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Aspect os Comparat ivos do Tráfico de Africanos para o Brasil (Séculos XVIII e XIX)
Daniel Domingues, Alexandre Vieira Ribeiro
A VARA, A VELA E O REMO: T RABALHO E T RABALHADORES NOS RIOS E PORT OS DO RECIFE OIT OCENT …
Davi Cost a Aroucha
Retratos da Escravidão no Recife:
O Tráfico Internacional, Interprovincial e O Perfil dos Escravos
no Varejo (1827-1830)
________________________________________________________
Alexandre F. S. Andrada
afsa@unb.br
Professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB)
1. O Tráfico de Escravos
Em março de 1807, o Reino Unido aprovou um conjunto de medidas conhecidas como “Slave Trade Act”,
que determinavam o fim do tráfico de escravos africanos em seus domínios imperiais a partir de 1º de
janeiro de 1808. Esse processo se desdobraria, em 1833, no chamado “Slave Abolition Act”, que colocaria
fim à escravidão em grande parte dos limites daquele Império. As razões inicias desse processo não podem
ser explicadas por fatores estritamente econômicos, já que os navios ingleses transportaram mais de 50%
dos africanos desembarcados nas Américas e aquele império controlava mais da metade da produção global
de açúcar [Kauffman & Pape (1999, p. 634) e Reich (1968, p. 129)]. As razões teriam sido de substrato
moral, religioso ou mesmo daquilo que hoje chamaríamos de direitos humanos [Ricupero (2011, p. 148)].
Independentemente das razões, o fato é que ao proibir o tráfico em seus domínios, a Inglaterra passa
a pressionar os demais países a seguirem seu exemplo. Entre 1810 e 1814, acordos que restringiam tal
prática foram assinados entre a coroa inglesa e Portugal, Suécia e Dinamarca. Segundo HOLLANDA
(1997, p. 189): “A ação repressiva da Inglaterra sobre o tráfico internacional se consubstancia na imposição,
1
Não era incomum, porém, que os escravos tivessem alguma remuneração para si mesmos. Seja em dias livres, como sábados
ou dias santos, ou quando conseguiam uma quantia acima de um mínimo estipulado. (Koster, 18162, pp. 403-4)
1
às potências escravagistas, da assinatura de sucessivos tratados, cujos termos vão se tornando
progressivamente mais exigentes”. Aproveitando-se de seu poder e de momentos de fragilidade de seus
parceiros, a Inglaterra busca a celebração de acordos comerciais que lhe sejam vantajosos e outros que
caminhem no sentido da proibição do tráfico da escravatura.
Em meio ao processo de expulsão dos franceses que haviam ocupado a fração europeia do Império
português, o Príncipe Regente, D. João VI, celebra o Tratado da Amizade e Aliança entre as coroas de
Portugal e da Grã-Bretanha. No artigo 10º desse acordo, afirma-se que o líder português, “estando
plenamente convencido da injustiça e má política do comércio de escravos”, resolvia “cooperar com Sua
Majestade Britânica na causa da humanidade e justiça, adotando os mais eficazes meios para conseguir em
toda a extensão dos seus domínios uma gradual abolição do comércio de escravos” (GARCIA, 2008, p.
65).
A campanha pelo fim do comércio de africanos ganharia força especialmente nos últimos atos das
Guerras Napoleônicas, quando a nova “ordem mundial” é desenhada a partir do Congresso de Viena (de
maio de 1814 a junho de 1815). É de 30 de março de 1814, por exemplo, o acordo entre Inglaterra e França,
que se firmava o objetivo de apresentar-se àquela conferência na Áustria, buscando “to induce all the
Powers of Christendom to decree the abolition of the Slave Trade”. Apesar do insucesso relativo da
proposta naquele Congresso, em 1815 a Inglaterra consegue obter de Portugal o compromisso de findar o
tráfico ao norte da linha do equador e de se fixar uma data para extinção completa deste comércio [v.
Ricupero (2008, p. 150)]. Gestava-se, assim, já na primeira década do século XIX, um “universal feeling
against the institution of slavery” (ADAMS, 1925, p. 607).
Esse “sentimento universal”, todavia, não parece ter aportado no Brasil. Segundo NABUCO (2012,
p.3), a “opinião” pública brasileira, ainda “em 1845, julgava legítima e honesta a compra de africanos,
transportados traiçoeiramente da África e introduzidos por contrabando no Brasil” 2. Nabuco fala em
“contrabando” pois, em 23 de novembro de 1826, já no bojo do processo de reconhecimento de nossa
independência, o Imperador D. Pedro I assinou com o Rei Jorge IV da Grã-Bretanha, um acordo para abolir
o tráfico de escravos no Brasil. O artigo 1º desse documento afirmava que “acabados três anos da troca das
ratificações do presente Tratado”, não seria mais “lícito aos súditos do Império do Brasil fazer o comércio
de escravos na costa da África, debaixo de qualquer pretexto, ou maneira que seja”. Ademais, “a
continuação desse comércio, feito depois da dita época, por qualquer pessoa súdita de Sua Majestade
Imperial, será considerada e tratada de pirataria”. (GARCIA, 2008, p. 156). Tendo sido ratificado em 13
de março de 1827, portanto, o comércio de escravos novos deveria ter cessado em 13 março de 1830.
Consequentemente, o período aqui analisado coincide com essa janela entre a vigência e o início da
eficácia do tratado internacional ratificado em 1827.
A Tabela 1 foi construída basicamente a partir de dados publicados pelo DP seção de “notícias
marítimas”, notadamente a partir das informações sobre as “entradas” de cativos africanos no porto do
Recife. A primeira referência encontrada do desembarque de escravos surge na edição de 7 de fevereiro de
1827, a última, na de 10 de abril de 1830. Ainda que as informações sobre a entrada e saída de navios sejam
razoavelmente completas, nossa amostra sofre de alguns problemas. O principal são as interrupções na
publicação do DP, problema especialmente grave para 1828, quando existem apenas 18 números impressos.
Para em 1827 o problema também existe, ainda que com intensidade menor, já que a publicação cessa em
30 de junho. Inexistem, porém, publicações na imprensa daquela época de Pernambuco, capazes de
preencher essa lacuna. Assim, mesmo com deficiências, essa estimativa é útil.
