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O Brasil Imperial -
Vol. 11-1831-1889
CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA
Rio de Janeiro
2009
COPYRIGHT © 2 0 0 9 , Keila Grinberg e Ricardo Salles (orgs.)
CAPA "
Sérgio Campante
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
Inclui bibliografia
ISBN 9 7 8 - 8 5 - 2 0 0 - 0 8 6 7 - 6
CDD: 981.05
09-3819 CDU:94(81)"1822/1889"
Impresso no Brasil
2009:
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Sumário
APRESENTAÇÃO 7
José Murilo de Carvalho
PREFÁCIO 11
CAPÍTULO I
O gigante e o espelho 13
limar Rohloffde Mattos
CAPÍTULO II
O laboratório da nação: a era regencial (1831-1840) 53
Marcello Basile
CAPÍTULO III
Movimentos sociais: Pernambuco (1831-1848) 121
Marcus J. M. de Carvalho
CAPÍTULO IV
Cabanos, patriotismo e identidades: outras histórias
de uma revolução 185
Magda Ricci
CAPÍTULO V
Uma certa Revolução Farroupilha 233
Sandra Jatahy Pesavento
s
CAPÍTULO vii O fim do tráfico transatlântico
de escravos para o Brasil:
paradigmas em questão
Jaime Rodrigues
No encaminhamento do problema da escravidão é pos-
sível distinguir quatro momentos principais, que podem
também ser pensados enquanto situações típicas de res-
posta político-partidária à resistência da sociedade agrá-
ria escravista à alteração do statu quo: a) extinção do
tráfico (...) b) Lei do Ventre Livre (...) c) Lei dos Sexa-
genários (...) d) abolição.
PAULA BEIGUELMAN, Formação política do Brasil, p. 231-232
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ofícios artesanais, "e principalmente proibir que uns pretos possam ter
outros em escravidão, nem uns mulatos a outros mulatos (...)". 8
Seu contemporâneo Luiz dos Santos Vilhena apontava a preguiça
como característica inerente aos africanos, independentemente de sua
condição ser a de escravos ou forros. Paradoxalmente, o fluxo anual de
milhares de africanos para o Brasil não contribuía para o aumento da
população, devido às más condições de vida e à índole dos escravos:
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O início dos trabalhos legislativos brasileiros também abria um novo e
importante campo para o debate em torno da construção da nação e do
povo brasileiros.
Bom exemplo disso é a obra de Antônio Rodrigues Veloso de Olivei-
ra, bacharel em direito por Coimbra que fora chanceler na Relação
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será desses entes sem cultura e civilização que o Brasil espera au-
mentar e fazer progredir sua população? Não: o Brasil não quer o
aumento e progresso de sua população provenientes desses infeli-
zes habitantes d'África. Sim, vão outra vez habitar as áridas mar-
gens do Senegal esses filhos de incultos campos, esses selvagens
dignos da compaixão da humanidade. Se o Brasil quer aumentar
sua população, mande vir colonos alemães, suíços e outros de ou-
tras nações civilizadas.20
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dores nacionais com sua indolência e, a ter uma população assim, era
melhor não ter nenhuma... Entre as causas da propalada indolência dos
trabalhadores nacionais figurava a escravização dos africanos, mas nem j
por isso Rebelo propôs a abolição geral: isso era "o que no Brasil se pode
dizer impossível".21 O que deveria ser combatido era o tráfico negreiro,
denominado "comércio infame" e "tráfico de carne humana":
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sustar os senhores ao sentir que poderiam ficar sem seus escravos, mes-
mo tendo em conta todos os inconvenientes do medo que se usavam
frequentemente entre os homens letrados. Maciel da Costa vivia o di-
lema da camada senhorial do início do século X I X que, mesmo toma-
da pelo crescente medo das ações escravas, tinha de conciliar isso com
a impossibilidade de encontrar substitutos efetivos para a mão de obra
escrava africana.
