Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Trabalho de Sociologia
2021
Ana Clara Barros Da Costa
2021
RESUMO
This research paper aims to present the religious intolerance against Muslims in Brazil, where
the history of Islam, the principles, the difference between the Arab ethnic group and the
adherent to the religion of Islam, the Muslim, will be presented. It will also be presented the
events that led these cases of intolerance in the world to skyrocket. The work will include
interviews with practitioners of the religion and researchers who study it (from the female
point of view). After that, the final considerations and suggestions on how to include and
socialize with these people will be available. The work presents the point of view and
research of four different members in a way that each one sought to expose her point of view
about the proposed theme.
PF – Policia Federal
INTRODUÇÃO --------------------------------------------------------------------------------------- 00
CAPÍTULO 1
O ISLAMISMO --------------------------------------------------------------------------------------- 00
CAPÍTULO 2
Socialização
Socialização secundária: Vai da infância até a fase adulta, a partir do contato com
amigos, escola e os meios de comunicação de massa. Internalizamos comportamentos sociais,
desenvolvemos algum senso político, cultural, laboral, etc.
Respeito as Diferenças
Quando ouvimos falar sobre o respeito as diferenças, temos que entender que sem isso
não há a socialização com o outro, tendo em vista que não há respeito mútuo sobre as diferenças
existentes de cada um, quando essas diferenças não são respeitadas, acontece a discriminação,
que dependendo do âmbito (racial, religioso, nacionalidade, sexo e classe social) pode receber
um nome especifico.
Podemos afirmar que o respeito é limitado, pois não podemos respeitar todas as
diferenças e todas as opiniões. Afinal, não podemos respeitar e acolher algumas formas de
existir que nos agridem, ameaçam, matam, destroem nossas convicções, nossa maneira de estar
no mundo. Ou seja, podemos afirmar que o respeito às diferenças não pode ser absoluto, não é
experimentado como absoluto, mas é limitado pelos nossos próprios limites.
Falar de respeito às diferenças no século XXI, é falar de sociedade, afinal, durante muito
tempo as diferenças eram segregadas, com um único motivo, que era não conviver com as
diferenças do outro, valorizando e considerando apenas a minha (e única) inserção de mundo.
Um dos exemplos de segregação das diferenças, foi a Segregação Racial nos Estados
Unidos da América1, e também a Segregação Racial na África do Sul2, onde não houve o
respeito às diferenças, consequentemente desrespeitando os direitos dos que foram segregados.
Pois, entender outras culturas e respeitar seus hábitos e costumes são as armas contra o
etnocentrismo.
Entender que o outro não é igual, é entender a forma pela qual várias culturas e povos
nasceram, como exemplo, podemos citar o Brasil, que apresenta uma diversidade de cultura e
de povos. A colonização foi a responsável pela diversidade que existe no Brasil, por meio da
miscigenação que ocorreu entre o europeu, o índio (nativo) e o negro (trazido da África). Porém,
essa miscigenação deixou marcas no Brasil, consequentemente, havendo uma diversidade de
religiões, raças, línguas e costumes, um exemplo disso é a comparação entre a Região Sul (que
apresenta uma cultura semelhante à europeia) e a Região Nordeste (que apresenta um cultura
diversificada, causada pela miscigenação entre os povos já citados).
1
A segregação racial nos Estados Unidos, como um termo geral, inclui a segregação baseada em
discriminação racial em instalações públicas e privadas, serviços e oportunidades (a moradia, cuidados médicos,
educação, emprego e transporte). A expressão é aplicada em situações onde a separação de raças (principalmente
para com os afro-americanos) foi imposta de forma legal (no âmbito da lei) ou por imposição social. Ela é também
aplicada para situações normais de discriminação e racismo pela comunidade branca contra os não-brancos.
2
Também chamado de apartheid, foi uma série de políticas de segregação implantas na África do Sul,
tendo início em 1948 e encerrando-se apenas em 1990. Os negros eram impedidos de participar da vida política
do país, não tinham acesso à propriedade da terra, eram obrigados a viver em zonas residenciais determinadas. O
casamento inter-racial era proibido e uma espécie de passaporte controlava a circulação dos negros pelo país.
