Você está na página 1de 12

Introdução

A contabilização das provisões é uma área subjectiva. As provisões correspondem a passivos de


montante incerto ou de ocorrência temporal incerta. Daí a sua distinção entre passivo certo e uma
provisão.

Face a uma determinada situação de risco, a entidade deve decidir se constitui uma provisão para
perdas, se divulga esse risco ou se, simplesmente, não faz nada, a fronteira entre as diversas
situações não será clara. Quais são, então, os critérios a serem seguidos e que irão determinar o
tratamento adequado.

O princípio da prudência deve ser seguido na constituição de provisões, no entanto, não pode ser
justificação para criação de reservas ocultas.

Objectivos

Objectivo geral

Falar da Norma contabilística de relato financeiro 24- provisões, passivos contingentes e Activos
contingentes

Objectivos específicos

 Descrever os critérios para a constituição de provisões;


 Classificar as provisões;
 Tratar da mensuração das provisões;
 Mencionar os activos e passivos contingentes;
 Exemplificar o reconhecimento de provisões
Revisão da literatura

Norma aplicável

A norma que se aplica as provisões, passivos e activos contingentes ee a NCRF 24, que tem
como base a IAS 37.

Esta norma deve ser aplicada por todas as empresas na contabilização das provisões, passivos e
activos contingentes, excepto:

a) Os que resultem de contratos executórios, excepto quando o contrato seja oneroso;


b) Os cobertos por uma outra norma.

Reconhecimento de provisões

De acordo com a NCRF 24, devem ser seguidos três critérios para a constituição de provisões:

1. Existe uma obrigação presente (legal ou construtiva) proveniente de um acontecimento


passado;
2. É provável que uma saída de recursos para liquidar a obrigação; e
3. Pode – se efetuar uma estimativa fiável da obrigação.

Os três critérios têm de estar presentes para se constituir á provisão.

O primeiro critério é muito importante. Algumas obrigações não cumprem este critério, uma vez
que se referem a cobrir custos futuros, para os quais não existe uma obrigação na data do
balanço. Se estas condições não forem satisfeitas, não se deve reconhecer qualquer provisão.
O segundo e o terceiro requisitos poderão implicar as seguintes situações:

Num determinado período, não se reconhece uma provisão, ou porque não se considera que a
perda é provável, ou porque, sendo a perda provável, a mesma não é quantificável com
fiabilidade. Caso, em períodos futuros, a perda seja considerada provável, ou se considerar que é
quantificável com fiabilidade, estão reunidas as três condições para o reconhecimento da
provisão. A contrapartida terá de ser os gastos do período;

Em sentido contrário, se, num determinado período, se constitui uma provisão e, em períodos
subsequentes, se considera que a perda não é provável ou deixa de ser quantificável com
fiabilidade (exemplo, a evolução da jurisprudência), a provisão deve ser anulada, por
contrapartida dos resultados do período.

As provisões resultam de estimativas contabilísticas, as quais poderão ser alteradas por variadas
razões. Assim, as entidades deverão analisar, no final de cada período, todas as perdas
contingentes, classificando o seu desfecho face ao conhecimento que se tem naquela data, o que
poderá indicar o reconhecimento ou á reversão de provisões de situações relativas a anos
anteriores. Esse reconhecimento ou reversão dever – se – á a alterações no período corrente e,
por isso, ee contabilizado nos resultados do período, por se tratar de alterações em estimativas.
No entanto poder – se – a estar perante um erro, caso os factos que determinem a alteração de
estimativas estivessem já disponíveis na data de autorização para emissão das contas do ano
anterior pelo órgão de gestão.

O facto de determinada situação ter sido objecto de provisão no passado não implica a
manutenção da provisão. Em sentido inverso, uma situação contingente que não foi objecto de
provisão em anos anteriores poderá requerer o reconhecimento de uma provisão no período
corrente.

Provisão para reestruturação

Segundo a NCRF 24, uma reestruturação inclui, entre outras, as seguintes situações:

a) Venda ou concessão de uma linha de negócios


b) O fecho de locais de negócio num país ou região ou a deslocalização de actividades de
negócio de um país ou de uma região para outro ou uma outra;
c) Alterações na estrutura de gestão, como, por exemplo, á eliminação de um determinado
nível; e
d) Reorganizações fundamentais que tenham um efeito material na natureza e foco das
operações da entidade.

De acordo com a NCRF 24, uma provisão para reestruturação só deve ser contabilizada quando:

1. Existir um plano formal detalhado para a reestruturação identificando, pelo menos:


 O negócio ou parte de um negócio em questão;
 Os principais locais afectados;
 A localização, função e número aproximado de empregados que receberão retribuições
pela cessação dos seus serviços;
 Os dispêndios que serão levados a efeito; e
 Quando será implementado o plano.
2. A entidade tenha criado uma expectativa valida nos afectados de que a reestruturação
será levada a efeito, ao começar a implementar esse plano ou ao anunciar as suas
principais características aos afectados por ele.