Foram catalogadas 40 observações no total, que registram o embarque de 10.794 pessoas. Desses, 21
fazem referência ao número de pessoas que faleceram no trajeto: teriam sido 364 os africanos embarcados
que morreram antes de pisar no solo brasileiro. Assim, o número total de desembarcados foi de 10.430
2
KOSTER (1816, p. 416), ao falar da visão dos escravos expostos para venda, afirma: “the sight of them, good God, is horrid
beyond anything. These people [isto é, os moradores do Recife] do not however seem to feel their situation, any farther than it
is uncomfortable”.
2
pessoas. A taxa média total de mortalidade – considerando que os navios que não reportam falecimentos
tiveram taxa zero – estaria na casa dos 3,37%. Considerando-se apenas as viagens que registraram
falecimentos, essa taxa seria de 4,61% dos embarcados.
Em nossa base de dados, a viagem mais mortal, em termos percentuais, ocorreu em outubro de 1829, quando
dos 262 cativos embarcados em Angola, 31 morreram no trajeto, resultando em uma taxa de mortalidade
de 11,8%. Considerando-se apenas o subgrupo das viagens que reportaram a ocorrência de falecimentos, a
menos mortífera ocorreu em novembro desse mesmo ano, quando dos 307 africanos embarcados em
Angola, apenas 3 morreram. Porém, uma informação obtida em um relatório do Cônsul Inglês no Recife,
John Parkinson, datado de 13 de fevereiro de 1831, mostra que devemos ter reservas em relação ao número
de mortos reportados. Segundo os dados apresentados pelo britânico, a embarcação chamada Dois Irmãos,
teria saído de Moçambique com 359 pessoas, das quais 78 morreram, de forma que apenas 281 cativos
desembarcaram no Recife. Essa viagem aparece na Tabela 1 no dia 16 de dezembro de 1829, sem que haja
qualquer referência a essa alarmante taxa de mortalidade na casa dos 21,7% dos embarcados. Segundo o
depoimento do Cônsul: “The rising of the slaves on board of the ‘Dois Irmaos’ (sic)… is believed to have
been attended with circumstances of great horror. The captives on deck being compelled to assist in the
work of destruction, by pouring boiling water on their fellow-captives in revolt between decks” (Great
Britain Parliament, 1831, p. 118).
O relato de Mahommah Gardo Baquaqua, africano capturado e vendido como escravo em Pernambuco
no ano de 1845, nos fornece uma imagem das brutais condições dessa viagem.
We were thrust into the hold of the vessel in a state of nudity, the males being crammed on one side and the females on the
other; the hold was so low that we could not stand up, but were obliged to crouch upon the floor or sit down; day and night
were the same to us, sleep being denied as from the confined position of our bodies, and we became desperate through
suffering and fatigue. […]The only food we had during the voyage was corn soaked and boiled. […] We suffered very
much for want of water, but was denied all we needed. A pint a day was all that was allowed, and no more; and a great
many slaves died upon the passage. There was one poor fellow became so very desperate for want of water, that he
attempted to snatch a knife from the white man who brought in the water, when he was taken up on deck and I never knew
what became of him. I supposed he was thrown overboard. When any one of us became refractory, his flesh was cut with
a knife, and pepper or vinegar was rubbed in to make him peaceable. (BAQUAQUA, 2001 [1854], pp. 43-4)
Em relação ao número absoluto de cativos, a viagem com o maior número de almas embarcadas foi em
janeiro de 1830, quando 534 pessoas foram trazidas de Moçambique. As viagens com menor número de
cativos ocorriam entre portos brasileiros. O Recife recebia escravos partidos de Salvador e Rio de Janeiro.
Nesse comércio doméstico há o registro de uma embarcação com 6 cativos vindos de Salvador, por
exemplo. Considerando-se apenas o comércio direto com a África, o menor número de embarcados ocorre
em outubro de 1829, quando chegam ao Recife 60 escravos vindos de Angola.
Angola, aliás, era o principal ponto de embarque dos escravos levados para o Recife. Foram 9.807
pessoas, o que corresponde a 84,1% do total dos embarcados. Do porto do Recife aos portos de Malembo
e Ambriz, a distância marítima a ser percorrida é da ordem de 2.800 milhas náuticas, ou 5.200 km, que os
navios atravessavam, em condições de normalidade, em um intervalo entre 20 e 30 dias. Dos portos de
Moçambique, colônia portuguesa no sudeste africano, distante 4.379 milhas náuticas (nm) do Recife (ou
8.100 km, aproximadamente), vieram 1.075 pessoas, 9,96% do total. O pouco menos de 6% restantes,
vieram da Bahia e do Rio de Janeiro. Da capital do Império, distante 1.078 nm (quase 2.000 km) vieram
apenas 30 cativos. Já de Salvador, distante 390 nm (722 km), vieram 605.
E quem eram os compradores desses escravos? A Tabela 1 traz o nome dos responsáveis por esse
comércio. O maior traficante de escravos nesse registro era Francisco Antônio d’Oliveira (também grafado
como “de Oliveira”), a quem se destinaram 2.056 cativos, transportados em 6 embarcações. Isso representa
19% do total dos embarcados. Um dos registros consta o nome de “Francisco de Oliveira” como destinatário
de 342 cativos, ainda que desconsiderássemos esse registro, como se fosse outra pessoa, ainda assim
d’Oliveira seria o responsável pelo maior número de escravos levados ao porto do Recife.
4
Em segundo lugar aparece o comerciante de origem portuguesa Elias Coelho Cintra, que teria
importado 1.551 escravos, em 4 embarcações, representando 14,37% do total de embarcados. Cintra, que
costumava marcar seus cativos com ferro quente no peito com a letra “E”, é ranqueado por Albuquerque,
Versiani e Vergolino (2013, p. 220), como o maior traficante de escravos de Pernambuco, a quem se
destinaram 10.312 africanos entre 1814 e 1830. MELLO (2004, p. 175) o adjetiva como o “principal
negreiro da praça”. Ainda durante o período colonial, em 1822, o brigue Gavião, de sua propriedade, é
apreendido por ingleses, que o acusam de desrespeitar a interdição de comércio de escravos ao norte do
equador. A captura fora posteriormente julgada equivocada, gerando inclusive ao direito a uma indenização
vultuosa à Coelho Cintra [v. ANÔNIMO (1845, p.44) e Foreign Office (1850, p. 400-1)]. Além de
atividades comerciais, Cintra teve papel de liderança entre os portugueses quando do levante de 1817 em
Pernambuco.