O respeito às diferenças é o que move o nosso país, e relembra a história do Brasil, que
apresentou (e ainda apresenta) várias desigualdades entre povos que foram dominados e
escravizados, sendo assim, mostra-se necessário que instituições governamentais promovam
campanhas que visam o respeito às diferenças desde criança, para que assim possamos moldar
a geração do futuro, para que não haja desigualdades.
Inclusão Social
Porém, por mais que existam ações de inclusão social, nem sempre elas serem eficazes,
podemos citar como exemplo, a inclusão de crianças PcD’s em escolas com crianças que não
possuem deficiência (pois, apesar de ser uma ação de inclusão social, não foi executada de uma
forma que abrangesse e incluísse todas as crianças).
Sendo assim, podemos afirmar, que não é necessário apenas a implantação de ações de
inclusão social, mas a implantação e execução de ações de inclusão social que sejam eficazes,
atendendo assim, a toda a sociedade.
Intolerância religiosa
No caso do Estado, a intolerância religiosa pode ser manifestar em leis que criminalizem
as práticas de uma religião ou a proibição da mesma.
Atualmente, a intolerância religiosa de Estado se manifesta em países que adotam o
islamismo como religião oficial. Nestes países, é comum os cristãos estarem proibidos de
praticarem sua fé e serem condenados por isso.
Xenofobia
Hoje, depois que o mundo abriu os olhos para a situação judaica após os terríveis
acontecimentos da década de 1940 (o Holocausto), outros povos de origem semita sofrem com
a xenofobia: árabes, palestinos e outros povos majoritariamente islâmicos. A intensa migração
de muçulmanos oriundos do Irã, Iraque, Síria, Afeganistão, e de outros países do Oriente Médio
que sofrem por conflitos armados, tem revelado o preconceito xenofóbico dos ocidentais contra
esses indivíduos.
Isso significa que, após as ondas migratórias de palestinos, sírios e africanos para várias
partes do mundo, as alas mais conservadoras de alguns países estão buscando subterfúgios na
religião para manter os estrangeiros longe.
CAPÍTULO 1
O Islamismo
O islamismo é uma religião monoteísta que acredita em apenas um Deus, que é chamado
de Allah (ou Alá), quem é seguidor adepto ao islamismo é chamado de mulçumano ou
mulçumana (essas palavras tem origem árabe, muslim, que significa submisso, nesse caso
submisso a Allah.
Essa religião surgiu no início do século VII, por meio de Muhammad (ou Maomé).
Atualmente é a segunda maior religião do mundo, possuindo cerca de 1,8 bilhões de fiéis, sendo
que a maioria deles estão localizados no continente asiático e africano.
O islamismo surgiu no começo do século VIII por meio da obra de Muhammad, o grande
profeta dessa religião. O pouco que sabemos sobre Muhammad é que ele era um homem que
se isolava com certa frequência para orar e meditar. Em 610 d.C., durante um desses retiros,
Muhammad foi para uma caverna, localizada no monte Hira, quando o anjo Gabriel revelou-
se chamando-o de rasul Allah (enviado de Deus).
Esse acontecimento ficou conhecido como Noite do Destino e deu início às revelações
de Allah para Muhammad. O profeta ficou os dois anos seguintes sem receber novas revelações,
até que elas retornaram por volta de 612 d.C. Essas foram, depois, sendo transcritas pelos
convertidos ao islamismo no que se chamou Alcorão ou Corão, o livro sagrado do islã.
Os muçulmanos acreditam nos profetas enviados por Allah para trazerem sua
mensagem, sendo Muhammad o último e mais importante deles.
Os muçulmanos acreditam no conceito de danação eterna e professam que aqueles que
não se converteram à mensagem de Allah serão condenados ao fogo eterno.
Esses fiéis acreditam que livros como a Torá, os Salmos e a Suna (acatada somente pelos
muçulmanos sunitas) são sagrados e acreditam na existência de anjos.
