterna na vida do narrador.
(B) fazer uma referência ao tema da transitoriedade da vida.
(C) comprovar o fascínio do narrador pela Natureza.
(D) demonstrar a austeridade do pai do narrador.
Mód PD1003
3. Encontramos um exemplo de dêixis temporal na frase
(A) «Acabou hoje tudo.» (l. 1).
(B) «Em agosto, realmente, o linho amadurece.» (ll. 9-10).
(C) «Um médico nem sequer pode chorar.» (l. 19).
(D) «A mãe lavada em pranto.» (l. 16).
4. O constituinte «um batatal espesso» (l. 8) tem a função sintática de
(A) modificador apositivo do nome.
(B) vocativo.
(C) complemento direto.
(D) complemento do adjetivo.
5. O segmento textual em que palavra «que» introduz uma oração subordinada
substantiva completiva é
(A) «É coisa que nunca pude destruir em mim» (l. 3).
(B) «embora sabendo que aquelas vidas eram efémeras» (l. 7).
(C) «Nos curtos meses que a natureza determina, tira ao sol o mais calor que pode
e enche-se dele» (ll. 10-11).
(D) «Então o linho que havia aqui?» (l. 9).
6. A repetição do vocábulo «palavra» (l. 22) assegura a coesão
(A) lexical.
(B) interfrásica
(C) referencial.
(D) frásica.
7. Na frase «E foi por tudo isto que, ao chegar ao quarto, tive a sensação mais
dolorosa da minha vida.» (ll. 14-15), encontramos
(A) um oximoro.
(B) uma hipálage.
(C) uma hipérbole.
(D) um hipérbato.
8. Identifique o antecedente da expressão anafórica «lá» (l. 8).
9. Identifique a função sintática desempenhada pela expressão «a esta mãe» (l. 23).
10. Indique o valor da oração subordinada adjetiva relativa presente nas linhas 23-24.

Mód PD1003
GRUPO III
«Viverei fugindo / Mas vivo a valer»
Fernando Pessoa

Escreva um texto de opinião em que se refira à importância da autonomia na formação


da identidade de cada pessoa. Para comprovar o seu ponto de vista, apresente dois
argumentos que comprovem a validade da sua perspetiva e ilustre-os com exemplos.
Construa um texto bem estruturado (com introdução, desenvolvimento e conclusão),
com um mínimo de duzentas (200) e um máximo de trezentas (300) palavras.
Planifique o texto antes de o redigir e reveja-o no fim.

Mód PD1003
Proposta de correcção
Grupo I
A

1. O sonhador vive com uma «constante corrente de devaneios» (l. 4) no seu espírito,
dedicando a sua existência à atividade de sonhar: «uma vida devotada ao sonho, de uma
alma educada só em sonhar» (l. 9). A inaptidão para a ação traduz-se na dificuldade em
agir e em movimentar-se no mundo físico — «ter que dar passos e fazer gestos» (l. 11) —,
em falar com os outros e em encontrar formas de entretenimento. A relação entre o sonho
e esta inaptidão explica-se pelo facto de, na perspetiva do sonhador, a realidade ser
motivo de perturbação — «toda a realidade me perturba» (ll. 15-16) — e as ações dos
outros surgirem como algo absurdo e incoerente.
2. O sonhador adquire um conhecimento da Humanidade porque consegue realizar uma
introspeção profunda de si mesmo, a qual lhe permite compreender, com grande lucidez,
«ideias», «sentimentos», «impulsos» e «atitudes» (ll. 26-27). Este poder de autoanálise
permite que o sonhador identifique nos outros os gestos que correspondem a
determinados factos do mundo interior, dado que, devido à introspeção que realiza
constantemente, sabe perfeitamente como é que eles se manifestam: «Não há baixo
impulso, como não há nobre intuito que me não tenha sido relâmpago na alma; e eu sei
com que gestos cada um se mostra» (ll. 33-34). Concluindo, a análise interior e a
capacidade de ver nitidamente os acontecimentos do seu mundo interior permitem que o
sonhador domine os mecanismos do seu «psiquismo» (l. 38) e o dos outros.
3. Segundo a metáfora do último período do texto, a «máquina do devaneio» permite tirar
fotografias à vida, captando o mais importante, que, segundo o sonhador, são os aspetos
imateriais. Por outras palavras, o sonho permite compreender a vida sem considerar a
dimensão real, racional e pragmática que a maior parte da humanidade conhece; o
devaneio dá a conhecer a vida abstraindo do «pesado, do útil e do circunscrito» (ll. 54-55).
Assim, na afirmação de que «saber escrever» é «ver em sonho a vida» (ll. 51-52), está
presente a conceção de que a escrita, a literatura, é a expressão daquilo que é a vida na
sua imaterialidade, na dimensão que só os sonhadores conhecem.
B
1. a. F; b. V; c. V; d. F; e. V; f. V; g. F; h. V; i. F; j. V; k. V; l. V;
m. F; n. F.
2. GRUPO II
3. 1. (A).
4. 2. (D).
5. 3. (C).
6. 4. (A).
7. 5. (D).
8. 6. (A).
9. 7. (B).
10.8. Coesão referencial.
11.9. Sujeito simples.
12. 10. Oração subordinada adverbial concessiva.

Mód PD1003

Você também pode gostar