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Guia da

Educação
Midiática
ana claudia ferrari
Daniela machado
mariana ochs
Guia da Educação Midiática
Guia da
Educação
Midiática
ana claudia ferrari
Daniela machado
mariana ochs
O Guia da Educação Midiática é uma obra do sumário
Autoras
EducaMídia – programa de educação midiática desen-
Ana Claudia Ferrari, Daniela volvido pelo Instituto Palavra Aberta, com apoio do
Machado e Mariana Ochs
Google.org. O livro conta também com o suporte do 005 Introdução
Coordenação
Saula Ramos
Instituto Itaú Social. 007 A urgência da educação midiática
Projeto gráfico e ilustrações
Estúdio Passeio O Instituto Palavra Aberta indica bibliografias, víde- 009 Educação midiática e a formação para a cidadania
Capa os, podcasts, artigos e imagens, entre outros tipos de
Estúdio Passeio
mídia, na sua plataforma de curadoria como apoio à sociedade conectada

Um universo expandido
Revisão
Edna Adorno
leitura, não sendo necessária a utilização desse ma-
terial para interagir com este Guia. As indicações 015
Produção gráfica
Valter Silva são dinâmicas, sendo sempre atualizadas por nossa 019 Desafios do século 21
equipe. Caso deseje contribuir com outras sugestões 023 Nativo ou inocente digital?
Instituto Palavra Aberta
de referências entre em contato conosco.
Presidente 026 Letramento digital e educação midiática
Patricia Blanco

Gerente-executiva
Saula Ramos ensinar e aprender hoje

031 A escola e seu tempo


Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 033 Educação midiática na BNCC
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
037 Aprendizagem baseada em projetos e investigação
Ferrari, Ana Claudia 043 Desinformação e fake news
Guia da Educação Midiática / Ana Claudia Ferrari, Mariana
Ochs, Daniela Machado. – 1. ed. – São Paulo : Instituto Palavra 044 Confiabilidade
Aberta, 2020.

ISBN 978-65-991778-1-1
a abordagem do educamídia

1. Alfabetização 2. Educação 3. Educação –


Finalidades e objetivos 4. Professores – Formação
5. Redes sociais I. Ochs, Mariana. II. Machado,
049 Ler, escrever e
Daniela. III. Título.
participar no século 21
20-43363 CDD-370.1
051 Educomunicação e educação midiática
053 Habilidades e objetivos da educação midiática
Índices para catálogo sistemático:
055 A educação midiática e as crianças
1. Educação midiática 370.1
Maria Alice Ferreira – Bibliotecária – CRB-8/7964 059 Algoritmos, dados e engajamento
educação midiática todo dia INTRODUÇÃO

067 Do conceito à prática Este é o Guia que estava faltando! Um livro que con-
071 Ferramenta de criação de atividades vida educadores e demais agentes ligados à educa-
073 Exemplos de atividades ção a refletir sobre a importância e a urgência de
prepararmos crianças e jovens para uma relação
083 6 perguntas para avaliar confiabilidade rica e fortalecedora com as mídias, desenvolvendo
093 Decodificando mensagens habilidades para ler de maneira reflexiva, escrever
103 Matriz VPI de forma responsável e participar plenamente da
sociedade conectada. Mas é também um Guia prá-
113 Identificando propaganda tico, repleto de dicas e exemplos para ajudá-lo a in-
123 Bingo Criativo corporar a educação midiática em sua aula – seja
133 Criar para aprender você professor da área de Linguagens, Matemática,
Ciências Humanas ou Ciências da Natureza.
136 Forma × Função Vivemos uma era de abundância de informação,
149 Checklist em que novos formatos e linguagens de mídias sur-
150 Rubricas de avaliação gem a todo momento, exigindo que a nossa visão
sobre o que é letramento seja igualmente ampliada.
Também sabemos que o país ainda precisa avançar
155 Quem somos muito para que todos tenham acesso a esse universo
156 Referências bibliográficas de mensagens, dados ou imagens proporcionados pela
tecnologia – “desertos” de livros e de notícias são uma
realidade para boa parte da população, e, quando o
assunto é internet e conectividade, a desigualdade é
gritante. Ainda assim, já é tempo de começarmos a
pensar além do acesso: uma vez vencidas essas bar-
reiras, o que fará com que crianças e jovens tenham
uma experiência positiva nas redes, condições reais
de transformar informação em conhecimento e voz
efetiva em suas comunidades?
O tempo é agora. Precisamos entender a educa-
ção midiática como um direito dos estudantes. É
com esse posicionamento que abrimos este Guia. Na
primeira parte você encontrará as justificativas para
não adiarmos mais essa discussão, tão relevante no

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mundo inteiro. Tratamos da educação midiática “da A urgência da educação midiática
escola para fora”. Na segunda parte, oferecemos uma
visão de como a educação midiática está no cerne do É com grande satisfação e alegria que, em nome
processo de ensino e aprendizagem que faz sentido do Instituto Palavra Aberta, apresento o Guia da Edu-
no século 21. É o nosso papo “da escola para dentro”. cação Midiática, de autoria de Ana Claudia Ferrari,
A terceira parte trata de como o EducaMídia se mol- Daniela Machado e Mariana Ochs.
dou por referências locais e práticas consolidadas Este Guia é o resultado do esforço coletivo de uma
no exterior. E na quarta parte aterrissamos os con- equipe altamente comprometida, que não titubeou
ceitos na sala de aula (seja ela física ou virtual), com em mergulhar fundo em pesquisas e estudos sobre
orientações de atividades que podem ser adaptadas a educação midiática e buscar as visões contempo-
e remixadas para diversas disciplinas e séries. râneas no mundo sobre o tema.
Cabe ressaltar que este Guia da Educação Midiáti- Celebra também o investimento feito pelo Palavra
ca não é uma obra acadêmica. Trata-se de um conjunto Aberta ao longo da sua trajetória. Desde a sua fun-
organizado e didático de conceitos e exemplos para dação, em 2010, buscou incentivar a produção aca-
apoiar você na missão de preparar os alunos para as dêmica, o debate e as discussões em torno do seu
oportunidades e os desafios trazidos pela tecnologia. objetivo maior, do qual a educação midiática passa
a fazer parte: a defesa e a promoção da liberdade
Boa jornada! de expressão.
A nossa crença é que o cidadão educado midiati-
Ana Claudia Ferrari, Daniela Machado camente, ou seja, que sabe ler criticamente todas as
e Mariana Ochs informações que recebe, que utiliza corretamente as
ferramentas de comunicação para fortalecer a sua
autoexpressão e que participa de maneira consciente,
ética e responsável do ambiente informacional, terá
condições de exercer o seu direito fundamental à li-
berdade de expressão de forma plena.
Acreditamos também na educação midiática
como um direito humano, que empodera o cidadão
e o transforma em alguém capaz de contribuir posi-
tivamente para a sociedade, fortalecendo ainda mais
o ambiente democrático.
Se olharmos a democracia como um processo
em construção, o papel da educação é crucial para
que possamos atingir o objetivo almejado. Educar
para a democracia é ensinar desde cedo o valor da

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liberdade de expressão, da liberdade de imprensa, do Educação midiática e a formação
respeito às diferenças, da pluralidade, da tolerância, para a cidadania
da empatia, da preservação dos direitos políticos, das
liberdades civis, da transparência, do livre acesso à Há cerca de dois anos, em Buenos Aires, conheci o
informação e, principalmente, do respeito às liber- professor inglês David Buckingham, que participa-
dades individuais para a construção da cidadania. va comigo nessa cidade de um painel sobre política
Que a leitura deste Guia sirva de inspiração para educacional no qual falou sobre educação midiática.
projetos educacionais inovadores e que os exemplos Não conhecia então nem o conceito nem a relevância
práticos trazidos aqui possam auxiliar você na tarefa do tema, que eu atribuía a algum modismo recente.
diária de educar crianças e jovens com as habilidades Qual não foi minha surpresa, à medida que ele,
necessárias para o século 21. pioneiro na área, discorria sobre o tema diante da
plateia atenta, ao compreender a urgência de, em
Boa leitura! tempos de superabundância de informações, en-
sinar os jovens a acessar o ambiente informacio-
Patricia Blanco nal e midiático de forma crítica, entendendo bem
Presidente do Instituto Palavra Aberta a diferença entre fatos e opiniões e descartando
desinformações. Mais ainda, pude perceber pela
sua fala e por conversas posteriores que tivemos
que isso é a base da participação digital segura que
contribui para a formação de cidadãos que logram
se engajar em debates qualificados e distantes do
ódio e da polarização que têm marcado as redes
sociais hoje no mundo.
Ao voltar para o Brasil, escrevi um artigo para a
Folha de S. Paulo a respeito do tema e fui contatada
pela liderança do EducaMídia para integrar o conse-
lho consultivo desta iniciativa do Instituto Palavra
Aberta, organização de defesa da liberdade de ideias,
pensamentos e opiniões.
A relação entre o tema defendido com as compe-
tências da Base Nacional Comum Curricular (BNCC)
tornou fácil o entendimento do caminho a ser tri-
lhado. Afinal, ao educar para o acesso qualificado às
mídias e para a produção adequada de conteúdos, a
escola estaria desenvolvendo o protagonismo jovem,

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o pensamento crítico e a cidadania plena, fortalecen-
do, desta forma, a democracia.
É por essa razão que me alegro em poder apresen-
tar este Guia da Educação Midiática, que pretende au-
xiliar escolas, redes e professores a proporcionar esta
importante aprendizagem para o século 21 – a de aces-
sar, analisar e criar, de maneira crítica, informações
no ambiente midiático, em todos os seus formatos.
Saber formular seus próprios julgamentos e expres-
sá-los por escrito, assim como selecionar fontes de leitu-
ra tanto em textos impressos quanto digitais, é parte da
formação para a vida que a escola deve oferecer a seus
alunos. Em especial, a escrita autoral consolida apren-
dizagens, ensina a listar evidências para fundamentar
ideias, forma pensadores autônomos – que não apenas
reproduzem em provas o que seus mestres lhes dizem –
e amplia capacidades de comunicação tão importantes
para o século em que vivemos. Além disso, desenvolve
persistência e garra para construir bons textos, algo
que uma sólida educação midiática pode ajudar a criar.
O texto deste Guia surge como rico material para apoiar
a implementação da BNCC tanto no Ensino Fundamental
quanto no Ensino Médio. Mas poderá igualmente ser
utilizado em cursos livres e em formação de professores.

Boas aprendizagens a todos e todas!

Claudia Costin
Professora universitária e diretora do Centro de Ex-
celência e Inovação em Políticas Educacionais da
FGV-RJ

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sociedade conectada

Um universo
expandido
ão importa o momento do dia em que
você esteja lendo este Guia. As chances
de que o livro em suas mãos não seja
a primeira mídia com a qual interage
hoje são enormes. Ou você ainda não ouviu rádio,
leu jornal, checou suas redes sociais, mandou
mensagem pelo celular, viu algum tipo de publicidade
O conceito de ou assistiu a um programa na TV? Mesmo sem
ter consciência, é quase impossível estar em
alfabetização está algum lugar sem ser impactado por mensagens de

se expandindo como diversos tipos e formatos que chegam até nós não
só pelas palavras impressas no papel, mas, cada
resultado das mudanças vez mais, pelas poderosas imagens e pelos sons
da nossa cultura multimídia.
na mídia, na tecnologia
e na natureza do “Do rádio-relógio que nos acorda de manhã até ador-
mecermos assistindo ao programa de entrevistas no-

conhecimento. turno, somos expostos a centenas – até milhares – de


imagens e ideias não apenas da televisão, mas tam-
bém de sites, filmes, livros, capas de revista, e-mails,
videogames, músicas, mensagens de telefone celular,
outdoors e muito mais. As mídias não apenas mol-
dam nossa cultura – elas são nossa cultura.”
No início dos anos 2000, quando escreveram o tex-
to acima discutindo os desafios de um mundo mul-
timídia para a educação, as pesquisadoras Elizabeth
Thoman e Tessa Jolls – pioneiras no trabalho com
Renee Hobbs educação midiática nos Estados Unidos – viviam em
Educadora e fundadora do Media Education Lab um tempo já bastante transformado por tecnologias

  um universo expandido 15
digitais. Apesar disso, rádios-relógio continuavam nos como pessoas de todas as idades, profissões e nacio-
despertando pela manhã, programas de TV exibidos nalidades se comunicam, se relacionam, trabalham,
apenas em horário fixo eram regra e os smartphones interagem, consomem, pesquisam, aprendem, se ex-
ainda não haviam se tornado parte quase integran- pressam e, principalmente, se informam. De consu-
te da anatomia humana. Tampouco as redes sociais midores passivos, descobrimos a possibilidade de
eram nosso café com leite diário. Ao contrário de hoje, A mídia E As mídias assumir papéis mais ativos no universo antes pouco
fronteiras de contornos bem definidos separavam o Educação midiática, análise permeável da circulação da informação.
crítica de mídias, participa-
físico do virtual, e a vida simultânea nos dois mundos ção responsável nas mídias…
Pense nisto: bastam um smartphone, uma rede
estava mais próxima da ficção que da realidade. Afinal, do que estamos social e uma conexão com a internet para qualquer
falando quando citamos
Mas Elizabeth Thoman, fundadora do Center for as mídias?
um tornar-se fotógrafo, narrador ou documentarista
Media Literacy (CML), e Tessa Jolls, atual presidente, As mídias são todos os canais
amador e encontrar uma audiência. Isso significa que
assim como muitos outros estudiosos da educação, (ou meios) pelos quais é pos- crianças, jovens e adultos não apenas consomem,
sível transmitir informações
já estavam convencidas havia tempos de que, com ou mensagens para grandes
mas também podem criar conteúdos. Neste jogo de
a convergência das mídias e da tecnologia na cul- audiências. Podem ser sites, consumo e criação a regra são informações e entre-
livros, revistas, rádio, TV, foto-
tura global, já não bastava ser capaz de ler palavras grafias, filmes e músicas ou
tenimento ilimitados ao alcance de um clique e audi-
impressas; crianças, jovens e adultos precisavam mesmo panfletos, embala- ências antes inimagináveis, e nosso tempo online só
pioneiros gens e até camisetas estam-
também da habilidade de interpretar criticamen- padas com frases ou slogans.
aumenta. Assim como cresce o acesso a um mundo
O Center for Media Lite-
racy (medialit.org) é uma
te a diversidade cada vez maior de imagens, sons e Já a mídia (no singular)
muito mais diversificado, com histórias e realidades
das primeiras organizações mensagens da cultura multimídia. é como nos referimos à nunca antes mostradas numa tela.
mundiais a trabalhar análise imprensa, ou seja, ao con-
e leitura de mídias com pro-
O conceito de alfabetização tinha de ser expan- junto dos veículos de comu-
Acesso, presença e alcance digitais, no entanto, es-
fessores e jovens. dido para acompanhar outra expansão: a do uni- nicação nos quais se exerce tão longe de equivaler a fluência digital, maturidade e
o jornalismo.
verso informacional. responsabilidade para trafegar nas vias tão carregadas
do ambiente informacional. E mais distantes ainda de
De consumidor a produtor implicar discernimento sobre o que é válido, relevante
e confiável num verdadeiro mar de ideias, notícias,
Com o avanço do século 21, as mudanças engendra- imagens, vídeos, narrativas, áudios e opiniões.
das pela tecnologia foram ainda mais profundas. E Neste caso, não são só as crianças e os jovens a en-
rápidas. Dispositivos inteligentes acessíveis e com frentar dificuldades e deixar de ter uma experiência
recursos fáceis de usar, além de outras incontáveis rica e fortalecedora na rede. É como se todos nós ti-
inovações digitais, entre as quais as das tecnologias véssemos começado a dirigir sem ter habilitação, diz
da informação e comunicação, se espalharam pelos o professor da Universidade Stanford Sam Wineburg
quatro cantos do planeta, alterando o ambiente in- ao discutir o problema do consumo de informações
formacional e muitos dos hábitos e comportamentos online (ver pág. 23).
dos mais de 4 bilhões de usuários da internet hoje Se o simples acesso a equipamentos ou à inter-
no mundo. Com isso, mudou radicalmente a forma net não confere a ninguém "licença para dirigir", está

16   guia da EDUCAÇÃO MIDIÁTICA   um universo expandido 17


ainda mais distante de significar inclusão digital
plena. Henry Jenkins, um dos pesquisadores de mídia DESAFIOS DO SÉCULO 21
mais influentes hoje, alerta que, para além do acesso
DE ESPECTADOR tecnológico, o conceito e as discussões sobre inclusão Além de saber se comunicar bem, colaborar,
A PARTICIPANTE
deveriam ser ampliados e focar nas oportunidades
Cultura participativa é o que
de participar e desenvolver competências culturais ser criativo e pensar criticamente – os já bastante
Henry Jenkins define como
o momento em que toma- e habilidades sociais necessárias para o completo conhecidos 4 Cs —, um número crescente de
mos nas mãos o controle das
tecnologias de mídias para
envolvimento na chamada cultura participativa. especialistas inclui as habilidades midiáticas
contar histórias de manei- As oportunidades que este novo mundo descor-
ras poderosas, interagindo
tinou são conhecidas e extraordinárias. Nesta rede, na “caixa de ferramentas” hoje imprescindíveis.
com outros participantes na
criação e circulação de con- cujo acesso é direito humano fundamental declarado
teúdos e deixando para trás
a cultura do espectador e do
pela ONU há quase uma década, estradas levam a in- Num mundo onde informação e de- às experiências e desenvolva as ha-
consumo passivo. formações úteis, relevantes e necessárias, à conexão sinformação são abundantes, circu- bilidades necessárias para tornar-se
e à colaboração entre pessoas, à expressão criativa, a lam livremente e estão ao alcance de um participante pleno do futuro social,
inúmeras chances de aprendizado e de comunicação, todos, ser educado midiaticamente é cultural, econômico e político da nossa
à diversidade e à possibilidade de jovens encontrarem um pré-requisito para a cidadania e sociedade?
e terem voz em debates sobre o que lhes é caro. No en- participação na sociedade.
tanto, levam também a uma infinidade de informações As habilidades midiáticas são mui- O problema da transparência:
falsas, tendenciosas ou errôneas, a novas formas de to mais abrangentes que o simples como garantir que todo aluno tenha a
abuso, a discursos de incitação ao ódio e aos precon- conhecimento e utilização das tecno- habilidade de articular o seu entendi-
ceitos, à manipulação e exploração infantil. logias digitais. Embora muitos acre- mento sobre como a mídia molda e pode
DISCURSO DE ÓDIO
A dicotomia entre oportunidades e desafios fica ditem que crianças e jovens adquirem mudar nossas percepções do mundo?
O discurso de ódio aparece
ainda mais evidente quando vemos o direito funda- sozinhos as habilidades e competên-
nas redes a partir do tom mental da liberdade de expressão sendo usado como cias para participar da nova cultura O desafio da ética: como ter cer-
ameaçador, abusivo ou pre-
conceituoso adotado contra
desculpa para o tom ameaçador com que alguns dis- midiática, tecnológica e conectada do teza de que o estudante aprendeu os
determinados grupos de cursos são dirigidos a grupos de pessoas, motivado século 21 (justamente porque conhe- padrões éticos emergentes que devem
pessoas. Manifestações como
racismo, homofobia, xenofo-
por questões de raça, etnia, gênero, orientação sexual cem dispositivos e os novos ambien- moldar suas práticas ao criar mídias e
bia, intolerância de gênero e religiosa ou país de origem. tes de mídia melhor que seus pais e ao participar de comunidades online?
ou ataques a minorias são
alguns exemplos de incitação
A liberdade de expressão e a livre manifestação professores), três questões centrais
ao ódio. de pensamentos e ações são conceitos indissociáveis evidenciam a necessidade de ensinar Para enfrentar esses desafios, Jenkins
da democracia e, não à toa, compõem um direito in- na escola como lidar com este universo. sugere que os professores estejam
tocável garantido na Constituição brasileira. Com a Segundo Henry Jenkins, são elas: atentos às habilidades sociais e às com-
internet e as redes sociais, esse direito ganhou nova petências culturais que estão emer-
dimensão. É por meio dele que podemos, por exemplo, A lacuna da participação: como gindo no ambiente informacional
publicar um post para contestar uma decisão política garantir que todo aluno tenha acesso contemporâneo.

18   guia da EDUCAÇÃO MIDIÁTICA 19


ou manifestar nosso descontentamento com uma em- mensagens nos mais variados formatos e tipos de-
presa ou serviço. É também a liberdade de expressão mandam do leitor novas habilidades para decodificar
que possibilita o trabalho independente dos jornalis- o seu sentido. Embalagens, publicidade e impressos
tas de investigar, apurar e divulgar informações. do mundo físico, mídia tradicional (TV, jornais e rá-
Mas que fazer quando o princípio dessa liberdade dio) e, além disso, uma quantidade cada vez maior
é usado como escudo por quem dissemina discurso de vídeos, jogos, notícias, mensagens de texto e posts
de ódio? Qual é, afinal, a fronteira entre o que é pos- nos meios digitais estão o tempo todo nos transmi-
internet como direito sível dizer ou publicar e o que representa um ataque tindo informações, ideias e valores.
A Organização das Nações à dignidade do outro? Neste contexto, não importa exatamente onde você
Unidas (ONU) entendeu,
em 2011, que pela natureza
O desafio é gigantesco e passa pela educação. vive, a sua idade ou o que você faz: cada vez mais somos
“transformadora e única” Desde cedo, é importante que as crianças comecem a e seremos todos profundamente impactados por tanta
da internet, o acesso à rede
favorece o progresso da
compreender seu papel na sociedade hiperconectada, informação. O tempo todo, desde muito cedo.
sociedade, permite que os desenvolvendo senso crítico para identificar conteú- Nem sempre foi assim. Num passado ainda re-
usuários exerçam o direito de
opinião e expressão e deve,
dos inapropriados, agir com empatia e tirar o melhor cente, a informação era transmitida de poucos para
portanto, ser garantido como proveito do que a tecnologia oferece. muitos: leitores, ouvintes e espectadores tinham
direito humano básico, ao
lado de outros que protegem
acesso apenas aos conteúdos que as empresas de
a liberdade e a dignidade. Educar para a informação comunicação e as editoras produziam e distribuíam.
Seus produtos, e portanto o que iríamos conhecer e
É difícil preparar os estudantes para construir co- aprender, eram resultado das escolhas editoriais de
nhecimento em um cenário tão imprevisível e con- cada grupo empresarial. Além disso, avaliar a credi-
tinuamente transformado pelas tecnologias digitais bilidade, veracidade e qualidade era tarefa delegada a
sem refletir sobre o significado de ler, escrever e INFODEMIA quem publicava informação, e não responsabilidade
participar e definir estratégias para crianças e jo- Infodemia é o termo que compartilhada com quem lê, como é hoje.
passou a ser usado para des-
vens aprenderem algumas das mais importantes crever o ambiente de excesso
Mas eis que um big bang chamado internet nos
habilidades neste século: comunicação, colaboração, de informações, nem sempre transportou de um mundo fechado para um uni-
de qualidade, que faz com
criatividade e pensamento crítico. que as pessoas tenham mais
verso infinito caracterizado pela explosão contínua
Saber viver, aprender, discernir e prosperar, tanto dificuldade para encontrar de informações, fontes e recursos e para o qual jor-
fontes e orientações confiá-
online quanto offline, em uma cultura de mídia global veis quando precisam. A pala-
nais, revistas, livros, canais de TV, diferentes mídias e
e diversificada, é exercício constante que deman- vra apareceu pela primeira pessoas – muitas pessoas – continuam migrando de
vez em 2020, em relatório
da compreensão do ecossistema das mídias como da Organizacão Mundial da
forma irreversível. Com a entrada em cena de tantos
condição essencial para o gerenciamento de infor- Saúde (OMS) durante a pan- novos atores, além dos incontáveis benefícios, vieram
demia do novo coronavírus.
mação, consumo consciente, criação responsável de também novos desafios nas esferas da cultura par-
conteúdo e participação ativa na sociedade. ticipativa apontadas por Jenkins: como saber que
Tão novo quanto desafiador, o universo infor- textos ou fontes são confiáveis nos blogs individuais
macional contemporâneo e seu fluxo contínuo de e plataformas colaborativas de publicação, nos sites

20   guia da EDUCAÇÃO MIDIÁTICA   um universo expandido 21


anônimos de notícias e nos milhares de imagens e
vídeos, profissionais e amadores, que chegam pelas NATIVO OU
redes sociais e ainda nos aplicativos de mensagens
que convivem com veículos profissionais de jor-
INOCENTE DIGITAL?
nalismo? Como garantir acesso às oportunidades,
experiências e conhecimento deste novo ambiente O que diferencia um nativo de um imigrante?
informacional? Como preparar os alunos para segui- Foi pensando nessas distinções que o escritor
rem normas éticas ao criar conteúdo e participar de
comunidades online? Como mostrar a eles quanto a e especialista em educação norte-americano
mídia pode infuenciar nossa percepção do mundo? Mark Prensky publicou em 2001 o famoso artigo
JOGO DE NARRATIVAS Na nova era de abundância da informação, das em que analisa o efeito das tecnologias digitais
A internet e as redes sociais interações constantes, dos dispositivos inteligen-
abriram espaço para novas
tes, das ferramentas acessíveis para produção de sobre a nossa vida.
e inúmeras vozes. A plu-
ralidade na comunicação conteúdo, da conexão ininterrupta e do volume de
possibilita debates mais ricos
e poderosos, mas também
dados com os mais variados formatos e origens (mui- Mark Prensky criou e ajudou a popu- cita como exemplo de sotaque a prática
impõe desafios gigantescos. tas vezes nem sequer identificadas), vivemos um pa- larizar o termo ‘nativo digital’ em re- de imprimir e-mails ou documentos
É emblemático que em 2016
a palavra do ano escolhida
radoxo: embora o mundo digital seja mais farto de ferência às crianças e aos jovens que já para editá-los em vez de fazê-lo sim-
pelo dicionário britânico informações, construir conhecimento por meio delas nasceram num mundo permeado pe- plesmente no modo digital.
Oxford tenha sido pós-ver-
dade: situação em que fatos
é muito mais complexo. Em outras palavras: apesar las telas. Como eles estão desde sem- Os termos nativo digital e imigrante
objetivos têm menos relevân- de serem inúmeras as oportunidades de aprendizado pre rodeados por celulares, computa- digital ganharam o mundo. Mas aca-
cia na formação da opinião
pública do que crenças
e informação, todas elas disponíveis a apenas um cli- dores e jogos eletrônicos, entre outros baram também criando certo ruído.
pessoais ou narrativas que que (ou um toque!), também há muita desinformação dispositivos, teriam o ambiente digital Prensky quis dizer apenas que nati-
apelam para as emoções.
neste mesmo ambiente. como uma espécie de língua materna. vos digitais são os que já nascem em
A dificuldade é universal: nem mesmo quem nas- Em contrapartida, as pessoas mais um mundo em que os dispositivos
ceu e cresceu neste universo tão cheio de opções de velhas, que vivenciaram a transição do digitais são onipresentes, mas houve
informação e entretenimento tem as habilidades mundo analógico para o digital, seriam quem entendesse que essas crianças e
para lê-lo corretamente, ainda que consiga acessar os ‘imigrantes digitais’. Ou seja, preci- jovens já "vinham de fábrica" com ple-
conteúdo livremente. Os “nativos digitais” seriam saram se adaptar às novas linguagens no conhecimento e aptos a lidar com
mais bem definidos como “inocentes digitais”. e, ainda que tenham aprendido a lidar tecnologia. Longe disso.
Neste momento histórico, uma tempestade per- com elas, usam a tecnologia de um jeito Em 2016, uma pesquisa nos Estados
feita leva a uma desordem informacional em escala bem diferente que os mais jovens. É Unidos com mais de 7.800 estudan-
nunca vista. Contribuem para ela modelos de negócio como se, mesmo mudando para um tes conduzida por Sam Wineburg, do
em disrupção e perda de centenas de milhares de novo país e aprendendo o novo idioma, Stanford History Education Group
empregos no jornalismo profissional; pulverização mantivessem o sotaque. No artigo em (SHEG), mostrou que os jovens esta-
da autoria, com a democratização das ferramentas e que apresentou essas ideias, Prensky vam mais para “inocentes digitais”.