Em terceiro lugar surge Antônio da Silva e Companhia (que apesar da aparência inicial, trata-se de
uma pessoa física, não jurídica) a quem se destinaram 1.224 cativos, ou 11,34% do total. Esse último é
quem fazia o comércio com mais frequências, são sete as embarcações que o registram como destinatário
dos cativos.
A Tabela 1 mostra que as últimas entradas de navios com escravos são registradas no início de
1830, quando do início da eficácia do acordo de 1826. Em texto daquele ano, Henry Cowper, então cônsul
inglês no Recife, louva a cessação do tráfico. Diz o autor à sua majestade: “you will not fail to remark, that
from 19th of March, there has been no importation [of slaves], which must be attributed to the operation of
the Treaty for the final abolition” (Great Britain Parliament, 1831, p.120). Apesar do início algo promissor,
com uma sensível queda na entrada de cativos durante a primeira metade da década de 1830, o fato é que
o desembarque de africanos no Brasil cresceria fortemente, até chegar ao fim definitivo após a lei Eusébio
de Queiroz, de 1850.
Algo menos óbvio é o envio de 36 cativos para a província de Santa Catarina, valor próximo aos 39 enviados
para a Bahia.
6
Com o fim efetivo do tráfico internacional em 1850, o tráfico doméstico se avoluma. Segundo relato
de autoridades inglesas no Brasil, entre 1850 e 1860, por volta de 40 mil escravos foram embarcados nos
portos do nordeste brasileiro com destino ao Rio de Janeiro (Great Britain Parliament, 1863, p. viii).
Número que as autoridades acham ser subestimado, graças às viagens por terra feitas pelos que desejavam
vender seus cativos, escapando dos pesados impostos incidentes sobre essa transação, variando de 100.000
a 200.000 mil-réis (rs, daqui em diante).
“I think no impression remains more deeply imprinted on my mind, than the melancholy sight of hundreds, indeed, I
may say the thousands, of black slaves that I have seen in the town and the neighborhood. You cannot move in any
direction, but slavery, with all its multiplied miseries, arrests your attention. If you walk in the streets, you meet them,
every hour of the day, in hundreds, groaning and sweating beneath their burdens, and wearing out their miserable lives
in the performance of those heavy labours that are done by horses in Scotland and England. […] Beasts of burden I have
been accustomed to see shod, to prevent their feet from being injured on hard roads; but the poor slaves… have to walk
the best of their way over burning sands and flinty pavement, always with naked, and very often with bleeding feet. I
have been accustomed to see saddle-cloths put on the back of horses, to prevent them from being hurt, but here you may
see a dozen slaves bearing along a large mast, or a large tree, upon their naked shoulders… […] The general impression
of slavery and its miserable victims, meeting the eye in every direction, destroys a great deal of the pleasures a stranger
would otherwise enjoy in this fine country”. (HMSD, 1825,pp. 43-4)
Esses escravos eram comprados, vendidos, alugados e até mesmo dados em garantia em contratos. Tratava-
se de uma “mercadoria” das mais ordinárias na vida econômica do Brasil nas primeiras décadas do século
XIX, cujos anúncios eram provavelmente os mais comuns nas páginas do Diário.
Nesta parte do texto, apresentamos uma compilação de todos os anúncios de vendas de escravos
publicados no Diário de Pernambuco entre janeiro de 1827 e dezembro de 1830. Obtemos, deste modo,
uma fotografia bastante detalhada de alguns dados pessoais e sociais dos cativos urbanos (principalmente)
da cidade do Recife. Catalogamos um universo de 1.521 escravos anunciados. Ainda que haja alguma
repetição, estamos certos que a esmagadora maioria – um mínimo de 90% - é formada de anúncios únicos.
No pior cenário possível, ter-se-ia aí o anúncio de mil indivíduos, entre homens (734), mulheres (728) e
crianças sem sexo reportados (58, tratados por “cria”). Desse total, 851 tiveram suas idades reportadas. Via
de regra, exceto para os bebês, as idades dos cativos eram apresentadas em um intervalo: entre 20 e 25 anos,
por exemplo. Usando a idade média desses intervalos, chegamos a idade média dos cativos vendidos.
Os escravos, tanto homens quanto mulheres, tinham por volta de 20 anos, em média. Com a idade
máxima reportada sendo de 40 anos. Dos anúncios que fazem referência a idade dos cativos, 852 no total,
420 tratam de pessoas entre 20 e 30 anos, ou seja, 49,3% do total. Bebês e crianças menores de 12 anos
somavam 113 indivíduos, ou 13,2% do total. Muitas dessas crianças e bebês, esses últimos em especial,
eram vendidos juntos com suas mães, de forma que é possível encontrar anúncios que fazem referências a
escravas “paridas de poucos dias” ou alguns meses. As escravas recém-paridas parecem ser um ativo
diferenciado, já que além de poderem desempenhar seus ofícios rotineiros – notadamente os domésticos –
elas passavam a servir para amas-de-leite. Mulheres pretas com filhos de poucos meses, eram vendidas para
7
alimentar crianças de terceiros. O ato de vender mãe e filho juntos, mais do que um gesto de humanidade3
– algo que devemos sempre colocar em segundo plano quando se trata da relação de senhor e escravo – era
eivado de racionalidade econômica. Estimulava, em certa medida, a reprodução dos escravos, bem como
evitava revoltas e depressões derivadas do apartamento precoce. Além disso, que valor produtivo poderia
ter uma criança de poucos meses? A partir de uma determinada idade, à medida que se aproximava dos 10
anos de vida, por exemplo, a venda do pequeno escravo passa a ocorrer em separado de sua progenitora.
Há, porém, anúncios que fazem referência explícita a possibilidade de separação da mãe de seus filhos,
caso fosse o desejo do comprador. Em um anúncio de 1830, lê-se: “A prazo ou a dinheiro... uma negra da
Costa da Mina, boa lavadeira, idade 24 anos, com 2 filhos, um com 2 e outro com 7 anos, vende-se com
filhos, ou sem eles, e todos sem vício algum: na rua da Cadeia do Recife, casa n. 6, das 8 horas da manhã
até às 5 da tarde” (DP,24/11/1830, p. 3)
Tabela 3 – Distribuição dos Escravos por Sexo e Idade – Anúncios de Venda (1827-1830)
Total de Idade Idade Idade
Faixa Etária Obs
Observações Média Máxima Mínima
Total 1.521 20,5 40 1 mês Bebês (de 0 a 1 ano) 19
Mulheres 728 21,4 40 2 Crianças (de 1 a 12 anos) 94
Homens 734 20,4 40 2 meses Adolescentes (de 13 a 19 anos) 269
Sexo não 420
58 1,27 8 1 mês Adultos (de 20 a 30 anos)
reportados
Adultos (acima de 30 anos) 50
Fonte: Diário de Pernambuco, vários números. Elaboração própria.
