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Educação
Midiática
ana claudia ferrari
Daniela machado
mariana ochs
Guia da Educação Midiática
Guia da
Educação
Midiática
ana claudia ferrari
Daniela machado
mariana ochs
O Guia da Educação Midiática é uma obra do sumário
Autoras
EducaMídia – programa de educação midiática desen-
Ana Claudia Ferrari, Daniela volvido pelo Instituto Palavra Aberta, com apoio do
Machado e Mariana Ochs
Google.org. O livro conta também com o suporte do 005 Introdução
Coordenação
Saula Ramos
Instituto Itaú Social. 007 A urgência da educação midiática
Projeto gráfico e ilustrações
Estúdio Passeio O Instituto Palavra Aberta indica bibliografias, víde- 009 Educação midiática e a formação para a cidadania
Capa os, podcasts, artigos e imagens, entre outros tipos de
Estúdio Passeio
mídia, na sua plataforma de curadoria como apoio à sociedade conectada
Um universo expandido
Revisão
Edna Adorno
leitura, não sendo necessária a utilização desse ma-
terial para interagir com este Guia. As indicações 015
Produção gráfica
Valter Silva são dinâmicas, sendo sempre atualizadas por nossa 019 Desafios do século 21
equipe. Caso deseje contribuir com outras sugestões 023 Nativo ou inocente digital?
Instituto Palavra Aberta
de referências entre em contato conosco.
Presidente 026 Letramento digital e educação midiática
Patricia Blanco
Gerente-executiva
Saula Ramos ensinar e aprender hoje
ISBN 978-65-991778-1-1
a abordagem do educamídia
067 Do conceito à prática Este é o Guia que estava faltando! Um livro que con-
071 Ferramenta de criação de atividades vida educadores e demais agentes ligados à educa-
073 Exemplos de atividades ção a refletir sobre a importância e a urgência de
prepararmos crianças e jovens para uma relação
083 6 perguntas para avaliar confiabilidade rica e fortalecedora com as mídias, desenvolvendo
093 Decodificando mensagens habilidades para ler de maneira reflexiva, escrever
103 Matriz VPI de forma responsável e participar plenamente da
sociedade conectada. Mas é também um Guia prá-
113 Identificando propaganda tico, repleto de dicas e exemplos para ajudá-lo a in-
123 Bingo Criativo corporar a educação midiática em sua aula – seja
133 Criar para aprender você professor da área de Linguagens, Matemática,
Ciências Humanas ou Ciências da Natureza.
136 Forma × Função Vivemos uma era de abundância de informação,
149 Checklist em que novos formatos e linguagens de mídias sur-
150 Rubricas de avaliação gem a todo momento, exigindo que a nossa visão
sobre o que é letramento seja igualmente ampliada.
Também sabemos que o país ainda precisa avançar
155 Quem somos muito para que todos tenham acesso a esse universo
156 Referências bibliográficas de mensagens, dados ou imagens proporcionados pela
tecnologia – “desertos” de livros e de notícias são uma
realidade para boa parte da população, e, quando o
assunto é internet e conectividade, a desigualdade é
gritante. Ainda assim, já é tempo de começarmos a
pensar além do acesso: uma vez vencidas essas bar-
reiras, o que fará com que crianças e jovens tenham
uma experiência positiva nas redes, condições reais
de transformar informação em conhecimento e voz
efetiva em suas comunidades?
O tempo é agora. Precisamos entender a educa-
ção midiática como um direito dos estudantes. É
com esse posicionamento que abrimos este Guia. Na
primeira parte você encontrará as justificativas para
não adiarmos mais essa discussão, tão relevante no
5
mundo inteiro. Tratamos da educação midiática “da A urgência da educação midiática
escola para fora”. Na segunda parte, oferecemos uma
visão de como a educação midiática está no cerne do É com grande satisfação e alegria que, em nome
processo de ensino e aprendizagem que faz sentido do Instituto Palavra Aberta, apresento o Guia da Edu-
no século 21. É o nosso papo “da escola para dentro”. cação Midiática, de autoria de Ana Claudia Ferrari,
A terceira parte trata de como o EducaMídia se mol- Daniela Machado e Mariana Ochs.
dou por referências locais e práticas consolidadas Este Guia é o resultado do esforço coletivo de uma
no exterior. E na quarta parte aterrissamos os con- equipe altamente comprometida, que não titubeou
ceitos na sala de aula (seja ela física ou virtual), com em mergulhar fundo em pesquisas e estudos sobre
orientações de atividades que podem ser adaptadas a educação midiática e buscar as visões contempo-
e remixadas para diversas disciplinas e séries. râneas no mundo sobre o tema.
Cabe ressaltar que este Guia da Educação Midiáti- Celebra também o investimento feito pelo Palavra
ca não é uma obra acadêmica. Trata-se de um conjunto Aberta ao longo da sua trajetória. Desde a sua fun-
organizado e didático de conceitos e exemplos para dação, em 2010, buscou incentivar a produção aca-
apoiar você na missão de preparar os alunos para as dêmica, o debate e as discussões em torno do seu
oportunidades e os desafios trazidos pela tecnologia. objetivo maior, do qual a educação midiática passa
a fazer parte: a defesa e a promoção da liberdade
Boa jornada! de expressão.
A nossa crença é que o cidadão educado midiati-
Ana Claudia Ferrari, Daniela Machado camente, ou seja, que sabe ler criticamente todas as
e Mariana Ochs informações que recebe, que utiliza corretamente as
ferramentas de comunicação para fortalecer a sua
autoexpressão e que participa de maneira consciente,
ética e responsável do ambiente informacional, terá
condições de exercer o seu direito fundamental à li-
berdade de expressão de forma plena.
Acreditamos também na educação midiática
como um direito humano, que empodera o cidadão
e o transforma em alguém capaz de contribuir posi-
tivamente para a sociedade, fortalecendo ainda mais
o ambiente democrático.
Se olharmos a democracia como um processo
em construção, o papel da educação é crucial para
que possamos atingir o objetivo almejado. Educar
para a democracia é ensinar desde cedo o valor da
6 7
liberdade de expressão, da liberdade de imprensa, do Educação midiática e a formação
respeito às diferenças, da pluralidade, da tolerância, para a cidadania
da empatia, da preservação dos direitos políticos, das
liberdades civis, da transparência, do livre acesso à Há cerca de dois anos, em Buenos Aires, conheci o
informação e, principalmente, do respeito às liber- professor inglês David Buckingham, que participa-
dades individuais para a construção da cidadania. va comigo nessa cidade de um painel sobre política
Que a leitura deste Guia sirva de inspiração para educacional no qual falou sobre educação midiática.
projetos educacionais inovadores e que os exemplos Não conhecia então nem o conceito nem a relevância
práticos trazidos aqui possam auxiliar você na tarefa do tema, que eu atribuía a algum modismo recente.
diária de educar crianças e jovens com as habilidades Qual não foi minha surpresa, à medida que ele,
necessárias para o século 21. pioneiro na área, discorria sobre o tema diante da
plateia atenta, ao compreender a urgência de, em
Boa leitura! tempos de superabundância de informações, en-
sinar os jovens a acessar o ambiente informacio-
Patricia Blanco nal e midiático de forma crítica, entendendo bem
Presidente do Instituto Palavra Aberta a diferença entre fatos e opiniões e descartando
desinformações. Mais ainda, pude perceber pela
sua fala e por conversas posteriores que tivemos
que isso é a base da participação digital segura que
contribui para a formação de cidadãos que logram
se engajar em debates qualificados e distantes do
ódio e da polarização que têm marcado as redes
sociais hoje no mundo.
Ao voltar para o Brasil, escrevi um artigo para a
Folha de S. Paulo a respeito do tema e fui contatada
pela liderança do EducaMídia para integrar o conse-
lho consultivo desta iniciativa do Instituto Palavra
Aberta, organização de defesa da liberdade de ideias,
pensamentos e opiniões.
A relação entre o tema defendido com as compe-
tências da Base Nacional Comum Curricular (BNCC)
tornou fácil o entendimento do caminho a ser tri-
lhado. Afinal, ao educar para o acesso qualificado às
mídias e para a produção adequada de conteúdos, a
escola estaria desenvolvendo o protagonismo jovem,
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o pensamento crítico e a cidadania plena, fortalecen-
do, desta forma, a democracia.