22   guia da EDUCAÇÃO MIDIÁTICA 23


Interessado em discutir a importância sua habilidade de navegar na inter- plataformas de publicação; adesão maciça às mídias
da leitura crítica das mídias também net é "lamentável", nas palavras de sociais, onde circulam informações boas e ruins sem
para o ensino de história, que prevê a Wineburg. distinção hierárquica; e ainda atores com intenções
análise de uma imensa variedade de Os resultados mostraram que mais e meios de manipular corações e mentes. Como se
fontes em linguagens igualmente diver- de 80% dessa população não foi capaz não bastasse, um personagem com formato e ação
sas, o grupo da Universidade Stanford de fazer a distinção entre conteúdo nem sempre compreendidos, mas cujo efeito se sente
quis investigar a habilidade de estudan- patrocinado (publicidade) e reporta- até mesmo em atividades prosaicas, passou a mediar
tes da educação básica e universitários gem jornalística. Em outra atividade nossa relação com o mundo e impactar tremenda-
de efetivamente buscar, avaliar e veri- proposta, uma parcela de menos de mente esse caldo: os algoritmos (ver pág. 59).
ficar informações históricas, políticas e 20% dos alunos questionou adequa-
sociais online, o chamado Civic Online damente a fonte de uma informação. Ler e entender o mundo hoje
Reasoning (COR), ou as habilidades que Uma das conclusões da pesquisa é
os afetam como cidadãos. que “nossos nativos digitais são capa- Seja como pai/mãe, professor ou cidadão, é quase im-
O SHEG descobriu que, apesar de zes de ir e voltar do Facebook para o possível deixar de indagar como tornar crianças e jo-
serem a geração mais familiarizada Twitter ao mesmo tempo que fazem vens fluentes na “leitura” e “escrita” dessas mídias com
com as novas tecnologias de comuni- o upload de uma selfie no Instagram as quais interagem diariamente, de forma que filtrem,
cação e informação, essas crianças e e escrevem uma mensagem ao ami- leiam criticamente, avaliem e sintetizem qualquer
jovens têm muita dificuldade de pro- go. Mas, quando o assunto é avaliar as informação acessada e compreendam formatos de
cessar informações encontradas nas informações que transitam pelas redes mídia, processos de criação, práticas de análise, ética,
redes sociais. Mais especificamente, sociais, eles são facilmente enganados”. privacidade e alguns outros temas básicos que lhes
permitam ser midiaticamente educados. Tampouco
se pode deixar de refletir sobre como poderão apren-
der a resolver problemas de forma autônoma e ao
mesmo tempo colaborativa, além de comunicar o
próprio entendimento efetivamente aos outros, num
universo informacional no qual mesmo os adultos
têm dificuldade de discernir qualidade e veracidade.
Ler e entender o mundo, assim como dele parti-
cipar de forma plena, ativa e saudável, exige novos
instrumentos adequados ao seu tempo. Enquanto
sociedade, precisamos garantir que as crianças e os
jovens desenvolvam habilidades para enfrentar esta
realidade já instalada e que os ajudem a construir
conhecimento por meio das informações ilimitadas
às quais têm acesso.

24   um universo expandido 25
LETRAMENTO DIGITAL Se o futuro parece incerto, uma coisa está clara:
seremos cada vez mais desafiados com o crescimento
E EDUCAÇÃO MIDIÁTICA ininterrupto do volume de informações e das novas
tecnologias digitais.
E aqui cabe o alerta de Paolo Celot, do grupo res-
Há certa confusão entre os termos letramento ponsável pela construção de políticas relacionadas à
digital e educação midiática. Embora os dois estejam educação midiática na Comissão Europeia: socieda-
des midiaticamente educadas são essenciais para
conectados e sejam até complementares, não querem salvaguardar a democracia. Enfrentar os episódios
dizer a mesma coisa. de radicalização promovidos pelo ambiente online e
CURADORIA
as avalanches de desinformação é tarefa de todos, e é
Em um ambiente de abun-
dância de informações e em
cada vez mais crítico compreender as forças que estão
Letramento (ou alfabetização) digital   Para o EducaMídia, educação mi- meio a tantas possibilidades, moldando nossos pensamentos, opiniões, comporta-
é a construção da fluência necessária diática é “o conjunto de habilidades será cada vez mais impor-
mentos e visões de mundo.
tante desenvolver habilidades
para escolher e utilizar as ferramentas para acessar, analisar, criar e partici- de curadoria para filtrar e Celot vai mais longe e defende que educação midi-
e dispositivos digitais. Abrange desde o par de maneira crítica e reflexiva do selecionar conteúdos e dados
ática é necessidade básica de crianças e jovens, para
confiáveis e adequados a
uso correto do mouse e do teclado até o ambiente informacional e midiático em todas as situações. que entendam o mundo e dele participem ativamente,
entendimento do que é e de como fun- todos os seus formatos – dos impressos um pré-requisito para a vida pública em todas as suas
ciona um código, por exemplo. Inclui aos digitais”. esferas. Sua ausência implica nova forma de exclusão.
conhecimento das tecnologias da in- Para o pesquisador, não basta assegurar o direito de
formação e comunicação. Essa necessidade, que não é nova, acesso à internet: no século 21, a educação midiática
O letramento digital requer compe- ganha cada vez mais urgência diante do passou a ser também direito humano essencial.
tências para encontrar, selecionar e usar enorme fluxo de informações a que esta-
novas ferramentas e aplicativos à medi- mos expostos diariamente. Nesse cená-
da que as necessidades vão surgindo. rio, não basta ler o que chega às nossas
Já a educação midiática é um con- mãos. É preciso saber filtrar e interrogar
ceito mais afinado com a reflexão e com a informação, não apenas consumir. É
as responsabilidades e oportunidades preciso dominar as linguagens que nos
decorrentes das mensagens que rece- permitem ter voz e, com isso, participar
bemos e produzimos. plenamente da sociedade conectada.

26   um universo expandido 27
ensinar e aprender hoje

A escola e
seu tempo
impacto da tecnologia digital –
especialmente da internet – já pode
ser sentido em quase todos os aspectos
da vida daqueles que estão crescendo
num universo conectado. Estima-se que o público
de até 18 anos represente, globalmente, um de
Dê às crianças e aos cada três usuários na rede. Em idade cada vez mais
precoce e com motivações variadas, eles acessam
jovens resiliência, a internet principalmente para consumir vídeos e
jogos, compartilhar fotos e comentários, conversar
informação e poder, com amigos, buscar informações sobre saúde e

oferecendo assim a eles notícias. Cerca de 30% dos jovens e crianças hoje
estão no ambiente virtual, e podemos presumir que
a internet como um frequentemente se perdem no seu emaranhado.

lugar em que podem Além de revelar esses e diversos outros dados sobre

ser cidadãos, e não como pessoas dessa faixa etária usam a internet e


com quais consequências, um relatório do Unicef

apenas usuários.
mostrou que o caminho para enfrentar os desafios
impostos pelo mundo conectado e digital à infância
é “mitigar os danos e maximizar os benefícios que
a internet possibilita para cada criança e jovem”.
Das ilimitadas oportunidades de comunicação,
comércio, aprendizado e liberdade de expressão trazi-
das pelas tecnologias digitais, de um lado, e a ameaça
ao tecido social e à ordem política, de outro, a resposta
para enfrentar o duplo desafio de atenuar danos e
­Anne Longfield potencializar benefícios está fundamentalmente na
Comissária da Infância no Reino Unido educação. Mais ainda: no papel e na capacidade das

  a escola e seu tempo 31


escolas não só de discutir a cultura digital (e midiá-
tica), mas de incorporá-la a práticas de sala de aula e EDUCAÇÃO MIDIÁTICA
desenvolver nos alunos habilidades essenciais.
De um campo de conhecimento inicialmente vol-
NA BNCC
tado para a análise de publicidade e proteção dos
supostos efeitos maléficos da mídia, nos anos 1960, a Como a educação midiática se conecta com a nova
educação midiática despontou, décadas mais tarde, Base Nacional Comum Curricular (BNCC)? Esta é uma
O QUE É UM TEXTO? como o conjunto de saberes e estratégias que pa-
Muito além das palavras vimenta o caminho para o aprendizado ao longo preocupação legítima de educadores, à medida que
escritas, a comunicação
ganhou novas dimensões
da vida em um mundo em constante mudança. De trabalham para que as competências e habilidades
graças à internet e, princi- acordo com o Center for Media Literacy, com seus descritas no documento sejam "traduzidas"
palmente, às redes sociais.
protocolos e procedimentos para desenvolver os
Essa expansão de formatos e
linguagens exige uma expan- novos letramentos necessários para a vida, trabalho em práticas pedagógicas no dia a dia das escolas.
são do próprio conceito de
alfabetização, para sermos
e cidadania no século 21, a educação midiática pas-
capazes de “ler o mundo” sou, então, a organizar e promover a importância de Temos uma boa notícia: a educação Competência geral #7 Argumentar
a partir de imagens, vídeos,
memes, GIFs...
ensinar essa noção expandida de alfabetização e do midiática não só está alinhada à BNCC com base em fatos, dados e informa-
próprio conceito de texto, já não mais confinado ao como apresenta um caminho para sua ções confiáveis, para formular, nego-
que é escrito. Na bagagem, traz instrumentos para implementação. ciar e defender ideias, pontos de vis-
ajudar alunos a pensar criticamente, consumir in- A educação midiática permeia vá- ta e decisões comuns que respeitem
formação de forma consciente, reconhecer pontos de rias das competências gerais da Base e promovam os direitos humanos, a
vista, criar mídias com responsabilidade e identificar e, em pelo menos duas, aparece de ma- consciência socioambiental e o consu-
o papel delas na nossa cultura (temas do próximo bloco). neira mais explícita. São elas: mo responsável em âmbito local, regio-
Inúmeros pesquisadores e organizações veem, nal e global, com posicionamento ético
desde há muito, o letramento midiático como um Competência geral #5 Compreender, em relação ao cuidado de si mesmo,
componente fundamental da escola – e da vida. Além utilizar e criar tecnologias digitais de dos outros e do planeta.
de espaço em iniciativas e discussões na sociedade informação e comunicação de forma
civil e em governos de vários países, a pauta está na crítica, significativa, reflexiva e ética Aprendizagem baseada em projetos e
agenda da Unesco desde a década de 1980, quando a nas diversas práticas sociais (incluindo investigação, curadoria e seleção de fon-
organização passou a promover internacionalmente as escolares) para comunicar, acessar tes confiáveis, pesquisa e documentação
a conscientização da importância da educação mi- e disseminar informações, produzir histórica ou científica, além da criação
diática em todos os níveis do processo educacional. conhecimentos, resolver problemas e de mídias como forma de demonstrar
No Brasil, um interesse crescente surgiu por parte de exercer protagonismo e autoria na vida conhecimento, são alguns exemplos de
professores e gestores, entre outros motivos, pela pro- pessoal e coletiva; abordagem pedagógica e estratégias de
mulgação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). construção de conhecimento que se for-
O documento inclui em suas competências gerais a talecem por meio da educação midiática.

32   guia da EDUCAÇÃO MIDIÁTICA 33


Além disso, a BNCC abre espaço atuação na vida pública trata das res- comunicação e a cultura digital, além do chamado
para a construção de habilidades ponsabilidades e oportunidades trazi- Campo jornalístico-midiático em Língua Portuguesa.
diretamente ligadas ao manejo cons- das pela comunicação e pelas tecnolo-
ciente e qualificado da linguagem e da gias, buscando ampliar e qualificar a O mundo digital e a infância
informação em suas diversas funções participação dos jovens na sociedade.
sociais na área de língua portuguesa. Em outros dois campos, a BNCC ainda MUITO ALÉM Se há um movimento cada vez maior no mundo todo
DAS FAKE NEWS
O chamado Campo jornalístico-mi- aprofunda o entendimento do uso da em prol da educação midiática, especialmente com
Vilãs famosas do momento,
diático possibilita a leitura crítica e comunicação nas práticas de pesqui- as chamadas fake news são
tantos episódios de propagação de informações fal-
a produção de textos de mídia, além sa e leva o aluno a refletir sobre suas um grande desafio para sas e seu impacto na política e destino de países, ele
toda a sociedade. A educa-
do entendimento do papel do jorna- escolhas enquanto autor na expressão ção midiática propõe uma
certamente é alimentado por esforços para entender
lismo e da publicidade. Já o Campo da artístico-literária. abordagem mais ampla do e mapear a relação dos jovens e crianças com o uni-
problema, que começa pela
desconstrução do termo
verso digital.
(que vem sendo usado sem Unicef, London School of Economics and Political
competências língua ciências exatas, cuidado e distinção há anos)
gerais portuguesa humanas e da natureza e passa pelo entendimento
Science e EU Kids Online confirmaram, em 2019, o
de um conceito bem mais que já parecia claro: a internet pode transformar a
abrangente: o da desinforma-
#4 COMUNICAÇÃO
ção (ver pág. 43).
vida de crianças e jovens – para o bem e para o mal.
Análise crítica e produção Pesquisa, avaliação de
Utilizar diferentes linguagens
de textos de mídia (Campo fontes e análise crítica
“Pode dar acesso a um novo mundo de entreteni-
[...] para se expressar e parti-
lhar informações, experiên-
jornalístico-midiático) de textos de mídia mento e informação, e permitir que aprendam de
cias, ideias e sentimentos em formas novas e inesperadas. Ao mesmo tempo, abre
diferentes contextos [...].
espaço para a exposição a perigos sem precedentes
#5 CULTURA DIGITAL
Pesquisa e documentação
Produção de textos de
e desconhecidos.”
científica e histórica
Compreender, utilizar e (Campo das práticas
mídia para documentação O estudo que investigou hábitos de usuários de
científica
criar tecnologias digitais de de estudo e pesquisa) internet de até 18 anos em 11 países, dentre os quais
informação e comunicação
de forma crítica, significativa,
o Brasil, mostrou que durante a semana eles estão
reflexiva e ética [...]. online pelo menos duas horas por dia; aos sábados e
Participação cívica (Campo domingos, passam quatro horas. Em muitos casos os
#7 ARGUMENTAÇÃO da atuação na vida pública)
pais não permitem mais tempo diante de uma tela.
Argumentar com base em
fatos, dados e informações
Embora a atividade preferida de garotos e garo-
confiáveis, para formular, tas que participaram do levantamento seja assistir a
negociar e defender ideias, Expressão artística
pontos de vista e decisões (Campo artístico-literário)
vídeos online, assim como os adultos, eles também
comuns [...]. demonstram apetite para aprender com a internet.
Entre 20% e 40% disseram “buscar informações” on-
line semanalmente, seja para aprender algo novo, seja
para procurar trabalho ou oportunidades de estudo,
acessar notícias, informações de saúde ou eventos

34   a escola e seu tempo 35


em sua cidade. Muitos deles usam a internet para
atividades relacionadas à escola. APRENDIZAGEM BASEADA EM
O estudo aponta que, neles, estão ausentes as
habilidades necessárias não só para encontrar os
PROJETOs e investigação
conteúdos adequados, mas para avaliar criticamen-
te a informação e checar sua veracidade, algo que Posturas pedagógicas centradas na criatividade
admitiram ter dificuldade para fazer. Ser capaz de e na construção de conhecimento pelo aluno
buscar informação na internet é uma coisa; ser capaz
de checar se a informação online é confiável é outra (mais do que na transmissão de ideias e conceitos
completamente diferente, enfatiza o documento. pelo professor) estão diretamente conectadas às
propostas da educação midiática. No ambiente de
O mundo na rede, a rede no mundo
intensa circulação de informações em que vivemos
A realidade é que hoje, mais do que em qualquer e diante de tantas possibilidades, é fundamental
outro momento da história, crianças e jovens estão instigar crianças e jovens a “aprender a aprender”.
crescendo num ambiente de incontáveis opções de
informação, entretenimento e interatividade.
Casas com banda larga, uma infinidade de canais Nesse contexto, o PBL (project-based Nesse percurso, o conteúdo discipli-
na TV e de filmes sob demanda, assim como smart- learning, na sigla em inglês) é uma pos- nar deixa de ser um fim em si mesmo
phones acessíveis e milhões de aplicativos para basica- tura pedagógica que entende a apren- e transforma-se em algo aplicável que
mente qualquer atividade não estão disponíveis para dizagem como um processo social e interage com a realidade.
todos, infelizmente. Ainda assim, um número crescen- transdisciplinar e busca diminuir o De maneira similar, a aprendiza-
te de pessoas de todas as idades e de todos os lugares abismo entre as experiências na escola gem baseada em investigação (inquiry-
na academia consegue acessar o universo online. De 400 milhões no e as do mundo real. -based learning, na sigla em inglês) faz
Renee Hobbs é fundadora ano 2000, a quantidade de usuários da internet atingiu Um problema para investigar ou com que o aluno parta de uma per-
do Media Education Lab
(mediaeducationlab.com),
a marca de 4 bilhões em 2018. Hoje, já corresponde a uma questão para explorar funcio- gunta ou curiosidade para investigar
um dos principais centros de mais de metade da população mundial. nam como gatilho para que os alunos e construa sua própria trilha em dire-
pesquisa de mídia, comunica-
ção e educação. Ex-professora
Não só informações e entretenimento ilimitados pesquisem, discutam, formulem hipó- ção ao conhecimento.
da Universidade Harvard atraíram tantos usuários jovens e adultos. Como lem- teses, busquem e organizem dados e Com isso, além de aprender o tema
e hoje na Universidade de
Rhode Island, é uma pioneira
bra Renee Hobbs, foi também a descoberta do prazer demonstrem suas descobertas. curricular, os jovens e crianças têm a
no estudo de educação digi- de participar da cultura digital midiática – na qual Ao contrário da aula mais tradicio- oportunidade de desenvolver outras
tal e midiática.
conectar-se com amigos e família, compartilhar fotos, nal, em que conceitos e princípios são habilidades – como as relacionadas
aprender qualquer coisa (literalmente) e exercer a transmitidos aos estudantes, no PBL são ao pensamento crítico, comunicação
criatividade contribuindo com comentários e geran- eles próprios que traçam um caminho eficiente, trabalho em equipe, busca
do conteúdos sobre culinária, política, saúde, ciência, até chegar às conclusões necessárias. e curadoria de informações etc. Daí a

36   guia da EDUCAÇÃO MIDIÁTICA 37


forte conexão com a educação midiáti- É importante que os alunos tenham relacionamentos, arte e muito mais, tornaram-se
ca: em sua trajetória, os alunos apren- voz ao longo do processo, participan- tão profundamente incorporados ao cotidiano que
dem também a acessar, pesquisar, do das decisões sempre que possível e é difícil conceber a vida de outra forma.
filtrar e produzir no ambiente infor- tendo abertura para propor caminhos; Criar, participar e se comunicar nesta trama de
macional e midiático. Alguns pontos tantos fios (confusamente) entrelaçados passou a ser
de atenção para os projetos que levam Além de aprender com o projeto parte da vida de diferentes gerações com recursos e
em conta essas metodologias: em si, reservar um tempo para refletir graus de escolaridade bastante diversos.
sobre ele é essencial. Assim, os alunos Nada indica que esse movimento possa ser freado
Um problema ou pergunta engaja- terão oportunidade de internalizar os – pelo contrário. Nem tampouco o rápido desenvol-
dora torna a aprendizagem mais sig- conhecimentos construídos ao longo do vimento de novas tecnologias de comunicação ou o
nificativa. Mas é importante chegar ao percurso e avaliar o próprio percurso (o fluxo de informações.
equilíbrio: desafiar os alunos, mas não que funcionou e o que não funcionou); Na perspectiva atual e futura, portanto, o conceito
intimidá-los; de aprendizado ao longo da vida torna-se ainda mais
Por fim, ter a chance de publicar ou crítico porque saber usar ferramentas que evoluem e
Investigar é mais complexo que de apresentar-se para uma audiência recursos para desempenhar atividades pessoais, so-
“procurar algo”. Demanda tempo, além real fortalece o engajamento dos alu- ciais, culturais e cívicas será cada vez mais uma neces-
de habilidades para avaliar a confiabi- nos e ajuda a desenvolver habilidades sidade básica, diz Hobbs. E mais: sem as habilidades
lidade e fazer a curadoria das informa- importantes de autoexpressão e parti- para acessar, analisar, refletir criticamente sobre infor-
ções pesquisadas; cipação na sociedade. mações recebidas e enviadas para tomar as melhores
decisões em temas cotidianos relacionados a saúde,
trabalho, política e entretenimento, seremos privados
da participação ativa, positiva e consciente no mundo.
QUE E que respostas as escolas têm dado a este ce-
IR ST
ET IO
FL nário? Como têm se colocado diante deste mundo
RE

transformado, em que a informação está por toda


AR

parte, crianças e jovens estão cada vez mais cedo na


rede, o aprendizado já não tem hora nem local defi-
nidos, o papel de alunos e professores é (ou deveria
INV
UTIR

ser) outro e o conceito de aprendizado ao longo da


ES

vida nunca fez tanto sentido?


SC

TIGA
DI

Ensinar e aprender hoje


CRIAR
Em uma sociedade saturada de mídias, dependente
da tecnologia e globalmente conectada, as clássicas

38   a escola e seu tempo 39


acepções de ensinar e aprender não ficaram imunes sim tornar o aprendente apto a extrapolar o que co-
às mudanças. Suas redefinições se traduzem em es- nhece e aplicá-lo em situações novas. “O mundo agora
tratégias nas quais os alunos podem construir seu recompensa as pessoas não pelo que sabem – os me-
percurso de aprendizado de forma ativa, reflexiva canismos de busca sabem tudo —, mas sim pelo que
e autônoma. No vocabulário das rotinas escolares, fazem com o que sabem, pelo modo como se com-
também desafiadas pela explosão de informações, portam no mundo e pelo modo como se adaptam.”
novos verbos sobressaem: para os alunos, questionar,
investigar, refletir, conectar, aplicar, recortar, sinteti- O futuro chegou
zar e publicar criações próprias; para os professores,
mediar, facilitar e orientar. Duas décadas deste século já se passaram, e ainda
Esse novo vocabulário traz consigo propostas que o “mundo real” tenha se aproximado da esco-
para tornar os alunos mais inquisidores e protago- la, uma pergunta continua causando desconforto:
DIETA INFORMACIONAL nistas da construção de conhecimento, tais como as estamos de fato preparando os alunos para partici-
Assim como procuramos metodologias ativas, o ensino híbrido, a integração parem plenamente de uma sociedade tão digital e
uma alimentação balan-
ceada, o conceito de dieta
de tecnologias digitais para a comunicação e colabo- conectada? Diante dela, a discussão sobre a urgência
informacional propõe a busca ração, a personalização, as aprendizagens baseadas e o potencial transformador da educação midiática
por fontes variadas de infor-
mação de modo a expandir
em problemas e investigação, muitas delas com longo só aumenta. Assim como o desafio dos professores.
nosso repertório e ter um percurso na história da educação. A pandemia da covid-19 acelerou ainda mais o
retrato ampliado do mundo,
a partir de diferentes pontos
O diretor da Organização para a Cooperação processo de adoção de tecnologias para ensinar e
de vista. e Desenvolvimento Econômico (OCDE) Andreas aprender, no que parece ser um caminho sem volta,
Schleicher sintetizou bem o desafio. Se durante muito mas ainda repleto de dúvidas.
tempo a educação se resumia a ensinar algo novo às A reflexão sobre essas e outras tantas perguntas
pessoas, hoje significa certificar-se de que elas hão de urgentes – e sobre possíveis respostas práticas para
desenvolver uma “bússola confiável e habilidades os desafios que as deflagram – orbita os objetivos da
de navegação para se encontrarem em um mundo educação midiática. Não surpreende que professores,
cada vez mais incerto, volátil e ambíguo”. E, se antes gestores, escolas, universidades, formuladores de polí-
existia a percepção de que o que se aprendia na es- ticas públicas, desenvolvedores de currículos, institu-
cola seria para a vida toda, hoje se sabe que é preciso tos e organizações não governamentais e empresas de
preparar os estudantes para mudanças econômicas e tecnologia – uma coalizão de olhares e saberes diversos
sociais que ocorrem em velocidade sem precedentes, – estejam debruçados sobre projetos de implementa-
para funções que ainda não foram criadas, para usar ção da educação midiática na educação básica.
tecnologias que ainda não foram inventadas e para Das salas de aula aos debates institucionais, das
resolver problemas cada vez mais complexos. pequenas iniciativas individuais a projetos e eventos
O objetivo do processo educativo não deve ser com alcance nacional ou global, eles reafirmam a ne-
reproduzir conhecimento, lembra Schleicher, mas cessidade primordial de os alunos desenvolverem, na

40   guia da EDUCAÇÃO MIDIÁTICA   a escola e seu tempo 41


escola, um conjunto de habilidades transversais para
acessar a informação, ler e escrever de maneira crítica Desinformação
e reflexiva e participar de forma ativa na sociedade. E
de termos professores capacitados e engajados para
e fake news
NOVOS LEITORES
essa construção.
Alunos educados midiatica-
mente não simplesmente
O termo fake news tornou-se tão conhecido
duvidam de tudo: eles retrato alarmante que passou a ser usado por muitas pessoas para
estabelecem uma relação
de ceticismo saudável
com a informação. O desafio é grande. No Brasil, a era digital é a rea- descrever qualquer tipo de informação enganosa.
lidade dos 74% dos brasileiros que acessam a rede. Mas é importante compreender que há vários outros
Dentre eles, mais de 24 milhões têm de 9 a 17 anos. tipos de conteúdo falso ou capaz de gerar confusão.
Isso significa que, dessa faixa etária, quase 90% já
está na internet, e dela 95% usa o celular para navegar
e 92% o faz em casa. Segundo a pesquisa TIC Kids Desinformação é o termo mais amplo não intencional cometido por um jor-
Online Brasil divulgada em 2020, um dado curioso para nos referirmos a qualquer tipo de nalista, de um dado divulgado de for-
sobre esse contingente que tampouco para de cres- conteúdo falso, impreciso, tendencio- ma incompleta ou mesmo de um título
cer foi identificado por aqui: 29% desses pequenos so, distorcido ou fora de contexto, cria- mal escrito. A desinformação também
usuários ajudam os pais a usar a internet quase todos do de forma intencional ou não. pode ter origem no baixo letramento
os dias, enquanto outros 28% os auxiliam pelo menos Já as fake news são um tipo bem informacional do público. É o que acon-
uma vez por semana. específico de desinformação. O termo tece, por exemplo, quando uma sátira
Um estudo publicado em 2016 trouxe algumas diz respeito a conteúdos proposital- é confundida com informação real, ou
respostas sobre como esse público interage com a mente falsos, ou seja, que foram criados quando um leitor vê apenas a manchete
informação e a desinformação, e suas habilidades com intenção de enganar. Além disso, (título) de uma reportagem, sem olhar o
para desfrutar de todo o potencial de comunicação e muitas vezes imitam o visual e o estilo restante da notícia com um retrato mais
produção criativa do mundo virtual. Os dados reve- de veículos de comunicação sérios, ten- completo do assunto.
lados, embora se refiram a estudantes da educação tando pegar carona na credibilidade. É importante reconhecer os vários
básica e universitários norte-americanos, foram tão As motivações para criar e disseminar tipos de desinformação e não classi-
alarmantes que a sirene disparada na época ainda fake news vão desde ganhar dinheiro ficar tudo simplesmente como fake
ecoa no mundo todo, reforçando a necessidade e a até conquistar apoio para determinada news. Um dos problemas com o termo
urgência de incluir, nas escolas e em casa, a educa- causa ou ideia. é que ele se popularizou a ponto de ser
ção midiática (ver pág. 23). O termo desinformação contempla usado sem muito critério, até mesmo
Outras pesquisas ilustram (com alarme) o desafio um conjunto maior de conteúdos. Pode, como sinônimo de “toda informação
que temos diante de nós enquanto sociedade e, in- por exemplo, ser resultado de um erro que me desagrada ou contraria”.
felizmente, mostram que esse retrato é mais global
do que desejaríamos.