Por exemplo, planos inicias para a redução de pessoal não devem dar origem á constituição de
provisões, até que exista uma lista nominativa das pessoas envolvidas devidamente aprovada e
tenha ocorrido a comunicação a essas pessoas da intenção da empresa. Nenhuma obrigação surge
pela venda de uma unidade operacional até que a entidade esteja comprometida com a venda,
isto é, haja um acordo vinculativo.

Uma provisão para reestruturação somente deve incluir os dispêndios directos provenientes da
reestruturação.

Parece pouco prudente a abordagem da IAS 37/ NCRF 24 relativamente as provisões para
reestruturação. Tal resulta de abusos verificados em várias empresas pelo mundo fora: os novos
(ou actuais) gestores constituíam provisões significativas para reestruturação e, posteriormente,
anulavam parcelas significativas dessas provisões criando lucros fictícios e, com isso, obtinham
vantagens pessoais em termos de opções sobre ações, bónus, reconhecimento. De qualquer
forma, parece ser uma área a ser objecto de estudo mais aprofundado pelo IASB.

Contratos onerosos

Um contrato oneroso é um contrato em que os custos inevitáveis de satisfazer as obrigações do


contrato excedem os benefícios económicos que se espera que sejam recebidos ao abrigo do
mesmo. Se a entidade tiver um contrato que seja oneroso, a obrigação presente segundo o
contrato deve ser reconhecida e mensurada como uma provisão.

A título de exemplo, pode – se indicar como contratos onerosos:

1) A assinatura de um contrato para executar um serviço/ obra, cujo custo estimado ee


superior ao montante do redito do contrato. Neste caso, logo aposs a assinatura do
contrato, deve reconhecer – se uma provisão para a perda estimada, uma vez que, com a
assinatura do contrato, passa a existir uma obrigação legal de execução de um serviço
obra com uma perda implícita, cumprindo assim o critério de reconhecimento de uma
provisão previsto na NCRF 24.
2) Consideremos que temos uma locação de um imóvel até N+5 com uma renda anual de
100 000 meticais, em N, deixamos de ter necessidade daquele imóvel, estando prevista
uma indemnização contratualmente estabelecida de 500 000 meticais em caso de entrega
antecipada do imóvel. Em consequência, a entidade decide efectuar a sublocação do
imóvel por 60 000 meticais. Estamos, assim, perante um contrato oneroso, uma vez que
os benefícios económicos (60 000 meticais anuais) dão inferiores aos custos inevitáveis
(100 000 meticais), pelo que temos de constituir uma provisão para a totalidade da perda
prevista (40 000 meticais por ano * 6 anos = 240 000 meticais).

Passivos contingentes

As contingências, por exemplo, relacionadas com um processo judicial, podem ser assim
classificadas, relativamente á probabilidade de materialização da perda:

Perdas prováveis

Perdas possíveis

Perdas remotas

Perdas prováveis – quando se entende ser elevada a probabilidade de a perda se materializar.

Perdas possíveis – o desfecho é imprevisível. A perda pode materializar – se mas também


poderá não existir qualquer perda.

Perdas remotas entende – se que a empresa não deverá ter qualquer perda.

A classificação das perdas deve resultar de uma análise técnica das situações em causa,
envolvendo especialistas nas matérias envolvidas, nomeadamente advogados, fiscalistas,
contabilistas, etc.
Tratamento contabilístico para cada tipo de perda

Perdas prováveis devem ser objecto de provisão, devendo, no entanto, ser divulgadas nas notas
às contas. Trata- se de um passivo contingente.

Perdas remotas não devem ser objecto de provisão nem precisam de ser divulgadas.

Um passivo contingente é:

a) Uma obrigação possível resultante de eventos passados e cuja existência somente será
confirmada pela ocorrência, ou não, de um ou mais eventos futuros incertos, não
totalmente sob controlo da entidade; ou
b) Uma obrigação presente resultante de eventos passados mas que não é reconhecida
porque;
i. Não é provável que uma saída de recursos incorporando benefícios económicos será
exigida para liquidar a obrigação; ou
ii. A quantia da obrigação não pode ser mensurada com suficiente fiabilidade.

Os passivos contingentes não devem ser reconhecidos no balanço.

Ganhos contingentes

Um activo contingente é, segundo a NCRF 24, um possível activo proveniente de


acontecimentos passados e cuja existência somente será confirmada pela ocorrência, ou não, de
um ou mais eventos futuros incertos não totalmente sob controlo da entidade.

Os ganhos contingentes podem também ser classificados como:

 Ganhos prováveis
 Ganhos possíveis
 Ganhos remotos

O tratamento contabilístico aplicável a cada um destes tipos de ganho contingentes é o seguinte:

Ganhos prováveis - não devem ser reconhecidos, mas devem ser divulgados. O reconhecimento
será efectuado uma base de caixa, isto é, quando o ganho materializar.
Ganhos possíveis - não são reconhecidos, devendo em certas situações ser objecto de
divulgação.

Ganhos remotos - nem são reconhecidos nem divulgados.

