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Discentes do curso de Nutrição da Universidade do Estado de Minas Gerais (Unidade de Passos).
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Docentes da Universidade do Estado de Minas Gerais (Unidade de Passos). E-mail: vivian.silveira@uemg.br
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tiveram seus filhos, sendo também as acometidas pelo O levantamento bibliográfico foi realizado nos me-
aborto. ses de abril, maio e junho de 2016.
A nutrição se ocupa em adequar as recomendações Foram utilizadas buscas online, fontes governamen-
nutricionais dos indivíduos nas diversas fases do ciclo tais e da biblioteca virtual Scielo, além de livros en-
da vida. Porém, estudos realizados em diferentes regi- contrados na biblioteca da UEMG (Unidade de Passos).
ões do Brasil, revelam que no período puerpério as prá- Para as buscas eletrônicas utilizaram-se as palavras-
ticas alimentares de mulheres são permeadas por cren- -chaves: amamentação, puerpério, nutrição, alimenta-
ças, prescrições e proibições (TRIGO et al, 1989 apud ção materna, mitos e verdades, depressão no pós-parto,
BAIÃO; DESLANDES, 2006). alimentos funcionais, lactação, obesidade, sobrepeso,
O incentivo para uma alimentação adequada deve gestantes. Foram selecionadas fontes publicadas no pe-
acontecer desde o pré-natal e deve ser reforçado no pós- ríodo de 2000 a 2015.
-parto, uma vez que a nutrição desequilibrada pode ter Foram utilizados ao todo 21 referências, sendo 4 de
consequências no organismo da puérpera, sendo uma livros, 13 de artigos científicos e 4 de sites. Os con-
delas a constipação intestinal (VIEIRA et al, 2010). teúdos selecionados nessas fontes foram organizados e
No Brasil, tem-se necessidade de melhorar o acom- apresentados nos seguintes temas: A influência regional
panhamento do pré-natal e principalmente do pós-par- na alimentação de puérperas; Mitos e crenças sobre a
to. Neste período, as ações visam mais em assegurar o alimentação materna; Alimentos funcionais; Lactação;
aleitamento materno. No período do pós-parto, as mães Labilidade emocional e Depressão pós-parto.
são geralmente orientadas a aumentar a ingestão ener-
gética para suprir o custo da lactação. Sendo no puer- A INFLUÊNCIA REGIONAL NA
pério onde ocorre manifestações involutivas e de modi- ALIMENTAÇÃO DE PUÉRPERAS
ficações locais e sistêmicas provocadas pela gravidez e Segundo o Ministério da Saúde a assistência pré-
parto (CASTRO; KAC; SICHIERI, 2009). -natal inclui o acompanhamento e o monitoramento do
Durante a fase puerpério torna-se fundamental uma ganho de peso gestacional e prevê orientações voltadas
orientação dietética adequada que assegure a perda de as mulheres no período que vai da gravidez a amamen-
peso e, consequentemente, o retorno ao peso pré-gesta- tação (BRASIL, 2000).
cional, atendendo tanto às necessidades maternas como Em diferentes regiões do Brasil estudos revelam
o crescimento e desenvolvimento do bebê (CASTRO; que os hábitos alimentares de puérperas, nos estados
KAC; SICHIERI, 2009). fisiológicos e nutricionais de grande importância ainda
O consumo energético é um importante determinan- são permeados por crenças, prescrições e proibições.
te do ganho de peso durante a gestação que, por sua vez, Alimentos como legumes, frutas, ovos, peixes e carnes
é um dos fatores que sistematicamente vem apresentan- costumam ser suprimidos da dieta, pois são considera-
do associação positiva com a retenção de peso pós-parto dos perigosos para a saúde da mãe e do bebê. Em resu-
e obesidade materna. Quantificar o consumo nutricio- mo, a alimentação evidencia a presença de significados
nal, principalmente o energético, durante a gestação e a partir de dois tipos de lógica: a sociocultural e o co-
pós-parto é fundamental para contribuir para o esclare- nhecimento científico (BAIÃO; DESLANDES, 2006).