Os muçulmanos acreditam que três cidades são sagradas: Medina, Meca e Jerusalém.
O islamismo é uma religião que possui cinco pilares que todo muçulmano deve seguir
no exercício de sua fé. Estes são os pilares:
Recitar o credo “não existe nenhum deus além de Allah, e Muhammad é seu profeta”.
Visitar Meca uma vez na vida, desde que se tenha condições para isso.
Os sunitas são a maioria entre os mulçumanos – cerca de 86% a 90%. Os adeptos dessa
vertente se consideram o ramo mais tradicional e ortodoxo do Islã. São conhecidos por
possuírem uma interpretação mais flexível do Alcorão e de outros textos sagrados.
Nos países governados por sunitas, os xiitas geralmente fazem parte da parcela mais
pobre da sociedade e se veem como vítimas de opressão e discriminação. Alguns extremistas
sunitas também pregam ódio contra os xiitas.
4
A Sharia é o sistema jurídico do Islã. É um conjunto de normas derivado de orientações do Corão, falas e
condutas do profeta Maomé e jurisprudência das fatwas - pronunciamentos legais de estudiosos do Islã. Em uma
tradução literal, Sharia significa "o caminho claro para a água".
1.5 Mulçumano x Árabe
É cada vez mais comum que essas duas palavras sejam usadas de maneira incorreta,
pois cada uma possui um significado diferente.
Mulçumano significa aquele que segue a religião dos Islã. Já, a palavra Árabe, se refere
a um tronco etnolinguistico. Um dos exemplos disso, é a Índia que possui cerca de 16% da sua
população adepta ao Islamismo, mas não é árabe, pois não adota o árabe como língua oficial.
O uso dessas duas palavras de maneira incorreta no mundo ocidental, mostra que ainda
estamos longe de respeitar as diferenças do outro, afinal, porque desprezamos e ferimos a
cultura dessas pessoas que foram de extrema importância para a história da humanidade?
É necessário também que governos parem de estimular ódio aos mulçumanos apenas
por exercerem seu direito de praticar uma religião, afinal, o excesso de vigilância de governos
aumentou após o 11 de setembro5.
5
Os ataques ou atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 foram uma série de ataques suicidas
contra os Estados Unidos coordenados pela organização fundamentalista islâmica al-Qaeda em 11 de setembro de
2001. Na manhã daquele dia, dezenove terroristas sequestraram quatro aviões comerciais de passageiros.
6
Guerra ao Terror ou Guerra ao Terrorismo é uma campanha militar desencadeada pelos Estados Unidos,
em resposta aos ataques de 11 de setembro. O então Presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, declarou a
"Guerra ao Terror" como parte de sua estratégia global de combate ao terrorismo.
CAPÍTULO 2
O que cresceu também foram os crime de ódios contra os seguidores do Islã nos EUA.
Pois, em 2000, as autoridades haviam contabilizado (e relatado) apenas 28 incidentes em todo
o país, número que chegou a 481 em 2001. Desde então, os crimes de ódio com motivação
islamofóbica jamais baixaram. Em 2019, o FBI, a polícia federal americana, contabilizou 219
atos de violência. Em 2019, o FBI contabilizou 219 atos de violência.
Essa intolerância e debate chegou também às urnas. Em 2016, Donald Trump7 foi eleito
com uma clara campanha anti-islã. Inclusive durante sua campanha, Donald prometeu banir a
entrada de qualquer seguidor da fé islâmica, caso fosse eleito. O que retrata em um ato de
intolerância religiosa.
Apesar das dificuldades enfrentadas pelos mulçumanos nos EUA, houve também
avanços, como: o aumento da população mulçumana e os americanos elegendo mulçumanos
para o Congresso.
Diante disso, mostra-se necessário que haja palestras e campanhas que visam o combate
à intolerância religiosa contra os praticantes dessa religião, para que haja socialização e inclusão
social entre os povos.
7
Donald John Trump foi o 45.º presidente dos Estados Unidos.