Pouco tempo antes da edição dessa obra, veio à luz o texto de Muniz
Barreto — cujo contexto de produção é tão importante quanto o da
publicação. Barreto escrevera Memória na Bahia em 1817 53 — ano em
que os governos britânico e português assinavam a convenção adicional
ao tratado de 1815, que proibira o tráfico ao norte do Equador, até en-
tão desrespeitado pelos traficantes baseados em Portugal e no Brasil.S4
Pela data e pelo local do manuscrito, são compreensíveis as semelhanças
entre essa e a já mencionada obra de Oliveira Mendes, seu contemporâ-
neo e provável interlocutor. Muniz Barreto descreveu a escravidão na
África de maneira muito parecida com a de Oliveira Mendes, citando as
mesmas leis que supostamente permitiriam a escravização naquele con-
tinente. A publicação de Memória, porém, só ocorreu em 1837, em
contexto muito diverso: o manuscrito de Barreto fora tirado do esqueci-
mento pelos parlamentares conservadores para contraporem-se à pro-
paganda liberal, que publicara o trabalho de Frederico Burlamaqui no
mesmo ano, atacando o tráfico. 55 Assim, a edição de Memória de Muniz
Barreto traz os argumentos favoráveis ao tráfico do final do século XVIII
para a ordem do dia na década de 1830, período marcado por intensos
debates no meio letrado em função do descumprimento da legislação que
proibia esse comércio e da pressão inglesa contra o tráfico brasileiro ile-
gal. Certamente, seria precipitado ceder à tentação de dizer que o uso de
tais argumentos era um anacronismo. Na luta política pela manutenção
do tráfico de africanos, valiam todos os argumentos em defesa desse co-
mércio que, afinal de contas, dava boas provas de sua vitalidade ao pros-
seguir ativo e regular na ilegalidade.
O autor de Memória sobre o comércio de escravos, de 1838, como ou-
tros que fizeram a apologia do tráfico de escravos, encarava-o como
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O desfecho da movimentada história ç}o fim do tráfico transatlântico
de escravos para o Brasil, tal como o conhecemos, aproximava-se. Mu-
danças significativas foram feitas no projeto que se tornou a lei conhecida
pelo nome de Eusébio de Queirós, embora tivesse sido apresentado por
Felisberto Caldeira Brant, o marquês de Barbacena, em 1837.
O tráfico foi juridicamente equiparado à pirataria. Os traficantes,
colocados sob a jurisdição de um tribunal especial — a Auditoria de
Marinha —, ficaram sujeitos a penas de prisão e pagamento das despe-
sas de reexportação dos africanos embarcados de volta à África. Os se-
nhores de escravos que comprassem africanos passariam a ser julgados
em outra categoria penal, a alçada da justiça comum, certamente mais
branda, escapando da Auditoria de Marinha. Quem auxiliasse os negó-
cios negreiros, apesar de reconhecidas suas culpas, não seria mais defini-
do como contrabandista.
Do ponto de vista penal, a Lei Eusébio de Queirós era menos abran-
gente do que a lei de 1831, pois quem comprasse africanos importados
ilegalmente não seria mais considerado réu em crime de contrabando.
Essa mudança de foco ajuda a explicar a necessidade de uma segunda lei
de proibição do tráfico, num momento em que a figura do traficante/
contrabandista "descolara-se" da imagem dos senhores de terras e escra-
vos perante a opinião pública.77
A abordagem do tema pelos caminhos feitos até aqui permite tentar
responder a uma questão que julgo essencial: por que o fim do tráfico
ocorreu depois de 1850 e não após 1831? A indagação não é nova, e,
nos últimos anos, Manolo Florentino foi um dos historiadores que para
ela procurou respostas. Embora aponte o peso da pressão britânica, o
autor a isso não se restringiu e analisou a "comunidade de traficantes" 78
e seu profundo envolvimento em diferentes esferas da sociedade e dos
poderes constituídos, abrindo nova seara de pesquisas a ser explorada
em todos os portos do país, receptores de fluxos consideráveis de cati-
vos pelo tráfico transatlântico.