42   guia da EDUCAÇÃO MIDIÁTICA 43


CONFIABILIDADE Episódios que mostram a ameaça que a dissemi-
nação de notícias falsas e desinformação representa
para a saúde e a democracia – na verdade apenas a
A internet alterou completamente nossa relação ponta do iceberg – não param de crescer. Exemplos
surgem com frequência assustadora, assim como
com a informação. Temos acesso a uma infinidade iniciativas de combate ao fenômeno hoje global.
jornalismo
de conteúdos, sem necessariamente depender e democracia Várias soluções estão sendo propostas, no âmbito
de curadoria ou interpretação de intermediários Entender e valorizar o papel da tecnologia e da regulamentação, mas elas ainda
do jornalismo é um dos
parecem imperfeitas ou insuficientes.
(por exemplo, livros didáticos, jornais e revistas). caminhos para enfrentar a
desinformação. É por meio A arma mais forte que temos, hoje, para enfrentar
Tal condição amplia nosso poder, mas também dessa atividade que temos
acesso a informações cruciais
esse desafio de enormes proporções é quase singela.
requer responsabilidade. que nos ajudam a tomar Ela envolve ensinar as crianças e jovens a interrogar
decisões mais conscientes
em diversas áreas, da política
as informações e estabelecer com elas uma relação
ao entretenimento. Antes de inquisidora e reflexiva. E isso se aprende na escola.
levar determinado assunto ao
Habilidades para encontrar informa- propósito  Qual é a intenção da men- público, o jornalista investiga,
Só assim estaremos imunizados contra o vírus da
ções e “interrogar” o material acessado sagem? Informar, vender algum produ- pesquisa, entrevista e busca desinformação e, ao mesmo tempo, protegidos do
confirmar a veracidade das
(e não apenas consumi-lo) precisam ser to, convencer, entreter? informações. Esse método
cinismo de “não acreditar em nada”.
desenvolvidas e adotadas no dia a dia diferencia a produção jor- É nesse caldeirão efervescente e complexo que
nalística de outros tipos de
de crianças e jovens. cONtexto   Em que momento e cir- conteúdo que chegam até
a educação midiática atua. Para crianças e jovens,
Não se trata de formar um exército cunstância esse material foi criado e nós sem nenhuma preocu- é um caminho seguro para desenvolver o conjunto
pação com a precisão, busca
de checadores de informação. Mas, sim, está sendo disseminado? de fontes qualificadas ou
de habilidades necessárias para ler o mundo de ma-
de incentivar uma leitura mais reflexi- apresentação de evidências. neira reflexiva e participar dele plenamente; para
A população pode e deve
va e consciente – seja de textos, seja de impacto  Quem pode ser beneficiado posicionar-se para que a ativi-
professores e escolas, está no cerne da renovação das
imagens, memes ou mesmo podcasts. ou prejudicado pelo conteúdo? dade jornalística seja exercida práticas pedagógicas e do aprendizado conectado
da maneira mais responsável
Para avaliar a confiabilidade de possível, sem demonizar a
com as demandas do século 21.
qualquer mensagem, é importante É muito importante que os jovens e imprensa enquanto institui-
ção, pois essa postura enfra-
que, habitualmente, os alunos sejam crianças percebam que todos somos quece a democracia.
incentivados a “entrevistar” o conte- responsáveis pela curadoria das in-
údo acessado, com perguntas como: formações que acessamos. Sem isso,
corremos o risco de acabar menos in-
autoria  Quem criou a mensagem? formados do que antes, quando o volu­
me de dados, mensagens e conteúdos
cONTEÚDO  Sobre o que é a mensagem? disponíveis era bem mais restrito.
Há evidências para sustentar o que está
sendo comunicado?

44   a escola e seu tempo 45


a abordagem do educamídia

Ler, escrever
e participar
no século 21
educação midiática é a resposta
segura e fortalecedora a um duplo
desafio: preparar crianças e jovens
para as mudanças drásticas na forma
como buscamos, produzimos e compartilhamos
informações; e transformar a própria educação
A alfabetização em para que seja mais significativa e conectada com

mídia é fundamental o mundo. A missão é ampla e urgente, mas não se


assuste, porque você mesmo já deve ter encontrado
na construção de várias oportunidades de incorporar a educação
midiática em aulas, reflexões e atividades. O que
identidades, na formação falta, talvez, seja intencionalidade – e este Guia
tem o propósito de auxiliá-lo nessa empreitada.
da consciência sobre o Um bom ponto de partida é entender, afinal,

estar no mundo e para que significa ser educado midiaticamente.

nossa capacidade de Alguns podem avaliar que o debate sobre a influência


das mídias em nossa visão de mundo, elaboração de

agir dentro dele. valores, despertar de interesses, fortalecimento de


crenças ou adoção de posições políticas parece in-
tangível e uma discussão reservada à academia. Mas
essa reflexão tão central e crítica tem várias outras
portas de entrada – entreabertas ou escancaradas. É
preciso encontrar as que fazem mais sentido ao seu
contexto e à sua comunidade.
O que a educação midiática procura construir
João Alegria são habilidades para tirar o melhor proveito do
Educador e gerente-geral do LEd - Laboratório que o ambiente de abundância de informações e
de Educação da Fundação Roberto Marinho constantes mudanças pode nos oferecer. Quanto

  ler, escrever e participar 49


mais cedo melhor, garantem os especialistas, já
que tais competências precisam ser continuamente EDUCOMUNICAÇÃO
exercitadas ao longo de toda a vida (ver pág. 37) e
resultar na incorporação de novos hábitos frente
E EDUCAÇÃO MIDIÁTICA
às mensagens que chegam até nós pelas mais di-
versas mídias. Tanto quanto um esporte ou uma A educomunicação busca desenvolver e fortalecer
segunda língua, a educação midiática demanda a capacidade de expressão de jovens e crianças,
prática constante.
com a convicção de que a comunicação tem o poder
Novas ferramentas para novos tempos de transformar e abrir canais de fala e escuta a
grupos que nem sempre detêm esse poder.
O EducaMídia define a educação midiática como
um conjunto de habilidades para acessar, analisar,
criar e participar de maneira crítica do ambiente Educomunicação e educação midiática análise dos meios de comunicação em
informacional em todos os seus formatos, dos im- relacionam-se de maneira simbiótica. si, mas as possibilidades de interven-
pressos aos digitais. A primeira alimenta-se das práticas ção da comunicação como expressão
Saber acessar o ambiente informacional signi- da educação midiática quando educa de grupos ou gestão de vozes e desejos.
fica buscar, filtrar e fazer curadoria das informa- para o consumo das mídias e desen- Assim, a educomunicação “busca
ções e ferramentas adequadas a cada necessidade. volve a fluência e a ética no ambiente transformações sociais que priorizem,
Ter capacidade de analisar implica compreender as digital. E a educação midiática ampa- desde o processo de alfabetização, o
mensagens e usar o pensamento crítico para inves- ra-se na educomunicação quando, por exercício da expressão”, nas palavras
tigar qualidade, veracidade, credibilidade e pontos exemplo, incentiva a autoexpressão de do professor da USP Ismar de Oliveira
de vista embutidos nas mensagens, considerando crianças e jovens para que tenham voz Soares, um dos principais nomes da
seus possíveis efeitos ou consequências. Criar, por e plena participação na sociedade. área. Também são referências impor-
sua vez, significa compor ou gerar conteúdo usan- O conceito de educomunicação tantes na educomunicação o colombia-
do criatividade e confiança na autoexpressão, com ganhou força a partir da década de no Jesús Martín-Barbero e o uruguaio
consciência de propósito, público e técnicas de 1990, com um novo campo de pesquisa Mário Kaplún.
composição. Participar se traduz em trabalhar de e intervenção social na América Latina, Um exemplo clássico de prática da
forma individual e colaborativa para compartilhar nascido da interface entre as áreas de educomunicação é o projeto Educom.
conhecimento e atuar em relação a questões reais educação e comunicação. rádio, desenvolvido a partir de 2001 pelo
do entorno e da comunidade. De certa forma, esse grupo siste- Núcleo de Comunicação e Educação da
É com esses pilares que o EducaMídia trabalha matizou práticas oriundas da comu- USP com a Secretaria de Educação da
para capacitar e engajar professores no processo de nicação popular. O que logo ficou claro Prefeitura de São Paulo para comba-
educação midiática dos jovens, desenvolvendo seus é que o foco dos trabalhos e projetos ter a violência em escolas e incentivar
potenciais de comunicação nos diversos meios, por de educomunicação não era apenas a a convivência cidadã.

50   guia da EDUCAÇÃO MIDIÁTICA 51


Habilidades
meio das habilidades de interpretação crítica das
informações, produção ativa de conteúdos e parti-
cipação responsável na sociedade.

da educação
Ao defender a necessidade de novos instrumentos
para explorar um novo mundo e nele interagir, a edu-
cação midiática reforça o conceito de alfabetização

midiática
expandida, visando devolver às crianças e jovens o
empoderamento que saber ler e escrever representou
até o século passado.
Na visão de Renee Hobbs, esse empoderamento
abrange toda a gama de competências cognitivas,
emocionais e sociais que incluem uso de tecnolo-
gias e textos em formatos variados; análise crítica; Conheça a mandala EducaMídia e explore
criatividade e prática de composição de mensagens; as habilidades e os objetivos de aprendizagem
refletir
capacidade de desenvolver a reflexão e o pensamento
para aprender
ético; e colaborar ativamente por meio do trabalho da educação midiática
Acessar, analisar, criar e
participar. A essas competên- em equipe. Pessoas dotadas dessas competências "re-
cias essenciais, Renee Hobbs
acrescenta o verbo refletir na
conhecem agendas pessoais, corporativas e políticas
constelação de habilidades e têm o poder de falar em nome das vozes ausentes e
de comunicação e resolução
de problemas. É com ele que
das perspectivas omitidas em nossas comunidades.
se aplicam responsabilidade Ao identificarem e tentarem resolver problemas, po-
social e princípios éticos à
própria identidade, experiên-
dem, então, fazer valer seus direitos e usar a própria
cias e condutas. voz para melhorar o mundo", conclui Hobbs.

A proposta do EducaMídia

Lançado em 2019, o EducaMídia é o programa do


Instituto Palavra Aberta, com apoio do Google.org,
que tem o objetivo de promover a educação midiá-
tica como condição essencial da cidadania plena no
século 21. Com uma série de formações, recursos e
ferramentas, o programa visa equipar professores e
gestores com material de trabalho e de reflexão para
que levem às escolas estratégias intencionais de uso
de mídias. Apresentamos algumas dessas estratégias,

52   guia da EDUCAÇÃO MIDIÁTICA 53   guia da EDUCAÇÃO MIDIÁTICA


Educar para a informação é o caminho LER educação midiática contempla
mais seguro para formar cidadãos li-
vres e aptos a fazer escolhas conscien- Diante da abundância de informações o desenvolvimento de diversas
tes. É mudar a relação de crianças e a que estamos expostos, saber ler o competências para consumir e
jovens com o conhecimento, para que que está escrito é apenas o começo. produzir mídias de maneira reflexiva
saibam aprender a aprender. É edu- Precisamos ir além.
car para a vida em um mundo cada vez e responsável, para que crianças e jovens possam
mais conectado. ESCREVER participar plenamente da sociedade conectada
Para atingir esses objetivos, a educa- em que vivemos.
ção midiática busca desenvolver nos es- Deixamos de ser meros espectadores
tudantes competências para consumir do que acontece no mundo. Podemos
e produzir mídias de forma reflexiva e ser também produtores e dissemi- OBJETIVOS PARA O ALUNO OBJETIVOS PARA O PROFESSOR
responsável, além de prepará-los para a nadores de conteúdo, o que requer
plena participação na sociedade. Para os novas responsabilidades. Neste eixo, Analisar  de forma crítica, e habitual- Explorar   novas abordagens peda-
professores, a educação midiática abre o EducaMídia propõe o desenvolvi- mente, os textos de mídia em qualquer gógicas proporcionadas pelas tecno-
a possibilidade de aproximar a sala de mento da fluência digital, para que os formato – dos impressos à internet; logias de informação e comunicação;
aula do mundo real, promovendo uma estudantes dominem um repertório
cultura de aprendizagem que estimula básico de ferramentas de produção e Compreender   os mecanismos de Promover   uma cultura de aprendi-
a curiosidade e gera mais engajamento. compartilhamento de conhecimento e busca, curadoria e produção de zagem que estimule a curiosidade e o
Não se trata de disciplina isolada, tenham condições de se expressar nos conhecimento; aprendizado contínuo;
e sim de um conjunto de habilidades mais diversos formatos.
para acessar, analisar, criar e participar Acessar  uma ampla gama de fer- Facilitar a aprendizagem significati-
do ambiente informacional e midiáti- PARTICIPAR ramentas digitais e ter flexibilidade va, fazendo uso de recursos de mídia;
co. Tais habilidades estão descritas na para encontrar e adaptar-se a novas
mandala EducaMídia, construída a par- Ler e escrever devem ser ferramentas ferramentas; Guiar   os alunos para práticas éticas,
tir de três grandes eixos: Ler, Escrever para que os alunos participem de for- legais e seguras no ambiente digital e
e Participar. ma crítica, ética e responsável da socie- Aplicar  o conhecimento do ambiente fora dele;
dade. Pensando nisso, este eixo trata informacional e midiático para solu-
de temas ligados à cidadania digital e cionar problemas, para o exercício da Criar   experiências engajadoras que
à participação cívica dos estudantes. cidadania e para a autoexpressão; levem os alunos a participar da socie-
dade e com ela contribuir de maneira
Criar  peças de mídia fundamen- crítica, ética e responsável.
tadas em escrita técnica ou criativa
bem desenvolvida, de forma ética e
responsável.

54   guia da EDUCAÇÃO MIDIÁTICA 55   guia da EDUCAÇÃO MIDIÁTICA


LETRAMENTO DA INFORMAÇÃO CIDADANIA DIGITAL

Dominar técnicas de busca, curadoria e produ- Utilizar de recursos de mídia para autoexpres-
ção de conhecimento. são e interação com outros de forma segura,
responsável e consciente.
LETRAMENTO   Utilizar termos e operadores de busca;
DA INFORMAÇÃO autoexpressão   Entender as práticas de curtir, comentar e
  Avaliar criticamente o propósito e a quali- compartilhar e suas consequências;
dade da informação encontrada;
  Combater a desinformação;
  Utilizar mecanismos de checagem de infor-
mação;   Combater o bullying e o discurso de ódio;

  Utilizar a informação respeitando as regras   Entender os mecanismos de denúncia,


de propriedade intelectual. segurança e privacidade;

Análise
crítica
LER ESCREVER FLUÊNCIA AUTOEXPRESSÃO   Buscar uma dieta informacional equilibrada.
DIGITAL
da mídia
Demonstrar habilidades de produção de mídia PARTICIPAÇÃO CÍVICA
fundamentadas em uma escrita técnica ou
criativa bem desenvolvida. Demonstrar capacidadede solucionar
problemas, buscar ajuda e atuar na socie-
  Fazer uso adequado de imagens, dados, dade fazendo uso de textos de mídia.
textos e áudio;
participar   Jornalismo;
  Entender que todas as mídias têm lingua-
gem própria;   Documentários;

  Adaptar os textos a cada formato de mídia;   Campanhas de engajamento ou utili-


cidadania participação
dade pública;
digital cívica
  Conseguir justificar as escolhas criativas e
estéticas;   Sistemas de informação.

  Analisar as vantagens e desvantagens de


cada ferramenta segundo o propósito;

  Praticar a análise e a autorreflexão enquanto


autor.
ANÁLISE CRÍTICADA MÍDIA    A fusão de papéis de autor e consumidor de
informações e suas consequências; FLUÊNCIA DIGITAL
Realizar, de forma habitual, a leitura reflexiva
de textos de mídia em qualquer formato.   A poluição informacional, causas e conse- Acessar ampla gama de ferramentas digitais e
quências; ter flexibilidade para encontrar e adaptar-se a
  O papel da mídia na sociedade, o direito novas ferramentas.
à comunicação e a garantia da liberdade de   O papel das mídias sociais;
expressão;   Ferramentas em nuvem para curadoria;
  A comunicação das marcas por meio de
  Ponto de vista, partidarismo e objetividade; canais próprios, parcerias, conteúdo patroci-   Trabalho colaborativo;
nado e influenciadores.
  Mecanismos de produção e circulação de   Gestão de projetos criativos.
informações na grande mídia e em outros
ambientes;

56   guia da EDUCAÇÃO MIDIÁTICA 57   guia da EDUCAÇÃO MIDIÁTICA


com sugestões adaptáveis a diferentes áreas do co­
nhecimento ou faixas etárias, no próximo bloco.
Inspirado pelo trabalho de diversos centros in-
ternacionais com longo e relevante percurso na for-
mação de professores em educação midiática e no
intercâmbio intenso de ideias com especialistas bra-
sileiros e estrangeiros, os materiais do EducaMídia
estão em sintonia com as abordagens mais efetivas
e as visões mais atuais de como fazer da educação
midiática uma realidade nas escolas do Brasil.

Como preparar as Entendendo as habilidades

crianças e os jovens O EducaMídia descreve os pilares sobre os quais a


educação midiática se desenvolve em uma man-

para aprender com


dala construída a partir dos eixos LER, ESCREVER e
PARTICIPAR. Partindo da premissa de que a alfabe­
tização hoje exige muito mais das pessoas por causa

senso crítico e da complexidade crescente do universo informacio­


nal, da cultura multimídia e do rápido desenvolvi-

responsabilidade mento tecnológico, cada um desses eixos contempla


o desenvolvimento de uma série de habilidades:

no século 21? QUEM DISSE ISSO?


Identificar a(s) fonte(s) de
LER Este é o eixo da análise crítica da mídia e do
letramento da informação: a educação midiática
uma informação é um ponto
de partida interessante no
ajuda a filtrar, ler criticamente e dar sentido ao enor-
exercício de avaliar a confia- me fluxo de informações que nos cerca – imagens,
bilidade das mensagens que
chegam até nós. Pessoas ou
vídeos, notícias, posts, games, embalagens, publici-
documentos podem ser a dade, memes, gráficos, mapas e muito mais. Além
origem de uma determinada
informação, reportagem ou
disso, ensina a entender as intenções por trás de cada
dado. A fonte não é, neces- texto de mídia, separar notícia de opinião, fatos de
sariamente, a pessoa que
compartilhou a mensagem
propaganda; e a reconhecer sátira, clickbait, mensa-
com você. gens falsas, inexatas ou tendenciosas.
Trazer para a aula uma variedade de textos autên-
ticos e decodificá-los de forma crítica e cotidiana é

58   guia da EDUCAÇÃO MIDIÁTICA   ler, escrever e participar 53


A EDUCAÇÃO MIDIÁTICA
uma maneira de aproximá-la do universo do aluno,
com chances muito grandes de ampliar o aprendizado

do “que” ao “como”
não só do componente curricular mas do modo como
selecionamos as informações, entendendo os tipos di- E AS CRIANÇAS
Não há dúvidas de que os ferentes de mensagens e o modo como chegam até nós.
professores compreendem
a pertinência e a relevância Assim como os adultos, as crianças recebem uma
de desenvolver nos alunos escrever  Neste eixo estão as habilidades relaciona-
a fluência digital e o letra-
das à autoexpressão e à fluência digital: a educação quantidade enorme de informações das mais diversas
mento midiático, o que para
muitos constituti a alfabeti- midiática dá voz aos jovens, promovendo as habilida- fontes. Desde muito cedo expostas a imagens, sons,
zação do século 21. Ao incluir
algumas dessas habilidades
des necessárias para que eles possam publicar para publicidade, embalagens, impressos, vídeos e telas,
nas competências gerais, no audiências reais, envolver-se com questões relevan-
Campo jornalístico-midiático
tes de sua comunidade e dialogar com a sociedade. começam a ver o mundo e dar forma a seus valores
da Língua Portuguesa e em
diversas outras áreas, a BNCC Na proposta do EducaMídia, escrever é também influenciadas pelo que veem, ouvem e clicam.
reconhece a urgência do
tema (ver pág. 33). A dificul-
explorar o potencial narrativo de vários formatos de
dade de implementação, mídia, alinhando forma e função e refletindo sobre
porém, reside justamente no
aspecto transversal dessas
escolhas técnicas e criativas. Ao apoiar as etapas de Crianças pré-alfabetizadas, ou em fase das mensagens e plantam importantes
habilidades. As atividades investigação e produção de mídia em sala de aula, de alfabetização, não conseguem com- sementes. Essa postura vai prepará-
contidas neste Guia ajudam o
professor a avançar do “que”
aumentamos também as chances de alcançar os ob- preender, logicamente, os conceitos -las para uma vida de questionamento
para o “como”, explorando jetivos curriculares. Trata-se de um trabalho com- mais abstratos que são os fundamen- e reflexão diante do mundo ao redor
maneiras de integrar a edu-
cação midiática ao cotidiano
plementar que desenvolve as habilidades críticas e tos de uma leitura crítica das mídias. ao fazê-las atentar, por exemplo, para
da sala de aula. aproxima o tema curricular da realidade. Mas isso não significa que não podemos questões relacionadas a preconceito,
começar a explorar de forma bem sim- estereótipos e credibilidade.
participar   Aqui o foco está nas habilidades de ples ideias como autoria, escolhas, pro- Veja algumas estratégias:
cidadania digital e participação cívica: a educa- pósito ou representação nos diversos
ção midiática nos ajuda a utilizar a tecnologia para conteúdos que encontram, lançando O que você vê nesta imagem? Na
promover a empatia, reconhecendo e respeitando os fundamentos para que deixem de hora de ler histórias, experimente fa-
diversas vozes, entendendo questões de representa- ser espectadoras e receptoras passi- zer perguntas sobre as imagens, como
ção e exclusão na mídia, ensinando as crianças e os vas das informações e mensagens que “o que você está vendo?”, “o que acha
jovens a dialogar, discordar e reagir nas redes sociais recebem. que aconteceu?”, "o que neste desenho
de maneira equilibrada e não violenta, combatendo a Comece com o hábito de fazer per- fez você pensar assim?", “o que mais
discriminação e o discurso de ódio. Neste eixo, o ob- guntas. Seja diante do programa favori- você gostaria de saber?”. Especialistas
jetivo central é estimular estudantes a refletir sobre to na TV ou no YouTube, nos filmes ou afirmam que a leitura ativa ajuda a
seu papel e suas responsabilidades enquanto consu- canções, ou nos anúncios e embalagens desenvolver a curiosidade e a atitude
midores e produtores de informação e incentivá-los a de jogos e brinquedos, perguntas sim- investigativa, e a separar opiniões de
criar e publicar mídias de forma ética e responsável. ples provocam uma leitura mais atenta afirmações que podem ser feitas com

54   guia da EDUCAÇÃO MIDIÁTICA 55


base em evidências. Ler dessa forma para divertir ou vender algo. Identificar A RELEVÂNCIA de questionar
prepara as crianças para tornarem-se propósito e autoria das mensagens pode
pensadores críticos, com papel ativo começar com uma brincadeira – expe- Depois de décadas acompanhando o papel cada vez
no consumo de imagens e outras mí- rimente brincar de quem adivinha pri- mais central das mídias no contexto da cultura con-
dias visuais. meiro o que um anúncio está vendendo, temporânea, a educação midiática deixou de lado
por exemplo. Se a criança já consome abordagens exclusivamente protetivas aos supostos
Quem são esses personagens? Ao vídeos no YouTube, uma discussão so- males que as mídias poderiam causar, para defender
ingressar no Ensino Fundamental, as bre propósito pode significar identificar a importância de um posicionamento mais reflexivo
crianças já conseguem refletir sobre técnicas de venda, como os vídeos de das crianças e jovens como estratégia de participação
identidade, e perceber se ilustrações, li- “unboxing”, ou influenciadores mirins positiva e fortalecedora nas redes. As autoras Faith
vros e filmes são “espelhos” do seu modo que usam produtos de patrocinadores. Rogow e Cyndy Scheibe explicam: o que importa não
de vida ou “janelas” para outras vidas e Também é possível explorar o con- é ensinar aos alunos o que pensar sobre as mídias,
culturas. Mais tarde, essas discussões ceito de propósito analisando técnicas mas encorajá-los a aprender como pensar. Em outras
podem ser estendidas para questões de utilizadas pelos autores, identificando palavras: eles devem tornar-se competentes, críticos e
diversidade e representação: as crian- trilhas sonoras ou ruídos feitos para educados em todas as formas de mídia para que sai-
ças se sentem representadas nas mídias dar medo, ou elementos em ilustrações bam como o conteúdo que veem, ouvem ou com o qual
que elas consomem? Os personagens ou cenários que provocam alegria, tris- interagem pode atuar sobre sua percepção de mundo.
refletem a diversidade da vida real? teza ou outras emoções.
Também já é possível questionar minhas crenças, Por que a educação midiática importa
meu mundo?
estereótipos com perguntas como: por Ficção ou realidade? Fale sobre as
Ainda que tenhamos acesso
que as embalagens ou anúncios mos- diferenças entre ficção e realidade e a um volume gigantesco de
Ao longo deste Guia explicamos a importância da
tram meninas brincando de casinha e pergunte o que aconteceria se alguém informações, vozes e visões educação midiática em seus vários aspectos, incluin-
de mundo, um fenômeno de
meninos com laboratórios de ciências? realmente fizesse o que está num li- ordem psicológica nos faz
do o papel de salvaguarda da democracia. Se você
Livros e filmes que examinam a diver- vro ou série de TV. Aos poucos, explore buscar e compartilhar sobre- ainda precisar de argumentos, veja o que a organi-
tudo aqueles dados, opiniões
sidade, dão voz a grupos marginaliza- acontecimentos do cotidiano da crian- e pessoas que confirmam
zação canadense MediaSmarts listou como 10 boas
dos ou subvertem estereótipos são um ça, ou relatos trazidos da escola, para nossas crenças já estabeleci- razões para o ensino da educação midiática:
das. É o fenômeno do viés de
bom ponto de partida para questionar explicar que nem sempre podemos confirmação, para o qual a
visões cristalizadas e refletir sobre con- acreditar em tudo o que ouvimos. educação midiática também 1) A educação midiática incentiva os jovens a ques-
busca chamar a atenção.
ceitos como ponto de vista. tionar, avaliar, entender e apreciar sua cultura mul-
Os pais têm um papel importante a timídia, ensinando-os a se tornar consumidores e
Quem criou isso e por que isso é cumprir no desenvolvimento desse usuários de mídia ativos e engajados.
assim? Para crianças muito pequenas, letramento midiático inicial, fazen-
comerciais parecem “reais”. Aos pou- do perguntas e participando ativa e 2) A educação midiática traz o mundo para a sala de
cos, comece a perguntar se aquele texto atentamente no consumo de mídia de aula, dando atualidade e relevância a pautas como
(programa, anúncio, filme etc.) foi feito seus filhos. direitos humanos, saúde, meio ambiente etc. Serve

56   ler, escrever e participar 57


como uma ponte perfeita para integração de temas
e estudos interdisciplinares. algoritmos, dados
3) A educação midiática incorpora e promove as vi-
e engajamento
sões mais atuais de educação que enfatizam o apren-
dizado centrado no aluno, o reconhecimento de múl- É importante conhecermos algumas engrenagens
tiplas inteligências e a análise e gerenciamento – e não básicas da internet e das redes sociais, isto é,
apenas o simples armazenamento – de informações.
as tecnologias que mediam boa parte do nosso
4) A educação midiática baseia-se na sólida aborda- aprendizado, trabalho, comércio e relacionamentos.
gem pedagógica de começar o aprendizado do ponto Ao passarmos de consumidores passivos a usuários
onde as crianças estão. As mídias – música, quadri-
nhos, televisão, videogame, internet e anúncios – informados, conseguimos aproveitar de maneira
fazem parte da vida que todas as crianças apreciam. saudável e consciente o que a tecnologia oferece.
As mídias criam um ambiente compartilhado e, por-
tanto, são catalisadoras do aprendizado.
Por meio de plataformas como Face- ver. Os algoritmos são programados
5) A educação midiática incentiva os jovens a usar book, Instagram, YouTube ou TikTok é para reunir e analisar o que curtimos,
criativamente as ferramentas multimídia, uma es- possível interagir com muito mais pes- compartilhamos ou comentamos, bem
tratégia que contribui para o “aprender fazendo” e os soas do que seríamos capazes na vida como outros rastros menos aparentes
prepara para uma vida profissional que exige cada vez real – além dos amigos, colegas ou me- dos nossos hábitos. De posse desses
mais o uso de formas sofisticadas de comunicação. ros conhecidos, podemos seguir per- dados, eles definem o que vão mostrar,
sonalidades, ídolos e autoridades de dentre tantas opções possíveis.
6) Em uma sociedade preocupada com o aumento quase todos os cantos do planeta. Mas Os dados gerados por meio de nos-
da apatia pelo processo político, a educação midiá- seria impossível que todo o conteúdo sas interações funcionam como um
tica envolve os jovens em questões do mundo real. postado por todas essas pessoas e or- “termômetro” para empresas e marcas
Ajuda-os a ver-se como cidadãos ativos e potenciais ganizações aparecesse em nosso feed. direcionarem anúncios de produtos
contribuintes para o debate público. É aí que entram os famosos algoritmos. e serviços com mais chance de gerar
Os algoritmos funcionam como interesse e, principalmente, compras.
7) Em uma sociedade diversa e pluralista, a educa- uma sequência de instruções para Se você curte com frequência conteú-
ção midiática ajuda os jovens a entender como os realizar uma tarefa: se você fizer “a”, dos ligados a surfe, por exemplo, então
retratos da mídia podem influenciar a maneira como então acontecerá “b”. Nas redes sociais, é bem provável que anúncios de pran-
vemos os diferentes grupos da sociedade: aprofunda os algoritmos têm a função de sele- chas ou roupas para a prática desse
a compreensão dos jovens sobre diversidade, iden- cionar, com base em nosso perfil e em esporte comecem a aparecer na sua
tidade e diferenças. nosso comportamento, o que vamos timeline.