É por essa razão que me alegro em poder apresen-
tar este Guia da Educação Midiática, que pretende au-
xiliar escolas, redes e professores a proporcionar esta
importante aprendizagem para o século 21 – a de aces-
sar, analisar e criar, de maneira crítica, informações
no ambiente midiático, em todos os seus formatos.
Saber formular seus próprios julgamentos e expres-
sá-los por escrito, assim como selecionar fontes de leitu-
ra tanto em textos impressos quanto digitais, é parte da
formação para a vida que a escola deve oferecer a seus
alunos. Em especial, a escrita autoral consolida apren-
dizagens, ensina a listar evidências para fundamentar
ideias, forma pensadores autônomos – que não apenas
reproduzem em provas o que seus mestres lhes dizem –
e amplia capacidades de comunicação tão importantes
para o século em que vivemos. Além disso, desenvolve
persistência e garra para construir bons textos, algo
que uma sólida educação midiática pode ajudar a criar.
O texto deste Guia surge como rico material para apoiar
a implementação da BNCC tanto no Ensino Fundamental
quanto no Ensino Médio. Mas poderá igualmente ser
utilizado em cursos livres e em formação de professores.
Claudia Costin
Professora universitária e diretora do Centro de Ex-
celência e Inovação em Políticas Educacionais da
FGV-RJ
10 11
sociedade conectada
Um universo
expandido
ão importa o momento do dia em que
você esteja lendo este Guia. As chances
de que o livro em suas mãos não seja
a primeira mídia com a qual interage
hoje são enormes. Ou você ainda não ouviu rádio,
leu jornal, checou suas redes sociais, mandou
mensagem pelo celular, viu algum tipo de publicidade
O conceito de ou assistiu a um programa na TV? Mesmo sem
ter consciência, é quase impossível estar em
alfabetização está algum lugar sem ser impactado por mensagens de
se expandindo como diversos tipos e formatos que chegam até nós não
só pelas palavras impressas no papel, mas, cada
resultado das mudanças vez mais, pelas poderosas imagens e pelos sons
da nossa cultura multimídia.
na mídia, na tecnologia
e na natureza do “Do rádio-relógio que nos acorda de manhã até ador-
mecermos assistindo ao programa de entrevistas no-
um universo expandido 15
digitais. Apesar disso, rádios-relógio continuavam nos como pessoas de todas as idades, profissões e nacio-
despertando pela manhã, programas de TV exibidos nalidades se comunicam, se relacionam, trabalham,
apenas em horário fixo eram regra e os smartphones interagem, consomem, pesquisam, aprendem, se ex-
ainda não haviam se tornado parte quase integran- pressam e, principalmente, se informam. De consu-
te da anatomia humana. Tampouco as redes sociais midores passivos, descobrimos a possibilidade de
eram nosso café com leite diário. Ao contrário de hoje, A mídia E As mídias assumir papéis mais ativos no universo antes pouco
fronteiras de contornos bem definidos separavam o Educação midiática, análise permeável da circulação da informação.
crítica de mídias, participa-
físico do virtual, e a vida simultânea nos dois mundos ção responsável nas mídias…
Pense nisto: bastam um smartphone, uma rede
estava mais próxima da ficção que da realidade. Afinal, do que estamos social e uma conexão com a internet para qualquer
falando quando citamos
Mas Elizabeth Thoman, fundadora do Center for as mídias?
um tornar-se fotógrafo, narrador ou documentarista
Media Literacy (CML), e Tessa Jolls, atual presidente, As mídias são todos os canais
amador e encontrar uma audiência. Isso significa que
assim como muitos outros estudiosos da educação, (ou meios) pelos quais é pos- crianças, jovens e adultos não apenas consomem,
sível transmitir informações
já estavam convencidas havia tempos de que, com ou mensagens para grandes
mas também podem criar conteúdos. Neste jogo de
a convergência das mídias e da tecnologia na cul- audiências. Podem ser sites, consumo e criação a regra são informações e entre-
livros, revistas, rádio, TV, foto-
tura global, já não bastava ser capaz de ler palavras grafias, filmes e músicas ou
tenimento ilimitados ao alcance de um clique e audi-
impressas; crianças, jovens e adultos precisavam mesmo panfletos, embala- ências antes inimagináveis, e nosso tempo online só
pioneiros gens e até camisetas estam-
também da habilidade de interpretar criticamen- padas com frases ou slogans.
aumenta. Assim como cresce o acesso a um mundo
O Center for Media Lite-
racy (medialit.org) é uma
te a diversidade cada vez maior de imagens, sons e Já a mídia (no singular)
muito mais diversificado, com histórias e realidades
das primeiras organizações mensagens da cultura multimídia. é como nos referimos à nunca antes mostradas numa tela.
mundiais a trabalhar análise imprensa, ou seja, ao con-
e leitura de mídias com pro-
O conceito de alfabetização tinha de ser expan- junto dos veículos de comu-
Acesso, presença e alcance digitais, no entanto, es-
fessores e jovens. dido para acompanhar outra expansão: a do uni- nicação nos quais se exerce tão longe de equivaler a fluência digital, maturidade e
o jornalismo.
verso informacional. responsabilidade para trafegar nas vias tão carregadas
do ambiente informacional. E mais distantes ainda de
De consumidor a produtor implicar discernimento sobre o que é válido, relevante
e confiável num verdadeiro mar de ideias, notícias,
Com o avanço do século 21, as mudanças engendra- imagens, vídeos, narrativas, áudios e opiniões.
das pela tecnologia foram ainda mais profundas. E Neste caso, não são só as crianças e os jovens a en-
rápidas. Dispositivos inteligentes acessíveis e com frentar dificuldades e deixar de ter uma experiência
recursos fáceis de usar, além de outras incontáveis rica e fortalecedora na rede. É como se todos nós ti-
inovações digitais, entre as quais as das tecnologias véssemos começado a dirigir sem ter habilitação, diz
da informação e comunicação, se espalharam pelos o professor da Universidade Stanford Sam Wineburg
quatro cantos do planeta, alterando o ambiente in- ao discutir o problema do consumo de informações
formacional e muitos dos hábitos e comportamentos online (ver pág. 23).
dos mais de 4 bilhões de usuários da internet hoje Se o simples acesso a equipamentos ou à inter-
no mundo. Com isso, mudou radicalmente a forma net não confere a ninguém "licença para dirigir", está
24 um universo expandido 25
LETRAMENTO DIGITAL Se o futuro parece incerto, uma coisa está clara:
seremos cada vez mais desafiados com o crescimento
E EDUCAÇÃO MIDIÁTICA ininterrupto do volume de informações e das novas
tecnologias digitais.
E aqui cabe o alerta de Paolo Celot, do grupo res-
Há certa confusão entre os termos letramento ponsável pela construção de políticas relacionadas à
digital e educação midiática. Embora os dois estejam educação midiática na Comissão Europeia: socieda-
des midiaticamente educadas são essenciais para
conectados e sejam até complementares, não querem salvaguardar a democracia. Enfrentar os episódios
dizer a mesma coisa. de radicalização promovidos pelo ambiente online e
CURADORIA
as avalanches de desinformação é tarefa de todos, e é
Em um ambiente de abun-
dância de informações e em
cada vez mais crítico compreender as forças que estão
Letramento (ou alfabetização) digital Para o EducaMídia, educação mi- meio a tantas possibilidades, moldando nossos pensamentos, opiniões, comporta-
é a construção da fluência necessária diática é “o conjunto de habilidades será cada vez mais impor-
mentos e visões de mundo.
tante desenvolver habilidades
para escolher e utilizar as ferramentas para acessar, analisar, criar e partici- de curadoria para filtrar e Celot vai mais longe e defende que educação midi-
e dispositivos digitais. Abrange desde o par de maneira crítica e reflexiva do selecionar conteúdos e dados
ática é necessidade básica de crianças e jovens, para
confiáveis e adequados a
uso correto do mouse e do teclado até o ambiente informacional e midiático em todas as situações. que entendam o mundo e dele participem ativamente,
entendimento do que é e de como fun- todos os seus formatos – dos impressos um pré-requisito para a vida pública em todas as suas
ciona um código, por exemplo. Inclui aos digitais”. esferas. Sua ausência implica nova forma de exclusão.
conhecimento das tecnologias da in- Para o pesquisador, não basta assegurar o direito de
formação e comunicação. Essa necessidade, que não é nova, acesso à internet: no século 21, a educação midiática
O letramento digital requer compe- ganha cada vez mais urgência diante do passou a ser também direito humano essencial.
tências para encontrar, selecionar e usar enorme fluxo de informações a que esta-
novas ferramentas e aplicativos à medi- mos expostos diariamente. Nesse cená-
da que as necessidades vão surgindo. rio, não basta ler o que chega às nossas
Já a educação midiática é um con- mãos. É preciso saber filtrar e interrogar
ceito mais afinado com a reflexão e com a informação, não apenas consumir. É
as responsabilidades e oportunidades preciso dominar as linguagens que nos
decorrentes das mensagens que rece- permitem ter voz e, com isso, participar
bemos e produzimos. plenamente da sociedade conectada.