cimento de uma questão tão relevante, complexa e mul- Estudos tem demonstrado um padrão inadequado
tifatorial como a obesidade (LACERDA et al, 2007). no consumo alimentar das brasileiras, caracterizado por
As puérperas devem observar que os cuidados com alta ingestão energética, com grandes teores de gordu-
sua alimentação no pós-parto são tão importantes quan- ras e açúcares simples, em detrimento de carboidratos
to na época em que estavam grávidas. Também como complexos e fibras. A associação demostrada por mé-
lactante é importante pensar não só nas suas necessi- todos quantitativos entre dietas e doenças, em especial
dades, mas também nas necessidades do bebê. A dieta as crônicas, vem motivando o setor de saúde a inter-
pós-gravidez resume-se na alimentação balanceada, di- vir com mudanças nos padrões de consumo alimentar
versificada capaz de suprir as suas exigências nutricio- (GARCIA, 2003).
nais e ingestão de água. O puerpério na linguagem popular é conhecido
O objetivo do presente estudo é apresentar o tema como o período de resguardo, com duração de quaren-
Atenção Nutricional Materno-infantil no Puerpério ta dias. As demandas nutricionais nesse período visam
através de levantamento bibliográfico. principalmente à saúde da mãe e do filho. Por outro
lado, a prática alimentar desta mulher pode ser influen-
MATERIAIS E MÉTODOS ciada por outras lógicas.
Trata-se de um estudo bibliográfico. Um estudo Os Itapuaenses, no Pará, creem que as mulheres fi-
sistematizado desenvolvido com base em material cam estragadas, ou seja, doentes, quando não há o seu
publicado em livros, revistas, jornais, redes eletrô- total resguardo, não podendo cumprir suas funções
nicas, isto é, material acessível ao público em geral como antes. Nessa comunidade, o período não termina
(MORESI, 2003). ao fim dos quarenta dias após o parto, pois as proibições
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de alimentos e de certas atividades se estendem para O ciclo social da nutriz pode exercer interferência
o primeiro ano, em cinco momentos distintos. Devido na decisão de amamentar, através de diferentes deter-
ao rigor das proibições alimentares, é comum que as minantes, tais como: o incentivo/apoio; o repasse de
mulheres se alimentem apenas de mingau de farinha conhecimentos e valores culturais obtidos pela obser-
de mandioca, quando há falta de alimentos permitidos vação, experiência de vida e tradição familiar; o desin-
para as mesmas (MOTTA MAUÉS, 1994 apud BAIÃO; teresse/desestímulo e a pressão à lactante em relação
DESLANDES, 2006). à forma de alimentar a criança e a orientação quanto à
Em Santana do Amapá, durante os primeiros sete fisiologia e benefícios da amamentação; e ao cuidado
dias de resguardo, as puérperas são orientadas a con- com o bebê através do diálogo, do compartilhamento de
sumir uma dieta especial. O cardápio pode ser resumi- angústias e dúvidas (MARQUES et al, 2010).
do em café da manhã com café e bolachas ou pão; um Tudo o que a mãe ingere e o organismo metaboliza,
copo de suco ou leite ou caldo de cana, por volta das em parte chega ao leite materno, isto não significa que
nove horas; metade de uma galinha, cozida em bas- certamente fará mal ao bebê. Alguns pediatras aconse-
tante caldo, arroz e farinha de mandioca no almoço; à lham as mães à se alimentarem da mesma forma como
tarde, um lanche semelhante ao das nove; jantar igual se alimentavam anteriormente. Outros pediatras indi-
ao almoço e, antes de dormir, um copo de leite com cam a diminuição do consumo de açúcar (doces em ge-
pão ou bolacha. A comida e o café não podem ser re- ral), gordura, alimentos cítricos, principalmente frutas
quentados porque podem causar dor de barriga, cólica e todos os produtos que contenha cafeína (VAUCHER;
e infecção. Alimentos como alguns tipos de peixe e DURMAN, 2005). Mas o correto seria um aconselha-
carnes, também ficam proibidos durante o resguardo mento feito por nutricionista.