Mensuração de provisões

As provisões devem ser mensuradas pela melhor estimativa do dispêndio exigido para liquidar a
obrigação presente á data do balanço.

Tratando – se de estimativas, as mesmas devem ser revistas em cada período de relato, podendo
originar aumento ou diminuição no valor das provisões, cuja contrapartida serão os resultados do
período, a menos que se queira assumir que ocorreu um erro na mensuração da provisão do ano
anterior. Nesse caso, aplicam – se as disposições da NCRF 4 relativamente a erros, isto é, faz –
se a aplicação retrospectiva, reexpressando – se as contas do(s) período(s) anterior(s).

Valor presente

Se tivermos uma provisão para um litigio cujo desfecho (e desembolso financeiro) somente
esperamos que ocorra dez anos após a data do balanço, o valor da provisão deve ser apresentado
pelo justo valor, excepto se vencer juros.

Sempre que o efeito do valor temporal do dinheiro for materialmente relevante, a NCRF 24
requer que a provisão seja apresentada pelo valor temporal do dinheiro e dos riscos específicos
do passivo e não deve reflectir riscos pelos quais estimativas de fluxos de caixa futuros tenham
sido ajustadas.

Subsequentemente, em cada período de relato, será acrescido o valor da provisão (pela


actualização do valor presente), por contrapartida dos gastos financeiros.

Reembolsos

Quando parte ou a totalidade do dispêndio necessário para liquidar uma provisão seja
reembolsada por outra parte, de segundo a NCRF 24, o reembolso deve ser reconhecido quando,
e somente quando, seja virtualmente certo que o reembolso será recebido se a empresa liquidar a
obrigação. O reembolso deve ser tratado como um activo separado. A quantia reconhecida para o
reembolso não deve exceder a quantia da provisão. Na determinação dos resultados, o gasto
relacionado com a provisão pode ser apresentado liquido do reembolso reconhecido.

Perdas operacionais futuras

As perdas operacionais futuras não devem ser objecto de provisão.

Uso de provisões

As provisões somente devem ser usadas para os dispêndios relativamente aos quais a provisão
foi originalmente reconhecida.

Exercícios práticos

Reconhecimento

Um fornecedor utilizou uma matéria-prima de baixa qualidade que implicou reclamações do


cliente, o qual terá de ressarcir os seus clientes finais por prejuízos com esta situação. O cliente
já informou o fornecedor que ele terá de suportar esses gastos, aguardando – se dos clientes
finais um levantamento dos prejuízos. Qual é o tratamento desta situação nas contas?

Solução

Ê provável que exista um pagamento, resultante de um acontecimento passado, no entanto, não


se consegue obter uma estimativa fiável da obrigação. Assim, não estão cumpridas as condições
para reconhecimento de um passivo contingente que terá de ser divulgado nas notas as contas.

Exercício 2 reconhecimento

Um ex empregado moveu um processo judicial reclamando uma indemnização de 50 000


meticais. No ano N, a perda foi considerada provável. Em N+1 considera - se que perda é
possível. Efectue os lançamentos contabilísticos aplicáveis. Considere uma taxa de imposto
sobre lucros de 30%.
Solução

Lançamento contabilístico no ano N

Debito – conta 6.6.2 – provisões do período – processos judiciais em curso 50 000

Credito – conta 4.8.1 – provisões – processos judiciais em curso 50 000

Debito – 4.4.6.1 – Activos por impostos diferidos 15 000

Credito – Conta 8.5.2 – Imposto sobre o rendimento – imposto diferido 15 000

Lançamento contabilístico no ano N+1

Debito – conta 4.8.1 provisões – processos judiciais em curso 50 000

Credito – Conta 7.4.3.1 – Reversões de provisões – processos judiciais em curso 50 000

Debito – Conta 8.5.2- Imposto sobre o rendimento – imposto diferido 15 000

Credito – Conta 4.4.6.1 – Activos por impostos diferidos 15 000\

Nota: A reversão da provisão deve ser efectuada aa luz do princípio da prudência, o que implica
que, em caso de dúvida, devera ser mantida a provisão.

Conclusão
Apois ter – se feito o trabalho, concluiu – se que os passivos contingentes para serem
consideradas devem ser consideras quando a probabilidade de materialização da perda. Caso haja
uma obrigação presente resulte de um evento que origina obrigação, e que haja uma saída
provável, tal deve ser quantificável e se provisionar.

Há que se distinguir também, entre os acréscimos de gastos, provisões e passivos contingentes.


Pois, confunde – se muito. Ora, um acréscimo de gasto é um passivo certo, provisões são
passivos com incerteza quanto ao seu montante ou tempestividade, passivos contingentes
obrigação com perda possível ou com perda provável mas não mensurada com fiabilidade.

A IAS 37 base da NCRF 24, é uma norma que, pode parecer pouco prudente, mas que tem como
objectivo definir, de forma clara, em que situações se podem constituir provisões.

Referência bibliográfica

Você também pode gostar