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: Diogo Medeiros

DIREITOS HUMANOS

Prof.: Diogo Medeiros

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PONTO 3 – Direitos Humanos e Responsabilidade do Estado

O direito internacional contemporâneo consolidou um catálogo de direitos fundamentais da pessoa e,


simultaneamente, também foram estabelecidos mecanismos de supervisão e controle do respeito, pelo
Estado, desses mesmos direitos protegidos. Ao Estado incumbe, portanto, respeitar e garantir os direitos
elencados nas normas internacionais.
A responsabilidade internacional consiste em obrigação internacional de reparação em face de violação
prévia de norma internacional, sendo considerado por alguns como princípio geral do Direito Internacional.
A responsabilidade internacional chama-se objetiva, ou seja, independe da vontade do estado em praticar o
ato ilícito – não se discute culpa ou dolo.
Pode-se falar basicamente, em duas ordens/espécies de obrigações estatais:

a) adequação do direito interno - art. 2, 2 PIDCP, art. 2, 1, PIDESC e art. 2º, CADH) – exemplo da Lei
Maria da Penha (Lei 11.340\2016);

b) respeito e garantiapor parte dos Estados.

Por cláusula federal entende-se que o Brasil é Estado federal uno e, portanto, passível de responsabilização
mesmo quando o fato internacionalmente ilícito seja de atribuição interna de um Estado-membro. A União
atua como ente com personalidade jurídica internacional (art. 21, I, CF – competência para as relações
internacionais), sendo responsável.
A prática do direito internacional destaca três elementos da responsabilidade internacional: fato
internacionalmente ilícito, resultado lesivo e nexo causal entre o fato e o resultado lesivo.
Quanto ao fato internacionalmente ilícito, consiste no descumprimento dos deveres básicos de garantia e
respeito aos direitos fundamentais inseridos nas dezenas de convenções internacionais ratificadas pelos
Estados.
O resultado lesivo é toda a gama de prejuízos materiais e morais causados à vítima e familiares.
A imputabilidade consiste no vínculo entre a conduta do agente e o Estado responsável. O Estado comete
atos violadores do Direito internacional por intermédio de pessoas e é sempre necessário avaliar quais atos
por elas cometidos podem vincular o Estado. Não importa a natureza ou tipo de ato, o importante será o
conceito jurídico de imputação.
A responsabilidade do Estado pode derivar de atos do Poder Executivo, Legislativo e Judiciário.

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a) Atos do poder executivo:


Atos comissivos ou omissivos: Estado pratica ou deixa de praticar. Cabe ao Estado respeitar e garantir os
direitos humanos, tais obrigações ensejam responsabilização quando seus agentes violam direitos humanos
ou se omitem injustificadamente, na prevenção ou repressão de violações realizadas por particulares.
Atos “ultra vires”: atos praticados com abuso de poder ou abuso de autoridade. Ato que parece
legal/legítimo, mas esconde um abuso de autoridade, os agentes extrapolam a competência legal. Ex.
violência policial.
Atos de particulares: exige-se descumprimento do dever de prevenção ou punição por parte do Estado.
BRASIL - Caso José Pereira: trabalhador que procurava oportunidade de emprego, um dia viu proposta para
trabalhar em Fazenda no Pará, só que, na verdade, era praticamente um campo de trabalho escravo. José
Pereira, ao tentar fugir, levou um tiro no olho, enquanto outros trabalhadores morreram. O Brasil
reconheceu sua responsabilidade por não ter fiscalizado corretamente (solução amistosa).

b) Atos do poder legislativo: todas as leis, inclusive a Constituição podem ensejar violação aos direitos
humanos e a consequente responsabilização do Estado. Em geral, não são aceitos casos sem elementos
concretos de violação de direitos humanos, mas já houve situações em que este critério foi abrandado.

c) Atos do poder judiciário: a sentença é ato como outro qualquer, apenas será analisado se aquela
sentença, independente de seu conteúdo, viola tratado internacional.
Há ainda um tema muito sensível no caso dos atos do poder judiciário, é o caso da impunidade, que consiste
na falta de investigação, persecução criminal, condenação e detenção dos responsáveis pelas violações de
direitos humanos: há dever estatal de reprimir a impunidade por todos os meios legais disponíveis, evitando
repetições crônicas de violações. O Estado pode ser também responsabilizado, portanto, pela omissão em
punir. Lembrando que a obrigação de investigar e punir é de meio e não de resultado.
A reparação é a consequência maior do descumprimento da obrigação internacional. Entendendo-se por
reparação toda e qualquer conduta do Estado infrator para eliminar as consequências do fato
internacionalmente ilícito, sendo o retorno ao status quo ante a essência da reparação, sem excluir outras
formas.

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a) Reparação integral (restitutio in integrum ou retorno ao status quo ante): é a melhor


fórmula na defesa das normas internacionais. Permite a completa eliminação da conduta violadora e de seus
efeitos, por isso há preferência sobre a prestação pecuniária.
b) Cessação do ilícito: o Estado violador de obrigação internacional deve interromper
imediatamente sua conduta ilícita, sem prejuízo de outras formas de reparação. A cessação é considerada
exigência básica para a completa eliminação das consequências do fato ilícito internacional.
c) Satisfação: conjunto de medidas, aferidas historicamente, capazes de fornecer fórmulas
extremamente flexíveis de reparação a serem escolhidas, em face dos casos concretos, pelo juiz
internacional. Em geral, três modalidades de satisfação são escolhidas: (i.) Estado violador reconhece a
ilegalidade do fato e declara seu pesar quanto ao ocorrido, (ii.) fixação de somas nominais e indenização
punitiva (“punitivedamages”), sendo toda a quantia apurada revertida à vítima, (iii.) obrigações de fazer,
cuja escolha fica a cargo do juiz internacional, de forma a reparar adequadamente as vítimas, dentre estas
destacamos a reabilitação (apoio médico e psicológico necessário às vítimas), estabelecimento de datas
comemorativas em homenagem às vítimas e inclusão em manuais escolares textos relatando as violações
de direitos humanos.

d) Indenização: pagamento em dinheiro, em geral. Utilizada quando não for possível a eliminação por
completo da violação pelo retorno ao status quo ante. A indenização deve ser utilizada como forma
complementar à reparação integral, se esta for insuficiente para reparar os danos constatados.
e) Garantias de não repetição: Estado garante que a conduta violadora de obrigação internacional
não vai mais se repetir. Apenas nos casos em que existe risco de repetição da conduta. Pode ser fixado o
dever do Estado de investigar e punir os responsáveis pelas violações.
f) Sanções internacionais: são mecanismos políticos. A comunidade internacional se junta e
sanciona o Estado. Em regra, são políticas, mas podem ser econômicas. O problema é que normalmente
quem sofre com essas sanções é a população vulnerável do Estado violador.

A prova CESPE da PRF de 2013 julgou errada a seguinte assertiva, eis que atos de todos os três poderes
podem gerar responsabilização internacional : Caso o Poder Judiciário, ao fundamentar decisão em lei ou
norma constitucional interna, descumpra normas internacionais de direitos humanos, o Estado não poderá
ser responsabilizado no plano internacional por essa decisão.

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