Como venda em separado, o mais jovem cativo oferecido nos anúncios de nossa amostra tinha apenas 1
ano de idade. Em 16 de dezembro de 1829 anunciava-se a venda de “um crioulinho de um ano de idade já
completo, andando e desmamado; na rua de Águas Verdes, defronte da porta travessa da Igreja de S. Pedro,
casa n. 21” (DP, 16/12/1829, p. 3). Quem e por qual motivo o compraria, não nos parece tão óbvio. No
relato de Koster (1816, p. 407), o preço de um escravo recém-nascido em Pernambuco estaria na casa dos
20.000 rs.
Os escravos eram adjetivados como “crioulos” (isto é, nascidos no Brasil), “de nação” ou “da costa”
(termo genérico para tratar os vindos da África), especificando adiante seu suposto gentio (Angola, Luanda,
Benguela, Moçambique, Mina, Rebolo, Congo, etc.)4. Os africanos eram classificados como “ladinos”
(podendo ser “muito” ou “pouco”), significando o grau de adaptação à língua portuguesa e aos hábitos do
país. Também eram classificados como “boçais” (acompanhado de algum adjetivo de intensidade), que
dizia ao nível de incompreensão da língua portuguesa. Os escravos de nação ainda boçais, tinham seu
trabalho típico – ao menos nos anúncios – aqueles referentes à agricultura, notadamente os engenhos de
açúcar5. Os crioulos podiam ser classificados como pretos, pardos, mulatos e “cabras”, regionalismo que
ainda hoje persiste no nordeste brasileiro, que significava que o indivíduo era mestiço.
Dos anúncios que fazem referência ao gentio dos cativos, o termo mais comum é Angola (236
observações), seguido por Crioulo (e suas variações, com 180), Mulatos (92), da costa (78), de nação (41)
Benguela (23), Cabra (22), Caçanje (19), Moçambique (18), Cabinda (13), Mina (13), Pardos (12), Rebolo
3
Em verdade, entre 1860 e 1862 foram apresentados no Senado brasileiro projetos que proibiam a separação, no caso de vendas,
dos núcleos familiares (marido, esposa, filhos). A proposta foi, por três vezes, rejeitada.
4
KOSTER (1816, pp. 418-20) identifica algumas características físicas e comportamentais nos africanos de uma e outra origem.
Diz, por exemplo, que os de Angola eram “os melhores escravos”, pois eram “tratáveis” e demonstravam bastante “apego”. Já
os Congo seriam mais “particularmente adaptados à rotina do trabalho no campo”, por exemplo. É razoável que os
pernambucanos tivessem percepção similar, de que algumas características eram mais facilmente observáveis em um ou outro
grupo, daí o fato de citar o gentio ser tão ordinário nos anúncios de venda e fuga.
5
O relato de Baquaqua é também ilustrativo nesse ponto. Ao chegar em Pernambuco, o autor conta que trabalhou primeiro
transportando pedras, ajudando na construção de uma casa para seu senhor. Ao ganhar algum conhecimento da língua portuguesa,
foi posto para vender pão nas ruas do Recife. (Baquaqua, 2001 [1854], pp. 45-6)
8
(12), Conto (9), Angicos (8), Calabar e Beni (ambos com 5). Esses resultados são compatíveis com os dados
de tráfico, apresentados na Tabela 1, que mostram que a maioria dos africanos chegados ao Recife eram
embarcados em portos angolanos.
Havia também uma clara divisão sexual do trabalho. As mulheres tinham por ocupação quase
inescapável os serviços domésticos: cozinhar, lavar e engomar. Algumas eram também doceiras,
quitandeiras, vendedouras de rua (“vendedeiras”, “boceteiras” e “tripeiras”), outras eram “mariscadeiras”
(apanhadoras de mariscos) e trabalhavam com enxada. Já entre os homens, as profissões eram algo mais
variadas. Alguns desempenhavam serviços domésticos, como de cozinheiro e pajem, mas a maioria
trabalhava fora dessa esfera. Viviam da captura de frutos do mar (pescadores, “camaroeiros” e
“caranguejeiros”), e também como canoeiro, marinheiros, tanoeiros alfaiates, sapateiros, barbeiros,
sangradores, ourives, carniceiros, carpinas, pedreiros, caiadores, carreiros, padeiros, serradores, ferreiros,
etc.
Da população dos anúncios catalogados, 1.014 fazem referência ao ofício dos cativos vendidos. São
informações referentes a 513 mulheres e 501 homens. Falava-se em “oficial de pedreiro”, por exemplo,
para aqueles que já dominavam, enquanto os que tinham “princípios de pedreiro” eram algo iniciante no
ofício. Era comum reportar que o cativo possuía mais de um ofício, como também o era dizer que o escravo
era “apto para todo o serviço”. A Tabela 4 abaixo traz algumas dessas informações.
Segundo Carvalho (1998, pp. 84-7) uma das funções desses canoeiros era o de fornecer água potável para
os habitantes dos três grandes bairros da cidade àquela altura (Recife, Boa Vista e Santo Antônio). Como a
água encontrada no subterrâneo dessas localidades era salobra, e sem um sistema de água encanada,
dependia-se do trabalho dos canoeiros para obtenção de água para o consumo humano. Mas transportava-
se toda sorte de gentes e mercadorias pelos caminhos fluviais que cortam o Recife.
A venda do escravo parecia ter uma óbvia motivação econômica, mas funcionava também como
uma punição. Comuns são os anúncios que condicionam a venda do cativo para “fora da terra” ou para
“fora da província”. Em nossa amostra, 78 fazem referência a essa condição para a realização do negócio.
