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TÍTULO: USO DE ÓLEOS DE SOJA MODIFICADOS, COMO

PLASTIFICANTES EM COMPOSTOS DE BORRACHA COM SÍLICA E COM


NEGRO DE FUMO

Bristein Consultoria Técnica e Comercial Ltda, Estância Velha, RS, Brasil


henrique.brito@bristeinconsultoria.com.br
Greenway Insumos Sustentáveis, Porto Alegre, RS, Brasil
henrique.brito@greenway.eco.br

Resumo
A busca por novas fontes de matérias-primas obtidas a partir de insumos
renováveis e sustentáveis desempenha um papel importante para a
sustentabilidade da indústria da borracha. Nesse trabalho foram avaliadas as
características de processamento, propriedades mecânicas, dinâmicas e de
envelhecimento termo-oxidativo de compostos formulados à base de
NR/BR/Sílica e SBR/BR/Negro de Fumo, comparando os óleos de soja
modificados SDN-Degomado, SES1-Esterificado e SEP1-Epoxidado, com o óleo
parafínico e aromático TDAE, de origem petroquímica e tradicionalmente
utilizados na tecnologia da borracha. Ambos os compostos formulados com os
óleos de soja modificados apresentaram resultados satisfatórios, indicando que
esses óleos vegetais podem ser boas opções de matérias-primas de origem
renovável e sustentável para substituir os óleos minerais de origem
petroquímica.
Palavras Chaves: Óleos Vegetais, Óleo de soja modificados, Óleo de soja
esterificado, Óleo de soja Epoxidado, Matérias-Primas Sustentáveis, Compostos
de Borracha com Sílica, Compostos de Borracha com Negro de Fumo.

Introdução
Nos últimos anos, tem crescido no mundo a consciência que os recursos do
Planeta Terra são finitos e que sustentabilidade ou desenvolvimento
sustentável é aquele “que atende as necessidades atuais sem comprometer
a habilidade das futuras gerações de atender suas próprias necessidades.
(...)” [1]. A indústria da borracha, ciente do seu papel na cadeia de consumo de
recursos finitos, não renováveis, tem ampliado o interesse no uso de matérias-
primas sustentáveis (de base biológica, originado de reciclagem ou da economia
circular) em substituição àquelas derivadas da petroquímica. Essa
transformação da matriz de fornecimento foi inicialmente liderada pelos grandes
fabricantes de pneus [2-6], tênis casuais e esportivos [7-9], que estabeleceram
novos processos, com metas internas e junto aos seus fornecedores. Na
sequência a essas lideranças, os fabricantes de materiais para a reforma de
pneus, pneus de moto, correias transportadoras e artefatos de borrachas para a
indústria automotiva e peças técnicas estão trilhando o mesmo caminho.

