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Dados do Relatório
Nome do Plano DISTRIBUIÇÕES DE VELOCIDADE DE GASES EM REGIMES NÃO
RELATIVÍSTICO E RELATIVÍSTICO
Introdução
O estudo teórico e experimental do comportamento da matéria altamente energizada é de
grande interesse em muitos ramos da Física. A título de exemplos, podem-se citar a Astrofísica
e a Física Estatística.
Olschewski (2004) expõe que o aquecimento da matéria sólida gera um líquido, que, se
aquecido, forma um gás. Este, por sua vez, pode ser molecular. Ao fornecer-lhe mais energia
térmica, ter-se-á um gás atômico. Ao entregar mais calor no sistema, os elétrons separar-se-ão
dos átomos, formando uma nuvem de íons e elétrons. A tal disposição da matéria dá-se o
nome de plasma.
Observa-se essa configuração da matéria em objetos astrofísicos como o Sol (LANG & ZIRIN,
2021) e os quasares (KOVALEV et al, 2016). Para descrever detalhadamente sistemas físicos
colossais como estes, utilizam-se parâmetros macroscópicos – como temperatura, pressão e
volume – e microscópicos – como a velocidade dos corpúsculos que os compõem.
Objetivo Geral
Aplicar as distribuições de velocidades de Maxwell-Boltzmann e de Maxwell-Jüttner a valores de temperatura
encontrados em objetos astrofísicos.
Objetivos Específicos
1 - Encontrar as expressões da velocidade mais provável, da velocidade média e da velocidade vrms dos
átomos de hidrogênio ionizado (prótons) para as duas distribuições de velocidades; 2 - Comparar os parâmetros
resultantes das distribuições de velocidades.
Materiais e Métodos
Para os fins a que se propõe o projeto, e por sua natureza eminentemente teórica, esta
pesquisa se caracteriza como exploratória (GIL, 2007), pois busca explicitar o problema e
familiarizar sua compreensão. Além disso, é bibliográfica, pois se embasa unicamente em
materiais científicos publicados para, então, apresentar uma aplicação hipotética de uma teoria
utilizando critérios de outra teoria, ou seja, aplica-se a teoria na teoria.
Resultados
Inicialmente, apresentam-se as distribuições de velocidades de Maxwell-Boltzmann (Equação
- Nussenzveig, 2002) e de Maxwell-Jüttner (Equação – simplificada de Germani, 2014;
Kubli e Herrmann, 2021):
Há diferentes formas de deduzi-las. Apesar disso, escolheu-se partir da mesma origem, qual
seja, a distribuição de Boltzmann (Nussenzveig, 2002) ou distribuição de Gibbs (Landau e
Lifshitz, 1980), dada por
Landau e Lifshitz (1980) propõem a substituição da energia no termo exponencial pela energia
cinética clássica e a consequente normalização da função para dedução da distribuição de
Maxwell-Boltzmann. Com relação à distribuição de Maxwell-Jüttner, Hakim (2011) aponta o
mesmo caminho dedutivo, mas com a utilização da energia relativística no termo exponencial.
Maxwell-Boltzmann: dedução
Conforme Halliday, Resnick e Walker (2012), a energia cinética clássica é dada por
A nova equação
consiste numa função densidade de probabilidade. Isso significa sua integração em três
dimensões é igual à unidade (DEVORE, 2006):
O integrando de é a função distribuição de momentos de Maxwell-Boltzmann:
ou
Maxwell-Jüttner: dedução
De acordo com Nussenzveig (2006), a energia cinética relativística possui a seguinte
expressão:
onde
e, portanto,
Fazendo em :
A normalização de implica na condição
Os termos que multiplicam nas exponenciais podem ser unidos em um único parâmetro zeta:
Patsko (2001) afirma que a análise desta variável é essencial para determinar se um sistema
será tratado de forma clássica ou relativística. Quando tende a valores muito grandes, o
tratamento não relativístico é o indicado. Regimes ultra-relativísticos ocorrem quando tende a
zero.
Samojeden (2000, p. 20) afirma que é a “razão entre a energia de repouso e a energia
térmica de uma partícula”. Para corpúsculos de mesma massa, a temperatura absoluta é o
fator determinante do regime do sistema.
Fazendo
Fazendo em :
Substituindo em , tem-se
De acordo com Arfken e Weber (2007), a relação de recorrência
ou
sendo
Discussão
e : Maxwell-Jüttner
A velocidade média quadrática desta distribuição pode ser calculada por métodos numéricos.