Creio que o estudo pelo viés clássico da pressão inglesa como fator
determinante já rendeu bons frutos. Outras motivações também mere-
cem ser consideradas nas análises do fim do tráfico transatlântico — ainda
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Notas
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4. Robert Conrad, Twnbeiros: o tráfico escravista para o Brasil, São Paulo, Brasiliense,
1 9 8 5 , p. 2 1 2 (grifo meu), e Os últimos anos da escravatura no Brasil, 2 a ed., Rio
de Janeiro, Civilização Brasileira, 1 9 7 8 , p. 3 0 , respectivamente.
5. Tais pesquisas resultaram nas obras O infame comércio: propostas e experiências
no final do tráfico de africanos para o Brasil (1800-18S0), 2 a ed., Campinas, Ed.
Unicamp, 2 0 0 5 , e De costa a costa: escravos, marinheiros e intermediários do
tráfico negreiro de Angola ao Rio de Janeiro (1780-1860), São Paulo, Cia. das
Letras, 2 0 0 5 .
6. Manuel Ribeiro Rocha, Ethiope resgatado, empenhado, sustentado, corrigido e
libertado, Lisboa, Of. Patriarchal de Francisco Luiz Ameno, 1 7 5 8 .
7. David Brion Davis, El problema de la esclavitud en la cultura Occidental, Buenos
Aires, Paidós, 1 9 6 8 , p. 121 (tradução brasileira: O problema da escravidão na
cultura ocidental, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2 0 0 1 ) . Ver também W E.
B. Du Bois, The Supression of the African Slave Trade to the United States of
America (1638-1870), Nova York, Dover, 1 9 7 0 , p. 4 - 6 .
8. Basílio Teixeira de Saavedra Freire, "Informação da capitania de Minas Gerais",
Revista do Arquivo Público Mineiro, v. 1, 1 8 9 7 (manuscrito de 1 8 0 5 ) , p. 6 7 4 e
617, respectivamente.
9. Luiz dos Santos Vilhena, Recompilação de notícias soteropolitanas e brasílicas,
Bahia, Imprensa Oficial, 1 9 2 1 , p. 9 2 1 . A primeira edição foi publicada por volta
de 1 8 0 0 . As condições dos navios em que se faziam as travessias transatlânticas
ainda estão por merecer estudo mais alentado. Sobre esse assunto, remeto a meu
livro De costa a costa, op. cit., em especial p. 1 3 1 - 1 5 8 , e a meu texto "Arquitetura
naval: imagens, textos e possibilidades de descrições dos navios negreiros", in
Manolo G. Florentino (org.), Tráfico, cativeiro e liberdade: Rio de Janeiro, séculos
XVII-XIX, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2 0 0 5 , p. 7 9 - 1 2 3 .
10. Vilhena, Recopilação..., op. cit., p. 9 0 5 e 9 1 4 .
11. José Joaquim da Cunha Azeredo Coutinho, Análise sobre a justiça do comércio do
resgate dos escravos da costa da África, Lisboa, Nova Oficina de J o ã o Rodrigues
Neves, 1 8 0 8 , p. 2 9 6 a 3 0 4 . As citações encontram-se às p. 2 9 6 e 2 9 8 e remetem
à edição organizada por Sérgio Buarque de Holanda, Obras econômicas de]. J. da
Cunha Azeredo Coutinho, São Paulo, Cia. Editora Nacional, 1 9 6 6 (o manuscrito
é de 1 7 9 6 ) .
12. Para discussão acerca do significado de " p o v o " em alguns outros autores dos
séculos XVIII e X I X , ver Francisco J. C. Falcon, " O povo brasileiro: ensaio
historiográfico", Revista USP, n° 4 6 , julho/agosto de 2 0 0 0 , em especial p. 3 3 - 3 8 .
13. Antônio Rodrigues Veloso de Oliveira, Memória sobre os melhoramentos da pro-
víncia de São Paulo, aplicável em grande parte a todas as outras províncias, Rio de
Janeiro, Tipografia Nacional, 1 8 2 2 . Utilizei-me da segunda edição, publicada em
1 8 6 8 na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, v. 3 1 , I a parte.
14. Nas palavras de Augusto Victorino Alves Sacramento Blake, Dicionário bibliográ-
fico brasileiro, v. I, Rio de Janeiro, Tipografia Nacional, 1 8 8 3 / 1 9 0 2 , p. 3 0 4 - 3 0 5 .
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