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Como nos outros tipos de diabetes, a causa exata do diabetes gestacional é desconhecida. Contudo,
de acordo com a American Diabetes Association (TOMBINI, 2002) várias hipóteses foram propostas:
Hormonal
Genética
Obesidade
PRINCIPAIS ALTERAÇÕES
FISIOPATOLÓGICAS
A fisiopatologia do DMG não está totalmente elucidada. Se todas as gestantes fossem resistentes à
insulina, a incidência do DMG seria superior aos níveis encontrados. O comprometimento fetal decorre
primordialmente da hiperglicemia materna, que por difusão facilitada chega ao feto. A hiperglicemia
fetal, por sua vez, estimula a produção exagerada de insulina que interfere na homeostase fetal,
desencadeando COMPLICAÇÕES: macrossomia, fetos grandes para idade gestacional (GIG), aumento das
taxas de cesárea, traumas de canal de parto e distorcia de ombro, hipoglicemia, hiperbilirrubinemia,
hipocalcemia e policitemia fetais, distúrbios respiratórios neonatais e óbito fetal intra-uterino.
O feto não é capaz de realizar gliconeogenese e o seu crescimento depende do aporte de nutrientes
maternos por via placentária. Devido à resistência à insulina (RI) ocorre uma redução na utilização de
glicose que por sua vez é redirecionada para os tecidos fetais. A própria hiperglicemia pós-prandial, leve,
porém prolongada, também contribui para o redirecionamento de nutrientes da mãe para o feto. O
crescimento fetal é determinado pela passagem via placentária de glicose, ácidos graxos e glicerol.
Com o objetivo de manter este fluxo adequado ocorre uma adaptação no metabolismo intermediário
materno que se caracteriza pelo desenvolvimento de dois estados descritos como: anabolismo facilitado
e catabolismo acelerado. Clinicamente, estes processos repercutem no crescimento fetal e na glicemia.
RASTREAMENTO E DIAGNÓSTICO
• Idade igual ou superior a 35 anos;
• Índice de massa corporal (IMC) >25kg/m2 (sobrepeso e obesidade);
O rastreamento deve ser iniciado pela anamnese para a identificação dos fatores de
risco:
• Antecedente pessoal de diabetes gestacional;
• Antecedente familiar de diabetes mellitus (parentes de primeiro grau);
• Macrossomia ou polihidrâmnio em gestação anterior;
• Óbito fetal sem causa aparente em gestação anterior;
• Malformação fetal em gestação anterior;
• Uso de drogas hiperglicemiantes (corticoides, diuréticos tiazídicos);
• Síndrome dos ovários policísticos;
• Hipertensão arterial crônica.
RASTREAMENTO E DIAGNÓSTICO
O rastreamento é considerado positivo nas gestantes com nível de glicose plasmática de jejum igual ou
superior a 85mg/dL e/ou na presença de qualquer fator de risco para o diabetes gestacional. Na
ausência de fatores de risco e glicemia de jejum ≤ 85mg/dL, considera-se rastreamento negativo e
deve-se repetir a glicemia de jejum entre a 24ª e 28ª semana de gestação.
Duas glicemias plasmáticas de jejum ≥ 126mg/dL confirmam o diagnóstico de diabetes gestacional, sem
necessidade de teste de tolerância.
Quadro 30 Pontos de corte para o Teste de Tolerância à Glicose 75g
Dois ou mais valores devem estar acima do normal para confirmação diagnóstica.
Recomenda-se ainda a dosagem de hemoglobina glicada nos casos de diabetes e gestação, devido à sua
associação, quando aumentada, com malformações.
(repetir 34ª semana de gestação)*
DIABETES PRÉ-GESTACIONAL
O diabetes pré-gestacional pode ser do tipo 1 ou 2, sendo que na maioria dos casos na gestação são
do tipo 2.
MANEJO DO DIABETES NA GRAVIDEZ
Mulheres que apresentam diabetes gestacional devem ser encaminhadas para centros de atenção
secundária.
As gestantes com diagnóstico de diabetes pré-gestacional devem ser manejadas em centros de
assistência terciária por equipe multidisciplinar composta por médico obstetra, endocrinologista,
nutricionista, enfermeira obstetra e outros profissionais, dependendo da necessidade e gravidade
do caso.
As gestantes diabéticas em acompanhamento em centros de atenção secundária ou terciária
poderão também ser acompanhadas pelas equipes de atenção básica visando maior controle e
aderência aos tratamentos preconizados nos níveis de maior complexidade.
TRATAMENTO INICIAL
Devem ser adotadas as recomendações descritas a seguir:
O tratamento inicial consiste na prescrição de dieta para diabetes que permita ganho adequado de
peso de acordo com o estado nutricional da gestante, avaliado pelo índice de massa corporal
(peso/altura2 ) pré-gravídico.