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Os plastificantes, também denominados lubrificantes e comumente chamados
de óleos plastifiantes, em muitos compostos de borracha representam o terceiro
ingrediente em maior quantidade, ficando atrás somente dos elastômeros e
cargas. A partir de 1994, com a publicação do relatório da Inspetoria Nacional
Sueca de Produtos Químicos (KEMI) [10-11] e posteriormente com diversos
regulamentos, tais como a Diretiva Européia 2005/69/EC [12], Regulamento da
UE 1907/2006 (REACH) [13], Portarias Inmetro n.º 544/2012 e 379/2021 [14, 15],
houve maior preocupação e restrição de uso dos óleos plastificantes de alto teor
aromático, com elevados teores de hidrocarbonetos aromáticos policíclicos
(HAP), devido aos riscos à saúde e meio ambiente. Essas preocupações e
restrições, aliadas a oferta finita de recursos fósseis e a volatilidade dos preços
do petróleo, vem impulsionando os estudos para a substituição dos tradicionais
óleos minerais de origem fóssil por óleos vegetais de fontes renováveis na
tecnologia da borracha [17-18].
Segundo a ASTM D883, um plastificante é definido como “uma substância ou
material incorporado em um plástico ou elastômero com a finalidade de aumentar
sua flexibilidade, trabalhabilidade ou distensibilidade” [19]. Nas formulações de
artefatos de borracha, os plastificantes atuam principalmente: a) como
modificadores das características de processamento do composto não
vulcanizado, reduzindo a viscosidade, aumentando a fluidez, melhorando a
incorporação das cargas, aumentando a pegajosidade, reduzindo o
desenvolvimento de calor durante o processamento e b) como modificadores das
propriedades mecânicas dos compostos vulcanizados, reduzindo a dureza,
aumentando o alongamento, aumentando a flexibilidade, reduzindo a
temperatura de transição vítrea (Tg) [20]. Adicionalmente, os plastificantes
podem ser utilizados para a redução do custo do composto.
Dentre os diversos fatores que afetam a escolha do tipo de plastificante a ser
utilizado em uma formulação de um composto de borracha, a compatibilidade
com o elastômero, o preço de comercialização e capacidade de atendimento a
demanda representam os aspectos mais importantes, fazendo dos óleos
minerais aromáticos, aromáticos tratados (TDAE), naftênicos e parafínicos os
mais utilizados na indústria da borracha.
Óleos vegetais são constituídos por misturas de ésteres carboxílicos, conhecidos
como triglicerídeos (figura 1), provenientes da esterificação do glicerol com
ácidos graxos de cadeia longa (8 a 18 atómos de carbono), podendo estes serem
saturados, monoinsaturados ou poli-insaturados.

Figura 1 - Triglicerídio

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Os óleos de soja, por ser de baixo custo e o segundo óleo vegetal mais produzido
no mundo [12, 21], passou a ser bastante estudado como substituto dos óleos
minerais, de modo especial nas Américas, onde é predominante.
A tabela 1 mostra a estrutura química do óleo de soja onde as porcentagens
representam as concentrações relativas em peso, dos diferentes ésteres de
ácidos graxos (R1, R2, R3) presentes no triglicerídeo [10].

Tabela 1-Composição química do óleo de soja


Ácido Graxo C:N Estrutura Química % Saturação %
Ácido Palmítico (16:0) CH3(CH2)14COOH 11
saturados 15
Ácido Esteárico (18:0) CH3(CH2)16COOH 4
Ácido Oleico (18:1) CH3(CH2)7CH=CH(CH2)7COOH 23 Monoinsaturados 23
Ácido Linoleico (18:2) CH3(CH2)4CH=CHCH2CH=CH(CH2)7COOH 54
Poli-insaturados 62
Ácido Linolênico (18:3) CH3CH2CH=CHCH2CH=CHCH2CH=CH(CH2)7COH 8
C = número de carbonos; D = número de duplas

O óleo de soja degomado neutro, é produzido a partir do óleo de soja bruto


extraído da semente de soja (Glycine hispida), passando pelo processo de
degomagem, onde são extraídos os fosfatídeos, fosfolipídeos (ex.: lecitina de
soja), proteínas, substâncias coloidais, pigmentos naturais e outras impurezas,
seguido do processo de neutralização para a remoção de ácidos graxos livres,
pigmentos naturais, proteínas, ácidos graxos oxidados, produtos resultantes da
decomposição de glicerídeos e outras impurezas remanescentes.
Após o processo de neutralização, o óleo de soja degomado neutro pode ser
reagido com um álcool, em uma reação de transesterificação, gerando o óleo de
soja esterificado (figura 2).

Também após o processo de neutralização, o óleo de soja degomado neutro


pode ser reagido com um perácido gerando o óleo de soja epoxidado (figura 3)

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Objetivo
O objetivo do presente trabalho é avaliar os óleos de soja modificados, SDN-
Soja Degomado Neutro, SES1-Soja Esterificado1 e SEP1-Soja Epoxidado1, em
formulações à base de NR/BR/Sílica e SBR/BR/Negro de Fumo,
comparativamente ao óleo parafínico e aromático TDAE, de origem petroquímica
e tradicionalmente utilizados na tecnologia da borracha. Serão avaliadas as
características de processamento, as propriedades mecânicas, dinâmicas e de
envelhecimento termo-oxidativo desses compostos de borracha.