(CHAMILCO, 2004). Na volta para casa a puérpera nem sempre imple-
Pode se dizer que, em geral, a fase do puerpério não menta o que é sugerido pelos pediatras, devido as cren-
indica apenas desempenho de uma atividade fisiológi- ças familiares impostas, principalmente, pela mãe e
ca, mas também acontecimentos culturais que são expe- sogra. Os alimentos que a nutriz acredita que possam
rimentados sob uma construção simbólica que permeia aumentar a produção de leite são importantes pois atu-
os indivíduos (BAIÃO; DESLANDES, 2006). am no psicológico da mulher. Como por exemplo, po-
de-se citar uma das crenças mais ouvidas: “a puérpera
MITOS E CRENÇAS SOBRE A deve se resguardar por 40 dias devendo neste período
ALIMENTAÇÃO MATERNA apenas tomar caldo de frango” (VAUCHER; DUR-
“O aleitamento materno é uma relação evolutiva, in- MAN, 2005, online).
terdependente e recíproca entre mãe e filho. Embora os Ainda têm muitas pessoas que creem que os dese-
reflexos envolvidos sejam naturais, muitas das técnicas jos da gestante precisam ser atendidos, caso contrário
de aleitamento precisam ser aprendidas pela mãe e pelo a criança nascerá com alguma marca; que a coloração
bebê” (KENNER, 2001 apud FARIA, 2007, online). de alguns alimentos pode manchar a pele do bebê e que
Muitos fatores podem interferir positivamente ou alimentos considerados quentes podem provocar aborto
negativamente no sucesso do aleitamento. Entre eles, (HELMAN, 1994 apud BAIAO; DESLANDES, 2006).
alguns se relacionam à mãe, como as características Podemos observar que as diversas culturas e religiões
de sua personalidade e sua atitude frente à situação de devem ser respeitadas, que as mães de primeira viagem
amamentar, outros fatores se aplicam à criança e ao am- são mais influenciadas em seus costumes e hábitos de
biente, como, por exemplo, as suas condições de nasci- vida. No entanto, sugere-se aconselhamento nutricional
mento e o período pós-parto, além de falta de apoio fa- pois a falta de orientação, principalmente, para essas
miliar e fatores circunstanciais, como trabalho materno, mães influencia diretamente na ação da amamentação.
condições habituais e culturais de vida (mitos, crenças Se no início da gravidez já houvesse essa orientação edu-
e religiões) (FARIA, 2007). cacional possibilitaria ter resultados melhores e facilita-
As crenças, a cultura e os tabus vem determinando ria quando chegasse na fase da lactação (FARIA, 2007).
diferentes significados do aleitamento materno para a Querendo ou não, a lactante esta sujeita a receber
mulher. A decisão de amamentar ou não o seu bebê, ali- “dicas” sobre amamentação e cuidados do bebê, poden-
mentar-se ou não de determinados alimentos no puer- do haver uma sobrecarga emocional no pós parto. Por
pério depende do significado que a mulher atribui a esta isso deve-se haver um auxílio profissional e moderado
prática (ICHISATO; SHIMO, 2001). da família nesta fase.
“Também há influências de experiências anteriores
e o estado emocional da nutriz, bem como a família e os ALIMENTOS FUNCIONAIS
profissionais de saúde, tanto como transmissores de mi- Alimentos funcionais são aqueles que possuem com-
tos e crenças, quanto como incentivo/apoio” (BARREI- ponentes capazes de promover a saúde, além dos bene-
RA; MACHADO, 2004. REZENDE et al, 2002 apud fícios nutricionais. Produzem efeitos metabólicos ou fi-
MARQUES et al, 2010, online). siológicos através da atuação de nutrientes, promovendo
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boa saúde física e mental, auxiliando na diminuição de também na dieta alimentos ricos em vitamina A como:
doenças crônico-degenerativas (PALERMO, 2008). Leite, Fígado, Folhas verdes, cenoura e abóbora (CA-
O conceito de alimentos funcionais foi proposto no Ja- MINHA et al, 2009).