26 um universo expandido 27
ensinar e aprender hoje
A escola e
seu tempo
impacto da tecnologia digital –
especialmente da internet – já pode
ser sentido em quase todos os aspectos
da vida daqueles que estão crescendo
num universo conectado. Estima-se que o público
de até 18 anos represente, globalmente, um de
Dê às crianças e aos cada três usuários na rede. Em idade cada vez mais
precoce e com motivações variadas, eles acessam
jovens resiliência, a internet principalmente para consumir vídeos e
jogos, compartilhar fotos e comentários, conversar
informação e poder, com amigos, buscar informações sobre saúde e
oferecendo assim a eles notícias. Cerca de 30% dos jovens e crianças hoje
estão no ambiente virtual, e podemos presumir que
a internet como um frequentemente se perdem no seu emaranhado.
lugar em que podem Além de revelar esses e diversos outros dados sobre
apenas usuários.
mostrou que o caminho para enfrentar os desafios
impostos pelo mundo conectado e digital à infância
é “mitigar os danos e maximizar os benefícios que
a internet possibilita para cada criança e jovem”.
Das ilimitadas oportunidades de comunicação,
comércio, aprendizado e liberdade de expressão trazi-
das pelas tecnologias digitais, de um lado, e a ameaça
ao tecido social e à ordem política, de outro, a resposta
para enfrentar o duplo desafio de atenuar danos e
Anne Longfield potencializar benefícios está fundamentalmente na
Comissária da Infância no Reino Unido educação. Mais ainda: no papel e na capacidade das
TIGA
DI
Ler, escrever
e participar
no século 21
educação midiática é a resposta
segura e fortalecedora a um duplo
desafio: preparar crianças e jovens
para as mudanças drásticas na forma
como buscamos, produzimos e compartilhamos
informações; e transformar a própria educação
A alfabetização em para que seja mais significativa e conectada com
da educação
Ao defender a necessidade de novos instrumentos
para explorar um novo mundo e nele interagir, a edu-
cação midiática reforça o conceito de alfabetização
midiática
expandida, visando devolver às crianças e jovens o
empoderamento que saber ler e escrever representou
até o século passado.
Na visão de Renee Hobbs, esse empoderamento
abrange toda a gama de competências cognitivas,
emocionais e sociais que incluem uso de tecnolo-
gias e textos em formatos variados; análise crítica; Conheça a mandala EducaMídia e explore
criatividade e prática de composição de mensagens; as habilidades e os objetivos de aprendizagem
refletir
capacidade de desenvolver a reflexão e o pensamento
para aprender
ético; e colaborar ativamente por meio do trabalho da educação midiática
Acessar, analisar, criar e
participar. A essas competên- em equipe. Pessoas dotadas dessas competências "re-
cias essenciais, Renee Hobbs
acrescenta o verbo refletir na
conhecem agendas pessoais, corporativas e políticas
constelação de habilidades e têm o poder de falar em nome das vozes ausentes e
de comunicação e resolução
de problemas. É com ele que
das perspectivas omitidas em nossas comunidades.
se aplicam responsabilidade Ao identificarem e tentarem resolver problemas, po-
social e princípios éticos à
própria identidade, experiên-
dem, então, fazer valer seus direitos e usar a própria
cias e condutas. voz para melhorar o mundo", conclui Hobbs.
A proposta do EducaMídia
Dominar técnicas de busca, curadoria e produ- Utilizar de recursos de mídia para autoexpres-
ção de conhecimento. são e interação com outros de forma segura,
responsável e consciente.
LETRAMENTO Utilizar termos e operadores de busca;
DA INFORMAÇÃO autoexpressão Entender as práticas de curtir, comentar e
Avaliar criticamente o propósito e a quali- compartilhar e suas consequências;
dade da informação encontrada;
Combater a desinformação;
Utilizar mecanismos de checagem de infor-
mação; Combater o bullying e o discurso de ódio;
Análise
crítica
LER ESCREVER FLUÊNCIA AUTOEXPRESSÃO Buscar uma dieta informacional equilibrada.
DIGITAL
da mídia
Demonstrar habilidades de produção de mídia PARTICIPAÇÃO CÍVICA
fundamentadas em uma escrita técnica ou
criativa bem desenvolvida. Demonstrar capacidadede solucionar
problemas, buscar ajuda e atuar na socie-
Fazer uso adequado de imagens, dados, dade fazendo uso de textos de mídia.
textos e áudio;
participar Jornalismo;
Entender que todas as mídias têm lingua-
gem própria; Documentários;
do “que” ao “como”
não só do componente curricular mas do modo como
selecionamos as informações, entendendo os tipos di- E AS CRIANÇAS
Não há dúvidas de que os ferentes de mensagens e o modo como chegam até nós.
professores compreendem
a pertinência e a relevância Assim como os adultos, as crianças recebem uma
de desenvolver nos alunos escrever Neste eixo estão as habilidades relaciona-
a fluência digital e o letra-
das à autoexpressão e à fluência digital: a educação quantidade enorme de informações das mais diversas
mento midiático, o que para
muitos constituti a alfabeti- midiática dá voz aos jovens, promovendo as habilida- fontes. Desde muito cedo expostas a imagens, sons,
zação do século 21. Ao incluir
algumas dessas habilidades
des necessárias para que eles possam publicar para publicidade, embalagens, impressos, vídeos e telas,
nas competências gerais, no audiências reais, envolver-se com questões relevan-
Campo jornalístico-midiático
tes de sua comunidade e dialogar com a sociedade. começam a ver o mundo e dar forma a seus valores
da Língua Portuguesa e em
diversas outras áreas, a BNCC Na proposta do EducaMídia, escrever é também influenciadas pelo que veem, ouvem e clicam.
reconhece a urgência do
tema (ver pág. 33). A dificul-
explorar o potencial narrativo de vários formatos de
dade de implementação, mídia, alinhando forma e função e refletindo sobre
porém, reside justamente no
aspecto transversal dessas
escolhas técnicas e criativas. Ao apoiar as etapas de Crianças pré-alfabetizadas, ou em fase das mensagens e plantam importantes
habilidades. As atividades investigação e produção de mídia em sala de aula, de alfabetização, não conseguem com- sementes. Essa postura vai prepará-
contidas neste Guia ajudam o
professor a avançar do “que”
aumentamos também as chances de alcançar os ob- preender, logicamente, os conceitos -las para uma vida de questionamento
para o “como”, explorando jetivos curriculares. Trata-se de um trabalho com- mais abstratos que são os fundamen- e reflexão diante do mundo ao redor
maneiras de integrar a edu-
cação midiática ao cotidiano
plementar que desenvolve as habilidades críticas e tos de uma leitura crítica das mídias. ao fazê-las atentar, por exemplo, para
da sala de aula. aproxima o tema curricular da realidade. Mas isso não significa que não podemos questões relacionadas a preconceito,
começar a explorar de forma bem sim- estereótipos e credibilidade.