58   guia da EDUCAÇÃO MIDIÁTICA 59


O mesmo vale para posts de con- comportamento para fisgar um pou- 8) A educação midiática ajuda no crescimento pes-
teúdo político que, depois da análise co da nossa atenção. Ao nos oferecer soal e no desenvolvimento social, explorando as
dos algoritmos, podem chegar a um conteúdos que combinam com nossos conexões entre a cultura popular – música, moda,
público mais afinado com determina- gostos e preferências, ou que respon- programas de televisão, filmes e publicidade – e suas
do discurso. São também os algoritmos dem aos nossos medos e preocupações, atitudes, estilo de vida e autoimagem.
que “ajudam” as plataformas de strea- as plataformas podem aumentar nosso
ming de músicas ou filmes a selecionar engajamento. O risco, porém, é inten- geração c 9) A educação midiática ajuda as crianças a refletir
o que será destacado no nosso perfil, sificar o famoso “efeito bolha” – termi- Em 2012 o autor Brian Solis sobre a representação na mídia, ensinando-as a dis-
definiu a “Geração C” – consu-
com base em nossas preferências. namos por ver apenas uma parte da midores que têm a conecti-
tinguir a realidade da fantasia: violência na mídia
Num mundo em que há tantas realidade, estamos expostos a poucas vidade, comunidade, criação versus violência na vida real; heróis da mídia versus
e curadoria como valor e
informações e distrações ao alcance opiniões divergentes e, assim, vamos parte inegável de sua vida, do
heróis da vida real; modelos da mídia versus papéis
de um clique, é estratégico para as perdendo pouco a pouco a capacidade modo como se relacionam e expectativas da vida real.
entre si e com a realidade que
empresas estarem cientes de nosso de conviver com as diferenças. os cerca. A Geração C não é
um recorte demográfico (de 10) A educação midiática é um componente essen-
idade, renda ou geografia),
e sim “psicográfico”, ou seja,
cial do aprendizado das tdics, auxiliando os jovens
de comportamento frente ao no desenvolvimento de habilidades e estratégias de
ambiente digital. Segundo
o Google, 65% da Geração C
pensamento crítico para otimizar pesquisas, avaliar
tem menos de 35 anos, está e validar informações e examinar questões de plágio
conectada nas redes e quer
ter sua voz ouvida. A edu-
e direitos autorais.
cação midiática, portanto,
reconhece a urgência de
encontrar os alunos onde
Por onde começar?
eles já estão – circulando
livremente por todos esses
territórios das mídias e da
Se a sua área de atuação como professor lhe parecer
informação dentro e fora distante do que acredita ser a da educação midiática,
da escola, sem que estejam
adequadamente preparados
pense outra vez. Como ressalta o Center for Media
para experiências conscientes Literacy, a educação midiática não é uma nova
e responsáveis de produção
e consumo de mídias.
disciplina para ensinar, mas um jeito diferente de
ensinar todas as disciplinas.
Essa maneira diferente pode ser definida como
estratégias e abordagens que levam crianças e jovens
a refletir e a fazer perguntas relevantes em leituras
críticas e/ou produção de mídia, explorando con-
teúdos de Língua Portuguesa, História, Geografia,
Biologia ou Matemática enquanto desenvolvem há-
bitos de investigação e habilidades de expressão,

60   ler, escrever e participar 61


elementos essenciais para sua transformação em menor, uma vez que estamos falando de alfabetização
pensadores críticos e criativos, comunicadores efi- e, portanto, de aprendizado e práticas constantes.
cientes e cidadãos ativos no mundo de hoje. O segundo conceito que você deve ter em mente
A boa notícia é que atividades para educar mi­ em seus planejamentos é o da intencionalidade. Isso
diaticamente os alunos podem ser implementadas significa que, além dos objetivos curriculares, é es-
enquanto eles aprendem conteúdos curriculares es- sencial definir também os objetivos midiáticos para
pecíficos – ao pesquisar, fazer curadoria e analisar determinada atividade ou aula. Ou seja, planejar, de
a credibilidade ou propósito de textos de mídia em forma intencional, um percurso pelo qual, além de
qualquer formato, ou ao mobilizar habilidades cria- aprofundarem o conteúdo da sua disciplina, os alu-
tivas para atuar na sociedade. Os exemplos que você nos são estimulados a praticar os diversos hábitos de
vai conhecer no próximo bloco mostram que o uso de investigação e as habilidades de expressão que carac-
mídias, possivelmente já incorporado aos seus hábi- terizam as práticas e processos da educação midiática.
tos, pode sim transformar-se em educação midiática, O redesenho da aula ou atividade, agora com objeti-
desde que feito de forma estruturada e intencional. vos curriculares e objetivos midiáticos claros, resultará
mais do que em alunos muito mais conscientes da produção e do
um recurso
dois conceitos essenciais consumo de informação – bem como na compreensão
Sem intencionalidade peda-
gógica na leitura e produção
aprofundada do próprio conteúdo estudado.
de mídias dentro do seu Para que isso seja possível, dois conceitos são pri- Portanto, você já sabe por onde começar. Pela sua
planejamento, a própria ideia
de camada perde força e
mordiais. O primeiro deles é a educação midiática aula! Inspire-se com as sugestões a seguir.
os textos de mídia surgem entendida como camada, o que significa integrá-la
apenas como recurso. Preci-
samos entender que o texto
cotidianamente a qualquer conteúdo ou disciplina.
disparador também deve Todos os professores podem, por princípio, acrescen-
ser, em si, objeto de estudo.
Um exemplo: usar mídias
tar essa camada ao seu tema curricular ao utilizar a
como recurso é fornecer ou leitura reflexiva e a criação de mídias para ativar a
pedir que os alunos encon-
trem textos de mídia que
aprendizagem sobre o conteúdo planejado. Note que
apresentem lados opostos isso é bem diferente de usar mídia como recurso em
de um argumento científico.
Se além disso eles tiverem
sala de aula.
de avaliar a credibilidade Tratar a educação midiática como camada é o
das fontes, apontando falsas
equivalências e identificando
conceito defendido pelo EducaMídia e por diversos
técnicas de manipulação para especialistas, sendo comprovadamente uma forma
então concluir qual dos argu-
mentos tem mais peso, isso
efetiva de trazer a educação midiática para dentro do
sim é educação midiática. currículo, sem onerar ainda mais a conhecida escas-
sez de tempo e recursos com que lidam os professo-
res. Transformá-la em disciplina à parte não só é mais
difícil de implementar como também tem impacto

62   guia da EDUCAÇÃO MIDIÁTICA   ler, escrever e participar 63


educação midiática todo dia

Do conceito
à prática

65
A educação
midiática na prática

Descobrindo oportunidades

Se tratarmos as A princípio pode parecer complexo pensar em como


combinar o conteúdo da sua disciplina com a edu-

mídias como triviais, cação midiática, mas você vai se dar conta de que
inserir nas aulas o desenvolvimento de hábitos de

desnecessárias
investigação e habilidades de expressão não implica
revolucionar sua prática, e sim ampliá-la. Ao iniciar
a exploração do conteúdo a ser estudado, trata-se

ou apartadas da apenas de abrir algumas novas possibilidades para


práticas já consolidadas, como a leitura e a pesquisa,

aprendizagem dos jovens, lendo de forma


reflexiva
Decodificação é o termo que
com ênfase na curadoria e na decodificação de mídias.
E quanto às evidências de aprendizado, a ideia é

estaremos relegando descreve a prática de fazer


priorizar a criação de narrativas em mídias diversas,
leitura reflexiva de qualquer para que o aluno reflita também sobre suas práticas
mensagem, notícia, post ou
e escolhas enquanto autor. Segundo as educadoras

a própria educação
até mesmo embalagem, bus-
cando examinar, entre outros Cyndy Scheibe e Faith Rogow, fortes referências em
aspectos, autoria, intenção e
técnicas nela utilizadas. Esse
educação midiática nos Estados Unidos há décadas,

à irrelevância. tipo de leitura é fundamento


da educação midiática e
pode ser norteado pelas
perguntas apresentadas nas
trata-se mais de acrescentar novas camadas ao tra-
balho do que realizar uma transformação radical.
Por seu caráter interdisciplinar, a educação midiática
páginas 83-84.
pode ser integrada aos componentes curriculares e
deve ser incluída no plano de ensino, quando e onde
for possível, ao longo do ano letivo.
Ao combinarmos qualquer conteúdo curricular
com leitura e criação de mídias, de forma reflexiva e
intencional, ampliamos as possibilidades de recur-
David Buckingham sos e abordagens, e da própria ideia de alfabetiza-
Escritor britânico e especialista em mídias e educação ção. Afinal, para acessar, filtrar e compreender a

  DO CONCEITO À PrÁtica 67
informação que chega o tempo todo e por todos os Tema curricular  Que assunto vamos discutir?
lados também para as crianças e jovens, saber ler e E que texto disparador para este tópico é possível
escrever não basta. Para dar sentido a tanta informa- usar, em qualquer linguagem? É aqui que o educador
ção, construir conhecimento e encontrar sua voz – e vai desenvolver suas próprias habilidades de curado-
portanto ser “plenamente alfabetizado” no universo ria. Esse texto pode ser jornalístico ou não, mas pense
informacional hoje – é preciso aprender novas habi- que esta é uma oportunidade também de conectar
lidades e incorporar novos hábitos. o seu tema à cultura e propor a exploração a partir
criatividade Os desafios que a vida conectada, tecnológica de notícias, imagens, filmes, games, infográficos ou
na educação
e imprevisível do século 21 impõe a quem ensina outras mídias, impressas ou digitais. Veja na página
Educação midiática e
aprendizagem criativa
e a quem aprende exigem que escolas e professo- 72 uma sugestão de tipos de mídia.
são combinação natural. res encontrem caminhos para formar pensadores
Projetos centrados em temas
críticos, comunicadores eficazes e cidadãos ati- Ação  O que vamos fazer com as mídias seleciona-
próprios do contexto do
aluno, investigação a partir de vos, capazes de consumir e produzir mensagens das? Da análise à criação, passando pelo remix, existe
fontes autênticas e criação de
produtos para uma audi-
com senso crítico e responsabilidade. Trabalhar uma série de verbos ativos que podem nos ajudar a
ência real contribuem para essa perspectiva cada vez mais urgente requer dos desenhar uma atividade para a sala de aula.
desenvolver as habilidades
de colaboração, comunicação
professores intencionalidade pedagógica no uso
e criatividade (ver pág. 37). de recursos de mídia e consciência dos alunos no NOVAS FORMAS DE Mídia  Com que formato vamos trabalhar? O uni-
CONTAR HISTÓRIAS
consumo e produção de mídia. É isso que você vai verso das mídias nos oferece inúmeras opções de
Podemos chamar de micro-
ver nos exemplos a seguir. narrativas as narrativas muito
linguagens para consumir ou criar. Considere forma-
curtas, seriadas ou não, cons- tos impressos ou digitais, estáticos ou audiovisuais,
truídas segundo as limitações
Um método para criar atividades das redes sociais, como os
jornalísticos ou não. Fique atento aos formatos de
280 toques do Twitter ou mídia mais consumidos pelos alunos (incluindo
os vídeos de 60 segundos
Seja qual for a disciplina ou a faixa etária, as habili- do TikTok. Ao combinar a
micronarrativas como memes ou vídeos efêmeros),
dades midiáticas são desenvolvidas ao trabalharmos linguagem audiovisual, as pois é justamente sobre eles que é mais urgente cons-
possibilidades de interfe-
os temas curriculares por meio da leitura crítica rências gráficas e o amplo
truir o entendimento crítico.
e/ou produção de mídia. Esse enfoque nos dá a alcance, os vídeos efêmeros
se tornaram a forma de
oportunidade de produzir aulas ativas e engajado- micronarrativa mais popular
reflexão  Para garantir a intencionalidade no con-
ras, com ênfase na investigação e criatividade. Para entre os mais jovens. sumo e produção de mídias, precisamos conduzir um
ajudar professores a planejar esse tipo de atividade, processo de reflexão sobre o que estamos lendo,
o EducaMídia desenvolveu um método baseado na assistindo ou criando. É aqui que levamos o aluno a
combinação de quatro eixos: tema, ação, mídia e examinar diversos aspectos do texto utilizado, como
reflexão. O método pode ser utilizado em qualquer autor, propósito, técnicas, impactos etc., ou a refletir
conteúdo curricular. sobre suas escolhas enquanto autor.
Para planejar a sua atividade crie a partir desses
eixos, em qualquer ordem:

68   guia da eDUCAÇÃO MIDIÁTICA   DO CONCEITO À PrÁtica 69


Ao planejarmos o que vamos fazer nesses quatro eixos, Educação midiática todo dia
conseguimos criar, com intencionalidade pedagógica,
aulas que desenvolvem tanto o tema curricular como
as habilidades de educação midiática. A atividade
pode ser resumida em uma frase-padrão, que vamos
Ferramenta de criação
explorar em maior detalhe nos exemplos práticos de atividades
deste capítulo:

criando repertório Ao discutirmos   tema curriCUlar  , Combinar objetivos curriculares com habilidades
Varie ao máximo os forma- vamos   ação  +   mídia  , levando os alunos próprias da educação midiática exige certa prática,
tos de mídia oferecidos de
forma a criar repertório e
a refletir sobre   reflexão  . mas esta ferramenta vai ajudar você a dar asas
tornar os alunos aptos a
decodificar qualquer tipo
Como já vimos anteriormente, explorar assuntos à criatividade no planejamento de experiências
de mensagem. Esteja atento
aos novos formatos, como os por meio de textos de mídia provenientes de notícias, de aprendizado que atendam às duas vertentes.
“stories” nas mídias sociais ou
as reportagens inovadoras,
coleções históricas, organizações científicas e cultu-
cada vez mais presentes nos rais ou redes sociais configura apenas o uso de mídias
jornais digitais, que oferecem
experiências interativas de
como recurso. Mas, ao também estabelecer objeti- Utilize o modelo proposto no verso estabelecidos ou de nicho, ONGs, insti-
leitura, seja pelo computador, vos específicos em relação às mídias, consolidando desta página para construir uma tuições culturais e outros. Preencha as
seja pelo celular.
hábitos de investigação e habilidades de expressão, frase que descreva a sua atividade. O demais lacunas na ordem que quiser,
amplia-se o escopo das aulas. ponto de partida é o tema curricular; pensando sempre em consumir con-
A camada de educação midiática prevê envolver considere o conteúdo a ser estudado teúdo autêntico e produzir mensa-
o aluno em atividades de pesquisa, decodificação e os textos disparadores que podem gens para uma audiência real.
das informações, questionamento de confiabilidade ser usados. Pense fora da caixa, E lembre-se: quanto mais você pra-
e propósito das mensagens e, por fim, produção de explorando todo tipo de linguagem ticar, mais natural se tornará o hábito
mensagens adequadas à linguagem de mídia esco- de mídia e buscando a diversidade de criar atividades que dialogam com
lhida pelo aluno, com análise e reflexão, baseadas em de fontes, como veículos de notícias as mídias.
conteúdo verificável e com citação de fontes. Com
essas práticas o aluno é levado a consumir e produ-
zir informações de forma cada vez mais consciente,
desenvolvendo as habilidades midiáticas.
Todas as propostas que você vai conhecer a seguir
foram estruturadas sobre esse mesmo modelo, e
podem ser adaptadas para outros anos e compo-
nentes curriculares.

70   guia da eDUCAÇÃO MIDIÁTICA 71


Exemplos
Ao discutirmos   tema curriCUlar  , de atividades
vamos   ação  +   mídia  ,
levando os alunos a refletir Conforme muda a tecnologia, muda também o con-

sobre   reflexão  . ceito de alfabetização. Em linha com essa consta-


tação, a educação midiática não vem oferecer um
assunto novo a aprender dentro do currículo escolar,
mas sim uma nova maneira de aprender, construindo
tema curricular ação Mídia reflexão
habilidades para acessar com confiança e autonomia
o mundo da informação e do conhecimento na socie-
O que você O que os alunos Que tipo de mensa- Que aspecto do dade digital e conectada.
quer ensinar? vão fazer? gem vão consumir/ texto vão analisar?
produzir?
RECURSOS As atividades a seguir são exemplos de como
Que assunto vamos O que vamos fazer Vamos refletir sobre complementares
estudar? E que texto com as mídias sele- Com que formato o que estamos lendo,
integrar a educação midiática em diversas áreas de
Os textos disparadores cita-
disparador podemos cionadas? Da análise vamos trabalhar? assistindo ou criando.
dos neste bloco são apenas
estudo e faixas etárias. Longe de oferecermos uma
encontrar sobre esse à criação, passando O universo das É aqui que levamos
tópico, em qualquer pelo remix, esta série mídias nos oferece o aluno a examinar
uma sugestão, e estão agru- receita, buscamos inspirar os educadores a adap-
pados em coleções dinâmicas
linguagem? de verbos ativos pode numerosas opções diversos aspectos do
disponíveis em: educamidia.
tar essas ideias ou criar novas atividades segundo o
nos ajudar a dese- de linguagens para texto utilizado:
nhar uma atividade consumir ou criar:
org.br/guia. seu contexto específico. No fim de cada atividade
autoria; propósito;
para a nossa sala
notícia; meme; HQ; conteúdo; técnicas;
sugerimos um meio de passar “da compreensão à
de aula:
post; tuíte; men- contexto histórico; ação”, transformando o conhecimento adquirido em
analisar; identificar; sagem; artigo de contexto econô-
comparar/contrastar; opinião; ilustração; mico; credibilidade;
projetos de participação cívica e ampliando a atuação
avaliar; remixar; criar; fotografia; vídeo; impacto; interpreta- dos alunos para além da sala de aula.
recriar; editar podcast; mapa; info- ções; reações.
gráfico; embalagem;
Não há fórmula; o importante é encontrar manei-
Baseado em
anúncio; campanha
“Perguntas para
ras de praticar cotidianamente a leitura reflexiva e
de utilidade pública;
game; jogo de tabu-
a análise crítica a criação de textos impressos e digitais, engajando
de mídia”
leiro; animação; capa
(ver pág. 93).
os alunos com conteúdos e questões reais. Desta
de livro; capa
de revista; cartaz.
forma podemos torná-los cada vez mais aptos a ler
(ou acrescente
um mundo mediado por mensagens de todos os tipos
outras possibilidades) e atuar através das mídias para impactar positiva-
mente o seu entorno.

  Esta ferramenta está disponível em forma de baralho que pode ser utilizado
em atividades de formação docente. Acesse em bit.ly/baralhodecriacao

72   DO CONCEITO À PrÁtica 73
como usar AS ATIVIDADES

Nas próximas páginas, 15 sugestões de atividades


exemplificam como inserir a educação midiática nos
mais diversos temas do currículo dos anos iniciais do
Ensino Fundamental ao Ensino Médio.

“Ao discutirmos o sistema solar, vamos analisar


e criar memes, levando os alunos a refletir sobre
contexto, reações e interpretações provocados
1 8
por esse tipo de mensagem.”
2
UNIVERSO DA INFORMAÇÃO   CONFIABILIDADE   Mídias sociais
3
6
4
5
Ler   ESCREVER   PARTICIPAR objetivo curricular Compreender
7 9
o sistema solar e os fenômenos que
habilidades Análise crítica da mídia, atuam sobre ele, incluindo gravidade,
letramento da informação, autoex- órbitas, rotação etc.
pressão, cidadania digital, participa-
ção cívica. Objetivo midiático   Entender o que
são fontes confiáveis. Compreender
1  A frase sintetiza a atividade 4  Estas são as habilidades 7  Objetivo midiático
a ser desenvolvida. específicas dentro da mostra as habilidades
Segmento EF (Anos Finais); EM fenômenos que impactam a circula-
2  As etiquetas identificam
mandala do EducaMídia. midiáticas a serem ção de informações na sociedade, tais
trabalhadas.
os temas do universo das 5  Segmento sugerido (Os textos sugeridos estão disponíveis em: como teorias da conspiração e falsa
mídias que vamos explorar. (que pode ser adaptado 8  Sugestões para projetos
conforme sugestões ao de participação cívica.
educamidia.org.br/guia) equivalência, e o papel das mídias
3  Aqui localizamos a
atividade nos eixos da
fim da atividade).
9  No remix sugerimos novas
sociais. Observar a forma de comu-
mandala de habilidades 6  Objetivo curricular descreve atividades e adaptações para nicação dos memes e seu impacto na
do EducaMídia. o tema específico da disciplina. outras faixas etárias ou temas.
compreensão de temas atuais.
REcursos complementares
Para auxiliá-lo nesta jornada, selecionamos textos disparadores que
se encaixam em cada uma das atividades. Nossa curadoria pode ser
uma boa fonte de inspiração ao planejar sua aula. As coleções,
organizadas na ferramenta Wakelet, são dinâmicas e estão disponíveis
em educamidia.org.br/guia e também por meio do QR code ao lado.

74   guia da eDUCAÇÃO MIDIÁTICA   DO CONCEITO À PrÁtica 75


ACESSAR CRIAR

Introduza o conceito do terraplanismo e o espaço É hora de entender mais a fundo o sistema solar
que ele vem ganhando apesar de todas as evidên- e a ciência que comprova que a Terra não é plana.
cias científicas de que a Terra é redonda. Ofereça a Analise os textos e vídeos em nossa coleção de recur-
seus alunos alguns memes que comentam as ideias sos e os respectivos argumentos. Chame a atenção
terraplanistas (disponíveis na coleção de recursos para as fontes: são todas igualmente confiáveis? Que
complementares deste Guia). Deixe-os explorar os sabemos dos autores ou sites onde foram publica-
memes e até contribuir com alguns para formar uma dos os textos? Estes, sem exceção, citam a origem
FALSA EQUIVALÊNCIA
coletânea. Observe se alguns padrões começam a das informações utilizadas? Alguma dessas fontes
Atribuição do mesmo valor ou
relevância a dois argumentos
surgir e se podem ser agrupados de alguma forma. pode ser considerada primária, ou seja, originou a
opostos que, na realidade, Por exemplo: sátira política ou social, utilização de pesquisa ou a coleta dos dados?
não têm peso equivalente.
Isto acontece, por exemplo,
informações científicas, referências à cultura pop etc. Proponha aos alunos que destaquem alguns argu-
quando o mesmo tempo mentos que comprovam que a Terra é esférica e que,
e espaço são concedidos
num programa de debates
ANALISAR neles baseados, criem memes. Os memes devem usar
a duas pessoas de opiniões de humor, mas a informação deve ser cientificamente
antagônicas sobre o aque-
cimento global, fenômeno
Separe os alunos em grupos e peça a cada grupo que sólida e vir de fonte confiável. Junto com o meme, os
cujo volume de evidências discuta um exemplo, apontando: abc dos memes 
alunos entregarão uma frase explicando a ciência
científicas que o comprovam
é muito maior que o das que Apesar de sua aparente sim-
nele contida e creditarão a fonte corretamente.
o negam. De que trata este meme? Que ponto de vista ele plicidade, memes oferecem Por fim, compartilhe os memes com a comuni-
diversas camadas de signifi-
promove? cado. Demandam repertório
dade escolar em um site, rede social ou mural.
O meme contém algum argumento científico? complexo, trazem assuntos
e discussões do momento e
Qual? Como ele é transmitido? podem incentivar os alunos
  Vocês podem fazer uma eleição do melhor meme

Este meme satiriza algum personagem ou acon- a se manter atualizados. sobre o tema, decidindo em conjunto quais categorias
Trabalhar com memes de
tecimento real? Qual? forma reflexiva possibilita o
serão pontuadas (exemplo: o humor, a execução visual,
Alguém de outro contexto ou cultura poderia desenvolvimento da leitura a transmissão adequada das ideias científicas etc.).
crítica, aumento de repertó-
compreender este meme? rio e protagonismo do aluno
O meme serviria para ensinar conceitos impor- (saiba mais sobre memes REFLETIR
em bit.ly/livememes).
tantes sobre o sistema solar?
No fim da atividade, reflitam sobre alguns tópicos
 É
importante destacar que memes devem ser importantes:
tratados como qualquer outra mensagem no que diz
respeito à responsabilidade e à ética: não devemos Por que os memes têm tanto apelo e alcance?
nunca contribuir para a disseminação de desinfor- Pensem em alguns memes que viralizaram e
mação, preconceito ou discurso de ódio. ficaram famosos. Algum deles é potencialmente

76   guia da eDUCAÇÃO MIDIÁTICA   DO CONCEITO À PrÁtica 77


ofensivo a alguém ou algum grupo? Algum deles
promove discurso de ódio ou preconceito? Algum
deles pode disseminar desinformação ou ter algum
outro efeito negativo?
E pensando sobre efeitos positivos: como os memes

podem ser utilizados para educar ou esclarecer?

DA COMPREENSÃO À Ação “Ao discutirmos doenças infecciosas e imunização,


Analise a frase do astrônomo norte-americano Neil vamos analisar textos diversos que tratam dos
Tyson: “Para mim, o aumento do terraplanismo evi- movimentos antivacina ao longo da história,
dencia duas coisas: a primeira é que vivemos em um levando os alunos a refletir sobre confiabilidade,
país [Estados Unidos] que protege a liberdade de
expressão; a segunda é que vivemos em um país no propósito e impacto das mensagens de mídia.”
qual o sistema educacional falhou”. Que ele quer dizer UNIVERSO DA INFORMAÇÃO   CONFIABILIDADE   PROPAGANDA
com isso? Como a desvalorização da ciência pode
representar um perigo para a sociedade? Feita esta
reflexão, peça aos alunos que elaborem uma campa- Ler   PARTICIPAR objetivo curricular  Compreender
nha expressa em vídeos, posts ou cartazes, em prol como as vacinas funcionam; explorar o
da valorização da ciência. habilidades Análise crítica da mídia, conceito de imunidade de rebanho e o
letramento da informação, cidadania papel das vacinas ao longo da história.
digital. Verificar os argumentos dos movimen-
REMIX tos antivacina.
segmento EF (Anos Finais); EM
Utilize esta sequência didática com outro tema, Objetivo midiático   Diferenciar os
explorando como os memes podem sintetizar uma (Os textos sugeridos estão disponíveis em: diversos tipos de informação, incluindo
conversa sobre assuntos contemporâneos. educamidia.org.br/guia) notícias, opinião, sátira, campanhas de
Que diriam hoje os físicos e astrônomos famosos utilidade pública e outros. Compreender
se estivessem vivos? Proponha uma pesquisa sobre fenômenos que impactam a circulação
cientistas e seus feitos, e a criação de memes em que de informações na sociedade, tais como
eles reagem a pseudociência, fake news e outros fenô- teorias da conspiração, propaganda,
menos da atualidade. viralização, viés de confirmação.