Experimental
Matérias-primas
Borracha Natural (SMR-L), SBR1502, BR-alto cis, óxido de zinco, ácido esteárico
vegetal, sílica precipitada, polietilenoglicol PEG 4000, silano TESTP Si69, negro
de fumo N234, resina hidrocarbônica tipo C9 (Unilene A80), antidegradantes
6PPD, TMQ e BHT, dióxido de titânio, aceleradores TBBS, MBTS, DPG e ZBEC,
enxofre, óleo mineral aromático tratado TDAE, óleo parafínico e óleos de soja
modificados tipos GW SDN, GW SES1, GW SEP1 e GW SEP1 (Tabela 2 e 3).
Todas as materiais-primas são comerciais e foram obtidas junto a distribuidores
locais.

Tabela 2 - Características Típicas dos Óleos Minerais Avaliados


CARACTERÍSTICA MÉTODO UNIDADE TDAE PARAFÍNICO
Densidade Relativa a 20/4ºC ASTM D 4052 g/cm3 0,940 a 0,970 0,883
Ponto de Fulgor ASTM D 92 °C >280 262
Viscosidade Cinemática a 100 °C ASTM D 445 mm²/s ou cSt 40,0 a 55,0 10,8
VCG-Constante de Viscosidade - Massa específica ASTM D 2501 N/A 0,870 a 0,915 820
Carbono Aromático ASTM D 2140 % 20,0 a 30,0 7
Carbono Naftênico % ND 12
Carbono Parafínico % ND 81
Poliaromáticos IP 346 % massa <2,9 ND
Ponto de Fluidez ASTM D 97 °C <42 -3

Tabela 3 - Características Típicas dos Óleos Vegetais Avaliados


CARACTERÍSTICA MÉTODO UNIDADE GW SDN GW SES1 GW SEP1
Cor Apha ASTM D 1209 (uC) =<700 =<200 =<200
Densidade Relativa a 20/4ºC ASTM D 4052 g/cm3 0,92 0,87 0,95
Ponto de Fulgor ASTM D 92 °C >=300 >=290 >=300
Carbono Aromático ASTM D 2140 % isento isento isento
Índice de Iodo cgI2/ g 128 =<12,0 =<75
Índice de Acidez mg KOH/g 0,1 =<2,0 =<0,7
Oxigênio Oxirânico % 0 0 2,5

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Formulações
Foram testados a) compostos brancos, com sílica e demais componentes
(Tabela 4), simulando uma formulação inicial (starting point recipe) para solados
e peças técnicas brancas, e b) compostos pretos, com negro de fumo e demais
componentes, simulando uma formulação inicial (starting point recipe) para
bandas de rodagem, correias transportadoras e outras peças técnicas pretas
(Tabela 5).

Preparação dos compostos de borracha


Os compostos foram misturados em banbury de laboratório de 2 litros e
acelerados em cilindro de laboratório, segundo as tradicionais e boas práticas de
mistura. Não foram verificadas diferenças de processamento em banbury e
cilindro entre os compostos elaborados com os óleos minerais e vegetais.

Tabela 4 - Compostos Brancos, com Sílica


REF. GW GW GW
INGREDIENTES PAR SDN SES1 SEP1
NR, tipo SMR-L (CLARA) 60 60 60 60
POLIBUTADIENO-ALTO CIS 40 40 40 40
SÍLICA 50 50 50 50
PEG 4000 2 2 2 2
SILANO TESPT (EX.: Si69) 2 2 2 2
ÓLEO PARAFÍNICO 5 0 0 0
ÓLEO DE SOJA DEGOMADO GW SDN 0 5 0 0
ÓLEO DE SOJA ESTERIFICADO GW SES1 0 0 5 0
ÓLEO DE SOJA EPOXIDADO GW SEP1 0 0 0 5
RESINA UNILENE A80 5 5 5 5
ÓXIDO DE ZINCO 5 5 5 5
ÁCIDO ESTEÁRICO 1 1 1 1
TiO2 4 4 4 4
BHT 1 1 1 1
MBTS 1,2 1,2 1,2 1,2
ZEBC 0,15 0,15 0,15 0,15
ENXOFRE 2,0 2,0 2,0 2,0
TOTAL 178,35 178,35 178,35 178,35

