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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE


DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM
CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM

DIABETES MELLITUS
GESTACIONAL

Enf.ª Dd.ª Taís Tasqueto Tassinari


Prof.ª Dr.ª Stela Maris de Mello Padoin
Definição:

■ O Diabetes Mellitus Gestacional (DMG) é definido, pela


Associação Americana de Diabetes, como qualquer grau de
intolerância à glicose, diagnosticada pela primeira vez na
gestação e que pode ou não persistir após o parto.

■ É uma doença metabólica, caracterizada por hiperglicemia,


resultante de defeitos na excreção e/ou ação da insulina.

Considerando o período gravídico-puerperal, é


possível a ocorrência de hiperglicemia tanto
em mulheres já sabidamente diagnosticadas
como portadoras de DM previamente a
gestação quanto em gestantes sem esse
diagnostico prévio.

(AMERICAN DIABETES ASSOCIATION, 2018; OPAS,


2017).
Classificação:

■ Diabetes pré - gestacional (diagnosticada previamente à


gestação- tipos I e II).
■ Diabetes pré - gestacional (diagnosticada na gestação).
■ Diabetes gestacional.

(SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES,


2014-2015).
Epidemiologi
a:

■ Estima-se que um em cada seis nascimentos ocorra em


mulheres com alguma forma de hiperglicemia durante a
gestação, sendo que 84% desses casos seriam
decorrentes do DMG.
■ Estudos populacionais realizados nas últimas décadas
indicam que a prevalência de DMG varia de 1 a 37,7%, com
uma media mundial de 16,2% .
■ No Brasil, estima-se que a prevalência de DMG no SUS seja
de aproximadamente 18%.

A prevalência de hiperglicemia durante a


gravidez pode variar dependendo dos critérios
diagnósticos utilizados e da população estudada.

(BRASIL, 2012; OPAS,


2017).
Diagnóstico
DMG:

■ 1999- No Brasil, Estudo Brasileiro de Diabetes Gestacional


(EBDG) - estudo populacional sobre a prevalência de DMG;
■ 2008- Estudo HAPO: Hiperglicemia e Resultados Adversos
na Gravidez (Hyperglycemia and Adverse Pregnancy
Outcomes – HAPO).
■ 2015- Federação Internacional de Ginecologia e Obstetricia
(FIGO) analisou os critérios para diagnóstico de DMG,
considerando as dificuldades econômicas de cada pais e
elaborou um documento sobre o tema.

São propostas duas estratégias de diagnóstico de


DMG, na dependência da viabilidade financeira e
disponibilidade técnica de cada região para
alcançar a maior cobertura populacional possível.

(OPAS,
2017).
Diagnóstico
DMG:

■ Todas as mulheres devem realizar a


glicemia de jejum (até 20 semanas IG)
Situação de para diagnóstico de DMG e de DM
viabilidade diagnosticado na gestação.
financeira e
■ Todas as gestantes com glicemia de
disponibilidade
jejum inferior a 92 mg/dL devem realizar
técnica total
o TOTG com 75g de glicose de 24 a 28
semanas.
■ Se o início do pré-natal for tardio (apos 20
semanas IG) deve-se realizar o TOTG com
a maior brevidade possível.

Estima-se detecção de 100%


dos casos!
(BRASIL, 2012; OPAS, 2017.)
(OPAS,
2017).
Rastreamento:

■ International Association of Diabetes and Pregnancy Study


Groups (IASDPG): recomenda a realização da medida da
glicemia de jejum ainda no primeiro trimestre da gestação
com o objetivo de detectar a presença de DM em uma fase
precoce da gravidez.
■ Caso a glicemia seja ≥ 126 mg/Dl ou a hemoglobina glicada
(HbA1c) ≥ 6,5%, é provável que se trate de um diabetes de
qualquer tipo, já existente na fase pré-gestacional, mas não
diagnosticado previamente.