78   guia da eDUCAÇÃO MIDIÁTICA   DO CONCEITO À PrÁtica 79


ACESSAR distribua os materiais. Os alunos deverão identificar
o tipo de mensagem, analisando em cada caso: quem
Antes da aula, proponha a leitura de algum artigo criou o texto? Com que propósito? A que público a
sobre vacinação (uma sugestão é o artigo em qua- mensagem se dirige? Que técnicas ela utiliza para
drinhos “Vacinas funcionam. Aqui estão os fatos”, do alcançar o seu propósito? Se há afirmações cientí-
site The Nib, disponível em nossa coleção de recur- ficas, elas são embasadas? Fontes ou especialistas
sos complementares). Peça aos alunos que reflitam e são citados? Utilize a ferramenta “Decodificando
façam anotações sobre as seguintes questões: mensagens”, disponível na página 93, e peça que os
alunos identifiquem os textos mais adequados para
perguntar é preciso Como funcionam as vacinas? Por que é necessário a pesquisa e expliquem por quê; e quais parecem ter
O segredo da investiga- imunizar a maior parte da população? sido criados para influenciar nossas ideias e opiniões.
ção eficiente é formular
Que é imunidade de rebanho? Introduza termos como pseudociência e propaganda.
boas perguntas. Segundo
James Ryan, ex-reitor da Quais são os principais argumentos dos movi-
Escola de Pós-Graduação
em Educação de Harvard,
mentos antivacina? Eles têm respaldo científico? mensagens que   Ofereça textos com vozes dissonantes e opiniões
influenciam ideias
“todos nós, incluindo nossos Quais são as consequências da resistência às vaci- divergentes. O objetivo é permitir que os próprios
alunos, deveríamos gastar Chamamos de propaganda a
mais tempo pensando sobre
nas por parte da população? mensagem que usa algumas
alunos façam uma leitura crítica do material.
as melhores perguntas a Que doenças erradicadas estão reaparecendo? técnicas de forma intencional
fazer. Nós gastamos tempo para influenciar nossas ideias
demais nos preocupando
Há exemplos de movimentos antivacina em
e impactar nossas ações.
CRIAR
em ter a resposta certa. Mas outros momentos históricos? Uma campanha do Ministério
a verdade é que a resposta da Saúde incentivando a
só pode ser tão boa quanto vacinação e um cartaz ou
Feita a análise dos vários textos, vamos criar um mural
a pergunta que foi feita” A partir da leitura, promova uma discussão inicial. meme antivacina são ambos colaborativo sobre imunização. Utilize uma parede na
(The Right Question Institute, exemplos de propaganda.
rightquestion.org). Consulte Saiba mais sobre o assunto
escola, ou então um ambiente digital compartilhado,
a página 37 para saber como   Em
um quadro na sala ou em ambiente digital na página 113. como Google Slides, Padlet, Mural, Jamboard e outros.
desenvolver a curiosidade e o
engajamento dos seus alunos
compartilhado, levante o que os alunos já sabiam Os alunos devem publicar no mural os textos de mídia
por meio da elaboração de sobre o assunto, o que descobriram e, sobretudo, o estudados e sua análise crítica, buscando responder
perguntas.
que mais gostariam de saber. Estimule a curiosidade. às perguntas feitas no início da atividade sobre imu-
As perguntas acima vão nortear a pesquisa a seguir. nização. O objetivo é apresentar um panorama sobre
as vacinas, sua importância e as dificuldades enfren-
ANALISAR tadas pela circulação de desinformação, a partir de
exemplos de textos e mensagens de mídia autênticos.
Ofereça aos alunos outros materiais para explorar.
A coleção de textos que reunimos contém textos jor- REFLETIR
nalísticos, artigos de opinião, informativos de órgãos
oficiais, infográficos, charges, ilustrações, memes, No fim da atividade, reúna os alunos para uma refle-
anúncios e propaganda. Divida a sala em grupos e xão sobre a relação entre ciência, saúde pública e

80   guia da eDUCAÇÃO MIDIÁTICA   DO CONCEITO À PrÁtica 81


informação. Como a falta de letramento informacio- 6 perguntas para avaliar confiabilidade
nal pode impactar a saúde pública? Como podemos
tornar acessível a informação científica à população?

DA COMPREENSÃO À Ação
Como saber se uma
mensagem é confiável?
Reportagens sobre o ressurgimento do sarampo
apontam várias causas, entre elas a percepção da
população de que a doença está erradicada. Como Ao consumir ou compartilhar um conteúdo sem
podemos proteger nossa comunidade? Proponha refletir, você pode ajudar a espalhar desinformação
aos seus alunos a criação de uma campanha de uti- ou mesmo tomar decisões com base em dados não
lidade pública enfatizando o papel de cada um na
saúde coletiva, com linguagem acessível e exemplos, confiáveis. A educação midiática busca estimular
cenários e personagens locais. o hábito de “interrogar a informação” em vez
de simplesmente consumi-la, para que possamos
REMIX nos tornar leitores mais cautelosos.

Explore o tema da pseudociência e seus impac- Ao se deparar com qualquer conteúdo, conteúdo: esta pessoa ou organização
tos em outras áreas do currículo de ciências, como seja artigo, seja post, mensagem ou tem autoridade ou credibilidade para
alimentação ou epidemias. vídeo, você deve cultivar o hábito de falar sobre o assunto? É especialista? E
A reportagem em quadrinhos sugerida nesta ati- investigá-lo um pouco. Algumas per- quem publicou? Embora quem repassa
vidade é um ótimo exemplo de como reunir infor- guntas nos ajudam a avaliar a confia- ou publica o conteúdo não seja neces-
mações e simplificar assuntos complexos de forma bilidade dos conteúdos e ler melhor as sariamente a fonte original, é impor-
criativa. Substitua uma prova convencional por um mensagens que nos chegam: tante também avaliar se a mensagem
relatório nesse formato, em qualquer disciplina. foi publicada em veículo confiável, sem
Utilize a proposta do mural de referência em   Adapte estas perguntas para diver- histórico de desinformação, sensacio-
outras atividades e áreas curriculares. É uma boa sas faixas etárias, buscando sempre nalismo ou manipulação.
maneira de os alunos saberem que devemos diver- desenvolver o hábito cotidiano da lei-
sificar a leitura com textos autênticos em linguagens tura reflexiva. EVIDÊNCIA  As afirmações se sustentam?
variadas e explorar outras fontes e visões para enten- Cuidado com informação inventada
der os temas em profundidade. FONTE   Quem criou isto? Esta fonte é ou distorcida. Os fatos contidos na
confiável? mensagem precisam ser baseados em
O que você sabe sobre quem escreveu evidências. Números e dados devem
ou publicou? Considere quem criou o vir de fonte qualificada; afirmações

82   guia da eDUCAÇÃO MIDIÁTICA 83


devem ter o respaldo de testemunhas EXECUÇÃO   Como esta informação está
ou especialistas; nomes e lugares, ser sendo apresentada?
verificáveis. Na dúvida, verifique se o Estilo ou tom da linguagem, escolha
mesmo conteúdo aparece em outros de imagens ou de sons, elementos grá-
lugares, com as fontes citadas. ficos ou recorte do conteúdo (o que é
mostrado e o que ficou de fora) con-
PROPÓSITO  Por que isto foi criado? tribuem para causar sensações diver-
Observe se a mensagem tem a intenção sas no público e afetam o impacto da “Ao discutirmos o desmatamento na Amazônia,
de informar, ou se foi criada para exer- mensagem. Observe como isso está
cer influência ou vender alguma coisa. sendo utilizado. vamos criar infográficos que apresentam conclusões
Imagens ou linguagem que apelam para distintas, levando os alunos a refletir sobre como as
as emoções, táticas de venda, chamados CONTEXTO  Qual é a história maior? técnicas utilizadas nas narrativas com dados podem
à ação (por exemplo “repasse”, “clique” Esta mensagem traz a história com-
ou “compre”) são pistas para identificar pleta ou apenas parte dela? E qual é impactar a nossa percepção dos fatos.”
a motivação. Procure verificar também o contexto social, cultural, político ou Leitura de dados   visualização de dados   confiabilidade
os interesses do autor, ou seja, se há econômico, ou os eventos da atuali-
alguma agenda implícita ou explícita. dade, que podem estar impactando o
modo como recebemos e percebemos Ler  Escrever o b j e t i vo c u r r i c u l a r  
Explorar a
AUDIÊNCIA   Para quem isto foi criado? a mensagem? relação entre as queimadas na Ama-
Escolha de imagens, técnicas de apre- habilidades Autoexpressão, fluência zônia, a crise climática e os interesses
sentação, linguagem ou escolha do con- Adaptado de E.S.C.A.P.E. Junk News, digital, análise crítica da mídia, letra- econômicos.
teúdo podem indicar uma tentativa de desenvolvido por NewseumEd. mento da informação.
agradar um público ou perfil específico. Objetivo midiático   Analisar nar-
segmento EF (Anos Finais); EM rativas com dados e infografia para
entender como esse tipo de material
Quatro passos simples para checar a informação
(Os textos sugeridos estão disponíveis em: pode ser manipulado e levar a conclu-
Recebeu alguma informação e quer checá-la de forma ágil?
educamidia.org.br/guia) sões distintas. Refletir sobre fontes e
Realize estes movimentos propostos na metodologia SIFT do autor Mike Caulfied: confiabilidade.

PAUSE INVESTIGUE BUSQUE mais CONHEÇA


A FONTE INFORMAÇÕES O CONTEXTO
Olhe um pouco para
a mensagem. O que você sabe Onde mais esta Qual é a história
sobre quem escreveu informação pode completa?
ou publicou? ser encontrada?

84   DO CONCEITO À PrÁtica 85
ACESSAR mesmos; da mesma forma, quem publica ou envia
não é necessariamente o criador dos gráficos;
Pergunte aos alunos se ouviram falar da polêmica O que sabemos sobre quem publicou os gráficos?

sobre as queimadas na Amazônia e o chamado “Dia Que impacto isso pode ter na narrativa?
do Fogo” em 2019. Peça-lhes que se reúnam em grupos
lendo atentamente
para pesquisar material sobre o assunto. Desafie-os Finalmente, promova com seus alunos uma dis-
Para orientar a exploração
a encontrar dados, gráficos e mapas que os ajudem cussão sobre um conjunto de gráficos (em nossa
dos materiais, você pode a responder a pergunta: afinal, o fogo e o desmate coleção digital você encontra, como sugestão, a
utilizar um protocolo de
leitura como a Matriz VPI
na região Amazônica aumentaram ou não em 2019? reportagem interativa “Entenda as queimadas da
(ver pág. 103). Amazônia em seis gráficos”, do Observatório do
  Você
pode sugerir que os alunos consultem Clima). Introduza a noção de que diferentes repre-
alguns dos materiais de nossa coleção de recursos sentações dos mesmos dados podem levar a con-
complementares; os mais velhos podem realizar sua clusões distintas. Note que o intervalo de tempo
própria pesquisa, fazendo uma curadoria colabora- exibido ou a introdução de um contexto mais amplo
tiva de materiais e trazendo para a discussão a ade- gráficos que mentem  pode alterar bastante a narrativa.
quação e confiabilidade das fontes escolhidas. Consulte o plano de aula Se tiver tempo, introduza uma mini-aula sobre
EducaMídia “Números que
contam histórias”, com dicas
manipulação de dados. Apresente tabelas ou gráficos
Utilize gráficos para explorar dados específicos e outros recursos para ensinar enganosos e encoraje os alunos a identificar as técnicas
sobre gráficos engano-
sobre a natureza, extensão e causas das queimadas na sos. Disponível em: bit.ly/
comuns a eles, por exemplo, um eixo x que não começa
Amazônia, extraídos de reportagens e os que tenham numerosquecontamhistorias em zero. Estimule os alunos a fazer perguntas.
circulado em tuítes e redes sociais. Busque incluir
autores diversos, veículos especializados em meio   Sempre que apresentar um exemplo, pergunte:
ambiente ou ONGs. “O que há de errado nesta imagem?”

ANALISAR CRIAR

O que os alunos perceberam na pesquisa? Selecione Concluído o aprendizado, hora de produzir. A ideia é
algumas conclusões e dúvidas dos grupos. Inicie que cada grupo estude um conjunto de reportagens,
uma discussão coletiva chamando a atenção para escolha um aspecto do assunto e produza dois gráfi-
os seguintes pontos: cos com base na mesma informação, manipulando a
visualização para que as leituras sejam distintas. Por
Mostre que alguns textos, gráficos e mapas levam fim, os grupos apresentam (ou publicam) individual-
a perspectivas diferentes do problema. mente seus gráficos, cada um com sua própria visão
Observe que a fonte dos gráficos e mapas não é e acompanhado de análise explicativa por escrito das
a mesma fonte dos dados usados na elaboração dos escolhas feitas e das diferenças obtidas.

86   guia da eDUCAÇÃO MIDIÁTICA   DO CONCEITO À PrÁtica 87


REFLETIR

Conduza uma reflexão final sobre a investigação.


Exemplos de perguntas: como os dados contam his-
tórias? A informação quantitativa é sempre neutra/
confiável? Como podemos ler dados mais cuidado-
samente? E, por fim, qual é o impacto da circulação
de dados falsos ou enviesados? “Ao discutirmos as evidências do aquecimento
DA COMPREENSÃO À AÇÃO global, vamos criar tuítes em resposta a postagens
negacionistas, explicando de forma concisa o assunto
Seus alunos já perceberam como o letramento de e levando os alunos a refletir sobre autoria, propósito
dados é importante, não? No entanto, geralmente
não falamos muito sobre isso no contexto escolar. e confiabilidade das mensagens originais.”
Que tal ajudá-los a criar um material didático (slides, DESINFORMAÇÃO   CONFIABILIDADE
site, vídeo ou apostila) que sirva para introduzir o
assunto em outras séries ou disciplinas?
Ler   Escrever objetivo curricular  Discutir a dife-
rença entre clima e tempo; apontar as
REMIX habilidades Análise crítica da mídia, evidências do aquecimento global.
letramento da informação, autoex-
Pesquise mensagens e informações com dados pressão, fluência digital. Objetivo midiático   Verificar infor-
conflitantes em outros contextos e disciplinas. mações. Analisar dados de forma crí-
Explore as narrativas com dados do ponto de
segmento EF (Anos Finais) tica. Praticar a pesquisa de conteúdo
vista das escolhas de design, observando que tipo científico em fontes confiáveis. Obser-
de gráfico consegue transmitir as informações mais (Os textos sugeridos estão disponíveis em: var a linguagem própria das redes
clara e adequadamente em cada caso. Analise desde educamidia.org.br/guia) sociais. Exercer a autoexpressão com
gráficos de barras e de pizza simples até visualizações responsabilidade.
complexas, como as interativas. Como o design pode
ajudar ou atrapalhar a transmissão de informações?
Selecione outras reportagens com gráficos para
que os alunos analisem se os títulos são tendenciosos.

88   guia da eDUCAÇÃO MIDIÁTICA   DO CONCEITO À PrÁtica 89


ACESSAR CRIAR

Em fevereiro de 2019, o então presidente norte- Pesquisando em fontes confiáveis argumentos que
-americano Donald Trump visitou o centro-oeste dos novas gramáticas 
ajudem a refutar a afirmação do presidente, os alunos
Estados Unidos em meio a uma frente fria histórica e, Observe a linguagem e a
deverão coletar dados científicos e criar uma con-
de forma irônica, no Twitter, perguntou: “Onde está forma de comunicação dos tranarrativa na mesma plataforma. Como exemplo,
tuítes. As hashtags são muito
o tal o aquecimento global?” Apresente para a turma utilizadas para adicionar
leve-os a observar a resposta publicada pela agência
o tuíte do presidente Trump (disponível em nossa uma camada de comentá- climática norte-americana ao tuíte do presidente. O
rio ao texto, ou então para
coleção de recursos complementares) e discuta: unir-se à conversa global
objetivo é explicar a diferença entre clima e tempo,
sobre determinado tema. bem como as evidências do aquecimento global por
Neste caso, que hashtags
O que acham da observação do presidente? Ela poderiam ser usadas para
meio de uma sequência de desenhos e frases curtas
reflete corretamente a situação real? ampliar o alcance de suas devidamente embasados em argumentos científicos
publicações? Peça aos alunos
Como é o clima onde moram? Já vivenciaram confiáveis.
que busquem as hashtags
alguma situação de frio ou calor extremo? mais populares sobre o
tema e escolham as que
Acham que o fenômeno do aquecimento global é   Reflitam sobre a mídia escolhida para esta ati-
poderão ser mais eficazes.
observável em nosso dia a dia? Por quê? Saiba mais sobre a histó- vidade. Como sintetizar a informação correta em
ria e o papel das hashtags
no Glossário Interativo
280 caracteres por vez, criando uma narrativa con-
ANALISAR bit.ly/glossariointerativo, cisa porém bem fundamentada? Planejem como vão
e consulte o plano de
aula “A força das hash-
dividir o conteúdo em uma sequência de respostas,
Em seguida, proponha uma pesquisa para determi- tags”, disponível em: o chamado “fio” de tuítes.
bit.ly/aforcadashashtags.
nar se o conteúdo do tuíte é verdadeiro, ou seja, se a
sua afirmação é cientificamente correta. Os alunos REFLETIR
devem estabelecer a credibilidade do tuíte e um pos-
sível propósito, relacionando-o com a postura do Conduza uma reflexão com a classe sobre responsa-
governo norte-americano sobre o clima. bilidade e disseminação de desinformação no campo
científico. Qual é o impacto da desinformação disse-
  Você
pode ver exemplos na coleção de textos minada por figuras públicas? Quais as dificuldades
complementares deste Guia, ou deixar que os alunos de divulgar informações científicas complexas ao
conduzam sua própria pesquisa. Neste caso, discuta público? Por que a expressão “crise climática” vem
com eles a adequação das fontes. Qual seria uma boa sendo utilizada no lugar de “aquecimento global”?
fonte de pesquisa para o assunto? E o que seria uma
fonte ruim ou pouco confiável? DA COMPREENSÃO À Ação

Chama-se divulgação científica todo esforço de levar


informações sobre ciência ao grande público por

90   guia da eDUCAÇÃO MIDIÁTICA   DO CONCEITO À PrÁtica 91


meio de formatos acessíveis: blogs, vídeos, ilustra- DECODIFICANDO MENSAGENS
ções, visualizações de dados, quadrinhos, podcasts e
até instalações. Que tal fazer um projeto de divulgação
científica em linguagem visual ou audiovisual que
permita à comunidade escolar como um todo a fácil
Como apoiar a análise de
compreensão da questão das mudanças climáticas? diversos tipos de mensagem
de mídia?
REMIX
Em um mundo tão mediado por mensagens de mídia,
Procure mais exemplos de desinformação no
Twitter e realize esta atividade no contexto de outra é essencial que os jovens desenvolvam as habilidades
disciplina. para refletir, de forma autônoma, sobre o que impacta
Se seus alunos não utilizam o Twitter, ainda assim
as nossas percepções.
você pode explorar o tema da responsabilidade da
figura pública quanto à desinformação e a importân-
cia de buscar fontes qualificadas. Proponha a criação Todos os dias, desde que acordamos, próprio repertório, é chamado de deco-
de um diálogo com o presidente Trump, na forma somos impactados por mensagens dificação, segundo metodologia desen-
de HQ ou de esquete teatral, para discutir os fatos diversas contidas nas embalagens dos volvida pelo Project Look Sharp.
científicos corretos. Ou a simulação de um debate alimentos que consumimos, anúncios Práticas de decodificação de mídias
entre especialistas na TV. ou cartazes urbanos que vemos a cami- nos ajudam não só a analisar autoria e
Em vez de tuítes, proponha a criação de memes nho do trabalho, notícias e conteúdos propósito das mensagens que chegam
divertidos explicando a diferença entre clima e tempo nas redes sociais que acompanhamos. até nós, mas também a refletir sobre o
e mostrando as evidências do aquecimento global. Todas elas contribuem, pouco a pouco, que influencia nossas interpretações.
Algumas iniciativas recentes das plataformas para formar nossa percepção do mundo. Neste sentido, são ferramentas valio-
de mídias sociais, durante a pandemia da covid-19, O consumo desatento e acrítico sas para vencer diferenças e permitir
buscaram coibir a publicação de informações falsas, dessas mensagens acaba por erodir a a construção de uma sociedade mais
sobretudo aquelas que apresentam risco à saúde da nossa capacidade de formar opiniões diversa e empática.
população. Com alunos mais velhos, conduza uma de maneira informada e independente. As perguntas abaixo podem ser uti-
investigação sobre essas iniciativas que os faça refle- Precisamos lembrar que todas as men- lizadas para analisar qualquer tipo de
tir sobre o impacto da desinformação na rede. sagens de mídia são construídas, ou seja, conteúdo disparador nas várias discipli-
têm um autor que fez escolhas, e essas nas curriculares – seja ele texto, gráfico,
escolhas obedecem a um objetivo. Este imagem, vídeo ou campanha. Servem
processo de analisar e refletir sobre tais também para discutir por que os produ-
mensagens, questionando e ampliando o tos e entretenimento que consumimos

92   guia da eDUCAÇÃO MIDIÁTICA 93


(como embalagens de brinquedos, ali- Cabe aplicar as mesmas perguntas
mentos ou produtos de higiene, capas ao criarmos mensagens de mídia, refle-
de revista, filmes ou até videogames) tindo sobre o nosso propósito e escolhas
são também discursos midiáticos que e sobre o efeito de nossos valores e baga-
embutem escolhas e valores. gem em nossas interpretações.

desenvolvendo o hábito da investigação:


principais perguntas ao analisar mensagens de mídia “Ao discutirmos enchentes em áreas urbanas,
AUTORIA PROPÓSITO CONTEÚDO
vamos pesquisar e identificar informações diversas
Quem criou isto? Por que isto foi feito? Sobre o que é esta e criar um infográfico, levando os alunos a refletir
mensagem?
TÉCNICAS
Quem é o público-alvo?
Que ideias, valores
sobre contexto e propósito das mensagens.”
O que os autores
Que técnicas foram e informações estão
desejam que eu faça?
usadas para comunicar explícitos? Quais BUSCA   CURADORIA   UNIVERSO DA INFORMAçÃO
a mensagem? O que os autores estão implícitos?
querem que eu pense?
Qual a eficácia destas O que foi deixado
técnicas? de fora mas seria
CONTEXTO
importante saber?
Quais são os pontos
Quando este conteúdo
Ler   Escrever objetivo curricular Compreender o
fortes e os fracos? Que comparação se pode
foi criado?
fazer entre este conteúdo
ciclo da água e como a impermeabili-
Por que os autores
escolheram estas técnicas?
De que maneira foi e o de outros veículos sobre habilidades Análise crítica da mídia, zação do solo influencia as enchentes
compartilhado com o o mesmo assunto/tema?
público? Em que canais?
letramento da informação, autoexpres- em áreas urbanas.
credibilidade
Que aspectos do
cONTEXTO ECONÔMICO são, fluência digital.
É fato, opinião ou outro
contexto cultural Quem pagou? Objetivo midiático Explorar os meca-
tipo de conteúdo?
merecem consideração?
Qual a credibilidade desta
Quem pode ganhar segmento EF (Anos Finais) nismos de busca na internet, incluindo
dinheiro com isso?
informação? interpretações o papel dos algoritmos e a forma como
Quais são as fontes das Qual é a minha impacto (Os textos sugeridos estão disponíveis em: as plataformas hierarquizam o con-
ideias e das afirmações? interpretação?
Quem pode se beneficiar educamidia.org.br/guia) teúdo. Refletir sobre o propósito de
As fontes têm autoridade Como experiências e desta mensagem?
para falar sobre este crenças anteriores interferem
diferentes tipos de informação (como
Quem pode ser prejudicado?
assunto específico? na minha interpretação? reportagem, anúncio publicitário e
Que vozes estão
Reações
O que eu aprendi sobre
representadas ou foram
campanha de utilidade pública, entre
mim mesmo com a minha
Como eu me sinto diante interpretação ou reação?
privilegiadas? outros). Entender o que são as fontes
deste conteúdo? Que vozes foram omitidas confiáveis e aprender a fazer curadoria
ou abafadas?
Que ações devo praticar das informações encontradas.
em resposta?

94   DO CONCEITO À PrÁtica 95
ACESSAR Após essa primeira pesquisa, revele o objetivo
da atividade: vamos criar um infográfico com dados
Introduza o tema das enchentes em áreas urbanas relevantes sobre enchentes urbanas no Brasil, com
e discuta os efeitos do problema nas cidades bra- destaque nas causas e consequências. Peça então
a arte de pesquisar sileiras. Mostre aos alunos algumas fotografias ou aos alunos que conduzam nova pesquisa, desta vez
Ao fazer uma busca na inter- vídeos de grandes enchentes registradas no Brasil (se mais direcionada ao objetivo do trabalho. Algumas
net, é importante identificar
se o resultado apresentado
possível, exemplos de alguma cidade ou comunidade orientações possíveis:
é orgânico (baseado na próxima da escola). Peça aos alunos que busquem na
quantidade de acessos) ou
patrocinado (o site, empresa
internet outras informações sobre o tema “enchen- Definam juntos palavras-chave mais adequadas.
ou marca paga à plataforma tes”. Neste primeiro momento deixe-os fazer a pes- Afunilem a pesquisa, adicionando palavras como o
para que o link apareça
em determinada posição).
quisa como quiserem, sem muita orientação. Eles nome da cidade sobre a qual querem encontrar infor-
Existem ainda resultados que deverão registrar os resultados que apareceram na mações ou um período específico para pesquisar.
aparecem com destaque por
serem considerados estraté-
primeira página da busca. Estimule os alunos a experimentar formas dife-

gicos pelo próprio buscador, rentes de fazer a pesquisa sobre o mesmo tema:
por exemplo informações
  Se não houver a possibilidade de cada aluno fazer busca com termos diferentes, apenas por imagens,
confiáveis sobre saúde.
Fique atento, pois as buscas a sua própria busca, peça-lhes que trabalhem em busca avançada etc.
na internet desafiam o senso
comum sobre hierarquia:
grupos e depois comparem os resultados obtidos.
nem sempre o que aparece   Para
que os alunos desenvolvam o hábito da
primeiro é melhor!
ANALISAR curadoria, peça-lhes para reunir as fontes que con-
narrativas com dados  sideraram mais relevantes. Isso pode ser feito em
Organize os alunos de modo a promover uma compa- Infográficos contam histórias uma tabela, por exemplo, onde deverão listar, para
misturando textos, imagens
ração dos resultados obtidos. Eles deverão discutir: e informacões quantitati-
cada fonte: título, origem da informação, natureza da
vas. Explore a ideia de que informação, o que descobri, o que mais quero saber.
o recorte do assunto, as
Alguma das opções obtidas na busca (considerando técnicas utilizadas e até
apenas a primeira página de resultados) pode ser útil mesmo elementos como CRIAR
cores e ilustrações podem
no contexto desta aula? Por quê? fornecer um contexto e
As informações encontradas na busca foram as causar emoções como Neste estágio, os alunos deverão ter uma curadoria
empatia ou medo. Saiba mais
mesmas para todos os alunos (ou grupos)? sobre infográficos em bit.ly/
de fontes e informações relevantes. Oriente-os a criar
Quais foram as diferenças nos resultados obtidos? liveinfografianaaprendizagem. um infográfico que explique, com dados relevantes,
Por que você acha que isso aconteceu? as causas e consequências das enchentes urbanas. As
Vocês usaram as mesmas palavras-chave para fazer produções devem mesclar textos, imagens e gráficos
a pesquisa? Utilizaram alguma estratégia diferente na que, juntos, contribuam para formar uma narrativa
hora de pesquisar (como busca por imagens)? sobre o fato pesquisado. Os infográficos podem ser fei-
tos com desenhos, colagens, ou digitalmente, utilizando
ferramentas como Canva, Adobe Spark ou Piktochart.

96   guia da eDUCAÇÃO MIDIÁTICA   DO CONCEITO À PrÁtica 97


  Modele o que os alunos devem criar, oferecendo

exemplos de infográficos encontrados em sites de


revistas e jornais.

REFLETIR

Retome a ideia de que pesquisar na internet não é


simplesmente jogar qualquer palavra no buscador. “Ao discutirmos a monarquia no Brasil, vamos
Feche a atividade com uma reflexão sobre a impor-
tância de fazer buscas de forma mais intencional e identificar páginas em redes sociais, levando os
eficiente, e sobre os mecanismos que ajudam a encon- alunos a refletir sobre o conteúdo e contexto das
trar os conteúdos apropriados para cada momento. mensagens e as reações que elas provocam.”
DA COMPREENSÃO À Ação redes sociais   bolha informacional

Fazer boas pesquisas requer compreender melhor


as ferramentas de busca, utilizando busca avançada, Ler   ESCREVER   PARTICIPAR objetivo curricular A partir do diá-
pesquisar e filtrar  pesquisa por imagem ou tipo de conteúdo e outras logo entre defensores e opositores da
Estimule sempre seus alunos possibilidades. Que tal convidar os alunos a criar uma habilidades Análise crítica da mídia, monarquia na atualidade, compre-
a fazer pesquisas de forma
mais intencional, refletindo
cartilha com dicas para compartilhar com colegas letramento da informação, cidadania ender as características do regime
desde as palavras-chave que e séries? Eles podem criar também uma oficina de digital. monárquico e explorar os contextos
melhor funcionam naquela
busca até a confiabilidade e
busca na internet para ajudar alunos mais novos que político, cultural e social que possibi-
adequação do que foi encon- começam a ampliar sua presença digital. segmento EF (Anos Finais) litaram o surgimento da República no
trado. Habilidades de cura-
doria para saber pesquisar
Brasil.
e selecionar conteúdos são (Os textos sugeridos estão disponíveis em:
essenciais na era da abun-
dância de informações.
REMIX educamidia.org.br/guia) Objetivo midiático Analisar diferen-
tes pontos de vista. Refletir sobre o
Para alunos mais novos, você pode concentrar a fenômeno das bolhas informacionais
atividade em pesquisa de imagens e estimulá-los a e buscar estratégias para minimizá-
pensar no que descobriram e, com os resultados obti- -las. Comparar linguagens e recursos
dos, que mais gostariam de saber do tema curricular. de argumentação em redes sociais de
modo a evitar discursos de ódio.