participar Aqui o foco está nas habilidades de ples ideias como autoria, escolhas, pro- Veja algumas estratégias:
cidadania digital e participação cívica: a educa- pósito ou representação nos diversos
ção midiática nos ajuda a utilizar a tecnologia para conteúdos que encontram, lançando O que você vê nesta imagem? Na
promover a empatia, reconhecendo e respeitando os fundamentos para que deixem de hora de ler histórias, experimente fa-
diversas vozes, entendendo questões de representa- ser espectadoras e receptoras passi- zer perguntas sobre as imagens, como
ção e exclusão na mídia, ensinando as crianças e os vas das informações e mensagens que “o que você está vendo?”, “o que acha
jovens a dialogar, discordar e reagir nas redes sociais recebem. que aconteceu?”, "o que neste desenho
de maneira equilibrada e não violenta, combatendo a Comece com o hábito de fazer per- fez você pensar assim?", “o que mais
discriminação e o discurso de ódio. Neste eixo, o ob- guntas. Seja diante do programa favori- você gostaria de saber?”. Especialistas
jetivo central é estimular estudantes a refletir sobre to na TV ou no YouTube, nos filmes ou afirmam que a leitura ativa ajuda a
seu papel e suas responsabilidades enquanto consu- canções, ou nos anúncios e embalagens desenvolver a curiosidade e a atitude
midores e produtores de informação e incentivá-los a de jogos e brinquedos, perguntas sim- investigativa, e a separar opiniões de
criar e publicar mídias de forma ética e responsável. ples provocam uma leitura mais atenta afirmações que podem ser feitas com
Do conceito
à prática
65
A educação
midiática na prática
Descobrindo oportunidades
mídias como triviais, cação midiática, mas você vai se dar conta de que
inserir nas aulas o desenvolvimento de hábitos de
desnecessárias
investigação e habilidades de expressão não implica
revolucionar sua prática, e sim ampliá-la. Ao iniciar
a exploração do conteúdo a ser estudado, trata-se
a própria educação
até mesmo embalagem, bus-
cando examinar, entre outros Cyndy Scheibe e Faith Rogow, fortes referências em
aspectos, autoria, intenção e
técnicas nela utilizadas. Esse
educação midiática nos Estados Unidos há décadas,
DO CONCEITO À PrÁtica 67
informação que chega o tempo todo e por todos os Tema curricular Que assunto vamos discutir?
lados também para as crianças e jovens, saber ler e E que texto disparador para este tópico é possível
escrever não basta. Para dar sentido a tanta informa- usar, em qualquer linguagem? É aqui que o educador
ção, construir conhecimento e encontrar sua voz – e vai desenvolver suas próprias habilidades de curado-
portanto ser “plenamente alfabetizado” no universo ria. Esse texto pode ser jornalístico ou não, mas pense
informacional hoje – é preciso aprender novas habi- que esta é uma oportunidade também de conectar
lidades e incorporar novos hábitos. o seu tema à cultura e propor a exploração a partir
criatividade Os desafios que a vida conectada, tecnológica de notícias, imagens, filmes, games, infográficos ou
na educação
e imprevisível do século 21 impõe a quem ensina outras mídias, impressas ou digitais. Veja na página
Educação midiática e
aprendizagem criativa
e a quem aprende exigem que escolas e professo- 72 uma sugestão de tipos de mídia.
são combinação natural. res encontrem caminhos para formar pensadores
Projetos centrados em temas
críticos, comunicadores eficazes e cidadãos ati- Ação O que vamos fazer com as mídias seleciona-
próprios do contexto do
aluno, investigação a partir de vos, capazes de consumir e produzir mensagens das? Da análise à criação, passando pelo remix, existe
fontes autênticas e criação de
produtos para uma audi-
com senso crítico e responsabilidade. Trabalhar uma série de verbos ativos que podem nos ajudar a
ência real contribuem para essa perspectiva cada vez mais urgente requer dos desenhar uma atividade para a sala de aula.
desenvolver as habilidades
de colaboração, comunicação
professores intencionalidade pedagógica no uso
e criatividade (ver pág. 37). de recursos de mídia e consciência dos alunos no NOVAS FORMAS DE Mídia Com que formato vamos trabalhar? O uni-
CONTAR HISTÓRIAS
consumo e produção de mídia. É isso que você vai verso das mídias nos oferece inúmeras opções de
Podemos chamar de micro-
ver nos exemplos a seguir. narrativas as narrativas muito
linguagens para consumir ou criar. Considere forma-
curtas, seriadas ou não, cons- tos impressos ou digitais, estáticos ou audiovisuais,
truídas segundo as limitações
Um método para criar atividades das redes sociais, como os
jornalísticos ou não. Fique atento aos formatos de
280 toques do Twitter ou mídia mais consumidos pelos alunos (incluindo
os vídeos de 60 segundos
Seja qual for a disciplina ou a faixa etária, as habili- do TikTok. Ao combinar a
micronarrativas como memes ou vídeos efêmeros),
dades midiáticas são desenvolvidas ao trabalharmos linguagem audiovisual, as pois é justamente sobre eles que é mais urgente cons-
possibilidades de interfe-
os temas curriculares por meio da leitura crítica rências gráficas e o amplo
truir o entendimento crítico.
e/ou produção de mídia. Esse enfoque nos dá a alcance, os vídeos efêmeros
se tornaram a forma de
oportunidade de produzir aulas ativas e engajado- micronarrativa mais popular
reflexão Para garantir a intencionalidade no con-
ras, com ênfase na investigação e criatividade. Para entre os mais jovens. sumo e produção de mídias, precisamos conduzir um
ajudar professores a planejar esse tipo de atividade, processo de reflexão sobre o que estamos lendo,
o EducaMídia desenvolveu um método baseado na assistindo ou criando. É aqui que levamos o aluno a
combinação de quatro eixos: tema, ação, mídia e examinar diversos aspectos do texto utilizado, como
reflexão. O método pode ser utilizado em qualquer autor, propósito, técnicas, impactos etc., ou a refletir
conteúdo curricular. sobre suas escolhas enquanto autor.
Para planejar a sua atividade crie a partir desses
eixos, em qualquer ordem:
criando repertório Ao discutirmos tema curriCUlar , Combinar objetivos curriculares com habilidades
Varie ao máximo os forma- vamos ação + mídia , levando os alunos próprias da educação midiática exige certa prática,
tos de mídia oferecidos de
forma a criar repertório e
a refletir sobre reflexão . mas esta ferramenta vai ajudar você a dar asas
tornar os alunos aptos a
decodificar qualquer tipo
Como já vimos anteriormente, explorar assuntos à criatividade no planejamento de experiências
de mensagem. Esteja atento
aos novos formatos, como os por meio de textos de mídia provenientes de notícias, de aprendizado que atendam às duas vertentes.
“stories” nas mídias sociais ou
as reportagens inovadoras,
coleções históricas, organizações científicas e cultu-
cada vez mais presentes nos rais ou redes sociais configura apenas o uso de mídias
jornais digitais, que oferecem
experiências interativas de
como recurso. Mas, ao também estabelecer objeti- Utilize o modelo proposto no verso estabelecidos ou de nicho, ONGs, insti-
leitura, seja pelo computador, vos específicos em relação às mídias, consolidando desta página para construir uma tuições culturais e outros. Preencha as
seja pelo celular.
hábitos de investigação e habilidades de expressão, frase que descreva a sua atividade. O demais lacunas na ordem que quiser,
amplia-se o escopo das aulas. ponto de partida é o tema curricular; pensando sempre em consumir con-
A camada de educação midiática prevê envolver considere o conteúdo a ser estudado teúdo autêntico e produzir mensa-
o aluno em atividades de pesquisa, decodificação e os textos disparadores que podem gens para uma audiência real.
das informações, questionamento de confiabilidade ser usados. Pense fora da caixa, E lembre-se: quanto mais você pra-
e propósito das mensagens e, por fim, produção de explorando todo tipo de linguagem ticar, mais natural se tornará o hábito
mensagens adequadas à linguagem de mídia esco- de mídia e buscando a diversidade de criar atividades que dialogam com
lhida pelo aluno, com análise e reflexão, baseadas em de fontes, como veículos de notícias as mídias.
conteúdo verificável e com citação de fontes. Com
essas práticas o aluno é levado a consumir e produ-
zir informações de forma cada vez mais consciente,
desenvolvendo as habilidades midiáticas.
Todas as propostas que você vai conhecer a seguir
foram estruturadas sobre esse mesmo modelo, e
podem ser adaptadas para outros anos e compo-
nentes curriculares.