Objetiva prevenir as
complicações mais graves
em mulheres que já possuem
DM.
(OPAS,
2017).
Etiologia e
fisiopatologia:

Intensa mudança nos


GESTAÇÃ mecanismos de controle da
O: glicemia, em função
do consumo de glicose pelo
embrião e feto

■ O desenvolvimento de resistência à insulina


durante a segunda metade da gestação é
resultado de adaptação fisiológica, mediada pelos
hormônios placentários antiinsulínicos, para
garantir o aporte adequado de glicose ao feto.
■ Hormônios: lactogênio placentário, cortisol,
gonadotrofina coriônica humana (hCG), e
prolactina, podem promover redução da atuação
da insulina em seus receptores!

(BRASIL, 2012; SOCIEDADE BRASILEIRA DE ENDOCRINOLOGIA E


METABOLOGIA, 2008).
Etiologia e
fisiopatologia:

■ Em algumas mulheres, como as que possuem


sobrepeso/obesidade, obesidade central e síndrome dos
ovários policísticos, este estado fisiológico de resistência à
insulina será potencializado nos tecidos periféricos.
■ Paralelamente, impõem-se a necessidade fisiológica de
maior produção de insulina, e a incapacidade do pâncreas
em responder à resistência insulínica, favorece o quadro de
hiperglicemia, caracterizando o DMG .
■ Diagnóstico mais comumente observado no segundo e
terceiro trimestre (aumento na produção de hormônios
placentários)!

(SOCIEDADE BRASILEIRA DE ENDOCRINOLOGIA E METABOLOGIA, 2008,


MANICATTI, FREGONESI, 2006).
Diabetes pré-gestacional:

Complicações mais graves: efeito na


fertilização/implantação/organogênese..

■ Complicações maternas relevantes, em especial na presença


prévia de complicações, como retino, neuro, nefro e
vasculopatia;
■ Complicações fetais: Aborto precoce, defeitos congênitos
graves e retardo no crescimento fetal, sobretudo nos casos
tratados de maneira inadequada.

(SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES,


2014-2015).
Complicações da DMG para as
gestantes:

■ Obesidade;
■ As Síndromes Hipertensivas são mais comuns;
■ Parto pré-termo;
■ Rotura prematura das membranas;
■ Parto cesariana;
■ Desenvolvimento de DM tipo 2;

A DMG é uma condição patológica caracterizada


por uma disfunção pancreática, branda ou grave,
em que este pode sofrer desde um simples
funcionamento inadequado até a perda total de
sua capacidade de produção de insulina.

(SOCIEDADE BRASILEIRA DE ENDOCRINOLOGIA E METABOLOGIA, 2008; LIMA, BRASILEIRO,


ROSA, 2012)
Complicações fetais e neonatais da
DMG:

■ A glicose materna passa para o compartimento fetal por


difusão facilitada e, quando a mãe faz hiperglicemia, o feto
também terá hiperglicemia.A hiperglicemia do meio intrauterino está
associada ao aumento de radicais livres
de oxigênio, responsáveis pela maior
ocorrência de malformações fetais.

■ Como o pâncreas fetal está formado e ativo desde a 10ª.


semana, haverá resposta a este estímulo, com consequente
hiperinsulinemia fetal.

■ Risco aumentado da síndrome de desconforto


respiratório (SDR) no período neonatal;

Hiperinsulinemia interfere na produção


do surfactante pulmonar.
(BOLOGNANI, SOUZA, CALDERON,
2011).
Complicações fetais e neonatais da
DMG:

■ Risco de cardiomiopatia, hipocalcemia, hipomagnesemia e


policitemia (aumento exagerado de glóbulos vermelhos no
sangue) com hiper viscosidade sanguínea, icterícia;
■ Macrossomia fetal:
■ Incremento da diurese fetal, levando ao polidrâmnio,
complicação que favorece a rotura prematura de
membranas e a prematuridade.
■ Risco elevado de tocotraumatismos;
■ Hipoglicemia neonatal;
■ Morbidade perinatal elevada;
■ Obesidade, desenvolvimento de resistência
à insulina, diabetes e síndrome metabólica
na idade adulta.