98   guia da eDUCAÇÃO MIDIÁTICA   DO CONCEITO À PrÁtica 99


ACESSAR Você acha que há outros debates sobre o futuro do

país nas redes sociais sobre os quais você nunca ouviu


Apresente páginas, grupos e/ou posts em redes falar? Como se sente em relação a isso?
sociais que defendem a volta da monarquia ao Brasil
como forma de iniciar a conversa sobre o tema cur- Apresente a eles o conceito de bolha informacio-
bolha informacional 
ricular e despertar a curiosidade dos alunos. Inclua nal e as consequências de não sermos expostos a
Ambiente, especialmente
online, em que as pessoas são
grupos que pareçam mais atuantes, em número diferentes pontos de vista ou assuntos que poderiam
expostas apenas a informa- de participantes ou troca de comentários/debates. ter alguma consequência para nosso país, bairro ou
ções alinhadas às suas cren-
ças e ideais, e em que trocam
Discuta com os alunos se esse tipo de movimento era comunidade.
conteúdo só com quem do conhecimento deles. Possíveis perguntas: O que mais os alunos não sabem sobre a monar-
tem opiniões semelhantes.
No extremo, o fenômeno
quia no Brasil? Este é o momento de levantar novas
das “bolhas” faz com que as Você sabia da existência desses grupos? Se sim, questões sobre o tema e pesquisar novamente nas
pessoas não tenham contato
com opiniões divergentes,
como você ficou sabendo? redes sociais se há movimentos, organizações, insti-
o que impede a amplitude Nas redes sociais em que você está, já tinha apa- tutos ou outro tipo de associação de pessoas em torno
e pluralidade de visão.
recido algum post dos grupos que localizamos ou de do assunto. Você pode apresentar algumas opções
algum outro em defesa da monarquia? Se não, por que pré-selecionadas ou deixar que os alunos façam suas
você acha que isso aconteceu? próprias perguntas disparadoras de nova pesquisa.
Para os alunos que não conheciam os grupos: você Um exemplo: quem são os descendentes da família real
vê algum problema em não saber da existência desses brasileira? Como eles se posicionam nas redes sociais?
movimentos? Por quê?
CRIAR
ANALISAR
Após o aprendizado dos movimentos monárquicos,
Em seguida, proponha aos alunos que analisem o os alunos irão pesquisar em fontes confiáveis argu-
conteúdo das páginas e identifiquem os principais mentos contrários à monarquia e criar posts para
pontos na argumentação a favor da volta da monar- redes sociais em que promovam o debate de ideias,
quia. Os alunos devem pesquisar em posts, comen- e não apenas um único ponto de vista (a favor ou
tários e reações pelo menos três razões citadas pelos contra). Convide-os a refletir sobre o tom de suas
defensores do regime monárquico no Brasil. Peça- próprias postagens e a deixar comentários nos posts
lhes que compartilhem suas conclusões com os cole- dos colegas, o que dará início a um debate de ideias
gas e reflitam sobre as seguintes questões: saudável e sem agressão.

Você ficou surpreso com algum dos argumentos   Para não expor os seus alunos, realize essa ati-

encontrados? Por quê? vidade em um grupo fechado, ou crie simulações de


postagens em slides ou murais colaborativos.

100   guia da eDUCAÇÃO MIDIÁTICA   DO CONCEITO À PrÁtica 101


REFLETIR MATRIZ VPI

Explique que mostrar interesse por assuntos diver-


sos é uma maneira de “furar a bolha”, ampliando
nosso repertório e nossa capacidade de argumenta-
Como conduzir leituras
ção respeitosa em meio a diferentes pontos de vista. de mensagens visuais
DA COMPREENSÃO À Ação ou audiovisuais?
Aprender a conviver com a diversidade de ideias e A educação midiática busca desenvolver as
posições é essencial para a democracia. Promova
com seus alunos a criação de um clube de debates habilidades de leitura reflexiva em qualquer tipo
na escola, trazendo para a pauta assuntos diversos de linguagem, incluindo as visuais. Esta rotina ajuda
e ressaltando a importância de estimular o debate a trabalhar esse tipo de leitura em sala de aula.
saudável e respeitoso de ideias em nossa sociedade.

A Matriz VPI (Vejo, Penso, Imagino) faz da educação midiática, esta estratégia
REMIX parte do acervo de rotinas de pen- também pode apoiar a prática de lei-
samento desenvolvido pelo Project turas mais intencionais. Separar cla-
cada rede, um tom Utilize essa sequência didática com um tema da Zero da Harvard Graduate School ramente as perguntas “o que eu vejo” e
É importante que os alunos atualidade, observando como as bolhas podem nos of Education. É muito utilizada para “o que eu penso a partir do que eu vejo”
levem em conta a rede social
manter distantes de discussões relevantes para nós. explorar conteúdo visual ou audio- ajuda os alunos a distinguir observação
na qual estão escrevendo,
e dessa forma tenham Os alunos podem comparar, ao longo de uma semana, visual, como artefatos, fotos, ilustra- de interpretação e a fazer afirmações
condições de decidir qual é
o que é apresentado no feed de suas redes sociais com ções, obras de arte ou vídeos, levando baseadas em evidências. A última per-
a melhor linguagem, se pre-
cisam de imagem ou outro o noticiário dos principais veículos de comunicação o aluno a se questionar por que algo gunta, “o que mais eu imagino”, estimula
recurso etc.
de sua região. tem um aspecto ou construção especí- a curiosidade e a mentalidade investi-
O que personagens históricos ligados à monar- ficos – e, portanto, relacionar as técni- gativa, desenvolvendo o hábito de fazer
quia no Brasil ou ao processo de Proclamação da cas utilizadas às motivações do autor. novas perguntas e conexões com base
República diriam nas redes sociais se estivessem Podemos utilizá-la para análise de grá- na observação e abrindo a possibilidade
vivos hoje? Proponha a criação de contas de Facebook, ficos, visualizações de dados, mapas e de explorar o assunto em profundidade.
Instagram, Twitter ou TikTok para esses persona- outras formas de narrativa visual. Como e quando usar: muitos pro-
gens, explorando a linguagem de cada rede social. Esta rotina simples estimula a curio- fessores gostam de usar essa rotina em
sidade e a observação, despertando o início de aula ou como o primeiro passo
interesse do aluno pelo tópico explo- de atividades extensas. Escolha um (ou
rado. Quando utilizada no contexto mais) texto disparador em qualquer

102   guia da eDUCAÇÃO MIDIÁTICA 103


formato de mídia e distribua para os desenhos que ilustrem suas ideias. Os
alunos um quadro de três colunas alunos podem iniciar a exploração
como no modelo abaixo, com espaço individualmente ou em pares, mas é
para anotações. Se preferir, peça-lhes sempre enriquecedor expandir a dis-
que criem seus próprios quadros, com cussão para a classe toda.

“Ao discutirmos diversidade, vamos recriar cartazes


de filmes e fotografias jornalísticas, refletindo
sobre o conteúdo das imagens originais e reações
o que eu vejo o que eu penso o que eu imagino
provocadas pelas alterações.”
Descreva o que você O que você pensa sobre Que perguntas surgiram
letramento da imagem   representação
vê / lê / escuta. o que leu / viu / escutou? após descrever e pen-
sar sobre o que
Aqui o aluno deve anotar Aqui o aluno precisa sempre
leu / viu / escutou?
apenas o que está vendo basear suas afirmações no
na imagem ou artefato, que observou anteriormente, Estimule o aluno a fazer
sem interpretações. ou seja, em evidências. As novas perguntas sobre o
Ler   ESCREVER   PARTICIPAR objetivo curricular Explorar ques-
As frases devem começar frases podem começar com que observou e pensou. tões de diversidade e racismo estrutural.
com "Eu vejo". "Ao observar X eu acho Y".
habilidades Análise crítica da mídia,
cidadania digital, participação cívica. Objetivo midiático Ler de forma refle-
xiva imagens em seu contexto histórico
segmento EF (Anos Finais); EM e social. Analisar representação e inclu-
são em textos de mídia.
(Os textos sugeridos estão disponíveis em:
educamidia.org.br/guia)

104   DO CONCEITO À PrÁtica 105


ACESSAR CRIAR

grupos silenciados  Peça aos alunos que listem as séries, HQs, filmes ATIVIDADE 1  Proponha uma atividade para trazer à
“A representação de certos e games que mais consomem. Registrem em uma tona a falta de visibilidade de certos grupos em nossa
grupos identitários nas
mídias e outros veículos
tabela algumas das características dos heróis e vilões sociedade. Você pode, por exemplo, sugerir aos alu-
costuma ser mínima ou ine- das histórias: nos que observem os cartazes de filmes criados pelo
xistente, em especial os que
fazem parte de grupos mar- amplificando
projeto inglês Legally Black e as ilustrações da artista
ginalizados. Mesmo quando Quem são os heróis? Anote o gênero e identidade a nossa voz  @juliajm15, disponíveis em nossa coleção digital de
há visibilidade, não raro os
retratos são unidimensionais,
sexual, raça, etnia ou nacionalidade, se são pessoas As redes sociais nos trou- sugestões. O que eles pretendem com essas imagens?
xeram a oportunidade de
estereotipados ou negativos. com deficiência ou alguma necessidade especial. Faça deixar para trás nosso papel
Os alunos devem então recriar fotos e cartazes de
Esta deficiência contribui
para a falta de compreensão
a mesma coisa para os vilões. de consumidores passivos, filmes e séries conhecidos e trocar a identidade dos
e possibilitaram uma plata-
e empatia por diferentes Tabule a frequência de cada característica. forma para expressar nossas
personagens principais; ou criar desenhos em que
pessoas. Pode contribuir para
nossos preconceitos, tanto
Observem: há algum padrão que começa a surgir? opiniões. Como usar este fazem o mesmo com personagens de HQs ou games
poder de forma positiva? Se
implícitos quanto explíci- Existe algum grupo sub-representado? Há evidências seus alunos perceberem que
(os alunos podem escolher ampliar a visibilidade de
tos. Isso torna ainda mais
importante representar esses
de estereótipo? determinados grupos estão certas raças, identidades de gênero ou mesmo iden-
ausentes das séries de TV ou
grupos.” (Fonte: ADL.org)
da publicidade dos produtos
tidades culturais e religiosas).
  Escolha as mídias que melhor se adaptem ao que consomem, sugira que
escrevam aos produtores ou
contexto de seus alunos. Além do entretenimento, às marcas apontando as lacu-
ATIVIDADE 2  Acesse uma campanha (como exem-
as lentes que usamos  podem ser explorados anúncios, embalagens, equipe nas de representatividade. Da plo, você pode ver o vídeo #MoreWomen nos recur-
mesma forma, estimule-os
Preconceito ou viés implícito dos telejornais etc. a se pronunciar em apoio
sos complementares deste Guia) e reflita sobre a
é uma noção pré-concebida
que impacta inconsciente-
às marcas ou produtores de importância da diversidade nas várias esferas da
conteúdo que estão atentos
mente as nossas percepções ANALISAR ao tema. É uma boa maneira
sociedade. Proponha uma atividade em que os alu-
e escolhas. Pode ser reforçada
pela forma ou a frequên-
de afirmar o potencial das nos acompanham o notíciário por uma semana e
redes sociais como espaço
cia com que determinados Discuta os conceitos de visibilidade, estereótipo e positivo e potencializador da
editam fotos de sites de notícias, trocando ou eli-
grupos não majoritários são
retratados nas mídias. Por
empatia, e explore as seguintes questões: participação cívica. minando personagens e buscando apontar a falta
exemplo, se os jornais e os fil- de diversidade em situações de poder ou prestígio
mes associam homens jovens
negros apenas a situações de
Qual é o impacto de ver diversidade nas representa- profissional, como gestão de empresas ou painéis
violência, isso acaba por criar ções da mídia? Qual é o impacto de não ver diversidade? em congressos.
em pessoas de outros grupos
um viés implícito que pode
Por que você acha que alguns grupos são represen-
afetar subconscientemente tados e outros não? REFLETIR
decisões como contratação,
concessão de crédito, aluguel
O que pode acontecer com alguém que não se vê
e ofertas de serviços. representado na mídia? Discuta com os alunos: você se sente representado nas
Como a representação estereotipada nas mídias, mídias que consome (filmes, games, anúncios etc.)?
ou a ausência de representação, pode contribuir para O que sentiram ao ver os personagens trocados nas
perpetuar desigualdades em nossa sociedade? imagens? Qual é a importância da representação para

106   guia da eDUCAÇÃO MIDIÁTICA   DO CONCEITO À PrÁtica 107


a sociedade? Como podemos atuar para que as mídias
sejam mais representativas da nossa diversidade?

DA COMPREENSÃO À Ação

Proponha aos alunos que, usando as imagens produ-


zidas, façam uma campanha estilo "guerrilha", espa-
lhando essas imagens em sua comunidade. Qual seria “Ao discutirmos a Idade Média, vamos comparar
surpreender o slogan da campanha? E a hashtag?
para convencer  charges e memes de diferentes pandemias
O termo “marketing de guer-
rilha” refere-se a estratégias
(peste negra e covid-19), levando os alunos a
de publicidade que utilizam REMIX refletir sobre o contexto histórico e o impacto
formatos, espaços ou inte-
rações incomuns, tomando
o público de surpresa e cau- Transponha a mesma atividade para o universo das mensagens em cada caso.”
sando forte impressão sobre a
da publicidade, analisando anúncios e embalagens.
marca. A estratégia tam- DISCURSO DE ÓDIO   PRECONCEITO   desinformação
bém pode ser utilizada para Qual é a importância da representação nesse tipo de
promover causas ou ideias,
mensagem? Discuta a diferença entre a diversidade
ocupando o espaço público
ou realizando ações inespera- como estratégia de marketing e a diversidade pelas Ler   PARTICIPAR objetivo curricular Comparar pan-
das junto ao público.
empresas em suas políticas internas de contratação, demias ao longo da história, em especial
promoção etc. habilidades Análise crítica da mídia, da peste negra e da covid-19. Identificar
Outra variação da atividade dos cartazes é explo- autoexpressão, cidadania digital. o fenômeno da desinformação em dife-
rar o teatro e a linguagem audiovisual. Filme esquetes rentes contextos históricos.
em que os alunos trocam a identidade racial ou o segmento EF (Anos Finais); EM
gênero dos personagens em cenas de novelas, séries Objetivo midiático Analisar critica-
e filmes conhecidos. Observe se a linguagem, os cená- (Os textos sugeridos estão disponíveis em: mente as redes sociais. Refletir sobre
rios e a trilha sonora das obras originais também educamidia.org.br/guia) desinformação e discurso de ódio.
refletem a identidade de grupos específicos, e se Criar conteúdo de forma responsável
precisariam igualmente ser trocados. e ética no combate a estes problemas.
Para alunos mais jovens, proponha o mesmo tipo
de reflexão a partir da representação em livros infan- Inpirado em material criado pela profes-
tis, brinquedos e anúncios. sora Gislene Lacerda.

108   guia da eDUCAÇÃO MIDIÁTICA   DO CONCEITO À PrÁtica 109


ACESSAR doenças infecciosas com "o objetivo de minimizar o
impacto negativo desnecessário de nomes de doen-
Apresente aos alunos artigos e informações sobre a ças no comércio, viagens, turismo ou bem-estar ani-
peste negra, no século 14 (nossa coleção digital tem mensagens mal e evitar ofender qualquer grupo cultural, social,
que enganam
exemplos e sugestões), e deixe que explorem os mate- nacional, regional, profissional ou étnico”.
A desinformação é um fenô-
riais em grupo. Pergunte o que descobriram sobre o meno histórico tão antigo
alcance e o impacto dessa pandemia. Chame a atenção quanto a comunicação. Ao Por que é importante nomear as doenças conforme
longo da história, informações
para charges que representam os judeus como culpa- falsas foram deliberadamente
a orientação da OMS, e não designá-las pelos seus ape-
dos e para imagens do massacre que lhes foi infligido disseminadas para obter lidos populares?
ganhos políticos ou econômi-
em toda a Europa. Algumas ideias para discussão: cos, ou para influenciar ideias
Por que os termos “gripe espanhola”, “vírus chinês”
longe da ciência e ações. Também podemos e outros podem incitar medo, preconceito contra imi-
encontrar diversos exemplos
Toda teoria da conspiração Que paralelos podemos ver entre a pandemia de históricos de como a desin-
grantes e discurso de ódio?
parte de algum fato real
e busca explicá-lo por cone-
peste negra e de covid-19? E que diferenças? formação, seja ela intencional De que forma o uso de termos preconceituosos
ou não, pode dar origem a
xões infundadas, justificando Considere o acesso a informações que temos hoje racismo, xenofobia e discurso
pode ter impacto negativo “no comércio, viagens,
assim crenças arraigadas, ati-
tudes paranóicas e discurso
e o que existia na época. Que impactos isso pode ter de ódio. turismo ou bem-estar animal”?
de ódio. Na Idade Média, os no combate à doença?
judeus foram menos afetados
pela peste bubônica do
A maior circulação de informações traz proteção à CRIAR
que outras populações, e população, mas também pode exacerbar alguns pro-
por isso identificados como
culpados. Alguns motivos
blemas. Quais são eles? Discuta a proliferação de fake Procure exemplos de capas de revistas ou artigos de
podem tê-los poupado mais news na pandemia e os riscos à saúde pública. jornais que utilizaram termos preconceituosos ao tra-
que outros grupos, como
costumes de higiene mais
tar do coronavírus. Peça aos alunos que escrevam um
rígidos impostos pela religião Em seguida, apresente aos alunos alguns mate- artigo de opinião ou uma carta ao editor apontando
e o isolamento geográfico
em guetos, ou seja, em
riais atuais (também há sugestões em nossos quadros esse problema e refletindo sobre seus impactos.
quarentena, para impedir de recursos) que fazem alusão ao “vírus chinês” e
a transmissão da doença.
À época não se conheciam as
aos ataques, virtuais e não-virtuais, que os asiáticos REFLETIR
explicações científicas para a sofreram em decorrência da covid-19. O que há de
pandemia – até hoje o único
antídoto contra as teorias da
comum entre essas duas situações históricas? Medo, desconhecimento e preconceitos muitas
conspiração. vezes resultam na busca de "culpados" por doenças
ANALISAR ou tragédias. Como o tom dos debates na mídia ou
a linguagem utilizada nas notícias pode agravar ou
A chegada da covid-19 trouxe também um aumento resolver esse problema? Como podemos agir ao per-
da retórica racista em relação aos asiáticos em geral ceber o uso de termos preconceituosos?
e aos chineses em particular, em todo o mundo. Em
2015, a Organização Mundial da Saúde (OMS) divul-
gou um conjunto de diretrizes para nomear novas

110   guia da eDUCAÇÃO MIDIÁTICA   DO CONCEITO À PrÁtica 111


DA COMPREENSÃO À Ação IDENTIFICANDO propaganda

Muitas vezes utilizamos termos racistas ou xeno-


fóbicos sem pensar. Que tal preparar uma cartilha
destinada à sua comunidade alertando-a para esse
Como identificar propaganda?
tipo de discurso e ensinando como evitá-lo? Os alu-
nos podem publicar livreto ou e-book ou criar uma Mensagens que buscam ativar nossas emoções
campanha nas redes sociais. para influenciar ideias ou ações são chamadas
de propaganda. É necessário saber identificá-las,
REMIX para tomar decisões de forma independente.
contranarrativas A quem interessa demonizar toda uma população?
Reduzir o interlocutor a Que tensões geopolíticas podem estar relacionadas Antes de mais nada, é importante res- e aparecer até mesmo em nossas men-
estereótipos é uma maneira
de desumanizá-lo, o que abre
ao preconceito contra os chineses? Proponha a cria- saltar que “propaganda” e “publicidade” sagens pessoais. E, muitas vezes, assu-
o caminho para o discurso ção de um vídeo-infográfico, HQ ou mapa ilustrado são termos distintos, apesar de muitas mindo formas bastante sutis.
de ódio. O “Tool Box Crie sua
Contranarrativa”, criado pelo
para explicar o contexto maior destas manifestações vezes serem usados como sinônimos Outra novidade está na maneira
SaferLab, propõe a constru- xenofóbicas. no Brasil. Neste Guia, nos referimos à como o público-alvo é impactado: cada
ção de contranarrativas – que
são “maneiras de se opor
Como trabalhar a empatia? Alunos maiores propaganda como forma específica de vez mais, mensagens especialmente
e desconstruir narrativas podem entrevistar imigrantes em sua comunidade comunicação que tem como propó- escolhidas para ativar determinadas
comuns de discriminação e
intolerância, mas vão além e
e fazer uma série de vídeos de histórias pessoais – sito persuadir ou influenciar a opinião emoções conseguem chegar a quem
têm uma abordagem propo- desde dificuldades na chegada e assimilação até o pública. Já a publicidade diz respeito é mais propenso a se identificar com
sitiva, focando no diálogo, na
igualdade, no respeito às dife-
que mais gostam no Brasil. ao ato de promover e dar visibilidade elas. Isso se deve ao trabalho silencioso
renças e na liberdade.” Acesse Para alunos menores, proponha explorarem o a algum produto ou serviço. dos algoritmos, os códigos de compu-
o toolbox em: saferlab.org.br.
valor da diversidade cultural em nossa sociedade. Que De maneira geral, podemos afirmar tador programados para analisar nos-
tal criar desenhos, cartazes ou colagens apontando que as mídias (ou seja, todo tipo de sos hábitos e interações online e sele-
comidas, vocábulos, hábitos e invenções que assimila- mensagem com grande potencial de cionar justamente aqueles conteúdos
mos de outras culturas e a importância de valorizar- alcance) sempre foram utilizadas para com potencial de nos manter nas pla-
mos os imigrantes em nossa própria comunidade? influenciar atitudes e promover causas taformas por mais tempo ou de nos
e ideias – ou seja, para veicular propa- sensibilizar mais.
ganda. Cartazes de propaganda política A propaganda pode ter motivação
e campanhas de utilidade pública são os positiva, por exemplo quando procura
exemplos clássicos. Mas hoje, com a pro- alertar a população sobre medidas de
liferação de autores, vozes e canais, esse prevenção de doenças. Mas é preciso
tipo de mensagem pode se multiplicar considerar também que algumas

112   guia da eDUCAÇÃO MIDIÁTICA 113


técnicas adotadas na propaganda simplificada, ou por meio de clichês
demandam nossa reflexão. Segundo verbais ou visuais, qualquer informa-
o projeto Mind Over Media do Media ção pode parecer “natural” e, portanto,
Education Lab, as principais são: única e inquestionável.

Despertar emoções: a propaganda Atacar os oponentes: esta é a estra-


frequentemente mobiliza emoções tégia de deslegitimar os oponentes,
humanas, de forma a atingir a mudança atacando não só suas ideias, mas por “Ao discutirmos a conquista da América pelos
de comportamento desejada. A pro- vezes seu próprio caráter. Esse tipo
paganda mais eficaz é a que amplia de propaganda pode causar a exclu- europeus, vamos criar perfis e posts fictícios de uma
nossas próprias crenças e preferên- são de grupos inteiros, incitar o ódio e rede social, levando os alunos a refletir sobre autoria,
cias ou, por outro lado, nossos medos promover um pensamento polarizado pontos de vista e impacto.”
e preconceitos. que, em última instância, impede o
debate saudável e a discussão de ideias ponto de vista   Mídias sociais   narrativas periféricas   empatia
Falar diretamente a determinado complexas.
público: mensagens que falam dire-
tamente às necessidades, esperan- A propaganda nem sempre é clara- Ler   ESCREVER   PARTICIPAR o b j e t i vo c u r r i c u l a r   Analisar
o
ças, medos ou valores de um público mente identificável; pode estar pre- impacto da chegada dos europeus à
estreito, ou a identidades muito espe- sente nos textos noticiosos, no entre- habilidades  Análise crítica da mídia, America (em especial dos portugueses)
cíficas (políticas, étnicas e outras), aca- tenimento que consumimos e até nos letramento da informação, autoex- sobre as populações ameríndias.
bam por se tornar muito pessoais e, por- livros didáticos com os quais aprende- pressão.
tanto, especialmente relevantes para mos. Somos especialmente impacta- Objetivo midiático  Compreender
esse público. dos quando a mensagem está alinhada segmento  EF (Anos Finais – acima de que um mesmo fato pode ser relatado
com nossa própria visão de mundo. A 13 anos). de diferentes pontos de vista. Refletir
Simplificar informações e ideias: propaganda faz com que tomemos sobre a relevância da pluralidade de
a propaganda pode simplificar infor- decisões com base sobretudo em emo- (Os textos sugeridos estão disponíveis em: vozes nas narrativas. Entender que
mações verdadeiras, utilizar meias ções. Ainda que isso seja em prol de educamidia.org.br/guia) todas as mídias têm linguagem pró-
verdades ou até desinformação. alguma boa causa, é importante refletir pria. Criar mensagens e argumentar
Quando apresentada de forma muito para tomar decisões conscientes. com respeito e empatia.

114   DO CONCEITO À PrÁtica 115


ACESSAR escolha um dos personagens (ou persona) para criar
perfis fictícios deles para uma rede social (Facebook,
Peça aos alunos que identifiquem grupos diferen- Instagram, Twitter etc.) e imagine como cada um
tes de pessoas que foram impactadas pela chegada deles faria o relato da chegada dos portugueses se
dos portugueses à terra que hoje conhecemos como mídias e história
contasse com esta tecnologia no ano de 1.500. Caso
Brasil, como comandantes e navegadores, povos Os relatos que temos da
o grupo não tenha acesso à internet, as postagens
indígenas, representantes da Coroa portuguesa, época das navegações che- podem ser simuladas em cartazes. Ao produzirem
garam a nós através de cartas
população portuguesa etc. Incentive-os a pesqui- ou diários dos navegado-
conteúdo, os alunos terão de:
res portugueses, ou então
sar o contexto econômico, social e cultural em que registros (textos e imagens)
viviam esses grupos. Com os resultados da pesquisa de expedições científicas;
Refletir sobre o ponto de vista de cada persona-
e seu material didático, eles devem escolher perso- ao contrário de hoje, grande gem ou persona, exercitando a empatia;
parte das pessoas que
o que são personas? nagens ou criar personas, ou então você lhes oferece testemunharam os aconteci-
Levar em conta o contexto econômico, social e
Persona é um personagem uma lista de possíveis personagens para a atividade. mentos, como os marinheiros cultural deles;
ou os indígenas, não tinha
fictício que representa algum
como registrá-los. Mais tarde,
Usar linguagem e formato mais adequados a cada
grupo, comunidade ou
mesmo costume que quere- ANALISAR pinturas históricas, geral- plataforma para que a história seja bem contada.
mente encomendadas por
mos retratar. Para construir-
nobres ou reis, retrataram
mos uma persona, podemos
juntar características de Em grupos, os alunos deverão analisar como cada um tais acontecimentos de forma Criados os perfis e ilustrados com algumas pos-
heroica e romantizada. Assim,
vários indivíduos de deter-
dos personagens (ou personas) teve sua vida modificada a falta de acesso aos meios de
tagens, peça aos alunos que imaginem diálogos entre
minado grupo ou contexto,
sem precisarmos encontrar pela chegada dos portugueses, procurando responder: criar e fazer circular histórias os personagens para promover um debate respeitoso
excluiu muitas vozes e ver-
uma pessoa real (que ainda
sões dessas narrativas. Hoje,
de ideias.
existe ou existiu no passado).
a democratização das ferra-
É possível, por exemplo, cons- Quem mais ganhou com o episódio? Por quê? E mentas e espaços para criar
truir uma única persona que
quem mais perdeu? Por quê? e publicar conteúdo alterou
  Caso realize essa atividade nas redes sociais, é
sintetize as características dos
moradores de Lisboa à época Quais eram as mídias disponíveis na época para esse cenário. Blogs, rádios, importante criar um grupo fechado para a turma,
podcasts e redes sociais dão
das grandes navegações
fazer esses relatos? cada vez mais voz a parcelas
respeitando a privacidade dos alunos e evitando que
em vez de encontrar uma
pessoa específica que real- Quem teve mais oportunidades de relatar essa his- da população até então sub- surjam comentários de pessoas desconhecidas.
-representadas, como grupos
mente tenha vivido naquele
momento. O uso de personas
tória? Por quê? indígenas ou comunidades

é comum no marketing e Que vozes foram impedidas de contar essa história? periféricas. REFLETIR
na publicidade para entender
as características e anseios de
Por quê?
tipos de clientes diversos. Como e por que diferentes pessoas interpretaram Uma das principais consequências do advento das
o mesmo acontecimento de forma diferente? redes sociais é sem dúvida a oportunidade de comu-
nidades antes silenciadas encontrarem audiência. O
CRIAR acesso a um simples celular pode dar voz a grupos
antes ausentes dos meios de comunicação, ou repre-
É hora de compreender melhor os diferentes pon- sentados apenas por estereótipos. Explore projetos
tos de vista de uma história. Peça a cada grupo que como @midiaindiaoficial e Rádio Yandê, e discuta:

116   guia da eDUCAÇÃO MIDIÁTICA   DO CONCEITO À PrÁtica 117


qual é a importância de que todos os grupos sociais
possam se expressar com sua própria voz e seu próprio
ponto de vista? Que impactos isso pode ter no com-
bate a preconceitos e na promoção de justiça social? A
história pode ser contada de um único ponto de vista?

