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“Foreshadowing”: a bola de cristal da ficção

Quando se assiste a filmes ao longo do tempo, é inevitável o reconhecimento de


certos padrões narrativos ou estéticos. Não se trata apenas de cenas familiares,
diálogo lugar-comum ou personagens arquetípicos – se expandirmos o conceito
poderiam chamar a estrutura de três atos, o desenlace ou até mesmo a presença
de um protagonista único de “clichês”. (Por esse motivo, prefiro usar a palavra
“tropo”, já que não vejo a ideia como inatamente negativa). Subversão das
expectativas pode ser algo iconoclástico, até revolucionário (e, para ser sincero
muito mais satisfatório do que o jeito “fácil” de concluir a trama)… ou pode ser um
desastre. O fato de elementos como conflito, intriga, ironia ou humor haverem sido
utilizados em um bom número de tramas não significa que a ausência de todos os
quatro premie uma obra com mérito artístico – e vice-versa. Elementos narrativos
estão presentes em grandes obras do cânone artístico; de fato, muitos
deles originaram os agora chamados “clichês”.
Alguns autores de livros e roteiristas e diretores de cinema têm uma mania quase
compulsiva de dar pistas a respeito do que acontecerá ou será revelado mais tarde
em suas obras. Sejam elas um produto deliberado das ações das personagens (por
exemplo, uma frase dita pelo antagonista que ganha um novo sentido ao conhecer
o final) ou apenas uma piscadela na forma de uma simples coincidência (por
exemplo, a menção de um fato aparentemente inócuo que ganha maior
significância mais tarde), muitos artistas adoram salpicar suas obras com essas
dicas semi-invisíveis. É quase uma versão artística do Charada, inimigo de Batman,
conhecido por seus enigmas mirabolantes. Alguns, sabendo que o público já espera
“sacadas” como essa e fica de olho em tudo o que não parece essencial, criam até
“pistas” falsas ou induzem o leitor/espectador a raciocinar de modo errôneo, truque
conhecido como um red herring (“arenque vermelho”).
Alega-se que Anton Tchekhov, célebre contista russo, formulara uma lei: “Se, no
primeiro ato, tiver pendurado uma pistola na parede, ela deve ser disparada no
próximo ato. Caso contrário, não a ponha ali”. Essa citação não apenas prega a
remoção de elementos desnecessários em uma história, mas também exemplifica
muito bem o conceito de foreshadowing, o que levou à criação do termo “pistola
de Chekhov” (Chekhov’s gun) para descrever elementos que só se tornam
importantes mais tarde durante a história. Isso apenas reforça o fato de que a
separação entre “truques” narrativos e erudição artística é bastante artificial.
Por que projetar sombras?
Sob um ponto de vista lógico, porém, não há nenhuma raison d’être para esse
tropo: se a surpresa é tão importante, por que não pular o confete e manter sigilo
até o desenlace?
Consigo pensar em algumas razões: ele mostra que as revelações têm precedentes
e não foram inventadas sem conexão com o resto da trama; ele torna a segunda
vez que se lê um livro ou vê um filme uma experiência ainda mais singular, como
um bônus; ele pode amplificar o suspense ao introduzir uma pista ambígua. No
entanto, reconheço que, ao menos para mim, há um elemento estético e até
desafiador – diria até sedutor – que não se conforma facilmente a uma pura
linearidade narrativa.
O foreshadowing é, por fim, um de vários elementos que trazem sabor ao que
poderia ser uma história dividida categoricamente em blocos quase isolados; é o
tropo e o anti-tropo em um só conceito. Se adora-lo é artisticamente bucólico, digo:
ao menos moro onde a grama cresce, sem hermetismos artificiais que vetam a
possibilidade de um auteur “dar uma coxinha” para um público inteligente.

