Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Resumo
A busca por novas fontes de matérias-primas obtidas a partir de insumos
renováveis e sustentáveis desempenha um papel importante para a
sustentabilidade da indústria da borracha. Nesse trabalho foram avaliadas as
características de processamento, propriedades mecânicas, dinâmicas e de
envelhecimento termo-oxidativo de compostos formulados à base de
NR/BR/Sílica e SBR/BR/Negro de Fumo, comparando os óleos de soja
modificados SDN-Degomado, SES1-Esterificado e SEP1-Epoxidado, com o óleo
parafínico e aromático TDAE, de origem petroquímica e tradicionalmente
utilizados na tecnologia da borracha. Ambos os compostos formulados com os
óleos de soja modificados apresentaram resultados satisfatórios, indicando que
esses óleos vegetais podem ser boas opções de matérias-primas de origem
renovável e sustentável para substituir os óleos minerais de origem
petroquímica.
Palavras Chaves: Óleos Vegetais, Óleo de soja modificados, Óleo de soja
esterificado, Óleo de soja Epoxidado, Matérias-Primas Sustentáveis, Compostos
de Borracha com Sílica, Compostos de Borracha com Negro de Fumo.
Introdução
Nos últimos anos, tem crescido no mundo a consciência que os recursos do
Planeta Terra são finitos e que sustentabilidade ou desenvolvimento
sustentável é aquele “que atende as necessidades atuais sem comprometer
a habilidade das futuras gerações de atender suas próprias necessidades.
(...)” [1]. A indústria da borracha, ciente do seu papel na cadeia de consumo de
recursos finitos, não renováveis, tem ampliado o interesse no uso de matérias-
primas sustentáveis (de base biológica, originado de reciclagem ou da economia
circular) em substituição àquelas derivadas da petroquímica. Essa
transformação da matriz de fornecimento foi inicialmente liderada pelos grandes
fabricantes de pneus [2-6], tênis casuais e esportivos [7-9], que estabeleceram
novos processos, com metas internas e junto aos seus fornecedores. Na
sequência a essas lideranças, os fabricantes de materiais para a reforma de
pneus, pneus de moto, correias transportadoras e artefatos de borrachas para a
indústria automotiva e peças técnicas estão trilhando o mesmo caminho.
Figura 1 - Triglicerídio
Experimental
Matérias-primas
Borracha Natural (SMR-L), SBR1502, BR-alto cis, óxido de zinco, ácido esteárico
vegetal, sílica precipitada, polietilenoglicol PEG 4000, silano TESTP Si69, negro
de fumo N234, resina hidrocarbônica tipo C9 (Unilene A80), antidegradantes
6PPD, TMQ e BHT, dióxido de titânio, aceleradores TBBS, MBTS, DPG e ZBEC,
enxofre, óleo mineral aromático tratado TDAE, óleo parafínico e óleos de soja
modificados tipos GW SDN, GW SES1, GW SEP1 e GW SEP1 (Tabela 2 e 3).
Todas as materiais-primas são comerciais e foram obtidas junto a distribuidores
locais.
Testes e Caracterizações
Viscosidades Mooney foram determinadas em viscosímetro Mooney de acordo
com ASTM D1646-17. Curvas de vulcanização foram determinadas em Rubber
Process Analyze-RPA de acordo com a ASTM D 5289-17. Propriedades de
tensão foram medidas em tensômero universal a velocidade de 500 mm/min, de
acordo com ASTM D412-16 (método A, corpo de prova tipo C). O rasgamento
foi determinado de acordo com ASTM D624-00 (Reap. 2012), corpo de prova
tipo C. O envelhecimento acelerado em estufa foi realizado a 72h a 70°C de
acordo com ASTM D 573. O desgaste por abrasão foi determinado de acordo
com ISO 4649:2017 (método A) e foi utilizado como parâmetro para predição do
desempenho de resistência ao desgaste. A tenacidade, habilidade de um
material de absorver energia até a sua fratura, pode ser medida pela área do
gráfico tensão-deformação [25-27] e nesse trabalho foi medida mais
simplificadamente pela multiplicação do valor da tensão de ruptura pelo
alongamento na ruptura dividido por dois. A temperatura de transição vítrea (tg)
e a tan delta a diferentes temperaturas foram determinadas em Dynamic
Mechanical Analyzer (DMA), no range de -90°C a +100°C a razão de
aquecimento de 5°C/min, deformação de 0,06%, frequência de 10Hz e pré-load
de 0,01N.