DA COMPREENSÃO À Ação
“Ao discutirmos identidade e diversidade,
Os alunos já devem ter percebido a importância de
empatia e poder contar sua própria história. Que vozes estão vamos analisar ilustrações em textos literários,
consciência social
ausentes na comunidade escolar? Como podemos games e embalagens de brinquedos, levando
Atividades que estimulam os
alunos a conhecer e analisar
dar espaço a elas? Peça que selecionem algum grupo os alunos a refletir sobre representação.”
diferentes pontos de vista de específico, como funcionários da manutenção, alu-
uma mesma situação ajudam
a desenvolver uma impor-
nos LGBT, cadeirantes ou outro, e entrevistem essas publicidade   leitura de imagens   representação   preconceito
tante habilidade socioemo- pessoas para que elas possam contar suas histó-
cional: a empatia, ou seja, a
capacidade de se colocar
rias. Combinem retratos e frases na primeira pes-
no lugar do outro. Ao serem soa e publiquem o resultado em murais, cartazes, Ler objetivo curricular Explorar as
expostos a novas formas de
ver as coisas, os alunos não só
Instagram ou outra rede social. noções de identidade e alteridade.
ampliam seu repertório sobre habilidades Análise crítica da mídia.
um determinado assunto
Objetivo midiático Analisar imagens
mas também têm a opor-
tunidade de refletir sobre REMIX segmento EF (Anos Iniciais) voltadas para o segmento infantil
privilégios, vozes não contem-
pladas em um debate, viés
em literatura, jogos e brinquedos, da
e até mesmo discriminação, Proponha o mesmo tipo de atividade para entender (Os textos sugeridos estão disponíveis em: perspectiva de “janelas” ou “espelhos”.
entre outras questões sociais
relevantes. Essa consciência
a alternância de pontos de vista em outros episódios educamidia.org.br/guia) Refletir sobre diversidade e sobre o
pode ser ainda um ponto de da história, como a abolição da escravidão. quanto os alunos se sentem repre-
partida para que se sintam
inspirados a agir e propor
Peça aos alunos que monitorem determinado sentados nas mídias que consomem.
mudanças reais para resolver assunto da atualidade nas redes sociais, analisando e Discutir o poder das mídias de crista-
injustiças ou outros proble-
mas de sua comunidade.
comparando os diferentes pontos de vista expressos. lizar imagens preconceituosas.
Observe iniciativas de jornalismo das periferias e
de outros grupos sub-representados e discuta o papel
do jornalismo comunitário ou especializado para uma
sociedade plural e inclusiva.

118   guia da eDUCAÇÃO MIDIÁTICA   DO CONCEITO À PrÁtica 119


ACESSAR pais, tem duas mães, veio de outro país, é sardento, é
canhoto etc.).
Traga para a sala de aula uma série de livros de lite- Como são retratadas as crianças nas embalagens
ratura infantil que mostram crianças em lugares e ou anúncios dos alimentos de que você gosta? E nas
realidades diversos. Busque mostrar personagens em embalagens ou anúncios de brinquedos? Alguma das
espelhos e janelas contextos urbanos e lugares longínquos, de grupos crianças se parece com você? Alguma é diferente?
Livros que refletem a iden- étnicos e culturais diferentes, com e sem necessida- Como as meninas aparecem nos brinquedos? E os
tidade das crianças – sua
cultura, estrutura familiar,
des especiais. Peça aos alunos que apontem persona- meninos? Você acha que meninas e meninos aparecem
raça, religião etc. – costumam gens cujas vidas ou características sejam parecidas fazendo as mesmas coisas?
ser chamados de “espelhos”.
Idealmente, permitem que
com as suas, e pergunte em que aspectos. Em seguida Questione clichês e preconceitos nos materiais: por
elas se vejam retratadas de peça que apontem personagens cujas vidas ou carac- exemplo, as meninas estão sempre brincando de casi-
forma reconhecível porém
complexa, sem estereótipos.
terísticas sejam diferentes das suas, e novamente nha? Os idosos são sempre frágeis e dependentes? Os
Servem também para apon- pergunte de que maneira. heróis podem ser cadeirantes? As famílias poderiam
tar possibilidades, ofere-
cendo caminhos e exemplos
ter dois pais?
diversos de realização pessoal   Caso não tenha acesso a uma coleção de livros
e profissional. É importante
que crianças de diversas
com essa variedade, utilize fotografias recortadas de Nossa coleção digital tem sugestões que você pode
etnias, gêneros ou habilida- revistas, anúncios, embalagens, imagens de filmes explorar, como exemplos de brinquedos e jogos que
des físicas possam conhecer
exemplos de pessoas como
etc., acesse bibliotecas digitais abertas, ou busque buscam refletir de forma mais adequada a diversi-
elas que fizeram coisas imagens na internet para representar a maior diver- dade humana e questionar preconceitos.
importantes.
sidade possível.
Já os livros que trazem um
olhar para mundos, culturas
CRIAR
e pessoas diferentes de nós ANALISAR
são denominados “janelas”,
pois despertam o olhar para
Peça às crianças que façam desenhos que celebrem a
universos desconhecidos. Eles De forma adequada à faixa etária, comece a explorar diferença. Ou então, peça que desenhem anúncios e
têm o poder de tornar mais
familiares pessoas de lugares,
os conceitos de diversidade, empatia e preconceito. embalagens de alimento ou brinquedo para que seja
raças, habilidades físicas ou Algumas perguntas que podem guiar a discussão: refletida a diversidade de pessoas que eles conhe-
lares diferentes, e afastar
preconceitos que se originam
Por que gostamos de ler histórias de crianças cem: de cores e raças diferentes, velhos e moços, altos
no desconhecimento. Com como nós? e baixos, portadores ou não de deficiência, casais
suas histórias, esses livros
ensinam as crianças de forma
Como uma criança pode se sentir se não encontra heterossexuais ou do mesmo gênero.
prazerosa a conviver tranquila alguém como ela nas histórias?
e respeitosamente com as
diferenças.
Pense em algumas das maneiras nas quais uma
criança pode ser diferente de outra. Quantas vocês
conseguem imaginar? (Estimule-os a listar algumas
características como: usa óculos, é cadeirante, usa apa-
relho de surdez, é muito alto, é muito baixo, tem dois

120   guia da eDUCAÇÃO MIDIÁTICA   DO CONCEITO À PrÁtica 121


REFLETIR BINGO CRIATIVO

O preconceito surge quando temos ideias erradas a


respeito dos outros e achamos que o que é diferente
de nós é ruim. A empatia acontece quando nos per-
Como oferecer voz e
mitimos descobrir a respeito do outro e nos colocar escolha aos nossos alunos?
em seu lugar. Peça às crianças que imaginem manei-
ras de combatermos o preconceito e nos aproximar
com carinho e sem julgamento daqueles que são A educação midiática abre a oportunidade de
diferentes de nós. oferecer voz e escolha aos alunos, envolvendo-os na
criação de mídias. Saiba como apoiar essas práticas.
DA COMPREENSÃO À Ação

Que tal tirar fotos das pessoas na comunidade escolar A expressão “menos giz e fala, mais voz roteiros, estratégias e mentoria ao
e criar uma campanha, com cartazes, celebrando e escolha” (em inglês, “less chalk and longo do percurso, de modo a guiar a
a diversidade? Crie um slogan com os alunos para talk, more voice and choice”) populari- investigação, a criação e a produção
celebrar o respeito pelas diferenças. zou-se como uma maneira de descre- de conteúdo, e garantir que os alunos
ver um aprendizado menos baseado atinjam os objetivos desejados – tanto
na entrega de conteúdo pelo profes- os curriculares como os da educação
REMIX sor, e mais centrado em processos midiática. É importante deixar claro
de investigação e criação conduzidos aos alunos o que é esperado, tanto em
Alunos mais velhos podem explorar o projeto pelo aluno, conforme seus interesses conteúdo como em execução.
Humanae, da artista Angélica Dass, disponível em e em percursos individualizados.
nossa coleção de recursos complementares. Por que Entre os objetivos da educação   Comece flexibilizando apenas um
a artista não se sentia representada em lugar algum? midiática estão estimular a autoex- aspecto do projeto, e aos poucos vá for-
Por que o seu projeto é uma resposta a isso? pressão qualificada e a participação talecendo a autonomia dos alunos.
Também com alunos mais velhos: uma sugestão é ética e responsável na sociedade – prá-
acessar a reportagem “O estudante que criou emojis ticas de investigação e criação de mídia Eis algumas maneiras de oferecer
africanos para mudar a narrativa da África da pobreza são, portanto, centrais a esses objeti- escolha:
para a beleza”, no site da CNN, e promover uma dis- vos, e o principal elo entre a educação
cussão sobre como a falta de diversidade pode estar midiática e a aprendizagem baseada Permita que os alunos escolham
escondida em diversos lugares. Onde mais encontra- em projetos – PBL (ver pág. 37). recortes diversos do mesmo assunto.
mos exemplos disso? Oferecer voz e escolha aos alunos, Essa estratégia é inspirada no jorna-
porém, não significa deixá-los desam- lismo: a partir da exploração de um
parados. O professor deve oferecer assunto, é sempre possível encontrar

122   guia da eDUCAÇÃO MIDIÁTICA 123


várias histórias e diferentes ângulos. Em cada opção, ofereça as orientações
Se estamos estudando a poluição por necessárias e indicações de ferramentas.
plástico, por exemplo, podemos contar
a história do plástico, falar sobre seus   Deixe que cada dupla ou grupo
efeitos na fauna marinha, explicar em escolha uma mídia diferente – o resul-
um infográfico a questão dos giros oce- tado será um rico panorama do tópico
ânicos ou entrevistar catadores de lixo. estudado em narrativa transmídia.
“Ao discutirmos o preconceito racial no Brasil,
Ofereça a escolha quanto ao pro- Flexibilize a escolha da audiência
duto final. O que é mais importante para o projeto. O produto final pode vamos identificar e acompanhar hashtags do
destacar na narrativa? Deixe que este assumir diversos formatos segundo o movimento negro, levando os alunos a refletir
entendimento guie a escolha do formato. público que queremos atingir. Os alu- sobre contexto e interpretações.”
Até uma mesma narrativa – por exem- nos devem pensar na maneira mais
plo, uma campanha pela diminuição do adequada de se dirigir a crianças ou redes sociais   curadoria   hashtags   mobilização
uso de plásticos – pode ser expressa em idosos, ao público interno da escola ou
formatos diferentes: vídeos, podcasts a alguma autoridade, e deixar que isso
ou posts nas redes sociais. Para limitar oriente a escolha do que vão criar. Ler   PARTICIPAR objetivo curricular Conhecer a his-
as possibilidades, uma boa estratégia é tória e as expressões atuais do movi-
utilizar um “menu de escolhas”, como habilidades Análise crítica da mídia. mento negro no Brasil. Discutir pre-
no exemplo do Bingo Criativo abaixo. conceito e racismo estrutural.
segmento EM
Objetivo midiático Observar o uso de
grupo 1 grupo 2 grupo 3
(Os textos sugeridos estão disponíveis em: hashtags e sua relação com movimen-
crie um mapa Crie um cartaz crie um infográfico
educamidia.org.br/guia) tos sociais. Observar o uso das mídias
Mostre algo relevante que Como você apresentaria sua Existem fatos ou dados
sociais para formar movimentos iden-
está acontecendo em mensagem em um car- impactantes? Destaque-os titários. Realizar curadoria de conteú-
algum lugar do planeta. taz? Que imagem ilustrará em um infográfico.
Adicione imagens e links. seu tópico?
dos, observando o tipo de informação.
ou ou ou

crie uma imagem crie quadrinhos crie um vídeo


interativa
Sua história tem persona- Use uma série de imagens
Coloque arquivos de áudio gens? O que eles diriam? para apresentar sua histó-
com explicações ou fatos rele- ria. Adicione texto, dados
vantes sobre uma imagem de ou narração.
fundo.

124   DO CONCEITO À PrÁtica 125


ACESSAR algo autoral como uma obra musical ou quadrinho.
Observem:
Em 2020, o assassinato de George Floyd nos EUA,
vítima de violência policial, reacendeu o movimento Quais conteúdos são mais informativos e quais
Black Lives Matter no país e em todo o mundo. No são mais pessoais ou opinativos? Qual a diferença
Brasil, o movimento se chama Vidas Negras Impor- entre ambos?
hashtags e
tam e teve a adesão de influenciadores, pensado- Entre tantos conteúdos, que critérios usaram para
mobilização res, ativistas e até times de futebol e marcas. O que decidir quais seriam melhores/mais relevantes?
A internet e, principalmente, permitiu a ampliação em escala global desses movi- Que alcance têm os links encontrados, isto é,
as redes sociais abriram novas
possibilidades de comuni-
mentos foi a utilização das hashtags #BlackLivesMat- quantidade de visualizações, curtidas ou compar-
cação, e as hashtags estão ter e #VidasNegrasImportam. Peça aos alunos que tilhamentos? Quais desses conteúdos viralizaram?
entre elas. Esses pequenos
símbolos tornaram muito
formem grupos e façam uma pesquisa na internet Por que acham que isso aconteceu?
mais fácil organizar ou con- utilizando essas hashtags. Qual é o significado da hashtag #VidasNegrasIm-
textualizar a informação, dar
voz aos cidadãos, mobilizar
portam? Por que os movimentos antirracistas são
e engajar ou mesmo fazer   Desenvolva o hábito da curadoria pedindo aos contra o uso de #todasvidasimportam?
denúncias. Muitos movi-
mentos que começaram
alunos que organizem os conteúdos mais interes-
com hashtags acabaram santes que encontrarem em mural digital (Padlet, um assunto, CRIAR
ganhando as ruas, como é o muitas vozes
caso do #BlackLivesMatter.
Wakelet etc.), documento compartilhado ou até no
As hashtags nos permitem
Em outros casos, hashtags bloco de notas do celular. filtrar e reunir uma variedade
Os alunos já devem ter descoberto que o uso das
ajudam a ampliar o alcance
dos movimentos locais.
de conteúdos que, juntos, hashtags na pesquisa nos permite ter uma visão
constituem uma parte sig-
Saiba mais sobre a história Se julgar necessário, complemente a pesquisa dos nificativa do diálogo social
complexa e bem abrangente dos assuntos. Proponha
e o papel das hashtags em
nosso site, e explore o plano
alunos com os materiais que reunimos em nossa cole- a respeito de determinado então que materializem essa pesquisa em um
assunto. Ao reunir notícias,
de aula “A força das hashtags” ção de recursos complementares para esta atividade. análises, opiniões, conteúdo
mural coletivo (em uma área visível da escola ou em
bit.ly/aforcadashashtags.
audiovisual, produções ambiente digital) para que outras pessoas possam
artísticas e até campanhas,
ANALISAR as hashtags nos permitem
fazer esse mergulho no tema. Proponha uma mis-
compreender os mais diver- tura de imagens, textos, títulos, frases que chamam a
sos temas em profundidade,
Em uma roda de conversa, peça aos alunos que expli- em várias vertentes, e seu
atenção, dados e estatísticas. Inclua fotos e um perfil
quem o que descobriram sobre o #VidasNegrasIm- impacto na sociedade. de alguns dos influenciadores importantes do movi-
portam: o que é o movimento, como surgiu, quem mento #VidasNegrasImportam.
está falando sobre ele, que campanhas ou ações
encontraram. Explorem também o que descobriram REFLETIR
sobre racismo estrutural.
Ao contar o que descobriram, os alunos também As hashtags nos permitem filtrar e reunir vários con-
devem dizer onde encontraram a informação: em teúdos que, juntos, constituem uma parte impor-
matéria jornalística, texto de opinião, campanha, ou tante do diálogo a respeito de determinado assunto

126   guia da eDUCAÇÃO MIDIÁTICA   DO CONCEITO À PrÁtica 127


na sociedade. São também catalisadores de movi-
mentos que ganham as ruas, impactam a sociedade
e geram transformação. Reflita com os alunos sobre
o papel dessas e outras hashtags recentes no Brasil
e no mundo.

DA COMPREENSÃO À Ação
“Ao discutirmos a pandemia de 2020, vamos
O termo racismo estrutural se refere a algo tão enrai-
zado na sociedade que muitas vezes não consegui- identificar textos sobre a covid-19 apresentados em
mos nem perceber gestos ou atitudes racistas. Que linguagens e formatos diferentes, levando os alunos
tal criar uma campanha nas redes sociais para ajudar a refletir sobre confiabilidade, técnicas e propósito.”
a esclarecer esse termo e apoiar mudanças pessoais
e sociais para combater o racismo? universo da informação   desinformação   confiabilidade

REMIX Ler   PARTICIPAR objetivo curricular  Compreender


os principais fatos no surgimento e
O combate ao racismo deve começar pela educa- habilidades  Análise crítica da mídia, propagação da pandemia da covid-19.
ção antirracista. Sugira aos alunos maiores que criem letramento da informação, cidadania Identificar o papel da informação no
livros, jogos ou aulas para ensinar aos menores o que digital. enfrentamento dos desafios sanitários.
é o racismo e que ele pode estar presente em nossas Observar o fluxo de informações da
falas e gestos diários. segmento  EF (Anos Finais) comunidade científica para o público
Hashtags que queremos: peça aos alunos que em geral.
identifiquem um problema na sua comunidade ou (Os textos sugeridos estão disponíveis em:
na sociedade em geral e criem hashtags para mobi- educamidia.org.br/guia) Objetivo midiático   Refletir sobre
lizar as pessoas. fontes e confiabilidade, e reconhecer
Crianças podem procurar exemplos de racismo fake news. Refletir sobre o impacto da
em jogos, brinquedos, ou nas relações estabelecidas desinformação na sociedade. Reconhe-
em nossa sociedade questionando preconceitos; pré- cer o papel de cada um no combate à
-adolescentes podem buscar exemplos de racismo desinformação.
velado ou estrutural em textos didáticos ou na lite-
ratura, e reescrever os capítulos ou cenas.

128   guia da eDUCAÇÃO MIDIÁTICA   DO CONCEITO À PrÁtica 129


ACESSAR Em sua opinião, o que leva as pessoas a compar-
tilhar informações errôneas ou pouco confiáveis? O
Em 2020, a pandemia do novo coronavírus trouxe que podemos fazer, individualmente, para combater
um novo desafio: como manter o público informado a desinformação?
nem falso, e divulgar as medidas de prevenção de uma doença
nem verdadeiro
ainda desconhecida? Apresente aos alunos uma CRIAR
Fake news são informações
falsas criadas com a intenção
série de afirmações sobre o coronavírus (você pode
de enganar. Em vários casos consultar algumas sugestões na página de recursos ATIVIDADE 1 Peça aos alunos que organizem em uma
imitam o visual de veículos de
comunicação estabelecidos
complementares deste Guia), e peça que avaliem, em linha do tempo as principais descobertas científicas
para tentar “pegar carona” grupos, se são falsas ou não. PRATICANDO A sobre a doença, relacionando-as com informações
em sua credibilidade. Mas LEITURA REFLEXIVA
nem toda desinformação
nas mídias: notícias publicadas, orientações para o
É importante que as crian-
é necessariamente fake   Enquanto os alunos pesquisam, estimule o ças aprendam, desde cedo,
público divulgadas por órgãos oficiais e outros.
news – há outros casos que
podem acabar resultando
dabate sobre a origem e autoria das informações que a interrogar o que leem; veri-
ficar a veracidade das infor-
em confusão mesmo sem encontraram (ver ferramentas para explorar confia- mações; entender a diferença
ATIVIDADE 2 Apresente aos alunos o relatório sobre o
ter o propósito de nos iludir,
como: sátira que é levada ao
bilidade na pág. 83). entre mensageiro e fonte; coronavírus em que a Organização Mundial da Saúde
reconhecer preconceitos
pé da letra; títulos imprecisos;
implícitos que carregamos
(OMS) chamou de “infodemia” o excesso de informa-
conteúdo sensacionalista
que quer ganhar com o
Se julgar necessário, ofereça para pesquisa alguns e a rejeitar posição e popu- ções, nem sempre confiáveis, a que estamos expostos.
laridade como indicadores
nosso clique; erro jornalís- dos materiais disponíveis em nossa coleção de recur- de confiabilidade.
Peça-lhes que criem, em grupos, uma campanha de
tico (não é proposital e tem
alguém que responde por
sos digitais. esclarecimento para a comunidade escolar sobre os
ele, como o próprio repór- perigos da desinformação na área da saúde.
ter ou o veículo em que ele
trabalha); opinião confun-
ANALISAR
dida com fato etc. Saiba REFLETIR
mais sobre confiabilidade
em bit.ly/livecrerounaocrer,
Peça aos alunos que compartilhem suas conclusões
e explore o plano de com toda a turma. Estimule os times a discutir: A qualidade das informações que circulam na socie-
aula “Muito Além das
Fake News” em bit.ly/
dade é essencial para tomarmos as melhores deci-
muitoalemdasfakenews. Que critérios utilizaram para determinar se a sões. Em certas situações, como emergências sani-
mensagem é falsa ou verdadeira? Em sua opinião, tárias ou desastres naturais, o acesso à informação
que elementos mostram que a mensagem é confiá- pode ser literalmente vital. Organize um debate
vel? E quais nos dão motivo para desconfiar dela? sobre os paralelos entre acesso à saúde e acesso à
O que perceberam sobre as informações em cir- informação. Pergunte: o que podemos fazer, indivi-
culação sobre o coronavírus? De onde elas vêm? dualmente, para ajudar a combater a desinformação?
Se a doença ainda está sendo estudada, com
novas e frequentes descobertas, qual seria o melhor
meio para recebermos as informações mais atuais e
confiáveis?

130   guia da eDUCAÇÃO MIDIÁTICA   DO CONCEITO À PrÁtica 131


DA COMPREENSÃO À Ação CRIAR PARA APRENDER

Ao compreender o próprio papel no combate à desin-


formação, seus alunos podem tornar-se agentes da
educação midiática de maneira respeitosa e empá-
Como mobilizar a criação
tica. Sugira a criação de posts, selos ou figurinhas de mídias em prol do
aprendendo a
ler a informação
para os diferentes tipos de conteúdo que causam
desinformação (categorias sugeridas: fake news, aprendizado significativo?
Grande parte da discussão
gerada pelas informações
sátira, opinião, título incompleto ou impreciso,
que circulam na socie- conteúdo sensacionalista, fora de contexto). Essas Ao criar uma peça de mídia que atenda às
dade vem da nossa própria
imagens podem ser utilizadas nas redes sociais ou
incapacidade de discernir
adequadamente os tipos de em uma ação em grupos de mensagem para alertar expectativas de aprendizagem do currículo escolar,
informação. Discuta com seus
alunos a importância de ler
amigos e familiares das confusões que podem ser o aluno pode também desenvolver algumas habilidades
corretamente as mensagens causadas não só pelas fake news. essenciais da educação midiática: o letramento da
que recebemos para enten-
der as nuances que estão
além do falso e verdadeiro.
informação, a autoexpressão e a fluência digital.
Não basta impedir a circula-
ção de fake news; é preciso
REMIX
impedir também a propaga- O aprendizado mais consistente é realidade ao redor e assim proporcio-
ção de mensagens duvidosas,
incompletas, tendenciosas ou
Identifique diferentes tipos de desinformação aquele desenvolvido por meio de expe- nando um aprendizado mais profundo
maliciosas. relacionados a outros temas do currículo. riências ativas de investigação e cria- e significativo. Descobrir o que interessa
Alunos dos anos iniciais podem explorar o que são ção. O século 21 traz novas oportunida- contar, e como, oferece ao aluno a opor-
informações e fontes confiáveis observando a dife- des para essas práticas, mas também tunidade de praticar o pensamento crí-
rença entre humor e sátira, presentes por exemplo novos desafios: precisamos adquirir tico e aprender a lidar com o universo
em memes e programas do YouTube, e informações as habilidades necessárias para aces- da informação.
verificadas. sar, analisar, construir e comunicar
Proponha a criação de um grupo permanente de conhecimento de forma adequada e   A criação de mídias como prática
detetives ou investigadores de informações cientí- responsável em contextos de hipera- escolar permite: ensinar as habilidades
ficas (você pode se inspirar no projeto Hoaxbusters bundância de informações. do século 21; praticar o pensamento crí-
criado pelo professor Estevão Zilioli, disponível em Integrar a criação de mídias à prática tico de ordem elevada; engajar-se com o
nossa coletânea de recursos complementares). cotidiana significa desenvolver o hábito mundo além da sala de aula; desenvol-
de fazer perguntas e o mindset jornalís- ver as habilidades midiáticas.
tico – não apenas para noticiar aconteci-
mentos, mas sobretudo para investigar Para que esta estratégia seja bem-suce-
causas, relações, impactos e desdobra- dida, no entanto, é necessário ampliar
mentos, ligando o conteúdo escolar à o hábito de consumo e decodificação

132   guia da eDUCAÇÃO MIDIÁTICA 133


de textos diversos, bem como a condu- leque de formatos nos quais recebe- e sustentá-lo com evidências e dados de mídia. Leve-os a estabelecer rela-
ção deliberada e sistemática das etapas mos informações e, portanto, as formas obtidos em fontes qualificadas. Só então ções entre estes formatos: se uma his-
de investigação e produção. Eis algu- como podemos nos expressar. Saber passe à produção propriamente dita. tória tem personagens e suas emoções
mas boas práticas que podem ajudar: ler e decodificar minidocumentários, são importantes, proponha um docu-
visualizações de dados, imagens inte- Pratique o pensamento visual. mentário com entrevistas; se há mui-
Saia do livro didático. Utilize con- rativas e até conteúdos em realidade Rabiscar ideias em papel é a primeira tos dados e fatos a destacar, talvez um
teúdos reais de vários contextos (jorna- virtual depende de exposição intencio- etapa, e talvez a mais importante, do infográfico seja a melhor solução (ver
lismo, entretenimento, mídias sociais nal e mediada a esse tipo de conteúdo. processo criativo. Um simples rascu- Bingo Criativo na pág. 123).
etc.) e adote a prática cotidiana de nho, sem muita sofisticação, ajuda a
decodificação de mídias para estimu-   Apoie as etapas de investigação e visualizar o que se quer contar, e como, Organize o fluxo de produção.
lar a leitura reflexiva de textos, vídeos, criação de conteúdo. Antes de produ- além dos insumos necessários. Detalhar as etapas do processo de
imagens e até gráficos e mapas. zir qualquer coisa, é essencial saber o produção ajuda a garantir o sucesso da
que queremos contar. Use um roteiro Ofereça escolha criativa. Permita tarefa e a qualidade do produto final.
Amplie o repertório. O mundo da para ajudar o aluno a descobrir novas que os alunos escolham recortes dife- Utilize a tabela abaixo, ou considere
comunicação digital abriu muito o perguntas, construir seu argumento rentes do mesmo assunto, ou formatos usar um checklist para apoiar o aluno.

planejamento execução

planejar coletar organizar criar produzir publicar


O que você quer mostrar Encontre todos os elementos Organize todos os elementos Crie imagens, clipes ou Monte o seu design / Veja uma prévia e publique,
e como? Faça rascunhos. (texto, imagem, som) que em uma pasta em seu áudios originais. vídeo / poster etc. ou gere a imagem final.
você quer usar. computador.