pão nos anos oitenta e se espalhou rapidamente por várias Recomenda-se que a puérpera consuma alimentos
partes do mundo. O Canadá, os EUA, a União Europeia e funcionais para prevenir a depressão pós-parto, como
a Austrália, começaram a identificar e definir os alimentos o óleo de peixe, rico em ácidos graxos ômega 3. Fazer
funcionais como ingredientes naturais que atuam para me- uma dieta rica em sardinha, arenque, salmão, atum, no-
lhorar o metabolismo (COSTA; ROSA, 2010). zes, semente de linhaça e chia. Fazendo também uso
As principais funções dos alimentos funcionais são: de alimentos ricos em ferro encontrado nas carnes ver-
redução do risco de doenças cardiovasculares e de cân- melhas, cereais fortificados e ovos, para evitar anemia.
cer; controle da obesidade, da função imune e de causas O ideal é conseguir um equilíbrio na alimentação que
de envelhecimento; melhora da condição física e de hu- ofereça calorias adequadas para garantir a produção de
mor. Entre os alimentos funcionais estão os pró-bióticos leite e favorecer a normalização do peso corporal da
e pré-bióticos, fibras, ferro, selênio, ácidos graxos ômega puérpera (CAMINHA et al, 2009).
3 e ômega 6, óleo vegetal, oligossacarídeos, fito-quími- Muitos são os alimentos que apresentam a proprie-
cos, antioxidantes, vitaminas C, A, D e E, distribuídos dade de alimento funcional, por possuírem compostos
em alimentos convencionais, fortificados, enriquecidos bioativos. Estamos iniciando uma nova era na ciência
ou realçados e suplementos alimentares. Entre eles: cer- da Nutrição que vai exigir muito estudo e bom senso
tos peixes e alimentos ricos em carotenoides, farelo de antes de indicar um alimento para determinado fim
aveia, leite enriquecido com ômega 3 e alimentos geneti- (COSTA; ROSA, 2010).
camente modificados (PALERMO, 2008). As puérperas têm motivos de sobra para incluírem os
Os pré-bióticos possuem compostos não digerí- alimentos funcionais em suas dietas. Eles protegem con-
veis pelo organismo humano. Agem na microflora do tra doenças e alimentam. O modo de vida influi na manei-
intestino melhorando e estimulando o crescimento ra como os alimentos agem no organismo. É importante
de bactérias do cólon restabelecendo o equilíbrio do que as puérperas procurem um nutricionista ou nutrólogo
meio. Exemplos: Lactobacillus acidphilus, Lactoba- para fazer uma análise de seu estado nutricional e elaborar
cellus casei Bifidobacterium animallis. Para pessoas uma dieta personalizada. Os alimentos só fornecem bene-
sadias recomenda-se o uso de vinte gramas/dia. Mais fícios quando ingeridos de forma adequada.
de trinta gramas dia pode causar diarreia e flatulência.
Os pró-bióticos são micro-organismos vivos, exercem LACTAÇÃO
efeitos benéficos para a saúde, melhorando o equilíbrio O aleitamento materno é um dos principais fenô-
da flora intestinal, aumentando as bactérias benéficas e menos que ocorrem no puerpério. Esse processo possui
diminuindo as maléficas. A combinação de pró-bióticos grande importância para a mãe que já sofreu alterações
e pré-bióticos forma um simbiótico. Exemplos: oligos- em seu corpo e precisará se adequar a essa fase, poden-
sacarídeos. Os ácidos graxos, ômega-3 e ômega-6 di- do enfrentar diversas dificuldades como lactante. Ele é
minuem os níveis de LDL, ajudam no controle da pres- vital para o bebê, sendo o leite materno o único alimen-
são arterial e nos riscos de doenças cardíacas. As fibras to completo para o lactente.