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Tabela 5 - Compostos Pretos, com Negro de Fumo
REF. GW GW GW
INGREDIENTES TDAE SDN SES1 SEP1
SBR1502 70 70 70 70
POLIBUTADIENO-ALTO CIS 30 30 30 30
N234 58 58 58 58
ÓLEO AROMÁTICO, TIPO TDAE 10 0 0 0
ÓLEO DE SOJA DEGOMADO GW SDN 0 10 0 0
ÓLEO DE SOJA ESTERIFICADO GW SES1 0 0 10 0
ÓLEO DE SOJA EPOXIDADO GW SEP1 0 0 0 10
RESINA UNILENE A80 5 5 5 5
ÓXIDO DE ZINCO 3 3 3 3
ÁCIDO ESTEÁRICO 1,5 1,5 1,5 1,5
6PPD 2 2 2 2
TMQ 1 1 1 1
TBBS 1 1 1 1
DPG 0,5 0,5 0,5 0,5
ENXOFRE 1,8 1,8 1,8 1,8
TOTAL 183,8 183,8 183,8 183,8

Testes e Caracterizações
Viscosidades Mooney foram determinadas em viscosímetro Mooney de acordo
com ASTM D1646-17. Curvas de vulcanização foram determinadas em Rubber
Process Analyze-RPA de acordo com a ASTM D 5289-17. Propriedades de
tensão foram medidas em tensômero universal a velocidade de 500 mm/min, de
acordo com ASTM D412-16 (método A, corpo de prova tipo C). O rasgamento
foi determinado de acordo com ASTM D624-00 (Reap. 2012), corpo de prova
tipo C. O envelhecimento acelerado em estufa foi realizado a 72h a 70°C de
acordo com ASTM D 573. O desgaste por abrasão foi determinado de acordo
com ISO 4649:2017 (método A) e foi utilizado como parâmetro para predição do
desempenho de resistência ao desgaste. A tenacidade, habilidade de um
material de absorver energia até a sua fratura, pode ser medida pela área do
gráfico tensão-deformação [25-27] e nesse trabalho foi medida mais
simplificadamente pela multiplicação do valor da tensão de ruptura pelo
alongamento na ruptura dividido por dois. A temperatura de transição vítrea (tg)
e a tan delta a diferentes temperaturas foram determinadas em Dynamic
Mechanical Analyzer (DMA), no range de -90°C a +100°C a razão de
aquecimento de 5°C/min, deformação de 0,06%, frequência de 10Hz e pré-load
de 0,01N.
A avaliação da resposta viscoelástica da borracha por meio de diferentes
regimes de temperatura, medidas pelo DMA, tem sido amplamente utilizada no
desenvolvimento de compostos de borracha para prever seu desempenho em
aplicações dinâmicas de bandas de rodagem de pneus. Assim, utilizamos os
valores de tan delta a -30°C como parâmetro para predição da tração na neve
(quanto maior o tan delta maior a tração na neve), os valores de tan delta a 0°C
como parâmetro para tração no molhado-wet grip (quanto maior o tan delta maior
a tração no molhado), os valores de tan delta a 30°C como parâmetro para tração
no seco (quanto maior o tan delta maior a tração no seco), os valores de tan

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delta a 60°C como parâmetro de resistência ao rolamento-RR (quanto menor tan
delta, menor a RR) e o tan delta a 100°C como parâmetro para heat build-up
(HBU) (quanto menor tan delta, menor o HBU) [28-32].