“Foreshadowing” é um dispositivo literário no qual um escritor dá uma pista


antecipada do que virá mais tarde na história. “Foreshadowing” aparece
frequentemente no início de uma história, ou de um capítulo, e ajuda o leitor a
desenvolver expectativas sobre os próximos acontecimentos de uma história.
Existem várias formas de criar “Foreshadowing”.
Um escritor pode utilizar diálogos de carácter para sugerir o que poderá ocorrer no
futuro. Além disso, qualquer evento ou ação na história pode dar uma dica aos
leitores sobre futuros eventos ou ações. Mesmo um título de uma obra ou um título
de capítulo pode funcionar como uma pista que sugere o que vai acontecer.
“Foreshadowing” na ficção cria uma atmosfera de suspense numa história, de
modo a que os leitores estejam interessados em saber mais.
Foreshadowing é uma ação no presente que intima desenvolvimentos futuros, é
muito conhecido como plantar e colher. Robert Mckee define muito bem o que é
plantar e colher em seu livro “Story” dizendo “Plantar significa criar um espaço para
o conhecimento, colher significa preencher esse espaço entregando esse
conhecimento para a audiência.” Contudo podemos concluir que o foreshadowing
é bem importante para a narrativa, para não parecer que as soluções, os eventos,
os acontecimentos e etc “caíram do céu” no qual este acontecimento é chamado
de Deus Ex-Machina (Solução inverossímil para um conflito).
Jacques Aumont em “Estética do Cinema”
Distinguia o “Foreshadowing” em dois termos, função imediata e função a
prazo/termo.
Função Imediata: Quando entre o plantar e o colher há pouco espaço de
tempo.
Função a Prazo/Termo: Quando entre o plantar e o colher há um grande
espaço de tempo.

Função de Foreshadowing
Geralmente, a função do “Foreshadowing” é construir antecipação na mente dos
leitores/telespectadores sobre o que pode acontecer a seguir, acrescentando
assim uma tensão dramática a uma história.
É deliberadamente empregado para criar suspense em romances de mistério,
geralmente dando falsas pistas - ou arenques vermelhos - para distrair os
leitores.
Além disso, Foreshadowing pode fazer com que acontecimentos extraordinários
e bizarros pareçam credíveis, uma vez que os acontecimentos são previstos de
antemão, para que os leitores estejam mentalmente preparados para eles.

Curtos Exemplos de Foreshadowing


1. A última flor do cemitério está a florir, e o seu cheiro deriva pela sua casa,
falando suavemente os nomes dos seus mortos.

(“Foreshadows” Morte)

2. A noite ainda era noite. De repente, uma brisa fresca começou a soprar e fez
uma noite ventosa.

(“Foreshadows” Tempestade)

3. A coisa mais horrível aconteceu numa noite tempestuosa,


A batalha entre o bem e o mal começou.

(“Foreshadows” Perigo)

4. Mary puxou as cortinas para trás e viu algumas pegas sentadas na parede.

(“Foreshadows” Fofoca)
5. Pensavam que não haveria mais corpos; no entanto, não podiam acreditar no
pensamento.

(“Foreshadows” assasinato)

6. Um homem velho abre a sua gaveta para encontrar uma lupa, e vê um revólver.

(“Foreshadows” Aviso)

7. No meio da noite, o pai ouve portas de trás se abrindo. Ele apressa-se para
verificar os seus filhos, mas um intruso mascarado está a bloquear o caminho
com uma faca.

(“Foreshadows” Ameaça)

8. Fagulhas de arco-íris, Com luzes brilhantes.

(“Foreshadows” Otimismo)

9. Inspirar ar fresco, exalar mau hálito.

(“Foreshadows” Novas Ideias)

10. Da janela, as rajadas parecem tão furiosas, os telhados dos edifícios altos
são arrancados, e as árvores são arrancadas na cidade.

(“Foreshadows” angústia de alguém)

11. Michael vê o seu próprio rosto sob a máscara de Donavan.

(“Foreshadows” Donavan é o seu pai)

12. Decidiram-se a remover para sempre um mau-olhado.

(“Foreshadows” danos a um personagem maligno)

13. Observei dispositivos, os símbolos nos livros para indicar o futuro escrito.

(“Foreshadows” escritor)

14. Enquanto as cores do crepúsculo coram, os olhos da noite despertam.

(“Foreshadows” Noite)

15. O mesmo pensamento de sempre e os mesmos resultados de sempre.

(“Foreshadows” alteração)

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