ESTRATÉGIA DE MANEJO
DO DIABETES NA GESTAÇÃO
Atividade física (20 minutos por dia) 60% das gestantes com diabetes gestacional podem se
manter euglicêmicas, sem maiores riscos para a gravidez, somente com dieta e atividade física.
Controle glicêmico deve ser feito com glicemias de jejum e pós-prandiais semanais. O controle
também pode ser realizado com avaliações de ponta de dedo.
Hipoglicemiantes orais Embora já existam estudos com o emprego de hipoglicemiantes orais
na gravidez, como a gliburida (ou metformina), os mesmos ainda não devem ser utilizados na
prática clínica até que mais estudos possam confirmar a sua segurança. As mulheres que estiverem
em uso dos mesmos devem interrompê-los ao engravidar.
Insulinoterapia Nas grávidas com diabetes gestacional, o tratamento com insulina deve ser in-
dicado se após duas semanas de dieta os níveis glicêmicos permanecerem elevados, ou seja,
glicemia de jejum maior ou igual a a 95mg/dL e 1 hora pós-prandial maior ou igual a 140mg/dL. As
doses iniciais devem ser de 0,3 a 0,5U/Kg/dia, preferencialmente em mais de uma dose diária.
Dividir o total de unidades em duas ou três doses iguais de insulina NPH, aplicadas às 7h e 22h, ou
às 7h, 12h e 22h.
CONTROLE OBSTÉTRICO E AVALIAÇÃO FETAL
A frequência do controle obstétrico depende do grau de comprometimento materno e/ou fetal. Mulheres
com diagnóstico de diabetes gestacional podem inicialmente ser monitoradas a cada duas semanas.
Naquelas com diabetes pré-gestacional pode-se realizar um controle semanal ou a cada duas semanas
conforme a evolução clínica. A partir das 36 semanas, o controle deve ser ao menos semanal. O aumento
na incidência de alterações hipertensivas na gestação com diabetes deve promover cuidados específicos
para sua identificação e manejo.
MOMENTO E VIA DE PARTO
As gestantes com ótimo controle metabólico e sem intercorrências da gravidez podem aguardar
a evolução espontânea para o parto.
O parto pode ser antecipado naquelas gestantes com controle metabólico inadequado,
vasculopatia, nefropatia ou história de natimorto anterior.
Em gestantes com diabetes de difícil controle e/ou comprometimento fetal, recomenda-se
utilizar corticoide para maturação pulmonar fetal.
Em gestantes diabéticas insulino-dependentes com vasculopatia o parto será realizado
impreterivelmente até a 38a semana.
A via do parto é uma decisão obstétrica. Se o peso fetal estimado por ultrassonografia for maior
ou igual a 4.500g, pode-se considerar a realização de cesariana.
Gestantes em uso de insulina requerem atenção especial durante o
trabalho de parto
Gestantes em trabalho de parto espontâneo
Realizar uma dosagem de glicemia na admissão;
• Suspender uso de insulina;
• Permitir ingestão de líquidos claros na fase de latência;
• Iniciar solução salina;
• Monitorar glicemia de 2/2 horas na fase de latência e de 1/1 hora na fase ativa; etc.
Cesariana programada
• A cesariana deve ser programada para o início da manhã;
• Suspender dieta na noite anterior. Oferecer um lanche reforçado e líquidos em maior quantidade antes do jejum;
• Manter dose de insulina na noite anterior;
• Suspender insulina da manhã; • Solução intravenosa de glicose a 5% 100–150ml/h até o parto;
• Monitorar glicemia de 4/4h até o parto; etc.
PÓS PARTO
O aleitamento natural deve ser estimulado.
Observar os níveis de glicemia nos primeiros dias após o parto, pois a maior parte das
mulheres com diabetes gestacional não requer mais o uso de insulina. Seu uso estará
indicado caso ocorra hiperglicemia no período de pós-parto. Neste caso deve-se iniciar
o tratamento com um terço da dose total de insulina que a mulher vinha usando.
É fundamental a orientação de retorno para avaliação a partir de seis semanas após o
parto, para que o estado de regulação da glicose seja reavaliado empregandose o teste
oral de tolerância com 75g de glicose (TOTG 75). A classificação do estado de regulação
da glicose é feita de acordo com as categorias diagnósticas vigentes. Cerca de 40% das
mulheres que apresentam diagnóstico de diabetes gestacional se tornarão diabéticas
em até 10 anos após o parto e algumas já ficam diabéticas após a gestação vigente.
Daí a necessidade de acompanhar estas mulheres com estudo da glicemia de jejum
anual pelo resto da vida ou até a confirmação do diagnóstico.
REFERÊNCIAS