(YESSOUFOU, MOUTAIROU, 2011; SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES,


2014-2015).
Fatores de risco:

■ Idade avançada;
■ Sobrepeso/obesidade;
■ Antecedentes familiares de DM (primeiro grau);
■ Uso de medicamentos hiperglicemiantes (corticoides,
diuréticos, tiazídicos );
■ HAS;
■ Baixa estatura (menos de 150 cm);
■ Acantose nigricans;
■ Síndrome dos ovários policísticos.

(LIMA, BRASILEIRO, ROSA, 2012; OPAS,


Fatores de risco:

Antecedentes
obstétricos:

■ Antecedente pessoal de DMG;


■ Polidrâmnio;
■ Macrossomia fetal;
■ Óbito fetal/neonatal sem causa
determinada ou abortos de
repetição;
■ Malformação fetal.

(LIMA, BRASILEIRO, ROSA,


2012).
Fatores de risco:

Na gestação atual, em
qualquer momento:

■ Ganho excessivo de peso;


■ Suspeita clínica ou ultrassonográfica de crescimento
fetal excessivo ou polidrâmnio;
■ hipertensão ou pré-eclâmpsia na gravidez atual.

(OPAS, 2017; SOCIEDADE BRASILEIRA DE ENDOCRINOLOGIA E METABOLOGIA


Acompanhamento
pré-natal:

■ Gestação de alto risco;


■ Controle glicêmico para diminuir as complicações no
momento da concepção;
■ Engajamento de equipe multiprofissional;
■ Avaliação fetal objetivando verificar a vitalidade no 1º
trimestre, a integridade estrutural no 2º trimestre e
monitorar o crescimento e o bem-estar fetal no 3º
trimestre;

■ Por vezes, é necessária internação


hospitalar para controle glicêmico.

(BRASIL, 2012; SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2014-20


Acompanhamento
pré-natal:

O enfermeiro deve atuar no cuidado às gestantes com


DMG de forma humanizada e com uma abordagem
empática, realizando consultas que propiciem à mulher
vivenciar a gestação como um momento especial e natural,
além de estabelecer um ambiente seguro o suficiente para
o nascimento saudável da criança.
■ Anamnese clínica aprofundada com pesquisa de
fatores de risco predisponentes;
■ Controle glicêmico materno antes, durante e
após o parto;
■ Respeitar a autonomia da gestante, ofertando a
possibilidade desta realizar escolhas
conscientes;

(BRASIL,
2012).
Acompanhamento
pré-natal:

■ Educação em saúde;
■ Orientações relacionadas à patologia e riscos;
■ Adesão às consultas de pré-natal e realização dos
exames;
■ possibilidade de internação do RN em unidade de
terapia intensiva;
■ Amamentação precoce do RN com o intuito de se
reduzir o risco de hipoglicemia neonatal;
■ avaliar a presença de retinopatia e nefropatia antes,
durante e após o término da gravidez e o risco de piora
dessas complicações;
■ Ácido fólico até a 12a semana de gestação
para reduzir os riscos de ocorrência de
malformação do tubo neural;
BRASIL, 2012; SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES,
■ Realização de exame físico e obstétrico, atentando-se a
qualquer modificação em seu quadro clínico;
■ Plano de cuidados associando, dieta, exercício físico e
insulina visando prevenir consequentes repercussões
perinatais;
■ Elaboração de rotina para verificar os sinais vitais e
administrar as devidas medicações prescritas (insulina).

O enfermeiro cumpre um papel fundamental no


cuidado às gestantes com DMG, colaborando no
controle da patologia, desfecho gestacional sem
intercorrências e de maneira satisfatória, assim
como no nascimento de um bebê saudável e sem
complicações neonatais.

(RIBEIRO, ET AL, 2020; SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES,


2014-2015).
(RIBEIRO, ET AL, 2020).
Assistência ao parto e pós parto:

■ Não é uma indicação absoluta de


cesariana!
■ Controle de glicemia capilar de hora em
hora durante o parto para manter os
níveis entre 70 e 140 mg/dl.

