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O meu nome é Hiris Jamal.

Actualmente tenho 18 anos, vivo em Nampula com os meus pais e irmãos e


sou estudante do curso de Direito no 3º ano.

Cresci com a minha avó e vivi com ela 17 anos da minha vida no bairro de Mutauanha.

Comecei a escola como qualquer criança naquela época em 2009 no ano em que faria 6 anos. Mas a minha
avó desde cedo estimulou a leitura e a escrita em um quadro verde que tínhamos no nosso alpendre feito de
matope e coberto de capim. E foi lá onde aprendi a ler e a escrever aos 5 anos. E este facto mudou toda
minha vida, porquê como eu já havia adquirido capacidades de leitura e escrita de uma criança da 1ª classe ,
por recomendação de uma professora do meu bairro na altura que informou a minha avó que naquela altura
era possível que eu começasse já na 2ª classe mas teria de fazer obrigatoriamente um exame para testar a
capacidade, e assim foi, regularizamos tudo para fazer o exame e passei .

Foi então que comecei a estudar a 2ª classe com 6 anos. E não parou por aí, no ano seguinte (em que eu
estava na 3ª classe) a escola convocou a minha avó repentinamente, e a informação era de que eu não
poderia mais continuar a 3ª classe. Deveria imediatamente mudar para uma turma da 4ª classe . E é por isso
que eu estou actualmente no 3º ano do curso de Direito com 18 anos. Eu não estudei literalmente 2 classes .

O que me despertou para esta situação em que me encontro hoje uma grande inspiração para muitas
raparigas no meu país e o que me impulsionou foi a minha entrada no programa Clube de Alegria da Rádio
Moçambique.

Porquê eu falava bastante e dizia sempre que queria ser uma grande jornalista, me deparei novamente com
a minha avó, a minha avó conversou com uma senhora que a chamo de Tia chamada Lúcia na altura
coordenadora do programa infantil da rádio. Ela foi ajudou bastante na melhoria da minha dicção , me
ensinou a como comunicar-me com às pessoas, mas a grande mentora foi a minha avó Lurdes agora minha
estrela que ajudou em todo meu trajecto, me incentivou a não desistir dos meus sonhos e sempre sempre
esteve comigo quando pensei em desistir para me lembrar que os nossos sonhos podem sim tornar-se
realidade.

Participei em vários projetos de mudança como (o do Parlamento Infantil , o projecto Rapariga Biz , o
Núcleo dos Estudantes da minha Faculdade, e até de um projecto de impacto positivo ambiental chamado
Let's Do It)
O meu grande chamado foi a advocacia dos Direitos da Criança pelo UNICEF, apesar de eu desde cedo ter
nutrido o meu espírito activista, mostrar aquilo que realmente sou e advocar por uma causa eu esperei por
muito tempo, e actualmente eu posso fazer isso.

A minha jornada como qualquer outra teve várias dificuldades, eu sou de uma família humilde e
incrivelmente eu sou a primeira mulher da minha família a entrar em uma faculdade e eu espero graduar e
ser uma exemplo pra nossa família.

Já tive várias dificuldades para o estudo desde falta de material e até não poder ir a escola por ser distante e
não ter como apanhar um semi-coletivo.

Eu sei que essa é a minha luta e a luta de muitas raparigas e por isso mesmo eu me envolvi em um projecto
que mudou a minha trajetória de vida. O projecto Lead da Girl Move Academy, além de receber mentoria
sobre empoderamento das raparigas e mulheres, eu fui mentora de 30 raparigas em aproximadamente 1
ano. Essas raparigas que faziam parte do projecto são raparigas da 7ª classe de várias escolas da provincia
de Nampula e as minhas raparigas que eu carinhosamente as chamei de manas , estudavam na escola
primária de Napipine.

O principal objetivo desse projecto é o de incentivar a não desistência escolar e acompanhar às raparigas
que estão no último ano do ensino primário a ingressar para o ensino secundário.

Em uma dessas sessões de mentorias que tínhamos às quartas e quintas feiras no nosso espaço seguro
conheci manas que já haviam feito parte do projecto é que já estavão no ensino secundário , poder sentir o
agradecimento delas por terem recebido mentoria sobre como proteger seu corpo , como poupar dinheiro e
principalmente incentivadas a conversar sobre a sua carreira e fazer com que elas não desistissem da escola
só aumentou às minhas forças para continuar nesta luta.

E o Direito a Educação é a minha bandeira porquê a educação mudou a minha trajetória e nessa trajectória
eu descobri que educação não é só saber ler e escrever.

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