2.1 A intolerância contra os mulçumanos na Europa Ocidental
Esse medo e ódio mostram-se cada vez mais frequentes após os atentados terroristas
ocorridos em novembro de 2015 em Paris8, onde mais de 130 pessoas morreram, e acendeu o
alerta dos europeus se é mesmo seguro abrigar mulçumanos.
8
Os ataques de novembro de 2015 em Paris foram uma série de atentados terroristas
ocorridos na noite de 13 de novembro de 2015, em Paris e Saint-Denis, na França.
Os episódios são exemplos de uma mudança recente na postura das
autoridades brasileiras em relação ao Islã no Brasil. Se antes promovia campanhas
contra a intolerância religiosa, desde a troca de governo houve uma sequência de
exemplos em que autoridades brasileiras na área de segurança pública levantaram
suspeita ou tomaram ações com base em estereótipos sobre muçulmanos,
extrapolando evidências concretas que tinham sobre seus alvos – prática conhecida
como profiling. Foi neste contexto que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin),
reintegrada a um gabinete militar, se lançou em uma campanha pela disseminação
do medo em relação ao terrorismo. Em colaboração com a Polícia Federal (PF), a
Abin também participou da Operação Hashtag, que prendeu 14 suspeitos de integrar
uma suposta “célula terrorista” no Brasil. A operação foi cercada de
questionamentos sobre a real ameaça que os investigados ofereciam – o juiz Marcos
Josegrei da Silva, que autorizou as prisões, chegou a afirmar que “não se pode dizer
que essas pessoas são terroristas, que vão cometer esses atos”. (REDE BRASIL
ATUAL, 2016).
Veja abaixo, trechos de uma entrevista da revista Brasil De Fato, em 2019, onde três
amigos revelam as dificuldades de ser mulçumano no Brasil, em uma favela em São Paulo:
Para Cesar Kaab, produtor cultural e ativista (e ex- rapper), que é convertido ao
islamismo, e inaugurou uma pequena mesquita no meio da favela Cultura Física, em Embu das
Artes, na Grande São Paulo, a intolerância religiosa contra os mulçumanos foi intensificada ao
longo dos anos e também falou sobre as dificuldades do cotidiano enfrentadas pelos
mulçumanos no Brasil:
“Daí pra frente foram vários ataques nas redes sociais. São muitos anos de
perseguição”. (KAAB, 2019)
“As pessoas se posicionam contra mulçumanos, acham que todo
mulçumano é um terrosrita em potencial. Se você entra no metrô as pessoas olham
torto para você; se a mulher vai no mercado ficam fazendo graça, chacota. Duas
semanas atrás um pessoa puxou a vestimenta de uma mulher que tinha se
convertido. Foi entrar no trabalho, porque assumiu se hijab, o porteiro não a deixou
entrar. É muito triste, porque a gente só quer seguir a nossa fé”. (KAAB, 2019)
Em seu período de conversão Anderson Freitas (amigo de Kaab) travou uma batalha até
dentro da própria família:
“No começo tudo é difícil, os enfrentamentos vêm dentro de casa. Quando a gente
fala ‘eu sou muçulmano’, a família te vê com toda aquela bagagem que foi apresentada pra
ela: bomba, terrorismo, violência. No meu caso, parentes se distanciaram, tive
enfrentamentos com a minha noiva, minha mãe, minhas irmãs. Mas com o tempo, consegui
mostrar pra eles o verdadeiro islã. Só lamento muito a perda dos meus amigos. Tem um
amigo que vivia lá em casa, hoje passa pela minha mãe e nem fala, como se fosse uma
doença contagiosa”. (BRASIL DE FATO, 2019)
Já para Roberto (nome fictício), que trabalha com despachos em um estoque, o problema
maior foi o local de trabalho:
“Quando falei que era muçulmano, já começaram a atacar, fazer gracinha: ‘então você
não reza pra Deus, você faz terrorismo’”. (BRASIL DE FATO, 2019)
A reportagem também procurou uma mulher para falar sobre a “Discriminação sob o