Esta ferramenta está disponível em forma de baralho que pode ser utilizado
em atividades de formação docente. Acesse em bit.ly/baralhodecriacao
72 DO CONCEITO À PrÁtica 73
como usar AS ATIVIDADES
Introduza o conceito do terraplanismo e o espaço É hora de entender mais a fundo o sistema solar
que ele vem ganhando apesar de todas as evidên- e a ciência que comprova que a Terra não é plana.
cias científicas de que a Terra é redonda. Ofereça a Analise os textos e vídeos em nossa coleção de recur-
seus alunos alguns memes que comentam as ideias sos e os respectivos argumentos. Chame a atenção
terraplanistas (disponíveis na coleção de recursos para as fontes: são todas igualmente confiáveis? Que
complementares deste Guia). Deixe-os explorar os sabemos dos autores ou sites onde foram publica-
memes e até contribuir com alguns para formar uma dos os textos? Estes, sem exceção, citam a origem
FALSA EQUIVALÊNCIA
coletânea. Observe se alguns padrões começam a das informações utilizadas? Alguma dessas fontes
Atribuição do mesmo valor ou
relevância a dois argumentos
surgir e se podem ser agrupados de alguma forma. pode ser considerada primária, ou seja, originou a
opostos que, na realidade, Por exemplo: sátira política ou social, utilização de pesquisa ou a coleta dos dados?
não têm peso equivalente.
Isto acontece, por exemplo,
informações científicas, referências à cultura pop etc. Proponha aos alunos que destaquem alguns argu-
quando o mesmo tempo mentos que comprovam que a Terra é esférica e que,
e espaço são concedidos
num programa de debates
ANALISAR neles baseados, criem memes. Os memes devem usar
a duas pessoas de opiniões de humor, mas a informação deve ser cientificamente
antagônicas sobre o aque-
cimento global, fenômeno
Separe os alunos em grupos e peça a cada grupo que sólida e vir de fonte confiável. Junto com o meme, os
cujo volume de evidências discuta um exemplo, apontando: abc dos memes
alunos entregarão uma frase explicando a ciência
científicas que o comprovam
é muito maior que o das que Apesar de sua aparente sim-
nele contida e creditarão a fonte corretamente.
o negam. De que trata este meme? Que ponto de vista ele plicidade, memes oferecem Por fim, compartilhe os memes com a comuni-
diversas camadas de signifi-
promove? cado. Demandam repertório
dade escolar em um site, rede social ou mural.
O meme contém algum argumento científico? complexo, trazem assuntos
e discussões do momento e
Qual? Como ele é transmitido? podem incentivar os alunos
Vocês podem fazer uma eleição do melhor meme
Este meme satiriza algum personagem ou acon- a se manter atualizados. sobre o tema, decidindo em conjunto quais categorias
Trabalhar com memes de
tecimento real? Qual? forma reflexiva possibilita o
serão pontuadas (exemplo: o humor, a execução visual,
Alguém de outro contexto ou cultura poderia desenvolvimento da leitura a transmissão adequada das ideias científicas etc.).
crítica, aumento de repertó-
compreender este meme? rio e protagonismo do aluno
O meme serviria para ensinar conceitos impor- (saiba mais sobre memes REFLETIR
em bit.ly/livememes).
tantes sobre o sistema solar?
No fim da atividade, reflitam sobre alguns tópicos
É
importante destacar que memes devem ser importantes:
tratados como qualquer outra mensagem no que diz
respeito à responsabilidade e à ética: não devemos Por que os memes têm tanto apelo e alcance?
nunca contribuir para a disseminação de desinfor- Pensem em alguns memes que viralizaram e
mação, preconceito ou discurso de ódio. ficaram famosos. Algum deles é potencialmente
DA COMPREENSÃO À Ação
Como saber se uma
mensagem é confiável?
Reportagens sobre o ressurgimento do sarampo
apontam várias causas, entre elas a percepção da
população de que a doença está erradicada. Como Ao consumir ou compartilhar um conteúdo sem
podemos proteger nossa comunidade? Proponha refletir, você pode ajudar a espalhar desinformação
aos seus alunos a criação de uma campanha de uti- ou mesmo tomar decisões com base em dados não
lidade pública enfatizando o papel de cada um na
saúde coletiva, com linguagem acessível e exemplos, confiáveis. A educação midiática busca estimular
cenários e personagens locais. o hábito de “interrogar a informação” em vez
de simplesmente consumi-la, para que possamos
REMIX nos tornar leitores mais cautelosos.
Explore o tema da pseudociência e seus impac- Ao se deparar com qualquer conteúdo, conteúdo: esta pessoa ou organização
tos em outras áreas do currículo de ciências, como seja artigo, seja post, mensagem ou tem autoridade ou credibilidade para
alimentação ou epidemias. vídeo, você deve cultivar o hábito de falar sobre o assunto? É especialista? E
A reportagem em quadrinhos sugerida nesta ati- investigá-lo um pouco. Algumas per- quem publicou? Embora quem repassa
vidade é um ótimo exemplo de como reunir infor- guntas nos ajudam a avaliar a confia- ou publica o conteúdo não seja neces-
mações e simplificar assuntos complexos de forma bilidade dos conteúdos e ler melhor as sariamente a fonte original, é impor-
criativa. Substitua uma prova convencional por um mensagens que nos chegam: tante também avaliar se a mensagem
relatório nesse formato, em qualquer disciplina. foi publicada em veículo confiável, sem
Utilize a proposta do mural de referência em Adapte estas perguntas para diver- histórico de desinformação, sensacio-
outras atividades e áreas curriculares. É uma boa sas faixas etárias, buscando sempre nalismo ou manipulação.
maneira de os alunos saberem que devemos diver- desenvolver o hábito cotidiano da lei-
sificar a leitura com textos autênticos em linguagens tura reflexiva. EVIDÊNCIA As afirmações se sustentam?
variadas e explorar outras fontes e visões para enten- Cuidado com informação inventada
der os temas em profundidade. FONTE Quem criou isto? Esta fonte é ou distorcida. Os fatos contidos na
confiável? mensagem precisam ser baseados em
O que você sabe sobre quem escreveu evidências. Números e dados devem
ou publicou? Considere quem criou o vir de fonte qualificada; afirmações
84 DO CONCEITO À PrÁtica 85
ACESSAR mesmos; da mesma forma, quem publica ou envia
não é necessariamente o criador dos gráficos;
Pergunte aos alunos se ouviram falar da polêmica O que sabemos sobre quem publicou os gráficos?
sobre as queimadas na Amazônia e o chamado “Dia Que impacto isso pode ter na narrativa?
do Fogo” em 2019. Peça-lhes que se reúnam em grupos
lendo atentamente
para pesquisar material sobre o assunto. Desafie-os Finalmente, promova com seus alunos uma dis-
Para orientar a exploração
a encontrar dados, gráficos e mapas que os ajudem cussão sobre um conjunto de gráficos (em nossa
dos materiais, você pode a responder a pergunta: afinal, o fogo e o desmate coleção digital você encontra, como sugestão, a
utilizar um protocolo de
leitura como a Matriz VPI
na região Amazônica aumentaram ou não em 2019? reportagem interativa “Entenda as queimadas da
(ver pág. 103). Amazônia em seis gráficos”, do Observatório do
Você
pode sugerir que os alunos consultem Clima). Introduza a noção de que diferentes repre-
alguns dos materiais de nossa coleção de recursos sentações dos mesmos dados podem levar a con-
complementares; os mais velhos podem realizar sua clusões distintas. Note que o intervalo de tempo
própria pesquisa, fazendo uma curadoria colabora- exibido ou a introdução de um contexto mais amplo
tiva de materiais e trazendo para a discussão a ade- gráficos que mentem pode alterar bastante a narrativa.
quação e confiabilidade das fontes escolhidas. Consulte o plano de aula Se tiver tempo, introduza uma mini-aula sobre
EducaMídia “Números que
contam histórias”, com dicas
manipulação de dados. Apresente tabelas ou gráficos
Utilize gráficos para explorar dados específicos e outros recursos para ensinar enganosos e encoraje os alunos a identificar as técnicas
sobre gráficos engano-
sobre a natureza, extensão e causas das queimadas na sos. Disponível em: bit.ly/
comuns a eles, por exemplo, um eixo x que não começa
Amazônia, extraídos de reportagens e os que tenham numerosquecontamhistorias em zero. Estimule os alunos a fazer perguntas.
circulado em tuítes e redes sociais. Busque incluir
autores diversos, veículos especializados em meio Sempre que apresentar um exemplo, pergunte:
ambiente ou ONGs. “O que há de errado nesta imagem?”