Resultados e Discussão
Compostos Brancos (NR/BR com Sílica)
Verificou-se pequenas diferenças nas curvas de vulcanização entre os
compostos produzidos com os diferentes óleos (Tabela 6). As viscosidades
Mooney, dos compostos GW SDN e SES1 apresentaram resultados mais
elevados que a viscosidade do composto de referência PAR, enquanto o
composto GW SEP1 apresentou viscosidade similar a este (Tabela 6). A tensão
na ruptura e dureza dos compostos GW SDN e SES1 foram similares ao
composto referência, enquanto o composto GW SEP1 apresentou resultados
levemente inferiores. Quanto ao alongamento na ruptura, os três compostos
formulados com os óleos vegetais apresentaram resultados superiores ao
composto referência, com destaque para o composto GW SES1. O composto
GW SDN apresentou módulos a 100% e 300% similares ao composto referência,
enquanto os compostos GW SES1 e SEP1 apresentaram valores levemente
inferiores. Quanto a resistência ao rasgo, os três compostos com óleos vegetais
apresentaram resultados levemente inferiores ao composto referência. No
desgaste por abrasão, os compostos GW SDN e SES1 apresentaram resultados
um pouco melhores que o composto padrão, enquanto o composto GW SEP1
apresentou resultado pior.

Tabela 6 - Propriedades de vulcanização, reológicas e fisico-mecânicas


REF. GW GW GW
Compostos Brancos, com Sílica PAR SDN SES1 SEP1
RHEOMETRIA a 150°C
ML (150°C) 6,16 6,34 6,32 5,75
MH (150°C) 20,8 21,27 20,28 19,77
DELTA TORQUE 14,6 14,9 14,0 14,0
T10 (150°C) 03:24 03:47 03:28 03:41
Ts2(150°C) 03:34 04:00 03:44 03:53
T90 (150°C) 09:34 10:51 10:39 08:10
VISCOSIDADE MOONEY ML 1+4 a 100°C 85 91 93 84
DUREZA, Shore A 62 62 61 60
TENSÃO DE RUPTURA, MPa 23,0 22,6 22,9 21,4
ALONGAMENTO, % 679 693 739 696
TENACIDADE 7811 7843 8469 7449
MÓDULO 100% 2,1 2,2 1,9 2,0
MÓDULO 300% 6,7 6,7 6,0 5,9
ÍNDICE DE REFORÇO M300/100 3,2 3,1 3,2 3,0
RASGAMENTO, N/mm 89,3 85,2 82,5 81,8
DESGASTE POR ABRASÃO DIN (mm3) 78,3 75,3 71,8 96,9

O gráfico tipo radar normalizado (Gráfico 1) apresenta um comparativo entre os


compostos, onde se percebe que o composto com o óleo vegetal GW SDN foi

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aquele que apresentou resultados de propriedades mecânicas mais similares ao
composto de referência PAR. O composto GW SES1 se destacou por apresentar
maior alongamento a ruptura e tenacidade e menor desgaste por abrasão.

No envelhecimento acelerado em estufa, todos os compostos com óleos de soja


apresentaram resultados de envelhecimento similar ou um levemente melhores
que o composto com o óleo parafínico (Tabela 7 e Gráfico 2).

Tabela 7 - Envelhecimento em estufa 72h a 70°C

REF. GW GW GW
Compostos Brancos, com Sílica
PAR SDN SES1 SEP1
VARIAÇÃO NA DUREZA, Ptos Shore A 6 6 6 7
VARIAÇÃO NA TENSÃO DE RUPTURA, % -5,9% -11,6% -8,2% -1,8%
VARIAÇÃO NO ALONGAMENTO, % -18,6% -12,9% -17,4% -11,7%
MÓDULO 300% 30,4% 25,8% 28,0% 28,8%

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Na avaliação visual da coloração dos compostos vulcanizados, não foi possível
perceber diferenças entre os quatro compostos e após 18 meses de
armazenamento as amostras não apresentaram migração de óleo para a
superfície.