promovem retardo no processo de absorção, ajudando a A cada ano aumentam as evidências científicas de
regular as funções intestinais, prevenindo constipação que a amamentação é a melhor forma de alimentar a
e reduzindo colesterol. Evitam a formação de cálculos criança pequena. As autoridades de saúde recomendam
renais, a obesidade e tem efeito hipotensivo. Nos dia- sua implementação através de políticas e ações que pre-
béticos atuam na redução da absorção de açúcar. Exem- vinam o desmame precoce (REA, 2004).
plos: betaglucanas, lactulose e quitosona. O consumo O leite materno é o alimento ideal para o recém-nas-
de óleos vegetais é indicado para baixar os níveis de co- cido devido às suas propriedades nutricionais e imuno-
lesterol e arteriosclerose. Exemplos: Os óleos de oliva, lógicas, protegendo-o de infecções, diarreia e doenças
girassol, canola, palma, de fibras de milho, de linhaça e respiratórias, permitindo seu crescimento e desenvolvi-
soja (PALERMO, 2008). mento saudável, além de fortalecer o vínculo mãe-filho
As hortaliças são ingredientes importantes na dieta e reduzir o índice de mortalidade infantil. Sabe-se tam-
da puérpera. Fornecem nutrientes valiosos, têm pouca bém que a amamentação oferece vantagens não só ao
gordura e calorias, ricas em carboidratos e fibras e for- bebê, mas também à mãe, à família e ao Estado (MAR-
necem muito micronutrientes, possuem compostos fun- QUES; COTTA; PRIORE, 2011).
cionais, contribuindo para melhorar o estado de saúde e Para a nutriz, a lactação é fonte de vários benefícios,
bem-estar diminuindo o risco de doenças (CARVALHO como a redução de alguns tipos de fraturas ósseas, cân-
et al, 2006). cer de mama e de ovários, além da diminuição no risco
Importante administrar suplemento de vitamina A de morte por artrite reumatoide (MARQUES; COTTA;
na puérpera para prevenir hipovitaminose. Incluindo PRIORE, 2011).
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A amamentação também proporciona para a mulher emocional após o parto podem ser confundidos pelos
a recuperação de seu peso pré-gestacional, pois no pós- profissionais de saúde e a falta de um vínculo dos pro-
-parto, quando o organismo da mulher está preparado fissionais com a puérpera também contribui para essa
para lactar, nem sempre ela consome a quantidade ne- dificuldade. A escala de auto avaliação, embora ainda
cessária de calorias para produzir o leite que o bebê in- seja pouco estudada, vêm trazendo uma grande contri-
gere e se ela estiver amamentando, o organismo irá reti- buição para a detecção e o diagnóstico precoce da DPP,
rar aquela reserva acumulada para fabricar o leite. Se a além de possibilitar que as puérperas mais receosas
amamentação for exclusiva, ou seja, se todas as calorias possam transcrever os seus sentimentos (BARROS;
que o bebê estiver consumindo forem de origem mater- MARIN; ABRÃO, 2002).
na, a quantidade retirada da mãe será maior. Assim, se A depressão pós-parto pode ser considerada um
a mãe interrompe a amamentação precocemente, con- quadro depressivo que acomete aproximadamente 10%
serva as calorias que seriam usadas para fabricar leite a 15% das puérperas. O período puerperal é uma fase
materno. A puérpera, então, conservará o peso ganho de grande importância e que exige cuidados especiais à
na gestação e demorará mais tempo para voltar ao peso mulher. É marcado pela experiência de gerar, parir, cui-
pré-gestacional (REA, 2004). dar e por várias alterações físicas e emocionais. Esta é
Como na fase de lactação a mulher é a responsável uma fase que exige grande capacidade de adaptação da
por nutrir seu filho através do que o seu corpo produz, mulher, e requer atenção e acompanhamento contínuo
sua alimentação no período pós-parto pode influenciar da família e dos profissionais da saúde, em especial a
na qualidade do leite materno, principalmente no que se participação diária e sensata do seu cônjuge (MEDEI-
refere ao teor de vitaminas. Especialistas alertam tam- ROS, 2004).