Em uma dessas a punição era mais evidente, pois dizia-se que o cativo há pouco fugira para o quilombo do
Catucá. Em outro dizia-se: “vende-se por fujão”. Neste último anúncio, talvez tentando tranquilizar o
potencial comprador, ao dizer que o cativo jamais empreendera fuga “para fora da cidade”. No jornal O
Cruzeiro, encontramos uma referência ainda mais explícita. Em um anúncio de venda, lê-se: “Quem quiser
comprar um escravo de idade de 18 a 20 anos, muito sadio, porém com a condição de o embarcar para fora
9
da terra por ter vindo de quilombo e estar preso; procure na rua do queimado... que lá achará com quem
tratar” (O Cruzeiro, 30/09/1829, p. 3).
O testemunho de Baquaqua (2001, pp. 46-7) é também precioso neste ponto. O autor argumenta que tentou
a princípio ser obediente ao seu senhor, como forma de buscar um tratamento menos cruel. Quando essa
estratégia falha, entrega-se ao álcool (o alcoolismo, aliás, era um problema constante entre os escravos).
Adiante tenta fugir algumas vezes, sendo sempre capturado. Em um ato de desespero, tenta se matar,
quando é resgato, levado de volta ao seu senhor, espancado com extrema violência, e porto à venda. Sendo,
então, enviado para o Rio de Janeiro. CHALHOUB (2012, p. 57), fazendo referência a testemunhos de
escravos, afirma que estes eram “inequívocos quanto à experiência da compra e venda como uma das mais
traumáticas na vida de um escravo”, tal que a “venda para outro senhor, contra a vontade do cativo, para
locais distantes, até em outras províncias, seria a pior das experiências, causadora de sofrimentos
insuperáveis ou rebeldias homicidas”.
Tabela 5. Classificados de Venda de Escravos em que Consta o Preço (mil-réis) desejado para a Venda
(1827-1840)
Idade
Data Sexo/Nome Ofício Preço
Média
19/02/1827 F - Lavadeira 40.000
03/04/1827 F - - 140.000
29/05/1827 M 19 Carreiro 150.000
31/05/1827 M 18 Sapateiro 300.000
30/06/1827 F 15 Serviços domésticos 300.000
M 12 - 150.000
28/02/1829 F 17.5 “Cose, engoma liso e muito boa rendeira” 300.000
F 17,5 “Com princípios de costureira e cozinha o ordinário” 230.000
15/09/1829 F 16,5 Princípios de costura e cozinha 330.000
F 19 “Com pouco tempo de terra” 180.000
05/01/1830 F 20 Própria para rua ou para o campo 180.000
F 18 Princípios de costureira e engomadeira 250.000
“Um escravo próprio para o serviço do campo... como não tendo podido
o anunciante obter mais de cem mil réis por ele a vista do seu estado; faz
02/04/1830 M - certo as mesmas pessoas que já o viram ou pretendam que ele está 100.000
resolvido a entregá-lo a quem primeiro o vier buscar pela mesma
quantia"”
05/07/1830 M 30 Marceneiro 350.000
03/09/1830 F “Sabe cozinhar, lavar, engomar e cozer” 290.000
30/09/1830 M 30 Cortador de carne e canoeiro 300.000
01/10/1830 M - Canoeiro 450.000
Outra fonte de dados sobre o preço dos escravos diz respeito aos anúncios de leilão público de cativos. Esse
tipo de evento ocorria, por exemplo, objetivando saldar as dívidas de um indivíduo com o governo. Essa
amostra foi obtida para um período posterior ao de análise do restante do artigo, sendo as primeiras de
janeiro de 1831 e a última de novembro de 1839. Ainda que a comparação de preços nominais entre
períodos tão distantes seja algo perigoso, decidimos utilizar esses dados. Nossa hipótese apriorística é que
o preço dos cativos deveria ter aumentado na primeira metade da década de 1830, já que nesse período a
restrição ao tráfico ilegal parece ter sido eficiente. Ao passo que o preço deveria ter caído na segunda
11
metade, quando crescem fortemente as entradas ilegais de cativos. Os dados mostram, porém, que o preço
médio dos cativos leiloados ao longo da década foi de 194.300, sendo esse valor de 162.000 para o período
1831-1834, e de 275.000 para o período posterior. Essa última cifra não destoa daquela reportada na tabela
anterior, onde o preço médio dos cativos era da ordem de 281.000.
Há dois escravos para os quais não há referência ao gênero. Para os demais, tem-se 6 mulheres e 13
homens. O preço médio delas nessa amostra é de 130.000 rs. Se excluirmos a escrava Margarida, uma
nonagenária avaliada ao preço aviltante de 20.000 rs (mais barata que os “óculos de ver de longe em caixa
de couro” rifado no ano anterior), o preço médio delas atinge 152.000 rs. O terror da escravidão é tal, que
ainda que humilhante, podemos afirmar que a situação dessa idosa era algo privilegiada. Como animais que
não prestam mais para o serviço, os escravos velhos ou incapacitados eram abandonados por seus senhores.
Em seu relato, o viajante escocês afirma:
“I have been seen many slaves sitting around the streets, asking from the passing stranger a single vintin (sic), for the
love of God, to keep them from absolute starvation, after their life and strength had been spent in filling the coffers of
hard-hearted masters, who reward their faithful services by giving them their liberty when they were unable to do any
thing (sic) but go forth and beg, and perhaps die in the streets”. (HMSD, 1825,p. 45).
“…miserable objects are at time to be seen in Recife, asking alms in various quarters of the town, aged and diseased;
some of these persons have been slaves, and when, from infirmity they have been rendered useless, their master have
manumitted them; and thus being turned away to starve in their old age…” (KOSTER, 1816, p. 424)
Já entre os homens o preço médio é de pouco mais de 223.000 rs. Se excluirmos os meninos menores de
12 anos, o preço médio dos homens sobe para quase 268.000 rs.
Nome do Avaliados
Data Idade Ofício
Escravo (em mil-réis)
Lourenço 25 Carreiro 300.000
Francisco 19 Princípios de carreiro 250.000
Izabel 35 Serviço de casa 250.000
Luiza 30 “Achacada” 150.000
Joaquim 12 - 150.000
20/01/1831 Joze 12 - 60.000
Euzébio 8 - 130.000
Maria 6 - 180.000
Antonia 5 - 100.000
Mercolina 3 - 80.000
Margarida 90 - 20.000
04/03/1832 João 8 - 150.000
27/04/1833 Luiz - - 250.000
10/06/1834 Francisco 40 - 160.000
30/07/1834 Gonçalo - Marinheiro 200.000
Média (1831-1834) 162.000
01/09/1837 - - - 200.000
Antonio 20 Serviço de padaria 350.000
Antonio 30 Canoeiro 300.000
28/10/1837
João 40 Canoeiro e Pedreiro 300.000
Francisco 45 Serviço de rua 300.000
12/11/1839 - - 200.000
Média (1837-1839) 275.000
Média 25,1 194,3 mil
Fonte: Diário de Pernambuco, diversos números. Optamos pela manutenção da grafia original dos nomes próprios.