A avaliação da resposta viscoelástica da borracha por meio de diferentes
regimes de temperatura, medidas pelo DMA, tem sido amplamente utilizada no
desenvolvimento de compostos de borracha para prever seu desempenho em
aplicações dinâmicas de bandas de rodagem de pneus. Assim, utilizamos os
valores de tan delta a -30°C como parâmetro para predição da tração na neve
(quanto maior o tan delta maior a tração na neve), os valores de tan delta a 0°C
como parâmetro para tração no molhado-wet grip (quanto maior o tan delta maior
a tração no molhado), os valores de tan delta a 30°C como parâmetro para tração
no seco (quanto maior o tan delta maior a tração no seco), os valores de tan
Resultados e Discussão
Compostos Brancos (NR/BR com Sílica)
Verificou-se pequenas diferenças nas curvas de vulcanização entre os
compostos produzidos com os diferentes óleos (Tabela 6). As viscosidades
Mooney, dos compostos GW SDN e SES1 apresentaram resultados mais
elevados que a viscosidade do composto de referência PAR, enquanto o
composto GW SEP1 apresentou viscosidade similar a este (Tabela 6). A tensão
na ruptura e dureza dos compostos GW SDN e SES1 foram similares ao
composto referência, enquanto o composto GW SEP1 apresentou resultados
levemente inferiores. Quanto ao alongamento na ruptura, os três compostos
formulados com os óleos vegetais apresentaram resultados superiores ao
composto referência, com destaque para o composto GW SES1. O composto
GW SDN apresentou módulos a 100% e 300% similares ao composto referência,
enquanto os compostos GW SES1 e SEP1 apresentaram valores levemente
inferiores. Quanto a resistência ao rasgo, os três compostos com óleos vegetais
apresentaram resultados levemente inferiores ao composto referência. No
desgaste por abrasão, os compostos GW SDN e SES1 apresentaram resultados
um pouco melhores que o composto padrão, enquanto o composto GW SEP1
apresentou resultado pior.
REF. GW GW GW
Compostos Brancos, com Sílica
PAR SDN SES1 SEP1
VARIAÇÃO NA DUREZA, Ptos Shore A 6 6 6 7
VARIAÇÃO NA TENSÃO DE RUPTURA, % -5,9% -11,6% -8,2% -1,8%
VARIAÇÃO NO ALONGAMENTO, % -18,6% -12,9% -17,4% -11,7%
MÓDULO 300% 30,4% 25,8% 28,0% 28,8%
Resistência ao Tração no
Desgaste Molhado
Tração na Neve
1,20
1,00
0,80
Tração no
Heat build-up 0,60 Molhado
0,40 REF. TDAE
0,20 GW SDN
0,00 GW SES1
GW SEP1
Resistência ao
Tração no seco
desgaste
RR
Agradecimentos
O autor agradece a José Antonio Ramos da Silva e Renata Broestel da BBC
Indústria e Comércio pelo suporte técnico em óleos vegetais e a Rodemir Conte,
Eleno Vieira e Lisandra Abatti da Vipal Borrachas pela realização das misturas e
ensaios.
Referências
1. Brundtland, Gro Harlem –– “Our Common Future – The World Commission
on Environment and Development” – Oxford University, Oxford University
Press, 1987
2. https://www.bridgestone.com/responsibilities/environment/resources/index.ht
ml.
3. https://www.michelin.com/en/news/goal-of-100-sustainable-materials-with-
vision/
4. https://corporate.goodyear.com/en-US/responsibility/sustainable-
sourcing/sustainable-materials.html
5. https://www.continental.com/en/sustainability/sustainability-
framework/overview
6. https://corporate.pirelli.com/corporate/en-ww/sustainability/sustainability-
targets
7. https://project.veja-store.com/fr/intro/
8. https://purpose.nike.com/2025-targets
9. https://www.adidas-group.com/en/sustainability/managing-
sustainability/environmental-approach/
10. SCARTON, Camila Taliotto. Avaliação de óleo vegetal natural e epoxidado
em composições elastoméricas para banda de rodagem. 2017.