bém que uma dieta balanceada desde a gestação e no Os principais fatores de risco psicossociais relacio-
puerpério é fundamental para garantir que as reservas nados à depressão maior no puerpério são: idade infe-
de ferro e vitaminas da mãe não sejam esgotadas pela rior a 16 anos, história de transtorno psiquiátrico pré-
amamentação (TOLEDO, 2010). vio, eventos estressantes experimentados nos últimos
12 meses, conflitos conjugais, ser solteira ou divorcia-
LABILIDADE EMOCIONAL E da, estar desempregada (a paciente ou o seu cônjuge) e
DEPRESSÃO PÓS-PARTO apresentar pouco suporte social. Outros fatores de ris-
Os primeiros dias após o nascimento do bebê co apontados são: personalidade vulnerável (mulheres
é um conjunto de sentimentos variados para as mães. pouco responsáveis ou organizadas), esperar um bebê
Reações como angústia, tristeza e pensamentos nega- do sexo oposto ao desejado, apresentar poucas relações
tivos são notados nas parturientes, sendo a maternida- afetivas satisfatórias e suporte emocional deficiente
de é cheia de altos e baixos, com mudanças de humor (HENRIQUE, s.d.).
frequentes. O apoio e atenção familiar são essenciais Na depressão, a mulher perde o contato com a re-
nestes momentos. alidade e pode ter delírio e alucinações. O risco para o
Labilidade emocional, ou seja, a instabilidade re- bebê é sério e algumas mães gravemente enfermas che-
fere-se a uma pessoa que sofre mudanças frequentes gam a matar seus filhos. Algumas mulheres deprimidas
de humor e é volúvel, ao ponto de ter atitudes que não acreditam que o mundo é tão perverso que elas devem
são previsíveis por meio de causa e efeito. É importan- livrar a criança desse tormento, enquanto outras acre-
te destacar que o pensamento influencia sentimentos e ditam que a criança tem alguma coisa errada e que elas
ao mesmo tempo, o sentimento é refletido na ação. Por fazem uma caridade matando-a. Quando a situação é
trás do humor abrupto, também pode haver pensamen- séria como o relato, a mulher provavelmente será inter-
tos automáticos que a pessoa tem interiorizado. Esses nada num hospital para tratamento, principalmente se
pensamentos negativos podem produzir sensações de- houver um risco de ela machucar o bebê ou a si própria
sagradáveis (ENCICLOPÉDIA..., 2015). (MCKENZIE, 2001).
Algumas vezes a depressão se inicia quando o apoio Os sintomas mais comuns citados são: humor de-
e as atenções de amigos e familiares começam a dimi- primido, sentimentos de inadequação familiar e social,
nuir. A depressão pós-parto (DPP) não pode ser somen- alterações do apetite e do sono, concentração prejudi-
te justificada pelas mudanças hormonais, pois as gran- cada, falta de interesse ou de prazer em realizar suas
des mudanças nos níveis de hormônio ocorrem muito atividades diárias, perda de peso e de energia, agitação
antes do início da depressão, possivelmente elas tornam ou letargia, sentimento de desvalia ou de culpa sem
a mulher mais suscetível a depressão, mas os fatores causa, fadiga, labilidade do humor, cansaço, sintomas
sociais também desempenham um papel importante hipocondríacos e pensamento de morte ou suicídio. É
(MCKENZIE, 2001). importante ressaltar que a preocupação obsessiva da
A dificuldade da detecção precoce está relaciona- mãe em relação ao bebê, a resposta totalmente ansiosa
da à semelhança existente entre os primeiros sintomas ao choro do bebê e o medo irreal de machucá-lo, podem
da depressão pós-parto e do período de ajustamento ser sintomas da depressão (MEDEIROS, 2004).
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Alguns alimentos podem ser recomendáveis para CARVALHO, P. G. B et al. Hortaliças como Alimentos
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