ANALISAR CRIAR
O que os alunos perceberam na pesquisa? Selecione Concluído o aprendizado, hora de produzir. A ideia é
algumas conclusões e dúvidas dos grupos. Inicie que cada grupo estude um conjunto de reportagens,
uma discussão coletiva chamando a atenção para escolha um aspecto do assunto e produza dois gráfi-
os seguintes pontos: cos com base na mesma informação, manipulando a
visualização para que as leituras sejam distintas. Por
Mostre que alguns textos, gráficos e mapas levam fim, os grupos apresentam (ou publicam) individual-
a perspectivas diferentes do problema. mente seus gráficos, cada um com sua própria visão
Observe que a fonte dos gráficos e mapas não é e acompanhado de análise explicativa por escrito das
a mesma fonte dos dados usados na elaboração dos escolhas feitas e das diferenças obtidas.
Em fevereiro de 2019, o então presidente norte- Pesquisando em fontes confiáveis argumentos que
-americano Donald Trump visitou o centro-oeste dos novas gramáticas
ajudem a refutar a afirmação do presidente, os alunos
Estados Unidos em meio a uma frente fria histórica e, Observe a linguagem e a
deverão coletar dados científicos e criar uma con-
de forma irônica, no Twitter, perguntou: “Onde está forma de comunicação dos tranarrativa na mesma plataforma. Como exemplo,
tuítes. As hashtags são muito
o tal o aquecimento global?” Apresente para a turma utilizadas para adicionar
leve-os a observar a resposta publicada pela agência
o tuíte do presidente Trump (disponível em nossa uma camada de comentá- climática norte-americana ao tuíte do presidente. O
rio ao texto, ou então para
coleção de recursos complementares) e discuta: unir-se à conversa global
objetivo é explicar a diferença entre clima e tempo,
sobre determinado tema. bem como as evidências do aquecimento global por
Neste caso, que hashtags
O que acham da observação do presidente? Ela poderiam ser usadas para
meio de uma sequência de desenhos e frases curtas
reflete corretamente a situação real? ampliar o alcance de suas devidamente embasados em argumentos científicos
publicações? Peça aos alunos
Como é o clima onde moram? Já vivenciaram confiáveis.
que busquem as hashtags
alguma situação de frio ou calor extremo? mais populares sobre o
tema e escolham as que
Acham que o fenômeno do aquecimento global é Reflitam sobre a mídia escolhida para esta ati-
poderão ser mais eficazes.
observável em nosso dia a dia? Por quê? Saiba mais sobre a histó- vidade. Como sintetizar a informação correta em
ria e o papel das hashtags
no Glossário Interativo
280 caracteres por vez, criando uma narrativa con-
ANALISAR bit.ly/glossariointerativo, cisa porém bem fundamentada? Planejem como vão
e consulte o plano de
aula “A força das hash-
dividir o conteúdo em uma sequência de respostas,
Em seguida, proponha uma pesquisa para determi- tags”, disponível em: o chamado “fio” de tuítes.
bit.ly/aforcadashashtags.
nar se o conteúdo do tuíte é verdadeiro, ou seja, se a
sua afirmação é cientificamente correta. Os alunos REFLETIR
devem estabelecer a credibilidade do tuíte e um pos-
sível propósito, relacionando-o com a postura do Conduza uma reflexão com a classe sobre responsa-
governo norte-americano sobre o clima. bilidade e disseminação de desinformação no campo
científico. Qual é o impacto da desinformação disse-
Você
pode ver exemplos na coleção de textos minada por figuras públicas? Quais as dificuldades
complementares deste Guia, ou deixar que os alunos de divulgar informações científicas complexas ao
conduzam sua própria pesquisa. Neste caso, discuta público? Por que a expressão “crise climática” vem
com eles a adequação das fontes. Qual seria uma boa sendo utilizada no lugar de “aquecimento global”?
fonte de pesquisa para o assunto? E o que seria uma
fonte ruim ou pouco confiável? DA COMPREENSÃO À Ação
94 DO CONCEITO À PrÁtica 95
ACESSAR Após essa primeira pesquisa, revele o objetivo
da atividade: vamos criar um infográfico com dados
Introduza o tema das enchentes em áreas urbanas relevantes sobre enchentes urbanas no Brasil, com
e discuta os efeitos do problema nas cidades bra- destaque nas causas e consequências. Peça então
a arte de pesquisar sileiras. Mostre aos alunos algumas fotografias ou aos alunos que conduzam nova pesquisa, desta vez
Ao fazer uma busca na inter- vídeos de grandes enchentes registradas no Brasil (se mais direcionada ao objetivo do trabalho. Algumas
net, é importante identificar
se o resultado apresentado
possível, exemplos de alguma cidade ou comunidade orientações possíveis:
é orgânico (baseado na próxima da escola). Peça aos alunos que busquem na
quantidade de acessos) ou
patrocinado (o site, empresa
internet outras informações sobre o tema “enchen- Definam juntos palavras-chave mais adequadas.
ou marca paga à plataforma tes”. Neste primeiro momento deixe-os fazer a pes- Afunilem a pesquisa, adicionando palavras como o
para que o link apareça
em determinada posição).
quisa como quiserem, sem muita orientação. Eles nome da cidade sobre a qual querem encontrar infor-
Existem ainda resultados que deverão registrar os resultados que apareceram na mações ou um período específico para pesquisar.
aparecem com destaque por
serem considerados estraté-
primeira página da busca. Estimule os alunos a experimentar formas dife-
gicos pelo próprio buscador, rentes de fazer a pesquisa sobre o mesmo tema:
por exemplo informações
Se não houver a possibilidade de cada aluno fazer busca com termos diferentes, apenas por imagens,
confiáveis sobre saúde.
Fique atento, pois as buscas a sua própria busca, peça-lhes que trabalhem em busca avançada etc.
na internet desafiam o senso
comum sobre hierarquia:
grupos e depois comparem os resultados obtidos.
nem sempre o que aparece Para
que os alunos desenvolvam o hábito da
primeiro é melhor!
ANALISAR curadoria, peça-lhes para reunir as fontes que con-
narrativas com dados sideraram mais relevantes. Isso pode ser feito em
Organize os alunos de modo a promover uma compa- Infográficos contam histórias uma tabela, por exemplo, onde deverão listar, para
misturando textos, imagens
ração dos resultados obtidos. Eles deverão discutir: e informacões quantitati-
cada fonte: título, origem da informação, natureza da
vas. Explore a ideia de que informação, o que descobri, o que mais quero saber.
o recorte do assunto, as
Alguma das opções obtidas na busca (considerando técnicas utilizadas e até
apenas a primeira página de resultados) pode ser útil mesmo elementos como CRIAR
cores e ilustrações podem
no contexto desta aula? Por quê? fornecer um contexto e
As informações encontradas na busca foram as causar emoções como Neste estágio, os alunos deverão ter uma curadoria
empatia ou medo. Saiba mais
mesmas para todos os alunos (ou grupos)? sobre infográficos em bit.ly/
de fontes e informações relevantes. Oriente-os a criar
Quais foram as diferenças nos resultados obtidos? liveinfografianaaprendizagem. um infográfico que explique, com dados relevantes,
Por que você acha que isso aconteceu? as causas e consequências das enchentes urbanas. As
Vocês usaram as mesmas palavras-chave para fazer produções devem mesclar textos, imagens e gráficos
a pesquisa? Utilizaram alguma estratégia diferente na que, juntos, contribuam para formar uma narrativa
hora de pesquisar (como busca por imagens)? sobre o fato pesquisado. Os infográficos podem ser fei-
tos com desenhos, colagens, ou digitalmente, utilizando
ferramentas como Canva, Adobe Spark ou Piktochart.