12
Em 1829, o jornal O Cruzeiro, ao trazer a informação sobre o preço dos bens importados. Entre a
discriminação do preço máximo e mínimo de chá, chumbo, espingardas, e toda sorte de produtos triviais,
havia a informação sobre o preço dos escravos novos. Segundo a tabela publicada nesse jornal, o preço de
um escravo vindo da África variava entre um piso de 140.000 e um teto de 300.000 rs. (O Cruzeiro,
23/05/1829, p.2). Esses valores se mantêm até maio de 1830, quando saltam para 180.000 e 350.000 rs.,
respectivamente. Esses valores são mantidos durante 1831. (O Cruzeiro, 22/05/1830, p.2). Que os preços
tenham saltado após o início da vigência do tratado de 1826 não chega a ser surpreendente. Estranho é que
esta “mercadoria” se mantenha na lista de produtos importados até 1831, quando acabam as edições desse
jornal.
N’O Cruzeiro, na sua edição de 29 de junho de 1829, há um texto que faz referência à compra de
um escravo em 1823 por 150.000 rs., enquanto outros dois teriam sido comprados em 1827 por 195.000 rs.
Ainda que a informação seja bastante genérica – não há referência às idades, origens e ofícios desses
escravos – os números são úteis, em todo caso. (O Cruzeiro, 29/06/1829, p.2)
No Diário de Pernambuco, em julho de 1829, aparece uma prestação de contas do Hospital de N. S.
da Conceição dos Lázaros, para o segundo trimestre daquele ano, em que um dos itens do tópico “receitas”
é “emolumentos de 1.048 pretos importados da África”, que corresponde a um valor de 251.520.000,00 rs.
Dividindo-se esse valor pelo número de escravos, chega-se a um valor de 240.000 réis por cativo. Em 23
de outubro, surge outra prestação de contas da mesma entidade, agora referente ao terceiro trimestre do
ano. Um dos subitens da “receita” aparece como “emolumentos de 1.168 pretos importados da África a
240”, associado a um valor de 280.320 rs. Nesse caso, entendemos que os cativos foram importados a 240
mil-réis, o que coincide com o valor implícito na primeira prestação de contas citada. (DP, 28/07/1829, p.
3).
Resende, Versiani, Nogueról e Vergolino (2014, p.8) utilizando registros de mais de 5 mil
inventários expedidos em Pernambuco e no Rio Grande do Sul entre 1800 e 1887, apresentando um retrato
detalhado da evolução do preço dos cativos nessas duas províncias. Segundo os autores, o preço médio do
escravo em Pernambuco entre as décadas de 1820 e 1830, passou de 143.972 para 248.480 rs. Esse preço,
obviamente, variava de acordo com a idade, as habilidades e o estado de saúde dos escravos. Nossa amostra,
ainda que diminuta, não parece divergir grandemente dos resultados encontrados por esses autores.
No relato de Koster (1816, p.208) o preço de um escravo adulto no início da década de 1810 era da
ordem de 100.000 rs. Eisenberg (1974, p. 153), utilizando dados de inventário no cartório de Ipojuca, afirma
que esse preço médio teria atingido 450.000 rs em 1852. Assim, o preço médio dos cativos deve ter se
aumentado em mais de 80% na província de Pernambuco, entre a proibição de 1830 e a de 1850, apesar do
crescimento do desembarque de africanos no país. Ou quatro vezes e meia em um intervalo de 40 anos.
6
Gilberto Freyre (2015 [1936], p. ?) afirmava, com propriedade, que “os anúncios de negros fugidos” eram “de uma exatidão
ou minúcia às vezes clínica”. Não se trata de um exagero. Amantino (2007), por exemplo, constrói um retrato detalhado do
estado de saúde dos escravos fluminenses a partir desse tipo de anúncios publicados no do Jornal do Commercio (RJ).
14
Tabela 7 – Recompensa oferecida pela captura de escravos fugidos (1827-1830)
Nome Idade Ofício Recompensa
Data
(Sexo) (Média) (Proprietário) (em mil réis)
Domingos (M) Serrador, carreiro e taxeiro (George Brocklehurst)
30 40.000
Oficial de Sapateiro (Antônio da Rocha Rego, Engenho
30/03/1827 N.I. (M) - 10.000
Bumbarda)
Manoel (M) - Mesmo proprietário de nome não informado. Oferecia-se 6.400
Bomfim (M) 12$800 pela captura de ambos 6.400
30/05/1827 Jezuína (F) 12 - 20.000
21/06/1827 Pedro (M) 20 Pedreiro (Joaquim Elias Xavier) 24.000
MÉDIA (1827) 20,6 17.800
25/08/1828 Domingos (M) 16 Sapateiro (Dr. Francisco Xavier Pereira de Brito) 12.800
”foi comprado a um lavrador de algodão... por nome 30.000
21/03/1829 Antonio (M) 39,5
Manoel Carneiro de Mello”
N.I. (M) - 16.666
Três escravos roubados do armazém de Elias Coelho
23/03/1829 N.I. (M) - 16.666
Cintra. Recompensa de 50.000 pelos três.