olhar feminino”:
"No Brasil é muito difícil ser muçulmano, porque tem muito preconceito. A gente
sofre preconceito porque usa o hijab, por causa da mídia. Eu aprendi a conviver com a
minha religião, porque é o que eu escolhi e eu tenho convicção de que eu quero ser
muçulmana” (BRASIL DE FATO, 2019)
“O hijab pra mim significa tudo. Faz parte da minha religião, faz parte de mim, e
eu só faço por deus, por Allah, e não por ninguém. No começo, as pessoas da rua onde eu
moro falavam ‘a religião dessa moça aí é aquela que corta o pescoço das pessoas’. Só que
eu sempre morei na rua, nunca fiz mal para ninguém. Eu não liguei, e hoje acho que eles
me toleram”. (BRASIL DE FATO, 2019)
A islamofobia presente no Brasil não é apenas praticada contra homens, mas também
por mulheres, onde sofrem um preconceito maior (principalmente por decidiram usar o hijab)
para entender um pouco da situação dessas mulheres no Brasil (principalmente após a chegada
do Talibã ao poder no Afeganistão, após 20 anos), iremos analisar o aumento de casos de
islmofobia registrados pela pesquisadora Francirosy Campos (é professora da Universidade de
São Paulo, antropóloga com pós-doutorado na Universidade de Oxford, feminista e
muçulmana) que estuda o assunto há mais de 20 anos, e foi entrevistada pelo portal de notícias
BBC News, divulgada pelo G1, matéria que iremos utilizar para exemplificar e explicar a
islamofobia contra mulheres no Brasil:
"Tudo o que alguém faz de errado em nome da religião se volta contra a comunidade
muçulmana, especialmente contra as mulheres" (CAMPOS, 2021)
A pesquisadora explica que movimentos políticos com teor religioso, como o Talibã,
não são a mesma coisa que a religião do Islã. E que há muita diversidade e muitas diferenças
no mundo muçulmano.
“Minha área de pesquisa é justamente sobre islamofobia, e eu não estou dando conta
de ver tudo. Porque as pessoas não sabem o que é o Islã, elas não sabem que (a situação no
país) é um conflito político, não sabem muitas vezes nem onde fica o Afeganistão. Isso
reverbera nos grupos mais frágeis, que são as mulheres que usam lenços, que muitas vezes
sofrem ataques verbais e até físicos muito violentos. A gente precisa explicar o que isso
representa para as mulheres afegãs, que têm suas lutas e movimentos que não
necessariamente são os mesmos daqui, e descolonizar um pouco o olhar sobre esse povo e
sobre as próprias mulheres muçulmanas que estão no Brasil. Porque há uma diversidade
entre os muçulmanos - eles não são iguais, vêm de culturas diferentes, têm valores diferentes.
Eu fiquei vendo várias postagens de mulheres falando sobre o lenço, dizendo para
muçulmanas tirarem o lenço... Não é o lenço que é o problema.” (CAMPOS, 2021)
O uso do hijab é uma obrigação alcorânica, mas existe o livre arbítrio. Tenho
várias amigas muçulmanas que não usam — e elas não são mais ou menos muçulmanas, só
não estão seguindo um preceito religioso. Existem sociedades e famílias que permitem que
suas filhas escolham, e tem sociedades teocráticas, como a Arábia Saudita, o Irã, que
obrigam. Se existem sociedades em que as mulheres vivem sem roupas, usam pinturas
corporais, porque as mulheres muçulmanas não podem vestir as vestimentas tradicionais?
Porque, se algumas questionam, outras não questionam ou escolhem usar. Faz parte da
cultura e da individualidade delas. (CAMPOS 2021).
A pesquisadora também comentou sobre o que o uso do lenço representa para uma
mulher mulçumana que escolhe fazer o uso dele e também em relação aos direitos das mulheres:
Tem vários significados que eu colhi nas minhas pesquisas. Para algumas
mulheres, é um empoderamento, para outras é religiosidade, para outras é um ato político.