Compostos Pretos (SBR/BR com Negro de Fumo)


Verifica-se que todos os compostos formulados com os óleos vegetais GW SDN,
GW SES1 e GW SEP1 apresentaram curva de vulcanização com menor MH e
Delta Torque, quando comparados ao composto referência TDAE, indicando
provável menor densidade de reticulação (Tabela 8).
Quanto a viscosidade Mooney, os compostos GW SDN e SES1 apresentaram
viscosidade inferiores ao TDAE, enquanto o GW SEP1 apresentou viscosidade
similar a este (Tabela 8).
As tensões de ruptura dos quatro compostos foram similares. Menores valores
de dureza, maiores alongamentos da ruptura, menores módulos a 100% e 300%
e para os compostos GW SDN, GW SES1 e GW SEP1 corroboram com a
provável menor densidade de reticulação desses compostos, quando
comparados com à referência TDAE. Nas demais propriedades mecânicas os
resultados foram muito semelhantes para os quatro compostos (Tabela 8).

Tabela 8 - Propriedades de vulcanização, reológicas e fisico-mecânicas


REF. GW GW GW
TDAE SDN SES1 SEP1
RHEOMETRIA a 150°C
ML (150°C) 2,86 2,76 2,60 2,84
MH (150°C) 17,03 15,95 15,52 15,27
DELTA TORQUE 14,17 13,19 12,92 12,43
T10 (150°C) 05:13 05:31 05:09 04:57
Ts2(150°C) 05:35 05:58 05:35 05:30
T90 (150°C) 12:11 12:34 11:56 12:02
VISCOSIDADE MOONEY ML 1+4 a 100°C 68,0 65,2 60,5 67,3
DUREZA, Shore A 68 66 66 66
TENSÃO DE RUPTURA, MPa 20,9 20,4 21,1 21,1
ALONGAMENTO, % 420 460 482 510
TENACIDADE 8771 9379 10145 10772
MÓDULO 100% 2,8 2,5 2,4 2,4
MÓDULO 300% 13,3 11,2 10,9 10,3
ÍNDICE DE REFORÇO M300/100 4,7 4,5 4,6 4,4
RASGAMENTO, N/mm 45,3 49,8 50,8 47,7
DESGASTE POR ABRASÃO DIN (mm3) 64,6 56,7 52 63

O gráfico tipo radar normalizado (Gráfico 3) apresenta um comparativo entre os


compostos, onde pode ser verificado os excelentes resultados no alongamento
na ruptura, tenacidade, resistência ao rasgo e desgaste por abrasão para os
quatro óleos vegetais avaliados.

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No envelhecimento acelerado em estufa, os compostos com os óleos vegetais
GW SDN e SEP1 apresentaram menor degradação quando comparadao com o
composto referência TDAE, sendo o composto GW SDN o de melhor
desempenho (Tabela 9 e Gráfico 6). De acordo com a literatura [12, 33], a
estabilidade térmica superior do óleo de soja ocorre devido à presença de
antioxidantes naturais, como por exemplo os tocoferóis, que retardam a
degradação deste óleo.
Tabela 9 - Envelhecimento em estufa 72h a 70°C
REF. GW GW GW
Compostos Pretos, com Negro de Fumo TDAE SDN SES1 SEP1
VARIAÇÃO NA DUREZA, Ptos Shore A 2 2 2 2
VARIAÇÃO NA TENSÃO DE RUPTURA, % 1,3% 4,1% -3,2% 1,4%
VARIAÇÃO NO ALONGAMENTO, % -12,0% -3,9% -13,0% -7,0%
VARIAÇÃO NO MÓDULO A 300%, % 23,1% 19,2% 23,8% 14,5%

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Nas propriedades dinâmicas (Tabela 10 e Gráfico 7), verifica-se que o composto
com o óleo TDAE apresentou o menor valor de resistência ao rolamento, o
composto GW SEP1 apresentou a melhor tração ao molhado, enquanto o
composto GW SDN apresentou o melhor equilíbrio entre resistência ao
rolamento e tração ao molhado.