N.I. (M) - 16.666
“Julga-se que esta negra foi descaminhada por alguma 20.000
22/06/1829 Antonia (F) 21
pessoa” (João Manoel Rodrigues Valença)
Roza (F) Ama de leite 20.000
12/08/1829 23
Luiz Maria Carniceiro (Antonio Rebello da Silva Pereira Junior” 25.000
21/08/1829 19
(M)
27/08/1829 N.I. (M) - Oficial de Alfaiate (n.i.) 20.000
02/09/1829 Manoel (M) 22 Alfaiate (n.i.) 20.000
“Fala pouco português, tendo só 20 meses de terra” fugido 20.000
25/09/1829 Manu (M) 27
casa do Cônsul Holandês
N.I. (M) 40 O mais velho “fugiu com ferro no pescoço”. O sr julgava 20.000
30/09/1829 “que [eles] estarão por algum engenho do sul” (Sargernto
N.I. (M) 20 Mor da Vila de Garanhuns) 20.000
09/10/1829 Vicência (F) 25 - (João Antônio Vila-Seca) 20.000
“...consta que esse escravo acompanhava uma pessoa que o 50.000
27/10/1829 Jacinto (M) - seduziu e quisera vender na Paraíba dizendo ser seu o tal
escravo... o dito negro é furtado”
02/11/1829 Vicência (F) 25 - 50.000
03/11/1829 Manoel (M) 21 Seu senhor era o “Sargento-Mor Antonio Machado Dias” 20.000
MÉDIA (1829) 24,9 23.400
João (M) - 15.000
19/01/1830* Ambos serradores (Furtunato Joze Cardozo)
Antonio (M) - 15.000
Fugido desde 1825 (do Coronel Francisco Ignacio do 30.000
25/01/1830 Joaquim (F) -
Valle)
“Se denomina a si próprio por Luiz... fugiu de bordo da 6.000
09/02/1830 Francisco (M) -
Barca Nacional Eliza”
João (M) - “João, de Nação Caçange, Oficial de canteiro... [e] 50.000
Francisco, de nação Benguela... é oficial de caboqueiro”.
23/02/1830*
Francisco (M) - Oferecia-se gratificação de 100$000 por notícias dos dois. 50.000
(n.i.)
“Canoeiro e pescador do alto... ausentou-se há 3 anos”
25/02/1830 Joaquim (M) - 30.000
(Sebastião Lopes)
Sapateiro... “gratificação de pelo menos vinte mil réis”
19/04/1830 Simião (M) 30 20.000
(Antonio Joze de Amorim)
04/05/1830 Thomaz (M) - Caiador (n.i.) 20.000
05/05/1830 Luiz (M) 20 Carniceiro (Antonio Rabello da Silva Pereira) 25.000
13/05/1830 Caetano (M) 30 - (Antonio Luiz Bizerra da Silva) 20.000
Cypriano (M) 22,5 “Fugiram seduzidos por outros escravos, os escravos 200.000
Filipe (M) 22,5 abaixo mencionados, oficiais de canteiro, os quais se 200.000
27/05/1830* deixaram vender a ladrões, que hoje se acham presos...” 200.000
Joze (M) -
(Francisco Antonio de Paiva)
Izidoro (M) 18 Canteiro (fugido desde fevereiro de 1829) 200.000
24/07/1830 Antonio (M) 15,5 “Fugido no dia 5 de dezembro de 1828” 30.000
15
02/08/1830 Elias (M) 15,5 (Bernardino Antônio Domingos) 40.000
“Julga-se ter sido furtada e vendida para o sertão no ano de 20.000
07/08/1830 N.I. (F) 29
1824” (Francisca Felizarda Leal de Barros)
20/08/1830 João 30 (Antonio Joze Guimarães) 12.800
13/08/1830 Feliciano (M) 28 Alfaiate, muito ladino (Joaquim Joze da Silva Bairão) 12.000¥
Canoeiro e pescador. Ficara fugido 3 anos e 7 meses, e 20.000
16/08/1830 Joaquim (M) 25
voltou a fugir. (João Pereira da Silveira)
“Fugido há mais de 2 anos e supõe-se que foi conduzido 50.000
30/08/1830 N.I. (M) 22,5
para o sul” (Joze André de Oliveira)
31/08/1830 N.I. (M) 17,5 - (Antonio Barboza Cabral) 20.000
“Princípios de sapateiros por isso supõe-se que esteja
20/09/1830 Joze (M) 17,5 acoitado em alguma tenda de sapateiro” (Antonio Barboza 30.000
Cabral)
27/10/1830 Domingos (M) - Oficial de Sapateiro 20.000
02/11/1830 Antonio (M) 21 - 20.000
12/11/1830 Vicência (F) 25 Quitandeira (Joze Antonio Vilasca) 50.000
14/12/1830 N.I. (F) - Vendedeira, “saiu para vender leite”. 20.000
MÉDIA (1830) 23,2 51.474
MÉDIA
23,6 36.957
GERAL
(*) Esses anúncios tratam da fuga de mais de um escravo. Optou-se por dividir o valor total da recompensa ofertada pelo número
de fugitivos. (Ω) O anúncio oferecia 40$000 pela captura e 20$000 pela denúncia. (Ψ) O anúncio oferecia uma recompensa
variável a depender de onde o fugitivo fosse capturado. 12 mil valeria para as capturas no Recife, chegando a 200 mil caso o
escravo fosse capturado em províncias mais distantes como Rio de Janeiro e Bahia. (¥) 12$000 era a recompensa pela captura
do escravo no Recife, mas o prêmio poderia chegar até 200$000 caso ele fosse capturado nas províncias do RJ ou BA.
As informações na Tabela 7 servem para ilustrar mais uma vez o quão barata era a mão de obra escrava. A
tabela abaixo traz algumas informações sobre o preço de venda e a recompensa oferecida pela captura de
cavalos roubados ou fugidos, durante o período de 1827 a 1830.
A Tabela 8, apesar do reduzido número de informações, reporta que a recompensa média pela captura de
um cavalo era da ordem de 17.000 rs. Valor pouco abaixo dos 24.500 rs oferecido em média pelos escravos
(exclusive os outliers). No caso dos cavalos, se retirarmos a última observação, cuja recompensa de 30.000
16
rs incluía a recuperação dos demais itens, o valor médio da recompensa atinge 14.600 rs. Em todo caso, vê-
se que na sociedade recifense do período, dois cavalos tinham o mesmo valor de um escravo, em termos de
prêmio pela recaptura. Já o pelo preço de venda, o valor médio do cavalo era de 65.599 rs, enquanto o dos
escravos, segundo a Tabela 5, era de pouco mais de 281.000 rs. Ou seja, o preço de um cavalo equivalia a
quase 25% do preço de um cativo.
A Tabela 9 mostra as remunerações anunciadas por trabalhos realizados por escravos. Tem-se aí o
preço oferecido pelo proprietário do cativo (aluguel de escravos), preço oferecido para contratação
temporária de escravos (locatários de escravos) e o preço oferecido pelos órgãos públicos para realização
de trabalhos (contratação de escravos pelo governo). O mais comum eram os anúncios que tratavam da
remuneração diária (o “jornal”) a ser paga pelo trabalho dos cativos. Nas palavras da BETHELL (2008, p.