Reclassificação em até seis semanas após o parto


(realização do TOTG com 75g de glicose) para
todas as mulheres que tiveram DMG, utilizando-se
os critérios padronizados para a população em
geral.

(BRASIL, 2012; OPAS,


Assistência ao parto e pós parto:

■ Amamentação precoce (dentro de 30 min pós-parto);


■ Manter amamentação com intervalos máximos de 3h;
■ Glicemia capilar do RN de 2 a 4 hr!
■ Manter as concentrações de glicose sanguínea entre
as mamadas em pelo menos 40 mg/dl.

COMPLICAÇÕES

convulsão, coma,
episódios de cianose,
apneia, bradicardia ou
disfunção respiratória
e hipotermia.

(BRASIL, 2012; SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES,


REFERÊNCIAS:

American Diabetes Association. Classification and diagnosis of diabetes: Standards


of Medical Care in Diabetes - 2018. Diabetes Care. 2018; 41(Supl. 1):13-27. doi:
https://doi.org/10.2337/ dc18-S002

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações


Programáticas Estratégicas. Gestação de alto risco: manual técnico / Ministério da
Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde. – 5. ed. – Brasília: Ministério da Saúde, 2012.
302 p. Disp. em: <
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_tecnico_gestacao_alto_risco.pdf
>.

BOLOGNANI, C. V.; SOUZA, S. S.; CALDERON, I. M. P. Diabetes mellitus gestacional -


enfoque nos novos critérios diagnósticos. Com. Ciências Saúde - 22 Sup 1:S31-S42,
2011.

Diabetes mellitus gestacional. Rev. Assoc. Med. Bras.,  São Paulo ,  v. 54, n. 6, p.
477-480,  Dec.  2008 .   Available from:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-42302008000600
006&lng=en&nrm=iso>.

LIMA, D. A.; BRASILEIRO, A. A.; ROSA, L. P. S. riscos e consequências das diabetes


gestacional: uma revisão bibliográfica. Rev. estudos, Goiânia, v. 39, n. 4, p. 561-567,
out./dez. 2012. Disponível em:
<http://seer.pucgoias.edu.br/index.php/estudos/article/viewFile/2668/1630>.
REFERÊNCIAS:

MENICATTI, M.; FREGONESI, C. E. P. T. Diabetes gestacional: aspectos fisiopatológicos


e tratamento. Arq. Ciênc. Saúde Unipar, Umuarama, v. 10, n. 2, p. 105-111, mai./ago.,
2006.

Organização Pan-Americana da Saúde. Ministério da Saúde. Federação Brasileira das


Associações de Ginecologia e Obstetrícia. Sociedade Brasileira de Diabetes.
Rastreamento e diagnóstico de diabetes mellitus gestacional no Brasil. Brasília, DF:
OPAS, 2017. Disponível em: < >.
https://www.diabetes.org.br/profissionais/images/pdf/diabetes-gestacional-relatorio.
pdf

RIBEIRO, D. R.; SANTANA, N. L. S.; COELHO, F. P.; CALDAS, J. B.; MEDEIROS, J. M.


Emergências obstétricas: assistência de enfermagem a uma paciente portadora de
diabetes mellitus. Revista Artigos.Com, v. 14, 2020.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES. Diabetes na gestação: recomendações para


o preparo e o acompanhamento da mulher com diabetes durante a gravidez. Diretrizes
SBD, 2014-2015. Disponível em:
<https://www.diabetes.org.br/profissionais/images/pdf/diabetes-gestacional/002-Dir
etrizes-SBD-Diabetes-Gestacao-pg323.pdf>.

YESSOUFOU, A; MOUTAIROU, K. Maternal Diabetes in Pregnancy: Early and


Long-Term Outcomes on the Offspring and the Concept of “MetabolicMemory”.
MUITO
OBRIGADA!

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