Tabela 10 - Propriedades Dinâmicas


PARÂMETRO DE Melhor TDAE GW SDN GW SES1 GW SEP1
DESEMPENHO
Tg (°C) via DMA -42,04 -43,44 -48,39 -42,79
Tan -30 (°C) via DMA Tração na Neve ↑ 0,3074 0,2856 0,2364 0,263
Tan 0 (°C) via DMA Tração no 0,1206 0,1276 0,1225 0,1309

Molhado
Tan 30 (°C) via DMA Tração a seco ↑ 0,1171 0,1239 0,1209 0,1388
Tan 60 (°C) via DMA RR ↓ 0,1147 0,1204 0,1199 0,1358
Tan 100 (°C) via DMA Heat build-up ↓ 0,09654 0,1032 0,1043 0,1142

Analisando demais parâmetros de desempenho de uma banda de rodagem,


quando comparado ao composto referência TDAE, verificamos que os
compostos GW SDN, SES1 e SEP1 apresentaram valores similares ou melhores
para tração no molhado, tração no seco e resistência ao desgaste. No entanto,
apresentaram resultados piores para tração na neve, resistência ao rolamento e
heat build-up. (Gráfico 8 e 9).

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Gráfico 8 Triângulo Mágico dos Pneus
RR
1,20
1,00
REF. TDAE
0,80
GW SDN
0,60
GW SES1
0,40
GW SEP1
0,20
0,00

Resistência ao Tração no
Desgaste Molhado

Gráfico 9 - Parâmetros de Desempenho - Banda de Rodagem

Tração na Neve
1,20
1,00
0,80
Tração no
Heat build-up 0,60 Molhado
0,40 REF. TDAE
0,20 GW SDN
0,00 GW SES1

GW SEP1

Resistência ao
Tração no seco
desgaste

RR

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Conclusões
Nas quantidades e formulações avaliadas, os compostos contendo os óleos
vegetais GW SDN, GW SES1 e GW SEP1 apresentaram resultados de
processamento, propriedades mecânicas, dinâmicas e de envelhecimento
satisfatórios quando comparados com os compostos contendo os óleos
parafínico e aromático TDAE, indicando que esses óleos vegetais podem ser
boas opções de matérias-primas de origem renovável e sustentável para
substituir os óleos minerais de origem petroquímica. Do ponto de vista técnico,
a escolha de qual tipo de óleo vegetal a utilizar dependerá dos requisitos da
aplicação final do artefato de borracha.
Destaca-se que nos compostos brancos de NR/BR/Sílica, os compostos com os
óleos GW SDN e SES1 apresentaram resultados de alongamento na ruptura,
tenacidade e resistência a abrasão melhores que o composto de referência PAR.
Todos os compostos com os óleos vegetais apresentaram ausência de migração
de óleo para a superfície e coloração similar ao composto referência PAR.
Nos compostos pretos de SBR/BR/Negro de fumo, pode-se destacar a melhor
resistência ao envelhecimento termo-oxidativo para os compostos formulados
com os óleos GW SDN e SEP1, quando comparados com o composto referência
TDAE. Quanto às propriedades mecânicas destaca-se a melhora na resistência
o alongamento, tenacidade, resistência o rasgo e resistência a abrasão.

Agradecimentos
O autor agradece a José Antonio Ramos da Silva e Renata Broestel da BBC
Indústria e Comércio pelo suporte técnico em óleos vegetais e a Rodemir Conte,
Eleno Vieira e Lisandra Abatti da Vipal Borrachas pela realização das misturas e
ensaios.

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19° Congresso Brasileiro de Tecnologia da Borracha-ABTB, 22-23 de Junho de 2022, Brasil


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