3), esses eram os chamados “negros de ganho – individual slaves who were hired out by their máster and
paid wages”. Como forma de transformar esse jornal em um salário mensal, supusemos um mês com 22
dias úteis. Um valor arbitrário, mas que certamente nos fornece uma previsão conservadora dos possíveis
ganhos do cativo.
Vê-se que a remuneração paga pelo trabalho do escravo deveria variar entre um piso de 3.520 rs. para as
vendedoras, até 12.000 e 14.000 rs mensais para alguns canoeiros e torneiros. Supondo o preço de escravo
de 281.000 rs. – como obtido na Tabela 5 – e uma remuneração de 14.000 rs., seriam preciso 20 meses de
17
trabalho de escravo tanoeiro, para se obter o valor de um cativo. Já se o cativo custasse 194.000 rs., como
reportado na Tabela 6, seriam necessários quase 14 meses de trabalho. Para os que ganhavam 4.400 rs.
mensais, seriam necessários 63 meses de trabalho para adquirir um cativo a 281.000 rs., ou 43 meses, para
um que custasse 191.000 rs.
KOSTER (1816, p.423), por exemplo, ao falar dos escravos canoeiros, sapateiros, marceneiros, etc.,
diz: “these men may acquire a sufficient sum of money to purchase their own freedom, if they have the
requisite of prudence and steadiness to allow their earnings to accumulate”. É óbvio que na condição de
cativo, a remuneração líquida obtenível era significativamente inferior a esses valores. Ou os dias de
trabalho para o próprio lucro, se reduziam aos sábados e alguns dias santos (Koster, 1816, p.425-6). De
forma que o escravo precisaria de muitos mais anos de trabalho e poupança para compra sua liberdade.
Porém, supondo que os trabalhadores livres ganhavam o mesmo que o aluguel pago por esses escravos, a
compra de cativos era totalmente viável para tanoeiros, ferreiros, serralheiros, carpinteiros, serradores,
pedreiros, por exemplo. Importante lembrar que como qualquer outra mercadoria, o escravo era também
vendido a prazo, aumentando ainda mais a acessibilidade a esse “ativo”. Em suma, o trabalho escravo não
era particularmente caro no Recife da década de 1820 e 1830. Sendo acessível inclusive para trabalhadores
livres que desempenhavam funções citadas no parágrafo anterior. Nossas especulações estão de acordo com
COSTA e SILVA (2011, p. 45), quando o autor afirma que “não era só as casas ricas que havia escravos;
nas dos remediados também”. De tal forma que “a primeira coisa que, em geral, fazia uma pessoa, mal
melhorava de vida, era comprar um escravo ou escrava”. Segundo o autor, “não havia morada de médico,
advogado, professor, funcionário público, pequeno comerciante, boticário ou oficial do exército”, que não
contasse com “escravas para as tarefas domésticas”. E mesmo “um carpinteiro, um ferreiro ou pintor de
paredes, se ia bem na profissão, adquiria um ou mais rapazolas para aprender o ofício e ajudá-lo na faina”.
As doceiras faziam o mesmo, comprando “mocinha” para auxiliá-las. “E isso se dava também com ex-
escravos e as ex-escravas, pois não era incomum que os libertos possuíssem cativos”.
Segundo FREYRE (ANO[1936], p. ??), aliás, “no Brasil” escravocrata “os barbeiros, os ferreiros,
os carpinteiros, os pintores de parede, todos” eram “donos de escravos”, os quais “lhes carregavam as
ferramentas e lhes preparavam as tintas: os senhores quase não sujavam os dedos; andavam de chapéu de
três bicos e de sobrecasaca”. Humboldt (1829, p. 209) afirmava que dos quase 2 milhões de escravos que
haviam no Brasil, “mais de ¾ não estavam ocupados na lavra do ouro” ou na produção de “produtos
coloniais”, algo que risível a tese de que o tráfico de escravos era um “mal necessário”.
Conclusão
A partir da análise de todos os números publicados pelo Diário de Pernambuco entre 1827 e 1830, com
auxílio de outras fontes, o artigo obteve as seguintes conclusões: (i) Fez-se uma tabela mostrando todos os
registros das entradas de escravos nos portos do Recife, com destaque para as embarcações saídas da costa
da África, notadamente de Angola. Mostrando-se de que portos partiam, quantos foram embarcados,
quantos morreram no trajeto e a quem se destinavam esses cativos. (ii) Construiu-se uma tabela do mesmo
gênero, mostrando o embarque de escravos no porto do Recife, com destino a outras províncias do Império.
Mostra-se que no período o principal destino desses cativos eram o Rio de Janeiro, seguido por Maranhão
e Rio Grande do Sul. (iii) A partir dos anúncios de venda, mais de 1.500 observações para o período,
apresentamos um retrato da escravidão, principalmente urbana, no Recife daquele período. Mostrando a
divisão por idade dos cativos postos à venda, a divisão por sexo e por ofício. O que se vê é que as profissões
masculinas eram mais diversificadas – com destaque para os canoeiros, sapateiros, pedreiros, carniceiros e
alfaiates, por exemplo – enquanto as mulheres se dedicavam em sua maioria aos serviços domésticos. (iv)
Para determinar qual era o preço nominal dos escravos, utilizou-se informações não só dos anúncios de
venda, mas também outras referências explícitas a preços publicadas àquela época. O que vimos é que o
preço dos escravos tinha uma grande variância – algo não surpreendente, dada a diversidade de habilidades
e características dos indivíduos – mas que via de regra flutuava ente 150.000 e 300.000 réis. Além disso,
18
catalogou-se o valor das recompensas oferecidas pela captura de escravos ao longo do período. (v) Para
determinar o preço relativo dos escravos, fez-se uso das informações sobre o valor de venda e a recompensa
pela captura de cavalos, por exemplo. Bem como o quanto custava um cativo médio, em termo da
remuneração diária paga pelo trabalho de escravos em diferentes tipos de ocupação (não que os escravos
recebessem essa remuneração, mas sim os seus senhores o alugavam em troca daqueles valores). O que se
vê é que um cativo era uma mercadoria relativamente barata, sendo acessível inclusive para pessoas livres
que desempenhavam ofícios simples. Daí a grande penetração do trabalho escravo na sociedade recifense
(e brasileira, por extrapolação). Fator este que segundo muitos autores é uma das razões para o fracasso das
leis que proibiam o tráfico de escravos após 1830.
Referências Bibliográficas
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