REFLETIR
Você ficou surpreso com algum dos argumentos Para não expor os seus alunos, realize essa ati-
A Matriz VPI (Vejo, Penso, Imagino) faz da educação midiática, esta estratégia
REMIX parte do acervo de rotinas de pen- também pode apoiar a prática de lei-
samento desenvolvido pelo Project turas mais intencionais. Separar cla-
cada rede, um tom Utilize essa sequência didática com um tema da Zero da Harvard Graduate School ramente as perguntas “o que eu vejo” e
É importante que os alunos atualidade, observando como as bolhas podem nos of Education. É muito utilizada para “o que eu penso a partir do que eu vejo”
levem em conta a rede social
manter distantes de discussões relevantes para nós. explorar conteúdo visual ou audio- ajuda os alunos a distinguir observação
na qual estão escrevendo,
e dessa forma tenham Os alunos podem comparar, ao longo de uma semana, visual, como artefatos, fotos, ilustra- de interpretação e a fazer afirmações
condições de decidir qual é
o que é apresentado no feed de suas redes sociais com ções, obras de arte ou vídeos, levando baseadas em evidências. A última per-
a melhor linguagem, se pre-
cisam de imagem ou outro o noticiário dos principais veículos de comunicação o aluno a se questionar por que algo gunta, “o que mais eu imagino”, estimula
recurso etc.
de sua região. tem um aspecto ou construção especí- a curiosidade e a mentalidade investi-
O que personagens históricos ligados à monar- ficos – e, portanto, relacionar as técni- gativa, desenvolvendo o hábito de fazer
quia no Brasil ou ao processo de Proclamação da cas utilizadas às motivações do autor. novas perguntas e conexões com base
República diriam nas redes sociais se estivessem Podemos utilizá-la para análise de grá- na observação e abrindo a possibilidade
vivos hoje? Proponha a criação de contas de Facebook, ficos, visualizações de dados, mapas e de explorar o assunto em profundidade.
Instagram, Twitter ou TikTok para esses persona- outras formas de narrativa visual. Como e quando usar: muitos pro-
gens, explorando a linguagem de cada rede social. Esta rotina simples estimula a curio- fessores gostam de usar essa rotina em
sidade e a observação, despertando o início de aula ou como o primeiro passo
interesse do aluno pelo tópico explo- de atividades extensas. Escolha um (ou
rado. Quando utilizada no contexto mais) texto disparador em qualquer
grupos silenciados Peça aos alunos que listem as séries, HQs, filmes ATIVIDADE 1 Proponha uma atividade para trazer à
“A representação de certos e games que mais consomem. Registrem em uma tona a falta de visibilidade de certos grupos em nossa
grupos identitários nas
mídias e outros veículos
tabela algumas das características dos heróis e vilões sociedade. Você pode, por exemplo, sugerir aos alu-
costuma ser mínima ou ine- das histórias: nos que observem os cartazes de filmes criados pelo
xistente, em especial os que
fazem parte de grupos mar- amplificando
projeto inglês Legally Black e as ilustrações da artista
ginalizados. Mesmo quando Quem são os heróis? Anote o gênero e identidade a nossa voz @juliajm15, disponíveis em nossa coleção digital de
há visibilidade, não raro os
retratos são unidimensionais,
sexual, raça, etnia ou nacionalidade, se são pessoas As redes sociais nos trou- sugestões. O que eles pretendem com essas imagens?
xeram a oportunidade de
estereotipados ou negativos. com deficiência ou alguma necessidade especial. Faça deixar para trás nosso papel
Os alunos devem então recriar fotos e cartazes de
Esta deficiência contribui
para a falta de compreensão
a mesma coisa para os vilões. de consumidores passivos, filmes e séries conhecidos e trocar a identidade dos
e possibilitaram uma plata-
e empatia por diferentes Tabule a frequência de cada característica. forma para expressar nossas
personagens principais; ou criar desenhos em que
pessoas. Pode contribuir para
nossos preconceitos, tanto
Observem: há algum padrão que começa a surgir? opiniões. Como usar este fazem o mesmo com personagens de HQs ou games
poder de forma positiva? Se
implícitos quanto explíci- Existe algum grupo sub-representado? Há evidências seus alunos perceberem que
(os alunos podem escolher ampliar a visibilidade de
tos. Isso torna ainda mais
importante representar esses
de estereótipo? determinados grupos estão certas raças, identidades de gênero ou mesmo iden-
ausentes das séries de TV ou
grupos.” (Fonte: ADL.org)
da publicidade dos produtos
tidades culturais e religiosas).
Escolha as mídias que melhor se adaptem ao que consomem, sugira que
escrevam aos produtores ou
contexto de seus alunos. Além do entretenimento, às marcas apontando as lacu-
ATIVIDADE 2 Acesse uma campanha (como exem-
as lentes que usamos podem ser explorados anúncios, embalagens, equipe nas de representatividade. Da plo, você pode ver o vídeo #MoreWomen nos recur-
mesma forma, estimule-os
Preconceito ou viés implícito dos telejornais etc. a se pronunciar em apoio
sos complementares deste Guia) e reflita sobre a
é uma noção pré-concebida
que impacta inconsciente-
às marcas ou produtores de importância da diversidade nas várias esferas da
conteúdo que estão atentos
mente as nossas percepções ANALISAR ao tema. É uma boa maneira
sociedade. Proponha uma atividade em que os alu-
e escolhas. Pode ser reforçada
pela forma ou a frequên-
de afirmar o potencial das nos acompanham o notíciário por uma semana e
redes sociais como espaço
cia com que determinados Discuta os conceitos de visibilidade, estereótipo e positivo e potencializador da
editam fotos de sites de notícias, trocando ou eli-
grupos não majoritários são
retratados nas mídias. Por
empatia, e explore as seguintes questões: participação cívica. minando personagens e buscando apontar a falta
exemplo, se os jornais e os fil- de diversidade em situações de poder ou prestígio
mes associam homens jovens
negros apenas a situações de
Qual é o impacto de ver diversidade nas representa- profissional, como gestão de empresas ou painéis
violência, isso acaba por criar ções da mídia? Qual é o impacto de não ver diversidade? em congressos.
em pessoas de outros grupos
um viés implícito que pode
Por que você acha que alguns grupos são represen-
afetar subconscientemente tados e outros não? REFLETIR
decisões como contratação,
concessão de crédito, aluguel
O que pode acontecer com alguém que não se vê
e ofertas de serviços. representado na mídia? Discuta com os alunos: você se sente representado nas
Como a representação estereotipada nas mídias, mídias que consome (filmes, games, anúncios etc.)?
ou a ausência de representação, pode contribuir para O que sentiram ao ver os personagens trocados nas
perpetuar desigualdades em nossa sociedade? imagens? Qual é a importância da representação para
DA COMPREENSÃO À Ação
é comum no marketing e Que vozes foram impedidas de contar essa história? periféricas. REFLETIR
na publicidade para entender
as características e anseios de
Por quê?
tipos de clientes diversos. Como e por que diferentes pessoas interpretaram Uma das principais consequências do advento das
o mesmo acontecimento de forma diferente? redes sociais é sem dúvida a oportunidade de comu-
nidades antes silenciadas encontrarem audiência. O
CRIAR acesso a um simples celular pode dar voz a grupos
antes ausentes dos meios de comunicação, ou repre-
É hora de compreender melhor os diferentes pon- sentados apenas por estereótipos. Explore projetos
tos de vista de uma história. Peça a cada grupo que como @midiaindiaoficial e Rádio Yandê, e discuta:
DA COMPREENSÃO À Ação
“Ao discutirmos identidade e diversidade,
Os alunos já devem ter percebido a importância de
empatia e poder contar sua própria história. Que vozes estão vamos analisar ilustrações em textos literários,
consciência social
ausentes na comunidade escolar? Como podemos games e embalagens de brinquedos, levando
Atividades que estimulam os
alunos a conhecer e analisar
dar espaço a elas? Peça que selecionem algum grupo os alunos a refletir sobre representação.”
diferentes pontos de vista de específico, como funcionários da manutenção, alu-
uma mesma situação ajudam
a desenvolver uma impor-
nos LGBT, cadeirantes ou outro, e entrevistem essas publicidade leitura de imagens representação preconceito
tante habilidade socioemo- pessoas para que elas possam contar suas histó-
cional: a empatia, ou seja, a
capacidade de se colocar
rias. Combinem retratos e frases na primeira pes-
no lugar do outro. Ao serem soa e publiquem o resultado em murais, cartazes, Ler objetivo curricular Explorar as
expostos a novas formas de
ver as coisas, os alunos não só
Instagram ou outra rede social. noções de identidade e alteridade.
ampliam seu repertório sobre habilidades Análise crítica da mídia.
um determinado assunto
Objetivo midiático Analisar imagens
mas também têm a opor-
tunidade de refletir sobre REMIX segmento EF (Anos Iniciais) voltadas para o segmento infantil
privilégios, vozes não contem-
pladas em um debate, viés
em literatura, jogos e brinquedos, da
e até mesmo discriminação, Proponha o mesmo tipo de atividade para entender (Os textos sugeridos estão disponíveis em: perspectiva de “janelas” ou “espelhos”.
entre outras questões sociais
relevantes. Essa consciência
a alternância de pontos de vista em outros episódios educamidia.org.br/guia) Refletir sobre diversidade e sobre o
pode ser ainda um ponto de da história, como a abolição da escravidão. quanto os alunos se sentem repre-
partida para que se sintam
inspirados a agir e propor
Peça aos alunos que monitorem determinado sentados nas mídias que consomem.
mudanças reais para resolver assunto da atualidade nas redes sociais, analisando e Discutir o poder das mídias de crista-
injustiças ou outros proble-
mas de sua comunidade.
comparando os diferentes pontos de vista expressos. lizar imagens preconceituosas.