Se você pensar nas opressões contra mulheres muçulmanas que tiveram mais destaque na
França, começando em 1989, a partir daí houve uma revolta tão grande das mulheres de
origem islâmica que muitas que não usavam o lenço passaram a usar, como um ato político.
Eu, por exemplo, sou muçulmana há muitos anos e sou docente da USP há mais de dez
anos. E eu sempre tive o desejo de usar, mas eu não tinha coragem. Por medo da
islamofobia, ou por medo de intimidar os meus alunos, passavam mil coisas pela minha
cabeça. Mas quando eu comecei a ver a quantidade de meninas que não tinham a mesma
estabilidade que eu, que estão lutando para usar o lenço e recebem todo tipo de ofensa, eu
resolvi usar. (CAMPOS, 2021)
As mulheres têm direitos no mundo muçulmano desde o século 7, desde o advento
do Islã. Isso não quer dizer que em todas as sociedades esses direitos sejam garantidos. É
como nós no Brasil — temos direitos, mas nem sempre eles são garantidos. As mulheres
têm direito de voto, de escolher o marido, de usar anticoncepcional, direito ao prazer, à
herança, ao divórcio, ao conhecimento. É um grande absurdo o Talibã proibir o estudo das
mulheres. Não tem nada no Islã que diga que as mulheres não devam estudar, ao contrário:
a primeira palavra revelada do Corão é "leia". (CAMPOS, 2021)
A pesquisadora ainda foi questionada se é possível ser feminista e mulçumana, fato que
ela respondeu:
Também falou sobre Malala Yousafzai (ganhadora do Nobel da Paz) e suas influências
femininas no mundo do islã:
Olha, eu não acho que a Malala é um grande exemplo de resistência. Onde ela
sofreu o atentado, 80 crianças foram assassinadas pelos Estados Unidos, e ela nunca falou
sobre essas crianças. É uma violência, um absurdo o que aconteceu com ela, mas eu não a
considero um símbolo. Ela silencia sobre a morte dessas crianças e sobre a morte das
mulheres do Afeganistão pela Inglaterra. Ela foi muito usada pelos Estados Unidos para
falar o que eles queriam que uma mulher muçulmana falasse. Então, eu acho que o símbolo
de resistência são as mulheres do Afeganistão que resistem ao Talibã todos os dias.
Considero mais símbolo a Benazir Bhutto (ex-primeira ministra do Paquistão). (CAMPOS,
2021)
E por fim foi questionada sobre qual o impacto da islamofobia para as mulheres
mulçumanas no Brasil, fato que ela respondeu:
Acredito que o ponto mais importante das reportagens, foi o ponto de vista feminino
sobre o preconceito, especialmente o preconceito com o uso do hijab por partes dessas
mulheres, onde uma delas conta que passou a sofrer preconceito quando se converteu ao Islã e
passou a usar o hijab. A pesquisadora Francirosy Campos que foi a entrevistada para a segunda
reportagem, afirmou que o uso do lenço (hijab) possui vários significados e o uso do mesmo é
algo que variar de acordo com a escolha da mulher (mulçumana).
Diante de todas essas situações, podemos afirmar que o caminho para a superação dessa
intolerância está cada vez mais longe, especialmente após os recentes acontecimentos no
Afeganistão, sendo assim, é necessário que a sociedade inclua essas pessoas nos círculos
sociais, para que haja o respeito Às diferenças e a tolerância, como chave para um futuro ideal.
Que promova também ações que visam a exposição em espaço público de obras e
eventos que visam e enaltecem a cultura dessa religião, reservando praças e até mesmo parques
para que quando disponíveis haver eventos que visam uma reunião entre a comunidade
mulçumana nesses locais.
Que promova também a inclusão dessas pessoas na política, para que assim possa haver
representatividade para a comunidade mulçumana. E assim possa incentivar os futuros jovens
mulçumanos para o mesmo caminho.
E que acima de tudo promova a união e respeito entre as religiões existentes no Brasil,
para que haja tolerância à todas elas, e assim, incentivar a socialização entre o outro,
independente da vertente religiosa (e ideológica).