134 135
forma × função

Como escolher o melhor


formato narrativo?
Ao planejar a criação de uma narrativa, pergunte a uma “Ao discutirmos a Segunda Guerra Mundial,
história como ela quer ser contada. É isso mesmo: reflita vamos comparar fotografias originais e colorizadas,
sobre seus elementos centrais e sua intenção ao contá-la, levando os alunos a refletir sobre o contexto das
e então você conseguirá escolher o formato ideal. imagens e o propósito e impacto das intervenções.”
leitura de imagens   edição   narrativas visuais
A sua história precisa mostrar núme- personagens, vídeos com entrevistas
ros? Use visualização de dados. Os ele- trarão a conexão emocional com eles.
mentos de tempo ou espaço são impor- Use a tabela abaixo para se inspirar, Ler Discutir a
o b j e t i vo c u r r i c u l a r
tantes? Linhas do tempo e mapas são observando se o seu leitor poderá ou Segunda Guerra Mundial e seu impacto
a solução. Mas se a sua história tem não interagir com o conteúdo. habilidades Análise crítica da mídia. humano. Analisar documentos históri-
cos do Holocausto. Refletir sobre desu-
segmento EM manização e genocídios.
Explorar dados Visualizações interativas
Consumo ativo

Localizar histórias no espaço Mapas


(Os textos sugeridos estão disponíveis em: Objetivo midiático Explorar docu-
educamidia.org.br/guia) mentos e fontes primárias. Analisar
Localizar histórias no tempo Timelines imagens históricas recriadas por uma
artista e refletir sobre empatia ou rejei-
Reunir conteúdo em diversas mídias Apresentações interativas
ção que a edição da imagem pode cau-
Apresentar fatos e dados de modo claro e sucinto Visualização de dados / infográfico
sar. Reconhecer o potencial narrativo
da edição de imagens.
Consumo passivo

Explicar conceitos complexos de forma visual Animações / quadrinhos /


videoexplainers

Contar histórias com predominância de texto Ebook

Contar histórias com personagens Vídeo


e criar conexão emocional

136   DO CONCEITO À PrÁtica 137


ACESSAR campo de concentração em Auschwitz em dezembro
de 1942, com cabelos cortados, uniforme de prisio-
Peça aos alunos que examinem a fotografia “Pilhagem neira e ferimentos nos lábios causados por um guarda.
alemã armazenada na Igreja de Elligen” no site da O que acontece quando olhamos a foto colorizada?
artista Marina Amaral e escolham a versão “compa- Segundo a artista, a colorização nos faz reconhecer
fotografia e rar”. Ofereça apenas a versão em preto e branco; se os um ser humano como nós: “uma menina de 14 anos, e
objetividade
alunos não tiverem acesso ao site, projete a imagem, não uma mera estatística”. Com base na análise dessa
Muito se discute sobre foto-
grafia e objetividade: será que
ou distribua uma versão impressa. Conduza uma imagem, discuta com os alunos os impactos humanos
uma foto pode ser neutra, ou observação minuciosa com algumas perguntas: o da Segunda Guerra Mundial e do Holocausto.
totalmente objetiva? Todas as
fotografias existem na escala
que você vê? O que pode deduzir a partir do que vê?
entre o totalmente docu- Como você se sente vendo esta imagem, e por quê? edição e manipulação CRIAR
mental e o completamente
autoral e artístico. Se por um
Que outras perguntas surgem ao observar a imagem? Atualmente, softwares
poderosos de manipu-
lado a fotografia representa
lação de imagens estão
Peça aos alunos que escrevam crônicas ou reporta-
um momento real no tempo
capturado em imagem,
  Para conduzir esta atividade, explore a Matriz VPI, presentes até nos nossos gens baseadas nas imagens colorizadas. Eles devem
dispositivos pessoais. O que
por outro o mero ato de rotina de pensamento visual, descrita na página 103. antes só estava ao alcance
relatar os acontecimentos como se os estivessem
fotografar já traz em si uma
série de opções: o ângulo e
de profissionais altamente presenciando. Oriente-os a descrever os detalhes nas
especializados, que retoca-
a composição da foto, o que Após a discussão sobre a imagem, peça aos vam fotos de modelos ou
imagens que podem ajudar a tornar aquele aconte-
foi incluído e o que ficou de
fora, até mesmo a escolha
alunos que deslizem a seta para revelar a imagem cenários para melhorá-las cimento histórico mais vívido.
para publicação, hoje pode
do horário, da luz e da lente colorizada (ou projete/distribua a versão colorida). ser feito com alguns cliques
reflete escolhas subjetivas do
autor que podem impactar a
O que mudou na percepção e nos sentimentos dos no celular. Mas há uma linha REFLETIR
tênue entre o “melhorado”
nossa percepção. O fotógrafo alunos ao observarem a versão colorida? Repita o e o “enganoso”: se não há
berlinense Luke Marshall
Johnson resumiu assim:
processo com as fotos “Hiroshima depois da bomba” mal algum em melhorar a luz A desumanização de grupos inteiros é o que está por
das nossas fotos, ou apagar
“Uma fotografia retrata um e “Homens do 16° Regimento de Infantaria desem- algumas imperfeições em
trás de genocídios em diversos momentos históricos,
breve momento da realidade
histórica objetiva, ainda que
barcam em Omaha Beach”. nossa pele, quando levado muitas vezes sem contestação por parte das popula-
ao extremo essa prática pode
do ponto de vista inerente-
nos prender a padrões irreais
cões locais ou até mesmo sem mobilização da opinião
mente subjetivo do fotógrafo".
ANALISAR de beleza. A manipulação de global. Por que é importante reconhecermos a dimen-
imagens pode servir a propó-
sitos artísticos, como vimos
são humana dos acontecimentos históricos, sobre-
Reflita com os alunos sobre imagens e empatia. Será nesta atividade, ou pode ter tudo dos episódios de exclusão ou violência étnica?
a intenção de enganar, adul-
que conseguimos nos envolver com acontecimentos terando cenas ou até mesmo
Além das fotografias, que outros documentos
históricos representados em fotos antigas ou pintu- inventando situações que podem nos ajudar a ter essa compreensão? Discuta
nunca existiram, para alimen-
ras? Existe nelas algo que nos faz sentir mais próximos tar fake news ou teorias da
o papel de projetos mais autorais do que reportagens
das pessoas ali retratadas? Por que isso é importante? conspiração. jornalísticas, como documentários, relatos pessoais
Volte a acessar o trabalho de Marina Amaral e apre- ou criações artísticas. Qual é o papel de cada uma
sente então os retratos de Czeslawa Kwoka, uma ado- dessas linguagens no registro histórico? E na mobi-
lescente polonesa, feitos depois de ter sido levada ao lização contra a violência ou injustiças?

138   guia da eDUCAÇÃO MIDIÁTICA   DO CONCEITO À PrÁtica 139


DA COMPREENSÃO À Ação

A fotografia documental ajuda a humanizar e “dar


rosto” aos problemas sociais. É um importante ins-
trumento pelo qual percebemos e entendemos o
impacto dos movimentos históricos e das nossas
decisões enquanto sociedade. Identifique com seus
alunos um problema global ou local – como falta de “Ao discutirmos o consumo e seus impactos
habitação, descarte de lixo ou degradação urbana – e
construa um projeto de fotojornalismo para mobili- econômicos e socioambientais, vamos analisar
zar a sua comunidade, dando ênfase aos personagens anúncios em diferentes formatos e criar um podcast,
impactados por aquela questão. levando os alunos a refletir sobre propósito e
impacto das mensagens publicitárias.”
REMIX publicidade   propaganda   universo da informação

Utilize a técnica da leitura de imagens para iniciar


unidades de estudo em qualquer disciplina, sempre Ler   ESCREVER   PARTICIPAR objetivo curricular Compreender e
oferecendo imagens que possam despertar a curio- analisar o conceito de consumo cons-
sidade dos alunos e levá-los a novas indagações. habilidades Análise crítica da mídia, ciente. Entender como o consumidor
Explore coleções abertas de fotografias históri- letramento da informação, participa- pode influenciar o mercado para que
cas, disponíveis nos sites dos principais museus do ção cívica. apoie praticas sustentáveis.
mundo, e peça aos alunos que façam releituras pesso-
ais para documentar o seu aprendizado de um tema segmento EM Objetivo midiático Analisar diferen-
curricular, utilizando técnicas como colagem, pin- tes formatos de publicidade, princi-
tura sobre fotografia e outras interferências gráficas. (Os textos sugeridos estão disponíveis em: palmente no ambiente online. Identifi-
educamidia.org.br/guia) car anúncios e conteúdo patrocinado.
Compreender a linguagem e as técnicas
empregadas em anúncios publicitários.
Refletir sobre o papel ativo do consumi-
dor nas redes sociais.

140   guia da eDUCAÇÃO MIDIÁTICA   DO CONCEITO À PrÁtica 141


ACESSAR A primeira parte da discussão deve ser sobre a
publicidade, seus formatos e técnicas. Peça aos alu-
Promova uma conversa entre os alunos sobre a nos que analisem o material coletado e observem:
maneira pela qual eles ficam sabendo de novos produ-
a publicidade hoje tos ou serviços e sobre a possibilidade de verificarem de quem é a dica? O que essa mensagem quer transmitir?
Foi-se o tempo em que os se suas marcas favoritas contribuem positivamente Diversas pessoas, além Está claro que a mensagem é um anúncio?
anúncios e classificados da própria marca, podem
tinham local próprio e bem
para a sociedade. Introduza a noção de consumo sus- influenciar nossas decisões
A quem se destina o anúncio (público-alvo)? Jovens,
identificado em jornais e tentável em suas dimensões sociais e ambientais. de consumo, com diferentes adultos, homens, mulheres? Como sabemos disso?
revistas. Novos modelos de graus de alcance ou credi-
publicidade têm surgido,
Solicite aos alunos que anotem todos os anúncios bilidade. Celebridades do
O conteúdo foi produzido por alguma empresa ou
principalmente no ambiente publicitários vistos por eles ao longo de um período mundo do entretenimento marca? Ou por alguém dizendo que fala sobre a marca?
online, e nem sempre é ou dos esportes, por exemplo,
evidente para o público que
pré-definido (uma semana, por exemplo). Valem podem ser contratadas como
Se é alguém falando sobre a marca, quem é essa
aquele é um conteúdo enco- anúncios na rua (outdoors, laterais de ônibus, placas porta-vozes de produtos ao pessoa? Por que ela tem autoridade e credibilidade?
mendado por empresa ou participar de anúncios ou
marca com o intuito de nos
etc.), veiculados em rádio ou TV e mesmo conteúdo campanhas. Influenciadores
É possível saber se ela está sendo paga por isso?
convencer a comprar algo. patrocinado em redes sociais ou canais de persona- digitais são pessoas com
Nas redes sociais, influencia- grande audiência nas redes,
dores promovem produtos
lidades e influenciadores. e portanto grande poder
Discuta então com os alunos se os anúncios e
e nem sempre deixam claro de influência. Muitas vezes demais mensagens publicitárias descrevem vanta-
que foram pagos para isso – ganham para promover um
em alguns casos o post pode
ANALISAR produto, mas nem sem-
gens para o consumidor (ficará mais saudável, mais
até ter uma identificação, pre isso fica muito claro. bem informado, mais bem-apessoado etc.); atributos
como #publicidade, mas é Jornalistas e especialistas
pouco visível. Outro formato
Reúna o material coletado em um mural digital ou citados por eles são capazes
do produto (velocidade, eficácia na limpeza etc.); ou
é o conteúdo patrocinado na sala. O que os alunos observaram? Conseguiram de fazer avaliações qualifica- valores (ecologicamente responsável, socialmente
(branded content ou publie- das do produto ou serviço, e
ditorial), em que um produto
identificar diversos tipos de publicidade? Se neces- com muita credibilidade, já
justo ou desenvolvido sem crueldade com os ani-
é apresentado em formato sário, inclua no material anúncios de produtos e que não ganham nada por mais). O que tem mais peso na sua escolha de serviços
jornalístico, dentro de uma isso. Finalmente, podemos
narrativa cujo propósito é ali-
serviços em diferentes formatos, veiculados em ser influenciados também
ou produtos? Como nossas escolhas de consumo
nhar a marca ao estilo de vida mídias tradicionais, como anúncios de TV, de revis- por pessoas conhecidas, em podem impactar o meio ambiente e a sociedade?
ou interesse do seu público. cuja opinião confiamos. É
Nestes casos, o risco é ter o
tas ou jornais impressos, ou em mídias digitais, como essencial sabermos identi-
publieditorial confundido vídeos do YouTube. Apresente também novos forma- ficar se alguém está sendo CRIAR
com uma reportagem do pago para nos indicar algo e
veículo. O ideal é que todos
tos publicitários, como posts de influenciadores ou assim podermos tomar deci-
esses formatos patrocina- publieditoriais (veja ao lado). É importante que sua sões informadas. Após refletir sobre consumo e publicidade, peça aos
dos tenham identificação
ostensiva.
coleção inclua produtos que anunciam valores como alunos que criem um podcast para expor suas prin-
sustentabilidade social e ambiental. cipais descobertas. Sugira que entrevistem colegas e
funcionários da escola. Poderão utilizar algumas das
  Se desejar, utilize os exemplos diversos de publi- perguntas propostas nesta atividade.
cidade explícita ou velada na coleção de recursos
complementares em nosso site.

142   guia da eDUCAÇÃO MIDIÁTICA   DO CONCEITO À PrÁtica 143


REFLETIR

Na era das mídias sociais, não só as marcas podem


se comunicar com seus consumidores, mas o inverso
também é verdade. Como nós, consumidores, pode-
mos dialogar com nossas marcas favoritas pressio-
nando-as para que suas ações sejam mais susten-
de consumidor táveis ou elogiando boas iniciativas? De que forma “Ao discutirmos o emprego informal no Brasil,
a divulgador
os influenciadores, celebridades ou especialistas
Ao darem voz aos consumi-
podem contribuir para o consumo sustentável? vamos analisar gráficos e criar um artigo de
dores, que podem postar
comentários nas páginas de opinião, levando os alunos a refletir sobre a
lojas ou em seus próprios
espaços digitais, as redes
DA COMPREENSÃO À Ação credibilidade e o impacto dos dados.”
sociais alteraram bastante
o universo do marketing. Se
antes a marca anunciava
O consumo consciente também passa por enten- Leitura de dados   visualização de dados   fontes
seu produto ou serviço para der quando estamos sendo influenciados a comprar
grandes audiências, rela-
cionando-se com elas de
algo. Que tal lançar uma campanha em prol de mais
modo unilateral, hoje o foco é transparência nos anúncios publicitários? Os alunos Ler   ESCREVER   PARTICIPAR objetivo curricular Compreender a
oferecer algo de valor para o
consumidor, seja no próprio
podem atuar na conscientização dos seus influen- evolução do trabalho informal no país
produto, seja na forma de ciadores favoritos incentivando-os a sempre deixar habilidades Análise crítica da mídia, ao longo das últimas décadas e o res-
conteúdo relevante, e estabe-
lecer um diálogo com o seu
claro se estão promovendo algum produto, marca ou letramento da informação, autoex- pectivo contexto econômico, político
público. Ao oferecer conte- serviço para fins comerciais (ganhando dinheiro ou pressão, participação cívica. e social.
údo, por exemplo na forma
de posts ou blogs, a marca
recebendo o próprio produto gratuitamente).
cria engajamento e uma segmento EF (Anos Finais); EM Objetivo midiático Analisar narrativas
relação duradoura com o seu
cliente, que se aproxima por
com dados e praticar a leitura reflexiva
interesse próprio. A situação REMIX (Os textos sugeridos estão disponíveis em: de dados e infografia. Compreender
mais desejável é a marca já
não precisar divulgar as suas
educamidia.org.br/guia) como a informação bruta vinda de
qualidades – o próprio cliente Os alunos podem criar uma campanha de utili- tabelas ou gráficos é utilizada na cons-
acaba fazendo isso em suas
redes, o que tem muito mais
dade pública para explicar como identificar conteúdo trução de narrativas (reportagens, arti-
credibilidade. jornalístico ou publicitário. gos de opinião, propaganda, campa-
Que tal criar uma exposição na escola mostrando nhas de utilidade pública etc.). Refletir
atitudes sustentáveis por parte da indústria (como sobre confiabilidade.
utilização de embalagens recicláveis, reflorestamento
ou comércio justo)?

144   guia da eDUCAÇÃO MIDIÁTICA   DO CONCEITO À PrÁtica 145


ACESSAR CRIAR

Apresente aos alunos dados do Instituto Brasileiro de Peça aos alunos que, com base nos dados analisados,
Geografia e Estatística (IBGE) sobre trabalho informal escrevam, individualmente ou em duplas ou trios,
nos principais Estados do país (você pode consultar um artigo de opinião sobre a evolução do emprego
algumas sugestões em nossa coleção de recursos dos dados à história informal no Brasil e o impacto dessa realidade sobre
complementares). Busque incluir informações com Jornalistas, documentaristas os jovens. Dê-lhes a oportunidade de pesquisar mais
e organizações da socie-
recortes variados, como grau de informalidade por dade civil frequentemente
dados e informações confiáveis que podem ser apro-
gênero e por faixa etária da população e evolução se amparam em dados para veitados no texto. Para ajudá-los no processo de cria-
contar histórias importantes.
ao longo do tempo. Peça aos alunos que explorem Discuta com os seus alunos a
ção, conduza uma reflexão sobre:
as tabelas, gráficos e textos do próprio instituto e diferença entre dados brutos
incluídos em pesquisas ou
anotem quais são, em sua opinião, as informações relatórios e reportagens ou
Qual é a função dos dados do IBGE em textos
mais importantes. outros formatos, como char- opinativos?
ges e memes, criados com
base nesses mesmos dados.
Que grau de liberdade tem o autor de um texto
ANALISAR Proponha um exercício com- opinativo? Por quê?
parativo entre linguagens,
formatos, técnicas e propósito
Que técnicas ele pode usar para convencer o leitor
Divida a turma em grupos e peça que compartilhem de todo tipo de informação. sobre o seu ponto de vista?
com os colegas suas anotações sobre as principais
de onde vem a notícia? informações obtidas dos dados oficiais do IBGE. O que REFLETIR
Organizações de pesquisa os dados sugerem? Há movimentos ou tendências
da sociedade civil e dife-
rentes órgãos públicos
claros? Conseguem relacionar esses movimentos Dados confiáveis estão na base dos processos deci-
reúnem dados essenciais com o contexto histórico e econômico? Como jovens sórios da sociedade – mas o público em geral nem
para a nossa compreensão
da realidade, mas muitas
que entrarão no mercado de trabalho em poucos sempre consegue ler e interpretar dados e pesqui-
vezes pouco acessíveis por anos, como eles se sentem diante desse cenário? sas, e portanto nem sempre consegue acessar infor-
sua complexidade e volume.
O jornalismo tem o papel de
Eles devem também aproveitar o momento para mações relevantes. Conduza uma reflexão sobre a
coletar esses dados e outras discutir a fonte e a apresentação dos dados: importância das mídias para facilitar esse acesso,
informações confiáveis e
inseri-los no devido contexto
discutindo o papel do jornalismo e de outros agentes
para construir um relato O que sabemos sobre quem publicou os dados? como divulgadores científicos e ONGs.
sobre temas de relevo para a
sociedade. Assista à websé-
Por que o IBGE é considerado fonte oficial de
rie “Jornalismo: Conhecer informação sobre taxas de emprego e desemprego DA COMPREENSÃO À Ação
para Defender”, do Instituto
Palavra Aberta, para entender
no Brasil?
como as notícias chegam Que técnicas foram escolhidas para apresentar Que tal compartilhar com a comunidade o que você
até nós. Acesse em: bit.ly/
conhecerparadefender.
os dados? Tabelas, gráficos, texto? Em sua opinião, descobriu sobre emprego e trabalho no Brasil? Como
o que motivou essas escolhas? você pode ajudar os jovens que estão desemprega-
dos ou na informalidade? Uma ideia é ampliar e

146   guia da eDUCAÇÃO MIDIÁTICA   DO CONCEITO À PrÁtica 147


aprofundar a pesquisa e produzir uma campanha checklist
de utilidade pública (cartazes, posts em redes sociais,
mensagens de voz que podem ser compartilhadas
via WhatsApp etc.) com dicas práticas, informações
sobre os direitos dos trabalhadores informais, cursos
Como está a minha prática?
gratuitos na região, como melhorar a apresentação
do currículo. Para saber se sua aula contempla   Apresento aos alunos uma dieta
habilidades de educação midiática, informacional variada, estimulando-os
siga as perguntas abaixo. Elas funcio- a também buscar múltiplas fontes de
universo da REMIX nam como um checklist e são um bom informação no dia a dia?
informação
recurso para garantir que suas práti-
Reforce nos alunos o hábito
de refletir sempre sobre o
Adapte o roteiro de atividades para outros temas cas incluam estratégias para formar   Peço aos alunos que apresentem
tipo de informação que estão e disciplinas, explorando a construção de narrativas alunos que pensem criticamente, se evidências e dados que justifiquem sua
acessando (dados, infográ-
ficos, artigos de opinião,
com dados brutos. comuniquem de forma efetiva e sejam opinião sobre os temas curriculares?
reportagens etc.). Proponha a criação de narrativas audiovisuais cidadãos ativos.
sobre o cenário do emprego e do trabalho no Brasil   Permito aos alunos percorrer trilhas
após a pandemia do coronavírus, mesclando dados e   Ofereço um cardápio variado de diferentes de construção do conhe-
entrevistas com personagens reais (veja o exemplo de mídias que permita aos alunos estudar cimento, a partir da investigação de
uso de dados no vídeo “Desemprego, informalidade o tema curricular e também adquirir ângulos distintos de um mesmo tema?
e reforma”, do Catraca Livre, disponível em nossa ou aprimorar o pensamento crítico?
coleção de recursos complementares).   Encorajo os alunos a "ler além do
Explore outras maneiras de contar histórias a par-   Estimulo os alunos a fazer pergun- que está escrito", isto é, analisando o
tir dos dados, como por exemplo uma linha do tempo tas sobre as mídias e a interrogar as contexto, as vozes privilegiadas e as
relacionando taxas de emprego com acontecimentos informações que elas transmitem? negligenciadas das mensagens?
na sociedade e na economia .
  Abro espaço para que os alunos   Procuro aproximar a sala de aula da
questionem também a maneira como realidade dos alunos, com temas cur-
livros e outros materiais didáticos riculares condizentes com problemas
apresentam ideias, conceitos e pon- ou questões que mais os tocam?
tos de vista?
  Ajudo os alunos a praticar o ceti-
  Incentivo os alunos a se expressar cismo saudável em relação às mensa-
em diferentes linguagens e formatos gens das mídias para que fujam tanto
de mídia, ajudando-os a justificar suas da ingenuidade quanto da descrença
escolhas? generalizada?

148   guia da eDUCAÇÃO MIDIÁTICA 149


RUBRICAS DE AVALIAÇÃO Ao elaborar uma rubrica, prefira a abaixo é parte de uma rubrica cons-
maneira mais simples e clara de apre- truída para avaliação de um projeto
sentar aos alunos o que será avaliado de criação de mídias, e pode servir de
Como alinhar nossas e quais serão as escalas (ou níveis) de
desempenho consideradas. O exemplo
inspiração para você criar a que mais
faz sentido em seu contexto.
expectativas com as dos
alunos e avaliar as atividades rubrica Insuficiente básico intermediário avançado

com mais objetividade? Pesquisa


– Fontes
Incluiu mais
opiniões do que
Incluiu um
mix de fatos
Incluiu fatos,
conclusões e
Incluiu fatos
e conclusões
fatos. Não apre- e opiniões opiniões com extraídos de
Busca, análise
sentou evidên- respaldados em base em fontes fontes confiá-
É bem comum que, ao propor atividades e projetos de confiabili-
dade e seleção
cias para validar fontes confiáveis confiáveis, veis, deixando
as informações com informa- deixando clara claras não só a
que requerem habilidades próprias da educação das fontes de
informação
apresentadas ções e opiniões a origem da origem da infor-
ou selecionou extraídas de informação. mação como
midiática, como pesquisa, análise de confiabilidade mais adequadas
ao projeto.
informações fontes não as evidências
de fontes não confiáveis. de que se trata
ou criação de mídias, surja a pergunta: como devo confiáveis. de conteúdo
confiável.
avaliar meus alunos? Por diversas razões, as rubricas Incluiu opiniões
de especialistas
de avaliação são um bom caminho. reconhecidos.

Mídia A mídia esco- A mídia A mídia esco- A mídia esco-


As rubricas são ferramentas que per- objetivos da aprendizagem; – Apresentação lhida não tem escolhida tem lhida tem rele- lhida tem alta
o formato ade- relevância, mas vância e apoia relevância e ade-
mitem ao professor transmitir de Os aspectos da tarefa que serão Aderência ao
quado ao tema não apoia o con- o conteúdo do rência ao tema
tema e eficácia
maneira clara suas expectativas, e aos avaliados; da mídia esco-
do projeto ou teúdo do projeto projeto. e claramente
não é apropriada da melhor forma apoia o conte-
alunos visualizar com que objetivos Uma escala para descrever os dife- lhida para
ao público-alvo. possível, ou seja, údo do projeto,
o projeto.
devem trabalhar. Como as rubricas rentes níveis de desempenho possíveis; não é a melhor valorizando
escolha. e destacando os
também facilitam a autoavaliação, Descrição de cada um desses níveis. resultados obti-
alguns pesquisadores apontam que os dos pelo aluno.

alunos se sentem mais encorajados em Com esses elementos, outra vanta-


seu processo de aprendizagem. gem da rubrica é oferecer consistência
O formato e o conteúdo da rubrica e coerência à avaliação, pois de outra
variam de acordo com o tipo de tra- maneira ela poderia ser muito subje-
balho que será avaliado, mas alguns tiva. Envolva os alunos na criação das
componentes não podem faltar: rubricas ou convide-os a refletir coletiva-
mente sobre determinada rubrica antes
Descrição detalhada da tarefa ou de partirem para a execução da tarefa.

150 151
ANOTAÇÕES ANOTAÇÕES

152   guia da eDUCAÇÃO MIDIÁTICA   DO CONCEITO À PrÁtica 153


ANOTAÇÕES EducaMídia é o programa do Instituto Palavra Aberta,
criado com o apoio do Google.org, para capacitar e
engajar a sociedade no processo de educação midiática
dos jovens, desenvolvendo seus potenciais de comuni-
cação nos mais diversos meios.
Com a missão de promover a liberdade de expres-
são, a liberdade de imprensa e a livre circulação de
informação como pilares fundamentais para o desen-
volvimento de uma sociedade forte e democrática, o
Palavra Aberta acredita que o indivíduo bem infor-
mado e educado midiaticamente terá uma participa-
ção mais ativa e responsável, podendo assim exercer
plenamente a cidadania.
Para conhecer mais sobre o Instituto Palavra
Aberta, acesse www.palavraaberta.org.br

Conselho Consultivo Equipe Apoiadores

Alexandre Le Voci Sayad Daniela Machado

Antônio Gois Daniela Ramos

Claudia Costin Elisa Thobias

Cristina Helena Pinto de Mello Mariana Mandelli

Ismar de Oliveira Soares Mariana Ochs

João Alegria Patricia Blanco

Vera Iaconelli Saula Ramos

154   guia da eDUCAÇÃO MIDIÁTICA 155


referências bibliográficas Artigos e Documentos

Este Guia não é um trabalho acadêmico. As referências BRASIL, MEC. Base Nacional Comum Curricular – BNCC,
abaixo têm o propósito de contextualizar argumentos versão aprovada pelo CNE, novembro de 2017.
e afirmações apresentados ao longo do livro e são tam- Disponível em: basenacionalcomum.mec.gov.br/
bém sugestões das autoras para quem estiver interes- wpcontent/uploads/2018/02/bncc-20dez-site.pdf.
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Teaching Tolerance: tolerance.org

Unesco GAPMIL: en.unesco.org/themes/media-and-


-information-literacy/gapmil
“Acreditamos na educação
midiática como um
direito humano, que empodera
o cidadão e o transforma em
alguém capaz de contribuir
para a sociedade, fortalecendo
o ambiente democrático”
Patricia Blanco
Presidente do Instituto Palavra Aberta

realização Educar para a informação é o caminho mais seguro


para formar cidadãos livres e aptos a fazer escolhas
conscientes. É educar para a vida em um mundo
cada vez mais conectado. Para atingir esses obje-
tivos, a educação midiática busca desenvolver nos
estudantes competências para consumir e produzir
apoio
mídias de forma reflexiva e responsável, além de pre-
pará-los para a plena participação na sociedade. Este
Guia busca refletir sobre a importância e a urgência
dessas questões, e também apresenta exemplos e
sugestões para que a educação midiática seja incor-
porada à sua prática.

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