Observe iniciativas de jornalismo das periferias e
de outros grupos sub-representados e discuta o papel
do jornalismo comunitário ou especializado para uma
sociedade plural e inclusiva.
Que tal tirar fotos das pessoas na comunidade escolar A expressão “menos giz e fala, mais voz roteiros, estratégias e mentoria ao
e criar uma campanha, com cartazes, celebrando e escolha” (em inglês, “less chalk and longo do percurso, de modo a guiar a
a diversidade? Crie um slogan com os alunos para talk, more voice and choice”) populari- investigação, a criação e a produção
celebrar o respeito pelas diferenças. zou-se como uma maneira de descre- de conteúdo, e garantir que os alunos
ver um aprendizado menos baseado atinjam os objetivos desejados – tanto
na entrega de conteúdo pelo profes- os curriculares como os da educação
REMIX sor, e mais centrado em processos midiática. É importante deixar claro
de investigação e criação conduzidos aos alunos o que é esperado, tanto em
Alunos mais velhos podem explorar o projeto pelo aluno, conforme seus interesses conteúdo como em execução.
Humanae, da artista Angélica Dass, disponível em e em percursos individualizados.
nossa coleção de recursos complementares. Por que Entre os objetivos da educação Comece flexibilizando apenas um
a artista não se sentia representada em lugar algum? midiática estão estimular a autoex- aspecto do projeto, e aos poucos vá for-
Por que o seu projeto é uma resposta a isso? pressão qualificada e a participação talecendo a autonomia dos alunos.
Também com alunos mais velhos: uma sugestão é ética e responsável na sociedade – prá-
acessar a reportagem “O estudante que criou emojis ticas de investigação e criação de mídia Eis algumas maneiras de oferecer
africanos para mudar a narrativa da África da pobreza são, portanto, centrais a esses objeti- escolha:
para a beleza”, no site da CNN, e promover uma dis- vos, e o principal elo entre a educação
cussão sobre como a falta de diversidade pode estar midiática e a aprendizagem baseada Permita que os alunos escolham
escondida em diversos lugares. Onde mais encontra- em projetos – PBL (ver pág. 37). recortes diversos do mesmo assunto.
mos exemplos disso? Oferecer voz e escolha aos alunos, Essa estratégia é inspirada no jorna-
porém, não significa deixá-los desam- lismo: a partir da exploração de um
parados. O professor deve oferecer assunto, é sempre possível encontrar
DA COMPREENSÃO À Ação
“Ao discutirmos a pandemia de 2020, vamos
O termo racismo estrutural se refere a algo tão enrai-
zado na sociedade que muitas vezes não consegui- identificar textos sobre a covid-19 apresentados em
mos nem perceber gestos ou atitudes racistas. Que linguagens e formatos diferentes, levando os alunos
tal criar uma campanha nas redes sociais para ajudar a refletir sobre confiabilidade, técnicas e propósito.”
a esclarecer esse termo e apoiar mudanças pessoais
e sociais para combater o racismo? universo da informação desinformação confiabilidade
planejamento execução
134 135
forma × função
Apresente aos alunos dados do Instituto Brasileiro de Peça aos alunos que, com base nos dados analisados,
Geografia e Estatística (IBGE) sobre trabalho informal escrevam, individualmente ou em duplas ou trios,
nos principais Estados do país (você pode consultar um artigo de opinião sobre a evolução do emprego
algumas sugestões em nossa coleção de recursos dos dados à história informal no Brasil e o impacto dessa realidade sobre
complementares). Busque incluir informações com Jornalistas, documentaristas os jovens. Dê-lhes a oportunidade de pesquisar mais
e organizações da socie-
recortes variados, como grau de informalidade por dade civil frequentemente
dados e informações confiáveis que podem ser apro-
gênero e por faixa etária da população e evolução se amparam em dados para veitados no texto. Para ajudá-los no processo de cria-
contar histórias importantes.
ao longo do tempo. Peça aos alunos que explorem Discuta com os seus alunos a
ção, conduza uma reflexão sobre:
as tabelas, gráficos e textos do próprio instituto e diferença entre dados brutos
incluídos em pesquisas ou
anotem quais são, em sua opinião, as informações relatórios e reportagens ou
Qual é a função dos dados do IBGE em textos
mais importantes. outros formatos, como char- opinativos?
ges e memes, criados com
base nesses mesmos dados.
Que grau de liberdade tem o autor de um texto
ANALISAR Proponha um exercício com- opinativo? Por quê?
parativo entre linguagens,
formatos, técnicas e propósito
Que técnicas ele pode usar para convencer o leitor
Divida a turma em grupos e peça que compartilhem de todo tipo de informação. sobre o seu ponto de vista?
com os colegas suas anotações sobre as principais
de onde vem a notícia? informações obtidas dos dados oficiais do IBGE. O que REFLETIR
Organizações de pesquisa os dados sugerem? Há movimentos ou tendências
da sociedade civil e dife-
rentes órgãos públicos
claros? Conseguem relacionar esses movimentos Dados confiáveis estão na base dos processos deci-
reúnem dados essenciais com o contexto histórico e econômico? Como jovens sórios da sociedade – mas o público em geral nem
para a nossa compreensão
da realidade, mas muitas
que entrarão no mercado de trabalho em poucos sempre consegue ler e interpretar dados e pesqui-
vezes pouco acessíveis por anos, como eles se sentem diante desse cenário? sas, e portanto nem sempre consegue acessar infor-
sua complexidade e volume.
O jornalismo tem o papel de
Eles devem também aproveitar o momento para mações relevantes. Conduza uma reflexão sobre a
coletar esses dados e outras discutir a fonte e a apresentação dos dados: importância das mídias para facilitar esse acesso,
informações confiáveis e
inseri-los no devido contexto
discutindo o papel do jornalismo e de outros agentes
para construir um relato O que sabemos sobre quem publicou os dados? como divulgadores científicos e ONGs.
sobre temas de relevo para a
sociedade. Assista à websé-
Por que o IBGE é considerado fonte oficial de
rie “Jornalismo: Conhecer informação sobre taxas de emprego e desemprego DA COMPREENSÃO À Ação
para Defender”, do Instituto
Palavra Aberta, para entender
no Brasil?
como as notícias chegam Que técnicas foram escolhidas para apresentar Que tal compartilhar com a comunidade o que você
até nós. Acesse em: bit.ly/
conhecerparadefender.
os dados? Tabelas, gráficos, texto? Em sua opinião, descobriu sobre emprego e trabalho no Brasil? Como
o que motivou essas escolhas? você pode ajudar os jovens que estão desemprega-
dos ou na informalidade? Uma ideia é ampliar e
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ANOTAÇÕES ANOTAÇÕES
Este Guia não é um trabalho acadêmico. As referências BRASIL, MEC. Base Nacional Comum Curricular – BNCC,
abaixo têm o propósito de contextualizar argumentos versão aprovada pelo CNE, novembro de 2017.
e afirmações apresentados ao longo do livro e são tam- Disponível em: basenacionalcomum.mec.gov.br/
bém sugestões das autoras para quem estiver interes- wpcontent/uploads/2018/02/bncc-20dez-site.pdf.
sado em ampliar e/ou aprofundar as discussões sobre
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