Não há solução analítica, segundo os softwares matemáticos utilizados, para a integral
Entretanto, foi possível encontrar, utilizando substituições trigonométricas hiperbólicas
(CHANDRASEKHAR, 2013) e o método da diferenciação sob o sinal de integral (FEYNMAN,
1985), uma expressão em função de funções especiais, como as modificadas de Struve
(ABRAMOWITZ & STEGUN, 1968) e de Bessel:
onde são funções modificadas de Struve de ordem (MOSIUN & HALIM, 2018). Tem-se,
portanto, a velocidade rms em termos de :
Optou-se pela aplicação das distribuições em sistemas astrofísicos simples como o Sol e o
quasar 3C 273 sem levar em consideração possíveis efeitos quânticos ou magnéticos. De
acordo com Lang e Zirin (2021), a temperatura da superfície do Sol é de cerca de 5800 K. Para
prótons (íons de hidrogênio), de massa individual de repouso , tem-se
ou , uma quantidade muito grande. Trata-se, nesse caso,
de regime clássico, no qual as distribuições praticamente coincidem.
Figura 4 – Distribuição de velocidades de Maxwell-Jüttner para prótons à temperatura da superfície do Sol: Valores
esperados.
A distribuição de Maxwell-Jüttner foi plotada e os valores esperados calculados a partir da
Equação (82) a seguir, pois os softwares Wolfram Alpha e Integral Calculator – de cálculo – e o
programa RStudio – de cálculo e de plotagem – não conseguiram processar a Equação
(56) com muito grande:
sendo
Assim:
A Equação (82)‡ seria a Equação (88) em função da velocidade. Ressalte-se que,
considerando válida a aproximação
tem-se
Entre os quasares conhecidos, o 3C 273 é o que possui maior luminosidade. Em razão disso,
é um dos mais estudados. Há pesquisas que estimam que este objeto pode apresentar
temperaturas da ordem de (KOVALEV et al, 2016). Tal quantidade pode provocar
velocidades muito altas dos átomos e dos íons que compõem o gás no entorno do buraco
negro. Prótons à temperatura possuem .
Ressalte-se que basta dividir os valores médios da velocidade de ambas as distribuições por c
para encontrar , e . Todos os valores esperados da distribuição de Maxwell-
Boltzmann para prótons à temperatura do quasar 3C 273 não possuem sentido físico, pois o
pico do gráfico da figura abaixo ocorre em . Isso ocorre porque, segundo Nussenzveig
(2006), partículas com massa de repouso maior que zero limitam-se a velocidades menores
que c:
Considerando apenas as distribuições cujo valor de utilizado possibilitou sua distinção, pode-
se comparar percentualmente os valores esperados:
O estudo das distribuições de velocidades e a aplicação destas a sistemas simples, nos quais
apenas a massa das partículas e a temperatura definem a estatística das velocidades
corpusculares, demonstraram que a opção pela distribuição depende do regime com o qual se
trabalha. Este, por sua vez, é definido pelo valor do parâmetro , que combina os valores de
massa corpuscular e de temperatura, conforme expõe Samojeden (2000).
Apesar dos softwares utilizados não conseguirem computar valores muito grandes de para a
distribuição de Maxwell-Jüttner, tal estatística tende para a distribuição de Maxwell-Boltzmann
nesta situação. É possível, portanto, utilizar aquela distribuição relativística de velocidades em
sistemas físicos, qualquer que seja o regime.
Conclusão
A aplicação das distribuições de velocidade de Maxwell-Boltzmann e de Maxwell-Jüttner aos sistemas
astrofísicos a partir das deduções baseadas na distribuição de Gibbs e dos valores médio, mais provável e rms da
velocidade ou do percentual desta em relação à velocidade da luz no vácuo ilustra modelos físico-matemáticos
adequados a situações específicas. A desconsideração de efeitos magnéticos e quânticos dos sistemas nos quais
foram aplicadas as distribuições (Sol e Quasar 3C 273) mostra-se como uma limitação desta pesquisa e, ao
mesmo tempo, como uma oportunidade de novos estudos, pois, conforme Hakim (2011), há estatísticas que
consideram tais efeitos. Esta pesquisa proporcionou a produção de dois artigos científicos. A parte referente à
distribuição de Maxwell-Boltzmann foi aceita para publicação na revista "Physicae Organum" da UnB e parte
referente à distribuição de Maxwell-Jüttner foi submetida para a "Revista Brasileira de Ensino de Física" da
Sociedade Brasileira de Física.
Referências
ABRAMOWITZ, M.; STEGUN, I. A. Handbook of Mathematical Functions with Formulas,
Graphs and Mathematical Tables. New York: Dover Publications, 1968.
FEYNMAN, R. P. Surely You’re Joking, Mr. Feynman! Bantam, New York, 1985.
http://cbpfindex.cbpf.br/publication_pdfs/Dissertacao_Felipe_Tolentino_Lopes_Germani.
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GIL, A. C. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 4a ed. São Paulo: Atlas, 2007.
LANDAU, L. D.; LIFSHITZ, E. M. Statistical Physics: part 1. 3rd ed. revised and enlarged.
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LANDAU, L. D.; LIFSHITZ, E. M. The Classical Theory of Fields. 4rd ed. revised. Oxford:
Pergamon Press, 1975.
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SAMOJEDEN, L. L. As equações de Burnett segundo a Teoria Cinética Relativística e a
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